Brasil de Fato RJ - 339

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RIO DE JANEIRO Ano 7

edição 339 10 a 16 de janeiro de 2020

distribuição gratuita

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RJ RETRATOS DA CRISE NO RIO: Divulgação

AS HISTÓRIAS POR TRÁS DOS BAIXOS INDICADORES SOCIAIS

COMO LUNGA EM BACURAU, SILVERO PEREIRA RETORNA A SUA CIDADE COMO HERÓI

No primeiro trimestre de 2019, o desemprego no estado do Rio de Janeiro atingiu mais de 1,3 milhão de pessoas. O número foi um recorde na série realizada desde 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados da Defensoria Pública do Estado do Rio ainda apontam que na capital existem cerca de 15 mil pessoas em situação de rua. O Brasil de Fato foi às ruas para colher as histórias das pessoas que estão por trás desses indicadores. Confira. GERAL, PÁG 7.

Ator passou por dificuldades, como seu personagem, e hoje é referência em Mombaça (CE). CULTURA & LAZER, PÁG, 9.

José Cruz/Agência Brasil

BLOCOS ANTECIPAM ABERTURA OFICIAL DO CARNAVAL DO RIO

Tânia Rego/Agência Brasil

Clima de folia começou com o desfile de blocos no primeiro final de semana do ano. CULTURA & LAZER, PÁG 9.

ÚNICO TRANSPORTE QUE LIGA PAQUETÁ AO RIO, BARCAS MUDAM ITINERÁRIOS E MORADORES REAGEM

Viagens para o Rio levavam 50 minutos e agora terão duração de 1h50min; população teme por serviços básicos. GERAL, PÁG 5.

Divulgação


GERAL

Mesmo previstos em lei, direitos dos pedestres são desrespeitados Tânia Rego/Agência Brasil

VANESSA GONZAGA

RECIFE (PE)

A

ndar pelos centros urbanos tem se tornado, cada vez mais, uma tarefa perigosa. Isso porque a grande quantidade de veículos e motocicletas em relação aos pedestres é desigual e na batalha para atravessar as ruas, mesmo contrariando o Código de Trânsito Brasileiro, os condutores acabam impondo sua prioridade. De acordo com a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), cerca de 1,35 milhão de pessoas morrem a cada ano em decorrência de acidentes no trânsito, sendo que mais da metade dessas mortes ocorre entre usuários vulneráveis das vias: pedestres, ciclistas e motociclistas.

RJ

RIO DE JANEIRO, 10 A 16 DE JANEIRO DE 2020

Acidentes de trânsito matam 1,35 milhões de pessoas ao ano

No Brasil, o número de mortes vem caindo: em 2014, foram 43.870 óbitos no trânsito brasileiro, enquanto em 2016 foram 37.345 mortes. A meta do país, em 2020, é não ultrapassar o número de 19 mil

vítimas fatais por ano. Apesar da redução, o Brasil ainda está distante da meta estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), que prevê uma redução de 50% no número de vítimas nos 10 próximos anos, contados a partir de 2011.

MORRE ANA MARIA PRIMAVESI, PIONEIRA DA AGROECOLOGIA NO BRASIL Divulgação

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A engenheira agrônoma Ana Maria Primavesi, referência mundial em agroecologia e pioneira do tema no Brasil, morreu no último domingo (5) em decorrência de problemas cardíacos. O centenário da pesquisadora, nascida em 3 de outubro, seria celebrado em 2020. Ela defendia a compreensão do solo como um organismo vivo e foi responsável por avanços nos estudos sobre o manejo ecológico do solo

CHARGE | Latuff

DIREITOS DOS PEDESTRES »Os deveres dos pedestres são conhecidos e ensinados desde cedo. Em compensação, pouco se conhece quais os seus direitos. O primeiro direito dos pedestres é o de utilizar as calçadas, que necessitam ter a dimensão adequada para assegurar a passagem de pedestres e acomodar pontos de ônibus, postes, lixeiras e também os pisos táteis e rampas de acessibilidade. Nos casos em que não tem calçadas, a via deve ser compartilhada entre condutores

e pedestres, que têm prioridade em detrimento dos carros, desde que andem em fila única e sempre no sentido contrário dos veículos. Isso só não se aplica a lugares onde já é sinalizada a proibição de pedestres na via. Em lugares onde há semáforos, a prioridade é sempre dos pedestres para atravessar a rua e em faixas com semáforo, caso o pedestre ainda esteja atravessando na mudança de sinal, os carros devem esperar. www.brasildefato.com.br redacaorj@brasildefato.com.br /brasildefatorj @Brasil_de_Fato (21) 99373 4327 (21) 4062 7105

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CONSELHO EDITORIAL Alexania Rossato, Antonio Neiva (in memoriam), Carolina Dias, Igor Barcellos, Joaquín Piñero, Mario Augusto Jakobskind (in memoriam), Rodrigo Marcelino, Vito Giannotti (in memoriam) | EDIÇÃO Mariana Pitasse e Vivian Virissimo | ADMINISTRAÇÃO Angela Bernardino, Erivan Silva e Júlia Procópio | DISTRIBUIÇÃO Carolina Dias REDAÇÃO Clívia Mesquita, Denise Viola, Eduardo Miranda, Fernanda Castro, Luiz Ferreira e Jaqueline Deister DIAGRAMAÇÃO Augusto Erthal e Juliana Braga.


RJ

GERAL

RIO DE JANEIRO, 10 A 16 DE JANEIRO DE 2020

Diminuição de matrículas e de escolas rurais preocupam movimentos

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Projeto de lei aprovado na Câmara facilita a privatização do saneamento Marcelo Pinto

Segundo Censo 2019, campo teve queda de 145.233 no número de alunos; organizações sociais denunciam fim de instituições

Medida coloca o Brasil em caminho inverso de outros países do mundo PAULO DONIZETTI DE SOUZA

REDE BRASIL ATUAL

»»O projeto aprovado na Câmara dos Deputados leva a

ERICK GIMENEZ

BRASÍLIA (DF)

A

s escolas rurais brasileiras estão menos frequentadas, com ensino integral enfraquecido e majoritariamente sob o poder dos municípios, conforme aponta o Censo Escolar 2019, divulgado pelo Ministério da Educação, em 30 de dezembro. No último ano, de acordo com o levantamento, o campo teve queda de 145.233 matrículas na soma de todas as modalidades de ensino – foram 5.195.387 registros em 2018, contra 5.050.154 em 2019. Para além dos números, há uma percepção ainda mais preocupante, não computada pelo governo: muitas escolas rurais estão fechando as portas e deixando estudantes ao relento. É o que afirma Marisa de Fátima da Luz, professora e membro do Coletiva Nacional do Setor

de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Segundo ela, o último ano foi de muitos relatos de escolas desativadas Brasil afora. “O que temos observado é que ainda permanece um grau muito alto de fechamento de escolas do campo. Por isso, os movimentos sociais, as organizações, têm ampliado essa denúncia. O que temos visto é uma política que desestrutura, de um modo geral, que retira os direitos sociais e, consequentemente, gera um maior número de fechamento das escolas do campo”, expõe a professora. MATRÍCULAS Segundo o levantamento do governo federal, o ensino integral se mantém pouco acessível aos estudantes rurais. Em 2019, apenas 637.667 de 4.665.963 matrículas de ensinos médio e fundamental foram feitas nessa

modalidade – o que equivale a 13,6% do total. Ainda de acordo com a pesquisa do governo, as escolas rurais estão massivamente sob o poder de prefeituras (85% dos estabelecimentos de ensino são municipais). O restante é de escolas estaduais.

Levantamento com base nos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) confirma que foram fechadas quase 80 mil escolas no campo brasileiro entre 1997 e 2018, somando quase 4 mil escolas fechadas por ano. Os dados foram levantados pelos professores Paulo Alentejano e Tássia Cordeiro, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Divulgacao

Em 2019, apenas 13,6% do total de matrículas foram de estudantes rurais

privatização do sistema de saneamento básico e coloca o Brasil num caminho que já fracassou em diversos países do mundo. A Câmara concluiu no dia 17 de dezembro a votação do marco legal do saneamento básico. O projeto do Executivo (PL 4.162/19) altera a Lei 9.984, de 2000, facilita a transferência de estatais do setor para agentes privados e prorroga o prazo para o fim dos lixões no país. Segundo especialistas, porém, uma eventual privatização do saneamento pode levar à redução dos investimentos – público e privados –, piorar a qualidade do serviço e causar aumento de tarifas de água e esgoto. A experiência fracassada da privatização já levou centenas de cidades, de diversos países, a rever as concessões e a promover um processo de reestatização. De acordo com a socióloga Francisca Adalgisa da Silva, presidenta da Associação dos Profissionais Universitários da Sabesp (empresa de saneamento do estado de São Paulo), cidades como Berlim, Paris e Buenos Aires já se arrependeram. A transferência de obrigações que são do Estado – como saneamento, esgoto, abastecimento de água, geração e fornecimento de energia –, por se tratarem de serviços públicos essenciais para as populações e estratégicos para as economias, está sendo revista em mais de 265 cidades, de acordo com estudo de organismos especializados. Tocantins, por exemplo, privatizou o saneamento nos anos 2000 e depois de 14 anos a concessionária quis “devolver” para o estado a operação do sistema, mas apenas nos municípios não rentáveis.

No Rio de Janeiro, Cedae é a responsável por saneamento


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GERAL

RIO DE JANEIRO, 10 A 16 DE JANEIRO DE 2020

QUADRO DAS UNIVERSIDADES TEM AUMENTO DE DOUTORES E MESTRES, SEGUNDO CENSO DO MEC

Projeto abastece restaurantes com produção da agricultura familiar no Rio de Janeiro

»»Entre 2008 e 2018, cresceu o grau

Iniciativa do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) fortalece relação entre campo e a cidade

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CLÍVIA MESQUITA

RIO DE JANEIRO (RJ)

A

busca por uma alimentação saudável também vale na hora de comer fora de casa. Pensando nisso e em parceria com restaurantes do Rio de Janeiro, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) tem promovido o encontro entre a produção agroecológica do estado e o prato do consumidor. Há quatro meses, o projeto “sistema popular de abastecimento” fornece alimentos sem veneno para cinco estabelecimentos nos bairros de Laranjeiras e Santa Teresa, zona sul e centro da cidade. O projeto atende uma demanda do comércio por ingredientes de qualidade e, por outro lado, incentiva a agricultura familiar a partir do consumo consciente. “Nossa avaliação é muito positiva, apesar de ainda serem poucos restaurantes, não deixa de ser uma forma do MPA estar presente na sociedade e também do consumidor saber a origem do seu alimento, de onde veio, quem plantou”, explica Débora de Oliveira, da coordenação estadual do MPA. O movimento planeja ampliar a logística de abastecimento para os arredores do bairro carioca de Santa Teresa, Botafogo e também no centro do Rio. Os restaurantes parceiros fazem encomendas com base em uma lista de produtos a preço de atacado e recebem as compras até duas vezes por semana. O MPA pretende criar até fevereiro um selo para os restaurantes parceiros

RJ

de formação dos professores universitários no Brasil, de acordo com o Censo da Educação Superior, divulgado nesta semana pelo Ministério da Educação (MEC). Atualmente, o governo calcula que mais de 80% dos 384 mil docentes do ensino superior têm título de mestre ou doutor. Conforme o levantamento, o maior crescimento é de doutores na rede pública: em 2018, 64,3% dos professores tinham o título; há dez anos, a proporção era de 44,3%. Nas instituições particulares, o Censo apontou que 25,9% dos professores têm título de doutor; em 2008, eles eram 13,1%.

AO LONGO DE 2019, BOLSONARO ATACOU A IMPRENSA PELO MENOS 116 VEZES »»O ano de 2019 se encerrou com um MPA pretende criar até fevereiro selo para restaurantes parceiros

que certifique a procedência dos produtos da agricultura familiar. PRODUÇÃO As hortaliças são trazidas de Teresópolis, na região serrana do estado, batata, aipim, jiló, maracujá e quiabo, por exemplo, são de agricultores de Duque de Caxias, Queimados, Magé, Nova Iguaçu e Mesquita, na Baixada Fluminense. Para Débora, outra vantagem da relação direta com o comércio é a melhor organização da produção no campo. “O agricultor pode se orientar melhor tendo uma média de consumo”, ressalta. Sócio do restaurante nordestino Café do Alto, localizado no Largo do Guimarães, em Santa Teresa, Kiko

Dantes avalia que os comerciantes da região se importam em oferecer ingredientes melhores ao consumidor. Ele já frequentava o espaço Raízes do Brasil, no mesmo bairro, onde é possível comprar produtos agroecológicos e desde setembro integra a rede de abastecimento. “É muito importante que o consumidor também entenda a preocupação com o produto orgânico, de fortalecer a produção familiar e a economia solidária, afinal, são agricultores ali da serra ou da Baixada Fluminense. Principalmente na atual conjuntura com a liberação de tantos agrotóxicos”, pontua Dantes que já visitou alguns pequenos agricultores.

total de 116 ataques proferidos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra a imprensa. O número equivale a uma média de uma ocorrência a cada três dias no período, ou 9,6 por mês. Organizado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o levantamento foi divulgado na última semana e considera tanto ofensas a veículos de comunicação quanto à imprensa em geral, do ponto de vista institucional. Entre as 116 declarações registradas, houve 105 tentativas de descredibilização da imprensa e 11 ataques a jornalistas. O monitoramento contabiliza exclusivamente pronunciamentos registrados por escrito em canais oficiais do presidente, que são suas contas no Twitter e no Facebook, além do site do Palácio do Planalto, no qual são transcritos entrevistas e discursos do presidente.


Viagens para o Rio levavam 50 minutos e agora terão duração de 1h50min; população reage e teme por serviços básicos EDUARDO MIRANDA

RIO DE JANEIRO (RJ)

GERAL

RIO DE JANEIRO, 10 A 16 DE JANEIRO DE 2020

Único transporte que liga Ilha de Paquetá ao Rio, barcas mudam itinerários e moradores reagem

Divulgação

RJ

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concessionária CCR Barcas entrou com uma petição na Justiça do Rio de Janeiro para autorizar de imediato a implementação dos novos horários e itinerários de funcionamento do transporte na região metropolitana da cidade. A medida é uma tentativa de anular a contraproposta elaborada por moradores da Ilha de Paquetá, bairro do município do Rio, que seria apresentada para negociação. As barcas são o único meio de transporte que ligam a ilha ao restante da cidade. Os moradores da ilha contestam as mudanças que a concessionária pretende fazer a partir dos próximos dias e que vai alterar o trajeto e o tempo de viagem até a Praça XV, no centro do Rio. Um levantamento realizado junto às escolas, creches, hospitais, comércios mostra o impacto que a proposta da CCR Barcas pode causar à ilha. Com a mudança apresentada pela CCR, sete das 20 viagens diárias feitas entre Paquetá e Praça XV, que tinham duração de 50 minutos, passam para 1 hora e 50 minutos e terão parada em Cocotá, bairro da zona norte da cidade. Antes eram feitas 33 viagens diárias nos dois sentidos, sem parada. Desde que anunciou a alteração, no final de dezembro,

CCR Barcas vem sendo duramente criticada pela falta de transparência em proposta

a concessionária vem sendo duramente criticada pela falta de transparência na nova proposta de funcionamento. A Defensoria Pública do Estado do Rio (DP-RJ), a Assembleia Legislativa (Alerj) e a Agência Reguladora de Serviços Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários e Metroviários e de Rodovias do Estado (Agetransp) também reagiram entrando com uma petição na Justiça para não autorizar a mudança. PREJUÍZO O primeiro prejuízo para a população poderá ser o impacto nos serviços básicos como saúde e educação, já que pessoas que trabalham na ilha e moram em outros bairros da cidade estão considerando pedir transferência para trabalhar em localidades mais acessíveis. “Muitas pessoas que trabalham em Paquetá avisaram que não querem

continuar em seus postos de trabalho se os horários mudarem. Também recebemos relatos desesperados de moradores, idosos e pacientes em tratamento complexo fora da ilha, que terão suas rotinas muito prejudicadas. Entre eles estão pessoas com câncer e outras com dificuldade de locomoção”, disse o ouvidor-geral da Defensoria, Guilherme Pimentel. Na última segunda-feira

(6), a Associação de Moradores de Paquetá (Morena) se reuniu com outras associações para avaliar ações que impeçam a mudança. Além do prejuízo para estudantes, professores, profissionais de saúde e diversos trabalhadores, a população também teme pelo encarecimento de produtos que chegam à ilha e a segurança do transporte, já que a superlotação das barcas seria mais uma consequência da medida da CCR.

MUDANÇAS NAS OUTRAS LINHAS »Na linha Arariboia a Praça XV, o intervalo máximo entre viagens passará de 10 minutos para 15 minutos nos horários de pico — das 6h30 às 10h10 e das 16h30 às 20h10. As demais partidas foram mantidas. Haverá ainda mudança de tarifas. A Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes (Agetransp) anunciou no dia 21 de dezembro que, em uma sessão regulatória, homologou os reajustes para as barcas. O reajuste será aplicado a partir do dia 12 de fevereiro. Nas linhas sociais, em todos os itinerários, a tarifa passa dos R$ 6,30 para R$ 6,50. Já no destino Praça XV a Charitas o preço sobe, na mesma data, de R$ 17,60 para R$ 18,20.

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RISCO PARA A ECONOMIA LOCAL »A página da Associação dos Moradores de Paquetá, no Facebook, está colhendo depoimentos para mostrar todos os problemas decorrentes da decisão da CCR Barcas. Para o diretor da Casa de Artes Paquetá, José Laborador, ao ignorar a opinião dos moradores a concessionária está colocando em demolição um trabalho de anos para a melhoria do turismo da ilha. “Essa atitude unilateral é impensável sob vários aspectos, afeta toda a comunidade, seus moradores, mas o mais traiçoeiro é desmontar toda uma cvadeia econômica que sustenta diversas famílias. A proposta deles para fim de semana, os dias de mais movimentação turística, é cruel. É feita de uma forma que não se considerou todo o processo de revitalização que a ilha vem vivendo, um projeto de ilha em que a comunidade é protagonista do processo. Uma atitude dessa desmorona o trabalho que vem sendo feito há muitos anos”, afirmou Laborador. Apesar do grande fluxo de pessoas entre Rio e Paquetá, sobretudo nos fins de semana, o Grupo CCR afirma, em comunicado, que a mudança tem relação com uma adequação da oferta à demanda, “reduzindo os impactos da crise financeira” para a empresa. A medida será contestada, já que a concessionária não apresentou documentos que comprovem a necessidade real da mudança.


6 ANÚNCIO

GERAL

RIO DE JANEIRO, 10 A 16 DE JANEIRO DE 2020

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Retratos da crise no Rio: as histórias por trás dos baixos indicadores sociais Dados da Defensoria Pública do Estado do Rio apontam que na capital existem cerca de 15 mil pessoas em situação de rua Tânia Rego/Agência Brasil

JAQUELINE DEISTER

RIO DE JANEIRO (RJ)

"A

vida é uma caixinha de surpresas”. A frase foi usada pelo artesão Antônio Lopes, de 70 anos, para responder à pergunta sobre o que o levou para as ruas do município de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro. Com barba e cabelos brancos, sentado em um pedaço de papelão, Antônio aguardava o jantar servido por grupos religiosos para a população em situação de rua no centro da cidade. O artesão carioca já viajou o Brasil vendendo suas peças em couro, madeira e arame, mas teve o trabalho interrompido após ser roubado em 25 de dezembro. “Quando eu estava retornando de São Paulo, cheguei em Barra Mansa [interior do Rio] e fui roubado. Levaram meu material, ferramentas, trabalhos, até alguns documentos, coisas pessoais, álbum de fotos, celular e eu estou assim”, conta

Histórias como a de Antônio e Jussara ilustram apenas uma pequena parcela das pessoas invisíveis que lutam pela sobrevivência nas ruas do estado do Rio de Janeiro. Dados da Defensoria Pública do Estado do Rio (DP-RJ) apontam que na capital existem cerca de 15 mil pessoas em situação de rua.

O desemprego no estado do Rio de Janeiro atingiu número recorde de mais de 1,3 milhão de pessoas

Antônio que não tem família e está juntando dinheiro para comprar novamente seu material de trabalho. Nas ruas há pessoas que estão de passagem, como Antônio, e outras que estiveram há mais tempo pelas marquises e esquinas da cidade do que sob o teto de uma casa. É o caso de Jussara da Silva, de 45 anos. Entre idas e

vindas, a pernambucana conta que está desde os oito anos nas ruas, passou por orfanatos, abrigos, trabalhou como ambulante, auxiliar de cozinha e cuidadora, mas afirma que viveu a maior parte da vida pelas calçadas das cidades. “Eu vim parar no Rio de Janeiro com oito anos com a minha família, só que no Rio

eu me perdi, minha família foi parar em Caxias [Baixada Fluminense], com meus nove irmãos e eu fiquei para trás porque não consegui alcançar. Fui vivendo e até hoje estou vivendo por ai, foi onde eu fiz cinco filhos”, relata Jussara que hoje vive recolhendo matérias recicláveis pelas ruas de Niterói.

RIO NA CORDA BAMBA »Para o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Bruno Sobral, o quadro socioeconômico do Rio de Janeiro chama a atenção para a necessidade urgente de se discutir sobre o pacto federativo do Brasil. Isso significa um comprometimento e responsabilização maior da esfera federal ante as crises de estados e municípios. “Ao discutir o pacto federativo você está discutindo competências e recursos entre as esferas de poder, entre municípios, estado e governo federal. O recurso público é um só, mas ele é distribuído. Em tese, os impostos estão indo para o tesouro público e essa repartição é o que é exatamente uma das discussões do pacto federativo. Temos que tratar a discussão com muita seriedade porque a população, pelo próprio processo democrático, passa a separar pela situação eleitoral: elege o prefeito para o problema da cidade, o governador para o problema do estado, e não entende que as vezes o raio de ação de um prefeito é muito limitado”, explica o economista que também coordena a Rede Pró-Rio.

CRISE EM NÚMEROS »Além da falta de políticas públicas para a população em situação de vulnerabilidade, a crise econômica que atingiu o estado levando a demissões e fechamentos de postos de trabalho foi um fator determinante para o aumento das pessoas que vivem em condições extremas nas ruas. No primeiro trimestre de 2019, o desemprego no estado do Rio de Janeiro atingiu mais de 1,3 milhão de pessoas. O número foi um recorde na série realizada desde 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os baixos indicadores de emprego e renda dos estados refletem também no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. Um relatório recente publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado pela BBC Brasil, mostra que desde 2014 o país atravessa uma grave crise que estagnou o IDH em 2018. O IDH varia de uma pontuação de zero a um. Segundo o levantamento, o Brasil estagnou na marca de 0,761. O índice mede o desempenho do país em quatro áreas: esperança de vida ao nascer, expectativa de anos de estudos, média de anos de estudos, renda nacional bruta e per capita. O reflexo da crise econômica e política nos últimos cinco anos impediu o crescimento dos indicadores para o Brasil.


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CULTURA & LAZER

AMIGA DA SAÚDE

DICAS MASTIGADAS

Sandra Guimarães

Sorvete de manga e coco

INGREDIENTES

•  2 xícaras de manga congelada, em cubinhos. A manga deve estar madura, mas firme, de preferência uma variedade sem fiapos •  1/2 xícara de leite de coco •  1 colher de chá de suco de limão

MODO DE PREPARO

1. Bata todos os ingredientes no liquidificador até ficar homogêneo e com a consistência de sorvete. 2. Você vai precisar ser paciente e parar o motor algumas vezes para mexer a mistura com uma colher. 3. Sirva imediatamente ou, se preferir um sorvete mais firme, deixe meia hora no congelador antes de servir. Rende 4 porções pequenas. ANÚNCIO

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RIO DE JANEIRO, 10 A 16 DE JANEIRO DE 2020

POR QUE A VACINA BCG DEIXA UMA CICATRIZ NO BRAÇO?

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

á reparou que das várias vacinas que tomamos ao longo da vida uma deixa uma marquinha no local de aplicação? É a Bacillus Calmette-Guérin (ou BCG), usada para prevenir tipos severos de tuberculose. Essa doença infecciosa é causada por uma bactéria, geralmente da espécie Mycobacterium tuberculosis. Em sua forma mais comum, afeta os pulmões, o que causa sintomas como dores, tosse, febre e perda de peso. Quando não tratada, apresenta alta taxa de mortalidade. É atualmente a doença infec- efeito. Isso não é verdade. Mesmo nos ciosa que mais mata no mundo. Segundo a raros casos em que não ocorre a feridiOrganização Mundial da Saúde, em 2018, nha, o efeito preventivo é garantido. No Brasil, até 2005 era indicado que 1,5 milhão de pessoas morreram devido a ela, em um total de 10 milhões de casos em a partir dos dez anos de idade fosse dada uma segunda dose todo o mundo. A BCG é uma das pri- Há um mito da BCG. Como os testes meiras vacinas adminisque o reforço popular que diz mostraram tradas no recém-nascido. não era necessário, tal Esse procedimento deve que se a cicatriz indicação foi abandonada. ser feito de preferência nas não se formar Por isso, é provável que, primeiras doze horas de caso você tenha mais de vida. A vacina é adminis- quer dizer que 25 anos de idade, tenha trada via injeção intradér- a vacina não fez duas marquinhas em seu mica, ou seja, na camada efeito, mas isso braço, enquanto os mais interna da pele, a derme. novos tenham só uma. Por padrão, sempre no não é verdade Caso a vacina seja braço direito. No Brasil, é administrada com uma oferecida gratuitamente a toda população micro agulha, apelidada de carimbo, graças ao Sistema Único de Saúde. não deixa a famosa cicatriz. No Brasil, O ferimento e a posterior cicatriz for- apenas cerca de 3% das pessoas são vacimada no local de aplicação é uma rea- nadas com a micro agulha. Em outros ção normal do sistema imunológico à países, esse número pode ser bem maior. presença da bactéria. Há até um mito Isso explica o fato de quase todos os popular que diz que se a cicatriz não se brasileiros terem a marquinha da BCG formar quer dizer que a vacina não fez e nenhum japonês a ter!

TIRINHA


RJ

CULTURA & LAZER

RIO DE JANEIRO, 10 A 16 DE JANEIRO DE 2020

Blocos antecipam abertura oficial do carnaval do Rio

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Tomaz Silva/Agência Brasil

Clima de folia começou com o desfile de mais de 20 blocos no primeiro final de semana do ano JAQUELINE DEISTER

RIO DE JANEIRO (RJ)

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Divulgação

ano mal começou e o clima do carnaval já invade as ruas do Rio de Janeiro. No último domingo (5) ocorreu a abertura “não oficial” da festa e os foliões aproveitaram os mais de 20 blocos que desfilaram na cidade. No calendário oficial da cidade, a abertura da festa começa no domingo (12) com a apresentação do "Bloco A Favorita" e a eleição do Rei Momo, a princesa e a rainha do carnaval no palco do réveillon em Copacabana.

A Prefeitura do Rio anunciou que neste ano o carnaval terá duração de 50 dias. Contudo, o anúncio da gestão de Marcelo Crivella não interfere na festa que já ocorre nas ruas da cidade e movimentou, só em 2019, 4,5 milhões de foliões durante nove dias de folia. Rita Fernandes é presidente da Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro (A Sebastiana). A agremiação tem 20 anos e reúne blocos tradicionais do Rio como “Simpatia

é Quase Amor”, “Escravos da Mauá” e “Carmelitas”. Para ela, é mais importante pensar em desenvolver uma política eficiente para o carnaval em vez de aumentar o número de dias da festa. “A nossa expectativa está muito mais no encaminhamento de uma política pública efetiva e definitiva para o carnaval de rua, do que qualquer atitude solta e oportunista para esse ano. Está sendo novamente mais um ano difícil. A burocracia aumentou muito, principalmente ao que toca aos bombeiros e polícia civil. Eles usam um decreto que

Cerca de 731 blocos de rua se cadastraram para desfilar em 2020

está ultrapassado, de 2014, o ex-governador Pezão fez um [decreto] em 2016 que revogava as exigências de 2014 e isso não está sendo considerado”, ressalta Fernandes que afirma que o carnaval de rua não pode estar sujeito a regras de megaeventos. Segundo o calendário da prefeitura, o encerramento

da folia será no dia 1º de março. A Riotur anunciou que espera ultrapassar a marca de 1,6 milhões de turistas para 2020. Cerca de 731 blocos de rua se cadastraram para desfilar em 2020. As regiões do centro, zona sul e zona norte concentram a maioria dos grupos.

Como Lunga em “Bacurau”, Silvero Pereira retorna à sua cidade como herói O ator passou por dificuldades, como seu personagem, e hoje é referência em Mombaça (CE) CAROLINE OLIVEIRA

SÃO PAULO (SP)

»»Cearense de Mombaça, o ator Sil-

Ator vive cangaceiro queer em filme

vero Pereira, que fez a personagem de Lunga, o cangaceiro queer de “Bacurau”, de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, é um dos quatro de um pedreiro e de uma lavadeira. Pereira vem de uma família que passou pelos cenários da fome e da sede, principalmente durante a década de 1980. “Eu tive que andar bastante atrás de água potável, trabalhar desde os 13 anos de idade para conseguir

complementar a renda familiar e ter dinheiro no final do mês para fazer uma feira de alimentos”, afirma. RECONHECIMENTO Estudante de escola pública, Silvero foi trabalhar em um comércio de uma tia, aos 13 anos, em Fortaleza. Formou-se em Artes Cênicas pelo Instituto Federal do Ceará. “Sou do interior do estado, com toda uma carga de preconceito machista e homofóbica, por ser artista e LGBTQIA+”. O ator nordestino é referência em

sua cidade, Mombaça. Apesar de existir resistência por parte da classe alta e política, assim como em "Bacurau", ocorre o oposto na comunidade. “Tem um momento em que o Lunga fala: ‘é muito difícil voltar pra cá!’ Eu também saí da minha cidade muito cedo por não concordar com o sistema político daquele lugar. Hoje, quando volto para lá, as crianças olham para mim com um olhar de esperança, de alguém que veio de um lugar muito pobre, mas conseguiu sobreviver e vencer”.


10 MUNDO

O

ataque aéreo ordenado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na semana passada e que matou o general iraniano Qasem Soleimani foi considerado pelo Irã como uma “escalada extremamente perigosa e imprudente” deflagrada por Washington. Porém, a tensão entre os dois países vem aumentando desde 2018, quando os EUA impuseram sanções econômicas ao Irã, se retiraram de forma unilateral do acordo nuclear iraniano e Trump fez uma série de ataques verbais ao país. Em fevereiro de 2019, o presidente do Irã, Hassan Rouhani, disse que os EUA realizavam uma “conspiração” contra o país em conjunto com os “sionistas e os Estados reacionários”, em referência a Israel e Arábia Saudita, aliados de Washington na região. Em março, Trump reconheceu formalmente a soberania de Israel sobre as colinas de Golã, região

Entenda a escalada de tensão entre Estados Unidos e Irã Morte de general iraniano pelos EUA colocou o mundo em alerta

Atta Kenare/AFP

Milhares de pessoas participaram de funeral de general iraniano nas ruas do país

rica em recursos hídricos tomadas da Síria em 1967, na Guerra dos Seis Dias, e anexadas em 1981. À época, o governo iraniano acusou os EUA de “colonialismo” e disse que a decisão de Trump contrariava “todas as leis e regras internacionais”.

No início de abril, Trump classificou a Guarda Revolucionária do Irã (IRGC), equivalente ao Exército do país, como um "grupo terrorista". Em resposta, o governo iraniano classificou os Estados Unidos como um “Estado patrocinador

No primeiro ano, governo Bolsonaro queima 10 bi de dólares em reservas internacionais FRÉDI VASCONCELOS

CURITIBA (PR)

»»Dados oficiais na página do Banco

Central mostram que no primeiro ano de Bolsonaro, o país queimou, até novembro, mais de 10 bilhões de dólares em reservas internacionais. Eram 376,9 bilhões em janeiro, chegando a 366,3 bi no penúltimo mês de 2019. E os dados devem ser piores ainda no fechamento do ano, porque até 27 de dezembro o Brasil teve saída recorde de dólares. Só no mês, mais de 16 bilhões foram embora,

a maior saída entre todos os meses já pesquisados. No acumulado do ano, até a mesma data, foram embora 43,2 bilhões de dólares, de longe o pior resultado da série histórica. Antes, o recorde eram 16,1 bilhões registrados em 1999, no governo FHC, no ano da crise cambial, no começo de seu segundo mandato. Os investimentos diretos no país também caíram. Nos doze meses até novembro de 2019, ingressaram 70 bilhões de dólares, 8,4% a menos que 2018.

do terrorismo e do extremismo” na região. Um dos pontos de maior tensão se deu quando Washington e sua aliada Arábia Saudita acusaram Teerã de atacar refinarias sauditas em setembro. A ação provocou a redução

na produção. O Irã negou as acusações e afirmou que a briga era entre rebeldes das forças houtis do Iêmen, cuja coalização governista é apoiada pela Arábia Saudita. Em outubro, sob a justificativa de auxiliar na defesa da Arábia Saudita após os ataques contra as refinarias, os EUA anunciaram o envio de mais 3 mil soldados ao país aliado. No dia 31 dezembro, um grupo de manifestantes tentou invadir a embaixada dos EUA no Iraque. A ação ocorreu durante um ato contra os recentes ataques aéreos do Exército norte-americano contra bases do grupo libanês Hazbollah, que deixaram 25 mortos e 51 feridos. De acordo com a imprensa local, as forças de segurança dos EUA usaram gás lacrimogêneo para dispersar a multidão que rompeu uma porta lateral para entrar no complexo ao som de gritos como “morte à América”.

MAIS DE 250 MILHÕES DE INDIANOS VÃO ÀS RUAS CONTRA PRIVATIZAÇÕES Divulgacao

REDAÇÃO

RIO DE JANEIRO (RJ)

RJ

RIO DE JANEIRO, 10 A 16 DE JANEIRO DE 2020

Mais de 250 milhões de trabalhadores da Índia deram nas ruas um recado ao governo daquele país contra as privatizações e contra a política neoliberal do primeiro-ministro indiano Narendra Modi. A greve começou na última quarta-feira (8), coordenada por 10 sindicatos, tem também o apoio de estudantes. Além de protestar contra a política de privatização de empresas estatais e dos recursos naturais, a população que está nas ruas reivindica aumento do salário mínimo e das aposentadorias. Com a greve, serviços de ônibus e trens, além de bancos estaduais, foram afetados, mesmo diante das ameaças do governo de cortes dos salários.


RJ

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ESPORTES

RIO DE JANEIRO, 10 A 16 DE JANEIRO DE 2020

Lazio, da Itália, é multado por ofensas racistas de torcedores contra Balotelli Clubes prometem “tolerância zero”, mas casos se tornam mais frequentes e sem punição

A 200 dias de Tóquio, Brasil já tem 152 atletas confirmados em Jogos Vagas podem aumentar com entrada de futebol e basquete

»»Faltando 200 dias para os Jogos de

Tóquio, parte dos atletas ainda briga por uma classificação para o evento, enquanto outros, já garantidos, estão voltados exclusivamente para a competição, que acontece entre os dias 24 de julho e 9 de agosto. “Estamos entrando em uma fase sensível da preparação, treinamento pesado, em que o atleta precisa reduzir seu risco de lesão, mas também buscar sua participação nos Jogos. Ao mesmo tempo, eles já sabem o que precisam fazer e os desafios que encontrarão em Tóquio”, afirma o diretor de Esportes do COB, Jorge Bichara. O projeto Tóquio 2020 teve início há seis anos, quando o COB formalizou uma parceria com o Japan Sports Coun­cil e iniciou o processo de escolha das bases de aclimatação do Time Brasil nos Jogos. Nessa etapa, a entidade procurou locais com boa estrutura de treinamento, área médica,

espaço para montagem de sala de força e que permitissem uma alimentação tipicamente brasileira. Até o momento, o Time Brasil tem 152 vagas garantidas em Tóquio 2020. Este número pode aumentar consideravelmente até a primeira quinzena de fevereiro, quando o futebol masculino e o basquete feminino definirão seus classificados para os Jogos. JOGOS A seleção de futebol masculina estreia no Pré-Olímpico da Colômbia em 19 de janeiro, às 22h30, contra o Peru. Já entre os dias 6 e 9, a seleção feminina de basquete tem pela frente o Pré-Olímpico Mundial, em Bourges (França). No caso dos esportes individuais, a definição das vagas envolve, além de competições qualificatórias, a busca por pontos e melhores colocações no ranking mundial.

três ocasiões da partida contra Balotelli. Apesar de se comprometerem a adotar tolerância zero nestas situações que vêm se tornando mais frequentes, as punições a esses incidentes são raras. Em 2019, alguns jogadores que atuam no futebol italiano como Romelu Lukaku, Franck Kessié, Dalbert, Ronaldo Vieira, Kalidou Koulibaly e o próprio Balotelli sofreram insultos raciais.

Miguel Medina/AFP

comentou sobre os insultos e disse para que os torcedores da Lazio “tenham vergonha”. “É uma derrota que dói mas vamos voltar mais fortes, estamos no caminho certo. Torcedores da Lazio presentes hoje no estádio, tenham vergonha”, escreveu o atacante. Em nota, a Lazio condenou o comportamento de uma “ínfima minoria” de seus torcedores. Na decisão pela multa, a Federação Italiana de Futebol citou cantos de discriminação racial nos minutos 21 e 29 do jogo, assim como “cantos insultantes” em

FRASE

Contratar para um time de futebol um assassino, um homem que mandou matar a mãe do seu filho, esquartejar, dar o corpo para os cachorros comerem é um desrespeito. É um desrespeito a todas nós mulheres” Jessica Senra, apresentadora da TV Bahia, sobre o goleiro Bruno

Reprodução

A

Lazio, da Itália, foi multada em 20 mil euros na última quarta-feira (8) pelos gritos racistas de alguns torcedores organizados contra o atacante Mario Balotelli, no jogo de domingo (5) entre o clube romano e o Brescia. A partida foi interrompida no primeiro tempo após o atacante comunicar ao árbitro os insultos e os gritos de “macaco”. Durante a pausa, uma mensagem de alerta contra o ato de racismo foi comunicada pelos alto-falantes do estádio. Através das redes sociais, Balotelli


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LUIZ FERREIRA Thiago Ribeiro/Vasco

O

PAPO ESPORTIVO

torcedor do Vasco encerrou o ano de 2019 com uma pequena ponta de esperança. O time conseguiu se recuperar no Brasileirão e chegou até a sonhar com uma vaga na Libertadores, mas perdeu fôlego na reta final e acabou mesmo se classificando para a Copa Sul-Americana. Ótimo desempenho para quem era apontado como candidato ao rebaixamento não tem muito tempo. O grande problema, no entanto, está fora dos gramados. A situação financeira do clube beira o desespero. Jogadores importantes na temporada passada já afirmaram que só permanecem no Vasco se os salários atrasados forem pagos. Ao mesmo tempo, o clube corre o risco de ser proibido até de registrar atletas por conta de dívidas antigas. Essa situação financeira caótica levou a diretoria do Vasco a buscar patrocinadores para injetar dinheiro no clube. E no final de dezembro de 2019, o presidente Alexandre Campello anunciou que estava

RJ

RIO DE JANEIRO, 10 A 16 DE JANEIRO DE 2020

O QUE VAI SER DO BOTAFOGO S/A? »»O Botafogo é mais um

clube que está tentando se reerguer financeiramente. E tudo na base do “bom e barato”. Mas as dívidas ainda estão lá. E a diretoria precisa apresentar um projeto claro para iniciar a resolução de todos esses problemas. Qual é a desse “Botafogo S/A”, minha gente?

Crise financeira: Vasco entre a cruz e a espada em negociações com Luciano Hang, dono da Havan, para uma parceria que foi fechada nesta semana. A ideia é que a cadeia de loja de departamentos exponha sua marca nas mangas da camisa de jogo, numa placa de publicidade em São Januário e em outra no Centro de Treinamento. A grande questão aqui é o posicionamento político de Luciano Hang, defensor assumido das ideias do presidente Jair Bolsonaro e propagador da ideia de que questões importantes como racismo, machismo, homofobia e desigualdade social não passam de “mimimi”, postura completamente contrária ao que o Club de Regatas Vasco da Gama defendeu (e defende) ao longo de 122 anos de história. Vale lembrar que o Gigante da Colina foi um dos pioneiros na luta contra a discriminação racial no esporte. O episódio

Jogadores importantes na temporada passada já afirmaram que só permanecem no Vasco se os salários atrasados forem pagos conhecido como “Resposta Histórica” (no qual o clube peitou a organização do Campeonato Carioca nos anos 1920 por conta da escalação de jogadores negros pelo time de São Januário) é exaltado pela sua torcida como um verdadeiro título, um marco importantíssimo na trajetória da instituição. É aí que entra a tal “escolha de Sofia”. O que fazer? Manter seus princípios e seguir de pires na mão, ou abraçar Luciano Hang

e a Havan sem pensar muito no assunto? O Vasco colhe os frutos amargos de uma série de gestões terríveis nos últimos anos. Dívidas trabalhistas, dívidas fiscais, calote em empresas prestadoras de serviços e uma porção de problemas que fazem muita gente se perguntar como o clube ainda não fechou as portas. É bem verdade que o dinheiro da Havan seria extremamente importante para afrouxar (um pouco) o cinto. Mas seria também uma completa negação dos princípios defendidos ao longo das últimas décadas. É claro que o futebol também é regido por relações econômicas. Mas até que ponto vale abrir mão dos seus princípios por causa de dinheiro?

O QUE SE PASSA NO FLAMENGO? »»O Flamengo teve um 2019 dos sonhos. Campeão brasileiro, campeão sul-americano e vice-mundial, dinheiro sobrando e tudo mais. O que se sabe é que, apesar de tudo isso, o clima nos bastidores segue fervendo. Paulo Pelaipe saiu e expôs a guerra interna no clube. Assim fica difícil se manter em “outro patamar”.

FLUMINENSE TENTANDO ENCONTRAR SEU RUMO »»A dificuldade para con-

tratar e manter seus principais jogadores é clara. Mesmo assim, o Fluminense conseguiu pagar todos os salários antes da virada do ano. Agora é colocar a casa no lugar e formar um time que consiga brigar por títulos ou, pelo menos, não assustar a torcida. É o mínimo.


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