Brasil de Fato PR - Edição 222

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Palhaça ecológica

Esportes | p. 8

Divulgação

Cultura | p. 7

Olimpíadas radicais

Websérie para estudantes é lançada

PARANÁ

Medalhas vêm das ondas e do skate

Ano 5

Edição 222

29 de julho a 4 de agosto de 2021

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

Rodolfo Vilela rededoesporte.gov.br

O luto na sala de aula

Editorial | p. 2

Bolsonaro é velha política Escolha de Ciro Nogueira revela troca de favores

Alunos e professores voltam com perdas de familiares e amigos Brasil | p. 5

Paraná | p. 6

Mais armas, violência aumenta

Giorgia Prates

Incentivo ao armamento piora segurança pública

Pedro Carrano

Moradia popular ou extorsão?

Cohab aumenta em 400% valor de lote em vila de Curitiba Cidades | p. 4


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 29 de julho a 4 de agosto de 2021

Escolha de Ciro Nogueira para Casa Civil revela quem é Bolsonaro

EDITORIAL

O

senador Ciro Nogueira (PP - PI) é o exemplo de um sistema político ligado ao poder econômico, em que a classe trabalhadora, em toda a sua diversidade, não possui representação. Seu partido integra o chamado Centrão, o bloco que conforma maioria no Congresso Nacional, orientado por interesses locais, corpo-

rativos e financeiros. Até pouco tempo, Nogueira criticava Bolsonaro e elogiava Lula. Nesta semana, foi indicado para a Casa Civil do atual governo. Isso reforça que Bolsonaro, apesar de ter dito, em 2018, que estava “fora da velha política”, na verdade tem origem no Centrão e comunga do perfil corrupto, conservador, autoritá-

rio, autor de poucos projetos, defensor das privatizações e da retirada de direitos dos trabalhadores. A manobra de Bolsonaro reforça a aliança entre governo e Centrão, que andava frágil com a queda de popularidade, os protestos nas ruas e, por outro lado, ameaças de golpe do presidente e dos militares que o apoiam.

O objetivo agora é evitar o impeachment e tentar garantir estabilidade ao governo até as eleições. Se Lula e a esquerda vencerem as eleições de 2022, Ciro Nogueira voltará a chamá-lo de melhor presidente. Eles são assim mesmo. Em 2014, a esquerda exigiu uma Constituinte do sistema político. Essa bandeira tende a voltar no futuro.

SEMANA

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 222 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Luma Vitorio ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www. facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com

A profundidade da crise na vida das mulheres negras OPINIÃO

Luma Vitorio,

da Coordenação Nacional da Campanha Periferia Viva. O artigo completo está no site do Brasil de Fato

A

data do 25 de julho, reconhecida por muitos países como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, é um marco para o calendário político antirracista do Julho das Pretas e também um momento de intensa reflexão sobre a vida das mulheres negras. É o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Em tempos de aprofundamento

da crise e de um governo federal desumano, as desigualdades de gênero e raça estão ainda mais evidentes na vida das trabalhadoras. As mulheres negras são 27,8% de toda a população brasileira. Destas, uma imensa parte vive nas periferias, são trabalhadoras do setor informal e desempregadas. Mesmo sendo uma maioria considerável, em termos de representação política ainda são minoria. Mulheres negras são menos de 5% das(os) prefeitas(os) e vereadoras(es) eleitas e eleitos nas eleições de 2020. É impossível olhar para esse cená-

rio e se desvincular da história. Um dos absurdos que nos arrastam para um passado recente são os inúmeros casos de trabalhadoras escravizadas nos serviços domésticos que têm sido resgatadas em anos recentes. Um dos casos mais emblemáticos foi o de Madalena Gordiano, resgatada no dia 27 de novembro de 2020 pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Mantida desde os seus 8 anos de idade em situação de trabalho análogo à escravidão, viveu 38 anos de sua vida em condições humilhantes e de liberdade restrita. Quais são as duras consequên-

cias do racismo e do passado escravocrata do nosso país na vida de cada mulher negra, nos dias de hoje? É importante afirmar a gravidade que a pandemia, negligenciada pelo presidente Jair Bolsonaro, trouxe para as vidas dessas mulheres. Alguns dados nos dão a dimensão do momento difícil que vivemos, especialmente para as mulheres negras. São os índices de violência doméstica e feminicídio, em que 75% das mulheres vítimas de assassinatos são negras e, entre essas, 50% foram assassinadas por seus parceiros e ex-parceiros.


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Paraná, 29 de julho a 4 de agosto de 2021

Geral

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FRASE DA SEMANA

Brasil tem a menor produção automotiva da década em 2020 Em 2020, o Brasil teve o seu pior desempenho em 10 anos na produção de carros. Segundo a Anfavea, o país só produziu 2,014 milhões de carros em 2020. O número é quase a metade da produção nacional ocorrida em 2013, quando o país produziu 3,7 milhões de carros em um período de forte atividade econômica nos anos anteriores. Os números da retração estão contidos na nota técnica do Dieese “A desindustrialização e o setor automotivo: retomada urgente ou crise sem fim”. Para a análise, a indústria nacional se deparou com uma crise estrutural crônica, entremeada por crises conjunturais cíclicas, agravadas pela pandemia. Segundo o estudo, o país, que trabalha para atender o mercado interno, precisa encarar a guerra fiscal e um novo cenário político para o setor. “No presente momento, países como Estados Unidos, Alemanha e China estão promovendo um conjunto de ações para reposicionar suas indústrias, considerando a importância do setor industrial nos processos que oxigenam o conjunto da economia e promovem o dinamismo das inovações tecnológicas”. Enquanto isso, no Brasil, estamos adotando o caminho inverso ao dos países centrais, como Alemanha, EUA e China, desmobilizando ou enfraquecendo os instrumentos positivos de política industrial implementada a partir de 2003.

Fora, Bolsonaro

Ôxe, foi sonho não! Disse Rayssa Leal, em seu Twitter, após ganhar medalha de prata no skate nas Olimpíadas. Aos 13 anos, a maranhense é a mais jovem brasileira a ganhar uma medalha e a terceira mais jovem na história dos Jogos.

Divulgação | COB

NOTAS BDF Por

Presidente assume no Peru No dia em que o país celebra 200 anos da sua Independência, 28 de julho, Pedro Castillo assume a Presidência do Peru, depois de derrotar por pequena margem de votos a candidata de extrema-direita Keiko Fujimori. Keiko tentou anular o resultado das eleições com acusações de fraude sem prova, tática da direita mundial ao perder eleições. Perdeu também na Justiça.

Dificuldades no Congresso Como aqui no Brasil, mesmo com a eleição de um presidente de esquerda, há problemas pela frente para implantar seu programa de governo. Das 130 cadeiras do Congresso peruano, o presidente tem apoio de 54 congressistas. Na eleição para a direção do Legislativo, foi eleita uma chapa articulada pela centro-direita, que contou com 69 votos.

Centrão manda Aqui no Brasil foi oficializada a nomeação do senador Ciro Nogueira (PP) como ministro da Casa Civil, responsável pela articulação política do governo Bolsonaro. Ciro é um dos principais chefes do Centrão, grupo político que domina os votos no Congresso Nacional. Com a nomeação, Bolsonaro se rende de vez ao grupo político mais fisiológico do país na tentativa de “salvar seu governo”. Só se esquece de que o Centrão só “salva” seus próprios interesses. Se o governo fizer água e Bolsonaro cair mais nas pesquisas, irá abandoná-lo sem nenhum remorso, depois de lucrar com bilhões em verbas.

Governo de morte Além da morte de mais de mais de 550 mil brasileiros na pandemia, com muitos óbitos que poderiam ser evitados se a vacina chegasse antes, o governo Bolsonaro insiste na cultura da violência. Para “comemorar” o Dia do AgriculReprodução | Secom tor, o perfil oficial da secretaria de comunicação, Secom, postou uma imagem de um homem armado (foto). Isso num país líder mundial em mortes por conflitos fundiários. Após repercussão negativa nas redes, a postagem foi apagada.

A cultura e a diversidade foram a marca de mais um grande ato “Fora, Bolsonaro” em Curitiba, no 24 de julho. Desde as 14h, milhares de pessoas se concentraram na Praça Santos Andrade para ver apresentações culturais e fazerem manifestações pelo impeachment do presidente, por auxílio emergencial de R$ 600, comida na mesa e vacina para todos o mais rapidamente possível. Depois seguiram em passeata pelo centro, que foi até o final da tarde.

Diversidade Grupos de indígenas, moradores de ocupações, torcidas organizadas antifascistas, estudantes, sindicatos, centrais sindicais e partidos mostraram suas bandeiras e reivindicações. Foi grande também a participação de artistas, com apresentações programadas de mais de uma dezena de grupos, entre eles Garibaldis e Sacis, Bloca Ela Pode Ela Vai, MUV, Wes Ventura, Imperador Sem Teto e MTD – Místicas Dialogando com as Lutas Indígenas.

Dia do Agricultor Na quarta (28) foi celebrado o Dia do Agricultor, com transmissão do programa “Quarta Sindical”, parceria do Brasil de Fato Paraná e a CUT-PR. Foram entrevistados Adriana Oliveira, da coordenação do MST do Paraná, e Neveraldo Oliboni, da Fetraf e também diretor da CUT -PR. O programa pode ser assistido nas redes sociais do BDF-PR e da CUT-PR.


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Cohab cobra de famílias lotes com metro quadrado a 400% do valor inicial Famílias da Vila Canaã sentem-se inseguras e pressionadas pela companhia Pedro Carrano

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anda Vieira é integrante da associação de moradores Vila Canaã, que fica no bairro Novo Mundo. Ainda criança, ela e sua família foram moradores pioneiros na região. A família instalou-se na região em 1978 quando “tudo era mato alto por ali” e o terreno ainda pertencia à Caixa Econômica Federal. Só uma década mais tarde ocorreu a ocupação e divisão de lotes às margens da bacia do Rio Formosa. A

“Tem que haver uma reciclagem da Cohab” Vanda Vieira

ocupação iniciou-se no ano de 1991, puxada pela liderança histórica de Jairo Graminho, que também esteve na Revolta dos Colonos, no Sudoeste do Paraná. E a região ficou conhecida pelo nome de Formosa. Dentro dela, há várias vilas com trajetórias próprias. Em 1994, por exemplo, foi criada a chamada vila “Cooperativa Luta pela Terra”, separando a então associação vila Formosa e dando à luz, mais tarde, a Associação Vila Canaã – como relata documentário produzido pelo Instituto Democracia Popular (IDP). Uma coisa é certa. Quase trinta anos depois, que se completam em 7 de setembro deste ano, há muita

insatisfação dos moradores com a ausência de regularização fundiária, título e escritura do lote nas mãos. O primeiro item da revolta é o fato de que a região é construída e beneficiada pelos próprios moradores. Quando chegou o poder público no local, os moradores já haviam instalado energia elétrica, água, fizeram drenagem e asfaltamento de um local conhecido antes como um banhado. A questão que indigna mais é o fato de que a Companhia de Habitação de Curitiba (Cohab) ter chegado a cobrar prestações das famílias, muitas da ordem de R$ 800, mesmo a companhia tendo adquirido os lotes por valor muito menor.

Por conta da valorização dos terrenos, calculada por advogado em 400%, os moradores sentiram-se cada vez mais pressionados e cada vez com menos condições de pagar as prestações, embora não queiram deixar o chão onde fincaram bandeiras e sonhos. Usucapião coletivo Sem possibilidade de fazer um pagamento injusto, aderiram, então, a uma ação de usucapião coletivo, como explica o advogado Bruno Meirinho. “A realidade comum é de que eles têm uma posse da qual poderiam fazer usucapião. A Prefeitura passou a ter postura agressiva, ameaçando tirar se eles não pagassem”, criti-

ca, apontando a vontade de os moradores fazerem contratos com a companhia, porém o metro quadrado do lote, em um comparativo, saltou de R$ 90 (valores atualizados) para os atuais R$ 350. “Em 2016, a Prefeitura chamou as pessoas, os preços já haviam dobrado em relação a 2014. São contratos abusivos, estava entendido que os moradores não se recusaram a fazer os contratos. Porém, dois anos depois, com contrato mais caro, o desespero foi total. Quanto mais resistiam, mais aumentava o preço. O Ministério Público foi acionado e começou a tentar fazer mediação”, aponta Meirinho.

Pedro Carrano

Mudar o sistema Vanda Vieira ainda ressalta que, desde 2006, a companhia passou a se aproximar dos moradores. Porém, sem apresentar saídas efetivas. Houve algumas realocações no local, de moradias próximas ao rio. Outras moradoras, no entanto, como é o caso de Vanda, não querem ser realocadas. Os critérios, afinal, não estão nítidos. “Minha casa está a 17 metros do rio, que passa por baixo da rua”, relata a liderança, mas ainda não tiveram resposta satisfatória da companhia. E ela finaliza: “Tem que haver uma reciclagem da Cohab”.

RESPOSTA DA COHAB “As áreas que compõem o Bolsão Formosa (Uberlândia, Formosa, São José e Canaã) apresentam diversas questões documentais complexas ainda pendentes de resolução: negociação de áreas particulares, desafetação de trechos de ruas e transferência de áreas do município. Sem a finalização dessas questões não há como avançar com o processo de regularização fundiária. Em reunião realizada (31/07/19) na sede da Cohab, a companhia apresentou a sua proposta: R$ 348 por metro quadrado, enquanto o valor de mercado para a região era de R$ 851 na época. Ao final da reunião, alguns moradores se apresentaram para formar uma comissão a fim de buscar alternativas para o impasse acerca dos valores. Ficou acordado que a comissão formada procuraria a Cohab para novas reuniões, fato que nunca aconteceu. Não está ocorrendo nenhuma pressão para que os moradores assinem contratos, uma vez que a área ainda não foi regularizada. A Cohab Curitiba sempre esteve e continua de portas abertas para dialogar com as comunidades nas quais atua.”


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“Somos uma geração de viúvos, viúvas e órfãos” Fator emocional é um dos problemas para profissionais da educação na volta às aulas presenciais no Paraná Lia Bianchini

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os estudos de narrativas de ficção, o tipo clássico de se contar uma história baseia-se na chamada “jornada do herói”: o protagonista parte de um mundo conhecido, deparase com um grande problema e, após enfrentá-lo, retorna ao mundo inicial, mais sábio, experiente, com os ensinamentos que acumulou na superação do problema. Desde março de 2020, o mundo real se tornou palco de uma história digna de ficção. Um vírus contagioso e letal se espalhou por todos os países. A diferença é que, na vida real, um protagonista sozinho é incapaz de enfrentar o grande problema. E o resultado são milhares de jornadas interrompidas. Em todo o Brasil, já são mais de 552 mil histórias que deixaram de ter seu protagonista. No Paraná, são mais de 34,6 mil. Na vida real, o protagonista não encontra a redenção, mas a morte. E o

“mundo conhecido” tenta retornar, ainda que continue imerso no grande problema. É nessa tentativa de retorno à “normalidade” que o Paraná iniciou a volta às aulas presenciais, em sistema híbrido. As sequelas emocionais da pandemia, no entanto, mostram que é impossível voltar ao normal imediatamente. “A gente fala pouco dos

nossos mortos. Nós estamos na bandeira amarela em Curitiba e todo mundo feliz. Nós estamos com mais de 500 novos casos, com quinze novos óbitos por dia. Como é que se pode ficar feliz? Não são só números. Eram pais, irmãos, avós, filhos. Somos uma geração de viúvos, viúvas e órfãos”, diz Maria Angela da Motta, professora da rede munici-

Giorgia Prates

Falta de segurança Tanto na rede municipal de educação quanto na estadual, as preocupações com os critérios de segurança contra o coronavírus são constantes para as profissionais. As entrevistadas afirmam ser impossível manter o distanciamento social nas salas de aula, mesmo com o sistema híbrido e quantidade reduzida de estudantes presentes. Para piorar, em Curitiba algumas escolas enfrentam rodízio de abastecimento de água, o que dificulta o cumprimento da orientação para

pal de ensino em Curitiba. Ela perdeu a mãe para a Covid-19 em março deste ano. Na escola onde trabalha, quatro funcionários também morreram infectados pelo vírus. “É uma coisa que dói. A gente precisa acolher as crianças que perderam família, pais, irmãos, mas a gente também está machucado. A gente também tem essa marca”, desabafa.

a higienização das mãos. No início do ano letivo, a Prefeitura distribuiu álcool em gel e máscaras inadequados para a proteção correta contra o vírus. Nesse cenário, não há previsão possível de vida normal e segura dentro das escolas, analisam as profissionais ouvidas pela reportagem. “Ou os gestores vão enxergar isso e vamos voltar ao ensino remoto com mais mortos e um caos instaurado ou vão fazer de conta que não estão vendo essas mortes, esses dados”, diz Maria Angela.

Com duas turmas na parte da manhã e outras dez na parte da tarde, Maria Angela calcula que, em apenas um mês, passará por 400 crianças na escola. O medo do contágio e de infectar seus estudantes é uma preocupação constante. Até o momento, ela tomou apenas a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Na rede estadual de ensino, a situação se repete. Uma pedagoga funcionária do estado, que preferiu não ter seu nome divulgado, conta que é perceptível a delicadeza do estado emocional dos estudantes. Em uma das turmas de sua escola, seis crianças perderam pai ou mãe. Professores e demais funcionários têm que aprender a lidar com a situação por conta própria. Não há, por parte do governo, a iniciativa de oferecer qualquer tipo de formação ou apoio voltado para o bem-estar emocional nas escolas. “Parece que estamos naturalizando o fator morte”, conta a pedagoga.

RESPOSTA DA EDUCAÇÃO À reportagem do Brasil de Fato Paraná, a Secretaria de Estado da Educação (Seed) respondeu que “o retorno às escolas é pautado pelo cumprimento do protocolo de biossegurança, respeitando todos os cuidados necessários e a respectiva capacidade que se impõe às salas de aula.” Sobre apoio psicológico, a Seed informou que não possui uma política específica para lidar com o fator emocional nas escolas. No entanto, diz que “o aspecto emocional é fator importante, tanto que a escola é um lo-

cal de acolhimento e integra a Rede de Proteção, que envolve várias instituições/áreas governamentais ou não, que atuam para solucionar questões sociais de alta complexidade para crianças e adolescentes em situação de risco ou que necessitem de atendimento especializado. Os profissionais, por sua vez, também contam com ações de apoio à saúde física e mental através do Departamento de Saúde do Servidor.” A Secretaria Municipal de Educação não respondeu até o fechamento desta reportagem.


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No Paraná, mais armas, mais violência Estado aumenta em quase 92% o registro de armas, e número de mortes violentas cresce Carolina Antunes | PR

Gabriel Carriconde

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incentivo ao uso de armas de fogo e a flexibilização da legislação, principalmente por iniciativa do governo Bolsonaro, vem provocando aumento nos pedidos de registro. No Paraná, só em 2020, foram feitas 8.282 solicitações à Polícia Federal, aumento de quase 92% em comparação ao ano anterior, segundo a própria PF. O Anuário de Segurança Pública, publica-

do pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta para uma “verdadeira corrida armamentista” no país e revela que, para cada grupo de 100 brasileiros, pelos menos um possui uma arma particular. Para especialistas em segurança pública ouvidos pela reportagem do Brasil de Fato Paraná, a facilitação do acesso a armas não se trata de política pública de segurança, mas populismo incentivado por grupos ligados ao presiden-

te Bolsonaro e pelo próprio mandatário. Para Martel Del Colle, policial militar aposentado e membro do movimento Policiais Antifascismo do Paraná, a política de facilitação ao acesso às armas de fogo por civis, além de não ajudar no combate ao crime organizado, atende a interesses políticos, e não garante segurança para o cidadão. “Aumentar o número de armas não reduz os índices

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Queda nas apreensões Cerca de 2.134 armas foram apreendidas no Paraná no primeiro quadrimestre deste ano, sendo 241 a menos que no mesmo período de 2020. O anuário de Segurança Pública aponta que a diminuição das apreensões são consequência direta do aumento do armamento na mão de civis. “Ao aumentar o acesso a armas e calibres antes restritos às forças de segurança e

defesa ao cidadão comum e aos CACs, ao mesmo tempo que desidrata medidas de rastreamento e controle de armas de fogo e munição, o governo facilita a subversão da categoria por criminosos’’, diz a publicação. A diminuição do número de armas apreendidas pelas forças de segurança também foi observada em estados como o Rio de Janeiro, queda de 24%, Pará, 25,7%, e Acre, 38,6%.

de criminalidade, você pode falar sobre a liberdade de ter a posse de arma de fogo, mas essa é uma discussão muito mais filosófica do que de segurança pública. Os índices são claros, quanto mais armas, mais criminalidade, como nos Estados Unidos, que têm índices de violência enormes perto de outros países de Primeiro Mundo’’, reflete. Martel ainda alerta que a maioria das armas envolvidas em crimes é legal, “muitas armas usadas para cometer crimes foram roubadas por criminosos, no fim o fato de termos mais armas acaba munindo criminosos”. O policial aposentado ainda critica o uso político da proposta. “Essa política do governo Bolsonaro funciona para destilar ódio, e poder ter arma para poder matar quem você não gosta, bandido, comunista, e o ódio é um ótimo propagador para voto”. Aumento da violência O delegado da Polícia Civil

do estado Pedro Felipe avalia que o aumento da circulação de armas de fogo nas ruas pode aumentar a violência, com feminicídios, homicídios e até acidentes em situações banais. “Infelizmente a projeção, a continuarmos com essa política de armamento da população, é a pior possível, com aumento real no número de homicídios e delitos violentos como feminicídios e homicídios originários de discussões de trânsito e outras banalidades, que podiam ser evitados caso o cidadão não tivesse acesso tão fácil a armas de fogo.” Em janeiro deste ano, o Paraná teve aumento de 1,7% no número de mortes violentas em comparação a 2020, segundo dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp-PR). O número total de homicídios dolosos, latrocínio (roubo seguido de morte) e de óbitos após lesão corporal aumentou de 174, em janeiro de 2020, para 177, no mesmo período em 2021.


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Palhaça Adelaide defende a natureza em websérie educativa Gravada em Londrina, série pode ser assistida gratuitamente e é direcionada a estudantes da escola pública Divulgação

Redação

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s aventuras da Super Adelaide, uma palhaça metida a super-heroína que tenta salvar o planeta e os animais chega ao Youtube no dia 2 de agosto. A websérie é dividida em 6 episódios com o tema da proteção e preservação do meio ambiente e o respeito aos animais. A aventura começa quando a Super Adelaide resolve morar na floresta para defender os animais e a natureza de um monstro horrível e misterioso que está causando vários desastres. Em meio a muitas aventuras e emoções, a palhaça revela seus superpoderes, que, na verdade, são sua própria humanidade aflorada. Em cada episódio, terá de superar um desafio ligado a um elemento da natureza (ar, terra, água e fogo) para salvar o planeta.

A websérie foi filmada em Londrina (PR), revelando imagens do meio ambiente local. A atriz Juliana Galante é quem dá vida à Palhaça Adelaide. Juliana pesquisa a relação palhaçaria e ativismo desde 2015. Foi durante sua graduação em

Artes Cênicas, na Universidade Estadual de Londrina, que surgiu seu primeiro trabalho solo na área, o espetáculo teatral “Plano nº 269”. A proposta de seus projetos é a conscientização do público acerca da preservação do meio ambiente,

do respeito e cuidado com os animais e do feminismo, trazendo à tona, de forma discreta e sensível, a força e empoderamento de meninas e mulheres, na figura de uma “super-heroína” fora dos padrões pré-estabelecidos, chamada de “Super Adelaide”. A websérie foi pensada para alunos de escolas públicas do ensino fundamental e médio, mas é livre para todos os públicos. Será disponibilizada para as escolas de maneira gratuita para serem transmitidas dentro da plataforma Classroom. A websérie também poderá ser vista gratuitamente no Youtube e contará com a tradução em libras.

Para acompanhar, acesse https://www.youtube. com/palhacaadelaide

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Banca da Alfaiataria O espaço cultural Alfaiataria inaugurou, em julho, banca pop-up para venda de livros, publicações e impressos de artistas e coletivos independentes. As visitas poderão acontecer de forma presencial e virtual até o dia 20 de agosto. A banca física ficará aberta de terça a sexta, das 14h às 18h, e virtualmente no site www.alfaiataria.art

Gravuras, livros etc. Na banca há obras de diversos artistas locais que trabalham com fotografia, gravuras, zines, cartazes, camisetas, bottons e livros, entre eles de autores como Ana Gonzalez, gravurista reconhecida pela ironia em seus trabalhos e o jogo com palavras e o imaginário publicitário, e zines e traduções da Machorra Edições Piratas, entre outros.

Festival de vídeo

DICAS MASTIGADAS | Bolo de fubá cremoso

Ingredientes 1 xícara (chá) de fubá 3 ovos orgânicos 3 xícaras (chá) de leite Terra Viva 2 xícaras (chá) de açúcar orgânico 1 xícara (chá) de queijo parmesão ralado fino 2 colheres (sopa) de manteiga em temperatura ambiente 2 colheres (sopa) de farinha de trigo ¾ xícara (chá) de coco seco ralado 1 colher (sopa) de fermento em pó Manteiga e fubá para untar e polvilhar a assadeira

Reprodução

A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br

Modo de preparo Preaqueça o forno a 180 ºC. Unte uma assadeira com manteiga e fubá. Numa tigela pequena, quebre um ovo de cada vez e transfira para o liquidificador. Junte o leite, o açúcar, o queijo parmesão, a manteiga, o fubá e a farinha de trigo. Bata até ficar liso. Transfira a mistura líquida para uma tigela grande. Acrescente o coco seco, o fermento e misture. Coloque a massa na assadeira e leve ao forno para assar por cerca de 40 minutos ou até a superfície dourar e as laterais começarem a soltar. Por ser um bolo cremoso, ele deve sair do forno com o centro ainda mole. Retire a assadeira do forno e deixe o bolo esfriar.

Divulgação

Curitiba sedia o EXEXEX Festival de vídeo experimental. Será on-line com encontros de criação, prêmio e convidados internacionais. O público pode acessar em 31 de julho, às 10h. O evento vai promover reflexões sobre as novas articulações do vídeo. Os trabalhos poderão ser visualizados pela plataforma Mozilla Hubs. O link será disponibilizado às 9h da manhã do dia 31 pelo site http://exexex.art.br. As exposições ficarão no ar até 29 de agosto.


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Paraná, 29 de julho a 4 de agosto de 2021

1º Turno: virada dos 50 metros Por Cesar Caldas

Podemos comparar a Série B do Campeonato Brasileiro com a prova de natação dos 100 metros. A 19ª rodada (17/8) marcará o toque no fi m da piscina e a “virada” para os 50 metros restantes. Como se sabe, as águas das raias mais distantes do centro da piscina, ocupadas pelos 7º e 8º lugares da fase classificatória, são as que apresentam mais ondulação e resistência ao avanço do atleta. Para ficar entre os quatro melhores e disputar medalha, é muito importante iniciar a segunda metade dentre os primeiros. Atual vice-líder, o Coritiba enfrentará, até aquela data, Náutico, Goiás e Ponte Preta no Alto da Glória, deixando seus domínios para duelar com Brasil de Pelotas, CSA e Brusque (jogo atrasado). Manter, nesses seis jogos, aproveitamento próximo dos atuais 61,4% é o desafio alviverde: ganhar 11 dos 18 pontos. Com quatro vitórias, poderá almejar o ouro.

Desafio traçado Por Marcio Mittelbach

A partida da próxima segunda-feira (2/8) diante do Ypiranga, na Vila Capanema, será a primeira do tricolor com a presença do novo técnico, Sílvio Criciúma. Ele é o sexto técnico contratado desde a saída de Matheus Costa, no final da Série B de 2019. Ainda que a expectativa sobre o novo treinador seja apenas manter o tricolor na terceira divisão, para isso ele precisa alcançar um aproveitamento de 44% nas últimas nove rodadas. Parece pouco, mas seria uma performance melhor que a dos seus cinco antecessores: Maurílio, 22 partidas e 34% de aproveitamento; Marcio Coelho e Gilmar Dal Pozzo, ambos com seis partidas e 22,2% de aproveitamento; Rogério Micale, com o pífio aproveitamento de 5%, e Allan Aal, com 42,5% em 36 jogos. Para manter vivo o sonho do acesso, Silvio Criciúma precisará de sete vitórias em nove rodadas, um aproveitamento próximo dos 80%.

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Brasil radical brilha nas Olimpíadas Depois de cinco dias de competições, esportes tradicionais, como vôlei, derrapam Frédi Vasconcelos

O

Brasil dos esportes radicais brilhou nos primeiros dias das Olimpíadas. Das cinco medalhas nos primeiro cinco dias de competição, três vieram do skate e do surfe. Os outros dois bronzes saíram de esportes tradicionais como judô e natação. Destaque para a prata da mais jovem medalhista da história do Brasil nos jogos. A fadinha do skate, com seus 13 anos, brilhou nas manobras. E não dá também para não falar do ouro de Ítalo Ferreira nas (feias) ondas do mar do Japão. Passou tranquilamente pelo japonês que eliminara o líder do ranking mundial, Gabriel Medina, em decisão controversa dos juízes. Mas Ítalo não deu a menor chance ao azar e conquistou o primeiro ouro no esporte que apareceu pela primeira vez nos jogos. De outro lado, a noite de terça e a madrugada de quarta-feira, trouxeram resultados inesperados. As duas duplas de vôlei feminino saíram derrotadas e terão de ganhar a última partida da fase classificatória caso queiram continuar na disputa. O

vôlei masculino, campeão da edição anterior dos jogos, no Rio, também perdeu por 3 sets a zero para o Comitê Olímpico da Rússia, ficando na terceira posição na tabela. Agora enfrenta Estados Unidos e França, duas das melhores seleções do mundo. Deve se classificar entre os quatro que passam para as oitavas-de-final, mas se ficar em quarto pode ter pela frente, no mata-mata, a forte seleção da Polônia. No feminino, foram até agora duas vitórias. Uma delas suada, por 3 a 2, contra a República Dominicana. Na sequência vêm Japão, Sérvia e Quênia. A classificação na chave deve ser mais tranquila, mas na fase seguinte o cruzamento é com seleções favoritas, como Estados Unidos, Itália e China. E o futebol? O Brasil acabou se classificando com relativa facilidade no futebol masculino e no feminino. No masculino, destaque para o artilheiro Richarlison, com três gols contra a Alemanha e dois contra a Arábia Saudita. No feminino, veja os principais destaques na coluna abaixo.

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Teranizado! Por Douglas Gasparin Arruda

Na tarde da quarta-feira, o Athletico disputou na Arena, contra o Atletico GO, a primeira partida das oitavasde-final da Copa do Brasil. Depois de um primeiro tempo de poucas jogadas ofensivas criadas pelas duas equipes, o jogo esquentou logo no começo da segunda etapa. Foram necessários 35 segundos para que a boa trama entre Nikão e Marcinho encontrasse a cabeça de Terans para abrir o placar. Em seguida o que se viu foi, mais uma vez, a zaga do Furacão criando problemas em jogadas simples. Depois de um gol inacreditável perdido, Zé Roberto conseguiu empatar aos 25 minutos. O gol acordou a equipe athleticana e, em mais uma boa jogada de Nikão e Marcinho, Terans, sempre ele, apareceu para garantir a vitória: 2 x 1. Mais um jogo incrível do uruguaio, e a torcida cada dia mais Teranizada.

Classificadas O mundo segue de olho nas Olimpíadas e o clima do evento já conquistou os brasileiros e as nossas madrugadas. Se você se emocionou com a prata de Rayssa Leal, no skate, sabe do que estou falando. No futebol, a situação não é diferente. A seleção encerrou sua participação na fase de grupos e se classificou para o mata-mata. No último sábado, 24, as brasileiras enfrentaram as holandesas, atuais vice-campeãs mundiais, em um grande jogo. O placar terminou em 3x3. Debinha, Marta e Ludmila guardaram pelo Brasil, Miedema marcou dois e Jansse fez um de falta pela Holanda. A partida foi disputada, mas as nossas guerreiras jogaram melhor, poderíamos

ter saído com a vitória. A última partida foi na terça-feira, 27, contra a Zâmbia, mesmo com uma a mais e contra um adversário teoricamente mais fraco, a seleção fez um placar magro, apenas 1 a 0. Pia alterou bastante o time que entrou em campo com relação aos dois primeiros jogos, o que afetou o entrosamento. Além disso, o jogo teve muitas paralisações e uma marcação forte fisicamente da Zâmbia. Andressa Alves balançou as redes num belo gol de falta. Classificamos em segundo lugar do grupo, com os mesmos 7 pontos da Holanda, e agora nos preparamos para enfrentar o Canadá na sexta-feira, 30, às 5h da manhã. Preparem o despertador!


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