Brasil de Fato PR 2 Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 29 de julho a 4 de agosto de 2021
Escolha de Ciro Nogueira para Casa Civil revela quem é Bolsonaro
EDITORIAL
O
senador Ciro Nogueira (PP - PI) é o exemplo de um sistema político ligado ao poder econômico, em que a classe trabalhadora, em toda a sua diversidade, não possui representação. Seu partido integra o chamado Centrão, o bloco que conforma maioria no Congresso Nacional, orientado por interesses locais, corpo-
rativos e financeiros. Até pouco tempo, Nogueira criticava Bolsonaro e elogiava Lula. Nesta semana, foi indicado para a Casa Civil do atual governo. Isso reforça que Bolsonaro, apesar de ter dito, em 2018, que estava “fora da velha política”, na verdade tem origem no Centrão e comunga do perfil corrupto, conservador, autoritá-
rio, autor de poucos projetos, defensor das privatizações e da retirada de direitos dos trabalhadores. A manobra de Bolsonaro reforça a aliança entre governo e Centrão, que andava frágil com a queda de popularidade, os protestos nas ruas e, por outro lado, ameaças de golpe do presidente e dos militares que o apoiam.
O objetivo agora é evitar o impeachment e tentar garantir estabilidade ao governo até as eleições. Se Lula e a esquerda vencerem as eleições de 2022, Ciro Nogueira voltará a chamá-lo de melhor presidente. Eles são assim mesmo. Em 2014, a esquerda exigiu uma Constituinte do sistema político. Essa bandeira tende a voltar no futuro.
SEMANA
EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 222 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Luma Vitorio ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www. facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
A profundidade da crise na vida das mulheres negras OPINIÃO
Luma Vitorio,
da Coordenação Nacional da Campanha Periferia Viva. O artigo completo está no site do Brasil de Fato
A
data do 25 de julho, reconhecida por muitos países como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, é um marco para o calendário político antirracista do Julho das Pretas e também um momento de intensa reflexão sobre a vida das mulheres negras. É o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Em tempos de aprofundamento
da crise e de um governo federal desumano, as desigualdades de gênero e raça estão ainda mais evidentes na vida das trabalhadoras. As mulheres negras são 27,8% de toda a população brasileira. Destas, uma imensa parte vive nas periferias, são trabalhadoras do setor informal e desempregadas. Mesmo sendo uma maioria considerável, em termos de representação política ainda são minoria. Mulheres negras são menos de 5% das(os) prefeitas(os) e vereadoras(es) eleitas e eleitos nas eleições de 2020. É impossível olhar para esse cená-
rio e se desvincular da história. Um dos absurdos que nos arrastam para um passado recente são os inúmeros casos de trabalhadoras escravizadas nos serviços domésticos que têm sido resgatadas em anos recentes. Um dos casos mais emblemáticos foi o de Madalena Gordiano, resgatada no dia 27 de novembro de 2020 pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Mantida desde os seus 8 anos de idade em situação de trabalho análogo à escravidão, viveu 38 anos de sua vida em condições humilhantes e de liberdade restrita. Quais são as duras consequên-
cias do racismo e do passado escravocrata do nosso país na vida de cada mulher negra, nos dias de hoje? É importante afirmar a gravidade que a pandemia, negligenciada pelo presidente Jair Bolsonaro, trouxe para as vidas dessas mulheres. Alguns dados nos dão a dimensão do momento difícil que vivemos, especialmente para as mulheres negras. São os índices de violência doméstica e feminicídio, em que 75% das mulheres vítimas de assassinatos são negras e, entre essas, 50% foram assassinadas por seus parceiros e ex-parceiros.