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Editorial
EDITORIAL Só lutas dissipam a cortina de fumaça
Vivemos uma situação inédita desde a ditadura, com o desfile militar que teve o objetivo de intimidar deputados e a sociedade civil no dia de a Câmara analisar (e rejeitar) o voto impresso. A cena literalmente fez “fumaça”, ao mostrar equipamentos tão antiquados quanto a mentalidade de alguns setores das Forças Armadas. Fora a ironia, o episódio é gravíssimo. Ainda que um golpe seja difícil, Bolsonaro consolida a ameaça.
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E ele ainda conta com setores empresariais dispostos a vender o país por 30 dinheiros, como na privatização dos Correios. Tem um Congresso que o apoia em troca de favores. Mesmo derrotada no voto impresso, a proposta do governo teve 218 votos, o que ainda segura o impeachment.
O exemplo do golpe boliviano de 2019 mostra que as elites latino-americanas estão dispostas a aventuras golpistas. Golpes são violentos e já foi ensinado que a medida eficaz é a resistência popular antes que se consumem. É preciso organização nas ruas, nas casas, nos locais de trabalho, diálogos com os trabalhadores precários, com o funcionalismo público. O governo lança literalmente cortina de fumaça sobre os principais temas que afligem o país. Cabe denunciá-lo a partir dos problemas reais: desemprego, alta do custo de vida, ausência de vacinas e corrupção.
SEMANA EXPEDIENTE
Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016
O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 224 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini
COLABORARAM NESTA
EDIÇÃO Ana Keil e Davi Macedo ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www. facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
OPINIÃO Privatização dos Correios: crime contra o país e contra os trabalhadores
Ivan Carlos Pinheiro,
trabalhador ecetista dos Correios e integra o MTD no Paraná
Pedro Carrano,
jornalista e integra o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD) no Paraná
Desde a forte greve de 2020, os trabalhadores dos Correios (ECT) preocupam-se com a privatização da empresa pública, o que impactará serviços voltados à população mais pobre e também o segmento de funcionários, que abrange quase 100 mil pessoas. No país do desemprego alto, precarização e informalidade do trabalho, esses empregos garantem segurança, no mínimo, para até 500 mil pessoas em território nacional. Aprovado na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei (PL) 591/2021 agora passa para análise no Senado. Sabemos dos impactos da privatização e do prejuízo no serviço à população trabalhadora, da possível falta de entrega nas pequenas cidades, do aumento tarifário, e há também a questão do ataque contra os direitos trabalhistas dos ecetistas, seja os que estão na ativa, seja os aposentados, e até contra os já precarizados.
Caso aprovada a privatização no Congresso, graças à dupla Bolsonaro/Paulo Guedes, a serviço do capital financeiro internacional, os trabalhadores passam a ter apenas 18 meses de estabilidade, podendo ser demitidos sem justificativa após o período. Eles podem aderir, em 180 dias, ao Plano de Demissão Voluntária (PDV) da empresa. Em lugar de ficar no cargo durante 18 meses, o trabalhador pode optar por uma indenização equivalente a 12 meses do atual salário. Sabemos, na prática, a pressão por demissões que pode haver dentro da empresa. Tudo isso se soma ao desvínculo possível com os terceirizados e prestadores de serviços.
É fato que os Correios, empresa eficiente, histórica e lucrativa, em tempos de pandemia representam um grande filão para o capital. Hoje, parte das vendas de grandes setores da economia passou a ser feita on -line. Há o risco de um perigoso monopólio privado nesse setor.
Trabalhadores apontaram greve para o dia 17 de agosto. É essencial que a esquerda apoie a greve, dialogue e explique, em cada caixinha de Correios, que a sociedade deve dizer um “não” ao projeto privatista.
Inflação atinge 8,99% com efeito da alta da energia elétrica
O IBGE divulgou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o mês de julho registrando alta de 0,96%. Essa é a maior variação para um mês de julho desde 2002. Com isso, o índice chegou a 8,99% no acumulado dos últimos meses. Já o INPC, usado em negociações, está em 9,85%. A alta em julho foi de 1,02%. Mais que o dobro do registrado em julho do ano passado, que ficou em 0,44%.
O encarecimento da energia elétrica é apontado como principal fator para essas altas, com maior impacto em todo o país para a Região Metropolitana de Curitiba.
Em relação aos índices regionais, o maior índice foi registrado na Região Metropolitana de Curitiba (1,60%), influenciado pelas altas nos preços das passagens aéreas (39,92%) e da energia elétrica (11,34%).
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) também apontou a Região Metropolitana de Curitiba com a maior variação (1,82%), influenciada pela energia elétrica (11,68%) e pelos automóveis usados (3,13%). No fim de junho, a Agência Nacional responsável autorizou a Copel a reajustar a tarifa em 8,97% a partir do dia 24 daquele mês. Para as empresas, o reajuste autorizado foi de 10,04%.
Divulgação | Copel
FRASE DA SEMANA
Divulgação
O rei está louco!
Disse em seu Twitter a jornalista Hildegard Angel e questionou: “Por que um des le de tanques e canhões a menos de um mês do 7 de setembro? Não dava pra esperar até lá pra exibir uma força bélica, que, já que não estamos em guerra contra inimigo externo, só tem serventia para combater o inimigo imaginário de Bolsonaro?”
NOTAS BDF
Por Frédi Vasconcelos Tucanos com Bolsonaro
Mesmo com a liderança do partido indicando a rejeição do voto impresso, 14 deputados federais do PSDB ficaram do lado do presidente Bolsonaro, quase metade da bancada. Outros 12 foram contrários e seis se abstiveram ou se ausentaram. A abstenção foi do deputado Aécio Neves, ex-candidato à Presidência derrotado, que contestou o resultado de 2014 e abriu portas para o terremoto político que veio depois.
O pesadelo do “distritão”
Na mesma semana em que foi enterrada a impressão dos votos, acabou aprovada em comissão da Câmara outra emenda à Constituição sobre as eleições. Entre as “novidades” do texto está o “distritão”. Em resumo, acabariam os votos nas legendas partidárias para o Poder Legislativo, eles seriam computados apenas para o candidato, sem que suas “sobras” ajudassem a eleger outros membros do partido.
Contradição impressa Mais políticos tradicionais
Dos 30 deputados paranaenses, 20 votaram com Bolsonaro. Inclusive o ex-prefeito Luciano Ducci (PSB), que também contrariou a orientação de seu partido. Três se ausentaram. Os sete votos pela manutenção do sistema atual, pelo qual, aliás, elegeram-se em 2018, foram Aliel Machado (PSB), Ênio Verri (PT), Gleisi Hoffmann (PT), Gustavo Fruet (PDT), Luizão Goulart (Republicanos), Rubens Bueno (Cidadania) e Zeca Dirceu (PT).
Estudo feito pelo Centro de Estudos e Pesquisas da Quanta Consultoria mostra: se o distritão fosse aplicado nas eleições de 2018, mulheres seriam ainda menos representadas, aumentando cadeiras para “personalidades” e políticos tradicionais. “Caso fosse adotado o distritão, teríamos a saída de doDivulgação | TSE ze e a entrada de somente oito mulheres, ou seja, uma baixa de quatro mulheres... Além do mais, ficaria de fora a única representante indígena no Parlamento, a deputada federal por Roraima Joênia Wapichana, do Partido Rede”, mostra o estudo.
COLUNA DA JUVENTUDE
Estudante é sinônimo de resistência
O 11 de agosto é o dia do/ a estudante desde 1927 em homenagem aos primeiros cursos de graduação do Brasil, no entanto, é sabido que esses cursos não eram para qualquer um, mas para homens brancos burgueses. Não por acaso, dez anos depois, no mesmo dia, é criada a União Nacional de Estudantes (UNE), cujo objetivo era romper com essa lógica burguesa, racista e patriarcal nos espaços educacionais. Ela nasce em meio à 2ª Guerra Mundial e, durante esse processo, se opôs ao nazifascismo de Hitler e fez pressão ao governo de Vargas para tomar posição firme durante a guerra.
Ao falar da história das lutas no Brasil, é impossível não mencionar os/as estudantes: campanha “O Petróleo é Nosso”!; Contra a ditadura empresarial militar e por eleições diretas; contra o aumento das tarifas de transporte em 2013; ocupações em 2016, contra a PEC 95 e reforma no ensino médio; Tsunamis da Educação desde 2019 e na luta por vida, pão, vacina e educação durante a pandemia. Carlos Fonseca, estudante e militante nicaraguense, dizia que os/ as estudantes tinham um importante potencial revolucionário nas lutas da classe trabalhadora. Por isso é preciso resgatar nossa história e, a partir dela, reconhecer na juventude não só o futuro, mas o presente nas trincheiras de luta!