Cultura | p. 7
Futebol virou basquete?
Disco autoral Cantor e ator curitibano Alexandre Nero lança álbum intimista
Jogadores se agrupam em campo e falta espaço até para respirar
PARANÁ
Divulgação
Esporte | p. 8
Ano 5
Edição 252
Educação | p. 4
Atraso na escola Para estudantes, “terceirização” de aulas do estado afeta aprendizado App Sindicato
Opinião | p. 2 e 8
Violência contra mulher Técnico de futebol dá cabeçada em bandeirinha e ainda ameaça
Paraná | p. 6
Terra, teto e trabalho Manifestação reúne 2,5 mil pessoas em Curitiba contra despejos
15 a 21 de abril de 2022
distribuição gratuita
www.brasildefatopr.com.br
Inflação afeta a vida
Trabalhadores relatam dificuldades para pagar comida, remédios e contas Editorial e Brasil | p. 2 e 5
Giorgia Prates
Brasil de Fato PR 2 Opinião
O dinheiro do Viagra falta para os mais pobres editorial
N
o mercado, a sensação de que está gastando cada vez mais e levando menos não é só impressão. O Brasil teve a maior inflação no mês de março desde a criação do Plano Real, em 1994. O IPCA, índice oficial de inflação, subiu 1,62% no último mês e 11,30% em 12 meses. Transporte e alimentação foram os itens de maior impacto, com o aumento de 6,95% na gasolina e 13,65% no diesel. Nos alimentos, a cenoura subiu mais
Brasil de Fato PR
Paraná, 15 a 21 de abril de 2022
de 31,4%, seguida por leite, pão e óleo vegetal. A região Metropolitana de Curitiba teve índices ainda maiores que a média nacional, com 2,40%, a mais cara das capitais analisadas. Tudo sentido no bolso diariamente junto a gastos com moradia, água, luz e gás de cozinha que já consomem boa parte dos ganhos das famílias. Além disso, as altas taxas de desemprego e desmonte de políticas públicas fazem com que a miséria volte a
ser uma realidade cotidiana. E enquanto o povo passa fome, mais uma farra do governo Bolsonaro gera escândalo. Foram compradas mais de 35 mil unidades de Viagra pelo Ministério da Defesa, mesmo ministério que gastou mais de 56 milhões de reais na compra de picanha, salmão e filé mignon entre fevereiro de 2021 e janeiro deste ano. Dinheiro que vai para luxo dos militares e falta na mesa dos mais pobres.
SEMANA
Agressão à árbitra mostra dificuldade de mulheres ocuparem espaços opinião
Vanessa Grazziotin,
ex-senadora da República. Leia na íntegra em brasildefato.com.br
Q
uando falamos que as mulheres encontram imensas dificuldades para entrar, trabalhar, fazer política ou se divertir em espaços historicamente destinados aos homens somos acusadas de “mimimi”. Outros consideram que a ocupação desses espaços é exclusivamente uma questão de mérito. São formas de pensar que contribuem para que as mulheres continuem sendo vítimas de agressões. O Brasil viu a lamentável e inadmissível agressão do técnico Rafael Soriano, da Desportiva do Espírito Santo, à bandeirinha Marcielly Netto, no jogo contra o Nova Venécia. Ele dá uma cabeçada em Marcielly, ela leva a mão ao rosto e a maioria dos jogadores fez de conta que não viu. Ao sair de campo, o técnico negou a agressão vista por todos e ainda ameaçou. “Se você disser que eu te agredi nós vamos para a delegacia, eu vou te processar... Ela está
dizendo que eu agredi. Mentira. Está se usando porque é mulher. Está querendo aproveitar de uma situação porque é mulher”, afirmou. Mesmo com câmeras filmando, ele ameaça e tenta se passar por vítima. Isso é o que homens agressores fazem. Ele foi expulso, demitido do clube e suspenso da federação, mas ainda é pouco. Ele precisa ser banido do futebol e servir de exemplo. O episódio mostra a violência de gênero e a falta de respeito à mulher mesmo quando ela é a autoridade. Antes da cabeçada, no jogo, Marcielly foi xingada de “vagabunda” e de outras palavras impublicáveis. Torcedores a mandaram ir para casa, que ali não era “lugar de mulher”. Ela relata que esses xingamentos são comuns sempre que está trabalhando. Denunciar agressões não é “mimimi”. É a atitude necessária para que os agressores sejam punidos e que as mulheres possam ocupar os espaços e estarem livremente e sem medo, onde elas quiserem.
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 252 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Vanessa Grazziotin ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail. /bdfpr @brasildefatopr com REDES SOCIAIS
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Brasil de Fato PR Geral 3
Paraná, 15 a 21 de abril de 2022
FRASE DA SEMANA
“Isso é para tirar o foco de cima dos problemas do governo... Para as pessoas não debaterem o preço da gasolina, dos alimentos... Da falta de valor à vida com que a pandemia foi tratada.”
Senadores paranaenses não querem CPI do MEC As suspeitas de corrupção do Ministério da Educação não devem ser investigadas por uma CPI se depender dos senadores paranaenses. Um deles, Oriovisto Guimarães, empresário que fez carreira na educação, até tentou justificar: “Existem fatos graves no MEC que precisam ser investigados. Porém, uma CPI tão próxima das eleições acabará em palanque eleitoral. Então, é melhor que a investigação seja feita pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Assim, teremos uma investigação imparcial e técnica”, disse. O problema é que no combate à corrupção, Bolsonaro tem sido reprovado por mexer constantemente na PF, blindando filhos e aliados, e pela falta de iniciativa do MPF para investigar o governo. Outro que relativizou o tema foi Alvaro Dias, que pretende combater a corrupção seletivamente. “Pela primeira vez não assinei uma CPI em vários mandatos, porque não vendo ilusões. Armar palanque eleitoral e entregar uma grande pizza é tudo que a população não merece nesse ano de eleição”. O pedido de CPI do MEC tem 25 das 27 assinaturas necessárias. Nesta lista não está o senador Flávio Arns. “A instalação da CPI seria inadequada neste momento em função da campanha eleitoral”, disse em nota.
Disse o ator e diretor Lázaro Ramos em entrevista ao programa Roda Viva sobre as críticas que ele e sua esposa, a atriz Taís Araújo, estão sofrendo de bolsonaristas depois que ela declarou que os últimos quatro anos foram infernais. Reprodução
NOTAS BDF
Por Frédi Vasconcelos
Pastores e militares
Companheiro Alckmin
Entre as coisas que ficarão marcadas pelo governo Bolsonaro está a desmoralização, pelos escândalos, das Forças Armadas e de pastores evangélicos. Os militares por gastarem milhões e milhões com comidas e bebidas caras, como uísque, camarão, picanha... E, agora, com denúncias de outros milhões para a compra com dinheiro público de Viagra, próteses penianas e lubrificantes íntimos.
Vídeos nas redes sociais mostram o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, chamando Lula de companheiro e dizendo que ele é o maior líder popular do Brasil. Já Lula pretende entregar ao ex-governador as negociações com empresários e trabalhadores sobre as reformas trabalhistas. Para Lula, essa mesa de negociação: “Vai ter os dirigentes sindicais e empresários. A gente não vai fazer nada na marra. A gente vai fazer negociando para a gente poder o direito de negociar a contratação coletiva e o respeito pelo que acordamos”, disse.
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Reprodução
Pastores no MEC Nos escândalos descobertos pela CPI da pandemia, pessoas ligadas às polícias militares também apareciam tentando ganhar dinheiro com a compra de vacinas. Agora, no Ministério da Educação, dois pastores são denunciados por cobrarem propina de prefeituras para liberarem recursos do fundo nacional de educação. As denúncias de crime são graves, mas Bolsonaro não enfrentou processo de impeachment por dar muito dinheiro secreto para deputados e senadores.
O vai-e-vem das pesquisas Depois de Bolsonaro avançar pontos com a saída do ex-juiz Sergio Moro da disputa presidencial na semana passada, pesquisa de agora mostra que Lula pode vencer no primeiro turno. A Pesquisa Sensus, divulgada pela revista “IstoÉ”, dá a Lula 50,8% dos votos válidos, e 43,3% dos votos totais. Mas o que todos os estudos mostram até agora é que continua a polarização Lula/Bolsonaro e que qualquer previsão, no momento, é arriscada.
EDITAL DE CONVOCAÇÃO DA ASSEMBLÉIA GERAL DE CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA DE PRODUÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO AGRÍCOLA E PECUÁRIA RIBEIRÃO VERMELHO – COPRARI Os membros da Comissão Organizadora para Constituição da COOPERATIVA DE PRODUÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO AGRÍCOLA E PECUÁRIA RIBEIRÃO VERMELHO convocam esta Assembleia Geral de Constituição, a ser realizada na comunidade do ACAMPAMENTO FIDEL CASTRO, Fazenda Tabapuã, sem número, área rural, no município de Centenário do Sul, Estado do Paraná, no dia 02 de maio de 2022, às 08:00h em primeira convocação, às 09:00h em segunda convocação e as 10:00h em terceira e última convocação respectivamente, para o mínimo de vinte e uma pessoas presentes, delibera sobre a seguinte ordem do dia: 1 – Leitura, análise e aprovação do estatuto social, 2 – Nomeação dos membros da Diretoria e Conselho Fiscal; 3 – Aprovação da Constituição da Cooperativa, 4 - Quaisquer outros assuntos de interesse social. Centenário do Sul/PR, 12 de abril de 2022. Ceres Luisa Antunes Hadich Membro da comissão
Brasil de Fato PR 4 Educação
Paraná, 15 a 21 de abril de 2022
“Estão atrasando nossas vidas”, diz aluna sobre aulas terceirizadas Estudantes vêm reivindicando a volta dos professores da rede pública App Sindicato
Ana Carolina Caldas
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ais alunos de cursos técnicos do ensino médio das escolas estaduais do Paraná se manifestaram, nas últimas semanas, contra as aulas terceirizadas da Unicesumar. O governo Ratinho Jr., alegando falta de mão de obra, contratou, em novembro de 2021, a empresa de ensino Unicesumar por R$ 3,2 bilhões para fornecer, na modalidade a distância, aulas e docentes responsáveis por algumas matérias. No entanto, desde março, vários são os problemas denunciados por estudantes e seus familiares, que pedem o retorno dos professores do próprio quadro da rede pública de ensino. Apesar de muitos professores terem sido chamados via Processo Seletivo Simplificado (PSS) para assumir essas aulas, foram surpreendidos, no início do ano, com a notícia de que seriam substituídos pelas aulas EAD. Na última semana, no Centro Estadual de Educação Profissional, CEEP, de Francisco Beltrão, alunos das turmas do curso técnico de Administração fizeram vídeo, veiculado nas redes sociais, pedindo a volta dos seus professores antigos. Nos cartazes, a frase: “Não queremos TV, queremos professores.”
“Nosso curso de Administração tem 8 anos e as aulas dadas pelos professores da rede foram sempre de qualidade. Agora, estamos sendo prejudicados dia após dia”, disse Julia Godoy, aluna do CEEP. Segundo ela, são vários os problemas: “Temos dificuldade de ouvir e entender o que os professores falam nos vídeos veiculados pela TV, também temos a mudança de professores em uma mesma matéria e a descontinuidade dos conteúdos, além da divulgação de links de aulas ou trabalhos publicados depois da meia-noite, sem nenhuma explicação ou possibilidade de tirar dúvidas. Pagaram milhões para a Unicesumar e estão atrasando as nossas vidas”, diz. Situações que se repetem em outros cursos. É o caso de alunos do Colégio Pedro Macedo, em Curitiba, que fizeram vídeos mostrando que passaram a manhã sem aulas devido à falta de monitor de TV. Já no Colégio Leonardo da Vinci, de Dois Vizinhos, viralizou outro vídeo de aluna explicando o conteúdo que deveria estar sendo ministrado por um docente da Unicesumar. E no Colégio Estadual do Paraná (CEP), famílias se juntaram aos estudantes em manifestação em frente à escola pedindo o cancelamento do contrato e o retor-
no dos professores à sala de aula. Em março, turmas dos cursos técnicos do Centro Estadual de Educação Profissional Pedro Boaretto Neto, em Cascavel, nos horários que as aulas eram veiculadas, deixaram as salas como forma de protesto. Inclusive, organizaram movimento chamado “Não às aulas a distância da Unicesumar”, com páginas nas redes sociais. Na mesma semana, a Secretaria Estadual de Educação do Paraná entrou em contato com a escola e comunicou que atenderia as reivindicações dos alunos. Retirada de direitos Para o professor e coordenador do Grupo de Pesquisa Estado, Políticas Públicas e Educação Profissional do IFPR Campus Paranaguá, Lucas Pelissari, há um movimento forte de alunos e famílias por identificarem a retirada de direitos. “Junto com esse contrato, não vem só processo de privatização, mas a retirada do direito básico de aprendizagem. Em segundo lugar, esse novo sistema sequer foi acordado ou dialogado com a comunidade escolar. No momento da matrícula, por exemplo, ninguém foi avisado que as aulas seriam ministradas assim.”
Brasil de Fato PR
MP investiga contrato O Ministério Público Estadual (MP) investiga a contratação da Unicesumar pelo governo Ratinho Jr. A instituição acatou pedido da APP Sindicato e remeteu a denúncia para a 5ª Promotoria de Proteção ao Patrimônio Público. A denúncia da APP requer que seja instaurado procedimento para investigar a legalidade da contratação da Unicesumar para oferecer conteúdos on-line e monitores, que substituem o trabalho docente presencial realizado por professores habilitados. “Além da erradicação progressiva de carga horária disponível para os professores, há muitos problemas do ponto de vista pedagógico”, avalia Vanda Bandeira Santana, secretária Educacional da APP Sindicato. “Se é pela televisão, como haverá interação? Será possível tirar dúvidas? Se o aluno falta, como tem acesso ao conteúdo? Como serão as avaliações?”, questiona. Em nota a Secretaria de Educação disse: “A Seed-PR está ciente sobre os estudantes do CEEP Fazenda Rio Grande, que não estão assistindo às aulas em protesto contra o modelo de ensino. A secretaria está em contato diário com a direção da escola para solucionar a questão. A pasta continuará em diálogo com pais e alunos para entender as críticas e responder aos questionamentos sobre a parceria com a Unicesumar.” App Sindicato
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Paraná, 15 a 21 de abril de 2022
No governo Bolsonaro, inflação esvazia o bolso dos trabalhadores Recorde de aumentos faz população ter de escolher entre comprar comida, remédio ou pagar aluguel “O salário tem que dar até o fim do mês”
Gabriel Carriconde
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m março deste ano, o Brasil registrou a maior inflação para o mês desde o Plano Real, em 1994. O índice chegou a 1,62%, projetando índice entre 7% e 8%, podendo chegar próximo dos mais de 10% do ano passado. Mas mais que um índice, a inflação afeta diretamente o bolso dos trabalhadores, já que os principais aumentos são de itens básicos como combustíveis, alimentos, remédios e aluguéis. Como no governo Bolsonaro os preços sobem e a renda dos trabalhadores cai, a situação de milhões de brasileiros é de fragilidade econômica. A reportagem do Brasil de Fato Paraná conversou com alguns desses trabalhadores que têm de se virar todos os dias para pagar as contas. De escolher entre a comida na mesa, o gás para cozinhar ou pagar o aluguel.
Geralda, aposentada
Dona Geralda, 64 anos, é aposentada, teve uma crise séria em sua coluna e ficou de 5 a 6 meses na cadeira de rodas. Com problemas de saúde, teve que fazer cirurgias Arquivo Pessoal e ainda sofre com dores que a impossibilitam de trabalhar. Conta com um auxílio-doença de quase 850 reais e a ajuda da filha. “Tem que dar, preciso pagar todas as contas”, relata. Com as limitações no orçamento, não consegue mais nem comprar os medicamentos necessários. “A codeína que eu precisaria usar para aliviar minhas dores, com o novo aumento, fica impossível de comprar”. Responsável pelas contas da casa, sofre também para comprar um botijão de gás. “Se o governo não consegue segurar? O que será de nós? Não temos para onde correr.” Ela conta ainda que na região onde mora, uma antiga ocupação, há famílias que precisam escolher entre pagar aluguel e comer. “Tá muito difícil viver”, afirma.
“Preciso batalhar para manter a renda de casa” Luís Miguel, motorista de aplicativo
Luís, 31 anos, tinha carreira consolidada no ramo de logística em uma multinacional da área de segurança. Após ter que lidar com a síndrome de Burnout (identificada em pessoas com alta carga Arquivo Pessoal de trabalho), e crises de ansiedade, preferiu afastar-se da empresa para cuidar de sua saúde. Silveira é pai de uma pequena de 4 anos de idade e luta, com sua esposa, para manter o orçamento de casa como motorista de aplicativo. Mas com o aumento dos combustíveis, a situação financeira piorou. “Com o aumento da gasolina e do combustível, tem sido cada mais difícil, os gastos aumentaram muito”, relata. Luis morava com sua esposa e filha em um apartamento financiado, mas, para economizar, foram morar na casa de seus pais. Enquanto sua esposa trabalha em casa, Luis vem para Curitiba fazer as corridas. “Tá ficando difícil, mas não tem escolha, preciso batalhar para manter a renda de casa. Quero voltar a comprar uma carta de crédito e investir em uma casa novamente.”
“É frustrante trabalhar e não ter poder de compra”
“O bolso da gente tá pedindo socorro”
Ana, economista
Carla Pereira, voluntária, moradora da Ocupação Tiradentes
Ana Clara, 23 anos, veio do Espírito Santo para morar em Curitiba. Formada em Economia, escolheu o centro da cidade justamente para economizar com deslocamento para trabalho, supermercado e hospitais. Apesar disso, precisa lidar com o alto preço de alimentos e remédios. “Tomo determinados remédios que não são fornecidos gratuitamente, eu acabo gastando R$ 150 por mês, soDivulgação mando mais o valor da casa, fica muito alto”, conta. Para baratear os custos, e conseguir alimentar-se bem, recorre a sacolões populares e mercadões da família, com preços menores. “Tentamos fazer tudo que é possível, andando, até mesmo nos momentos de lazer. Para direcionar a nossa renda da melhor forma e que possamos ter uma vida com melhor qualidade.” Apesar da luta diária, Ana não esconde a sua frustração: “É absurdo ter que fazer escolhas tão bestas como: ah, hoje é final de semana, queria comer uma carne, não vai rolar, olha o preço... Sabe? É frustrante trabalhar e não ver que o seu esforço se reflete no poder de compra.”
Carla mora na comunidade Tiradentes, na Cidade Industrial de Curitiba, e trabalha com projetos voluntários na região, além de cuidar da casa, enquanto seu marido trabalha para fora. Relata que está cada vez mais caro para seu companheiro deslocar-se para o trabalho, o que impacta também no dinheiro para Giorgia Prates comprar comida. “Tá bem difícil, as finanças estão complicadas, meu marido tem gastado muito para ir para o trabalho. Para se alimentar, a gente não consegue comprar uma carne ou uma verdura”, conta. Carla e seu marido tentam comprar cesta básica para garantir a compra do mês e a despensa de casa, mas com o aumento cada vez mais significativo dos alimentos, confessa: “O bolso da gente tá pedindo socorro.”
Brasil de Fato PR 6 Cidades
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Paraná, 15 a 21 de abril de 2022
Marcha reúne 2,5 mil pessoas do campo e da cidade por teto, terra e trabalho em Curitiba Milhares de famílias urbanas e camponesas enfrentam risco de despejos forçados Wellington Lenon | MST-PR
Redação
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ais de 2,5 mil trabalhadoras e trabalhadores da cidade, camponesas, camponeses e indígenas marcharam pelas ruas do centro de Curitiba, na manhã da quarta-feira (13). A ação fez parte da Jornada de Lutas por Teto, Terra e Trabalho, organizada por
dezenas de movimentos populares pela regularização fundiária de comunidades de ocupação, urbanas e rurais. Mais de 4,3 mil famílias urbanas e 7 mil famílias camponesas enfrentam risco de despejos forçados no Paraná. Depois de caminhar da Praça Rui Barbosa até o Centro Cívico, uma Au-
diência Pública reuniu um grupo de representantes de cada comunidade e autoridades do Poder Executivo estadual, do Poder Judiciário, da Assembleia Legislativa (Alep) e da Universidade Federal (UFPR). Vida digna Sirlei Silva Lima vive no acampamento Resistência Camponesa, de Cascavel, formado há mais de 20 anos e onde moram cerca de 50 famílias: “Nós vamos permanecer lá nos nossos espaços, construindo as comunidades que nós já temos e que são comunidades consolidadas. Queremos que seja criado o assentamento para que a gente possa continuar vivendo dignamente, tendo a nossa moradia e nossos alimentos que produzimos lá”, afirmou.
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Famílias pedem despejo zero Representantes de cerca de 70 comunidades do MST de todo o Paraná e de 10 ocupações urbanas de Curitiba e Região Metropolitana participaram da audiência pública. Em carta entregue e lida para as autoridades, o coletivo de entidades realizadoras reivindicou que o estado adote medidas para a construção de soluções coletivas, buscando a regularização das áreas urbanas e rurais para as famílias e povos ocupantes; que a UFPR realize um mapeamen-
to social comunitário das ocupações urbanas em conjunto com as demais instituições; e que sejam suspensos todos os despejos durante o ano de 2022. Ao fim do encontro, camponesas e camponeses do MST entregaram cestas com alimentos produzidos em diversas áreas do movimento para as autoridades e representantes das comunidades. O ato enfatiza a solidariedade do MST e a importância que agricultoras da Reforma Agrária dão à comida.
Para José Damasceno, integrante da Direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Paraná, a marcha expressou uma construção coletiva entre trabalhadores do campo e da cidade. “A luz no final do túnel nunca
apagou, mesmo em período difícil, de travessia dura, nós sempre mantemos acesa a vontade de lutar, de vencer, e nunca esquecemos a nossa história e as nossas origens. Por isso, esperançar é necessário, e vencer é possível”, disse. Wellington Lenon | MST-PR
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Paraná, 15 a 21 de abril de 2022
Priscila Prade
Curitibano Alexandre Nero lança álbum autoral Trabalho tem parcerias com Elza Soares, Milton Nascimento e Aldir Blanc Ana Carolina Caldas
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o álbum “Quarto, Suítes, Alguns Cômodos e Outros Nem Tanto”, que está sendo lançado e é 100% autoral, o cantor e ator curitibano Alexandre Nero traz um olhar mais intimista e conta com participações especiais como Milton Nascimento, Elza Soares e Aldir Blanc. A construção começou em 2018, “em meio à solidão e ao isolamento impostos por um longo período no sertão nordestino, durante as gravações de um trabalho”. A mesma solidão promoveu o reencontro de
Nero com a composição. Ali nasceram “Lajedo do Sertão” e o início da canção “Beleza na Tristeza”, que trouxe de volta a vontade de gravar um álbum. As letras trazem narrativas da sua própria vida: maturidade, depressão, pais, filhos, celebridades, religião, política e, por fim, a pandemia. O disco embaralha convenções e derruba estereótipos. As participações especiais reforçam essas sensações. Influência clara na formação musical de Nero, Milton Nascimento surge como convidado em “Guerra
Contexto “O objetivo é a análise da obra lobatiana, compreendendo-a em relação ao seu contexto”, explica a professora do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Milena Ribeiro Martins. O encontro, que é aberto ao público e certificará os participantes, acontece às 18h com transmissão ao vivo pelo canal do PPG Letras no YouTube.
va ia Ka Cint
Obras inspiradas no oxigênio Com poéticas e técnicas variadas, oito artistas se reuniram para apresentar suas criações na exposição coletiva “Oxigênio”, utilizando esse elemen-
teza, mas está longe de ser um disco triste. Também aponta o lugar da calma, da pausa, do respiro. Parece que o mundo tem nos jogado em um universo pra cima, eufórico, onde só vale estar feliz o tempo todo, 24 horas por dia. De 2018 pra cá, o mundo viveu a experiência da pandemia e o disco acabou sendo feito em dois, três anos, atravessado por todas essas coisas, as incertezas, sobretudo pelo estar em casa”, diz. Fique por dentro Encontre o disco em plataformas como Spotify, Deezer, Amazon Music, Tidal e Napster.
DICAS MASTIGADAS
Lobato em rede O grupo de pesquisa “Monteiro Lobato em Rede” promove, na terça-feira (19), ciclo de palestras com foco em contos do autor, especialmente “Era no paraíso” e “Negrinha”. O encontro marca as comemorações do aniversário de 140 anos do escritor e faz parte de uma série de eventos neste ano, com intuito de visibilizar as pesquisas sobre sua obra do escritor e de outros com quem ele estabeleceu uma “rede” de sua obra ou de sua atuação social.
de Cegos”. Em “Miseráveis”, Elza Soares dá voz aos “manos, minas, monas, Macunaímas, Pixotes e mascates”. O álbum traz ainda uma parceria inédita com o compositor Aldir Blanc. A convite do curitibano, Aldir enviou um texto para Nero musicar. A canção “Virulência” manteve intactas as digitais de Aldir em versos cortantes: “Que falta me faz meus pais. Que falta nos faz a paz. Que falta nos faz um país. Na falta de ar, um governo deserto.” Para Nero, “é um disco extremamente esperançoso. Ele toca na tris-
to como fonte de inspiração. A mostra está no Museu Municipal de Arte – MuMA, no Portão Cultural. Sala Domício Pedroso – até 26 de junho.
Bolo de banana com aveia A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site Reprodução produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 2 bananas-prata orgânicas 2 ovos orgânicos ½ xícara (chá) de óleo ½ xícara (chá) de açúcar ½ xícara (chá) de farinha de trigo ½ xícara (chá) de farinha de trigo integral ½ xícara (chá) de aveia em flocos 1 colher (chá) de fermento em pó 1 colher (chá) de canela em pó Modo de Preparo Amasse bem as bananas, descascadas. Em uma tigela grande, bata os ovos e o óleo com um garfo. Junte a banana amassada e misture bem. Misture açúcar, as farinhas, a aveia, o fermento e a canela em outra tigela. Aos poucos, junte esses ingredientes secos à massa de banana e mexa. Transfira a massa para uma fôrma untada com manteiga e farinha e leve para assar por cerca de 45 minutos em forno preaquecido a 200º.
Brasil de Fato PR 8 Esportes
Janela fechada, cortinas abertas Por Cesar Caldas
As chegadas do lateral-direito Nathan (20 anos), do São Paulo, do avante José Hugo (destaque do Azuris, 22 anos) e do experiente atacante argentino Adrián Martínez (29 anos, oito gols marcados nas últimas três edições da Libertadores), encerram o ciclo de contratações do Coritiba no primeiro quadrimestre. Seis atletas foram trazidos sem custos adicionais, outros seis mediante “empréstimo” oneroso pago aos clubes de origem e um (Fabricio Daniel) com os direitos econômicos comprados do Mirassol por R$ 2 milhões. Nova janela de transferências só estará aberta de 18/07 a 15/08 – período em que as circunstâncias técnico-táticas determinarão a necessidade de dispensas e/ou reforços. Criteriosamente formado e dentro das limitações financeiras do clube, é com esse elenco que se descortina o futuro mais imediato do alviverde.
Pedra no sapato Por Marcio Mittelbach
Em meio a tantas novidades no calendário do tricolor, uma coisa seguirá como nos últimos anos: os duelos contra o Oeste. Campeão da Série C em 2012, o clube paulista permaneceu por sete anos na série B. Destes, seis com a presença do Paraná. Além da “vizinhança” na divisão de acesso, a onça e a gralha azul tiverem o mesmo destino em 2021: despencar para a série D. E nesses tempos já são 16 partidas, sete terminaram empatadas, seis vencidas pelo Oeste e apenas três pelo tricolor. Mesmo nas duas melhores campanhas do Paraná nesse período de rivalidade, em 2013 e 2017, o tricolor perdeu as duas partidas para os paulistas. Na série C, o tricolor saiu invicto com uma vitória e um empate. O detalhe é que o Oeste foi a única equipe que fez campeonato pior que o Paraná em 2021. Paraná e Oeste se enfrentam no próximo domingo, 17, às 16h na Arena Barueri.
Paraná, 15 a 21 de abril de 2022
Brasil de Fato PR
Quem quer a bola? Todos no ataque, todos na defesa. Futebol passa por uma das maiores revoluções táticas Frédi Vasconcelos
O
comentarista Paulo Vinícius Coelho comentou nesta semana, num dos programas esportivos do Grupo Globo, que há profissionais do futebol comparando o jogo atual com equipes de basquete da NBA ou times de handebol, em que todos os jogadores, com exceção dos goleiros, ficam numa pequena faixa do campo. Dos 105 metros que tem de cumprimento um campo padrão Fifa, os 20 jogadores ficam em concentrados em 20, 30 metros. Dá cerca de 1 jogador, ou pouco mais, por metro, o que explica a falta de espaço para fazer jogadas ou até respirar. Com essa “alta densidade populacional”, que vem se impondo também no futebol brasileiro, principalmente com a chegada de técnicos estrangeiros, times com jogadores mais técnicos ainda levam vantagem, mas o desnível é diminuído pela correria e o espaço reduzido. Esse é um dos motivos também porque equipes que numa partida têm a maior posse de bola nem sempre saem vitoriosas. Por exemplo, na quinta, 14, o Barcelona, em seu campo, teve 76% de tempo com a bola e mesmo assim caiu fora da disputa do título da Liga Europa ao perder para o alemão Eintracht Frankfurt por 3 a 2. No dia anterior, o Atlético Mineiro, um
dos elencos mais caros do Brasil, quase perdeu para o América MG, mesmo tendo 75% da posse de bola, 27 finalizações (4 do Coelho) e 640 passes trocados. O América concentrou seus jogadores todos na defesa e conseguiu, no contra-ataque, fazer um belo gol. Sem espaço, os jogadores do Galo fizeram mais de 50 cruzamentos para a área, que não deram em nada. Só conseguiu empatar no final da partida, com um gol irregular. Vitória de 8 a 1 Porém quando o desnível entre times é muito grande e a marcação não funciona, essa tendência pode se voltar contra o time menor. O Palmeiras, por exemplo, conseguiu nesta semana ganhar de 8 a 1 do Oriente Petrolero (Bolívia), com 4 gols de Rafael Navarro, numa das maiores goleadas da Libertadores na história. Uma clara exceção aos placares apertados do futebol jogado hoje em dia. Divulgação
ELAS POR ELA Fernanda Haag
Piratas do Carille Por Douglas Gasparin Arruda
Entre os nomes ventilados como possíveis para assumir o cargo de técnico do Furacão, que circulavam entre Sylvinho e Diego Aguirre, o de Fábio Carille certamente era o com mais experiência em títulos importantes. Além disso, outra questão importante: Carille sabe bem como armar um sistema defensivo eficaz, o que, neste momento, é o grande dilema do time. O nome não agrada parte da torcida, que esperava um técnico mais ofensivo. Mas, dentre as opções do mercado, acredito que a contratação de Carille foi acertada para o momento atual. O tempo perdido vai cobrar seu preço, sem dúvida. Nunca é bom para um técnico chegar diante de uma pressão dessas. E coragem não falta: Carille fez questão de comandar a equipe logo na chegada, pegando jogo importante de Libertadores contra o The Strongest.
Mais uma vez a história se repete O título desse texto pode parecer exagerado, mas não é a primeira vez – infelizmente, não será a última – que utilizo a coluna para trazer mais um caso de violência contra mulher no futebol. No último final de semana, no Campeonato Capixaba, a Desportiva Ferroviária enfrentava o Nova Venécia. No início do intervalo, houve confusão no meio de campo e o trio de arbitragem foi cercado por jogadores e membros da comissão técnica da Desportiva. Na discussão e após receber cartão amarelo, o treinador grená, Rafael Soriano, seguiu discutindo com a assistente Marcielly Neto. Em seguida deu uma cabeça-
da nela, o que foi registrado pela TV Educativa. Foi expulso na hora e não contente ainda exclamou: “Se você disser que eu te agredi, a gente vai para a delegacia. (...) Ela está dizendo que eu agredi. Mentira. Está se usando porque é mulher.” Uma frase dessa é oriunda da certeza da impunidade que muitos homens possuem ao praticar violência de gênero. É preciso mudanças estruturais no futebol para que cenas como essa não aconteçam. Mulheres têm o direito de ocuparem o esporte sem se preocuparem em serem violentadas! Marcielly registrou boletim de ocorrência e a Desportiva Ferroviária demitiu agressor.