RIO DE JANEIRO
17 a 25 de julho de 2018
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Ano 6 | edição 275
“Falta de investimento da Petrobras no estado do Rio causou efeito devastador”, afirma José Maria Rangel Entenda os impactos do desmonte da estatal para os trabalhadores do estado na entrevista com o petroleiro. ESPECIAL, PÁG 7
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DESEMPREGO NÃO PARA DE CRESCER NO ESTADO DO RIO Agência Brasil
Em apenas três anos, o índice de desemprego subiu 157% e atinge 12 milhões de pessoas no estado do Rio de Janeiro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre as principais cidades afetadas no estado estão aquelas que têm uma dependência maior da cadeia do petróleo, como é o caso de Macaé e Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. Para se ter uma ideia, o setor petroquímico passou de 58 mil vagas de empregos formais, ou seja, trabalhadores que atuavam pelo regime da CLT ou por contrato, em 2013, para 46 mil vagas em 2016. Saiba mais na reportagem do Brasil de Fato. ESPECIAL, PÁG 5
O QUE FICA DE MAIS UMA COPA DO MUNDO?
Confira os destaques e os comentários finais sobre o Mundial da Rússia. ESPORTES, PÁG 12
RFSRU
Por que o preço do gás de cozinha e dos combustíveis continua a aumentar? Mesmo após greve dos caminhoneiros, política de preços da Petrobras segue vinculada ao mercado internacional. ESPECIAL, PÁG 6
PEÇA DE TEATRO ‘O PEQUENO PRÍNCIPE PRETO’ RECONTA CLÁSSICO INFANTIL
Espetáculo em cartaz no centro do Rio discute empoderamento, autoestima e racismo. CULTURA E LAZER, PÁG 8
Rodrigo Menezes
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GERAL
RIO DE JANEIRO, 17 A 25 DE JULHO DE 2018
Entenda mais sobre a queda nas coberturas vacinais REPÓRTER SUS
O
Rovena Rosa/Arquivo Agência Brasil
A K IR A HOMM A*
Programa Nacional de Imunizações teve como base o sucesso da erradicação da Varíola no País, no início de 1970. Em 1970, 1971 nós conseguimos erradicar e, globalmente, foi considerada erradicada no Brasil. Produzimos aqui no laboratório da Fundação Oswaldo Cruz mais de 200 milhões de doses da vacina contra a Varíola, utilizadas na campanha de erradicação. Como resultado desse sucesso, os grupos que estavam dedicados, que participaram desse trabalho de erradicação, resolveram propor e conseguiram criar o Programa Nacional de Imunizações, em 1973, apenas com seis vacinas. SARAMPO Em 1980, implantamos a produção nacional de vacina contra o sarampo. Essa produção foi fundamental para nós conseguirmos eliminar o Sarampo do País. De seis vacinas, naquela fase inicial, hoje tem 15 vacinas colocadas à disposição. Temos grandes conquistas obtidas com vacinas e vacinações, mas nos últimos anos vem caindo a cobertura vacinal. Uma das causas desse sucesso que alcançamos é a causa principal [dessa queda de cobertura], porque a população já não vê ameaça de doenças e não procura mais pela imunização. O momento exige a busca de novas estratégias, para ter a cobertura vacinal nos níveis indicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Organização Pan-Americana de Saúde
Agência Brasil
Justiça manda Crivella parar de usar prefeitura para favorecer grupo religioso »»A Justiça do Rio aceitou a de-
A população já não procura mais pela imunização
(Opas), e como isso não está acontecendo está criando um grupo de populações suscetíveis. NOVAS ESTRATÉGIAS Como o vírus do Sarampo não está eliminado no mundo, outros países ainda possuem, a possibilidade de importação de pessoas com o vírus é muito grande. Portanto, é preciso buscar estratégias específicas e diferentes. Ao invés de ser de forma passiva, oferecer de forma ativa, buscar as crianças que não foram vacinadas. Utilizar tecnologias mais modernas, na informática, no mapeamento da população não-vacinada e, certamente, uma série de outras medidas que devem ser tomadas, sobretudo para mobilizar a população e mostrar que é absolutamente importante vacinar-se.
núncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) contra o prefeito Marcelo Crivella. A decisão é do juiz Rafael Cavalcanti Cruz, da 7ª Vara de Fazenda Pública do Rio. A denúncia do MPRJ foi feita após ser revelada uma reunião secreta do prefeito com 250 pastores no Palácio da Cidade. No evento, ele ofereceu vantagens como cirurgias de cataratas e isenção de IPTU. Caso descumpra as medidas, Crivella poderá ser afastado do cargo. De acordo com a sentença, o
prefeito fica proibido de utilizar a máquina pública na defesa de interesses pessoais ou de grupos religiosos, além de parar de atuar em favor da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Ele também suspendeu o censo religioso nos órgãos da Administração Pública. Na última semana, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro rejeitou, por 29 votos a 16, o pedido de abertura de impeachment do prefeito, Marcelo Crivella (PRB), por crime de responsabilidade e improbidadeadministrativa.
*Presidente do Conselho Político e Estratégico do Instituto de Tecnologia Imunobiológicos (Biomanguinhos) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O quadro Repórter SUS é uma parceria entre a Radioagência Brasil de Fato e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz) www.brasildefato.com.br redacaorj@brasildefato.com.br /brasildefatorj @Brasil_de_Fato
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CONSELHO EDITORIAL Alexania Rossato, Antonio Neiva (in memoriam), Carolina Dias, Joaquín Piñero, Mario Augusto Jakobskind, Rodrigo Marcelino, Vito Giannotti (in memoriam) | EDIÇÃO Mariana Pitasse | SUBEDIÇÃO Eduardo Miranda | ADMINISTRAÇÃO Angela Bernardino e Marcos Araújo | DISTRIBUIÇÃO Carolina Dias | REDAÇÃO Flora Castro, Luiz Ferreira, Jaqueline Deister e Raquel Júnia.
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GERAL
RIO DE JANEIRO, 17 A 25 DE JULHO DE 2018
CONGRESSO DO POVO: MOBILIZAÇÃO PARA MUDAR A POLÍTICA BRASILEIRA
Pablo Vergara
Rodrigo Marcelino
JAQUELINE DEISTER
RIO DE JANEIRO (RJ)
O
cenário político do Brasil tem causado muita decepção nos brasileiros. A cada eleição que passa o índice de abstenção no processo eleitoral aumenta. Na tentativa de reverter esse processo e encontrar soluções para os problemas enfrentados hoje pela população, os movimentos populares se uniram em prol de uma iniciativa que tem contribuído para o debate sobre a construção de um Brasil mais justo: o Congresso do Povo. O diálogo é o principal instrumento do Congresso do Povo que surge no final do 2017 após a segunda Conferência da Frente Brasil Popular (FBP). A ideia é construir espaços de discussão sobre a conjuntura brasileira e mobilização em diversos lugares do país. “Cada atividade do Congresso do Povo parte de três perguntas: quais são os nossos problemas? Quais as causas? Como podemos resolver? Essas três perguntas nos colocam para pensar na realidade que estamos vivendo e cria as nossas próprias soluções populares”, destaca Carolina Dias, integrante da Consulta Popular, umas das organizações que constroem o Congresso Povo. A tentativa de responder as questões-chave apontadas por Carolina já estão acontecendo. No municí-
NO RIO, CENTENAS DE PESSOAS VÃO ÀS RUAS MAIS UMA VEZ PEDIR RESPOSTAS SOBRE ASSASSINATO DE MARIELLE FLORA CASTRO
RIO DE JANEIRO (RJ)
»»Centenas
O diálogo é o principal instrumento do Congresso do Povo
Mais informações
» As etapas municipais do Congresso do Povo seguem até agosto. Em novembro todos os encaminhamentos retirados nos municípios serão reunidos em um debate estadual para então seguir para uma atividade nacional. Para mais informações acesse a página da Frente Brasil Popular RJ no Facebook. pio de Campos dos Goytacazes, na região Norte Fluminense do estado do Rio de Janeiro, dois seminários de formação do Congresso do Povo já foram realizados, reunindo cerca de 400 pessoas. Ana Costa, professora do curso de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF) e uma das organizadoras do movimento no município, con-
ta que durante o seminário foram apontados problemas locais que têm gerado transtornos na cidade. “Uma questão que tem um rebatimento muito forte aqui na região são os royalties, a privatização e a entrega da nossa maior empresa nacional ao capital estrangeiro, tudo isso rebate diretamente nas políticas públicas dos municípios”, afirma.
de pessoas foram às ruas do centro do Rio, na última semana, protestar contra a total falta de respostas 120 dias depois do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol). A manifestação “Quantos mais tem que morrer para essa guerra acabar?” foi organizada pelas ex-assessoras da vereadora e diversos movimentos sociais. O ato também pediu o fim da violência das operações policiais e da intervenção militar e teve participação da família de Marielle e de fami-
liares de vítimas da violência de Estado. A mãe de Marielle, Marinete da Silva, reforçou a urgência de uma resposta sobre o crime. “Isso não foi pensado naquele momento, foi planejado muito antes. Teve um mentor, teve alguém que planejou tudo aquilo. Então é inadmissível. Não só pela Marielle ser uma parlamentar, mas pelo fato de ter sido um ser humano executado. Isso não é normal em nenhum lugar do mundo. Nem ela, nem o Anderson, eles estavam ali, inocentes. Por isso a gente tem que cobrar justiça para os dois, com certeza”, afirmou.
Em Cuba, ato político pede liberdade para Lula »»O povo cubano se uniu em
solidariedade à democracia no Brasil e ao direito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorrer às eleições presidenciais em outubro. A celebração ecumênica aconteceu em Havana, no sábado (14), no Centro Martin Luther King. Entre os participantes do ato estavam a presidenta do Partidos dos Trabalhadores (PT), senadora Gleisi Hoffmann; Joel Soares, coordenador do Centro Martin Luther King;
Vagner Freitas, presidente nacional da Central Única dos trabalhadores (CUT); Sonia Mara, direção nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB); e Gilmar Mauro, direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A homenagem a Lula fez parte da programação do 24º Fórum de São Paulo, encontro de movimentos sociais progressistas e de partidos políticos de esquerda da América Latina.
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GERAL
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EMPRESA QUE VAZAR DADOS DE CLIENTES PODE SER MULTADA EM ATÉ R$ 50 MILHÕES »»O Brasil está perto de dar
um grande passo em direção à proteção dos dados dos consumidores. O projeto de lei da Câmara número 53/2018 (PLC 53/2018) define as situações em que dados de clientes podem ser coletados e tratados tanto por empresas quanto pelo poder público. Se a priva-
cidade do consumidor não for respeitada, a multa pode chegar a R$ 50 milhões. O texto foi aprovado por unanimidade no Senado, com o mesmo conteúdo que já havia sido aprovado na Câmara dos Deputados, no fim de maio, e agora vai para a sanção de Michel Temer (MDB).
O relatório do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) propõe a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, que ficará responsável pela edição de normas complementares e pela fiscalização das obrigações previstas na lei. Essa autoridade terá poder, por exemplo, para exi-
gir relatórios de impacto à privacidade de uma empresa, documento que deve identificar como o processamento é realizado, as medidas de segurança e as ações para reduzir riscos. Se constatar alguma irregularidade em qualquer atividade de tratamento, a autoridade pode aplicar
uma série de sanções, entre as quais está prevista multa de até 2% do faturamento da empresa envolvida, com limite de até R$ 50 milhões, o bloqueio ou eliminação dos dados tratados de maneira irregular e a suspensão ou proibição do banco de dados ou da atividade de tratamento.
"Valor do salário mínimo desrespeita Constituição Federal", afirma Dieese Previsão para 2019 é de R$ 1.002 CRISTIANE SAMPAIO
BRASÍLIA (DF)
»»O valor previsto para o salário mínimo do ano que
vem é de R$ 1.002. O valor representa um aumento de 5,03% em relação ao salário atual, que é de R$ 954, mas o aumento real é de 1%. Segundo cálculos do Dieese, Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o país ainda não cumpre o que determina a Constituição Federal. De acordo com a Carta Magna, o salário mínimo precisa atender as necessidades vitais básicas do trabalhador, incluindo, por exemplo, moradia, alimentação, educação, saúde, transporte e lazer. O economista Clóvis Scherer, do Dieese, destaca que os cálculos da entidade apontam o valor ideal como sendo R$ 3.706,44, considerando o custo de vida. O número previsto para 2019 ainda é 3,6 vezes menor, o que inviabiliza a manutenção do trabalhador e das famílias. “É muita diferença. Vamos pensar em dois adultos [ganhando o mínimo]. Nesse caso aí, chegaria a pouco mais de R$ 2 mil. Mesmo assim, ele ficaria em pouco menos da metade pra atender o dispositivo constitucional”, afirma Scherer. Scherer explica que a política do salário mínimo não sofreu grandes alterações porque está fixada em lei e é atualizada a cada quatro anos. Mas o economista aponta que o governo golpista Michel Temer tem se utilizado, nos últimos anos, da flexibilidade dada pela legislação para diminuir o reajuste. Em 2016, por exemplo, o aumento real foi de 0,36%, seguido de um decréscimo de 10% em 2017 e de outro de 0,25% em janeiro deste ano.
ESPECIAL
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No estado do Rio, municípios dependentes da cadeia do petróleo sofrem mais com o desemprego
5 Divulgação
Macaé e Campos, no Norte Fluminense, estão entre as cidades mais impactadas com postos de trabalho fechados JAQUELINE DEISTER
RIO DE JANEIRO (RJ)
H
á pouco mais de um ano, o baiano Maurício Oliveira migrou para o Rio de Janeiro na esperança de construir uma vida melhor. Aos 21 anos, ele deixou o seu estado para tentar uma vaga de auxiliar de serviços gerais no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), no município de Itaboraí. Porém, a promessa de emprego não chegou e Maurício teve que começar a trabalhar como camelô nas ruas do centro de Niterói. “Eu vim em busca de emprego, através de uns colegas que trabalhavam no Comperj, mas lá não está tendo mais emprego, não consegui nada. Há muito tempo, na Bahia, o povo falava que aqui tinha muito trabalho, e eu vejo que não é nada disso. Ficar aqui para receber mil reais, para pagar aluguel, água e botar comida dentro de casa, não dá”, explica. A dificuldade vivida por Maurício é a mesma de milhões de brasileiros. Contudo, no Rio de Janeiro, a situação acaba sendo pior do que na maior parte do país. De acor-
do com Diego Maggi, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), os últimos dados revelados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) apontam para um alto índice de desocupação, ou seja, pessoas que estavam dispostas a trabalhar, porém não conseguiam emprego. “Vemos que a situação do Rio de Janeiro é um pouco pior do que a média do país como um todo. Se a gente acompanha a taxa de desocupação, de janeiro a março, essa taxa no país foi de 13,1%. No estado do Rio, chegou a 15,6% no segundo trimestre de 2017”, destaca Maggi. Os dois setores econômicos que mais afetaram o encolhimento do mercado de trabalho no estado do Rio de Janeiro foram o da construção civil, responsável pelo “boom” no mercado imobiliário e o da extração mineral, onde entra a cadeia de petróleo e gás. Segundo o técnico do DIEESE, em 2016, o setor petroquímico somava em torno de 46 mil empregos formais, ou seja, trabalhadores que atuavam pelo regime da CLT ou por contrato, en-
A recuperação dos municípios que têm uma dependência da cadeia do petróleo não tem sido fácil
NÚMEROS
12.401
É o total de vagas de emprego eliminadas na região Norte Fluminense, em 2017 quanto em 2013, esse número girava em torno de 58 mil vagas de emprego. “Conforme veio o impacto da queda do preço do barril do petróleo e a desarticulação das contratações ao redor dessa cadeia produtiva em Macaé (RJ), vimos um desmonte da cadeia produtiva no Norte Fluminense, e isso afetou o total de empregos da indústria no estado”, aponta Maggi. CRISE A recuperação para os municípios que têm uma dependência maior da cadeia do petróleo não tem sido fácil, é o caso de Macaé e Campos dos
Goytacazes, por exemplo. De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), o município que sofreu com o impacto da queda dos royalties e do desmonte do setor, ainda não conseguiu se recuperar e segue apresentando um índice de desligamentos de postos de trabalho maior do que as admissões. “O que estamos vendo no Rio de Janeiro é um processo de desindustrialização que tem afetado diversos setores do mercado de trabalho, contudo, alguns municípios, que são mais dependentes de uma única atividade econômica têm sentido um impacto maior. A gente está tendo perda de empregos formais, celetistas (trabalhadores que atuam pelo regime CLT) em diversos subsetores da indústria, setor da metalurgia, alimentos e bebidas”, acresenta o técnico do DIEESE.
VOCÊ SABIA
?
O setor de petróleo e gás continua respondendo por boa parte do capital econômico do estado do Rio. Por isso, a preocupação com a nova estratégia de negócios da Petrobras adotada pelo governo Temer, que põe fim à política de conteúdo nacional na indústria do petróleo. Isso significa a venda de campos terrestres e marítimos para o mercado estrangeiro, redução de royalties e a extensão do Repetro, regime aduaneiro especial que dispensa a tributação de equipamentos importados destinados à pesquisa e produção de petróleo e gás natural até 2040.
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ESPECIAL
RIO DE JANEIRO, 17 A 25 DE JULHO DE 2018
Por que o preço do gás de cozinha e dos combustíveis continua a aumentar? Mesmo após greve dos caminhoneiros, política de preços continua vinculada ao mercado internacional
»»Conhecida
RUTE PINA
N
alterações nos preços internacionais. Ou seja, mesmo que um conflito no Oriente Médio ou a cotação do dólar aumentasse o preço do barril no mercado internacional, o custo de produção da estatal não se alternava. GOLPE “A grande mudança, a partir do golpe, foi a implementação de uma política de preço dos derivados que acompanha a subida dos preços internacionais do barril de petróleo. Quem ganha com essa situação são somente as empresas multinacionais que são aquelas que estão exportando os derivados”, explica o diretor licenciado do Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo, Ale-
EDUARDO MIRANDA
RIO DE JANEIRO (RJ)
SÃO PAULO (SP)
o início do mês, a Petrobras realizou mais um reajuste de 4,4% do gás de cozinha, o GLP (gás liquefeito de petróleo). A estatal também elevou em 0,9% preço da gasolina comercializada nas refinarias. As mudanças foram feitas pouco mais de um mês após a mobilização dos caminhoneiros e dos petroleiros, que paralisaram o país por 10 dias justamente contra o aumento do preço do diesel e dos derivados do petróleo. A greve, realizada em maio, resultou na saída de Pedro Parente da presidência da Petrobras e no congelamento temporário do preço do diesel. No entanto, o novo presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, manteve a política de acompanhar os preços do exterior — ou seja, o Preço de Paridade Internacional (PPI), política adotada em outubro de 2016 pelo governo de Michel Temer (MDB). A estatal afirmou, em nota, que o novo aumento do gás de cozinha reflete a desvalorização do real frente ao dólar e a elevação das cotações internacionais. Nas gestões anteriores, os custos de venda dos produtos refinados pela Petrobras se sustentavam nos custos nacionais de produção do petróleo, independente das
População vai pagar pela “MP do Trilhão” que isenta empresas estrangeiras na exploração do petróleo
xandre Castilho. Após a mobilização em maio deste ano, o governo passou a compensar a diferença entre o preço congelado do diesel e o valor do mercado internacional. No entanto, os combustíveis continuam a vinculados a uma política de preços, na opinião do presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), Felipe Coutinho, desnecessária e com pouca transparência. “A partir dessa referência internacional, em que você cresce estimativas de custo de importação, estimativa de risco e de lucros, esses números também podem ser variados e reajustados de acordo com diretrizes da Petrobras, que ela também não revela”, explica.
como a “MP do Trilhão”, a Medida Provisória 795/2017, editada pelo presidente Michel Temer e transformada pelo Congresso Nacional em lei, vai isentar empresas estrangeiras no setor de petróleo de pagar impostos na importação de produtos como plataformas, máquinas e equipamentos. O prejuízo aos cofres públicos pode chegar a R$ 1 trilhão nos próximos 20 anos. E quem vai pagar a conta da renúncia fiscal é a população. Pesquisadora do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP), Caroline Scotti Vilain avalia que o governo faz um movimento contraditório, já que pretende sanar problemas financeiros de caixa, mas concede benefícios a multinacionais. “Fazer renúncia fiscal em ano de problema financeiro é muito problemático. O país está em crise e o governo vai ter que arrecadar de outros lugares que podem cair sobre a população. E atrair empresas estrangeiras através de renúncia fiscal é inverter o problema que existe de falta de arrecadação”, aponta a pesquisadora. Para o coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Simão Zanardi Filho, a MP
do Trilhão é apenas uma das ações do governo para privatizar a Petrobras. Segundo Simão, os desdobramentos são o pagamento pelo patrocínio do golpe de Estado com a ajuda de setores estrangeiros. “Primeiro, José Serra (PSDB), acabou com a Petrobras como operadora única do pré-sal para dar lugar às multinacionais. Agora, o governo golpista editou a MP do Trilhão. Na sequência, o governo Temer acabou com o Fundo Soberano, que poderia socorrer o país em caso de crise e amparar a população, com inclusão social”, critica o representante dos petroleiros. Em audiência recente no Senado, na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR), o senador Paulo Rocha (PT-PA) alertou para a necessidade de mobilização. “É um crime de lesa-pátria, com nossa principal, riqueza que descobrimos nos últimos anos, graças a quê?
VOCÊ SABIA
?
Dentro do plano de entrega do petróleo a estrangeiros e de privatização da Petrobras, a Câmara dos Deputados aprovou a Lei 8939/17, que permite à estatal brasileira transferir a outras petroleiras até 70% de seus direitos de exploração de petróleo e do pré-sal. A lei é de autoria do deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA).
ESPECIAL
RIO DE JANEIRO, 17 A 25 DE JULHO DE 2018
ENTREVISTA
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JOSÉ MARIA RANGEL, COORDENADOR LICENCIADO DA FEDERAÇÃO ÚNICA DOS PETROLEIROS (FUP)
“Falta de investimento da Petrobras no estado do Rio causou efeito devastador”, afirma José Maria Rangel Nathália Gregory
EDUARDO MIRANDA
RIO DE JANEIRO (RJ)
A
s sucessivas ações de desinvestimento da Petrobras não têm razões técnicas, mas políticas. Essa é a avaliação de José Maria Rangel, coordenador licenciado da Federação Única dos Petroleiros (FUP). Ao promover a privatização de importantes setores da petroleira, o governo federal está acabando com o conceito da Petrobras como empresa de petróleo integrada, critica Rangel. No estado do Rio de Janeiro, os impactos em regiões como Macaé e Campos se refletem em queda de arrecadação de royalties para o estado e desemprego generalizado. Brasil de Fato: Qual é o impacto gerado pela falta de investimentos da Petrobras no estado e, principalmente, nas regiões de Macaé e Campos? José Maria Rangel: Estão vendendo campos de petróleo, termelétricas, fábricas de fertilizantes, dutos, malhas de gás e estão acabando com o conceito da Petrobras como empresa de petróleo integrada. A Petrobras vem saindo de diversas áreas que julgamos importantes. A greve dos caminhoneiros ainda provocou um certo recuo, até porque a políti-
O desemprego direto atinge em torno de 40 mil pessoas na região" lhões a fim de pagar dívidas e amortizar juros. Se ela investisse entre 10% e 20% desse dinheiro na Bacia de Campos, geraria um impacto bastante positivo na geração de empregos na nossa região. Lamentavelmente, essa não é a prioridade. José Maria: investimento na Bacia de Campos teria impacto positivo na geração de empregos ca entreguista ficou muito escancarada. Mas há falta de investimentos para dar sobrevida aos campos chamados de maduros da região de Macaé. O que vem sendo feito nesse sentido? Nada. A Petrobras tem carreado os recursos para a área de exploração e produção do pré-sal. A redução da atividade na região causa transtorno social grande. Temos não apenas a questão dos royalties que ajudam o desenvolvimento das cidades, mas também a geração de emprego. O esvaziamento de investimentos aumenta a situação de pobreza que
O esvaziamento de investimentos aumenta a situação de pobreza que a região de Macaé, Campos e o entorno passam a sofrer" a região de Macaé, Campos e o entorno passam a sofrer. Há números sobre esse impacto em relação aos desempregados na região?
O desemprego direto atinge em torno de 40 mil pessoas. No setor privado que presta serviços para a Petrobras em todo o Brasil, a perda está na ordem de 150 mil empregos. Se extrapolarmos para outros segmentos com algum tipo de ligação com a empresa, a desaceleração pode ter provocado 700 mil desempregos. Há razões técnicas para não se retomar esses investimentos? Não existem razões técnicas, existem razões políticas. Apenas no ano passado, a Petrobras destinou para os bancos R$ 137 bi-
É possível calcular, no estado do Rio, os resultados do desmonte da indústria naval? O impacto é devastador, estamos com nossos estaleiros praticamente vivendo de reparos que não necessitam de muita mão de obra, entre 400 e 500 pessoas. Estamos falando de estaleiros que já empregaram 10 mil pessoas para construção de uma plataforma. O setor de óleo e gás já responde por 40% da arrecadação do Rio de Janeiro. Quando vemos o estado hoje nessa penúria financeira, a gente afirma que se não houver uma recuperação do setor no estado, dificilmente o Rio de Janeiro sairá dessa crise.
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CULTURA & LAZER
RIO DE JANEIRO, 17 A 25 DE JULHO DE 2018
PEÇA DE TEATRO ‘O PEQUENO PRÍNCIPE PRETO’ RECONTA CLÁSSICO INFANTIL Rodrigo Menezes
Espetáculo, em cartaz no Centro do Rio, discute empoderamento, autoestima e racismo
sidade de cores, características, sabores, texturas, sonoridades e sotaques.
Q
uando era criança, ainda em Ipueira, no interior do Rio Grande do Norte, Junior Dantas pediu a uma professora para interpretar um príncipe em uma apresentação de teatro. A resposta foi negativa, já que o hoje ator de ‘O Pequeno Príncipe Preto’, em cartaz no Teatro Glauce Rocha, no Centro do Rio, não era loiro e não tinha olhos claros. “A professora me disse que não existia príncipe preto. Cresci com isso, não tive referência de super-heróis na infância e nunca houve na minha família um diálogo sobre tons de pele ou cabelo crespo. A peça começa a partir dessa minha história”, conta Junior Dantas, que vem fazendo sucesso entre crianças e adultos e lotando as sessões do espetáculo no papel do príncipe negro. A peça surge de perguntas que ainda ecoam no Brasil: “Por que a maioria dos livros infantis só tem heróis e príncipes bran-
Tempo
Quinta-feira, 19 de julho Sol com nuvens e sem chuvas
Ator Junior Dantas teve papel de príncipe rejeitado na infância por ser negro cos de olhos claros? Por que as bonecas e bonecos têm características físicas que não se assemelham com a maioria da população brasileira? Por que nas canções e contos infantis o branco é belo e puro e o preto não?”. ‘O Pequeno Príncipe Preto’ discute o empoderamento e a autoestima de crianças e adolescentes negros que não se veem
33
ºC
15°
representados na maioria dos livros e brinquedos que lhes são oferecidos. Permeado por canções e brincadeiras, o espetáculo semeia o entendimento sobre a importância da valorização de questões como diversidade, cultura, amor, generosidade, empatia e respeito, além de ressaltar a influência do aprendizado familiar para que as crian-
Sexta-feira, 20 de julho Sol com poucas nuvens
33°15°
ças cresçam fortalecidas. A encenação tem uma narrativa que ressignifica fatos históricos e o espetáculo é quase todo embalado por percussão de tambores, somado com lundu (ritmos brasileiros), Kuduro (ritmo angolano) e jazz e soul (ritmos afro- americanos), com uma trilha musical original. A brasilidade múltipla está em cena, através do respeito à diver-
Sábado, 21 de julho Sol com poucas nuvens
32°16°
CLÁSSICO O clássico de 1943 do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, ‘O Pequeno Príncipe’, ganha uma nova roupagem e adaptação à cultura brasileira, com a direção e o roteiro de Rodrigo França. Em sua passagem pelos planetas, o menino príncipe visita o Planeta Terra e vem ao Brasil. “O nome ‘preto’ no título representa também a nossa equipe, composta em sua maioria por pessoas pretas. E o público que vem assistir acaba se sentindo muito representado, prova disso é o teatro sempre lotado. Mas é bom lembrar que para que eu estivesse aqui hoje no palco, muitos outros artistas lutaram por esse lugar de fala”, afirma Junior Dantas.
Serviço
» A peça fica em cartaz até 29 de julho. Aos sábados e domingos às 16h, com ingressos a R$ 10 e R$ 20. O Teatro Glauce Rocha fica na avenida Rio Branco, 179, no centro.
Domingo, 22 de julho Sol com poucas nuvens
24°20°
CULTURA & LAZER
RIO DE JANEIRO, 17 A 25 DE JULHO DE 2018
TELEVISÃO
FELIPE MARCELINO*
O CLIP DE NEGO DO BOREL: PROMETIA SER UM “LACRE”, MAS... CLOSE ERRADO!
O
novo clip de Nego do Borel, “Me solta”, foi um dos assuntos da semana. Nele, o cantor aparece caracterizado como a personagem “Nega da Borelli”, de bolsa, sapato de salto alto, com uma roupa vermelha coladinha, brincos, bem “lacradora”, chegando a dar um beijaço num ator famoso. A primeira reação de grande parte do público foi de surpresa e admiração pela coragem do funkeiro, considerado um símbolo sexual, surgir como um personagem gay. Surgiram elogios pelo fato de o cantor romper esse tabu e trazer essa representação do público LGBT.
Da admiração, público passou a questionar oportunismo do cantor Mas isso durou bem pouco. Rapidamente foi lembrada uma foto em que o cantor aparece ao lado do deputado federal Jair Bolsonaro, famoso por, entre outras aberrações, dar declarações homofóbicas e se colocar contra o avanço de direitos da comunidade LGBT. E o povo (especialmente a comunidade LGBT) não perdeu tempo. Logo, Nego do Borel foi associado como um apoiador do tal candidato. Da admiração inicial, o cantor foi acusado de oportunista ao fazer uso da estratégia do “pink money”, ou seja, utilizar da representatividade LGBT para lucrar. Também foi criticado o reforço dos estereótipos.
CAÇA-PALAVRAS www.coquetel.com.br
Divulgação
O funkeiro, ao saber da repercussão negativa, se justificou sobre a foto: "Eu não apoio o Bolsonaro. Esta foto foi tirada num jantar em que eu estava também, a pedido do filho dele. Não costumo negar tirar fotos com ninguém". No entanto, existem outras postagens em redes sociais demonstrando sua admiração pelo deputado. Já sobre a personagem que interpretou no clipe, ele disse: “A Nega da Borelli é uma personagem que, pra mim, representa a liberdade de ser quem eu sou.”. Bem curiosa essa polêmica envolvendo o clip que prometia ser um “lacre” na cara da sociedade; mas, até o momento, gerou mais críticas e desconfortos. Um verdadeiro “close errado”! A polêmica está aí e serve para refletirmos. Usar de representatividade para conquistar um público do mercado requer coerência com posturas e escolhas na vida real. Não tendo isso, pega muito mal. Que outros artistas aprendam com isso! Um abraço, *Felipe Marcelino é professor de filosofia
TIRINHA | André Dahmer http://www.andredahmer.com.br/
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10 ESPORTES
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Não é só um jogo: oito fatos da Copa que reforçam a ligação entre futebol e política Reprodução
DANIEL GIOVANAZ E POLIANA DALLABRIDA
MOSCOU (RÚSSIA)
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Copa do Mundo 2018 entrou para a história pela utilização inédita do árbitro de vídeo, pela hegemonia das seleções europeias e pela eliminação precoce de seleções consideradas favoritas, como Alemanha, Argentina e Brasil. Mas o Mundial da Rússia também ajudou a comprovar a relação indissociável entre futebol e política. O Brasil de Fato selecionou os acontecimentos políticos mais importantes desta Copa. Confira na lista abaixo: 1.SEM CHUTEIRAS Sanções econômicas dos Estados Unidos ao Irã incidiram sobre empresas estadunidenses que atuam ou fazem negócios com o país. A menos de um mês antes do início da Copa, os jogadores da Seleção Iraniana se viram sem as chuteiras que seriam fornecidas pela Nike. 2.O CHORO DE SON A derrota para o México que praticamente eliminou a Coreia do Sul foi marcada pelo choro de seu principal jogador. Son Heung-Min, de 26 anos, via o fim de sua carreira mais próximo ao final daquele jogo. Se não conseguir comprovar um grande feito esportivo pela seleção nacional, ele terá que cumprir 21 meses de serviço mili-
tar, obrigatório no país até se completar 28 anos. 3.SÓ UM TÉCNICO NEGRO Das 32 seleções na Copa, apenas uma era comandada por um técnico negro, Aliou Cissé, treinador de Senegal. A baixa proporção de negros em postos de comando chamou a atenção, ainda mais em um torneio marcado pela presença massiva de jogadores com ascendência africana nas seleções europeias. Cissé tem a menor remuneração entre todos os técnicos do Mundial. O treinador senegalês recebe 16 vezes menos que Tite, da Seleção Brasileira. 4.MULHERES NO ESTÁDIO Pela primeira vez desde a Revolução Iraniana, em 1979, mulheres e homens puderam assistir a uma partida de futebol num estádio juntos. A presença de mulheres como espectadoras em competições masculinas é proibida. Com uma mobilização pela internet, as mulheres conseguiram pressionar as autoridades de Teerã e tiveram seu acesso permitido ao estádio Azadi. 5.REFEIÇÃO INCONVENIENTE Principal jogador da Seleção do Egito, Mohamed Sa-
Pranto de sul-coreano revelou face autoritária e impiedosa de país que é vendido como território da liberdade lah foi tietado por convidados da Confederação Egípcia de Futebol e coagido a participar de jantares com políticos ligados ao país de origem e receber uma placa de cidadão honorário da Chechênia. Salah não escondeu a insatisfação por ter sua imagem utilizada para fins políticos e de aproximação diplomática. 6.A PROVOCAÇÃO DA ÁGUIA Um mesmo gesto após a comemoração de dois gols
rendeu multas e exigiu explicações e desculpas de dois jogadores suíços. As famílias de Shaqiri e Xhaka são do Kosovo , província da antiga Iugoslávia, e migraram para a Suíça nos anos 90, após a dissolução da Iugoslávia e a escalada dos conflitos separatistas na região. Em Kosovo, a maioria dos cidadãos têm origem albanesa. É o caso da família de Shaqiri e Xhaka. O gesto feito depois dos gols era uma representação da bandeira da Albânia.
7.FASCISMO E ANTIFASCISMO NA SUÉCIA Os suecos empatavam em jogo contra a Alemanha quando o meia-campista Jimmy Durmaz cometeu uma infração. Toni Kroos cobrou e fez o gol que deu a vitória ao time alemão. Horas depois, torcedores suecos dirigiram insultos racistas e islamofóbicos contra Durmaz, que nasceu na Suécia e tem pais turcos. Insultos como “blatte”, gíria sueca ofensiva aos árabes, “diabo-árabe”, “terrorista” e “taleban” foram escritos nas redes sociais do meio-campista. 8.HERANÇAS DO COLONIALISMO Cinco dos onze titulares da Seleção Francesa, finalista desta Copa, têm raízes na África Subsaariana. O zagueiro Umtiti é natural de Camarões. Os pais do volante Pogba nasceram em Guiné; os de Kanté, em Mali. O atacante Mbappé é filho de mãe camaronesa e pai argelino. A Copa 2018 deixou claro que quem carrega o piano, nas principais seleções europeias, são imigrantes e filhos de imigrantes africanos. O futebol, criticado por ser uma ferramenta de alienação, tornou-se um convite para se estudar a história do colonialismo, e fornece elementos únicos para se refletir sobre as condições de vida dos migrantes e refugiados na Europa.
ESPORTES
RIO DE JANEIRO, 17 A 25 DE JULHO DE 2018
Louvre põe camisa da França na Mona Lisa e irrita italianos
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Reprodução / Twitter
Museu provocou país rival ao celebrar bicampeonato mundial
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INTEGRANTES DO 'PUSSY RIOT' QUE INVADIRAM CAMPO NA FINAL PEGAM 15 DIAS DE CADEIA
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O quadro italiano Mona Lisa pertence ao Museu do Louvre, na França
Após fraca campanha na Copa, Argentina demite Sampaoli » Após longas negociações e a fraca campanha da Argentina na Copa da Rússia, a Associação de Futebol Argentinoanunciounodomingo(15)queJorgeSampaoli não é mais o treinador da seleção "Albiceleste". Sampaoli tinha contrato com a seleção argentina até 2021 e o valor da sua multa rescisória o impedia de ser demitido. No entanto, segundo o diário "Olé", após um "acordo mútuo", o comandante aceitou reduzir o valor dela de US$ 8,5 milhões para US$ 2 milhões e deixou o cargo. O técnico de 58 anos foi anunciado como treinador da Argentinaemmaiode2017,mas,desdeoinício,conviveu
com as críticas. Sampaoli conseguiu levar a "Albiceleste" para a Copa do Mundo na última rodada das Eliminatórias e viu seu trabalho ruir ao longo do Mundial. Na Rússia, a Argentina se classificou para as oitavas de final graças a uma vitória salvadora diante da Nigéria, após empatar com a Islândia e perder para a Croácia. Os argentinos foram eliminados ao perderam para a campeã França, por 4 a 3. A imprensa da Argentina cogita muitos nomes para substituir Sampaoli, entre eles Marcelo Gallardo, Mauricio Pochettino, Diego Simeone, Ricardo Gareca, Matías Almeyda e Juan Carlos Osorio.
s três mulheres e o homem que invadiram o campo da final da Copa do Mundo de 2018, no último domingo (15), foram condenados a 15 dias de prisão e três anos sem poder participar de eventos esportivos. Os quatro ativistas pertencem ao grupo feminista Pussy Riot, banda de punk rock que ficou famosa em 2012, ao protestar contra o presidente da Rússia,
Vladimir Putin, dentro de uma igreja. Na ocasião, as três integrantes do conjunto foram sentenciadas a dois anos de prisão, mas acabaram beneficiadas por uma "anistia" em 2013. Os quatro membros do Pussy Riot que invadiram a final da Copa estavam vestidos como policiais, em um ato para criticar a repressão política na Rússia.
FRASE DA SEMANA O português Cristiano Ronaldo, que deixou o Real Madrid e foi apresentado nesta segundafeira (16) ao clube italiano Juventus
Com 33 ou 34 anos muitos estão acabados, e eu não"
Divulgação
Museu do Louvre, em Paris, irritou torcedores italianos ao divulgar no Twitter uma montagem da "Mona Lisa" vestindo a camisa da França, para celebrar a vitória do país sobre a Croácia na final da Copa do Mundo de 2018. "Parabéns à equipe da França pela sua vitória", diz a publicação do museu mais famoso do mundo, acompanhada por uma imagem da obra-prima de Leonardo da Vinci. Os italianos, furiosos com o fato de o Louvre ter usado para celebrar um quadro feito por um artista do país da bota, reagiram. Entre as respostas ao museu, há provocações por causa da vitória da Azzurra sobre a França na final da Copa de 2006 - os dois países cultivam uma das maiores rivalidades da Europa - e acusações sobre uma suposta tentativa de apropriação da cultura italiana. Alguns até pediram para a França devolver a "Mona Lisa". O museu, sem se preocupar em ser diplomático, ainda colocou mais lenha na fogueira, ao dizer, em italiano, que foi o próprio Da Vinci quem vendeu o quadro para o rei Francisco I. (Ansa)
Reprodução
12 ESPORTES
RIO DE JANEIRO, 17 A 25 DE JULHO DE 2018
PAPO ESPORTIVO
LUIZ FERREIRA
Reflexões necessárias no final de uma Copa do Mundo
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ois é, pessoal. A Copa do Mundo 2018 terminou. Foram 64 partidas, 169 gols marcados (excelente média de 2,64 por jogo) em pouco mais de um mês de muita festa, muitos memes e muita coisa pra ser discutida por um bom tempo. Foi o Mundial das estratégias e das bolas paradas. Mas também foi uma competição que serviu pra gente analisar muita coisa do futebol brasileiro. Que me perdoem os puristas, mas a França foi realmente o melhor time da Copa do Mundo. Mesmo com as polêmicas da arbitragem de Nestor Pitana. O argentino marcou uma falta
Fotos Públicas
Os comandados de Didier Deschamps foram mais regulares e mais eficientes durante todas as partidas inexistente em Griezmann no lance que originou o primeiro gol da decisão em Moscou e ainda mostrou uma
E FALANDO NA CROÁCIA... » A razão apontava para a França sendo campeã, mas o coração estava na Croácia. Difícil não torcer por Modric, Vida, Madzukic e Perisic depois da Copa do Mundo absurda que essa seleção fez. Foram três prorrogações, duas decisões por pênaltis e atuações incríveis contra a Argentina (na fase de grupos) e a Inglaterra (nas semifinais). O cansaço acabou falando mais alto na decisão contra os franceses. Também faltou sorte no lance do primeiro gol e um pouco mais de concentração depois que o time conseguiu o empate. Mesmo assim, a segunda colocação na Copa do Mundo é um prêmio para uma geração extremamente talentosa e vitoriosa.
certa insegurança em determinados momentos da partida. Por outro lado, os comandados de Didier Des-
champs foram mais regulares e mais eficientes durante todas as partidas da competição na Rússia. A dupla de
zaga formada por Varane e Umtiti, os volantes Kanté, Pogba e Matuidi e o atacante Griezmann fizeram um Mundial absurdo. Mas nenhum deles chegou aos pés de Kylian Mbappé. O camisa 10 jogou demais. Marcou quatro gols na Copa do Mundo e quebrou uma marca que não era superada desde 1958. O francês foi o segundo jogador abaixo de 20 anos a balançar as redes numa final de Mundial depois de um certo jogador chamado Edson Arantes do Nascimento. Modric que me perdoe, mas Mbappé é o craque da competição na opinião deste colunista.
E O QUE FICA DA COPA DO MUNDO? » A verdade, amigos, é que o Mundial da Rússia trouxe uma série de reflexões. Falar que o futebol brasileiro tem muito a aprender com as campanhas de França, Croácia, Bélgica e Inglaterra é chover no molhado e até mesmo soar oportunista. Mas é bom lembrar que alguns conceitos defendidos por boa parte da imprensa esportiva foram derrubados com a vitória francesa. O primeiro deles é a crença de que “camisa 9 bom é aquele que faz gol”. Giroud terminou a Copa do Mundo sem balançar as redes, mas foi importantíssimo no esquema tático da seleção francesa. E foi campeão. Onde está o seu Deus agora? Outro ponto está na forma como todos nós encaramos o Mundial. Às vezes é
preciso compreender que as derrotas acontecem por mero capricho dos deuses do velho e rude esporte bretão. Levantar suspeitas, acusar os jogadores de falta de raça e afins é fechar os olhos para situações que acontecem dentro de campo. Resultados ruins fazem parte do esporte. É do jogo. Paciência. Que a nossa Seleção Brasileira aproveite os próximos quatro anos para se renovar e se fortalecer para a Copa do Mundo do Catar. E que eu e você nos lembremos de que o futebol é muito mais do que vencer ou perder. Tem muito mais coisa no meio dessa modalidade tão apaixonante que não caberia numa simples página de jornal.