Brasil de Fato PR - Edição 230

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Cidades | p. 6

Giorgia Prates

Entrevista exclusiva | p. 4

Para Greca, trabalhador não é prioridade

Alunos pressionados

Vereadora Professora Josete fala do autoritarismo e das escolhas do prefeito de Curitiba

Pais relatam que governo do PR quer volta às aulas presenciais

PARANÁ

Divulgação

Ano 5 Edição 230 23 a 29 de setembro de 2021 distribuição gratuita www.brasildefatopr.com.br

Guarda violenta

Giorgia Prates

Ações da GM de Curitiba levam a morte e arbitrariedades Brasil | p. 5

Cultura | p. 7

Editorial | p. 2

Brasil | p. Esportes | p.6 8

Avós e netos

O desafio da comida no prato

Quem quer R$ 70 mi?

Peça traz histórias de conquistas e tristezas de famílias

População sofre com insegurança alimentar. Governo nada faz

CBF define mandos de campo na Copa do Brasil


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 23 a 29 de setembro de 2021

Alta dos alimentos aflige população EDITORIAL

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olocar comida no prato tem sido um desafio diário para parte considerável do povo brasileiro. Segundo a FAO, agência da ONU para alimentação e agricultura, a insegurança alimentar atinge cerca de um quarto da população do país. O que se agrava com a alta no preço dos itens da cesta básica. Enquanto diversos países estocaram alimentos diante das incertezas da pandemia, o governo brasileiro não se pla-

nejou para enfrentar a questão. A isso se alia a alta do dólar, que torna mais atrativo vender os produtos agrícolas no mercado internacional. O agronegócio está a todo o vapor exportando arroz e carne, enquanto a fome aumenta e o mercado doméstico encolhe. O aumento do preço da comida se relaciona, ainda, aos custos da produção com energia e combustíveis, que dispararam no último período. Em lugar

de priorizar uma política de contenção do valor da luz e da gasolina, fazendo uso das estatais para proteger o povo da crise, Bolsonaro prioriza a privatização da Eletrobras e o lucro dos acionistas da Petrobras. O governo não está preocupado com a diminuição do mercado interno e com a necessidade mais básica do povo, que precisa, antes de tudo, colocar comida na mesa.

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 230 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

O silêncio do prefeito Carol Dartora,

Vereadora de Curitiba pelo PT, primeira mulher negra eleita para a Câmara Municipal da capital do Paraná. Professora de História, mestre em Educação, militante do Movimento Negro, secretária da Mulher Trabalhadora e dos Direitos LGBTQIA+ na APP-Sindicato

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Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016

EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Carol Dartora ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www. facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com

SEMANA

OPINIÃO

EXPEDIENTE

uanto vale uma vida? Muito provavelmente, a resposta da maioria das pessoas para esta pergunta deve ser de que nenhuma vida tem preço. Mas por qual motivo algumas autoridades da nossa cidade ficam mudas, completamente caladas, quando o Estado mata um

jovem trabalhador, morador da periferia, de apenas 22 anos, pai de um bebê de nove meses? Já se passaram mais de 10 dias desde que Mateus Silva Noga foi assassinado por tiros da Guarda Municipal de Curitiba (GM), enquanto comemorava com amigos a conquista da sua carteira de motorista. Até agora, o prefeito Rafael Greca (DEM) não teceu uma única palavra de solidariedade à família de Mateus pelo desastre provocado por sua polícia municipal. Mateus foi alvejado pelas costas. Os tiros de calibre 12 perfuraram o

coração, rins, fígado, baço, intestino e os pulmões dele. A GM ainda registrou no boletim de ocorrência que o jovem seria o autor de “injusta agressão” contra o aparato policial, o que é uma grande mentira. Outras duas pessoas, uma mulher de 31 anos e uma adolescente de 14 anos, também ficaram feridas. Mas afinal quem se importa? Mateus não morava no Batel, bairro nobre da cidade. Ele estava no Largo da Ordem, local turístico, democrático e ponto de encontro das populações periféricas, LGBTQIA+, da juventude negra. Ele não era filho

de um descendente europeu, etnia cotidianamente exaltada e privilegiada pelo prefeito em suas ações de governo, mais do que as origens e raízes do povo brasileiro. O caso do Largo da Ordem não é fato isolado e o silêncio do prefeito, maior autoridade da cidade e chefe da Guarda Municipal, só confirma que esta política higienista contra as populações historicamente oprimidas determina um preço para nossas vidas. Mas se combinaram de nos matar, precisamos lembrar ao sistema de que nós combinamos de resistir e transformar.


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Geral

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FRASE DA SEMANA

Em meio à negociação com os servidores municipais, a Prefeitura de Curitiba tenta revogar o reajuste de 3,14% concedido em novembro de 2020. A justificativa para a retirada do reajuste é uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF). A iniciativa já foi impedida por uma decisão judicial da 5ª Vara da Fazendo que determinou o pagamento, mas Greca ainda pode recorrer. A iniciativa de Curitiba já foi tentada em diversos municípios do estado. Nelas, a interpretação da decisão é diferente e os reajustes foram mantidos. Entre as cidades que debateram e mantiveram o reajuste concedido em 2020 estão Maringá, Uniflor, Nova Esperança, Sarandi e Marialva. Em Tuneiras do Oeste, porém, o reajuste foi retirado. Já em Castelo Branco, os servidores municipais estão em contato com os vereadores para impedir a revogação do reajuste. A advogada Gisele Veneri explica por que o entendimento utilizado em Curitiba é equivocado. “O acórdão do TCE foi emitido para o município de Paranavaí. A reclamação no STF também para essa cidade. Em nenhum momento essa decisão tem repercussão geral. Por isso, os demais municípios, enquanto não houver determinação do Tribunal de Contas ou do STF direcionada, eles não têm por obrigação revogar esses reajustes que foram devidamente votados nas câmaras municipais”, esclarece a advogada.

“Vergonha na ONU. Discurso de Bolsonaro é sucessão de mentiras”

Fora Bolsonaro Movimentos sociais e partidos de oposição (PT, Psol, PCdoB, PDT, PSB, PV, Rede, Cidadania e Solidariedade) preparam ato em 2 de outubro. “Será o mais amplo possível, com entidades da sociedade civil, entidades sindicais e movimentos populares... O mote é Fora, Bolsonaro, impeachment já”, resumiu o presidente do PSB, Carlos Siqueira, à Rede Brasil Atual.

Disse a vice-governadora de Pernambuco e presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos. Para ela, o presidente em seu discurso “descredenciou a mídia, defendeu o tratamento precoce, negou a realidade da miséria, do desmatamento, do descaso com a pandemia e com nossos indígenas. Um desserviço imensurável para a imagem e a economia do Brasil.” Diego Galba | Vice-Governadoria PE

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Bancado pelo agro

Pegou mal

Saíram os dados do IBGE que mostram que nunca o agronegócio ganhou tanto dinheiro no país. Em 2020, apesar da crise em outros setores, a produção agrícola do país atingiu faturamento de R$ 470,5 bilhões, 30,4% maior que em 2019. A área plantada totalizou 83,4 milhões de hectares, 2,7% superior. Os dados são da pesquisa Produção Agrícola Municipal (PAM), divulgada nesta semana.

Preços nas alturas A produção de cereais, leguminosas e oleaginosas chegou a 255,4 milhões de toneladas, 5% maior que a de 2019. A diferença entre este aumento da produção e o aumento do faturamento (+30%) se deve principalmente à alta do dólar e ao aumento dos preços dentro e fora do Brasil. Nunca o agronegócio lucrou tanto. O que explica, em boa parte, sua adesão ao atual governo, apesar da gestão desastrosa em todos os outros setores da economia. Secom | MT | Divulgação

Greca tenta tomar reajuste do funcionalismo

Além das mentiras em seu discurso, como dizer que o Brasil estava à beira do socialismo quando assumiu, nenhum dos maiores veículos da imprensa internacional avaliou positivamente o discurso de Bolsonaro na ONU. A CNN americana, por exemplo, disse que o presidente “fez um discurso desafiador, mas isolado, nesta 76ª Assembleia Geral da ONU.” E que apresentou uma versão “muito diferente do país devastado pelo coronavírus” e “fustigado pelos incêndios na Amazônia”.

Espalhando o vírus

Após a confirmação da contaminação por Covid do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na viagem aos Estados Unidos, a Anvisa recomendou que todos os que estiveram com ele fiquem em quarentena no seu retorno ao Brasil. A ver se a recomendação será cumprida. Havia a previsão de participação do presidente em motociata no interior do Paraná no final de semana, em viagem que, segundo o deputado Ricardo Barros, foi adiada. Caso a comitiva não mantenha a quarentena, as pessoas serão punidas pela Anvisa como foi a seleção da Argentina?

Casa da Resistência No sábado, dia 25, acontece reunião de planejamento das atividades do Instituto Casa da Resistência, em Curitiba. Será a partir das 13h, no Espaço Cultural dos Bancários, Rua Piquiri, 380. Falam da conjuntura atual as advogadas Clair da Flora Martins e Ivete Caribé da Rocha. De maneira virtual, também participará o jornalista Breno Altman, do Opera Mundi.

Sementes crioulas Estreou nesta semana a Rádio Plantô, Brotô! com o episódio “Semente crioula na terra assegura alimento saudável no prato”. Foram relatadas ações da Rede Sementes da Agroecologia (ReSA) para garantir a circulação e multiplicação das sementes na pandemia, como O Festival da Agrobiodiversidade e o Projeto Emergencial de Conservação e Multiplicação da Agrobiodiversidade. Para conhecer, acesse www.resaagroecologia. com.br.


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“Uma gestão que não dialoga com quem está na ponta” O balanço sobre gestão Greca durante a pandemia, na educação e noutras áreas, aponta para autoritarismo e descaso, critica vereadora Josete Julio Carignano

Pedro Carrano

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vereadora Professora Josete (PT) está no quinto mandato na Câmara de Vereadores de Curitiba. Professora municipal, aproxima-se sempre da pauta dos sindicatos e dos trabalhadores nos bairros. Na legislatura anterior, chegou a ser voz solitária na oposição a Greca. Hoje, conta com o apoio dos vereadores de mesmo partido, Carol Dartora e Renato Freitas, em fortes embates, propostas e denúncias. Durante a pandemia, a constatação de Josete é de uma prefeitura que tem descaso com os trabalhadores. “Os ataques (da gestão Greca) se dão pela precarização de serviços públicos, a fragilização de políticas públicas e a falta de prioridades no orçamento”, critica, em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato Paraná. Brasil de Fato Paraná – Nesta crise econômica, política, social e sanitária, como se dão os embates na Câmara? Quais têm sido os maiores ataques contra os trabalhadores? Professora Josete – Os embates na atual legislatura seguem a linha do mandato anterior do prefeito Greca (DEM), uma vez que ele segue tendo ampla maioria em sua base. Os ataques se dão pela precarização de serviços públicos, a fragilização de políticas públicas e a falta de prioridades no orçamento. Em relação ao serviço público, temos as contrações de servidores de PSS e terceirizações, algo que torna as políticas vulneráveis. Na Assistência Social, por exemplo, não se faz concurso público e há poucas assistentes sociais e educadores sociais, o que dificulta o atendimento a demandas da população. Uma situação que se agravou na pandemia. Aliado a isso está a questão orçamentária, em que se priorizam interesses que não são os

dos trabalhadores. O maior exemplo disso é a ausência de uma política de habitação popular, não se investe nisso. A gestão prefere priorizar em seu orçamento para subsidiar os empresários que exploram o transporte público. A educação é um dos temas polêmicos da pandemia, pois envolve exposição de servidores, alunos, qualidade do ensino on-line para as periferias. Qual o balanço das posições da Prefeitura neste período? O balanço é de uma postura autoritária do prefeito e da secre-

São embates quase que diários pautando questões como o racismo estrutural, a desigualdade latente da cidade e, por outro lado, alguns tentando recusar a existência desse racismo

tária de Educação, uma postura de não dialogar com professores, direções de escolas e com o sindicato. Foi apresentada uma cartilha de transição de cima para baixo, que não dialoga com a realidade das escolas. Não se investiu na formação de professores para o acesso e emprego de novas tecnologias, priorizando apenas a exigência de relatórios neste período. E por se tratar de uma cidade com grande desigualdade, o que vimos foi muitos alunos com dificuldade de aprendizagem, pois não tinham acesso a um celular, a um notebook, o que prejudicou muitas crianças. E tudo isso é resultado de uma gestão que não dialoga, que tem uma postura autoritária com quem está na ponta. A bancada de oposição recebeu dois reforços em 2021, que são a vereadora Carol Dartora e Renato Freitas, uma vereadora negra e um vereador negro, em uma capital racista como Curitiba. O que mudou na correlação de forças na Câmara com a entrada deles? Foi

um grande avanço para uma cidade como Curitiba eleger pela primeira vez uma vereadora negra na Câmara e um vereador negro da periferia. Em relação à correlação de forças na Câmara ainda não tivemos um impacto em virtude do prefeito manter sua ampla maioria em sua base. Porém, o que existe são embates quase que diários pautando questões como o racismo estrutural, a desigualdade latente da cidade e, por outro lado, alguns tentando recusar a existência desse racismo. Nossa bancada tem pautado um debate que antes era quase que pontual na Câmara, um debate que hoje é cotidiano no Legislativo pela presença da Carol e do Renato. E isso tem incomodado muito os setores conservadores tanto dentro da Câmara – com seus representantes – como fora dela.

Confira a íntegra da entrevista no site www.brasildefatopr.com.br


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Guarda Municipal de Curitiba vive processo de militarização, dizem especialistas

Giorgia Prates

Para eles, letalidade aumenta com violações de direitos, abordagens truculentas e até assassinato Gabriel Carriconde

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meaça de despejo forçado em plena pandemia, uso arbitrário de armas não letais, prisão de um parlamentar negro por desacato à autoridade, e até assassinato de um jovem de 22 anos, no centro histórico de Curitiba. A Guarda Municipal da cidade esteve envolvida em ações contestadas seja pelo uso excessivo da força ou denúncias de abuso de autoridade. No domingo, 12, uma ação da GM para dispersar uma aglomeração no Largo da Ordem, centro da cidade, resultou na morte de Mateus Noga, 22 anos, que ali estava celebrando ter tirado a carteira de motorista com os amigos. Foram mais de 9 tiros de arma letal disparados pela Guarda Municipal e que atingiram o corpo do jovem. O caso está sendo investigado.

Ainda no ano passado, moradores da ocupação Nova Caiuá, na região da Cidade Industrial, CIC, foram expulsos de suas casas em uma ação de despejo forçado à base de balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e spray pimenta, além de uso de violência contra os ocupantes. Carol Dartora (PT), vereadora na capital, analisa que, com a pandemia, a violência policial tem aumentado, e a atual gestão Greca tem aproveitado para aprofundar as ações truculentas. “A gente observa que houve um aumento da truculência policial, sobretudo na pandemia, me parece que o prefeito usa a questão do distanciamento social para aumentar a violência nas ruas, e na maioria das vezes contra jovens negros”, reflete. De acordo com dados divulgados no mês de agosto Giorgia Prates

Ato denunciou a morte do jovem Mateus Noga em ação da Guarda Municipal de Curitiba

pelo Ministério Público do Paraná, só em 2020, cerca de 45 policiais morreram em Curitiba, durante o serviço, dentre eles dois guardas municipais, sendo a única cidade do estado que registrou mortes em sua corporação municipal. Para João Eduardo Ramos Moreira, advogado, e especialista em criminologia crítica pela Universidade de Bolonha, há um processo de militarização da guarda municipal. “Há um apelo muito grande para a cultura militarizada em todos os órgãos de segurança pública, o próprio treinamento da GM é feito pela Polícia Militar, o que acaba levando vícios para a guarda.” Moreira propõe que a guarda tenha um papel de policiamento comunitário, de proximidade, e não apenas como uma força contenciosa. “A guarda que entendemos como mais adequada não só pela lei federal, é aquela que atue em uma lógica de atenção primária, com um policiamen-

to comunitário de proximidade, se aproximando das comunidades com uma ótica de mediação de conflitos, é necessária uma mudança”, opina. Na mesma linha de raciocínio, Marcelo Jugend, ex-chefe de gabinete e assessor especial da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná (2003/2006) e secretário municipal de Segurança de São José dos Pinhais (2009/2012), explica que a polícia deveria ser incentivadora de soluções não violentas de conflitos. “A Polícia Militar, que é emulada pela Guarda Mu-

nicipal, já em si é uma contradição. O militarismo é guerra, guerra é para combater inimigo, e polícia é exatamente o contrário, é incentivadora da solução não violenta de conflitos, e aí as guardas acabam sendo aculturadas na ideia militar.” No caso envolvendo a morte do jovem Matheus, Jugend é taxativo. “Em tese, a guarda municipal é incumbida de impedir danos de patrimônio do município. (...) A rigor eles nem deveriam estar no Largo da Ordem reprimindo manifestações ou aglomerações, já que o espaço não é estritamente do município”.

POSIÇÃO DA GM A Guarda Municipal, em nota oficial, lamentou a morte do jovem Matheus Nogas e informou que a corregedoria abriu investigação para apurar os fatos. “O procedimento vai apurar eventuais irregularidades, com as devidas providências previstas em regimento interno da corporação e demais legislações inerentes à matéria”, diz. Contudo, a Prefeitura não confirma que o tiro veio, de fato, de um guarda. Procurada para comentar a respeito das ações mais truculentas envolvendo o órgão, o município ainda não respondeu a esta reportagem.


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Famílias relatam pressão para o retorno dos filhos a aulas presenciais

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Decretos do próprio governo do estado garantem direito de alunos optarem por ensino on-line Divulgação | APP

Ana Carolina Caldas

A

pós os afastamentos de diretores de escolas públicas no Paraná por não atingirem uma suposta meta estabelecida pela Secretaria de Estado de Educação de alunos nas aulas presenciais, apareceram também denúncias de pais e mães que dizem estarem sendo pressionados a levarem seus filhos. Porém, as famílias se apóiam nos decretos do próprio governo do estado, que lhes garante o direito de optar pelo ensino on-line devido à pandemia, que não acabou. “Todos sabemos que ainda não tem vacinas para as crianças, e muitas delas estão sendo hospitalizadas por causa do vírus. Agora, a escola avisou que a Secretaria disse que é obrigatório as crianças irem para a escola. Mas você tem que assinar um termo de responsabilidade caso aconteça algo com seu filho. Sou obrigada a mandar porque eles dizem que vão mandar o Conselho Tutelar bater na minha porta”, relata Edna Elaine Bacilli, mãe de um menino de 8 anos que cursa uma escola estadual.

Edna ainda conta que outros pais da região onde mora, no bairro CIC, também vêm sendo pressionados. “Faltando menos de 3 meses para acabar as aulas, agora essa pressão de que a gente leve mesmo sem vacina. Muitos professores também não foram vacinados e parece que a pandemia já acabou. Muitos pais daqui foram pegos de surpresa com essa ordem das escolas de mandar as crianças”, afirma. Oficialmente, não há, por parte do governo do estado, nenhuma normativa ou decreto que obrigue o retorno às aulas presenciais. Dificuldades on-line A APP Sindicato, que representa professores e funcionários de escolas, recebeu também depoimentos de pais e mães sobre a Secretaria dificultar o acesso às aulas on-line a alunos que estão assistindo em casa. “Me senti fazendo papel de palhaça porque eu fui à escola, assinei, expliquei, escrevi com minha própria mão que não mandaria meu filho porque não estão seguindo o distanciamento e ele não está vacinado. Mes-

mo assim pararam de mandar o link e eu fiquei sem ter o que fazer.” O relato feito ao sindicato é de uma mãe que preferiu não se identificar, cujo filho estuda no Colégio Estadual Cívico-Militar Unidade Polo, de Campo Mourão. A insegurança aumentou quando a mãe visitou a escola. “Quando passam as reportagens está uma carteira, um espaço e outra carteira. Na sala que eu visitei está uma carteira atrás da outra e 25, 26 alunos. A sala estava lotada. Eu até cheguei a conversar com a professora e ela disse: ‘essa é a nossa realidade’”, relata. A professora Walkiria Olegário Mazetto, diretora da APP Sindicato, diz que a Secretaria de Educação descumpre a própria legislação. “Tanto a Sesa como a Seed têm leis que garantem a escolha destes pais e mães sobre a opção que desejam assistir às aulas. Mas, mesmo assim, a Secretaria vem pressionando. O sindicato está em diálogo e apoio constante com famílias e estudantes, dando suporte para que eles tenham seus direitos garantidos”, disse.

O que diz a secretaria Em nota, a Secretaria Estadual de Educação afirmou: “As escolas estão em contato com pais e responsáveis pelos estudantes para que os mesmos justifiquem o não retorno (Ofício Circular 051/2021). O intuito é que as escolas da rede pública de ensino recebam, com segurança, um maior número de estudantes, motivando-os pela permanência, uma vez que o ensino remoto contribui para com a aprendizagem, mas não substitui as atividades pedagógicas ofertadas de modo presencial. Motivos não relacionados a questões de saúde ou problemas no transporte escolar serão encaminhados para acompanhamento da Rede de Proteção local, a fim de que esta auxilie as famílias a superarem as situações que dificultam o retorno.”


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Coletivo de Mães conta histórias de afeto entre avós e netos A apresentação da peça, em formato presencial, vai até 3 de outubro

Cultura

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Semana Literária Entre os dias 28 de setembro e 1º de outubro, o Sesc PR promove um dos maiores e tradicionais eventos literários do país e, desta vez, totalmente on-line e gratuito. Trata-se da 40ª edição

da Semana Literária Sesc PR e XIX Feira do Livro Editora UFPR, que tem como tema “Literatura: porque outro mundo é possível”, com transmissão pelo canal do Sesc PR no Youtube. Divulgação

Divulgação

Bate-papos Durante quatro dias serão promovidos palestras e bate-papos com grandes nomes da literatura nacional e best-sellers como Martha Medeiros, Sidarta Ribeiro, Luiz Alberto Olivei-

ra, Itamar Vieira Junior, Rita Kohl, dentre outros, além de uma atração internacional, Marta López. Para conferir a programação na íntegra, acesse https://www. sescpr.com.br/

Para crianças Redação

O

espetáculo “Histórias do Fundo Baú: meu vovô virou bebê”, encenado pelo Coletivo de Mães, volta a ser apresentado, agora de forma presencial. As novas temporadas vêm carregadas de sentimentos, de luta e acolhimento. Abrindo o baú do vovô... As brincadeiras e as risadas compartilhadas nos olhares de avós e netos: o começo, e o fim? O fim e o começo? E a compreensão de humanidades que se encontram em pontos diferentes de suas trajetórias. O Coletivo de Mães é um grupo de mães artistas capitaneado pelas atrizes Mariana Zanette e Ludmila Nascarella, que trazem no texto desta peça também a temática sobre a sensibilidade em tratar de mães possíveis à imaginação e questionamentos sobre o nascimento

e a morte. Ambas atrizes encenam as personagens Uma e Outra, que são duas gurias que vivem experiências intensas, de vida e morte. O irmãozinho de Uma, que acabou de nascer, e o vovô de Outra, que está sendo levado pelo Alzheimer, no fim da vida. Em meio à pandemia, e todas as suas dificuldades, as pequenas amigas enfrentam a falta de espaço, a saudade, o esquecimento de como se brinca, o silêncio exigido para que o bebê durma e um vovô que virou bebê, filho de sua própria filha. O cuidar e o cuidado: quem cuida de quem cuida? A delicadeza da narrativa, conduzida pelos diálogos infantis, traz histórias do fundo do baú, que contam as vidas, alegrias, conquistas e tristezas das famílias, das memórias profundas do avô e seus feitos na defesa dos povos indígenas.

Na peça, a amizade entre as duas gurias torna possível outros olhares e escutas sobre a difícil tarefa de crescer, tornando-a mais doce e mais divertida também. É essa relação que conduz a história, com o intuito de sensibilizar aqueles que se reconhecem em graças e pesares, repensando seus próprios fins e começos. Um espetáculo para as famílias possíveis, crianças bagunceiras e adultos animados. Ingressos Os espaços serão ocupados em até 50% de sua capacidade, entre 40 e 50 lugares. Para quem vai comprar na hora, as bilheterias abrirão duas horas antes dos espetáculos, com pagamento apenas em dinheiro e por pix. O valor arrecadado na bilheteria das apresentações de sábado e domingo serão destinadas ao Hospital Erasto Gaertner.

A programação da manhã terá contações de histórias sempre às 10h e serão realizadas em salas virtuais via Teams. Os links de acesso estão disponíveis no https://www.sescpr.com.br/ semanaliteraria/. Todas as

tardes, a partir das 14h, os interessados terão acesso a oficinas de medição de leitura, jogos teatrais, brincadeiras cantadas e literatura. Para participar das oficinas é necessário cadastro no site do evento.

DICAS MASTIGADAS Couve-flor assada Ingredientes 1 couve-flor orgânica 1 dente de alho orgânico 1 colher (chá) de cominho em pó ½ colher (chá) de canela em pó ½ colher (chá) de sal 3 colheres (sopa) de azeite Reprodução

Modo de preparo Preaqueça o forno a 220 ºC. Corte a couve-flor em floretes médios. Lave sob água corrente e deixe escorrer bem. Em um pilão, junte alho e sal e bata bem até formar uma pastinha. Misture o cominho, a canela e o azeite. Transfira a couveflor para uma assadeira, regue com o azeite temperado e misture bem com as mãos. Espalhe os floretes pela assadeira, sem amontoar. Leve ao forno para assar por cerca de 15 minutos. Vire os pedaços com uma espátula e deixe assar por mais 10 minutos, ou até dourar por igual.


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Quem quer R$ 70 milhões? Sorteio define mandos de campo para 4 times que disputam prêmio da Copa do Brasil Frédi Vasconcelos

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stão previstas para 20 e 27 de outubro as partidas que vão definir os finalistas de um prêmio de 70 milhões de reais. Quando entrarem em campo Athletico X Flamengo e Atlético (MG) X Fortaleza, mais que a alegria de suas torcidas com um título, vão disputar a possibilidade de chegarem à final e botarem em seus cofres dinheiro que pode garantir um orçamento no azul em

2021, time mais forte e alguma folga no orçamento do ano seguinte. Mesmo para o Flamengo, que pode chegar a até R$ 1 bilhão de faturamento este ano, segundo sua diretoria, o dinheiro fará diferença. O Galo, com orçamento de cerca de R$ 400 milhões para 2021, depende dessa grana para compensar a falta de arrecadação prevista com a venda de jogadores, abaixo do esperado até agora no ano. Para o Athletico pode representar um terLucas Figueiredo | CBF

Sorteio do mando de campo das semifinais da CDB aconteceram na CBF na quarta, 22

ço a mais no orçamento de 2021. Já para o Fortaleza, que chegou pela primeira vez às semifinais da CdB, é praticamente dobrar a arrecadação prevista para o ano. Sorteio Pelo sorteio realizado na sede da CBF na quarta, 22, os atléticos mineiro e paranaense jogam as primeiras partidas em casa, decidindo a classificação em Fortaleza e Rio de Janeiro, respectivamente. O Athletico chegou à semifinal após duas vitórias contra o Santos por 1 a 0. O Flamengo fez 6 a 0 em dois jogos com o Grêmio. O Galo venceu por 3 a 1 o Fluminense em dois jogos. Já o Fortaleza eliminou o São Paulo com uma vitória e um empate. Quanto paga Quem chegar à decisão garante, pelo menos, R$ 23 milhões como vice-campeão. Quem ganhar, recebe mais R$ 56 milhões. Com o que ganharam nas fases anteriores, Athletico -PR, Atlético-MG e Flamengo podem receber, ao todo, R$ 71,1 milhões. Fortaleza poderia bater em R$ 73,2 milhões.

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Novo ciclo O novo ciclo da Seleção Brasileira começou muito bem. Vencemos os dois duelos contra as argentinas. Na última sexta, 17, as duas equipes entraram em campo no Estádio Amigão, em Campina Grande (PB), e o Brasil saiu com a vitória por 3x1. Gols de Debinha, Nycole e Angelina. O gol delas saiu do pé de Bonsegundo. Já na segunda-feira, 20, no Estádio Almeidão, em João Pessoa, as nossas guerreiras golearam por 4x1. Kerolin, Marta, Debinha e Yasmin balançaram as redes. Larroquette descontou para as argentinas. Marta, aliás, chegou ao gol 117 pela amarelinha em 173 jogos. É a maior artilharia da Seleção, independentemente do gênero. A CBF finalmente apurou esses dados e agora é oficial! As novidades do time também fizeram bonito. Yasmin em sua estreia já anotou um gol e uma assistência. Sobre as estreantes, Pia Sundhage comentou: “Acho que todas elas foram muito bem. Estou bem ansiosa para vê-las novamente. É a primeira vez que elas estão jogando e treinando com esse grupo de jogadoras. Elas vêm jogando muito bem.”

Torcedor responsável

Super sincero

A história se repete (?)

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Douglas Gasparin Arruda

A permissão de retorno aos jogos com presença de público permitirá a uma pequena parcela dos torcedores do Coritiba ver de perto, às 21 horas do próximo sábado (25/9), o time montado para esta temporada. O jogo diante do Guarani, assim, se reveste de dupla importância. Para além da posição na tabela de classificação (o Guarani também é candidato ao acesso), o evento mostrará às autoridades sanitárias com qual nível de disciplina os presentes se dispõem a se comportar no Couto Pereira. Por mais que se revista a partida de um cunho de confraternização, será fundamental a manutenção de distância segura entre os presentes, bem como o uso de máscaras e o porte de um tubinho de álcool em gel. Por todos. Deixemos os abraços para tempos menos perigosos. Eles hão de vir em breve. Os 5 mil coxas presentes estarão representando outros 35 mil que gostariam de estar lá.

No último dia 20 o novo presidente do Paraná, Rubens Ferreira Silva, o Rubão, deu sua primeira entrevista coletiva ao lado da nova diretoria. Já com a confirmação do rebaixamento para a Série D em 2022, o novo mandatário deu a sua fórmula para reacender a esperança na Vila Capanema: trabalho, transparência e paciência. Consultor financeiro por profissão, ele demonstrou ter exata noção do desafio em que se meteu: presidir um time com 150 milhões de reais em dívidas, em que mil reais não são mil reais, são oitocentos, graças ao acordo judicial para pagamento de credores. Durante uma hora e quarenta minutos de entrevista, Rubão esbanjou tranquilidade. Foram inúmeras contas, projeções e suposições. Quando perguntado sobre a possibilidade de três acessos seguidos, ele logo disparou: “esqueça, é sonho”.

Ahtletico e Peñarol iniciam nesta quinta-feira o duelo que vai definir um dos finalistas da Sul-Americana. Contando com cerca de 16 mil torcedores no estádio Campeón del Siglo, o time uruguaio chega para a partida com estatísticas animadoras: nove jogos de invencibilidade e uma fase inspirada do artilheiro da competição, Álvarez Martínez, jovem promessa que já tem multa rescisória estabelecida acima dos R$ 100 milhões. Contudo, toda história tem dois lados. Os uruguaios não estão em um bom momento no campeonato nacional, assim como o Athletico, e (dado importantíssimo) foram goleados por 4 a 1 na última partida que disputaram no Campeón del Siglo, pela Sul-Americana, em 2018, empolgando a equipe rubro-negra para o seu primeiro título da competição. Agora é torcer pela repetição da história!


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