Brasil de Fato PR 2 Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 12 a 18 de agosto de 2021
Só lutas dissipam a cortina de fumaça
EDITORIAL
V
ivemos uma situação inédita desde a ditadura, com o desfile militar que teve o objetivo de intimidar deputados e a sociedade civil no dia de a Câmara analisar (e rejeitar) o voto impresso. A cena literalmente fez “fumaça”, ao mostrar equipamentos tão antiquados quanto a mentalidade de alguns setores das Forças Armadas. Fora a ironia, o episódio é gravíssimo. Ainda que um golpe seja difícil, Bolsonaro consolida a ameaça.
E ele ainda conta com setores empresariais dispostos a vender o país por 30 dinheiros, como na privatização dos Correios. Tem um Congresso que o apoia em troca de favores. Mesmo derrotada no voto impresso, a proposta do governo teve 218 votos, o que ainda segura o impeachment. O exemplo do golpe boliviano de 2019 mostra que as elites latino-americanas estão dispostas a aventuras golpistas. Golpes são violentos e já
foi ensinado que a medida eficaz é a resistência popular antes que se consumem. É preciso organização nas ruas, nas casas, nos locais de trabalho, diálogos com os trabalhadores precários, com o funcionalismo público. O governo lança literalmente cortina de fumaça sobre os principais temas que afligem o país. Cabe denunciá-lo a partir dos problemas reais: desemprego, alta do custo de vida, ausência de vacinas e corrupção.
SEMANA
EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 224 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ana Keil e Davi Macedo ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www. facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
Privatização dos Correios: crime contra o país e contra os trabalhadores OPINIÃO
Ivan Carlos Pinheiro, trabalhador ecetista dos Correios e integra o MTD no Paraná
Pedro Carrano,
jornalista e integra o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD) no Paraná
D
esde a forte greve de 2020, os trabalhadores dos Correios (ECT) preocupam-se com a privatização da empresa pública, o que impactará serviços voltados à população mais pobre e
também o segmento de funcionários, que abrange quase 100 mil pessoas. No país do desemprego alto, precarização e informalidade do trabalho, esses empregos garantem segurança, no mínimo, para até 500 mil pessoas em território nacional. Aprovado na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei (PL) 591/2021 agora passa para análise no Senado. Sabemos dos impactos da privatização e do prejuízo no serviço à população trabalhadora, da possível falta
de entrega nas pequenas cidades, do aumento tarifário, e há também a questão do ataque contra os direitos trabalhistas dos ecetistas, seja os que estão na ativa, seja os aposentados, e até contra os já precarizados. Caso aprovada a privatização no Congresso, graças à dupla Bolsonaro/Paulo Guedes, a serviço do capital financeiro internacional, os trabalhadores passam a ter apenas 18 meses de estabilidade, podendo ser demitidos sem justificativa após o
período. Eles podem aderir, em 180 dias, ao Plano de Demissão Voluntária (PDV) da empresa. Em lugar de ficar no cargo durante 18 meses, o trabalhador pode optar por uma indenização equivalente a 12 meses do atual salário. Sabemos, na prática, a pressão por demissões que pode haver dentro da empresa. Tudo isso se soma ao desvínculo possível com os terceirizados e prestadores de serviços. É fato que os Correios, empresa eficiente, histórica
e lucrativa, em tempos de pandemia representam um grande filão para o capital. Hoje, parte das vendas de grandes setores da economia passou a ser feita on -line. Há o risco de um perigoso monopólio privado nesse setor. Trabalhadores apontaram greve para o dia 17 de agosto. É essencial que a esquerda apoie a greve, dialogue e explique, em cada caixinha de Correios, que a sociedade deve dizer um “não” ao projeto privatista.