Brasil de Fato Paraná - Edição 194

Page 1

Ano 4 Edição 194 26 de novembro a 2 de dezembro de 2020 distribuição gratuita www.brasildefatopr.com.br

Ratinho Jr. leva professores ao limite Governo não negocia, e greve de fome já dura uma semana

p. 5

Esportes | p. 8

Adeus, Maradona Argentina e o mundo se despedem do ídolo

Divulgação

PARANÁ

Giorgia Prates

Educação | p. 4

Vidas em risco Escolas privadas abrem e fecham em meio a caos na saúde

Agência Brasil

Editorial | p. 2

RACISMO QUE MATA Manifestações denunciam assassinato no Carrefour p. 3

Giorgia Prates

Dias de luta Luta antirracista e greve de fome chacoalharam a semana

Brasil | p. Opinião | p.62

Gênero é pauta prioritária? Como a esquerda aborda casos de racismo, machismo, LGBTfobia?

Cidades | p. 6

MP processa Prefeitura por pandemia Ação pede que Curitiba adote matriz de risco correta. Casos batem recordes


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Paraná, 26 de novembro a 2 de dezembro de 2020

Brasil de Fato PR

Tempos de Gênero indignação, tempos é pauta de luta prioritária?

EDITORIAL

N

o Dia da Consciência Negra, o Brasil acordou com a brutal notícia do assassinato de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos agredido até a morte por dois homens brancos na loja do Carrefour, em Porto Alegre. O fato causou grande comoção nacional. Mas Bolsonaro ignorou o caso e também o racismo estrutural brasileiro. Em seu discurso na conferência do G20, no dia 21, falou sobre “tentati-

OPINIÃO

vas de importar para o nosso território tensões alheias à nossa história”. Contra o racismo, milhares de pessoas protestaram diante dos supermercados da rede Carrefour em várias cidades do país. No Paraná, além das importantes manifestações antirracistas, estamos vivenciando mobilizações cruciais de profissionais da educação da rede pública estadual por condições dignas de trabalho, contra demissões e pelo

cancelamento da prova do Processo Seletivo Simplificado (PSS) convocada em plena pandemia, entre outras pautas. Diante do descaso do governo de Ratinho Júnior, uma greve de fome foi desencadeada. Assim como a violenta morte de João Alberto nos convoca a lutar contra o racismo, as professoras e professores paranaenses nos ensinam que é preciso transformar nossa indignação em mobilização.

SEMANA

Fernanda Lucas Santiago,

Mestra em História, Pesquisadora Associada ao Laboratório de estudos Póscoloniais e Decoloniais (Aya). Membro Consultora da Comissão da Verdade Sobre a Escravidão Negra OAB-PR

E

ssa é uma pergunta que está sendo feita tanto pela esquerda quanto pela direita. Caso a resposta seja sim, decorrem a segunda e terceira questões: qual a importância da discussão de gênero? E como construir políticas públicas considerando as relações de gênero? A esquerda tem por princípio o combate às desigualdades. Já a direita, ao contrário, ocupa-se em manter privilégios e conservar o poder da classe dominante. Mesmo assim, há por parte de algumas lideranças que se dizem progressistas a insistência em argumentar que as pautas raciais, de gênero e sexuais são segregadoras e contraproducentes, pois tiram o foco da classe. Essas lideranças ignoram que 54,9% da população brasileira é negra e 51,8% da população brasileira é formada por mulheres, ou seja, não podem ser encaradas como pautas minoritárias. Segundo o intelectual Ramon Grosfoguel, não há como combater os efeitos do capitalismo

fortalecendo suas estruturas, ou seja, o racismo, o machismo, a LGBTFOBIA. Durante a pandemia a cada nove horas uma mulher é assassinada no Brasil. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) o Brasil é o 5º país em número de feminicídio. O dia 25 de novembro foi escolhido pela ONU para marcar o dia internacional da não violência contra a mulher. Segundo o TSE (2016) as mulheres são 52% do eleitorado, nas eleições municipais de 2016 as mulheres compuseram 31% das candidaturas, em 2020 esse número subiu para 33,6%. Partidos de esquerda e movimentos sociais que se furtam a esse debate, ou o fazem de maneira demagógica, com argumentos retóricos que nunca atingem a prática de seus integrantes, não serão capazes de construir políticas públicas que visem ao combate à violência de gênero e, nesse ponto, fortalecem o espectro conservador da política, ou seja, a direita. Encerro esse texto com uma reflexão de Sueli Carneiro, que nos adverte sobre as armadilhas da identidade: “Entre a esquerda e a direita eu continuo sendo preta”.

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 194 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Fernanda Lucas Santiago ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


Brasil de Fato PR

Brasil de Fato PR

Paraná, 26 de novembro a 2 de dezembro de 2020

Geral | 3

FRASE DA SEMANA

“Diego Armando Maradona foi adorado não apenas por causa de seus prodigiosos malabarismos, mas também porque era um deus sujo, pecador, o mais humano dos deuses.”

Sanepar não descarta rodízio de 48 horas em Curitiba e Região As chuvas da primavera ainda são insuficientes para reverter o modelo de 36 horas de rodízio na capital e Região Metropolitana. Os reservatórios estão com nível superior a 30% e a população conseguiu economizar 20% de água. No entanto, a Sanepar já sabe que o verão será uma extensão chuvosa mas com volume abaixo da média necessária. A empresa já informou ao mercado que o estado deve sofrer os impactos do fenômeno La Niña e está preocupada com o outono e inverno de 2021. A empresa de saneamento recebeu críticas por ter focado sua atuação na geração de lucros e abandonado investimentos. Relatório do Dieese aponta que se a empresa tivesse distribuído apenas 25% do Lucro Líquido Ajustado, teria economizado R$ 1,2 bilhão, o que equivale a um ano de investimentos. “A tarifa média praticamente triplicou em nove anos, crescimento de 182%, ou seja, ao final de 2019 a tarifa era 2,8 vezes mais cara do que era em 2010 (ganho real de 70%)”, compara o economista Fabiano Camargo. Giorgia Prates

Eduardo Galeano sobre Maradona no livro “Fechado por Motivo de Futebol”. Divulgação

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Racismo e crime A fiscal do Carrefour Adriana Alves Dutra foi presa temporariamente, na terça (24), pelo envolvimento na morte de João Alberto Silveira Freitas, negro espancado até a morte num supermercado da rede em Porto Alegre. Os seguranças Magno Braz Borges, 30 anos, e Giovane Gaspar da Silva, 24 anos, PM, foram presos no dia do assassinato. Para a polícia, Adriana poderia ter ordenado que os seguranças interrompessem o espancamento.

Racismo e crime 2 Em Curitiba houve manifestações contra o crime em frente a lojas da rede. Na sexta (20) e no sábado, os protestos foram no Carrefour Parolin, com carrinhos sendo colocados na Av. Marechal Floriano, pedidos para que PMs parem de fazer “bico de seguranças” e que medidas sejam adotadas contra o racismo e a morte de negros. Em outras cidades do Paraná e da Região Metropolitana de Curitiba, como em Pinhais, também ocorreram atos.

Eleição à esquerda As candidaturas de Boulos (PSOL), em São Paulo, e de Manuela (PCdoB), em Porto Alegre, vêm crescendo na reta fi nal do segundo turno. Boulos, na pesquisa Datafolha de 24/11, passou de 42% para 45% nos votos válidos. Bruno Covas (PSDB) caiu de 58% para 55%. Em Porto Alegre, Manuela também vem tirando a diferença. No último Ibope, Sebastião Melo (MDB) tinha 54% e, Manuela, 46%.

Eleição à esquerda 2 No Nordeste há a liderança em várias cidades. Em Fortaleza, Sarto Nogueira (PDT), tem 53% contra o bolsonarista Capitão Wagner, com 35%. Em Recife, Marília Arraes (PT) estava com 45%, contra 39% de João Campos (PSB). Em Aracaju, Edvaldo (PDT) tem 55%, contra 31% da Delegada Danielle (Cidadania). Em Vitória da Conquista, Zé Neto (PT) lidera com 40%, contra 36% do atual prefeito, Colbert Martins (MDB). Em Vitória da Conquista, Zé Raimundo (PT) tem 40% dos votos e o atual prefeito, Herzem Gusmão (MDB), 37%. Giorgia Prates

Guatemala em chamas Em poucas semanas, o continente viu a mobilização das eleições bolivianas, com a retomada da esquerda no governo. A conquista da Constituinte após um ano de mobilizações no Chile. Na Guatemala, o presidente Alejandro Giammatei e o congresso são alvo de protestos, uma vez que o orçamento para 2021 prevê cortes na saúde, educação, moradia e demandas sociais.

Crise institucional também no Peru Em sete dias, o país chegou ao terceiro presidente. Movimentos populares e sindicais seguem pressionando. A onda de protestos alega ilegitimidade desde o golpe de Estado dado pelo Congresso contra o então presidente Martin Vizcarra.

EUA: de volta às políticas cotidianas O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, escolheu Tony Blinken para Secretário de Estado. Blinken é considerado conservador por analistas como o brasileiro Kennedy Alencar. Para ele, Blinken foi fiador da política externa pós-11 de setembro, que, com a desculpa de guerra contra o chamado terrorismo, destruiu países como Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria, entre outros.


Brasil de Fato PR 4 Brasil

Brasil de Fato PR

Paraná, 26 de novembro a 2 de dezembro de 2020

Escolas particulares de Curitiba são obrigadas a fechar por coronavírus Protocolos de reabertura não apresentam medidas de proteção a professores Ana Carolina Caldas

D

esde outubro, escolas estaduais e particulares no Paraná têm autorização das secretarias estaduais de Saúde e da Educação para abrirem e oferecerem atividades extracurriculares presenciais, respeitando protocolos de prevenção ao coronavírus. Porém, segundo levantamento do Brasil de Fato Paraná, são poucas as medidas de proteção aos professores. Por isso, há relatos de escolas em Curitiba que voltaram e tiveram de interromper as atividades por contaminação desses profissionais. É o caso do Centro de Cuidados Infantis, Ceci, que teve de fechar por 14 dias após a notificação de que professores e uma mãe de aluno estavam com Covid-19. Segundo a diretora Ana Paula, foi feito contato com a Vigilância Sanitária. “Liguei para informar dos casos e pedir orientação. Então, me pediram para que fechasse a escola por 14 dias, período do ciclo viral”, relata. Ana Paula diz que, apesar da nova autorização do retorno para aulas curriculares presenciais, a unidade que teve os casos reabrirá apenas no dia 30.

Outra escola que também teve casos de professores que testaram positivo foi o Centro de Educação Infantil 1, 2, 3. Segundo uma mãe (que não quis se identificar), “a escola precisou fechar por 14 dias após os casos entre professores.” Até o final desta reportagem, não foi possível contato com a direção da escola.

Há relatos de escolas em Curitiba que voltaram e tiveram de interromper as atividades por contaminação desses profissionais Sem proteção O protocolo para o retorno das aulas presenciais do governo estadual trata de itens como a possibilidades de efetivar a modalidade de ensino híbrido (online e presencial), distanciamento dentro da sala de aula e no pátio, entre outros pontos. Mas sobre a contaminação de alunos e professores, limita-se a dizer que “caso ocorra con-

taminação entre estudantes, a instituição deverá ser interditada por 14 dias, retornando para o modelo de aulas 100% on-line durante este período.” A proposta da rede privada também não apresenta medidas de proteção a professores. Em outubro, após a autorização para a reabertura, o Brasil de Fato Paraná conversou com a então presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Paraná (Sinepe), Esther Cristina Pereira. Ao ser indagada sobre os professores, disse que “há protocolos como troca de sapatos e troca de roupas.” Em relação ao risco de contágio, disse que “a doença está em todos os lugares. A escola não pode carregar sozinha o fardo da responsabilidade.” Em nota ao Brasil de Fato Paraná, a assessoria de comunicação da Secretaria Estadual de Saúde disse que, “em casos de contaminação, as escolas devem seguir a Resolução Sesa nº 1.231/2020, que trata da implementação e manutenção das medidas de prevenção, monitoramento e controle da Covid-19 nas instituições de ensino.” Agência Brasil

Médicos são contrários à reabertura de escolas No último mês, o número de crianças infectadas pelo coronavírus dobrou em Curitiba. E, após a eleição, o prefeito Rafael Greca disse que as aulas na rede municipal de ensino “só voltarão de forma presencial quando houver vacina.” Mas, no dia seguinte, a secretária municipal de Saúde, Márcia Huçulak, emitiu comunicado, após consulta ao sindicato das escolas particulares, autorizando a reabertura das aulas presenciais curriculares. O anúncio aconteceu na semana em que Curitiba alcançou o maior número de casos ativos de coronavírus de toda a pandemia. O Brasil de Fato Paraná conversou com pediatras e médicos da saúde coletiva, que foram unânimes em dizer que o momento não é adequado para o retorno das aulas. O Chefe de Otorrinolaringologia do Hospital Pequeno Príncipe, Lauro Alcântara, contesta o argumento de que as crianças terão perda irreparável se ficarem em casa. “Para mim, perda irreparável é a morte. Nada justifica a poucos meses de podermos começar a vacinar e reverter a pandemia, não tem sentido reabrir as escolas e ainda favorecer o contágio.” Já para Guilherme Albuquerque, médico sanitarista e professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com os números de casos de pessoas infectadas pelo novo vírus aumentando novamente, em Curitiba, não é o certo reabrir escolas.” A abertura trará maior grau de deslocamento e contato entre crianças e adultos e a disseminação de uma doença contagiosa tende a prosperar com intensificação de contato.”


Brasil de Fato PR

Paraná, 26 de novembro a 2 de dezembro de 2020

Brasil de Fato PR Brasil | 5

Professores estão há uma semana em greve de fome contra ações de Ratinho Jr. Medida foi tomada para reabrir negociação, governo do Estado mantém intransigência Giorgia Prates

Redação

P

rofessores da rede pública do Estado estão há uma semana em greve de fome em frente ao Palácio Iguaçu reivindicando, entre outros pontos, a suspensão da prova seletiva para contratação de professores temporários (PSS) pelo governo Ratinho Jr. Dos 47 professores que iniciaram, dez se mantêm no protesto. Os outros tiveram recomendações médicas para pararem. “Alguns professores já estavam muito debilitados e tiveram que desistir”, diz a secretária de Finanças da APP Sindicato, Walkiria Mazeto. Ela lembra que a luta pela manutenção dos empregos e a não alteração das regras de seleção dos professores PSS vem desde o ano passado. “Havia o compromisso do governo de que não haveria a prova no ano passado. Desde lá deixamos claro que não temos desacordo com provas e bancas, desde que haja concurso público, que é reivindicação histórica nossa.” A

dirigente da APP disse, ainda, que o ato extremo de greve de fome só aconteceu quando todas as tentativas de diálogo com o governo foram frustradas. Até a quarta-feira, 25, o governo estadual se mantinha em silêncio, não aceitando nenhuma das reivindicações. Assembleia Haverá assembleia estadual extraordinária virtual na quinta-feira (26), a partir das 13h30, marcada pelo comando de greve. Para participar, é preciso fazer um cadastro prévio no endereço https://appsindicato.org.br/ assembleia.

REIVINDICAÇÕES DOS PROFESSORES Prorrogação dos contratos atuais de professores e funcionárias/os. Não desemprego de 29.642 trabalhadores. Revogação do edital 47. Revogação da terceirização dos funcionários de escolas.

Relato da greve de fome Professor Hermes Leão, presidente da APP Sindicato “Chegamos ao sétimo dia de resistência pacífica na greve de fome no Palácio Iguaçu. Estou seis quilos mais magro. Essa noite foi difícil, um vento cortante insistiu em soprar a noite inteira. Na ventania, o barulho produzido pelas bandeiras hasteadas 24 horas por dia se torna uma tortura mental. Diante dos mais de 170 mil mortos por Covid no Brasil precisamos intensificar a denúncia ao método de gestão do governador Ratinho Jr (PSD), e do secretário da educação, Renato Feder. Aprofunda-se no Paraná a necropolítica - políticas que favorecem a morte. Havíamos denunciado que a movimentação de mais de 80 mil pessoas, no golpe de militarização das escolas, no final de outubro, em plena pandemia, aumentaria as contaminações.

Revogação da militarização de escolas com ensino noturno (prática ilegal). Pagamento em folha complementar do atrasado do salário mínimo regional às funcionárias/os agentes I. Pagamento das progressões e promoções.

Giorgia Prates

O governo não preparou protocolo que desse segurança. As eleições municipais reforçaram a tragédia. O negacionismo de Ratinho Jr e Renato Feder ajudam as pessoas a minimizar os riscos da contaminação. Vejam que esses dois não citam os mortos e a pandemia, perfil de necropolíticos. A convocatória de eleições para diretores de escolas, em 9 de dezembro, e a realização de prova para Processo Seletivo Simplificado (PSS), dia 13 de dezembro, manterá a circulação comunitária do vírus com aumento das mortes. O silêncio do governador sobre nossa greve de fome, as mentiras e distorções arrotadas por alguns deputados da base governista na Assembleia Legislativa também são parte da cultura negacionista e vão dando cores ao aprofundamento da necropolítica no Paraná.”


Brasil de Fato PR 6 Brasil

Com alta de coronavírus, MP questiona matriz de risco usada pela Prefeitura Tendência de crescimento de casos em Curitiba vem desde a última semana Ana Carolina Caldas

C

uritiba chegou a mais de 11 mil casos ativos de pessoas com coronavírus na terça, 24, com crescimento contínuo da contaminação na última semana. Mesmo com esses dados, a Prefeitura manteve a bandeira amarela, que significa risco médio. Por conta disso, o Ministério Público do Paraná questionou a administração, na Justiça. Na petição, o MP pede a análise do mérito de ação civil pública para que o município, enquanto durar o estado de emergência da pandemia, oriente-se a partir de matriz de risco adequada. Para o MP, a matriz atualmente utilizada vem se mostrando ineficaz na prevenção e adoção de providências resolutivas para o enfrentamento da pandemia, sobretudo porque não permite a identificação eficiente de possíveis ameaças e vulnerabilidades causadoras dos riscos sanitários, não indica PUBLICIDADE

Brasil de Fato PR

Paraná, 26 de novembro a 2 de dezembro de 2020

os métodos de cálculo e de avaliação desses riscos, não estabelece ordem de prioridade a ser levada em consideração nesses cálculos e avaliações de risco e tampouco permite explicitar as providências e ações de controle propostas a partir da metodologia seguida. O MPPR também argumenta que “o Município de Curitiba vem trilhando caminho

contrário ao proposto pelas autoridades sanitárias do Estado do Paraná e pelos referidos conselhos (Conselho Nacional de Secretários de Saúde e Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde)” e tal ordem de coisas tem estimulado a diminuição do isolamento social entre a população, o que aumenta os riscos de propagação do coronavírus. Giorgia Prates

“Agrinho” leva ideologia do agronegócio a escolas públicas do Paraná Lia Bianchini Desde 1996, escolas públicas do Paraná possuem em seu cronograma de ensino materiais do programa “Agrinho”, com foco especial à educação do meio rural. Resultado de parceria entre a Federação da Agricultura Paraná (Faep), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-PR) e o governo do Estado do Paraná, o programa ostenta, em seu site, o título de “maior programa de responsabilidade social do Sistema FAEP”. No entanto, na visão de educadores do campo, o Agrinho é a principal expressão do projeto educacional do agronegócio nas escolas do campo e da cidade. A denúncia fez parte da VIII Jornada de Pesquisas da Questão Agrária no Paraná, do Observatório da Questão Agrária no Paraná, vinculado à Universidade Federal. Para Valter Leite, do setor de Educação do MST, o Agrinho vem fazendo, há 24 anos, um “amplo processo de instrumentalização da escola pública para promover a idealização do agronegócio”. “[Os materiais do Agrinho] ocultam a violência que os agrotóxicos ocasionam à vida humana e ao meio natural, dizendo de uma

Reprodução

possível racionalização do uso de agrotóxicos e possibilidade de conciliação do agrotóxico à saúde humana”, explica. A problemática vem desde a criação do programa, em 1995, tendo como uma de suas principais idealizadoras Patrícia Lupion Torres, filha do latifundiário e ex-deputado Abelardo Lupion. Entre os patrocinadores do programa há grandes empresas que vendem agrotóxicos, como Bayer e Syngenta. O Observatório da Questão Agrária solicitou dados recentes sobre a abrangência do programa, em agosto de 2020, mas a Secretaria de Educação ignorou. “É preciso constituir uma força unificada na produção de materiais para contrapor o ‘Agrinho’, fazer chegar às escolas do campo e da cidade materiais sobre agroecologia integrada a um projeto de sociedade que preserva e valoriza os povos do campo e da floresta”, afirma Valter Leite.


Brasil de Fato PR 7 | Cultura

Brasil de Fato PR

Paraná, 26 de novembro a 2 de dezembro de 2020

Vivência familiar inspira fotógrafa em livro sobre saúde mental Isabella Lanave busca apoio para livro feito junto a pessoas neurodiversas Ana Carolina Caldas

“L

eve a sério o que ela diz” é o nome do livro da jornalista, artista visual e fotógrafa curitibana Isabella Lanave. A obra a ser lançada é uma reflexão, a partir do encontro entre imagem e palavra, sobre como é viver com doenças consideradas invisíveis. A vontade de explorar o tema surgiu a partir da relação com a mãe, que é uma mulher neurodiversa, diagnosticada com transtorno bipolar. “Acredito na importância de popularizar o debate sobre transtornos mentais, pois ainda há um tabu muito grande com o tema, principalmen-

te dentro das famílias. Isso é consequência da maneira como questões relacionadas à saúde mental foram violentamente tratadas durante nossa história”, explica Lanave. Para que o livro se concretize, a jornalista busca apoio numa campanha de financiamento coletivo na plataforma Catarse. Composto por textos e imagens de pessoas que convivem ou conviveram com questões relacionadas à saúde mental, o livro expõe uma forma de diálogo com a sociedade, proposto por Isabela e compartilhado pelos colaboradores do projeto. Isabela foi citada pela re-

vista “Time” como uma das 34 fotojornalistas a serem seguidas pelo mundo em 2017. Atualmente, coordena projetos aprovados pelo Emergency Fund for Journalists, da National Geogra-

phic Society, que entre outros temas, refletem sobre saúde mental no momento de pandemia. “Isso se estende ao encontro com outras pessoas na mesma intenção de compartilhar e construir

coletivamente reflexões sobre suas vidas e o momento em que estamos vivendo”, completa. Para contribuir com o projeto, acesse na Plataforma Catarse o projeto livroisalanave.

Isabella Lanave

Arquivo Pessoal

O lucro e a mágica Há neste momento uma enorme polêmica na Organização Mundial do Comércio (OMC) a respeito das patentes das vacinas contra o coronavírus. A África do Sul e a Índia, países “pobres”, querem a liberação das patentes porque isso baratearia a produção e permitiria uma maior extensão do tratamento preventivo. Já os países ricos (e o vira-lata governo de Bolsonaro) perfilam-se ao lado de sua grande indústria farmacêutica pelo desestímulo aos investimentos, eufemismo para dizer que isso interfere nas grandes margens de lucro esperadas, diminuindo-as. Ocorre-me pensar no conto “O

ex-mágico da taberna Minhota”, de Murilo Rubião, quando o personagem se refere a um emprego de mágico num restaurante: “O homem, entretanto, não gostou da minha prática de oferecer aos espectadores almoços gratuitos, que eu extraía misteriosamente de dentro do paletó. Considerando não ser dos melhores negócios aumentar o número de fregueses sem o consequente acréscimo nos lucros...” O número de fregueses é o menos importante se não há aumento nos lucros. E não há mágica que demova os grandes capitalistas deste ponto de vista. A mágica estaria em superar a sociedade baseada no lucro.

Babaganush Ingredientes 2 berinjelas orgânicas. 1 dente de alho picado. Caldo de 1 limão orgânico. Azeite a gosto. Sal a gosto. Modo de Preparo Lave e seque bem as berinjelas. Acenda a chama do fogão, segure a berinjela com uma pinça e a aproxime do fogo. À medida que a casca for queimando, vá virando a berinjela para que ela queime por igual. Transfira para um prato e repita com a outra berinjela. Quando estiverem mornas, corte ao meio, no sentido do comprimento, e retire toda a polpa com uma colher. Descarte a casca e transfira a polpa para uma peneira. Deixe escorrer o excesso de líquido por alguns minutos. No processador (ou liquidificador) junte o caldo de limão, o alho e a polpa de berinjela e bata bem até formar uma pasta. Tempere com sal e azeite. Dica na receita original, acrescenta-se à mistura tahine, uma pasta de gergelim vendida em lojas de produtos árabes.

Reprodução

Por Anísio Garcez Homem

Gibran Mendes

DICAS MASTIGADAS


Brasil de Fato PR

Brasil de Fato PR

Paraná, 26 de novembro a 2 de dezembro de 2020

8 Esportes

Maradona e a arte de perceber o outro

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Hasta siempre

Num programa de TV sobre Batistuta, Maradona em nenhum momento falou de si mesmo Pedro Carrano

E

u morava em San Cristobal de las Casas, no sul do México, abrigado de passagem na casa de uma amiga. Depois de muito tempo de estrada, finalmente tinha contato com uma televisão e canais por assinatura. O aparelho brilhava na sala como um animal estranho. Estava num daqueles domingos com

o corpo e mente pedindo inércia, o olhar baixo atraído pelo sinal da tevê que, hoje sabemos, foi feito pra relaxar soldados tensos. Sem mais, o zap do controle remoto passou por um canal esportivo argentino que entrevistava e contava a história do Gabriel Batistuta, o “Batgol”, já em final de carreira naquele ano de 2005. A surpresa do programa foi que,

O futuro se fez presente – parte I Por Cesar Caldas

O presidente Samir Namur iniciou o segundo mandato do mesmo grupo político prometendo o “Coritiba do Futuro”. Em 15 dias este estará cumprido. Se o triênio anterior (2015-2017) foi retumbante fracasso sob os mesmos auspícios da autodenominada “Ala Jovem”, este último se revela catastrófico. Levará anos para o frequentador do Couto Pereira esquecer vexames como as derrotas para Maringá (0x3), Foz (1x3), Oeste (0x2), CRB (0x2), Guarani (0x2) e Toledo, por exemplo – todas em casa. Ainda no Alto da Glória, entristeceu a incapacidade de vencer “rivais” como Prudentópolis, Rio Branco, Vila Nova e Sampaio Correia. Pela TV, o torcedor sentiu o amargor de reveses vergonhosos contra clubes do “quilate” de São Bento (2x5), União de Patos (2x3), Cascavel CR (2x3 e 0x1), Manaus (0x1) e os mesmos Sampaio Corrêa (0x2) e CRB (0x1). A saudade será zero.

de repente, a produção convidou e Diego Maradona entra no estúdio, jeito amigo, bonachão, abraça todo mundo, tira sarro de si mesmo e toma parte no debate. O que mais me impressionou naquele episódio, e vez ou outra me vem à memória, foi o fato de que Maradona em nenhum momento sequer do programa falou de si mesmo, de sua carreira, de seus feitos – o que seria esperado para um gênio reconhecido da bola, símbolo da resistência de um país. Ele ficou analisando a carreira de Batistuta - “Este animal” -, como o chamava. Debateu, riu, valorizou o amigo. Deixou-o até constrangido com os elogios. “No, Diego, pará!”. Não sei se o craque sempre tem essa postura. Todos nós, de alguma forma, somos inconstantes, contraditórios, vacilantes. Porém, num mundo rápido onde perceber o outro é uma capacidade que perdemos, quando penso em Maradona, recordo sempre este episódio.

A América Latina ficou mais triste neste 25 de novembro. Diego Armando Maradona faleceu após uma parada cardiorrespiratória. O “pibe” de ouro tem muitas façanhas, histórias, gols memoráveis, marcou seu nome e sua genialidade na história do futebol mundial. Tudo isso será (e deve ser) devidamente contado e rememorado por todos nós. Aqui quero guardar algumas linhas para lembrar da sua relação com as Avós da Praça de Maio. Diego não se furtava de se posicionar politicamente e sempre apoiou a luta das avós. Quando Estela de Carlotto encontrou, em 2014, seu neto, depois de uma busca de 36 anos, Maradona festejou e lembrou aos argentinos: “Não é só o futebol que pode nos unir”. A mesma Estela, presidenta da associação, foi recebida na concentração da seleção argentina em 2010, quando Maradona era técnico e reafirmou seu apoio a elas. Uma camisa autografada do ídolo era um dos objetos mais representativos quando as avós inauguraram, em 2012, o bar El Revolucionario. Como elas, nos despedimos tristemente de Diego, mas que viverá para sempre em nossas memórias. Hasta siempre.

Procura-se

Adiós, Pibe

Por Marcio Mittelbach

Por Douglas Gasparin Arruda

O futebol do Paraná Clube sumiu. Não foi de uma hora para outra, é verdade. Mas basta ver o nervosismo dos jogadores pra notar que agora a vaca foi para o brejo. As grandes jogadas do Bressan viraram raros lampejos. Os gols do Bruno Gomes minguaram e a zaga, que já foi destaque, tem protagonizado um festival de vacilos. E o pior é que o apagão impera em campo e fora dele. A pressa pela estreia das novas contratações demonstra o desespero da comissão técnica e dos cartolas. Rafael Lima e Bruno Lopes mal chegaram e já foram para o jogo. Se o primeiro foi apenas razoável, deixando dúvidas se tem condições de assumir a titularidade ao lado do Fabrício, o segundo deu sinais de que não está em boa forma. Resta ao Paraná se encontrar o quanto antes. Um novo tropeço na sexta, dia 27, diante do Operário, pode nos fazer aparecer de vez na luta contra o rebaixamento.

Gostaria de comentar sobre outros argentinos e dos detalhes de uma das partidas mais incríveis do Furacão em sua história. Mas agora as palavras me escaparam. Sinto que todos os amantes do futebol compartilham essa dor. Maradona foi o maior de todos os tempos. Transcendeu os gramados e se tornou um símbolo não só argentino, mas latino-americano. Numa época em que o marketing esportivo cresceu a passos galopantes, gerando um processo de silenciamento através da pressão dos investidores, Maradona ousou se posicionar politicamente. Ganhou, com isso, muitos inimigos. Cerca de 15 anos atrás, Maradona entrevistou a si mesmo. Em dado momento, perguntando-se sobre a morte, afirmou que, em sua lápide, escreveria “Gracias a la pelota.” O mundo, hoje mais triste depois de sua morte, agradece também. Adiós, Pibe.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.