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Brasil de Fato PR
Paraná, 1 a 7 de julho de 2022
“Que nenhum trabalhador morra por defender direitos”, diz esposa de Antônio Tavares Agricultor foi assassinado pela PM em 2000. Caso está na Corte Interamericana dos Direitos Humanos
“VAGABUNDA”
Reprodução | Internet
Ana Carolina Caldas, com informações da Terra de Direitos
A
udiência realizada no final de junho pela Corte Interamericana dos Direitos Humanos, CIDH, tratou da acusação ao estado brasileiro pelo assassinato do trabalhador rural Antonio Tavares e as lesões sofridas por 185 integrantes do MST em repressão da Polícia Militar do Paraná contra marcha pela reforma agrária em 2 de maio de 2000, na Rodovia BR-227, em Campo Largo (PR). Uma testemunha que foi ferida e a esposa do agricultor morto foram ouvidas, além de representantes das organizações que defendem as vítimas e representantes do estado. Desde 2014, Terra de Direitos, Comissão Pastoral da Terra, Justiça Global, MST e Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (Renap) e o estado brasileiro iniciaram tratativas para buscar solução para o caso, todas frustradas. Como as possibilidades no sistema de justiça brasileiro acabaram, o caso foi levado à CIDH. Maria Sebastiana, viúva de Antônio Tavares, ao ser inquirida na au-
diência, reafirmou que ainda aguarda justiça. “É muito difícil, são 22 anos lutando por justiça, e agora ter que sair do meu país para reivindicar algo que é direito. Espero que nenhum trabalhador morra por defender direitos. Nenhuma outra família passe o que a gente passa até hoje”, disse na audiência. Sem ajuda do estado Ao ser questionada sobre o apoio desde a morte do marido, Sebastiana afirmou: “Nunca tivemos ajuda desde o início. O corpo foi trasladado com
a ajuda do deputado Dr. Rosinha, e depois sobre as investigações, eu só ficava sabendo pelos advogados do movimento. A gente teve um recurso que veio de uma ação movida na Justiça, e tivemos um salário mínimo para dividir por três filhos até os seus 25 anos. Agora, já não tem mais”, disse. Sebastiana também contou que as vidas dos seus filhos foram impactadas. “Foi muito difícil, não tem como descrever. Todos ficaram doentes, uns tiveram que parar de estudar para ajudar em casa, outra teve depressão”, relatou. Wellington Lenon
Reforma Agrária A advogada e militante do MST Joseane Kroslauz falou em nome do movimento dizendo que, além da reparação à família de Tavares e a outros militantes feridos, espera-se também reparação histórica com a efetivação da Reforma Agrária. Ao final da audiência, foi concedido prazo até 29 de julho para que as partes apresentem alegações finais por escrito, contendo também informações e detalhes que venham a ser solicitados pela corte.
Ato no local onde Antônio Tavares foi morto, em que existe monumento para lembrar o assassinato pela PM
A vida da agricultora Loreci Lisboa também foi impactada pela ação da PM. Como testemunha, relatou as agressões que sofreu no dia. “A primeira coisa que senti foi uma coronhada na cabeça, e tenho até hoje um buraco. Depois, tomei três tiros. Já estava deitada no chão, eles mandavam o cachorro morder e chamavam a gente de vagabunda”, disse. Loreci chegou a ficar meses sem poder andar, com uma filha pequena e contando com a ajuda da mãe para lhe dar banho, entre outras atividades. Ela, no dia, testemunhou a morte de Antônio Tavares. “Quando chegou certo momento, um policial estava com a arma na mão, e socando todo mundo. Quando a gente viu, saiu aquele tiro e logo depois o senhor Antônio Tavares caiu. A polícia continuou batendo mesmo com ele no chão”, finalizou.
IMPUNES Apesar das provas de autoria do disparo, o policial Joel de Lima foi absolvido na Justiça Militar. Após denúncia do Ministério Público, foi dado início a uma ação penal. No entanto, o Tribunal de Justiça pôs fim ao processo sob o fundamento de que o caso já havia sido arquivado pela Justiça Militar. A Procuradoria de Justiça não recorreu. Com isso, tanto o assassinato como a agressão a 185 pessoas permanecem impunes. Representantes do estado que participaram da audiência não negaram que o tiro e os ataques vieram por parte da polícia, porém afirmaram que toda ajuda necessária já foi prestada à família. No entanto, as organizações representantes das vítimas pedem que a Corte Interamericana condene o estado brasileiro.