Giorgia Prates
Esporte começa pela base
Divulgação
Esportes | p. 8
Ano 5
Edição 263
1 a 7 de julho de 2022
Obra política Mosaicista produz quadro em defesa de Renato Freitas
Brasil ainda não dá a devida importância à formação de atletas
PARANÁ
Cultura | p. 7
distribuição gratuita
www.brasildefatopr.com.br
Desespero eleitoral Pequena queda de combustíveis tira dinheiro da saúde e educação Brasil | p. 5 Giorgia Prates
Direitos | p. 4
Crime sem punição Comissão internacional julga morte de sem terra no Paraná Editorial | p. 2
Soberania sobre os próprios corpos Polêmicas recentes contra aborto não passaram de hipocrisia Brasil ||p. Artigo p.62
Orgulho LGBTQIA+ Informação, pluralidade e luta por direitos concretos são desafios
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Paraná, 1 a 7 de julho de 2022
Brasil de Fato PR
Não tem nada moral, é hipocrisia mesmo editorial
E
sta semana nos lembrou da frase de Simone de Beauvoir, de que “basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados.” Dois trágicos episódios comprovaram essa ideia. No primeiro caso, uma criança de 11 anos foi estuprada e obrigada a levar uma gestão até 29 semanas, por decisão arbitrária da juíza Joana Ribeiro Zimmer. No segundo, houve quebra do sigilo médico e exposição pública da atriz Klara Castanho, que também teve uma gravidez resultante de violência sexual e destinou a criança para adoção legal. O aborto é permitido no Brasil quando a gravidez é fruto de violência sexual ou põe em risco a saúde da mulher. E a doação para adoção foi feita de forma legalizada. Portanto, o que está em jogo nos dois casos não é a legalidade dos procedimentos. Também não se trata de uma questão moral, pois, mesmo não realizando o aborto, Klara Castanho foi vítima de seguidas violências médicas e exposta por uma mídia medíocre. As duas situações de abuso têm em comum o desrespeito ao direito das mulheres sobre seu próprio corpo. Defender o aborto como um direito fundamental das mulheres é urgente, em especial da classe trabalhadora, a que sofre as consequências. Bem como as garantias para que as mulheres determinem sua vida, com saúde, humanidade, respeito e soberania.
SEMANA
Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+: por um mundo inclusivo! opinião
Sandro Rodrigues
Diretor de Diversidade e Antirracismo do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região
O
Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, que tem sua comemoração em 28 de junho, é um dia relevante em que devemos fazer o debate por um mundo mais inclusivo e consciente. A data também diz sobre a importância do combate aos preconceitos contra a população LGBTQIA+ e todes que se identificam como lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, transgêneros, travestis, queer, questionando, curioso, intersexo, assexual, pansexual, polissexual, familiares e amigos, dois-espíritos, kink e demais orientações sexuais e identidades de gênero. Nossas bandeiras e símbolos
do movimento devem ser sempre lembrados, não somente no dia 28 de junho; devemos pautar a mídia e a política, principalmente neste governo que estamos vivendo no Brasil, que é homofóbico, lesbofóbico, transfóbico, racista, machista e fascista. É preciso fazer esse enfrentamento e promover o debate pela promoção do respeito e do empoderamento de indivíduos ainda hoje marginalizados e vulnerabilizados, seja por preconceito, estigma ou discriminação. A sigla diz respeito à inclusão de outras orientações sexuais, identidades e expressões de gênero, que devem estar sempre em nossas pautas fazendo contraponto a esse governo. Entendemos que para defender os direitos, a cidadania e a dignidade de todes é preciso informação
sobre a população LGBTQIA+, para que sigamos com os direitos assegurados via muitos embates políticos. Temos um compromisso ético de denunciar discriminações que excluem e perseguem, além da violência LGBTfóbica e a incitação ao ódio. Nossa luta é por direitos como saúde, união estável, casamento, família e adoção, mercado de trabalho, readequação de sexo e gênero, nome social a todos cidadãos(ãs), independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero. É também para viabilizar políticas públicas semelhantes aos corpos, com toda a sua pluralidade dos sujeitos envolvidos nas demandas, saindo de um colonialismo hierarquizante de direitos humanos no mundo. Leia o artigo completo no site do Brasil de Fato Paraná
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 263 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABOROU NESTA EDIÇÃO Sandro Rodrigues ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira, Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail. /bdfpr @brasildefatopr com REDES SOCIAIS
Brasil de Fato PR
Paraná, 1 a 7 de julho de 2022
Brasil de Fato PR Geral 3
FRASE DA SEMANA
Indústria é contra revogar reforma trabalhista O programa de desenvolvimento da CNI para as eleições de 2022 é contrário à revogação da Reforma Trabalhista. 21 propostas foram encaminhadas para os presidenciáveis. A que trata do mundo do trabalho é contrária a revogar medidas que reduziram direitos dos trabalhadores. O documento enaltece a redução das ações trabalhistas como um “avanço”. A reforma trouxe queda de 46% das ações trabalhistas no Brasil, no período de 2016 a 2020, segundo dados do TST. Os industriais ainda defendem: “outro fator que tem contribuído para o aumento da segurança jurídica no país é o fortalecimento da negociação coletiva. A nova lei trouxe mudanças que reduziram as possibilidades de interferência externa nas negociações coletivas”. A tese da CNI está em desacordo com a candidatura Lula. O petista disse que pretende rever a reforma, justamente porque enfraqueceu os trabalhadores e os sindicatos. Para o PT, a herança da Reforma Trabalhista são 32,5 milhões de empregos precários. “Esse é o resultado dos ataques aos direitos dos trabalhadores promovido pela reforma de Temer, que prometeu gerar 6 milhões de empregos, mas o que conseguiu foi aumentar o desemprego, a precarização do trabalho, a exploração sem limites do trabalhador”, diz Ari Aloraldo do Nascimento, da CUT.
“Bolsonaro ainda há de pagar por tudo que fez”
Política higienista
Disse a atriz Lucélia Santos ao comentar a condenação do presidente a pagar indenização à jornalista Patrícia Campos Mello por ofensa sexista. “É pouco, mas é alguma coisa”, complementou em seu Twitter.
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NOTAS BDF
Por Frédi Vasconcelos
Falta o Lula Na campanha sem disfarce que vem fazendo todos os dias, o presidente Jair Bolsonaro (PL) (foto) perguntou ao público que o ouvia na quinta-feira (30), em Campo Grande (MS), o que “falta para nós sermos felizes e aproveitarmos”? A resposta que ouviu de uma pessoa que estava presente foi: “O Lula voltar”. Isso no Centro-Oeste, uma das regiões em que Bolsonaro tem um de seus principais índices de votação.
Vai ter CPI? Sobre a CPI do MEC, Renan diz que ela deve sair e que o medo de Bolsonaro é a apuração de crimes que podem levar ele à cadeia depois do mandato. Afirma ainda que Bolsonaro liberou recursos do orçamento para tentar tirar assinatura do requerimentos, o que até agora não conseguiu, e está tentando judicializar o processo. Sobre a PEC eleitoreira, com benefícios a caminhoneiros e aumento do Auxílio Brasil, o senador acha que os efeitos serão diferentes do que Bolsonaro e Divulgação | PR seus auxiliares esperam.
Lira freguês Em entrevista à jornalista Cynara Menezes, na TV Fórum, o senador Renan Calheiros (MDB) disse que o presidente da Câmara Arthur Lira é muito afobado e “freguês” por perder diversas eleições em Alagoas. E que tem cumprido papel deletério na vida nacional, atrelado aos retrocessos do governo Bolsonaro, inclusive com riscos à própria eleição. Para exemplificar, Renan conta que seu pai afirmava que o bom político é “aquele que a gente ganha dele”, e esse seria o caso de Lira.
Sem despejos O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso prorrogou a suspensão de remoções forçadas no país até 31 de outubro deste ano. A medida foi oficializada na quinta-feira (30), e assegura que famílias ameaçadas de despejo possam permanecer em suas casas. Na decisão, Barroso lembrou que neste mês de junho houve nova tendência de alta na pandemia, com a média móvel de mortes chegando perto de 200 e o número de casos mais alto desde fevereiro.
Vídeo divulgado nas redes sociais do vereador cassado Renato Freitas (PT) mostra a Guarda Municipal de Curitiba pegando os pertences de três mulheres e dois homens em situação de rua e jogando em um caminhão de lixo no Bairro Boqueirão. As pessoas que gravaram declararam que estavam filmando para que a guarda não bata nessas pessoas. Um dos policiais então sugere que quem está preocupado com a situação dessas pessoas: “Leve para casa.”
Bolsonaro sabia Segundo denúncias publicadas pelo jornalista Valdo Cruz, do G1, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e a cúpula da Caixa Econômica Federal sabiam das denúncias de assédio sexual contra o presidente da instituição, Pedro Guimarães, antes dos depoimentos publicados no site Metrópole. Valdo diz que entre pessoas que circulam pelo Palácio do Planalto, o ex-presidente da Caixa era conhecido pelo apelido de “Pedro Maluco”.
Trabalho precário Estudo da B3 Social e a Fundação Arymax mostra que 32,5 milhões de brasileiros têm trabalhos precários depois da reforma trabalhista de Temer. Destes, 19,7 milhões sobrevivem de bicos que não garantem o necessário para suprir suas necessidades básicas. São os chamados informais de “subsistência”, que aceitam trabalhos de até dois salários mínimos (R$ 2.424).
Brasil de Fato PR 4 Direitos
Brasil de Fato PR
Paraná, 1 a 7 de julho de 2022
“Que nenhum trabalhador morra por defender direitos”, diz esposa de Antônio Tavares Agricultor foi assassinado pela PM em 2000. Caso está na Corte Interamericana dos Direitos Humanos
“VAGABUNDA”
Reprodução | Internet
Ana Carolina Caldas, com informações da Terra de Direitos
A
udiência realizada no final de junho pela Corte Interamericana dos Direitos Humanos, CIDH, tratou da acusação ao estado brasileiro pelo assassinato do trabalhador rural Antonio Tavares e as lesões sofridas por 185 integrantes do MST em repressão da Polícia Militar do Paraná contra marcha pela reforma agrária em 2 de maio de 2000, na Rodovia BR-227, em Campo Largo (PR). Uma testemunha que foi ferida e a esposa do agricultor morto foram ouvidas, além de representantes das organizações que defendem as vítimas e representantes do estado. Desde 2014, Terra de Direitos, Comissão Pastoral da Terra, Justiça Global, MST e Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (Renap) e o estado brasileiro iniciaram tratativas para buscar solução para o caso, todas frustradas. Como as possibilidades no sistema de justiça brasileiro acabaram, o caso foi levado à CIDH. Maria Sebastiana, viúva de Antônio Tavares, ao ser inquirida na au-
diência, reafirmou que ainda aguarda justiça. “É muito difícil, são 22 anos lutando por justiça, e agora ter que sair do meu país para reivindicar algo que é direito. Espero que nenhum trabalhador morra por defender direitos. Nenhuma outra família passe o que a gente passa até hoje”, disse na audiência. Sem ajuda do estado Ao ser questionada sobre o apoio desde a morte do marido, Sebastiana afirmou: “Nunca tivemos ajuda desde o início. O corpo foi trasladado com
a ajuda do deputado Dr. Rosinha, e depois sobre as investigações, eu só ficava sabendo pelos advogados do movimento. A gente teve um recurso que veio de uma ação movida na Justiça, e tivemos um salário mínimo para dividir por três filhos até os seus 25 anos. Agora, já não tem mais”, disse. Sebastiana também contou que as vidas dos seus filhos foram impactadas. “Foi muito difícil, não tem como descrever. Todos ficaram doentes, uns tiveram que parar de estudar para ajudar em casa, outra teve depressão”, relatou. Wellington Lenon
Reforma Agrária A advogada e militante do MST Joseane Kroslauz falou em nome do movimento dizendo que, além da reparação à família de Tavares e a outros militantes feridos, espera-se também reparação histórica com a efetivação da Reforma Agrária. Ao final da audiência, foi concedido prazo até 29 de julho para que as partes apresentem alegações finais por escrito, contendo também informações e detalhes que venham a ser solicitados pela corte.
Ato no local onde Antônio Tavares foi morto, em que existe monumento para lembrar o assassinato pela PM
A vida da agricultora Loreci Lisboa também foi impactada pela ação da PM. Como testemunha, relatou as agressões que sofreu no dia. “A primeira coisa que senti foi uma coronhada na cabeça, e tenho até hoje um buraco. Depois, tomei três tiros. Já estava deitada no chão, eles mandavam o cachorro morder e chamavam a gente de vagabunda”, disse. Loreci chegou a ficar meses sem poder andar, com uma filha pequena e contando com a ajuda da mãe para lhe dar banho, entre outras atividades. Ela, no dia, testemunhou a morte de Antônio Tavares. “Quando chegou certo momento, um policial estava com a arma na mão, e socando todo mundo. Quando a gente viu, saiu aquele tiro e logo depois o senhor Antônio Tavares caiu. A polícia continuou batendo mesmo com ele no chão”, finalizou.
IMPUNES Apesar das provas de autoria do disparo, o policial Joel de Lima foi absolvido na Justiça Militar. Após denúncia do Ministério Público, foi dado início a uma ação penal. No entanto, o Tribunal de Justiça pôs fim ao processo sob o fundamento de que o caso já havia sido arquivado pela Justiça Militar. A Procuradoria de Justiça não recorreu. Com isso, tanto o assassinato como a agressão a 185 pessoas permanecem impunes. Representantes do estado que participaram da audiência não negaram que o tiro e os ataques vieram por parte da polícia, porém afirmaram que toda ajuda necessária já foi prestada à família. No entanto, as organizações representantes das vítimas pedem que a Corte Interamericana condene o estado brasileiro.
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Paraná, 1 a 7 de julho de 2022
Preço do combustível cai pouco, mas ainda pesa no bolso de motoristas
Giorgia Prates
Queda é por conta da isenção de impostos, mas insuficiente se Petrobrás mantiver política de preços Gabriel Carriconde
N
ilton Cavalcanti, 54, motorista de aplicativo há mais de dois anos, resolveu, na época que as empresas de transporte individual de passageiros estavam chegando a Curitiba entrar no ramo que parecia promissor para complementar a renda, com liberdade e flexibilidade de horário. Contudo, com a piora da crise econômica, e o aumento do preço dos combustíveis, o que era para ser uma opção acabou virando uma das poucas garantias de renda. E um problema por conta do alto preço da gasolina. “Cheguei a tirar um bom dinheiro com o aplicativo em outros tempos, hoje com o valor da gasolina e a inflação tá ficando difícil”, analisa. Com o valor da gasolina ficando acima de 7 reais, por conta da dolarização dos preços promovida pela Petrobras, a realidade do motorista é a de milhões de brasileiros. Tentando, contudo, evitar novos aumentos em ano eleitoral, mas sem desagradar ao “mercado”, o governo Bolsonaro vem buscando
impulsionar uma agenda econômica de retirada de impostos federais vem pressionando os governadores dos estados para que zerem a alíquota do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o valor final do combustível. Com o corte do governo federal sobre os tributos nacionais, postos de gasolina vêm reduzindo os valores na bomba, com uma variação média saindo de 7,60 o litro para 6,83 reais, em alguns postos da cidade. Cavalcanti vê alguma luz no fim do túnel com a redução, mas ainda é pessimista em relação ao longo prazo. “É claro que ajuda, mas como tá tudo muito caro, o efeito acaba sendo menor do que poderia”, diz. Rosi Milani, 57 anos, também motorista de aplicativo cita que a queda de preços foi um alívio, mas pontua que ainda está longe do ideal. “Esse preço do combustível ajudou, eu cheguei a fazer 260 quilômetros com 100 reais, sendo que antes fazia 180 quilômetros com 100 reais, mas o ideal era fazer 300 quilômetros, porque nossos gastos não
se limitam ao combustível, mas já ajudou”, diz. Medida de curto prazo Para o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PR), Sandro Silva, a medida pode ser benéfica no curto prazo, mas sem que a Petrobras altere sua política de preços, nacionalizando os custos, os efeitos para a frente podem ser piores. “Essas medidas não resolvem o principal problema, que vincula o preço do mercado interno ao internacional. Essa redução de impostos federais e a limitação do ICMS acabam não resolvendo, porque o país continua à mercê do cenário internacional, ela ameniza em certo ponto, o ideal era o governo abandonar a atual política de preços’’, analisa. Para Silva, a lógica do governo Bolsonaro é privatizar o setor de energia, com a entrega de refinarias. Sobre a questão tributária, o economista alerta que o debate deve ser mais profundo. “Retirar o ICMS do combustível tem representação significativa para estados no financiamento da saúde e educação
17 bilhões No Paraná, a Assembleia Legislativa cancelou o tradicional recesso de julho, transferindo para setembro, para que a casa vote a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2023, e o corte do valor do ICMS no valor do combustível no Paraná. Para o deputado estadual Requião Filho (PT), a medida pode significar perda de recursos.
“O Paraná concede de forma sigilosa R$ 17 bilhões em renúncia fiscal, e, agora, diante da nova Lei Federal que trata dos ICMS sobre os combustíveis, o Estado perderá mais de 6 bilhões em seu orçamento”, afirma. Atualmente a alíquota de ICMS sobre a gasolina é de 29%. De acordo com o governador Ratinho Jr, o estado tende a seguir o governo Bolsonaro. “Nós vamos acompanhar a lei federal. A procuradoria, junto com a Secretaria da Fazenda, está fazendo agora todo o estudo jurídico, porque possivelmente a gente vai ter que apresentar uma lei na Assembleia Legislativa autorizando seguir a lei federal, mas isso já está apaziguado”, disse durante coletiva de imprensa.
de julho a 31 de dezembro – período que coincide com a campanha à reeleição. Só essa medida custaria cerca de R$ 30 bilhões. Essa proposta do governo já foi classificada como “mambembe”, improvisada e desesperada por economistas e integrantes de movimentos populares. Segundo fontes
ouvidas pelo Brasil de Fato, ela não garante a redução do combustível, já que não lida com a causa dos aumentos no Brasil: a política de preços praticada pela Petrobras. Sem contar que tira dinheiro da saúde e educação de estados e municípios para abastecer a tentativa de reeleição.
por exemplo. É claro que a carga tributária é elevada, mas não é a partir de uma canetada sem planejamento que vai resolver. Precisamos de um debate sobre a carga tributária, reduzindo sobre o consumo e aumentando sobre a renda, acabando com esse sistema regressivo, em uma discussão mais ampla’’, analisa.
Giorgia Prates
BOMBA ELEITORAL A queda de impostos federais sobre combustíveis e a redução do ICMS são verdadeiras bombas eleitorais. No caso do ICMS, além da queda atual, Bolsonaro defende que a cobrança do imposto seja suspensa até o final do ano exclusivamente sobre combustíveis e gás de 1º
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Brasil de Fato PR
Paraná, 1 a 7 de julho de 2022
Barbara Zem
“A saída para acabar com a fome é a reforma agrária e a agroecologia”, diz Stédile Com Lula eleito, ele deve investir em agricultura saudável e na reindustrialização Ana Carolina Caldas
P
ara o economista e dirigente nacional do Movimento Sem Terra (MST) João Pedro Stédile, a continuidade do capitalismo e os crimes do agronegócio são ameaças para a garantia do nosso futuro. Em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, ele destacou que, Lula sendo eleito, precisa focar no combate à desigualdade social e à fome, partindo dos modos de produção saudáveis, fazendo a reforma agrária e investindo na agroecologia. Ele foi um dos palestrantes da 9ª Jornada da Agroecologia, que aconteceu em junho em Curitiba. Confira a entrevista: Brasil de Fato - Quais as principais consequências do agronegócio para o Brasil atual? João Pedro Stédile - A crise capitalista e os crimes que o agronegócio está cometendo contra a natureza, com o uso intensivo de agrotóxicos que envenenam a terra, os alimentos, contaminam as águas, infelizmente, têm sido a prova que nos ajuda a conscientizar a sociedade de que esse modelo de produção agrícola baseado na grande propriedade e na produção das commodities é o responsável pela volta da fome, da falta de emprego e pela desigualdade social do nosso país. Porque ainda que eles produzam rique-
za, ela é concentrada nas mãos de poucos. Então, diante desse momento histórico, emerge com mais força que a grande saída para resolver o problema da fome é a reforma agrária e a agroecologia. Sistemas estes que produzem alimentos saudáveis para todo o povo brasileiro. Sabemos que o agronegócio tem aliança com o governo Bolsonaro, além de financiar candidaturas para o Congresso Nacional. Como se contrapor a esse movimento? Felizmente, é possível dizer que a burguesia brasileira está dividida: uma parte com Bolsonaro, outra parte queria a tal da terceira via e, outra parte significativa, está com Lula. Estou citando isso porque a burguesia brasileira também é a que controla o agronegócio. E eu espero que mais fazendeiros que estejam iludidos com o agronegócio se deem conta de que só produzir comArquivo MST
modities para o exterior e depender da importação de agrotóxicos é uma furada! O futuro é agroecológico e eles, os representantes do agronegócio, terão que readequar a sua agricultura, terão que defender a natureza porque vai faltar água... Espero que eles tenham consciência de futuro e apoiem também Lula, para que a gente construa um grande projeto nacional. Quais são os principais passos que um governo progressista deve tomar para mudar o modelo econômico vigente hoje? O que o Lula eleito deve fazer em janeiro de 2023 é seguir os dois mantras que ele mesmo diz que pensa todos os dias: combater a desigualdade social e resolver o problema da fome. Depois, é só abrir a porta para um novo caminho construído de forma coletiva a um novo projeto de país. De um lado, fazer a reindustrialização da nossa economia porque só fabricando os bens necessários para o povo é que vamos atender a suas necessidades, como gerar empregos, por exemplo. E, na agricultura, priorizar os investimentos para a produção de alimentos saudáveis que será mediante uma agricultura sadia e a transição que o agronegócio terá que fazer. Temos tudo para dar certo, porque o Brasil tem um grande território e biodiversidade e muita gente querendo trabalhar.
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Paraná, 1 a 7 de julho de 2022
Mosaicista produz quadros em homenagem a Moïse e em defesa de Renato Freitas Obra do artista equatoriano Javier Guerrero denuncia racismo
Brasil de Fato PR Cultura 7
Oficinas de música Começou na quinta-feira (30/6), a 39ª Oficina de Música de Curitiba, que vai espalhar pela cidade programação com 170 eventos, sendo 105 deles com entrada gratuita. Com o tema Centenário da Semana de Arte Moderna, a 39ª edição faz uma homenagem ao compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos e marca o retorno do público presencial.
Grandes shows Até o dia 10 de julho a cidade terá shows eruditos, de música antiga e popular, cinema, Oficina Verde, Festival de Inverno do Centro Histórico, Circuito Off em 21 bares e restaurantes e concertos para crianças em todas as regionais. Entre os grandes shows estão os de Renato Borghetti, Toquinho, Margareth Menezes, Maestro Spok, Danilo Caymmi e Cláudio Nucci. A Oficina também terá frevo, música erudita, instrumental e muito mais.
Pedro Carrano
E
pisódios recentes e marcantes do racismo estrutural brasileiro, que geraram resistência antirracista, contaram com intervenções artísticas do mosaicista equatoriano Javier Guerrero. Guerrero elaborou uma placa com o retrato do imigrante congolês Moïse Kabagambe, violentado e assassinato no quiosque Tropicália, no Rio de Janeiro, no dia 24 de janeiro. O trabalho chegou às mãos da família de Moïse. Já em 25 de junho, no marco da luta contra a cassação do vereador Renato Freitas (PT), em articulação com o mandato e com a Cúria Diocesana, Guerrero instalou uma placa na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e São Benedito. Ali foi o local do protesto, em fevereiro, contra o assassinato de Moïse, e a entrada dos manifestantes, no recinto depois da missa, que serviu de pretexto pelos vereadores para
o processo de cassação de Freitas. “Renato mostrou coerência na defesa da população negra, dos moradores de rua do centro e da periferia. Ele nos representa. Meus trabalhos são sofridos. Sofro porque me entrego totalmente. Pela primeira vez em 32 anos de Brasil me sentia representado na Câmara”, afirma Guerrero, emocionado. Visão social No caso da obra de Javier, o artista realiza a aliança da técnica com a visão social da arte, bem como faz o resgate do imaginário da esquerda, por meio de série de retratos de homens e mulheres revolucionárias de cada país da América Latina e Caribe. Nascido em Riobamba, ao sul do país, Guerrero participou da luta político-militar nos anos 80 no Equador. Foi preso e torturado. Na condição de exilado político, fixou-se em Curitiba nos anos 90. Sua obra retrata a história, as dores e
os
símbolos latino-americanos. Guerrero é dos poucos artistas plásticos no Brasil cuja produção responde à agenda da luta de classes e dos movimentos populares. Retomando a tradição do muralismo mexicano e nicaraguense, seus trabalhos são feitos ou expostos em locais públicos. Com isso, surgiram painéis, por exemplo, na época da solidariedade mundial com a Comuna de Oaxaca (México – 2006); mais tarde ele fez o painel do comunicador popular Anderson Leandro, brutalmente assassinado em 2012. Suas obras passaram também a denunciar a privatização da Petrobras e a fome, na época da prisão de Lula, em 2018. “A realidade me obriga a fazer isso (obras políticas), e não peixes e flores, por exemplo. García Márquez falava que queria o socialismo o quanto antes para poder escrever algo que não fossem apenas tragédias”, compara.
Formação Dividida nas áreas de música antiga, erudita e MPB acontecem entre 30 de junho e 10 de julho. Neste ano serão oferecidos 64 cursos ministrados por professores de destaque no atual cenário musical brasileiro e do mundo. Os cursos presenciais acontecem em 11 espaços culturais, a maioria deles no Centro e Setor Histórico. A programação completa pode conferida no site www.oficinademusica. curitiba.pr.gov.br.
Brasil de Fato PR 8 Esportes
Brasil de Fato PR
Paraná, 1 a 7 de julho de 2022
Juventude no esporte: o caminho está na base Infelizmente, ainda tem muita gente que enxerga esse investimento como “gasto” Luiz Ferreira, Redação BDF-RJ
Q
uem acompanhou as principais mesas de debate após o fatídico 7 a 1 na Copa do Mundo de 2014 ouviu muita gente falar de uma série de mudanças necessárias que precisavam ser feitas no futebol brasileiro. No entanto, foram poucos os que falaram no trabalho de base, na captação de atletas e na potencialização dos talentos que surgiam ainda novos em cada campinho de grama ou de terra espalhado por esse Brasilzão de meu Deus. Falou-se em mudanças de filosofia no alto rendimento, mas pouco se falou na fonte de talentos do velho e rude esporte bretão (que ainda é riquíssima). Não é preciso ser nenhum gênio para descobrir que as principais potências esportivas do planeta são o que são porque investem na base. Não se trata apenas de vencer competições Sub-15, Sub-17 ou Sub20, mas de entender que o esporte precisa fazer parte do desenvolvimento de qualquer ser humano. Ve-
jam Rebeca Andrade, por exemplo. A ginasta medalhista de ouro no salto sobre o cavalo nos Jogos Olímpicos de Tóquio foi descoberta num projeto social em Guarulhos, sua cidade natal. Isaquias Queiroz (medalhista de ouro na prova C-1000 da canoagem na mesma edição da Olimpíada) também foi descoberto cedo e teve o talento trabalhado até chegar onde chegou. As seleções masculina e feminina de vôlei possuem um trabalho forte na base e estão entre as
melhores do mundo há pelo menos vinte anos. E por aí vai… Voltando ao futebol, podemos falar da espanhola Alexia Putellas. A melhor jogadora do mundo na temporada passada esteve presente nas conquistas da Eurocopa Sub-17 em 2010 e 2011 e faz parte de quase todas as seleções de base. Como vocês estão vendo (e lendo), não é algo que demande resultados imediatos. Foram mais de dez anos de trabalho até que Putellas finalmente desponAdriano Fontes | CBF
Seleção Brasileira Feminina venceu o Campeonato Sul-Americano Sub-17 no mês de março
tasse como a grande jogadora que é. Só agora o Brasil está percebendo que investir na base e na juventude dá certo. A nossa Seleção Feminina foi campeã sul-americana Sub-17 e Sub-20 em 2022 e revelou grandes talentos para a modalidade. Não é difícil imaginar jogadoras como Dudinha, Jhonson, Aline Gomes, Yaya, Tarciane, Gabi Barbieri, Rafa Levis, Lauren e várias outras brilhando num futuro não muito distante nos gramados brasileiros e internacionais. O grande X da questão está em enxergar o investimento na juventude não apenas como uma maneira de se formar times fortes e de transformar o país em potência esportiva, mas de entender que isso é crucial na formação do cidadão, no cuidado com a saúde e na própria integração social das diferentes camadas da nossa sociedade. Infelizmente, ainda tem muita gente que enxerga esse investimento como “gasto” ou como “dinheiro jogado fora” por não entender (ou não querer entender) que o esporte salva vidas. Todas elas. Vivemos tempos sombrios e difíceis.
Duas vitórias ou o Sr. Kurtz
Neymar ou ninguém?
Tá em choque?
Por Cesar Caldas
Por Marcio Mittelbach
Por Douglas Gasparin Arruda
“O horror, o horror!”, últimas palavras pronunciadas pelo Sr. Kurtz constituem a clássica citação daquela que é a obra literária de ficção mais estudada das universidades inglesas de todos os tempos: O Coração das Trevas (1889), do polonês Joseph Konrad Korzeniowski e texto-base para o filme Apocalypse Now (1979), em que Marlon Brando interpreta Kurtz e diz a mesma coisa. Um estrangeiro bater Shakespeare em sua própria terra é uma façanha e tanto! O Coritiba, que já vinha flertando com a zona do rebaixamento, chegou às suas portas. Em 16º lugar, enfrenta nos dois próximos domingos o lanterna e o vice-lanterna da Série A – Fortaleza e Juventude. Não pode permitir que qualquer desses times ganhe um só ponto. É obrigação bater ambos, até porque os jogos serão na sua própria terra, o Alto da Glória. Isso, ou o horror do Armagedom estará instalado.
O tricolor viralizou em uma rede social nesta semana. Nela, o Paraná convida o craque Neymar para fazer parte do elenco. “Só não garanto titularidade”, dizia o texto da legenda. Na imagem está a montagem de um jogador do tricolor com a cabeça do Neymar, que vive um momento ruim no Paris Saint Germain. Ele que ganha 20 milhões de reais por mês. Brincadeiras à parte, o técnico do tricolor, Omar Feitosa, foi questionado na coletiva de imprensa da quinta, 30, sobre a contratação de reforços. Segundo ele, a possibilidade ainda existe, desde que seja um atleta acima da média e que chegue para ser titular. Feitosa defendeu seu ponto de vista dizendo que só se justifica contratar um jogador mediano quando o time vai mal das pernas. Na crise, o simples fato de ter uma novidade já ajuda no ambiente. Como não é o caso do Paraná, vamos seguir com o que temos!
O destaque do jogo desta terça pela Libertadores, contra a equipe do Libertad, não poderia ser outro: Vitor Roque. O jovem atacante de 17 anos fez sua estreia na competição e, com apenas 5 minutos em campo, fez seu primeiro gol. É visível que o garoto tem altíssimo potencial, e já demonstrou que não pipoca em jogo decisivo. Outro destaque da partida foi Terans. Vindo de uma sequência de jogos não muito boa, o uruguaio entrou em campo mostrando seu mais alto nível. Fez boas jogadas e deu dois passes incríveis para Vitor Roque, mas apenas um deles resultou em gol. Apesar do bom resultado, a verdade é que a equipe paraguaia é forte e está com um bom entrosamento. No jogo da volta, na terça, o Furacão vai precisar arrumar o sistema defensivo, que ainda está abrindo muitos espaços.