Brasil de Fato PR - EDIÇÃO 245

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PARANÁ

Ano 5

Edição 245

18 a 24 de fevereiro de 2022

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

Tragédias que se repetem

Esportes | p. 8

O futebol se move Clubes formam grupos para negociações de liga

Centenas de mortos e desaparecidos em Petrópolis (RJ)

Cultura | p. 7

Cultura quer 1,5% do orçamento

Brasil | p. 5 Tânia Rego | Agência Brasil

Giorgia Prates

Paraná é um dos estados que menos investem no setor

Opinião | p. 2

Dois pesos, duas medidas

Carlos Costa/CMC

Vereadores de Curitiba perseguem Renato Freitas (PT) (foto), mas defendem máfia do transporte público

Paraná | p. 4

Brasil | p. 5

Brasil | p. Editorial | p.6 2

Escolas sem comida

Bolsonaro deixa país dependente

Falsa recuperação

Empresa contratada pelo estado atrasa entrega de alimentos

Sem fábrica no Paraná, Brasil importa bilhões em fertilizantes

PIB não cresce e trabalhador segue sem dinheiro


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 18 a 24 de fevereiro de 2022

Não faz sentido o PIB crescer e o salário encolher

EXPEDIENTE

editorial

N

os próximos dias, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciará, oficialmente, os dados relativos ao Produto Interno Bruto (PIB), no Brasil, referente ao ano de 2021. Estimativas apontam para crescimento em torno de 4,7%. Em si, este dado parece bom, mas quando comparado ao momento do país e à

situação do povo brasileiro, ele é desastroso. Isso porque em 2020 – primeiro ano da pandemia – o PIB brasileiro teve queda de 4,5%. Sendo assim, o PIB estagnou, se levarmos em conta os anos de 2020 e 2021. O que já é ruim fica ainda pior, ao acrescentarmos o elemento da inflação oficial de 2021, que foi superior a 10%.

A vida do povo brasileiro está cada vez mais difícil. A taxa de desemprego é alta, assim como de desalentados e de empregos em situação precária (informalidade e baixos salários). O custo de vida é insuportável, com alta dos preços nos alimentos, combustíveis e gás de cozinha. As tarifas de energia elétrica, água, sane-

Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016

amento e transporte público explodiram. Efeito direto disso é o aumento da fome e uma grande inadimplência. Quando o PIB cresce e o salário encolhe é porque as classes dominantes aumentaram os níveis de exploração sobre o povo, concentrando mais riqueza e capital, aumentando a miséria e precarização da vida dos brasileiros.

EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABOROU NESTA EDIÇÃO Lafaiete Neves ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com REDES SOCIAIS /bdfpr @brasildefatopr

SEMANA

opinião

Os vendilhões do templo Lafaiete Neves,

professor aposentado da UFPR, Doutor em Desenvolvimento Econômico pela UFPR e Membro Titular do Conselho da Cidade de Curitiba pela APUFPR

O

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 245 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

s acontecimentos, por ocasião do ato de protesto realizado pelos movimentos sociais, contra o brutal assassinato de dois negros no Rio de Janeiro, Moïse e Durval, que culminou com a entrada dos manifestantes na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída por pessoas escravizadas no século 18, no largo da Ordem, em Curitiba, gera-

ram críticas ao vereador Renato Freitas do PT, por estar presente no ato. O tom raivoso dos ataques e dos discursos feitos demonstraram posições racistas com caráter de oportunismo político para condenar o vereador. E no rol desses oportunistas entram Sergio Moro, Bolsonaro, o prefeito Greca, o governador Ratinho Jr. e o líder do prefeito na Câmara de Curitiba, todos exigindo a cassação de Freitas. A repercussão do fato possibilita reflexões, sendo uma delas a questão da fé e da religiosidade das pessoas. A rigor, o mandamento máxi-

mo da fé cristã manda amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Compare os atos de Jesus com a prática dos vereadores, que, sendo até pastores evangélicos, ameaçam o vereador Renato com a cassação do seu mandato, por ter entrado no templo católico. Porém, o ato foi pacífico, não houve depredação e logo os manifestantes saíram tranquilamente da igreja. No “Templo da política” que é a Câmara de Curitiba, os vereadores, que formam a maioria do prefeito, aprovam projetos de milhões de re-

ais para beneficiar poucos ricos da cidade. Foi o que aconteceu quando 26 vereadores moralistas, alguns que condenaram o ato em defesa dos excluídos da nossa sociedade, aprovaram com 10 votos contrários da bancada de oposição, o desvio de R$ 320 milhões para meia dúzia de famílias de empresários de ônibus, que usam esse dinheiro público não para melhorar o transporte coletivo com uma tarifa justa, mas para investir em outras atividades econômicas, às custas dos pobres trabalhadores da nossa cidade e da região metropolitana de Curitiba.


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Paraná, 18 a 24 de fevereiro de 2022

FRASE DA SEMANA

“Todos sabem que a chuva matará no Rio de Janeiro, menos os governantes”

Banco Central devolve dinheiro para a população

Agricultores familiares do Paraná foram às ruas em Francisco Beltrão, Coronel Vivida e Barracão, na fronteira com a Argentina, para pedir socorro aos governos estadual e federal que, até agora, não atenderam as reivindicações de medidas para amenizar as consequências de uma das piores secas da Região Sul, que já dura três anos.

Disse em sua coluna no portal UOL o jornalista e doutor em Ciência Política Leonardo Sakamoto. Ele lembra que centenas de pessoas morreram em décadas passadas. Agora, mais de 100 pessoas voltam a morrer, além de existir um número desconhecido de desaparecidos sem que medidas efetivas de prevenção tenham sido tomadas.

Divulgação

Pedido de socorro “Estamos pedindo socorro. A situação já não é mais grave, é gravíssima e, piorando, afetará não apenas esses trabalhadores e trabalhadoras, mas também a própria sociedade, uma vez que a agricultura familiar é responsável por 70% da produção dos alimentos consumidos no dia a dia do Brasil”, aponta o dirigente da Fetraf-PR e secretário de finanças da CUT Paraná, Neveraldo Oliboni.

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Tragédia que se repete

Verdades tardias

Com mais de 100 mortes confirmadas, nesta semana, por enchentes e deslizamentos em Petrópolis (RJ), novamente culpa-se o “excesso de chuva” e as “moradias irregulares”. Para o professor de Engenharia Geotécnica da PUC-Rio Alberto Sayão, entrevistado pelo BDF-RJ, os novos deslizamentos mostram que a Prefeitura e o governo do estado não se prepararam para enfrentar o problema.

Na última sessão como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, afirmou: “A liberdade de expressão é muito importante e precisa ser protegida, inclusive contra os que a utilizam para destruí-la juntamente com a destruição da democracia. O ódio, a mentira e as ameaças não são protegidas pela liberdade de expressão porque se destinam a silenciar a expressão dos outros”, disse em clara referência o bolsonarismo e às fake news.

Tragédia municipal “Não dá para culpar apenas o volume de chuvas, que realmente foi acima do normal. Mas é preciso haver melhorias no gerenciamento das encostas e dos rios da região... Esse argumento de que as encostas são municipais, e não estaduais ou federais, deveria ser resolvido, porque no fundo é a população quem está sofrendo...”, disse o pesquisador. Levantamento da “Folha de S.Paulo” também mostra que o governo do Rio gastou apenas 47% do previsto no orçamento para prevenção e resposta a desastres.

Cadê a ação? Como presidente do TSE desde maio de 2020, em seu mandato não andaram ações contra candi datos que propagaram fake news em 2018 e 2020. Bolsonaro, por exemplo, passou ileso no processo por disparo em massa de mensagens de maneira irregular quando foi eleito presidente. Como no artigo em que reconheceu que a cassação de Dilma ocorreu sem crime de responsabilidade, ao contrário do que manda a Constituição, sobraram palavras e faltaram ações efetivas de Barroso.

Rádio Plantô, Brotô! ASCOM | TSE

O Banco Central do Brasil está realizando consulta para que os brasileiros recebam valores indevidamente descontados. As consultas ao Sistema Valores a Receber podem ser feitas exclusivamente no site valoresareceber.bcb. gov.br. No momento da consulta a pessoa saberá se tem valor a receber e, caso positivo, receberá data e período para consultar e solicitar o resgate do saldo existente. Para realizar a consulta, é necessário utilizar seu CPF. O pagamento será realizado durante o mês de março de 2022. Quem tiver valores a receber, precisa ter um login Gov.br nível prata ou ouro para acessar o Sistema Valores a Receber na data e período agendados para consulta e resgate. Para quem não tem valores, se pode fazer uma nova consulta a partir de 02/05/2022, para saber se terá valores a receber no novo período de consulta. O Banco Central alerta que o único site para consulta e solicitação desses valores é valoresareceber. bcb.gov.br. O Banco não envia links nem entra em contato para tratar sobre valores a receber ou para confirmar seus dados pessoais. “Ninguém está autorizado a entrar em contato com você em nome do Banco Central ou do Sistema Valores a Receber. Portanto, nunca clique em links suspeitos enviados por e-mail, SMS, WhatsApp ou Telegram”, orienta.

Agricultura familiar

Está no ar mais um episódio da Rádio Plantô, Brotô!, que trata justamente da seca nos estados da Região Sul e da escassez de água. O convidado é Luiz Freire, agricultor familiar ecológico e integrante da Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural (Assessoar), de Francisco Beltrão, no Sudoeste do Paraná. O programa é uma iniciativa da Rede Sementes da Agroecologia – ReSA. Ouça e baixe: https://url. gratis/GnVxqz.


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Paraná, 18 a 24 de fevereiro de 2022

Brasil de Fato PR

Aulas em Curitiba voltam com atraso em lanches e almoços para alunos A empresa responsável é a Risotolândia, já acusada de irregularidades no fornecimento de produtos Ana Carolina Caldas

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a segunda-feira, 14, milhares de estudantes retornaram às aulas presenciais na rede municipal de ensino de Curitiba. Porém, inúmeras escolas de período integral foram surpreendidas com o atraso, por três dias consecutivos, na entrega das refeições para o lanche da chegada (pela manhã) e para o almoço, o que impossibilitou o revezamento das turmas nos refeitórios, medida necessária para a prevenção à pandemia. A entrega das refeições é feita pela empresa Risotolândia Indústria e Comércio de Alimentos Ltda. As escolas já enfrentam falta de funcionários para garantir o cumprimento dos horários e revezamentos. E desde o primeiro dia de aulas, foi um caos para grande parte das escolas de período integral. Diretores relataram que, além do atraso sem explicações anteriores, as equipes não tiveram tempo de entregar as refeições de forma adequada. “Tivemos problemas com o lanche da manhã, que chegou atrasado. Muitos alunos chegam com o estômago vazio. Além disso, não tivemos tempo de cortar as frutas de modo adequado”, conta uma diretora que não quis ser identificada. “Logo depois, o almoço atrasou também. Aí vira um caos porque, na escola integral, temos horários definidos de entrada e refeição para cada turma. Temos um momento só do regular, depois as que estão no integral, para que possamos fazer revezamento e distanciamento. Temos tudo organizado e quando algo sai do que está previsto, vira um caos”, conclui. “Eu estava saindo da escola às 12h15 e vi que alunos meus que sempre almoçam às 11h30 ainda estavam sem comer. Fui saber que perto das 13h, o almoço foi servido”, relatou uma professora da Escola Municipal Newton Borges dos Reis. Outros diretores contaram que o almoço, no primeiro dia, só conseguiu ser servido às 13h30, horário

que as aulas já deviam estar reiniciando. Segundo eles, a prefeitura já está ciente desde o ano passado de vários problemas em relação à entrega e qualidade dos alimentos. O contrato entre a prefeitura e a Risotolândia já foi alvo de investigação determinada pelo Tribunal de Contas da União TCU, por suspeita de superfaturamento.

A atual gestão renovou convênio com a empresa para 2022 e repassará para ela mais de 102 milhões de reais. Entre as incumbências da empresa, está o cumprimento de horários e entregas das refeições e suprimentos. Vários problemas em relação à empresa também já foram denunciados pelo Sindicato do Magistério

Municipal de Curitiba (Sismmac), questionando a qualidade dos alimentos e as condições precárias das escolas para a realização de refeições. A redação do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Secretaria Municipal de Educação (SME) e a Empresa Risotolândia, que até o fechamento da edição não retornaram. ASCOM | PMC

Ministério Público vai investigar terceirização do ensino no Paraná Redação

O

Ministério Público Estadual vai investigar a contratação da Unicesumar, pelo governo Ratinho Junior (PSD), para a terceirização de aulas nos primeiros anos de cursos técnicos profissionais do Novo Ensino Médio. A instituição acatou pedido da APP-Sindicato para que seja investigado o contrato e remeteu a denúncia para a 5ª Promotoria de Proteção ao Patrimônio Público. A denúncia requer que seja instaurado procedimento para investigar a legalidade da contratação da Unicesumar para oferecer conteúdos on-line e monitores presenciais,

que substituem o trabalho docente presencial realizado por professores habilitados, sejam integrantes do Quadro Próprio do Estado ou os já contratados por Processo de Seleção Simplificado (PSS). “Pretende o governo do Estado do Paraná implantar um novo Sistema de Educação em algumas áreas contratando a Unicesumar para oferecer professores mesmo havendo professores do quadro próprio e contratados pelo PSS, com claro prejuízo para Educação Pública e trabalhadores da Educação do Paraná”, diz a denúncia encaminhada ao Ministério Público Estadual e ao Tribunal de Contas do Estado.

A APP avalia que a medida do governo Ratinho Jr. fere princípios constitucionais da Educação e da Administração Pública. O governo do Paraná justifica que o objetivo da parceria é aumentar o número de vagas de educação profissional e técnica nas diferentes regiões do estado e que “os professores da Unicesumar vão ministrar apenas as disciplinas técnicas desses três cursos [Administração, Agronegócios e Desenvolvimento de Sistemas]. Todas as disciplinas dos demais cursos e da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) permanecem sendo lecionadas por professores QPM [do Quadro Próprio do Magistério] e PSS.”


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Paraná, 18 a 24 de fevereiro de 2022

Bolsonaro vai à Rússia por fertilizantes, enquanto para produção nacional Fábrica fechada no Paraná ajudaria país a economizar bilhões em importações Gabriel Carriconde

“É

um prejuízo contábil dentro da Petrobras. A nossa principal matéria-prima é fornecida pela Petrobras. Logo, esse fertilizante vai estar num custo extremamente elevado.” A declaração foi um dos avisos de um dos petroleiros em greve em 2020, durante o movimento paradista nacional da categoria, que paralisou a Petrobras por 20 dias, contra o fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen), em Araucária, Região Metropolitana de Curitiba, sob a alegação de que causaria prejuízos. Pouco tempo depois, a previsão do petroleiro Reginaldo Lopes, então diretor do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas do Estado do Paraná (Sindiquímica), transformou-se em realidade. O Brasil fechou a fábrica e passou a importar cada vez mais fertilizantes, em dólar, com altos custos, com base na mentira do “prejuízo”. De acordo com dados da balança comercial brasileira, da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), analisados pela área econômica da Federação Única dos Petroleiros (FUP), só em 2021 o país gastou cerca de 15 bilhões de dólares em importa-

ções de adubos e fertilizantes químicos, 90% mais que no ano anterior, quando a Fafen foi fechada, sendo a segunda nação que mais importa o insumo no mundo. A viagem do presidente Bolsonaro para a Rússia, de acordo com Observatório de Mineração, mirou mais na “garantia de suprimento de fertilizantes para o agronegócio brasileiro e, por consequência, manter uma de suas principais bases de apoio em ano eleitoral”, sem uma hipotética interferência na crise contra a Ucrânia/Otan/Estados Unidos. Para Gerson Castelhano, diretor da Federação Única dos Petroleiros, a dependência externa do mercado internacional deixa o país vulnerável. “Há hoje escassez de fertilizantes no mercado internacional, e países como Rússia, Irã e Ucrânia voltam sua produção para o mercado interno por conta do valor do gás que usam para aquecimento. O Brasil fica dependente desses países, e qualquer conflito internacional nos deixa com risco de desabastecimento”, analisa. Sem fertilizantes, o agronegócio brasileiro pode sofrer em sua cadeia produtiva. Empresas de fertilizantes como PhosAgro e Ukalki, de acordo com o Observatório da Mineração, são os principais Divulgação

fornecedores do Brasil, uma delas (PhosAgro), tem como um dos seus principais acionistas Vladimir Litvinenko, um dos organizadores da campanha do atual presidente russo, Vladimir Putin, entre 2000 e 2004. Castelhano reflete que enquanto o Brasil precisa entrar em uma zona de guerra para garantir insumos para seu agronegócio, as fábricas de nitrogenados continuam fechadas. “A ministra Thereza Cristina teve que viajar também para o Irã, que é um dos maiores exportadores do mundo, para tentar garantir a entrega dos fertilizantes. O Brasil fica à deriva no mercado internacional graças a uma política antinacional e que prioriza a indexação de valores ao dólar, que também encarece os custos de produção no país.” Tereza Cristina chegou a visitar a Rússia, quinze dias antes de Bolsonaro, e admitiu que a missão do presidente, longe de parar uma guerra, seria de pedir a Putin garantias de manutenção do fornecimento de fertilizantes e mais investimentos no setor. A ministra visitou fabricantes de fertilizantes, dentre elas a PhosAgro e Uralkali, para também reforçar o pedido. Alexandro Guilherme, presidente do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina, lembra que haveria em abundância fertilizantes caso a Fafen estivesse aberta. “A Fafen usava matéria-prima mais barata, pois não usava gás. Se investissem em fábricas nacionais, o Brasil melhoraria sua produção.” Castelhano lembra ainda que a dependência prejudica os pequenos. “O pequeno agricultor, que produz alimento, não tem condições de importar adubo. Quando tínhamos a Fafen, lutávamos para que este pequeno agricultor pudesse comprar fertilizantes por um preço módico”, reflete.

Brasil de Fato PR Brasil 5

Tragédia em Petrópolis chega a 111 mortos. Número deve aumentar

Divulgação

Redação RJ Carl de Souza | AFP

O número de mortos após o temporal que atingiu Petrópolis, na região Serrana do Rio de Janeiro, foi atualizado para 111 na quinta-feira (17), segundo informações da Defesa Civil estadual. A estimativa é de que o número cresça ainda mais em razão das pessoas soterradas que ainda não foram encontradas. De acordo com informações do Corpo de Bombeiros, pelo menos 24 pessoas foram resgatadas com vida. E há mais de 130 desaparecidos. Já foram computadas também 372 pessoas desabrigados ou desalojadas, 89 áreas atingidas, 26 deslizamentos e mais de 180 moradores de áreas de risco acolhidos nas escolas, segundo a Prefeitura de Petrópolis. O município decretou estado de calamidade pública desde a quarta-feira (16). Outros desastres Em 1988, foram 134 mortos em Petrópolis. Em 2011, 918 pessoas morreram e outras dezenas desapareceram na região serrana do Rio, principalmente em Nova Friburgo e Teresópolis.


Brasil de Fato PR 6 Cidades

Conselheiros falam de desafios para fortalecimento da economia solidária Capacitação, formação técnica, espaço fixo para comercialização e acesso a crédito estão entre demandas

Lia Bianchini

N

a terça-feira (15), tomaram posse os primeiros conselheiros estaduais da Economia Solidária no Paraná (foto). Após mais de 20 anos de articulação entre empreendimentos, entidades de apoio e movimentos populares, o Paraná regulamentou a Lei Estadual da Economia Solidária em 2020. Com a posse, os conselheiros pretendem, agora, intensificar as articulações e pressionar para que a lei seja posta em prática. “Nós precisamos de capacitação, de formação técnica, gerencial, de formação para que a organização do empreendimento seja eficiente, mas que seja autogestionária”, disse o conselheiro Edson Leonardo Pilati, coordenador estadual da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários do Brasil (Unisol). No texto da lei, estão previstas iniciativas de formação, assessoria técnica, qualificação profissional, promoção de

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acesso a serviços de finanças e crédito, financiamento para capital de giro, custeio e aquisição de bens móveis e imóveis, entre outras ações. Estima-se que o Paraná possui cerca de 4 mil empreendimentos econômicos solidários registrados no Ministério do Trabalho. São trabalhadores que vivem no dia a dia os princípios de autogestão, cooperativismo e sustentabilidade. No entanto, viver a partir de uma forma de trabalho que prioriza o trabalhador, e não o lucro, é uma tarefa árdua, como contou Maria de Fátima Costamilan, também conselheira, representante da entidade de apoio ONG Moradia e Cidadania do Paraná. “Não é possível mais vermos os empreendimentos solidários, principalmente as mulheres, terem de estar a cada dia procurando um espaço para levar seus produtos. A cada dia irem para a casa pensando no dia seguinte, se vão conseguir uma barraca, uma feira”, re-

latou. Para ela, dar segurança para que os empreendimentos consigam comercializar seus produtos é algo “simples, que já está previsto na Lei.” A conselheira dá como exemplo a possibilidade de efetivação de Centros Públicos da Economia Solidária. “Centros onde pode-se reunir a comercialização, a formação, dar capacitação e dar oportunidade para a população consumir da Economia Solidária”, explicou. Autor da lei estadual, o deputado Professor Lemos defendeu a Economia Solidária como importante fonte de geração de renda, especialmente, para as famílias empobrecidas. Para ele, o próximo desafio para fortalecer os empreendimentos é facilitar o acesso a crédito. “É a criação do Fundo Estadual da Economia Solidária. Está previsto na lei, já está também no decreto que regulamentou a Economia Solidária, é um desejo e uma necessidade para que possamos fazer frente a essa demanda”, afirmou.

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Artistas entregam a deputados projeto para destinar recursos para cultura Paraná é um dos estados com menor orçamento para a área artística e cultural Divulgação

Ana Carolina Caldas

N

o Paraná, o orçamento para o setor cultural vem diminuindo a cada ano, já sendo uma das menores dotações orçamentárias do Brasil. Em 2020 foi de 0,34% e, em 2021, 0,29% do orçamento do estado. Além do corte de recursos, o Paraná também extinguiu a Secretaria de Cultura, que passou a integrar a pasta de Comunicação. Artistas vêm há mais de dois anos reivindicando que haja maior valorização do setor como política pública. Por isso, na segunda (21), a Frente Movimento entregará aos deputados, na Assembleia Legislativa (ALEP), proposta de emenda constitucional para que 1,5% do orçamento estadual seja destinado à cultura por lei. Antes da entrega do projeto, representantes da Frente Movimento fizeram,

na ALEP, discussão técnica sobre a viabilidade da proposta (foto). Antes, em 2020, artistas realizaram na Assembleia audiência pública para debater orçamento para cultura. Foram apresentados

dados sobre os investimentos do governo do Paraná no setor, e constatou-se que chega muito pouco para a produção artística e para os trabalhadores da cultura. Em 2021, do 0,29% destinado para o Fundo de Cultu-

ra, cerca de 33 milhões foram para custeio do Teatro Guaíra, sobrando menos de 400 mil reais para projetos de incentivo a todos os outros artistas. O valor reivindicado de 1,5% tem como objetivo

suprir esse déficit e destinar pelo menos 0,5% para o Fundo. “Com um orçamento maior, a cultura tem garantia de ser tratada no âmbito do estado como política pública. Queremos a volta da Secretaria de Cultura e a descentralização de recursos, que cheguem para todo o Paraná. Hoje, grande parte das verbas fica em Curitiba”, diz a advogada Rita de Cássia Lins e Silva, fundadora da Frente Movimento. A pressão dos movimentos culturais já conseguiu alguns avanços. Para 2022, os recursos passarão para R$ 183 milhões. O reforço na dotação orçamentária é fruto de uma emenda encaminhada pela Frente Movimento e proposta pela Comissão de Cultura da ALEP. A iniciativa previa inicialmente o 1,5% para cultura. Apesar de ter sido negado, o valor passou para 0,55% do orçamento.

DICAS MASTIGADAS | Sopa de tomate A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr. com.br Ingredientes 5 tomates orgânicos maduros ½ pimentão vermelho orgânico 1 cebola orgânica 2 dentes de alho orgânico 1 xícara (chá) de água fervente Azeite a gosto 1 pitada de pimenta calabresa seca Sal e pimenta-do-reino moída Folhas de manjericão

D

ivu

lga

çã

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Modo de Preparo Pré-aqueça o forno a 240 ºC. Corte os tomates ao meio. Corte a cebola, sem casca, em duas metades e cada metade e em três gomos. Corte o pimentão ao meio, descarte as sementes e corte uma das metades em tiras de 1 cm. Descasque e corte os dentes de alho ao meio. Unte com azeite uma assadeira grande. Disponha as metades de tomate com a casca para baixo e o lado da polpa para cima. Distribua o restante dos legumes na assadeira, regue com azeite e tempere com sal e pimenta a gosto. Asse por cerca de 20 minutos, ou até que os legumes estejam macios e levemente tostados. Transfira os legumes assados para o liquidificador, tempere com pimenta calabresa e regue com a água fervente. Tampe e bata até a sopa ficar lisa e cremosa. Sirva com folhas de manjericão a gosto.


Brasil de Fato PR 8 Esportes

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Paraná, 18 a 24 de fevereiro de 2022

Clássicos e a Copa do Brasil Por Cesar Caldas

Em nove dias, três jogos importantes marcam a trajetória do Coritiba neste início de temporada. Quartafeira última (16), o empate sem gols no Athletiba expôs pela primeira vez o time quase completo no Estadual. Apesar de dois desfalques importantes (William Farias e Natanael), o time não decepcionou, dado que o adversário também usou o time principal com vistas a enfrentar o Palmeiras, campeão da Libertadores. Na tarde do próximo domingo, dia 20, o Coxa tem outro clássico na famosa Vila Capanema. Todo time que flerta com o rebaixamento é perigoso, e o Paraná Clube não há de ser exceção. Por fi m, vem aí a estreia na Copa do Brasil. Será na imensa Feira de Santana – mais populosa das cidades do interior do Brasil fora da Região Sudeste, às 19 horas da quinta-feira, 24. O Bahia de Feira é vice-lider do estadual que disputa. Todo cuidado será pouco.

Quem vai desistir? Por Marcio Mittelbach

O Paraná Clube vai disputar um torneio da morte particular no Campeonato Paranaense 2022. Além do tricolor, Rio Branco, Azuriz e União de Francisco Beltrão estão qualificados para o quadrangular. Dono da pior campanha do campeonato até aqui, o Paraná terá dois confrontos diretos: contra Rio Branco e União. O terceiro jogo é contra o Coritiba, atual vice-líder, já no próximo domingo. A única chance do Paraná se salvar de mais esse vexame é passar uma régua no que passou. Domingo é dia de recomeçar. Com 4.700 sócios em dia e dois jogos em casa por fazer, a presença do torcedor é nossa única chance. Mesmo que as chances de vitória sejam pequenas, não é hora de desistir. É hora de estar na Vila, do lado dos nossos, cobrando raça dos jogadores e atitudes da diretoria. Não é mais sobre um campeonato, é sobre a nossa sobrevivência. E aí, vai desistir?

O que vem aí (no futuro) do futebol

Reprodução

Mudanças para clubeempresa, ofertas para criação de ligas. Clubes se organizam em blocos Frédi Vasconcelos

H

á algo de novo no ar para os principais times de futebol no Brasil. Primeiro, a Lei do Mandante, aprovada no Congresso, deu poder aos clubes de negociarem livremente a transmissão de seus jogos em casa. A criação de clubes-empresa, também por lei, joga outro ingrediente nas possíveis mudanças. Botafogo e Cruzeiro já assinaram contratos e podem receber recursos nos próximos meses, iniciando uma era em que os times terão “donos” e investimentos nacionais e estrangeiros visando ao lucro. Pode dar certo ou não, mas é uma das principais mudanças desde que surgiram. O aparente enfraquecimento da CBF, com as confusões e trocas de presidentes, também parece tornar possível, pela primeira vez, a criação de uma liga própria, organizada e gerida pelos próprios clubes. Não à toa, a cada dia aparecem hipotéticas “propostas” bilionárias de empresas ou investidores pelos direitos dessa futura liga. O capítulo desta semana foi a criação do grupo “Forte Futebol”. Dez times “emergentes” da Série A, entre eles Athletico e Coritiba, assinaram nota em que afirmam: “É tempo de transformação, de criação de

uma nova estrutura para o nosso esporte mais popular... O objetivo desse grupo de trabalho é termos know-how de análise e comparar as propostas na mesa com os modelos existentes no mundo. Buscamos também empoderar a nossa voz, para nos sentirmos representados e darmos nosso parecer em quaisquer discussões sobre o assunto...” Segundo matéria no site Globo Esporte, a união desses clubes foi para “melhorar a posição deles nas negociações que envolvem a liga. “De certa forma, trata-se de resposta a outro grupo, que reúne os cinco paulistas da Série A (Corinthians, Palmeiras, Red Bull Bragantino, Santos e São Paulo), além de Flamengo e Atlético-MG”, afirma o texto.

ELAS POR ELA Fernanda Haag

O retorno do maior clássico Por Douglas Gasparin Arruda

Apesar do empate sem gols, o 386° Atletiba foi emocionante. Foram quase 3 anos sem a presença da torcida no jogo mais importante do estado. Dentro de campo, o que se viu foi um clássico de poucas chances, mas de alta intensidade: muitas faltas, catimba, bola na trave e gol anulado. O mérito fica para o sistema defensivo de ambas as equipes, que se impôs ao longo dos 90 minutos. Fora de campo, a dualidade dos clássicos. Por um lado, a parte incrível: a paixão das torcidas, a festa, a intensidade emocional envolvida; por outro, a emoção que extravasa em violência. Os quase 10 minutos de briga entre as torcidas certamente vão custar caro para Athletico e Coritiba, já que a procuradoria do TJD-PR pretende denunciar as equipes, o que certamente acarretará em perda de mando(s) de campo.

Torneio Internacional da França Começou o Torneio Internacional da França! É o primeiro desafio do ano da Seleção Brasileira. A competição ocorre em Caen, na França, e conta ainda com as donas da casa, a Holanda e a Finlândia. A competição é importante para a preparação da Seleção para a Copa América, programada para a Colômbia, de 8 a 30 de julho e que é eliminatória para a Copa do Mundo de 2023. O Brasil já fez seu primeiro jogo na terça-feira, 16. Empatamos com as holandesas por 1x1. Foi o primeiro confronto entre os times após o empate por 3x3 nas Olimpíadas de Tóquio – um dos melhores jogos da Era Pia, aliás.

Pia Sundhage entrou com uma equipe bem diferente, apenas 3 das 11 titulares estavam na última Olimpíada e ainda tivemos a reestreia de Luana, após afastamento por lesão. Beerensteyn abriu o placar, no segundo tempo, com um golaço. O gol do Brasil veio de pênalti, cobrado pela Rainha Marta, anotando mais um gol com a Amarelinha e chegando aos 118. Número questionado pela própria Marta na entrevista após a partida: “Eu tenho dúvida sobre essa conta aí, acho que perderam alguns golzinhos e jogos”. O Brasil enfrenta a França no sábado, às 17h, e a Finlândia na terça, 22, às 14h30.


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