Jornal Brasil de Fato / RS - Número 40

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RIO GRANDE DO SUL 02 de dezembro de 2022 distribuição gratuita brasildefato.com.br /brasildefators brasildefato.rs @BrasildeFatoRS O QUE O PAÍS ESPERA DE LULA GOVERNO OS VOTOS DA ESQUERDA GARANTIRAM A VITÓRIA DE EDUARDO LEITE. E AGORA? PÁGINA 6 MILITÂNCIA O “TRABALHO DE FORMIGUINHA” QUE DERROTOU BOLSONARO NA PERIFERIA PÁGINA 3 Foto: Victor Frainer Foto: José Cruz/Agência Brasil Foto: Ricardo Stuckert Líder de uma frente que reuniu antigos desafetos, ele venceu o poder da máquina, do dinheiro, da mentira e do ódio. Mas agora vai precisar governar

EDITORIAL

Não vai ser fácil

▶ Lula vai assumir a Presidência no próximo dia 1º de janeiro e Bolsonaro vai para casa. Esta é a primeira cena do roteiro que 60.345.999 eleitores e eleitoras redigiram para o Brasil. Foi a maior votação obtida por um candidato à Presidência desde a redemocratização, quando foram instituídas as eleições em dois turnos.

Emburrado, o ainda presidente não deve passar a faixa ao sucessor, mas isso não tem a menor importância. Deve estar mais preocupado em salvar o couro da rajada de processos que irá persegui-lo em 2023. Além do mais, sempre haverá alguém melhor, um brasileiro ou uma brasileira honesta e decente, para ajeitar a faixa no peito do antigo metalúrgico.

O problema será o depois. Já se falou, inclusive, que Lula venceu o 1º e o 2º turnos, mas a partir de janeiro, terá que triunfar no 3º e no 4º. O terceiro será lidar com a herança trágica do bolsonarismo: uma nação envenenada pela discórdia e destroçada materialmente.

Bolsonaro poderá acabar, mas o bolsonarismo continuará vivo como elemento de degradação da política, das relações interpessoais e institucionais e de perene ameaça à democracia. É o 3º turno que a legião de alucinados, financiados e mantidos às portas dos quartéis, já antecipa.

Superado esse obstáculo, Lula terá que governar sob a pressão desse ente sobrenatural chamado “Mercado” que, já antes da posse, joga o jogo pesado do poder do dinheiro que sempre jogou. É o 4º turno.

É o “Mercado” que sequer franziu a testa diante dos crimes de responsabilidade em série praticados por Bolsonaro, dos 700 mil mortos por covid-19, das filas do osso e do desmantela mento do Brasil e de sua imagem no exterior. É a mesma divindade que cevou o golpe contra Dilma, bancou Temer, saudou a prisão ilegal de Lula e elegeu a abominação hoje instalada em Brasília.

Não vai ser fácil. Serão quatro anos para estarmos atentos e fortes. Aliás, o Brasil de Fato RS carrega o imenso orgulho de, desde 2018, ter estado do lado certo dessa história, ombro a ombro com os movimentos populares, os sindicatos, as ONGs progressistas e os partidos do campo democrático-popular. E tem o imenso orgulho de ter levado seu grão de areia à grande montanha da vitória popular.

OPINIÃO

Carta aberta à sociedade gaúcha

▶ Estamos vivendo um retrocesso histórico, violento, em que a defesa da democracia e a garantia do res peito de nossa decisão das urnas é a mais urgente das lutas.

A conjuntura de golpe e de retira da de direitos individuais e coletivos está destruindo nossas tradições e patrimônios históricos, materiais e imateriais. O genocídio da popula ção negra é institucionalizado. Crianças, jovens, homens e mulhe res são assassinados diariamente pelas forças de (in)segurança muni cipais, estaduais e federais e pelas milícias, apoiadas por forças políti cas e com reforço ideológico de sei tas neopentecostais.

O golpe que tirou do poder a pre sidenta Dilma Rousseff e elegeu um projeto autoritário e marcado por discurso e práticas nazifascistas, aprofundou o desemprego, aumen tando a marginalização da popula ção negra. Negras e negros consti tuem a grande maioria de trabalha dores no Brasil, mas, em grande parte, ocupam funções subalternas. As reformas apresentadas e aprova das na CLT e Previdência Social afe tam milhões de famílias. Nessas re formas está implícito o genocídio.

A eleição presidencial trouxe uma perspectiva de mudança. Consegui mos conter o projeto de poder auto ritário. A tarefa de primeira hora é

A PAUTA ANTIRRACISTA DEVE ESTAR NA CENTRALIDADE DO DEBATE NO GOVERNO, ASSIM COMO A LUTA ANTIRRACISTA DEVE SER ABRAÇADA POR TODA A SOCIEDADE (BRANCOS E NEGROS) E NO ANO INTEIRO, NÃO APENAS EM NOVEMBRO.

garantir o respeito ao resultado das urnas e a posse do novo governo. Es tamos fazendo nossa parte: derrota mos Bolsonaro nas urnas e continu amos nas ruas em luta pela demo cracia.

A pauta antirracista deve estar na centralidade do debate no governo, assim como a luta antirracista deve ser abraçada por toda a sociedade (brancos e negros) e no ano inteiro, não apenas em novembro. Assim, exigimos:

- Efetivação do Estado laico e combate ao racismo religioso;

- Políticas voltadas para as mi lhões de mulheres negras, chefes de família, base da força de trabalho do país;

- Feriado nacional da Consciência Negra (20 de novembro);

- Enfrentamento ao extermínio da juventude negra;

- Ampliação das cotas raciais;

- Efetivo cumprimento das leis que determinam o ensino de histó ria e cultura afro-brasileira e indíge na em todos os níveis de ensino (leis nº 10639 e 11645);

- Preservação dos territórios e das comunidades tradicionais;

- Imediata regulamentação da Lei do CODENE/RS, com aprovação do FUNPIR (Fundo de Reparações da Comunidade Negra).

Há muito mais no que avançar, mas essas são pautas mínimas ine gociáveis para enfrentar os proble mas mais urgentes.

Enquanto houver racismo, não haverá democracia.

Ditadura Nunca Mais!

Movimentos, entidades e organizações que integram o coletivo Novembro Antirracista Unificado 2022 Porto Alegre, Novembro de 2022

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| DIAGRAMAÇÃO Marcelo Souza | DISTRIBUIÇÃO Alexandre Garcia e Saraí Brixner | IMPRESSÃO Gazeta do Sul | TIRAGEM 25 mil exemplares.

CHARGE | Santiago
CONSELHO EDITORIAL Saraí Brixner, Sandra Lopes, Enio Santos, Neide Zanon, Ademir Wiederkehr, Luiz Muller, Télia Negrão, Diva da Costa, Grazielli Berticelli, Bernadete Menezes, Gelson José Ferrari, Salete Carollo, Cedenir Oliveira, Lucas Gertz Monteiro, Marco Aurélio Velleda, Vito Giannotti (In memoriam) | EDIÇÃO Ayrton Centeno (DRT3314), Katia Marko (DRT7969) REDAÇÃO NESTA EDIÇÃO Ayrton Centeno, Fabiana Reinholz, Marcelo Ferreira, Pedro Neves Dias e Walmaro Paz
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Como a memória e a militância ajudaram Lula a derrotar Bolsonaro PERIFERIA

Para pesquisador, o trabalho político consistente nas vilas e bairros pobres foi fundamental para a vitória

▶ O voto das periferias das gran des cidades ajudou a definir a elei ção de 2022. Em Porto Alegre, por exemplo, Lula venceu em sete das 10 zonas eleitorais no 2º turno. Teve 53,5% dos votos válidos, en quanto Bolsonaro alcançou 46,5%. Mas como foi construída essa vitó ria? A exemplo do que aconteceu em outras 10 capitais nas quais o candidato do PT triunfou – São Paulo, Belém, Salvador entre elas – vilas e bairros periféricos tive ram importância decisiva.

Até então, Lula e os demais candidatos presidenciais do PT não venciam em Porto Alegre ha via 20 anos. A regra foi quebrada já no 1º turno de 2022, repetin do-se no 2º. Para o pesquisador Paulo Roberto Rodrigues Soares, do Observatório das Metrópoles, o destaque fica por conta da forte

vantagem obtida em regiões mais populosas e mais pobres, tais como a vila Bom Jesus, mais os bairros Lomba do Pinheiro e Restinga. Enquanto isso, nas zo nas que concentram mais áreas de alto poder aquisitivo – Moi nhos de Vento, Bela Vista, Higie nópolis, por exemplo – Bolsona ro levou a melhor.

Em movimento parecido, a Região Metropolitana deu vitória

Mobilização na pandemia

▶ Para Karla Renée, professora e coordenadora do coletivo Diálogo de Resistência, militantes que atuam ao longo do ano, encon tram no período das eleições mais um desafio.

Moradora e atuante na cidade de Viamão (onde Lula também venceu nos dois turnos), ela ob serva que o período de isolamen to social dos anos 2020/2021 já havia mobilizado muita gente.

“Na pandemia, veio a resposta de uma parte da população que estava lá militando nas perife rias. Associações de moradores, movimento negro, cooperativas, povos de terreiro, as igrejas e ou tros movimentos garantiram o acesso das famílias à alimentação básica, produtos de higiene e saú de, políticas que eram ausentes no Estado”, relata.

Na sua avaliação, o momento de dificuldade mostrou a consci ência política da população da periferia, canalizando sua ener gia para a disputa eleitoral.

“Com essa memória presente, o povo periférico disse não ao Bolsonaro e aos seus quatro anos de atraso, de ausência de política pública e de mortes.”

Lucas Gertz, militante do Le vante Popular da Juventude, tem avaliação semelhante. Mo rador da Capital, ele integrou a coordenação da campanha pre sidencial de Lula no Rio Grande do Sul.

Na sua visão, a juventude, jun tamente com a mobilização dos sem-terra, as cozinhas comunitá rias e os comitês populares foram os pontos centrais para o resulta do obtido em Porto Alegre.

a Lula em alguns municípios, re fletindo uma certa extensão da periferia da metrópole para estes territórios.

Soares entende que o fenôme no merece uma análise mais de talhada pelas forças e movimen tos populares. Em certa medida, é possível afirmar que boa parte desse resultado eleitoral positivo decorre de um trabalho político militante consistente.

“Trabalho de formiguinha”

▶ “O nosso desafio sempre foi fazer com que nossas ações não fossem apenas em período eleitoral e que contribuíssem na conscientização”, diz Lucas Gertz.

Além disso, durante as atividades de campanha, ficou claro para ele que o povo tem lembrança das experiências dos governos petistas e das ações de solidariedade.

“Não foi por sorte ou destino que Lula venceu nesses locais, mas por uma história de luta que ainda segue viva na memória das pessoas e por um trabalho de formiguinha que foi retomado ao longo desses últimos seis anos na cidade”, ressalta.

Por fim, ressalta a utilização das edições impressas do Brasil de Fato RS, como uma ferramenta para a disputa de ideias.

“Na eleição, o jornal era necessário porque seu conteú do saía do convencional. Era um complemento qualificado para nossos mutirões de campanha e caminhadas. Em muitos momentos, quando nos víamos sem material de campanha, foram os jornais que garantiam o diálogo com a cidade. Nas atividades do Levante, ter o jornal era uma regra.”

Foto: Carolina Lima
A mobilização dos comitês populares foram os pontos centrais para o resultado obtido em Porto Alegre
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Solidariedade foi fundamental na pandemia

O Brasil espera muito, mas Lula vai

Depois da política de terra arrasada dos últimos quatro

Ao subir a rampa no próximo 1º de janeiro dando a largada do seu terceiro mandato presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva começa rá a cumprir suas promessas de campanha.

No rol de compromissos, figu ram o Bolsa Família de R$ 600, mais R$ 150 por criança da famí lia e o reajuste do salário-mínimo acima da inflação. É um desafio que traz um elemento complica dor: será enfrentado após o mais devastador governo que o Brasil já conheceu.

Desde 2019, soprou um vento de destruição varrendo a saúde, a educação, a ciência, o meio am biente e tantas outras frentes. No orçamento de 2023, o tamanho

Meio aMbiente

▶ Lula está comprometido em dar um basta à destruição da Amazônia, banindo a grilagem de terras, o ga rimpo ilegal e a extração criminosa de madeira. Porém, de janeiro a se tembro de 2022, a área de floresta derrubada na Amazônia Legal atin giu 9.069 km², ou seja, quase oito

do rombo é calculado em R$ 150 bilhões. Isto nas contas do gover no Bolsonaro. Na avaliação do ex -presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, são mais de R$ 400 bilhões.

O coordenador dos grupos do Gabinete de Transição, Aloizio Mercadante, afirma que a situação é de “urgência em todas as áreas”, causada pelo desmonte do Estado. Diz ainda que o Congresso precisa tomar logo uma decisão. “A folha de pagamento (Auxílio Brasil) tem que rodar para janeiro, a pande mia (está) se expandindo, as crian ças não estão sendo vacinadas e não há estatísticas”, critica.

Acompanhe aqui as ideias de quem está voltando ao poder em Brasília e a herança maldita a sua espreita:

vezes a área da cidade do Rio de Ja neiro. Será preciso remontar nova mente todo o sistema de fiscalização e desarmar os infratores. A ex-mi nistra Marina Silva diz que ruralis tas e grileiros estão apressando “a passagem da boiada antes de Lula assumir”.

PandeMia

▶ O Brasil terá que enfrentar a pan demia – que está retornando – apli cando a vacina para as novas va riantes do coronavírus, o que ainda não fez. Enquanto isso, está che gando nas 700 mil mortes por co vid-19. É o segundo nesse ranking sinistro, atrás apenas dos EUA. Teve 125 vezes mais mortes do que a China. O caos envolveu quatro ministros da Saúde, sendo o último um general. Desde o começo, Bol

c ultura

sonaro atacou a vacina que poderia transformar alguém “em jacaré” ou “causar AIDS” e debochou dos do entes que morriam com falta de ar. Em vez de comprar as vacinas ofe recidas ao Brasil, apostou na cloro quina. Enquanto alguns países já vacinavam no final de 2020, o Bra sil só começou em 2021. O relatório final da CPI da Pandemia pediu 69 indiciamentos, entre eles o de Bol sonaro.

educação

▶ Foram cinco ministros em quatro anos, um recorde. Ricardo Vélez, de pois Abraham Weintraub, seguido por Carlos Alberto Decotelli – que só ficou cinco dias no cargo – logo Mil ton Ribeiro e, hoje, Victor Godoy. Administrações movidas pela guerra ideológica. Dois deles, Weintraub e Ribeiro, saíram do ministério sob suspeita de malfeitos. Ribeiro che gou a ser preso em meio a acusações

de uso político da pasta que estaria favorecendo pastores evangélicos de forma ilegal. Durante quatro anos, Bolsonaro não reajustou as verbas destinadas à merenda escolar. E, para 2023, não há previsão de verbas para livros didáticos do ensino fun damental, o que pode afetar 12 mi lhões de crianças. Para a instituição Todos pela Educação, é a “pior gestão da história” da pasta.

Em guerra contra a cultura, o go verno atual massacrou o setor. Ago ra, porém, deve ganhar novo impul so. A começar pela decisão de recriar o Ministério da Cultura - hoje se re sume a uma secretaria dentro da pasta de Turismo e de desobstruir a

Segurança

▶ O desmonte na área é tão grande que a Polícia Federal ficou sem ver ba para imprimir passaportes e pa gar diárias para agentes que comba tem o tráfico na Amazônia. Já a Po lícia Rodoviária Federal alega faltar dinheiro para a manutenção dos

Lei Rouanet. Será implantado o Sis tema Nacional de Cultura, descen tralizando recursos e favorecendo estados e municípios. Na proposta, a cultura deve ser vista como uma in dústria capaz de gerar mais empre gos e renda.

seus veículos e, assim, poder fiscali zar e desobstruir rodovias. Segundo o coordenador do setor no Gabinete de Transição, senador Flávio Dino (PSB), é urgente obter os recursos, em torno de R$ 76 milhões, apenas para fechar as contas de 2022.

NOVO
GOVERNO
Foto: Greenpeace Presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, saúda a multidão na Avenida Paulista,
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Queimadas e destruição da Amazônia alcançaram recordes nos últimos anos

vai encontrar um país devastado

quatro anos, o grande desafio será a reconstrução

agricultura

▶ Quando 33,1 milhões de pessoas passam fome, Lula quer garantir a segurança alimentar dos brasileiros com uma agricultura e pecuária "comprometidas com a sustentabili dade ambiental e social". O que se fará, por exemplo, com maior apoio à agricultura familiar, à reforma agrá ria, à agroecologia e através de um programa de compras públicas para estimular a produção de alimentos saudáveis. O programa do novo go verno prevê a criação de uma "agroin dústria de primeira linha" e o fortale cimento da produção nacional de in sumos, máquinas e implementos. Para combater a inflação dos alimen tos, pretende retomar a proposta de estoques reguladores para impedir a escassez e a consequente alta dos preços no mercado.

trabalho e Salário

▶ Volta ao trabalho com carteira assi nada e salário digno são outras duas promessas. Mas a reforma trabalhista deixada pelos governos Temer e Bolso naro esmagou o poder de compra dos salários. Embora a taxa de desempre go tenha recuado um pouco em 2022,

Militare S

▶ Sob Bolsonaro, a política avançou sobre os quartéis, algo muito ruim para a democracia. O presidente en tupiu a administração federal com oficiais das três armas nomeados para cargos de confiança antes ocu pados por civis. O novo governo en tende que a função dos militares é

a massa salarial não aumentou. O salá rio-mínimo nacional está em R$ 1.212. Desde que Bolsonaro assumiu, não houve nenhum reajuste real de salário e nem mesmo a reposição da inflação. Uma das propostas de Lula é reajustar o mínimo acima da inflação.

Saúde

▶ Cortes no orçamento, escassez de vacinas e remédios básicos, filas para cirurgias e apagão de dados. É o qua dro da dor no Ministério da Saúde. Pior: R$ 10 bilhões da pasta foram re manejados para o “Orçamento Secre to”, onde o dinheiro público some e não se sabe como nem onde. E o programa Farmácia Popular, que alcança aquele medicamento para quem não pode pa gar por ele, sofreu uma tesourada de 50% de seus recursos. Doenças, antes controladas, voltaram a matar. O Pro grama Nacional de Imunizações (PNI) teve amputado metade do seu orça mento. A cobertura de vacinação – tu multuada por notícias falsas – contra sarampo, caxumba e rubéola caiu de 93% em 2019, para apenas 71% em 2021. Será preciso reativar a produção nacional de vacinas.

obra S

▶ Bolsonaro sugou 83% do orçamen to do desenvolvimento regional, afe tando áreas como habitação e sanea mento básico, ou seja, os mais po bres. Mais: praticamente não há re cursos previstos para a atuação da Defesa Civil nas cheias que costu mam ocorrer no começo de cada ano. O montante para ser usado no com bate e socorro às inundações e outros desastres se resume a R$ 2 milhões, valor considerado ridículo. Os recur sos da pasta, segundo descobriu o se nador Randolfe Rodrigues (Rede/ AP), foram sugados pelo chamado “Orçamento Secreto”, com que o can didato/presidente afagou seus apoia dores no Congresso. Para cuidar de 60 mil km de rodovias, Bolsonaro deixou para Lula o orçamento mais baixo da história do país.

direitoS huManoS

outra. O ministro da Defesa será um civil. Cerca de 6,5 mil militares da reserva ingressaram na administra ção federal abocanhando um segun do contracheque. Para agravar o quadro, outros 79 mil foram aqui nhoados com o Auxílio Emergencial, embora dele não necessitassem.

“Bolsonaro foi um desastre para os direitos humanos”, definiu a organi zação Human Rights Watch. Ataques a mulheres, negros, indígenas, ho mossexuais, jornalistas e imigrantes foram frequentes. A cargo da pastora Damares Alves, a pasta misturou po lítica e religião. Houve redução nos valores para combate ao racismo e para a proteção de crianças e jovens. Inauguradas nos governos do PT, as

políticas afirmativas foram esqueci das nos últimos quatro anos. Lula de fende as cotas sociais e raciais nas universidades e nos concursos públi cos federais, além de ampliar seu raio de ação. Seu plano cita, ainda, a ex pressão “identidade de gênero” como categoria a ser reconhecida. E a popu lação LGBTQIA+ é referida ao lado do combate à violência e pela promoção de direitos.

ciência e tecnologia

Ciência e tecnologia foram sucatea das desde 2019 com cortes e congela mento de recursos. Neste ano, por exemplo, o setor perdeu R$ 1,7 bilhão. Para 2023, a gestão que chega ao fim cortou mais 21% no orçamento aprova do. O futuro presidente quer fortalecer o Sistema Nacional de Ciência, Tecnolo

gia e Inovação (SNCTI), outra vítima da tesoura de Bolsonaro. Neste ano, ele bloqueou os recursos do Sistema até 2026. E as bolsas de mestrado (R$ 1,5 mil) e doutorado (R$ 2,2 mil) estão com os valores congelados há nove anos. O último reajuste aconteceu no governo Dilma.

diPloMacia

Lula já está reposicionando o Brasil no mundo, reaproximando-se dos parcei ros da América do Sul, dos Estados Uni dos, da China, da França, da Alemanha, da Noruega. Na contramão das diretri zes seguidas por todos os governos ante riores, Bolsonaro isolou o Brasil no mun do. Produziu crises em sequência, inclu

sive com a China – nosso maior parceiro comercial. E se aproximou de governos autoritários como os da Hungria, Polô nia e Arábia Saudita. Seu ex-chanceler, Ernesto Araújo, atacou a Organização Mundial da Saúde (OMS) e chegou a di zer ter orgulho do Brasil se tornar “um pária” internacional.

Foto: Ricardo Stuckert Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil Paulista, após discurso histórico de reconstrução do país
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Desmilitarizar a administração do Estado e enfrentar arroubos golpistas das Forças Armadas, será um dos maiores desafios do novo governo Lula

Esquerda foi decisiva para a vitória de Leite no 2º turno, mas não espera alinhamento

Tucano recebeu o voto crítico da esquerda e,

▶ Numa eleição atípica, Eduardo Leite (PSDB) supe rou a candidatura de Ede gar Pretto (PT) por apenas 2.491 votos – o que equivale a 0,04% – e foi ao 2º turno contra o projeto bolsonaris ta de Onyx Lorenzoni (PL).

O presidente estadual do PT, deputado Paulo Pi menta, explica que o

apoio crítico a Leite não envolveu nenhuma ques tão de natureza progra mática. “Foi um voto ba seado única e exclusiva mente em defesa da de mocracia”, afirma. E com pleta: “Não há sinalização de qualquer mudança na linha de projetos do go vernador e nem na nossa postura de oposição ao governo”.

BANRISUL

DEVE

▶ Assim que reelei to, Leite reconheceu suas falhas na edu cação durante o pri meiro mandato e prometeu trabalhar para melhorar a es trutura e moderni zar as escolas. Para o 1° vice-presidente do CPERS Sindicato, Alex Saratt, a preca riedade é evidente, mas também os tra balhadores preci sam ser valorizados.

“Não adianta ter um belo prédio, re formado e equipado, se os profissionais lá dentro não têm suporte pedagógico adequado”, argumenta. Recorda que Leite cortou direitos dos trabalhadores. “É preciso rever essas questões que trouxeram muitos prejuízos para quem está na ativa e apo sentados e tornaram ainda menos atrativa a área da educação.”

Saratt também chama a atenção para o que pode significar a eleição de Lula (PT) para o relacionamen

to com o Rio Grande do Sul. “A expectativa é de que o governo estadual, agora sob nova composi ção e dentro de outro qua dro político, sabedor de que sua vitória contou com o voto crítico das esquer das, do sindicalismo, do movimento popular, possa ter uma nova postura”, avalia. Para ele, a iniciati va de diálogo deve partir do governo, porque o CPERS, sempre que o pro curou, não foi ouvido.

Ainda na campanha do 2º tur no, Leite prometeu não privatizar o Banrisul. Para o presidente do Sind Bancários, Luciano Fetzner, não significa que será um governo com nova postura com relação às empresas públicas. Lembra que Leite havia prometido não vender a Corsan na campanha de 2018, o que não cumpriu, visto o processo de privatização em andamento.

Aponta que foi a mobilização sindical que pautou o Banrisul com a opinião pública, fazendo com que tanto Leite quanto seu adversário, Onyx Lorenzoni (PL), se comprometessem com a manu tenção do banco estadual. “Vamos cobrar diuturnamente nos quatro anos”, pontua.

“Nossa avaliação é que o pri meiro governo do Eduardo Leite construiu uma narrativa de que saneou as contas do estado, o que não é uma narrativa sustentável.

Porque o saneamento das contas que ele vende depende da venda da Corsan e dependeria da venda do Banrisul”, observa.

Fetzner recorda ainda da nego ciação do Regime de Recuperação Fiscal, quando o ministro da Eco nomia, Paulo Guedes, queria o Banrisul privatizado. “Com Lula temos janelas de possibilidade para rever isso ou então não envol ver o Banrisul mais na situação”, considera. “O que remete ao pro blema de como pagar as contas do estado, porque a conta não fecha.”

Será um período de pressão para fortalecimento do Banrisul público, pois ao longo do último ano houve fechamento de agên cias, redução de funcionários e falta de investimentos. “O que re flete na lucratividade do banco porque, quanto mais enfraqueci do for ganha força a ideia de pri vatização”, finaliza.

Para Ildo Pereira, da direção es tadual do MST, o segundo gover no Leite também traz dúvidas quando o assunto é agricultura familiar. “Passamos uma das pio res secas dos últimos 50 anos, com muita dificuldade e luta, e muito pouco foi investido. Só ago ra na campanha foram liberados os R$ 1 mil para cerca de 13 mil famílias e parte foi para nossas famílias assentadas”, repara. Enquanto aguarda por espaço para o tema dos assentamentos na composição do próximo governo, comenta que o MST traz as mes mas questões feitas diretamente para o governador na sua primei

ra gestão: “Você ignora o MST? Ou você bate no MST, no sentido de repressão sobre algumas ações? Ou você dialoga com a gen te?”

Será também um período de pressão para que, com a provável “abertura mais franca com o MST e para o conjunto da agricultura familiar”, o estado opere políticas públicas junto ao governo federal. “Nos dois últimos governos, R$ 23 milhões do Plano Camponês não foram liberados por falta de vontade política tanto do (gover nador José Ivo) Sartori quanto do Leite, e o contrato vence em 2024 a fundo perdido”, exemplifica.

GOVERNO GAÚCHO
com a vitória, deixou a dúvida: será um segundo mandato de maior diálogo com os setores populares?
Os anos passam, mas a foto continua a mesma: o parlamento como espaço de homens brancos Foto: Joel Vargas / Divulgação
A PROMESSA PARA A EDUCAÇÃO SER POUPADO AGRICULTURA FAMILIAR NA EXPECTATIVA
Foto: CPERS
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Eduardo Leite e Gabriel Souza assumirão o Palácio Piratini no dia 1o de janeiro de 2023
Entidades vão cobrar o cumprimento das promessas de campanha

Marcha Independente Zumbi e Dandara marcou o 20 de Novembro em Porto Alegre

“Treze de maio traição / liberdade sem asas / e fome sem pão / (...) Treze de maio – já dia 14/ a resposta gritante: / pedir / servir / calar. / Os brancos não fizeram mais que meia obrigação / O que fomos de adubo / o que fomos de sola / o que fomos de burros cargueiros / o que fomos de resto / o que fomos de pasto / senzala porão e chiqueiro”.

O trecho do poema aci ma é do poeta, professor, militante negro gaúcho Oliveira Ferreira da Silvei ra, um dos fundadores do Grupo Palmares e um dos idealizadores do Dia da

Consciência Negra, data da morte de Zumbi dos Palmares, 20 de Novem bro.

“COM RACISMO NÃO HAVERÁ DEMOCRACIA”

Para celebrar a data, mais de 40 entidades, de várias cidades gaúchas, entre sindicatos e movi mentos populares, conce beram o Novembro Antir racista Unificado. Durante todo o mês, diversas ativi dades debateram a impor tância da consciência ne gra e condenaram o racis mo e a ausência de políti cas públicas.

A Marcha Independen te Zumbi e Dandara saiu às ruas no 20 de Novem bro. Centenas de pessoas

participaram em Porto Alegre e Oliveira Silveira foi constantemente lem brado. Com o lema “En quanto houver racismo, não haverá democracia. Ditadura nunca mais!”, a caminhada trouxe mani festações da matriz africa na, capoeira, esquetes cul turais, além de apresenta ções de rappers.

“AQUI TEVE SANGUE DERRAMADO”

Lembrou-se que a Ca pital é uma das cidades mais racistas do país. Para os manifestantes, o fator faz com que haja uma re sistência forte.

“Aqui foi quilombo, aqui teve sangue derrama do, mãos negras construí ram essa cidade. Estamos fartos senhor, não pode haver democracia com ra cismo”, destacou Iya San drali Bueno.

A celebração do No vembro Antirracista Unifi cado, que começou com uma homenagem ao Bará do Mercado, terminou na quarta-feira (30), com a entrega do troféu Oxé de Xangô, um tributo aos griots ou griottes, os guar

diões da tradição do povo negro. O nome do troféu homenageia o ator gaúcho Sirmar Antunes, falecido em agosto deste ano.

“Dia vinte de novembro,/ entre as palmeiras do Palmar,/ último grito de guerra no ar./ Dia vinte de novembro/ entre as montanhas do Palmar,/ os duros músculos do herói/ guiando seu braço ágil/ na luta desigual/ Dia vinte de novembro,/ entre riachos do Palmar,/ o sangue-húmus de Zumbi/ derramando-se ao chão/ para fertilizar/ Dia vinte de novembro,/ entre mensagens do Palmar,/ tambores de orgulho e brio/ conclamando a lutar”, escreveu Oliveira Silveira sobre a data que ajudou a criar.

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Em uma das cidades mais racistas do Brasil, movimento celebrou o mês da Consciência Negra
ANTIRRACISMO
Foto: Jorge Leão
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Lema da Marcha desse ano foi: "Enquanto houver racismo, não haverá democracia. Ditadura nunca mais!"

2022

Perdedores vão aos quartéis pedir golpe militar

Em movimento inédito no século 21, eles se enrolam em bandeiras, cantam, rezam, marcham e apelam por intervenção militar

▶ Antes das eleições, amea ças, intimidações, violências diversas e até assassinatos de quem ousava discordar. De pois das eleições, inconfor midade com a derrota, blo queio de estradas, orações e hinos nas portas dos quartéis suplicando por um golpe de Estado. E mais violência.

Este é o Brasil de 2022 du rante e após uma das campa nhas eleitorais mais contur badas da sua história.

Em negação, centenas ou milhares partilham uma alucinação coletiva: cantam para pneus, penduram-se em caminhões em movi mento, ajoelham-se em transe para celebrar menti ras, marcham imitando sol dados. Mandam sinais para

alienígenas. A que se deve essa anomalia?

“É uma estratégia de ten sionamento”, avalia o cien tista político Benedito Tadeu César. “Como o golpe não vingou, Bolsonaro e sua tur

ma - aquelas parcelas dos porões da ditadura e uma parcela de empresariado, principalmente do agrone gócio, mas não só - estão in suflando as coisas”, entende. “Querem criar um clima de instabilidade para a transi ção”, repara.

Para ele, os grupos que não aceitam a derrota elei toral, referendada dentro e fora do país, são de diversos tipos. “Há quem participe por convicção, os que são bancados para estarem lá e ainda pessoas delirantes que exigem uma explicação mais psiquiátrica do que política”, pontua. “E atrás de todos estão os financia dores”, acrescenta.

Em 90 anos não se via a extrema-direita tão atuante. Antes, só mesmo nos desfi

les dos “Camisas Verdes” in tegralistas dos anos 1930. “Ficaram hibernados e res surgiram agora”, diz César.

Além dos atos antidemo cráticos em que jornalistas são ameaçados ou atacados, após as eleições irrompeu uma perseguição violenta aos adversários políticos. Dois casos entre muitos:

Em Casca/RS, a advoga da Janaíra Ramos foi agredi da por um bolsonarista após denunciar boicote organiza do contra lojas cujos donos votaram em Lula. Em Sorri so/MT, uma barreira na ro dovia impediu a passagem de um menino que, levado pelo pai, necessitava de cirurgia urgente sob pena de perder um dos olhos. “Não tenho fi lho com problema, vai a pé”, disse o bolsonarista.

O caso do bolsonarismo com o nazismo

Nunca se falou tanto em fascismo no Brasil quanto agora. A palavra vem do italiano “fascio” que signifi ca feixe. Remete ao feixe de varas, símbolo de união e força trazido dos tempos do Império Romano.

Implantado na Itália nos anos 1920, o fascismo de Benito Mussoli ni, seu líder, inspirou outra forma de fascismo, o nazismo de Adolf Hitler que, na década seguinte, chegaria ao poder na Alemanha. Hitler perseguiu e assassinou milhões de judeus, ci ganos, homossexuais, socialistas, comunistas, testemunhas de Jeová, deficientes físicos e mentais.

Logo, o fascismo se disseminou como um rastilho pelo mundo. O Brasil sediou o integralismo, maior partido fascista fora da Europa. Os fascistas italianos usavam camisas pretas, os alemães, marrons, e os brasileiros, verdes.

Mas o que o bolsonarismo tem a ver com isso? Tudo, segundo uns. Muito, segundo outros.

Começa que Bolsonaro copiou, sem tirar nem pôr, o lema integra

lista “Deus, Pátria e Família”. Quan do diz “Brasil acima de tudo”, ele simplesmente reproduz o slogan nazista "Deutschland über alles", que significa "Alemanha acima de tudo".

Bolsonaro nunca escondeu sua proximidade com a extrema-direita alemã. Assim, recebeu e posou para fotos com a extremista Beatrix von Storch, neta de um ministro de Hi tler. Em 2020, seu secretário de Cultura, Roberto Alvin, apareceu em vídeo com roupa, penteado, pose, enquadramento, fundo musi cal e discurso evocando o ministro da propaganda nazista, Joseph Goe bbels...

Em 1995, quando era deputado fe deral, teve uma reação curiosa. Quando alunos do Colégio Militar de Porto Alegre escolheram Hitler como o personagem histórico mais admirado, Bolsonaro saiu em defesa dos estudantes. Disse que a escolha dos alunos ocorreu porque, “de uma forma ou de outra”, o nazista soube impor ordem e disciplina.

ELEIÇÕES
Foto:
Valter Campanato/Agência Brasil
1. Tradicionalismo; 2. Irracionalismo; 3. Intolerância à crítica: 4. Ressentimento: 5. Machismo; 6. Racismo; 7. Homofobia; 8. Xenofobia; 9. Teoria da conspiração; 10. Culto da morte.
Na tentativa de descrever o fascismo, o escritor italiano Umberto Eco (1932-2016) elencou algumas característi cas comuns aos vários fascismos. Abaixo estão algumas delas. Confira quantas fecham com o bolsonarismo:
Dez
características do fascismo
Foto:
reprodução Youtube
Foto: reprodução Twitter Manifestantes continuam reunidos em frente ao quartel general do exército em Brasília Em Porto Alegre, manifestantes golpistas pediram ajuda extra-terrestre para sensibilizar o exército
EDIÇÃO N O 40 - 02 DE DEZEMBRO DE 2022 - WWW.BRASILDEFATORS.COM.BR 8
Em Santa Catarina, golpistas fazem saudação nazista durante manifestação contra eleição de Lula

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