Brasil de Fato PR - Edição 224

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Reprodução

Cultura | p. 7

Esportes | p. 8

Slam poesia

Pobre futebol rico

Inscrições abertas para quem quer compor e se apresentar

Milhões para estrelas, salário mínimo para a maioria Divulgação

PARANÁ

Ano 5

Edição 224

APAGÃO POSTAL Milhares de cidades serão afetadas se Correios forem privatizados Opinião e Cidades | p. 2 e 6

12 a 18 de agosto de 2021

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

O vírus anda de ônibus Pandemia não passou, e transporte continua lotado

Cidades | p. 5 Giorgia Prates

Giorgia Prates

Brasil | p. Especial | p.64

Exploração on-line Plataformas digitais fazem maior transformação no mundo do trabalho

Editorial | p. 2

Cortina de fumaça Tanques na rua tão velhos quanto a mentalidade do presidente


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 12 a 18 de agosto de 2021

Só lutas dissipam a cortina de fumaça

EDITORIAL

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ivemos uma situação inédita desde a ditadura, com o desfile militar que teve o objetivo de intimidar deputados e a sociedade civil no dia de a Câmara analisar (e rejeitar) o voto impresso. A cena literalmente fez “fumaça”, ao mostrar equipamentos tão antiquados quanto a mentalidade de alguns setores das Forças Armadas. Fora a ironia, o episódio é gravíssimo. Ainda que um golpe seja difícil, Bolsonaro consolida a ameaça.

E ele ainda conta com setores empresariais dispostos a vender o país por 30 dinheiros, como na privatização dos Correios. Tem um Congresso que o apoia em troca de favores. Mesmo derrotada no voto impresso, a proposta do governo teve 218 votos, o que ainda segura o impeachment. O exemplo do golpe boliviano de 2019 mostra que as elites latino-americanas estão dispostas a aventuras golpistas. Golpes são violentos e já

foi ensinado que a medida eficaz é a resistência popular antes que se consumem. É preciso organização nas ruas, nas casas, nos locais de trabalho, diálogos com os trabalhadores precários, com o funcionalismo público. O governo lança literalmente cortina de fumaça sobre os principais temas que afligem o país. Cabe denunciá-lo a partir dos problemas reais: desemprego, alta do custo de vida, ausência de vacinas e corrupção.

SEMANA

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 224 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ana Keil e Davi Macedo ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www. facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com

Privatização dos Correios: crime contra o país e contra os trabalhadores OPINIÃO

Ivan Carlos Pinheiro, trabalhador ecetista dos Correios e integra o MTD no Paraná

Pedro Carrano,

jornalista e integra o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD) no Paraná

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esde a forte greve de 2020, os trabalhadores dos Correios (ECT) preocupam-se com a privatização da empresa pública, o que impactará serviços voltados à população mais pobre e

também o segmento de funcionários, que abrange quase 100 mil pessoas. No país do desemprego alto, precarização e informalidade do trabalho, esses empregos garantem segurança, no mínimo, para até 500 mil pessoas em território nacional. Aprovado na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei (PL) 591/2021 agora passa para análise no Senado. Sabemos dos impactos da privatização e do prejuízo no serviço à população trabalhadora, da possível falta

de entrega nas pequenas cidades, do aumento tarifário, e há também a questão do ataque contra os direitos trabalhistas dos ecetistas, seja os que estão na ativa, seja os aposentados, e até contra os já precarizados. Caso aprovada a privatização no Congresso, graças à dupla Bolsonaro/Paulo Guedes, a serviço do capital financeiro internacional, os trabalhadores passam a ter apenas 18 meses de estabilidade, podendo ser demitidos sem justificativa após o

período. Eles podem aderir, em 180 dias, ao Plano de Demissão Voluntária (PDV) da empresa. Em lugar de ficar no cargo durante 18 meses, o trabalhador pode optar por uma indenização equivalente a 12 meses do atual salário. Sabemos, na prática, a pressão por demissões que pode haver dentro da empresa. Tudo isso se soma ao desvínculo possível com os terceirizados e prestadores de serviços. É fato que os Correios, empresa eficiente, histórica

e lucrativa, em tempos de pandemia representam um grande filão para o capital. Hoje, parte das vendas de grandes setores da economia passou a ser feita on -line. Há o risco de um perigoso monopólio privado nesse setor. Trabalhadores apontaram greve para o dia 17 de agosto. É essencial que a esquerda apoie a greve, dialogue e explique, em cada caixinha de Correios, que a sociedade deve dizer um “não” ao projeto privatista.


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Brasil de Fato PR Geral

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FRASE DA SEMANA

O rei está louco!

Inflação atinge 8,99% com efeito da alta da energia elétrica O IBGE divulgou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o mês de julho registrando alta de 0,96%. Essa é a maior variação para um mês de julho desde 2002. Com isso, o índice chegou a 8,99% no acumulado dos últimos meses. Já o INPC, usado em negociações, está em 9,85%. A alta em julho foi de 1,02%. Mais que o dobro do registrado em julho do ano passado, que ficou em 0,44%. O encarecimento da energia elétrica é apontado como principal fator para essas altas, com maior impacto em todo o país para a Região Metropolitana de Curitiba. Em relação aos índices regionais, o maior índice foi registrado na Região Metropolitana de Curitiba (1,60%), influenciado pelas altas nos preços das passagens aéreas (39,92%) e da energia elétrica (11,34%). O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) também apontou a Região Metropolitana de Curitiba com a maior variação (1,82%), influenciada pela energia elétrica (11,68%) e pelos automóveis usados (3,13%). No fim de junho, a Agência Nacional responsável autorizou a Copel a reajustar a tarifa em 8,97% a partir do dia 24 daquele mês. Para as empresas, o reajuste autorizado foi de 10,04%.

Disse em seu Twitter a jornalista Hildegard Angel e questionou: “Por que um desfile de tanques e canhões a menos de um mês do 7 de setembro? Não dava pra esperar até lá pra exibir uma força bélica, que, já que não estamos em guerra contra inimigo externo, só tem serventia para combater o inimigo imaginário de Bolsonaro?”

Divulgação

NOTAS BDF

Divulgação | Copel

Por Frédi Vasconcelos

Tucanos com Bolsonaro

O pesadelo do “distritão”

Mesmo com a liderança do partido indicando a rejeição do voto impresso, 14 deputados federais do PSDB ficaram do lado do presidente Bolsonaro, quase metade da bancada. Outros 12 foram contrários e seis se abstiveram ou se ausentaram. A abstenção foi do deputado Aécio Neves, ex-candidato à Presidência derrotado, que contestou o resultado de 2014 e abriu portas para o terremoto político que veio depois.

Na mesma semana em que foi enterrada a impressão dos votos, acabou aprovada em comissão da Câmara outra emenda à Constituição sobre as eleições. Entre as “novidades” do texto está o “distritão”. Em resumo, acabariam os votos nas legendas partidárias para o Poder Legislativo, eles seriam computados apenas para o candidato, sem que suas “sobras” ajudassem a eleger outros membros do partido.

Contradição impressa

Mais políticos tradicionais

Dos 30 deputados paranaenses, 20 votaram com Bolsonaro. Inclusive o ex-prefeito Luciano Ducci (PSB), que também contrariou a orientação de seu partido. Três se ausentaram. Os sete votos pela manutenção do sistema atual, pelo qual, aliás, elegeram-se em 2018, foram Aliel Machado (PSB), Ênio Verri (PT), Gleisi Hoffmann (PT), Gustavo Fruet (PDT), Luizão Goulart (Republicanos), Rubens Bueno (Cidadania) e Zeca Dirceu (PT).

Estudo feito pelo Centro de Estudos e Pesquisas da Quanta Consultoria mostra: se o distritão fosse aplicado nas eleições de 2018, mulheres seriam ainda menos representadas, aumentando cadeiras para “personalidades” e políticos tradicionais. “Caso fosse adotado o distritão, teríamos a saída de doze e a entrada de somente oito Divulgação | TSE mulheres, ou seja, uma baixa de quatro mulheres... Além do mais, ficaria de fora a única representante indígena no Parlamento, a deputada federal por Roraima Joênia Wapichana, do Partido Rede”, mostra o estudo.

COLUNA DA

JUVENTUDE Estudante é sinônimo de resistência O 11 de agosto é o dia do/ a estudante desde 1927 em homenagem aos primeiros cursos de graduação do Brasil, no entanto, é sabido que esses cursos não eram para qualquer um, mas para homens brancos burgueses. Não por acaso, dez anos depois, no mesmo dia, é criada a União Nacional de Estudantes (UNE), cujo objetivo era romper com essa lógica burguesa, racista e patriarcal nos espaços educacionais. Ela nasce em meio à 2ª Guerra Mundial e, durante esse processo, se opôs ao nazifascismo de Hitler e fez pressão ao governo de Vargas para tomar posição firme durante a guerra. Ao falar da história das lutas no Brasil, é impossível não mencionar os/as estudantes: campanha “O Petróleo é Nosso”!; Contra a ditadura empresarial militar e por eleições diretas; contra o aumento das tarifas de transporte em 2013; ocupações em 2016, contra a PEC 95 e reforma no ensino médio; Tsunamis da Educação desde 2019 e na luta por vida, pão, vacina e educação durante a pandemia. Carlos Fonseca, estudante e militante nicaraguense, dizia que os/ as estudantes tinham um importante potencial revolucionário nas lutas da classe trabalhadora. Por isso é preciso resgatar nossa história e, a partir dela, reconhecer na juventude não só o futuro, mas o presente nas trincheiras de luta! Ana Keil, fonoaudióloga, militante do Levante Popular da Juventude e Secretária Geral da União Paranaense de Estudantes


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Paraná, 12 a 18 de agosto de 2021

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“A plataformização é a transformação mais radical do trabalho desde a 2ª revolução industrial”, diz pesquisador Davi Macedo, da Clínica Direito do Trabalho da UFPR

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diagnóstico é de Marcelo Manzano, professor e doutor em economia (Unicamp). Ele faz parte do Grupo de Pesquisa da Clínica Direito do Trabalho da UFPR sobre Plataformas Digitais de Trabalho e entende que o estudo é fundamental para conhecer esse modelo de negócio e seus mecanismos de mobilização do trabalho. A entrevista completa está no site do BDF Paraná. BdF - Em 2021, a Clínica Direito do Trabalho da UFPR decidiu pesquisar sobre as plataformas digitais de trabalho. O que despertou o seu interesse nesse objeto de pesquisa?

Tem muita gente fazendo isso e competindo em escala global. Uma pessoa do interior de Goiás disputando com alguém que está na Índia. Tem desde esse tipo de trabalhador até profissionais com atividades muito sofisticadas que fazem atendimentos on-line”

Manzano - Sou pesquisador do mercado de trabalho e considero fundamental a análise das plataformas digitais. Elas transformam o mercado de trabalho de forma muito radical. Eu diria que é a transformação mais radical desde a segunda revolução industrial. É uma grande transformação que precisamos conhecer melhor, cujos efeitos são difíceis de captar por envolver questões difusas, justamente pela forma como está organizada a produção do capitalismo hoje em dia. A pesquisa está em andamento, mas já é possível ter as primeiras impressões sobre essa modalidade de trabalho virtual? A pesquisa permite mostrar que a pandemia teve impacto forte em algumas atividades que resistiam ao trabalho por plataformas digitais, em especial o setor de saúde. As próprias categorias profissionais resistiam em assumir o teletrabalho. A pandemia acabou minando essas resistências. De fato, a nossa pesquisa vai demostrar isso. É uma primeira questão que vale a pena destacar. Vale ressaltar também que as plataformas são muito dinâmicas. A pesquisa não completou seis meses e já pudemos observar transformações ocorrendo. As empresas e os modelos de negócios são muito dinâmicos. Sofrem mutações rápidas porque estão em contexto fluído e competitivo. As plataformas têm que criar constantemente novas formas de organização. Isso dificulta a pesquisa, mas um dado que já se percebe é o dinamismo. Um ambiente de transfor-

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mações contínuas dos negócios. As empresas vão evoluindo muito rapidamente ao longo do tempo, inclusive mudando de setor e de atividade. Empresa que começa como uma simples marketplace, que põe em contato o vendedor com o consumidor, percebe que a partir do momento que ela reuniu as duas pontas e tem muitos dados, pode fazer muito mais. Aí começa a incluir serviços e termina virando um banco. Formam-se diferentes tipos de trabalhadores e de exploração do trabalho? As plataformas também surpreendem pela expansão. Estão em todas as atividades. É um verdadeiro novo mundo que surge e a pandemia contribuiu muito para isso. Ela rompeu as barreiras, forçou a aceitação dessas tecnologias. Até para as coisas mais banais, como os trabalhadores chamados de clickworkers, que têm apenas que confirmar conteúdo, ou seja, apertar o enter quando vê uma imagem, em atividades de calibragem de inteligência artificial. Tem muita gente fazendo isso e competindo em escala global. Uma pessoa do interior de Goiás disputando com alguém que está na Índia. Tem desde esse tipo de trabalhador até profissionais com atividades muito sofisticadas que fazem

atendimentos on-line. Está crescendo também a atividade virtual entre bancários, os chamados personal bankers. É muito diverso, é difícil hoje imaginar um setor no qual as plataformas não estão inseridas. E destaco, a pandemia ajudou muito nessa generalização, nessa disseminação. Qual é a dimensão do trabalho por plataformas digitais no Brasil? É possível quantificar? Essa é uma dificuldade que nós temos e que existirá ainda por muito tempo. Não é só no Brasil, mas no mundo inteiro. Tem alguns números que circulam até por órgãos internacionais, como a OIT, mas são estimativas, eu diria, muito precárias. Não há base segura para dimensionar esse mercado. Isso porque as pessoas não são registradas como trabalhadores, são simplesmente freelancers, atuam de forma precária, muitas vezes sem passar por uma empresa ou mesmo algum cadastro. Não temos como saber se a pessoa está trabalhando ou não, há quanto tempo está trabalhando, se não está, quantas horas por dia. Quanto ela recebe, como ela recebe. Tem muitas pessoas que trabalham para empresas internacionais, então recebem o pagamento por meio do paypal, em dólar.


Brasil de Fato PR

O vírus ainda anda nos ônibus lotados

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esde o início da pandemia, os usuários do transporte coletivo de Curitiba e Região Metropolitana não tiveram segurança sanitária garantida, muito menos respeitados os decretos da própria Prefeitura, que estabeleciam que só poderiam andar com 50% a 70% da lotação. Quem vive a realidade diária relata que andar de ônibus em Curitiba é um “caos”. Ainda com frota reduzida, Curitiba voltou a registrar, em julho deste ano, média diária de passageiros acima de 300 mil pessoas, de acordo com dados da Urbs, volume 10% superior à marca de junho. Mesmo com o decreto municipal em vigor que determina cir-

Cidades

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Arquivo Pessoal

SUBSÍDIO DE MILHÕES NÃO INVESTIDOS Lafaiete Neves, especialista em mobilidade urbana, Conselheiro Titular do Conselho da Cidade de Curitiba e integrante do Fórum Popular do Transporte Coletivo, destaca que a Prefeitura destinou milhões aos empresários do transporte coletivo e esse recurso não se reflete em investimento. “A justificativa para o subsídio era que houve queda do número

“Nunca peguei ônibus com 50% de lotação, estão sempre cheios”, diz usuária de transporte coletivo (foto) Ana Carolina Caldas

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de passageiros. Porém, os ônibus nunca estiveram vazios, como bem falam os que vivem isso todo dia. É uma falácia” contesta. Lafaiete afirma que o que os usuários dizem só comprova as duas auditorias feitas pelo Tribunal de Contas do Paraná. “Concluíram sobre a superlotação durante a pandemia e nada foi alterado ainda pela Prefeitura,” diz.

PROJETO PARA REDUZIR LOTAÇÃO

culação com, no máximo, 70% da capacidade. Caos Os números comprovam que a superlotação, que nunca deixou de acontecer, aumentou ainda mais segundo relatos de quem vive essa realidade. “Nos horários convencionais de trabalho, nunca peguei ônibus com metade da lotação, desde o início da pandemia. Durante o dia, principalmente, sempre muito lotado”, conta a professora e musicista Alana Dédalos. Ela pega quatro ônibus diários para trabalhar e voltar para casa. “Por muitas vezes, na volta do trabalho, já cheguei a ficar esperando 40 minutos para tentar pegar ônibus mais vazios. Você fica com medo, mas precisa entrar. Na volta, é Giorgia Prates

um caos completo entrar no ônibus Santa CândidaCapão Raso. O tubo já está explodindo de gente. Pior ainda na hora de ir trabalhar, você não pode se dar ao luxo de aguardar”, conta. A professora enviou vídeo ao Brasil de Fato Paraná mostrando a superlotação dentro do ônibus e, inclusive, imagens de cadeirantes tentando se equilibrar no meio do corredor lotado. “A sensação é de descaso completo. Como se quem anda de ônibus não merecesse ser cuidado. A cidade, o comércio, voltaram ao normal, mas nenhuma mudança ocorreu no transporte coletivo. Minha sensação é de que a frota continua reduzida porque nunca tivemos ônibus vazios.” Essa também é a realidade da diarista Lucilene Raquel Domingos, 48 anos, que sai de Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana, e utiliza diariamente três linhas de ônibus. “Nunca vi vazio. Todos os dias estão cheios, extremamente lotados, principalmente no Terminal do Pinheirinho. É um caos”, diz. “Até vi guardas nos terminais tentando manter o distanciamento. Mas a Prefeitura ‘esquece’ que os ônibus vão para os pontos e aí vai enchendo.”

Projeto de lei do vereador Renato Freitas (PT), apresentado em abril, propõe ações mais contundentes para reduzir a lotação e o risco de transmissão da Covid-19 nos ônibus da cidade. O texto muda artigo da lei que instituiu o Regime Emergencial de Transporte na capital paranaense – que deve expirar no dia 30 de junho, se não for prorrogado.

Determina que as concessionárias de transporte limitem a 50% a lotação máxima nos coletivos, com possibilidade de aplicação das sanções previstas em contrato. A proposta incumbe à Urbs de fiscalizar o cumprimento das medidas; também estabelece que os recursos e logística para as ações propostas venham da Prefeitura. Giorgia Prates

O que diz a Prefeitura Em nota, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Curitiba respondeu que “a frota opera com 100% dos veículos nos horários de pico. Fora dos horários de pico, a demanda cai mais de 50%. Vale lembrar que ao contrário do que muita gente imagina, os 50% de ocupação não significam apenas passageiros sentados.

Em biarticulados, por exemplo, esse nível de ocupação equivale à lotação de bancos (53) e mais 73 passageiros em pé. Há fiscalização, concentrada nos maiores terminais durante o pico da manhã e no centro da cidade no pico do fim de tarde. Com uma frota de mil veículos, é impossível colocar um fiscal em cada veículo.”


Caso Senado aprove a venda, milhares de municípios podem ficar sem cobertura Giorgia Prates

A

Câmara dos Deputados aprovou na quinta (5) o texto-base do projeto de privatização dos Correios. A proposta teve 286 votos favoráveis e 173 contrários. Agora, o PL segue para votação no Senado. A expectativa do governo Bolsonaro é fazer o leilão da estatal no primeiro semestre de 2022, caso passe no Congresso. Enquanto isso, trabalhadores preparam mobilizações para tentar barrar a venda. E alertam que um dos principais riscos para a população, segundo Antônio Orlando Vonchak, diretor do Sindicato dos Trabalhadores nos Correios do Paraná (Sintcom-PR), é que muitos municípios ficarão sem atendimento ou verão os preços subirem demais. “Cerca de 350 municípios dão lucro, mas a empresa atende todas as mais de 5 mil cidades do país, graças a uma política de subsídio cruzado, quando o lucro dos grandes centros é utilizado

no atendimento a pequenas cidades. Se privatizarem, vão atender os que dão lucro, e o restante sofrerá o risco de não ter a cobertura dos serviços, ou o serviço encarecer muito”. Apesar de o projeto de lei prever estabilidade de 18 meses para os 98 mil funcionários da empresa, há o risco de verdadeiro massacre para os trabalhadores e enormes cortes nos serviços para a população, sobretudo a mais carente. Vonchak afirma: “Com a privatização, acaba de vez a estabilidade dos trabalhadores, a nossa esperança, no Senado, é o enfraquecimento do governo”. Não é uma novidade as tentativas de privatizar os Correios em governos neoliberais. A empresa foi fundada em 1969, mas o serviço postal brasileiro já existia desde o século 17. Foi unificado numa estatal durante o regime militar. Desde o final dos anos 1970, a empresa é detentora do monopólio de cartas no Brasil. Esse monopólio foi flexibilizado com a entrada

de empresas privadas, tendo as primeiras movimentações de privatização ocorridas no governo de Fernando Henrique Cardoso, que vendeu estatais brasileiras como a Vale do Rio Doce e a Telebrás. Vonchak relembra que as primeiras tentativas de precarizar a empresa vieram no governo anterior, de Fernando Collor, quando foram iniciadas as políticas de abono salarial em lugar de reposições salarias acima da inflação. A política foi continuada durante os governos tucanos. “Isso impactou no nosso ganho a longo prazo e, apesar dos benefícios, nosso salário começou a ser seriamente arrochado.” O sindicalista ainda relembra que durante o governo Bolsonaro, aproximadamente 50 cláusulas foram retiradas do acordo coletivo com a empresa, com drásticas reduções no vale-alimentação e aumento nos planos de saúde. ‘’Você deixa o servidor descontente de várias formas, ele vai trabalhar vendo seus direitos caírem pelo vão dos dedos, por causa deste governo, e a ação patronal dos juízes que têm colocado que a empresa não teria condições de arcar com os benefícios na forma que estava, o que é uma mentira, já que nos últimos 20 anos o Correio teve lucros bilionários.” Atualmente a média salarial de um auxiliar de produção na empresa, que tenha entrado em 2011, é de 1.200 reais. Os Correios não têm concurso público desde 2012. Além disso, nos últimos anos, as demissões vêm aumentando. Seu presidente, Guilherme Campos, já avisou que irá reabrir Plano de Demissão Voluntária (PDV).

SURTO DE COVID-19 Com salários baixos, perdas inflacionárias e redução de benefícios, os trabalhadores ainda sofrem com a Covid-19. “Sei, aqui em Curitiba, de surtos entre trabalhadores, pois fecharam agências e acabaram empilhando diversos servidores no mesmo espaço, o que ajudou na proliferação do vírus”, afirma Vonchak. E alerta para a possibilidade de diminuição de serviços da empresa, e o encarecimento para o consumidor. Diante da crise sanitária, e o aumento de 73% do “e-commerce” no Brasil, segundo a Câmara Brasileira da Economia Digital, os funcionários vêm trabalhando no limite, mas garantindo as entregas. Ele alerta que caso a empresa seja privatizada, a cobertura dos serviços dos Correios deve ser drasticamente alterada. PUBLICIDADE

Cidades pequenas sofrerão mais se Correios forem privatizados

Gabriel Carriconde

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Paraná, 12 a 18 de agosto de 2021

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Brasil de Fato PR

Inscrições estão abertas para a próxima turma, no sábado, 14

Reprodução

Redação stão abertas as inscrições para a oficina sobre Slam Poesia – a poesia falada e apresentada em performances públicas – que acontecerá esta semana. O evento é aberto ao público interessado em compor e apresentar suas criações de acordo com a proposta estética literária. A inscrição é grátis e deve ser feita somente on-line, pelo link https:// forms.gle/23f49zrrGs3xzfYp6 Além de técnicas de escrita, expressão corporal e oratória, durante 2 horas os participantes aprenderão sobre história do Slam Poesia, escrita e autoconhecimento, e a diferença entre Poesia Marginal e Poesia Erudita. São 60 vagas distribuídas em duas turmas: a primeira na quarta-feira (11/8), às 19h, e a segunda no sábado (14/8), às 17h30. Para melhor aproveitamento, a recomendação é que os participantes tenham a partir de 14 anos. As oficinas são uma iniciativa do coletivo de arte educação Poesia

Abstrata, de ações para a democratização da arte, e serão ministradas por Jaquelivre e Poeta Gabriela. A iniciativa está entre os projetos contemplados no Edital de Múltiplas Ações em Literatura e Leitura do Fundo Municipal de Cultura, na modalidade Leituras Públicas. Nova estética Segundo a oficineira e poeta Jaquelivre, o movimento Slam considera que todos somos capazes de escrever com qualidade sobre nossa própria realidade. “Para além de uma competição, o Slam é um movimento que empodera e transforma a autoestima dos indivíduos que se sentem inferiorizados, valorizando a individualidade, respeitando as diferenças e a diversidade”, explica. O evento é uma iniciativa do coletivo de arte educação Poesia Abstrata em parceria com a Coordenação de Literatura, com apoio do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura da Fundação Cultural de Curitiba e da Prefeitura de Curitiba.

Cultura 7

O álbum do Zequinha

Redprodução

Oficina on-line apresentará o universo do Slam Poesia

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A mostra apresenta exemplares antigos e atuais das figurinhas numeradas do palhaço que atrai colecionadores há mais de 90 anos. Também mostra vídeos com depoimentos do desenhista Nilson Müller, que há mais de 40 anos desenha o personagem, e artistas convidados para releituras autorais. Ingresso: Gratuito. Visitas até 31/12, na Gibiteca de Curitiba.

Mostra no MuMa

Diálogos latinoamericanos

O Museu Municipal de Arte abre sua terceira mostra de artes visuais. É “O Silêncio e a Eroticidade da Gravura”, com que a artista plástica Uiara Bartira – considerada uma das maiores gravuristas do Paraná – comemora 40 anos de carreira. Para entrar no espaço cultural, é usar máscara, passar pela verificação da temperatura corporal e aplicar álcool em gel.

O grupo de pesquisa Linguagem, Política e Cidadania da Unila está organizando “lives” entre agosto e novembro com o tema “Diálogos Interdisciplinares Latino-Americanos”. A ideia é romper barreiras disciplinares e têm o intuito de apresentar diálogos inovadores e contemporâneos sobre as realidades latino-americanas, nos âmbitos educacionais, culturais, sociais, políticos, científicos e tecnológicos. Confira no site https://portal.unila.edu.br/eventos/

DICAS MASTIGADAS

Tortinha de aveia com cacau Ingredientes 200g de farelo da aveia 50g de cacau Meia xícara d’água Recheio 2 bananas caturra maduras 1 maçã Fuji 1 colher de sopa de canela em pó 50g de uva passa 1 colher chá de mel

Modo de Preparo Primeiro prepare o recheio. Corte em pedacinhos as bananas e a maçã. Salpique com a canela e dilua o mel em um pouco d’água e derrame sobre as frutas. Deixe descansando. Enquanto isso prepare a massa. Misture o farelo de aveia com o cacau e coloque a água aos poucos, integrando bem os ingredientes até obter uma massa lisa, sem grudar nas mãos. Forre com a massa as forminhas. Não precisa untar. Depois coloque o recheio sobre as forminhas e leve ao forno preaquecido a 180° por 30 a 40 minutos mais ou menos, mas sempre de olho. Reprodução


Brasil de Fato PR 8 Esportes

Paraná, 12 a 18 de agosto de 2021

Pelas beiradas Por Cesar Caldas

A vitória do Coritiba, fora de casa, contra o “Xavante” (Brasil de Pelotas-RS) por 2x0 na quarta-feira (11/8) confi rma a impressão de dirigentes, analistas e muitos torcedores: já há algum entrosamento do time e a definição de um desenho tático pelo treinador Gustavo Morínigo, apesar de persistirem deficiências técnicas em pelo menos duas posições – algo muito comum para todos os times da Série B. A pouca habilidade de alguns, contudo, tem sido amplamente compensada, até aqui, pela obediência de seu posicionamento em campo. Some-se a isso a eficiência do atacante Léo Gamalho (vice-artilheiro da competição) na conclusão das jogadas e pronto: está explicada a boa performance da equipe até aqui. Que venha outra boa apresentação no sábado (16h30), em Maceió, diante do CSA. Ora líder, ora não, o Coxa vai se alimentando pelas beiradas do prato.

Missão indigesta Por Marcio Mittelbach

Na semana em que o Congresso disse não para o voto de papel, o Paraná Clube elegeu seu décimo-quinto presidente em 32 anos de história. Uma rotatividade que se acentuou de 2008 pra cá, quando a média é de apenas um ano e nove meses de gestão para cada mandatário. Com 142 cédulas de papel a seu favor, 48% dos votantes, Rubens Ferreira Silva, o Rubão, foi eleito o presidente do Paraná Clube para o período de três anos. As principais bandeiras da chapa foram transparência, equilíbrio financeiro, gestão e resgate da credibilidade do clube. Não poderia ser diferente. Com 141 milhões em dívidas e fontes de renda escassas, não existe outro jeito a não ser organizar a bagunça. Embora a posse esteja prevista apenas para 21 de dezembro, Rubão terá que agir desde já se não quiser ter uma missão ainda mais indigesta da que já tem.

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Milhões para Messi e estrelas, as exceções no futebol No Brasil, 55% dos jogadores profissionais ganham menos de 1 salário mínimo Frédi Vasconcelos

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eonel Messi foi mandado embora do Barcelona há poucos dias porque o clube não conseguiu pagar seus salários por conta do “fair play” financeiro da liga espanhola. No Paris Saint Germain, especula-se que receberá cerca de metade do que ganharia no clube catalão, 35 milhões de euros, ou mais de 213 milhões de reais por ano. Aqui no Brasil, jogadores como Dudu, Palmeiras, Gabigol (Flamengo), Douglas Costa (Grêmio) e Daniel Alves (São Paulo) têm salários acima de 1,5 milhão de reais/ mês. Outros, como Hulk (Atlético-MG) e o possível contratado pelo time mineiro Diego Costa, também passam da casa do R$ 1 milhão/mês. Não à toa, esses times, com exceção do Grêmio, estão nas fases decisivas da Libertadores e da Copa do Brasil. O problema é o outro lado. Mesmo nesses times de elite há jogadores com salários muito baixos e profissionais que

trabalham e recebem muito pouco, quando recebem... Se é assim na elite, o outro lado do mundo da bola é muito mais cruel. Pesquisa citada em artigo por Pedro Silva, do Brasil de Fato Ceará, mostra que “cerca de 88 mil jogadores profissionais do país (55%) recebem aproximadamente um salário mínimo, segundo pesquisa da plataforma Cupom Válido. E apenas 0,1%, como os jogadores citados acima, mais de R$ 500 mil por mês. E a diferença (e a injustiça) só tende a aumentar. Umas das principais fontes de receitas dos clubes, atualmente, é com a premiação dos campeonatos. Na Libertadores, o campeão pode levar até 120 milhões de reais, pela cotação atual. Na Copa do Brasil, quem ganhar também passa dos R$ 70 milhões. E, não à toa, Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG, os três entre as maiores folhas salariais do Brasil, têm chance de serem campeões e aumentarem ainda mais o fosso no futebol. O risco, por outro lado, é gastar demais e não ganhar. Daí a conta vem pesada.

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Erros repetidos Por Douglas Gasparin Arruda

Nas últimas semanas, tenho a impressão de escrever o mesmo texto aqui na coluna. E não é por má vontade ou coisa parecida. Na verdade, o Athletico parece um disco riscado, que falha sempre nas mesmas músicas. Nos primeiros 15 jogos de António Oliveira, o rubro-negro tinha uma defesa consistente, que levou o time a 84% de aproveitamento, mesmo com um ataque não muito efetivo. A situação se inverteu nos últimos 15 jogos: o time sofreu 5 vezes mais gols e fez apenas 4 gols a mais, o que impactou diretamente no aproveitamento, que caiu para 53%. Das falhas mais evidentes, os pênaltis infantis e corriqueiros certamente saltam à vista. Não é o melhor momento do time e, para ajudar, nesta quinta o Furacão inicia a batalha contra a LDU, em Quito, pela vaga na semi da Sul-Americana.

Segue o jogo Os Jogos Olímpicos terminaram, tivemos um campeão olímpico inesperado, afi nal, poucas pessoas apostavam as suas fichas na conquista do Canadá. As canadenses venceram as suecas nos pênaltis na fi nal de Tóquio e conquistaram a medalha de ouro. A Suécia, claro, ficou com a prata, e os EUA garantiram o bronze após vitória em cima da Austrália. Sobre a Seleção Brasileira, estamos nos recuperando da eliminação nas quartas-de-fi nal e projetando o futuro. É momento de novos ciclos e como a própria Pia comentou: é fazer o dever de casa, ver os erros e fazer melhor da próxima vez. Mas para ninguém ficar

carente de futebol feminino, as competições aqui no Brasil retornam com tudo. O Campeonato Paulista iniciou esta semana e vai até dezembro. Ainda em agosto temos o retorno do Brasileirão A1, com os 8 classificados da primeira fase jogando as quartas-de-fi nal. O Brasileirão A2 também retorna neste mês, os semifi nalistas já garantiram o acesso no próximo ano e seguem na briga pelo título. Ou seja, tem muito futebol pela frente e seguimos acompanhando! Se você é torcedor, faça o mesmo, a modalidade não existe somente na época dos megaeventos esportivos e precisa de apoio e visibilidade.


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