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RIO GRANDE DO SUL
Foto: Alexandre Garcia
ENTREVISTA “A PANDEMIA SALVOU O SUS. SUA PRIVATIZAÇÃO ESTAVA ANUNCIADA”, DIZ AUDITOR DÃO REAL PÁGIN A 3
BRASIL DE FATO RS QUATRO ANOS DE RESISTÊNCIA NA BATALHA DA COMUNICAÇÃO PÁGIN A 8
30 de junho de 2022 distribuição gratuita brasildefato.com.br
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Ano 4 | Número 36
A VIDA SEM O ESTADO Foto: Luz Dorneles
Nos últimos anos, o Estado se distanciou da sociedade. Cresceu o desemprego, aumentou a carestia e voltou a fome. Quando chegar a hora de votar, eleitores e eleitoras decidirão se querem um Estado cada vez menor e mais ausente ou um Estado presente e mais solidário.
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CHARGE | Santiago
Opinião
O papel do Estado hoje. Mas qual Estado? ELIANE MARTINS (*)
Editorial
Não podemos errar em 2022 ▶ O Estado brasileiro vai estar em disputa novamente nas eleições deste ano. Ao votar estaremos dizendo que Estado queremos. É o que faremos quando a gente for escolher nossos candidatos a deputado estadual, deputado federal, senador, governador e presidente. Para tanto, precisamos atentar para o que sinaliza cada discurso. E, especialmente, aquilo que se esconde atrás de cada discurso. Porque tais intenções nem sempre são mostradas claramente ao eleitor. Olho vivo, portanto. Os candidatos estão divididos entre dois modelos de Estado. Um é o Estado que investe, acolhe e protege. Outro é o Estado que se ausenta, empurrando suas responsabilidades públicas, assumidas perante a Constituição de 1988, ao mercado. Que irá cobrar – e bem – por um serviço antes universal e gratuito. O primeiro é o Estado de bem-estar social. O segundo é o Estado mínimo. O primeiro garante saúde, educação, água, energia, estradas, proteção à natureza, segurança e um sem número de serviços, muitos deles gratuitos. É o Estado que interessa à imensa maioria dos eleitores e eleitoras que dele dependem. O segundo interessa aos empresários que só querem abocanhar, por preço vil, um bom negócio que lhes vai render muito dinheiro. Frente à frente com a urna, os trabalhadores e assalariados em geral não podem votar contra seus próprios interesses. Muitas vezes, porém, isso acontece e o tiro é disparado no próprio pé. Tanto no Rio Grande quanto no Brasil não é difícil perceber que os candidatos da situação jogam no time do Estado mínimo. Basta ver a obra de cada um. Errar todos erramos. O que não se pode é persistir no erro. Errar em 2022 terá um custo muito maior do que podemos imaginar.
▶ Partimos dessa pergunta para refletirmos sobre alguns aspectos da promessa de Estado de bem-estar social, o desmanche dessa promessa e seus atuais frangalhos. Será esse Estado que encontraremos se ganharmos as eleições de 2022. O que exigirá lutarmos por um tipo de transição da centralidade do mercado ter liberdade para lucrar sem limites para um projeto de sociedade onde seu centro seja atender todas as necessidades da vida humana em equilíbrio com a natureza. Esse centro requer outro Estado a ser construído. Nos anos de 1930, inaugurou-se no Brasil a promessa de integração das grandes massas populares na sociedade salarial de direitos. Uma versão com vários filtros como a carteira de trabalho assinada, alimentando uma lógica social de hierarquia e separação entre os trabalhadores formais e informais, além dos filtros de gênero e raça. Mesmo assim essa promessa se verificava concreta na forma de mobilidade social. Ainda que sob a precarização, havia a chance de as seguintes gerações terem acesso à educação e às novas oportunidades. Havia uma ideia de país e uma esperança. Desde os anos de 1990, essa promessa começa a ser desmontada e desmoralizada. Através da reestruturação da produção, com as aberturas comerciais, o novo padrão tecnológico, robotização, terceirizações, flexibilizações e retirada de direitos. Esse pântano patronal e político do capitalismo neoliberal precisou de um golpe de Estado em
PRECISAMOS PARTICIPAR DE MODO ATIVO DESTAS ELEIÇÕES, BUSCANDO COMPREENDER AS LÓGICAS DAS PROPOSTAS E DOS RUMOS DO ESTADO BRASILEIRO 2016 para impor a superexploração do trabalho com a reforma trabalhista, desmontando o que restava da promessa de inclusão social. Por isso, estas eleições são diferentes. Por sua condição de alterar o rumo da “gestão do descarte humano”. Não temos o direito de não nos defender. Precisamos participar de modo ativo destas eleições, buscando compreender as lógicas das propostas e dos rumos do Estado brasileiro e suas leis, regras, orçamentos diretos e secretos e suas instituições. É nos prepararmos para disputar uma transição para um Estado voltado para criar as condições para que identidades diversas da classe que vive do trabalho possam, estas sim, prosperar rumo a uma vida humana boa, justa e em sintonia com a natureza em sua plenitude de dignidade e de felicidade. Não temos nada a perder, a não ser esse pântano de desprezos e desesperanças! (*) Socióloga, integrante da coordenação nacional do Movimento das Trabalhadoras e dos Trabalhadores por Direitos (MTD)
www.brasildefators.com.br (51) 98191 7903 redacaors@brasildefato.com.br /brasildefators @BrasildeFatoRS brasildefato.rs CONSELHO EDITORIAL Saraí Brixner, Sandra Lopes, Enio Santos, Neide Zanon, Ademir Wiederkehr, Luiz Muller, Télia Negrão, Diva da Costa, Grazielli Berticelli, Bernadete Menezes, Gelson José Ferrari, Salete Carollo, Cedenir Oliveira, Lucas Gertz Monteiro, Vito Giannotti (In memoriam) | EDIÇÃO Ayrton Centeno (DRT3314), Katia Marko (DRT7969) REDAÇÃO NESTA EDIÇÃO Ayrton Centeno, Katia Marko, Marcelo Ferreira e Walmaro Paz | DIAGRAMAÇÃO Marcelo Souza | DISTRIBUIÇÃO Alexandre Garcia e Saraí Brixner | IMPRESSÃO Gazeta do Sul | TIRAGEM 25 mil exemplares.
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Decisão em outubro
“Não é o mercado mas o Estado quem defende a população”, afirma auditor
Foto: Katia Marko
Para Dão Real dos Santos, os movimentos sociais devem orientar sobre o voto e a importância do Estado de bem estar social AYRTON CENTENO PORTO ALEGRE
▶ Vice-presidente do Instituto
Justiça Fiscal, o auditor Dão Real Pereira dos Santos é um defensor do Estado de bem-estar e crítico do Estado mínimo neoliberal. Neste diálogo, ele enfatiza que não é o mercado, mas o Estado que ocupa a linha de frente da defesa da população, como ocorreu na pandemia. BdF - Como seria uma sociedade em que não houvesse Estado, ou seja, uma estrutura pública de organização social? Dão Real Pereira - Seria o império da barbárie. Uma sociedade sem Estado não teria lei nem justiça. Não havendo lei não haverá crime. Tudo será permitido. Os mais fracos serão subjugados pelos mais fortes. Pavimentação, saneamento básico, coleta e destinação do lixo, tratamento de água, iluminação pública, praças, semáforos, bombeiros, polícia, postos de saúde, escolas, universidades, tribunais, cadeias e muitas outras coisas são a materialização da presença do Estado. Sem Estado, não haverá lei, e todos serão absolutamente livres, o que significa que ninguém será efetivamente livre. BdF - A ideia de que o Estado é algo descartável ou, ao menos, excessivo conquistou grande parte da nossa sociedade. Como se impôs este pensamento? Dão - Há uma disputa entre Estado de bem-estar e Estado mínimo. Ou entre Estado e mercado. Defensores do Estado mínimo ou do mercado máximo, dizem que seu modelo garantiria maior liberdade e capacidade para promover o desenvolvimento. Mas no Estado mínimo não há saúde pública, não há escola pública, não há previdência pública... Seu marketing demoniza o público, idolatra o privado e critica os tributos. Uma família com dois adultos e duas crianças e renda familiar de R$ 2 mil mensais nunca conseguiria no mercado escola particular para os filhos, plano de saúde pri-
Protesto durante a votação da reforma trabalhista no Congresso Nacional
"Sem Estado, não haverá lei, e todos serão absolutamente livres, o que significa que ninguém será efetivamente livre", destaca Dão Real
CADA TRATAMENTO DE COVID-19 NA UTI CUSTOU R$ 45 MIL AO SUS vado para quatro pessoas, nem previdência. BdF - Tudo indica que, nas próximas eleições, vai estar em jogo justamente o Estado... Dão - Nesta eleição estão evidentes as diferenças de modelos. O projeto da situação é neoliberal e nega os avanços da Constituição de 1988, enquanto a oposição retoma a ideia do Estado social garantidor de proteção e de direitos. Os movimentos sociais poderão cumprir um papel importantíssimo nestas eleições de dar visibilidade exatamente nas diferenças entre os projetos que são opostos em todos os pontos que deveriam interessar aos eleitores. Essas diferenças precisam ser escancaradas. BdF - Na pandemia, foi o Estado, através do SUS, que vacinou, acolheu, curou e salvou vidas. Ninguém saiu pedindo socorro ao mercado... Dão - Sempre vamos em busca do Estado. Se perdemos a capacidade para o trabalho, vamos buscar auxílio no Estado. Se temos nosso di-
reito de propriedade lesado, pedimos socorro ao Estado. Na pandemia, o Estado garantiu renda emergencial para milhões de pessoas. E é impossível imaginar o que seria sem o SUS. A pandemia salvou o SUS. Sua privatização estava anunciada. Para cada tratamento de covid que exigiu internação em UTI, o SUS gastou em média R$ 45 mil. Quantas pessoas teriam condições de se tratar a este custo? BdF - A partir do momento que alguém deprecia o papel do Estado, o passo seguinte é contestar o valor dos impostos e, em seguida, sonegar, ou não? Dão - É o gasto público que injeta recursos na economia. Quando ninguém mais pagar tributos, o Estado será mínimo. Para isso é preciso desconectar o pagamento dos tributos dos serviços que os tributos pagam. Se o tributo é visto como algo ruim, a sonegação é tolerada e até festejada. Chegam a dizer que sonegar seria agir em legítima defesa.
SONEGAÇÃO ATINGE R$ 600 BILHÕES POR ANO, VALOR QUE SERVIRIA PARA ERRADICAR A POBREZA NO BRASIL
BdF - Aliás, qual é o volume da sonegação no Brasil e o que seria possível fazer com tamanho volume de recursos? Dão - O Sindicato dos Procuradores da Fazenda Nacional estima que a sonegação representa mais de R$ 600 bilhões ao ano. Ou quase 10% do PIB. Todo o orçamento da saúde mais o da educação para 2022 é metade deste valor. Os R$ 600 bilhões garantiriam uma renda de R$ 600,00 por mês para 83 milhões de pessoas. Seria possível acabar com a fome e erradicar a pobreza no Brasil. BdF - Como um trabalhador que perdeu emprego, férias, aviso prévio etc. e foi trabalhar como entregador de aplicativo pode se considerar melhor agora ou até mesmo “um empreendedor”? Dão - Entre não ter emprego e não ter nada e não ter emprego e poder ser entregador de aplicativo, essa segunda opção é uma vantagem. As pessoas têm dificuldade de perceber a relação entre a reforma trabalhista e a uberização do trabalho. São vítimas da desinformação deliberada. A quebra dos direitos trabalhistas só tem a função de reduzir o custo de mão-de-obra e aumentar o lucro. O empreendedorismo é o fetiche criado para reduzir as resistências.
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Trabalho Informal
Eleições terão duelo entre dois modelo
Após quase sete anos de encolhimento, país vai escolher entre um Foto: Miguel Schincariol/AFP
AYRTON CENTENO (*)
▶ O Estado será o grande personagem das eleições deste ano. Depois de três anos de Michel Temer e quase quatro de Jair Bolsonaro, o país decidirá
se deseja seguir no caminho dos últimos tempos ou se vai mudar. Dirá se quer continuar apostando em um Estado distante da maioria – presente apenas quando forçado pelas circunstâncias como ocorreu
ESTADO MÍNIMO OU NEOLIBERAL MERCA DO
O mercado se autorregula, ajusta-se por si mesmo. O Estado não intervém ou pouco intervém.
GA STOS
O Estado não deve estimular gastos com salários, já que isso favorece os assalariados, fortalece os sindicatos e prejudica os investidores.
RENDA
Maior desigualdade. Quem tem maior capacidade ou privilégios deve ter caminho aberto para ganhar mais dinheiro. Meritocracia.
SAÚDE
Privada e paga. Atendimento de segunda classe para quem não tem condições. Cada um deve prover as suas condições de saúde. No Brasil, imposição de teto de gastos durante 20 anos.
A LIMENTAÇÃO
Cada um ou cada família provê a sua.
SEGUR A NÇA
O Estado atua, mas está especialmente voltado à garantia da propriedade privada.
MENOR INTERV ENÇÃO
Cabe ao mercado libertar e tornar autônomos os indivíduos em relação ao poder do Estado que tem seu poder de intervenção reduzido. O Estado é menor.
EC ONOMI A
O Estado deve diminuir sua presença na atividade econômica. Extingue ou reduz muito a participação em empresas ou instituições públicas. Privatizar é a palavra de ordem.
IMPOSTOS
Os super-ricos não pagam impostos de seus lucros e dividendos e das suas fortunas. Corte nos gastos públicos e redução dos serviços prestados.
EDUCAÇÃO
Cada família deve prover a educação de seus filhos. Menos verbas para a manutenção das escolas públicas que podem ser profissionalizantes, orientadas para a formação de mão-de-obra. No Brasil, imposição de teto de gastos durante 20 anos.
TR A NSPORTE
O Estado gasta verbas públicas na construção de estradas, mas elas são leiloadas e entregues à empresas privadas que administram e cobram pedágios.
Depois de FHC, ataque ao Estado foi retomado com Temer e Bolsonaro Movimento foi acompanhado pela investida contra os direitos dos trabalhadores ▶ No Brasil, o primeiro grande movimento no sentido da diminuição do poder do Estado ocorreu durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Houve privatizações nos períodos Sarney, Collor e Itamar, mas alcançou o auge com FHC. Entre 1995 e 2002, com o apoio do empresariado, da mídia e do Judici-
ário, foram privatizadas grandes empresas públicas como a Vale do Rio Doce, a Telebras, a Companhia Siderúrgica Nacional e a grande maioria dos bancos estaduais. Muitas vendas ocorreram com subavaliação e financiadas pelo próprio Estado, fazendo com o processo também fosse chamado de “privataria”.
A venda deveria reduzir a dívida pública que era de US$ 78 bilhões em 1996. Mas não funcionou. O país ficou sem seu patrimônio e, em 2002, já estava devendo US$ 245 bilhões. Nos períodos Lula e Dilma, a prioridade voltou a ser o fortalecimento do poder do Estado como fora, no passado, nos governos trabalhistas de Getú-
lio Vargas e João Goulart. Mesmo os governos militares apostaram no Estado como indutor do desenvolvimento. Após o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma, retomou-se o ataque ao Estado com os governos de Temer e Bolsonaro. Ao mesmo tempo, começou a investida contra os direitos trabalhistas.
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os de Estado. Veja aqui qual o seu lado
m Estado mais distante ou mais presente na vida dos brasileiros na pandemia – ou se quer sua presença mais forte e atuante. O primeiro tem como modelo o Estado mínimo. Nele, o mercado é quem dita o jogo da economia. O segundo é o Estado de bem-estar social. Neste, o Es-
Foto: ©️Tarso Sarraf / AFP
tado assume um papel mais decisivo de participação e acolhimento. Mas onde estão as demais diferenças entre os dois modelos? Vamos acompanhar: (*) Colaborou Wálmaro Paz
ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL MERCA DO
Nega a regulamento do mercado por conta própria. É preciso a presença e a regulamentação do Estado.
M A IOR INTERV ENÇÃO
O Estado precisa agir para que o indivíduo - ou a maioria da população - não fique desprotegida. A sociedade deve oferecer oportunidades iguais para todos.
GA STOS
Mais dinheiro para programas sociais e de infraestrutura.
RENDA
Menor desigualdade de renda. Tributação maior sobre super-ricos ajuda a estabelecer mais igualdade de rendimentos.
SAÚDE
Pública e gratuita. Presença do Sistema Único de Saúde (SUS). Saúde é direito do cidadão e dever do Estado.
A LIMENTAÇÃO
O Estado garante a segurança alimentar de quem não possui recursos para comprar sua comida.
SEGUR A NÇA
O Estado zela pela vida de seus cidadãos e assegura condições de vida digna e segura.
EC ONOMI A
Maior presença na atividade econômica, investindo em infraestrutura e valorizando as empresas públicas.
IMPOSTOS
Os super-ricos devem pagar mais impostos. Mais gastos públicos devem melhorar os serviços prestados à população.
EDUCAÇÃO
Pública, gratuita e universal em todos os níveis. É direito do cidadão e dever do Estado. Os pais têm a obrigação de colocar seus filhos na escola.
TR A NSPORTE
Cabe ao Estado manter uma estrutura de serviços para que a população exerça seu direito de ir e vir.
Como não jogar contra seu próprio time Quando o eleitor e a eleitora sabem de que lado estão os candidatos, podem escolher com menor risco de errar ▶ O confronto entre as duas concepções de Estado é histórico e não apenas no Brasil. Se a gente for observar os partidos hoje em atuação, é possível alinhá-los com um lado ou outro. Os partidos à esquerda ou à centro-esquerda do espectro político estão muito mais próximos do Estado de bem-estar social. O que é fácil de perceber nas suas ações seja
no governo seja na oposição. É o caso do PT que governou o país entre 2003 e 2016 através das gestões Lula e Dilma. Pertencem ao mesmo grupo PCdoB, PSOL, PSB, PDT e Rede. No período, houve forte investimento em programas sociais em favor da soberania alimentar, da habitação popular, da educação e da saúde, por exemplo. Estavam na oposição e hoje estão
no poder partidos situados à centro-direita, direita e extrema-direita. Alinham-se à pregação neoliberal do Estado mínimo ou, ao menos, à redução drástica do papel do Estado. São adeptos das privatizações, votam pela redução dos direitos dos trabalhadores e a favor dos patrões. Entram neste rol legendas conservadoras ou ultra-conservadoras como PL, PP, União Brasil,
PSDB, MDB, Podemos, Republicanos, PTB, PRTB, PSC e Novo. Na hora do voto, o eleitorado vai decidir sobre o Estado que prefere, se mais presente ou mais ausente. Por isso mesmo, é importante que o eleitor ou a eleitora saiba a que turma pertence o seu candidato. Pode ser um voto afinado com os seus interesses ou um gol contra seu próprio time.
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Eleições 2022
Comitês Populares pretendem retomar a participação popular GERONIMO PEREIRA DA SILVA*
Moradores se organizam em Comitê Popular de Luta no Morro da Cruz Foto: Carolina Lima
ENTÃO, VAMOS LÁ ORGANIZAR ESTES COMITÊS!
Pode ser um grupo de 10 pessoas da própria rua, grupo de mulheres, mães, pessoas ligadas à Igreja, da escola de samba, da casa de tradição, do trabalho, da cooperativa... O método é juntar as pessoas, criar uma agenda de reuniões e debater os problemas e soluções vividos na comunidade local. Depois fazer contato com os outros comitês da região e compartilhar estas discussões. A ideia é organizar ações concretas como campanhas de solidariedade, mutirões de limpeza, revitalização de espaços, mobilizações para cobranças de ações públicas e conversar sobre política e o papel do Estado. * Direção estadual do MST
Moradores da Grande Cruzeiro também organizaram seu Comitê de Lutas Foto: Divulgação Comitê Rio
▶ Muitos foram os momentos em que as pessoas se organizaram em núcleos, pequenos grupos ou comunidades para dialogar sobre seus problemas e encontrar soluções. Esse processo de participação se tornou embrião de inúmeras experiências exitosas como as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Orçamento Participativo, organização de movimentos sociais no campo e na cidade. Ao longo das últimas décadas vimos o enfraquecimento destas ações e experiências por inúmeros motivos como a rotatividade de pessoas, o envelhecimento de lideranças, a institucionalização de grupos organizados, entre tantos outros. Com a fragilidade ou total ausência do Estado, faz-se necessário recriar espaços de participação que garantam a mediação do povo com as estruturas do Estado. Com este intuito, surge a ideia de criar Comitês Populares de Luta e Mobilização. Um espaço para debater os problemas vividos pela própria população nos seus espaços de moradia. Não há uma fórmula específica. Pode ser por rua, por setores, por região, por comunidade. O im-
portante é as pessoas se reunirem e conversarem sobre seus problemas. No Rio Grande do Sul, queremos através da organização dos comitês, propor políticas públicas que façam com que a população possa sentir a presença do Estado com mais intensidade e fortalecer a organização popular nos diversos recantos deste estado.
Ocupar os espaços do bairro, conversar com as pessoas e debater política com alegria, festa e cultura, são os objetivos do Comitê Popular de Cultura Alegria do Rio de Janeiro
28ª Feicoop ocorrerá de 15 a 17 de julho, de forma presencial, em Santa Maria
A Feira Internacional do Cooperativismo ocorre tradicionalmente no Centro de Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter Foto: Maiquel Rosauro
KATIA MARKO PORTO ALEGRE
▶ Organizada pelo Projeto Esperança/Cooesperança, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e do Instituto Federal Farroupilha (Iffar), juntamente com a Prefeitura de Santa Maria, a 28ª Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop) será totalmente presencial, de 15 a 17 de julho. O desafio deste ano será a realização do evento sem a irmã Lourdes Dill. Após 35 anos de atuação em Santa Maria, a religiosa foi transferida para a cidade de Barra do Corda, no Maranhão, e deixou a coordenação do Projeto Esperança/Cooesperança sob a batuta de José Carlos Perancone, o Zeca, como é popularmente conhecido. “A irmã Lourdes Dill cumpriu uma missão muito bonita. Ela ensinou muita gente, inclusive a mim, sobre
frente da prefeitura. Estamos fazendo um trabalho muito bonito junto com o prefeito Jorge Pozzobom e toda a sua equipe. O projeto vai seguir de forma gigante”, comentou a irmã.
O QUE É A FEICOOP?
No ano passado cerca de 60 mil pessoas passaram pela Feicoop em Santa Maria
a economia solidária e sobre a importância da agricultura familiar. Aprendi muito com ela. Assumo o compromisso absoluto de, enquanto for prefeito, prover tudo o que a Feicoop precisar. O nosso objetivo, neste ano, é fazer uma das maiores feiras da história, reafirmando o tí-
tulo de Santa Maria como Capital Mundial da Economia Solidária”, afirmou o prefeito Jorge Pozzobom, no lançamento da feira em abril. “Nós trabalhamos com a Prefeitura desde o primeiro ano do Projeto Esperança/Cooesperança, independentemente de quem estava à
A Feicoop ocorre tradicionalmente no Centro de Economia Solidário Dom Ivo Lorscheiter, na Rua Heitor Campos, atrás da Basílica Nossa Senhora Medianeira, em Santa Maria. Nos pavilhões, o público poderá encontrar produtos hortifrutigranjeiros e de agroindústrias e artesanato, além de debates e painéis voltados à economia solidária. Realizada há quase 30 anos, a feira costuma atrair caravanas de outros estados e países da América Latina. Segundo estimativa da irmã Lourdes Dill, na última edição, cerca de 60 mil pessoas passaram pela Feicoop.
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Cultura
Dicas de filmes sobre política e Estado PRIVATIZAÇÕES – A DISTOPIA DO CAPITAL (2014) - O filme do diretor Sílvio Tendler trata das privatizações na década de 1990, que chegam ao Brasil junto com a ascensão do neoliberalismo mundial. Mas, o que é o neoliberalismo? Em linhas gerais, são ideias políticas e econômicas que defendem a não participação do Estado na economia e a liberdade total de comércio, para garantir o crescimento econômico e o desenvolvimento social do país.
O CAPITAL (2012) - Costa Gravas faz uma leitura esmiuçada sobre
aspectos do neoliberalismo: o enredo acontece durante o clima de crise europeia, que começou em 2008 em decorrência da crise econômica da bolha imobiliária nos EUA, e retrata o poder político, o complexo modelo reestruturado do capitalismo e a selvageria social e financeira causada por ele.
DEMOCRACIA EM VERTIGEM (2019) - Dirigido pela cineasta Petra Costa, o longa metragem narra o processo de crise política vivido durante o período final do governo PT e o impeachment da então presidenta Dilma Rousseff. Um alerta em tempos de democracia
em crise, o documentário combina o pessoal e o político para explorar um dos momentos mais dramáticos e turbulentos da História do Brasil.
A BOLSA OU A VIDA (2021) - O documentário de Silvio Tendler aborda o desmonte do conceito de bem-estar social e nos faz refletir sobre a incompatibilidade do neoliberalismo com um projeto humanista de sociedade. “No futuro pós-pandemia do novo coronavírus, a centralidade será o cassino financeiro e acumulação de riqueza por uma elite ou uma vida de qualidade para todos, com menos desigualdade?”, questiona o filme.
NOVECENTO (1976)– É um filme épico ítalo-francês, dirigido por Bernardo Bertolucci, com fotografia de Vittorio Storaro e trilha sonora de Ennio Morricone. Foi filmado em Emília, na Itália. O filme faz uma retrospectiva histórica da Itália desde o início do século XX até o término da Segunda Guerra Mundial, com base na vida de Olmo (Gérard Depardieu), filho bastardo de camponeses, e Alfredo (Robert De Niro), herdeiro de uma rica família de latifundiários, que apesar de nutrirem uma amizade desde a infância, são colocados em pólos política e ideologicamente antagônicos por conta de suas origens sociais, retratando o intenso cenário político que marcou a Itália e o mundo nas primeiras décadas do século XX, representado pelo fortalecimento das lutas trabalhistas ligadas ao socialismo em oposição à ascensão do fascismo.
AMIGO SECRETO (2022) – O filme da diretora Maria Augusta Ramos narra os últimos capítulos da operação de combate a corrupção, Lava Jato, conduzida pelo ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) e os procuradores da República do Paraná, desde a condução coercitiva do ex-presidente Lula (PT), a apresentação de um PowerPoint colocando o petista como o líder de uma suposta organização criminosa, até o momento em que o Supremo Tribunal Federal determina que o ex-juiz é suspeito para julgar Lula, revogando uma série de condenações proferidas por Moro. O pano de fundo do filme é o vazamento de mensagens do Telegram, trocadas entre procuradores e Sergio Moro, no evento chamado Vaza Jato. O nome do filme, inclusive, faz uma alusão ao grupo de troca de mensagens, chamado "amigo secreto", onde eram combinadas intimações a possíveis testemunhas, ações para incriminar suspeitos, entre outras irregularidades.
A rm a ndinho (A l e x a ndre B eck )
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Comemoração
Brasil de Fato RS completa quatro anos trazendo uma visão popular do Brasil e do mundo aos gaúchos e gaúchas ▶ Em julho de 2018 foi distribuída a primeira edição impressa do Brasil de Fato RS. Foi começo da redação regional, que depois se expandiu e passou também a produzir notícias diárias no online. Já são 36 edições, fora publicações e encartes especiais –
como a edição especial de Humor e as quatro edições do Micuim - que relembramos aqui nesta página. Neste período, acompanhamos criticamente o desmonte do Brasil e do estado, dando voz a trabalhadores e trabalhadoras e nunca
deixando de fazer jornalismo comprometido com a transformação social. E tudo isso com acesso gratuito, contando com o apoio de entidades parceiras e de colaboradores. Precisamos do seu apoio para seguir na batalha das ideias.
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C OLUN A M A RI S TA S
▶ Somos uma nação jovem e uma
democracia “em fase de desenvolvimento”, o que obrigatoriamente nos faz conviver com os medos e os fantasmas daqueles que ainda pretendem fazer da política ferramenta para manutenção do poder, especialmente econômico que, na atual configuração global, está nas mãos de oito grupos familiares. São imorais as condições precárias em que vive a maioria da população no país. Os erros do governo brasileiro durante a pandemia fizeram com que o país já ultrapasse a marca de 670 mil mortes por covid-19. Muitas destas mortes poderiam ter sido evitadas com a presença do Estado através de políticas públicas. Mesmo assim, muitas pessoas defendem um projeto de Estado mínimo, de mínima responsabilidade e proteção social, e mais privilégios e violência contra os mais pobres. Engrenagens foram construídas para disseminar uma falsa consciência da necessidade de redução e regulação do Estado, tendo como pano de fundo a inovação e o empreendedorismo, que não respondem às reais necessidades do povo.
Por um Estado Democrático de Direito O momento atual a que o Brasil está submetido, obrigatoriamente nos coloca em alerta em relação à história recente do país. É preciso revisitá-la
Foto de Tuca Vieira que mostra Paraisópolis e prédio de luxo do Morumbi rodou o mundo e virou símbolo da desigualdade social
Pelo contrário, aumentam o abismo social e os problemas estruturais de ordem econômica e ambiental.
Nesta lógica, os serviços que deveriam ser garantidos gratuitamente e com qualidade, caso de saúde e edu-
cação, como nos assegura a Constituição de 1988, entram na esteira dos serviços que o Estado “não precisaria se preocupar”, passando esta responsabilidade ao mercado. Na prática, só quem tem dinheiro vai poder estudar e ter acesso à saúde. No Estado capitalista, o sonho de consumo de todo burguês é consolidar o Estado mínimo. É desta forma, a partir do controle das instituições, que os privilégios são mantidos, concentrando cada vez mais lucros em detrimento da fome de centenas de milhares de pessoas. Portanto, se é o Estado que ad ministra a miséria concentrando riqueza para poucos, a crítica à política não pode ser única e exclusivamente direcionada aos políticos. É preciso mirar no Estado e a forma como este está organizado. Para ter política para o povo, é preciso ter o povo na política a exemplo de instituições que têm como princípio a Economia Solidária. Quanto mais democracia mais justa é a distribuição de renda. Miguel Antônio Orlandi, Douglas Filgueiras, da Associação do Voluntariado e da Solidariedade – AVESOL