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Terreiros no Paraná são alvo de atentados, líderes dizem ser crime de intolerância religiosa
Os casos aconteceram no bairro CIC, em Curitiba, e em Piraquara, na Região Metropolitana
Ana Carolina Caldas queimado. Ainda existe a entrada ali no barracão, onde tratamos das nossas almas, também foi destruído”.
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Duas casas de cultos de religiões de matriz africana foram alvo de atentados na sexta-feira (19/5) em Curitiba e na Região Metropolitana. Um deles foi contra a Casa Espiritual Sete Caminhos de Luz, na Cidade Industrial (CIC). O outro atingiu a Casa Terreiro de Umbanda Tia Maria, em Piraquara. Os líderes espirituais dessas casas afirmam que foram vítimas de crimes de racismo religioso. No entanto, a Polícia Civil e a Militar registraram as ocorrências como dano ao patrimônio.
Segundo o Pai Wilson de Ogum, da Casa Espiritual Sete Caminhos de Luz, na CIC, o espaço foi totalmente destruído. “Tem portões e portas com cadeados, mas tudo o que nós tínhamos ali dentro foi destruído, com altar dos santos, o canto dos orixás, a parte dos atabaques e até os bancos, foram todos queimados. Temos cortinas que separam os espaços e foi tudo
Wilson afirma que o suspeito de cometer o crime foi preso, mas após assinar o termo circunstanciado foi solto. “A pessoa entrou ciente do que estava fazendo. Tudo o que tínhamos ali foi destruído. Ele nos destruiu, mas não chegou a abalar a nossa fé. O que a gente quer é que ele pague o crime de racismo religioso”, diz.
Já na Casa de Terreiro de Umbanda Tia Maria, em Piraquara, a agressão aconteceu durante a ritualística. “Nosso terreiro foi apedrejado durante a ritualística no dia 19 de maio. Assim que começou a gira, nós escutamos alguns barulhos de pedras sendo jogadas no exaustor externo da casa, além de ouvirmos em cima do telhado. Algumas pedras chegaram a acertar minha perna. Isso foi lá por 20h”, conta a Mãe Adriana de Iansã.
Adriana diz que a agressão faz parte de violência institucional con- tra as religiões de matriz africana. “Foi apavorante. Como se não bastassem as tensões impostas pelas estruturas sociais, em que se chegou ao imaginário de que os terreiros podem ser atacados. Cada vez mais parece importante que a gente reconheça que esse mal que nos aflige não é tão pequeno, é institucional. Não é uma pessoa isolada, são estruturas históricas que legitimam essas agressões”, comenta.
Crime de racismo religioso
Carolina Crozeta, advogada que acompanha os casos, disse que para o terreiro da CIC foi feito boletim de ocorrência na Polícia Militar. A PM foi até o local, identificou a autoria, fez um termo circunstanciado e a pessoa foi solta. Em Piraquara, o boletim de ocorrência foi na Polícia Civil, que colocou o caso em investigação.
“O crime cometido nas duas casas foi o de intolerância religiosa e eu até prefiro chamar de racismo religioso, porque a religião de matriz africana não sofre esses ataques por ser uma religião de minorias, mas sim por ser uma religião de gente preta. Segundo informou a advogada, a PM disse a ela que não poderia registrar como crime de racismo religioso porque só podem fazer o que foi averiguado no local, que na visão deles é crime contra patrimônio. “Uma coisa muito importante que temos que ver nesses casos é que enquanto não fizer doer nos bolsos dessa gente que pratica este tipo de crime, isso nunca vai parar,” comenta Carolina.