Brasil de Fato PR - Edição 302

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Esportes | p. 8

SAF do Coxa vem aí

Entenda algumas das principais dúvidas dos torcedores

Cultura | p. 7

O Hip Hop do Paraná

Mano Cappu, Siamese (foto) e DJ Dani Black contam como driblam adversidades para fazer sua arte

PARANÁ Ano 7 Edição 302 25 a 31 de maio de 2023 distribuição gratuita www.brasildefatopr.com.br

Investimento público em risco

Nova regra fiscal recebe críticas da esquerda Brasil | p. 5

Paraná | p. 4

Risco para os bebês

Falta de pediatras gera problemas na saúde de Curitiba

Opinião | p. 2

Repercussão mundial

Racismo contra Vini Jr gera indignação contra liga espanhola

Editorial | p. 2

Lutas urgentes

Direitos econômicos e pauta antirracista marcam a semana

Reprodução
Fotos: Giorgia Prates Giorgia Prates Divulgação

Da luta antirracista aos direitos do povo

Os assuntos desta edição 302 do Brasil de Fato Paraná, contendo os principais fatos da semana, resumem os desafios da classe trabalhadora, no Brasil e no mundo.

Na chamada política econômica, no Brasil, a aprovação da nova regra fiscal, na Câmara dos Deputados, traz evidentes preo-

cupações. A proposta é melhor que o Teto dos Gastos, que congelou investimentos públicos nos governos Temer e Bolsonaro.

Porém, analistas consideram que, com tantas questões sociais urgentes, a atual proposta contém limites gritantes do ponto de vista das necessidades do povo e da capacidade de

o Estado investir no que é necessário e urgente. No principal fato da semana, com repercussão mundial, mais um episódio de ataque racista de torcedores espanhois contra o jogador negro Vinícius Jr. reforça a necessidade de, tanto lá como no Brasil, haver punição aos racistas. Racismo é crime. O peso colonial, a ma-

nutenção da estrutura racista e, nos últimos anos, o avanço da extrema-direita, na América Latina e no mundo reforçam a urgência de a estratégia antirracista estar presente entre os movimentos populares e partidos de esquerda. E aponta que teremos lutas e enfrentamentos duros pela frente: Racistas e fascistas, não passarão!

EXPEDIENTE

Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 302 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM

Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini

COLABORA NESTA

EDIÇÃO Juliana Mittelbach

ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires

REVISÃO Lea Okseanberg

ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin

DISTRIBUIÇÃO Juliana Santos

DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes

CONSELHO OPERATIVO

Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com

REDES SOCIAIS /bdfpr @brasildefatopr

A violência racista vem do opressor, que ainda tenta acusar a vítima

opinião

Juliana Mittelbach

Feminista negra, enfermeira no Hospital de Clínicas UFPR, mestranda em Saúde Coletiva e vice-presidente do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial

“Não confunda a reação do oprimido com a violência do opressor”

Malcolm X

Asociedade continua esperando que nossa reação a ataques racistas seja dócil e tranquila. Boa parte dos não negros espera que nós pacientemente eduquemos os nossos agressores explicando por que

sua atitude foi racista e como não mais agir assim.

Questionam nossa humanidade ao nos comparar com animais, ferem nossa essência e de nossa ancestralidade, agem como se isso fosse aceitável em determinados contextos e esperam de nós passividade na resposta. Já nos livramos dos grilhões da escravização. Nossos ancestrais não aceitaram, e nós também não aceitamos e nem aceitaremos, ser açoitados sem reagir.

O fato posto é que se não reagimos com tranquilidade somos punidos antes mesmo do agressor. No futebol quando atletas negros se exaltam

diante de ofensas racistas que sofrem são expulsos e por vezes acusados de incitar a torcida adversária.

Na política cassam nossos mandatos e nos acusam de falta de decoro por lutar na defesa de vidas negras. Nas ruas somos julgados como suspeitos, somos seguidos por seguranças e se denunciamos somos nós os encrenqueiros enquanto eles só faziam seu trabalho. Para as forças de segurança, qualquer movimento é entendido como resistência à abordagem, qualquer objeto pode ser confundido com arma, qualquer palavra dita pode ser desacato e assim somos ceifados.

Tenho acompanhado a forma desastrosa como a Primera División da Liga de Fútbol Profesional da Espanha, conhecida como LaLiga, tem conduzido as ações referentes aos crimes de racismo praticados contra o jogador brasileiro Vinícius Jr. Quando reiteradamente são desferidos ataques racistas contra um atleta e a organização do campeonato não adota medidas efetivas para coibir essa prática está, sim, sendo conivente. Chama-se racismo institucional.

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2 Opinião
SEMANA
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editorial
Aroeira

Novos gestores

Na sexta (19), foi a posse dos novos gestores no Paraná do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra-PR) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Assumiram os cargos Leila Klenk no MDA, Nilton Bezerra Guedes no Incra-PR e Valmor Luiz Bordin na Conab.

Acabar com a fome

"Vamos ajudar a alcançar o objetivo do governo Lula de acabar com a fome no Brasil, vamos trabalhar para superar a pobreza no campo. A agricultura familiar é responsável pelo que comemos no dia a dia, mas não recebe ainda o apoio de que precisa. Vamos pensar juntos em sistemas de produção que sejam sustentáveis. Temos a clareza de que a alimentação do povo vem e virá das mãos camponesas da agricultura familiar", afirmou Leila Klenk.

“Queremos estar junto dos assentados para uma administração mais eficiente, levando créditos, títulos, infraestrutura e o que mais precisar para o desenvolvimento”, disse Nilton Guedes, do Incra. “Outra prioridade será a regularização de posseiros. Também daremos destaque à política quilombola, com a regularização fundiária dos territórios. Faremos um trabalho ostensivo para emitir títulos a esses agricultores e teremos grandes agendas pela frente”, ressaltou.

Disse o jogador Vinícius Junior em seu Twitter após enfrentar gritos racistas em jogo do campeonato espanhol. Além da ação criminosa de que foi vítima, Vinícius ainda foi expulso da partida por “agressão”. Após a repercussão do caso, o cartão vermelho foi “retirado” pela Federação Espanhola.

JOGO DO PODER

Por Frédi Vasconcelos

A dama pediu saques

Mensagens encontradas no celular do ex-faz-tudo de Bolsonaro, o tenente coronel Mauro Cid, preso por adulterar documentos de vacina, mostram como eram pedidos e feitos depósitos em dinheiro na conta da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Duas assessoras dela mandavam mensagens por WhatsApp e em seguida os depósitos ocorriam. As assessoras chamavam a esposa de Bolsonaro nos pedidos de "dama" ou pela sigla "PD" [primeira-dama].

CPI anti-MST

Na CPI anti-MST dominada pela extrema-direita e pelos bolsonaristas na Câmara, os primeiros requerimentos mostram por que foi instalada. Há pedidos para que sejam ouvidos dois ex-integrantes do MST no Distrito Federal. A última edição da Feira Nacional da Reforma Agrária também entrou na mira. Há ainda pedidos para que o secretário de segurança pública de São Paulo fale sobre ações do MST no estado.

Simulador de escravidão Treze comprovantes

Nas primeiras análises da PF foram encontrados 13 comprovantes de depósitos em dinheiro na conta de Michelle entre março e agosto de 2021. “A investigação agora analisa as quebras de sigilo bancário para identi car as transações entre 2019 e 2022, durante toda a gestão de Bolsonaro”, ressalta reportagem do jornalista Aguirre Talento, no Portal UOL. Ele destaca que as assessoras também pediam depósitos mensais para Rosimary Carneiro, titular do cartão de crédito usado por Michelle.

Reprodução | RedesSociais

Um jogo eletrônico com o tema de "proprietário de escravos" estava disponível no Google Play até o início da tarde da quarta-feira (24). Nele, os jogadores são incentivados a obter "lucro" e contratar guardas para evitar rebeliões. Além disso, há uma opção para explorar sexualmente as pessoas colocadas sob seu poder no mundo virtual. O “jogo” só foi retirado após denúncias em redes sociais.

Mais Médicos no Paraná terá 327 profissionais

Com 5.970 vagas distribuídas em 1.994 municípios no Brasil, o Ministério da Saúde abriu edital para a retomada do Programa Mais Médicos.

Após ser encerrado no governo Bolsonaro, o novo modelo dá prioridade aos pro ssionais brasileiros. O Paraná terá direito até a 327 pro ssionais.

De acordo com o governo, além dos médicos brasileiros registrados no Brasil, que terão prioridade na seleção, também poderão participar brasileiros formados no exterior ou estrangeiros, que continuarão atuando com Registro do Ministério da Saúde (RMS) em vagas não ocupadas por médicos com registro no país.

No novo modelo, os pro ssionais também passarão a receber incentivos, proporcional ao valor da bolsa, pela permanência no programa e para atuarem em regiões de vulnerabilidade. Os médicos alocados nessas regiões, ao permanecerem por 48 meses no programa, poderão receber incentivo de R$ 120 mil – equivalente a 20% do total recebido no período.

Segundo o deputado estadual e presidente do PT Arilson Chiorato, essa é mais uma marca do novo governo. “A Saúde voltou a ser prioridade no nosso país”, destacou.

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FRASE DA SEMANA
“Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga.”
Geral 3
Reprodução | Twitter Secom Goiás

Falta de pediatras em Curitiba afeta atendimento a recém-nascidos

Denúncia do Sindicato dos Médicos do Paraná é contestada pela Prefeitura

OSindicato dos Médicos do Paraná (Simepar) vem denunciando que a Prefeitura de Curitiba está repassando consultas de recém-nascidos, que deveriam ser feitas por pediatras, para médicos generalistas. Contrariando o Protocolo de Saúde da Criança, publicado no começo de abril deste ano, que está disponível no Portal da Prefeitura. Por esse documento, a primeira consulta de todos os recém-nascidos na atenção primária deveria ser feita por um pediatra. Só a partir da segunda consulta, se não houver fatores de riscos para a criança, os atendimentos poderiam ser feitos por clínicos gerais.

Porém, no final do mês de abril, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) publicou novo protocolo com uma tabela para agendamento das consultas de puericultura que desobriga que algumas consultas sejam feitas por pediatras e também autoriza que sejam feitas por profissionais de enfermagem. Na tabela para as crianças “NÃO RISCO”, em nenhum momento da puericultura há exigência de consultas com médicos, muito menos pediatras. Em todos as fases da consulta, segundo esse novo protocolo, pode ser feita por qualquer profissional da saúde. Para as crianças classificadas como “RISCO”, segundo a tabela, há exigência de consultas com pediatras aos 3, 6, 12 e 24 meses. As demais consultas podem ser com médico ou profissional da enfermagem.

FALTA DE PEDIATRAS

Segundo o Simepar, por falta de especialistas muitas consultas vêm sendo realizadas sem os pediatras. Para a secretária-geral do sindicato, a médica Claudia Paola Carrasco, a Prefeitura vem demonstrando total desinteresse com a falta desses pro ssionais. “Nossa preocupação é que as crianças acabem nunca passando pelo pediatra. Curitiba não é um município pobre, já teve um atendimento de pediatria de qualidade, e a gente se preocupa com esse novo protocolo em que as crianças fora de grupos de risco não terão atendimento pediátrico”, diz.

“A gente tem percebido aumento de

mortalidade infantil, e a Prefeitura não demonstra interesse em colocar pediatras nas unidades. E estes profissionais têm saído da rede pública porque estão sobrecarregados e as vagas não estão sendo repostas. Além do reforço na contratação, é necessário que os profissionais recebam salário compatível e tenham bom ambiente de trabalho para evitar a rotatividade, afirma Claudia. Na opinião do pediatra Ademir da Silva Jr, a situação atual é muito grave. “Com todo o respeito que temos aos enfermeiros, as consultas não podem ser feitas por eles. A população, inclusive, vem sendo enganada, pensando que

O QUE DIZ A PREFEITURA

Em nota ao Brasil de Fato Paraná, a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde informou que “segue o que preconiza a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) do Ministério da Saúde, que de ne as diretrizes e normas do funcionamento da atenção nas unidades de saúde. Assim, na chamada Atenção Básica, o atendimento médico é feito prioritariamente por generalista ou médico da família, sendo o especialista acionado quando constatada a necessidade especí ca de acompanhamento. Ainda que a PNAB não determine a lotação de médico especialista pediatra na unidade de saúde, Curitiba conta com estes profissionais na Atenção Básica. Nas unidades de saúde da cidade, as crianças recebem atendimento multiprofissional, com profissionais de enfermagem, médicos da família, clínicos e pediatras. A partir das avaliações de risco e vulnerabilidade das crianças, a equipe multiprofissional faz um plano de cuidado personalizado para cada criança, que inclui as agendas de atendimentos e consultas com cada profissional. Este plano é dinâmico e, caso a criança apresente variações da condição de saúde, o planejamento é atualizado...”

Leia na íntegra em brasildefatopr.com.br

os enfermeiros são médicos. O atendimento é bem distinto. Isso é muito grave”, diz. “A falta de médicos tem a ver também com alta rotatividade. Somos uma localidade quem tem muitos médicos, mas há grande número de pedidos de demissão porque a gestão transforma o trabalho num ambiente doente e sobrecarregado”, afirma.

O Simepar encaminhou ofício para a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba pedindo esclarecimentos e reforçando que médicos não são obrigados a realizarem essas consultas, salvo em caso de urgência e emergência, em que não houver pediatra no local.

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4 Paraná
Maurilio Cheli | SMCS

Câmara aprova projeto do governo federal que limita gastos

Medida é melhor que teto de gastos, mas mantém lógica de conter investimentos do Estado para pagar juros da dívida

Oprojeto que limita gastos do governo federal, chamado de Novo Arcabouço Fiscal (NAF), teve seu texto-base aprovado na Câmara dos Deputados por 372 votos, vitória da articulação política do governo Lula. A ideia é que a medida substitua o teto de gastos, criado pelo governo de Michel Temer, que impedia qualquer crescimento das despesas, só autorizando o repasse da inflação por décadas.

A nova regra permite que, caso as metas propostas pelo governo de arrecadação e despesas sejam cumpridas, os investimentos possam subir até 2,5% ao ano além da inflação. Caso não sejam cumpridas, o investimento terá de ser menor. O relator da medida na Câmara, Cláudio Cajado (PP), ainda acrescentou ao texto original penalidades, em caso de não conter as despesas, como a proibição de novos concursos públicos.

Esquerda critica NAF A ideia da medida, embora seja mais flexível que o teto, é priorizar o pagamento de juros e conter o aumento da dívida pública. Esse é um dos motivos por que partidos aliados do PT, como o Psol, votaram contra o NAF, que teve apoio de partidos de direita e de deputados bolsonaristas.

As diferentes organizações e analistas de esquerda são críticos à nova regra fiscal. No geral, reconhecem a necessidade de uma regra fiscal, admitem que a herança neoliberal dos governos Temer e Bolsonaro é pesada.

Porém, apontam a tendência do atual projeto de limite da despesa pública, o que será um problema para alavancar a economia. Parlamentares como Carol Dartora (PT-PR) votaram favoravelmente, como era esperado, na condição de base do governo. Mas fizeram nota pública contra alguns pontos do projeto. Leia a seguir opiniões sobre o texto aprovado, que terá ainda votação de destaques na Câmara e, depois, análise do Senado.

Estado tende a car menor

“O Teto de Gastos foi criado para garantir que os recursos públicos fossem drenados para o setor financeiro. Um dos antepassados é a afamada Lei de Responsabilidade Fiscal dos governos tucanos. Portanto, a primeira coisa que precisa ficar explícita: regra fiscal, nesse mundo neoliberal, não é um instrumento para garantir que os governos gastem bem. Regra fiscal, nesse mundo neoliberal, tampouco é um instrumento para impedir que os governos gastem mais do que arrecadam. Essa regra fiscal, em época de neoliberalismo,

Lutar por novos parâmetros

“O arcabouço fiscal é uma regra fiscal confinada aos limites do modelo neoliberal. Uma proposta muito mais avançada exige um enfrentamento ao próprio modelo, o que não parece estar na ordem do dia. A ameaça neofascista impôs uma frente ampla que congrega não só setores neodesenvolvimentistas (que não pretendem romper com o modelo neoliberal, mas atenuá-lo) mas também alguns setores neoliberais ortodoxos que têm maiores contradições com o bolsonarismo. Os trabalhadores seguem na defensiva e sem condições de apresentar um programa alternativo, que aponte para o rompimento com o modelo neoliberal. Devemos lutar para que o arcabouço fiscal tenha parâmetros menos restritivos ao investimento público, permitindo que o Estado atue como indutor do crescimento econômico e alongando a trajetória de convergência da dívida pública”, aponta Pedro Mattos, da direção nacional da Consulta Popular.

Punições draconianas

“Consideramos que o relatório do Cajado agravou sobremaneira as normas de contratação de gastos públicos, limitando fortemente a capacidade do Estado de fazer justiça social e comandar um novo ciclo de desenvolvimento. Se já eram preocupantes os limitantes originais para o crescimento de despesas primárias, determinados por um teto de 2,5% na evolução anual, acima da inflação, novas travas adotadas, como os chamados gatilhos, tornam o cenário ainda mais perigoso. Mesmo que sejam superadas as metas de resultados primários, apenas 70% do eventual saldo excedente poderá ser liberado como investimentos. No entanto, caso essas metas não sejam alcançadas, além do crescimento dos gastos cair para 50% de expansão das receitas, as demais punições previstas são draconianas, com evidentes reflexos negativos sobre os serviços públicos, como a proibição de realização de concursos e o congelamento do salário do funcionalismo”, afirma Carol Dartora, deputada federal (PT – PR). tem outro objetivo: garantir que uma parte do recurso arrecadado, sob a forma de impostos, sirva para alimentar o setor financeiro. A primeira pergunta é a seguinte: Precisava de uma regra fiscal nova? Sim, precisava. Senão, o teto de gastos continuaria em vigência. (…) Uma segunda pergunta é: a regra fiscal proposta pelo Ministério da Fazenda era boa? É melhor que o Teto de Gastos, mas está longe de ser algo bom. Lá se estabelece que temos que ter déficit zero e superávit primário nos próximos anos. Eu pergunto: isso em um país

devastado deveria ser uma meta? Lá também está dito que o crescimento das despesas sempre será menor (70%) que o crescimento da arrecadação das receitas. É justo isso em um país que precisa desesperadamente de investimento em serviço público? No longo prazo, essa regra leva à redução do tamanho do Estado na economia. E um país como o Brasil precisa de menos ou mais investimento do Estado? Menos ou mais serviços públicos?”, Valter Pomar, integrante da direção nacional do Partido dos Trabalhadores (PT).

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Lula Marques | EBC Pedro Carrano e Frédi Vasconcelos Divulgação

Terreiros no Paraná são alvo de atentados, líderes dizem ser crime de intolerância religiosa

Os casos aconteceram no bairro CIC, em Curitiba, e em Piraquara, na Região Metropolitana

Ana Carolina Caldas queimado. Ainda existe a entrada ali no barracão, onde tratamos das nossas almas, também foi destruído”.

Duas casas de cultos de religiões de matriz africana foram alvo de atentados na sexta-feira (19/5) em Curitiba e na Região Metropolitana. Um deles foi contra a Casa Espiritual Sete Caminhos de Luz, na Cidade Industrial (CIC). O outro atingiu a Casa Terreiro de Umbanda Tia Maria, em Piraquara. Os líderes espirituais dessas casas afirmam que foram vítimas de crimes de racismo religioso. No entanto, a Polícia Civil e a Militar registraram as ocorrências como dano ao patrimônio.

Segundo o Pai Wilson de Ogum, da Casa Espiritual Sete Caminhos de Luz, na CIC, o espaço foi totalmente destruído. “Tem portões e portas com cadeados, mas tudo o que nós tínhamos ali dentro foi destruído, com altar dos santos, o canto dos orixás, a parte dos atabaques e até os bancos, foram todos queimados. Temos cortinas que separam os espaços e foi tudo

Wilson afirma que o suspeito de cometer o crime foi preso, mas após assinar o termo circunstanciado foi solto. “A pessoa entrou ciente do que estava fazendo. Tudo o que tínhamos ali foi destruído. Ele nos destruiu, mas não chegou a abalar a nossa fé. O que a gente quer é que ele pague o crime de racismo religioso”, diz.

Já na Casa de Terreiro de Umbanda Tia Maria, em Piraquara, a agressão aconteceu durante a ritualística. “Nosso terreiro foi apedrejado durante a ritualística no dia 19 de maio. Assim que começou a gira, nós escutamos alguns barulhos de pedras sendo jogadas no exaustor externo da casa, além de ouvirmos em cima do telhado. Algumas pedras chegaram a acertar minha perna. Isso foi lá por 20h”, conta a Mãe Adriana de Iansã.

Adriana diz que a agressão faz parte de violência institucional con-

tra as religiões de matriz africana. “Foi apavorante. Como se não bastassem as tensões impostas pelas estruturas sociais, em que se chegou ao imaginário de que os terreiros podem ser atacados. Cada vez mais

parece importante que a gente reconheça que esse mal que nos aflige não é tão pequeno, é institucional. Não é uma pessoa isolada, são estruturas históricas que legitimam essas agressões”, comenta.

Crime de racismo religioso

Carolina Crozeta, advogada que acompanha os casos, disse que para o terreiro da CIC foi feito boletim de ocorrência na Polícia Militar. A PM foi até o local, identificou a autoria, fez um termo circunstanciado e a pessoa foi solta. Em Piraquara, o boletim de ocorrência foi na Polícia Civil, que colocou o caso em investigação.

“O crime cometido nas duas casas foi o de intolerância religiosa e eu até prefiro chamar de racismo religioso, porque a religião de matriz africana não sofre esses

ataques por ser uma religião de minorias, mas sim por ser uma religião de gente preta. Segundo informou a advogada, a PM disse a ela que não poderia registrar como crime de racismo religioso porque só podem fazer o que foi averiguado no local, que na visão deles é crime contra patrimônio. “Uma coisa muito importante que temos que ver nesses casos é que enquanto não fizer doer nos bolsos dessa gente que pratica este tipo de crime, isso nunca vai parar,” comenta Carolina.

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Acima, Casa de Terreiro de Umbanda Tia Maria, em Piraquara e Casa Espiritual Sete Caminhos de Luz, na CIC, abaixo

O Rap é uma denúncia, o Hip Hop é um agente de mudança, diz Mano Cappu

Rappers falam sobre a importância do Rap e do Hip Hop nas periferias

Do chão de terra vermelha das periferias de Curitiba, um adolescente no início dos anos 2000 descobriu que poderia sonhar ao ouvir rimas de Rap de grupos locais. Assim, Mano Cappu descreve o início da sua carreira, aos 15 anos. Cria da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), ele fala que encontrou na cultura Hip Hop um meio para burlar o destino que o sistema capitalista programou para jovens negros e periféricos como ele.

“Na escola eu era ensinado a fazer

Realidade do corpo preto e LGBT

Vinda do interior do Paraná para Curitiba, a multiartista Siamese também fez do Hip Hop o palco para dar visibilidade à própria existência. “Ver batalhas e shows de MC’s, principalmente as mulheres, me prendia e instigava e me inspirava a falar questões que me atravessam também. O Hip Hop nasce para trazer a realidade de muitas minorias, e eu me via fazendo música que fala da realidade do meu corpo preto e LGBTQIAPNB+”, conta.

Ser uma forma de expres-

um curso de mecânica básica. [Diziam] você vai trabalhar na Bosch, na New Holland. Mas eu queria fazer arte, fazer música, romper com esse estigma. Nós não somos chamados para ser liderança dentro de uma fábrica, a gente é chamado para arrastar bota”, afirma.

O rapper, que se diz um “caçador de palavras”, encontrou nas rimas uma forma de “escancarar a realidade na cara da sociedade”. “Estamos denunciando as mazelas que o poder público deixou na periferia. O Rap é uma denúncia, o Hip Hop é um agente de mudança”, relata Mano Cappu.

são de pessoas colocadas à margem da sociedade está na origem da cultura Hip Hop, que nasceu na década de 1970, no Bronx, em Nova Iorque (EUA), um bairro majoritariamente negro e hispânico na época. Suas primeiras manifestações no Brasil foram na década de 1980, na periferia de São Paulo.

No Paraná, o dia a dia de artistas do Hip Hop esbarra no racismo de um estado que preza por celebrar a cultura branca europeia. “Fazer Rap no Paraná, trabalhar

com a cultura Hip Hop, é bem difícil, a gente acaba esbarrando no racismo mesmo. [Sofremos] várias represálias de instituições, da Polícia Militar, da Guarda Municipal. Às vezes a gente está fazendo um rolê de rap, batalha de rima na rua e tem que parar o som porque os caras já chegam na violência, na brutalidade, sendo que a gente só está ocupando um espaço e produzindo cultura”, diz a DJ Dani Black, que atua no coletivo A Máfia, em Londrina, formado por cinco mulheres negras.

Falta de incentivo O racismo também se reflete na falta de incentivo e políticas públicas de fomento às manifestações do Hip Hop. “O racismo é algo estrutural e está enraizado na nossa sociedade, e aqui em Curitiba e no setor Cultural não é diferente. Para além da representatividade, precisamos ser remuneradas com equidade. Eu não vejo a gente sendo contemplada nos palcos de grandes festivais da cidade”, critica Siamese.

Para tentar mudar essa realidade, Mano Cappu con-

DICAS MASTIGADAS | Tortinha de grão-de-bico

Na segunda-feira (22/5), foi aprovado, em primeiro turno, na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), projeto que eleva as batalhas culturais de rima à categoria de patrimônio cultural imaterial no Paraná. O projeto é assinado pela deputada Ana Júlia (PT) e define que o Poder Executivo Estadual poderá incentivar políticas públicas voltadas à difusão das batalhas de rima e realizar eventos para divulgar a cultura Hip Hop. O incentivo poderá ser via editais públicos e outros procedimentos licitatórios, destinação de recursos próprios para esta finalidade, realização de eventos, bem como quaisquer outros meios.

ta que há uma movimentação junto a parlamentares progressistas para pressionar pela criação de uma política afirmativa voltada especificamente para o Hip Hop. Como exemplo do descaso, ele conta que nunca um projeto de Rap foi aprovado em edital de fomento da Fundação Cultural de Curitiba. “Eu queria que mostrassem quem são os curadores, quantas pessoas pretas, quantas mulheres, quantas pessoas LGBTs estão nessa curadoria. A gente esbarra no sistema, o edital não é inclusivo”, pontua.

A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br

Ingredientes

Para a massa:

1 xícara de 250 ml. de grão-de-bico cozido e amassado com casca

4 colheres de sopa de farinha de linhaça

2 colheres de sopa de azeite

1 colher de chá de sal

Para o recheio:

Vegetais que tiver na sua geladeira, brócolis, couve-flor, cenoura, pimentão e cebola.

Modo de Preparo

Deixe o grão-de-bico de molho na água durante 12 horas. Depois, coloque para cozinhar na panela de pressão por 15 minutos, deixando-o bem macio. Escorra a água e amasse o grão-de-bico com um garfo ou, se preferir, use liquidificador ou processador. Acrescente os demais ingredientes: farinha de linhaça, azeite e sal. Misture e amasse com as mãos até obter uma massa lisa, que não grude nas mãos. Então, preencha forminhas com a massa, moldando delicadamente. Por fim, faça com a ponta do garfo uns furinhos na base da massa. Para o recheio, escolha os vegetais que preferir e faça um refogado bem temperado, usando a criatividade. Depois, preencha o recheio nas forminhas e leve ao forno preaquecido a 180°, de 30 a 40 minutos.

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Cultura 7
Patrimônio cultural
Reprodução
OrlandoKissner|ALEP

Coritiba dá início à mais desafiadora mudança de sua história

Entenda alguns dos pontos que mais estão causando dívidas entre os torcedores

Após negociações autorizadas por 95,47% dos sócios, o Coritiba finalizou há poucos dias o modelo contratual de constituição de sua Sociedade Anônima de Futebol (SAF). A investidora será a Tree Corp, recomendada pela XP - uma das mais conceituadas captadoras de recursos do país - com staff especializado na análise de custos, identificação de riscos e cálculo do aporte necessário a fusões e incorporações. Na próxima quarta-feira (31/5), os associados do clube referendarão, ou não, por voto eletrônico, a “batida de martelo” sobre as condições do negócio que regerá o futuro da mais tradicional das instituições esportivas paranaenses.

Com o uso dos meios de comu-

Sinal de alerta

nicação de que dispõe (site oficial e redes sociais), o Verdão engendrou um plano de divulgação dos principais termos do instrumento pactual proposto, com vistas a sanar as muitas dúvidas que, inevitavelmente, passaram a povoar as mentes de conselheiros e contribuintes do clube. Verdadeira peregrinação ocorre para a leitura dos termos, na sede do Coritiba. “É uma joint venture no sentido clássico?” “O estádio e o CT foram dados como garantia do negócio?” “Se não atender às expectativas de lucro esperadas por Roberto Justus e seus sócios, o clube pode acabar?” Essas algumas das mais frequentes perguntas que se ouvem e se leem. Cabe elucidar que, ao menos quanto a essas três indagações, a resposta é “um rotundo não” – expressão notabilizada por Leonel

Por Marcio Mittelbach

Brizola ao se referir a Collor e Silvio Santos em 1989.

Para cercar-se de salvaguardas que preservem não só o patrimônio imobiliário, mas também o identitário coxa-branca, foi contratada a BMA Advogados, referência em reorganizações societárias que contemplem redação de cláusulas protetivas e assecuratórias de direitos das partes, independentemente da disparidade de poder econômico de cada uma.

A perenidade do Coritiba quanto a nome, marca e símbolo será respeitada com sacralidade. O aporte financeiro (de R$ 1,1 bilhão ao longo do contrato) terá por pilares a tríade formação-desempenho-estádio. Vale dizer, as prioridades são CT, futebol e a modernização do majestoso estádio do Alto da Glória.

Se terminasse hoje a série Prata do estadual, o Paraná Clube, atual quinto colocado, estaria fora das semis e teria seu calvário prorrogado por, pelo menos, mais um ano. Pode parecer pessimismo, mas é essa a realidade. Depois de dois tropeços como visitante, o tricolor vacilou no último domingo (21) como mandante, dessa vez diante do Grêmio Maringá. O Paraná saiu atrás no placar em uma nova falha do goleiro Felipe, que já havia falhado no jogo diante do Andraus. Mesmo chegando ao empate ainda no primeiro tempo, com o gol de pênalti marcado por João Gabriel, o tricolor passou longe da vitória, assustando a meta adversária em raros momentos. Restam cinco partidas na primeira fase. A próxima é na sexta, dia 26, às 19h30 na Vila, contra o Apucarana Sports, de novo com os portões fechados. A vitória será fundamental para que o tricolor dê um ‘chega-pra -lá’ na descon ança e comece de uma vez por todas uma corrente pra frente rumo à elite do estadual.

Fernanda Haag

Não são casos isolados

Vinícius Junior é gigante. O jogador de 22 anos fez um dos atos mais corajosos da história do futebol no último jogo entre Real Madrid e Valencia. Dirigiu-se até a torcida e apontou diretamente para os racistas que o estavam xingando. Contudo, é extremamente cruel o que ele tem passado na Espanha e que precise fazer isso. Para completar o absurdo, ainda levou cartão vermelho – anulado dias depois – recordando que na estrutura racista o negro não pode nem se revoltar. O próprio Vinícius deixou claro: não são casos isolados. E sabemos que não, a Espanha é racista. Não só, vale lembrar. Quando jogava no Brasil, Vini também sofreu atos racistas. Essa coluna é sobre mulheres, mas impossível não falar disso. Inclusive, porque me lembrou muito das vivências de Ludmila na mesma Espanha. A jogadora do Atlético de Madrid já contou inúmeras vezes em que sofreu racismo. Cito aqui o brilhante texto de Júlia Belas para o UOL: “Os racistas não merecem espaço no futebol”. Em nenhum lugar. E as punições são mais do que necessárias, um dos passos a serem tomados. De resto, a nós brancos cabe lutar contra o pacto da branquitude e agir para tornar o futebol um espaço antirracista.

Noite péssima para o Furacão

Por Douglas Gasparin Arruda

A noite da terça foi dura para os athleticanos na Libertadores. A disputa contra o Atlético MG foi uma inversão do que vinha acontecendo nas últimas semanas: se contra o Coritiba e Botafogo o time conseguiu viradas espetaculares, contra o Galo o oposto ocorreu. Durante a primeira etapa, o Furacão evitou que o jogo acontecesse, buscando o empate. No segundo tempo, em boa jogada de Canobbio, o primeiro gol rubro-negro surpreendeu os mineiros. E se o emocional foi um diferencial para virar partidas em outras circunstâncias, neste o placar favorável desembocou numa crise dentro de campo. Abusando de passes errados e de falhas individuais, que não são nada comuns para um time de Libertadores, o Furacão permitiu que o Galo virasse a partida. Uma aula de tudo que o Athletico precisa evitar.

Paraná, 25 a 31 de maio de 2023 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
César Caldas
8 Esportes
POR ELA
ELAS
Divulgação | Coritiba

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