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Os 30 dias de derrota provisória do fascismo
Quais os mais importantes movimentos de gestão política do governo que o presidente Lula realizou no seu primeiro mês de mandato?
▶ Para entender, de uma parte, as margens de segurança que ele operou e, de outra, para dimensionar seus aspectos simbólicos e os seus efeitos concretos sobre a vida política do país, é preciso - em primeiro lugarindicar o "estado da arte" que Lula encontrou no país.
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Quero dizer, com esta preliminar, que mais importante do que as medidas do presidente é preciso deixar claro qual foi a subjetividade política sobre a qual se firmaram as propostas bolsonarianas. Estas foram bem recebidas nas massas populares, de forma alheia aos conceitos das "classes dominantes" sobre como exercer racionalmente o seu poder político e apresentar os complexos programas econômicos que são disputados no espaço político, para oferecer a redenção nacional "dentro da ordem".
COMO ANUNCIOU, BOLSONARO “VEIO PARA DESTRUIR”
Bolsonaro fez um governo distópico que cumpriu o que prometeu durante a sua campanha eleitoral. Prometeu matar e torturar, anunciou que "veio para destruir" e naturalizou a misoginia, o racismo, o sexismo ("este apartamento usei para comer gente!"); combateu a globalização a partir de concepções da extrema direita mundial ("Trump, eu te amo!"); e dividiu os seres humanos, que compõem a nossa miscigenação étnica, entre os que são pesados em "arrobas" - como são pesados os bois que vão para o matadouro - e os que são balanceados como brancos de uma nação "pura", medidos por outras gravidades de identidade social.
Além de tudo isso, que não parece pouco, seu governo defendeu que o ideal seria, como opção estratégica, que fôssemos um "pária mundial", na voz do seu psicopático ministro de Relações Exteriores. Dito isso, temos o contexto mais geral daquilo que parece loucura, mas era sobretudo a emergência de um tipo de fascismo político, que já era "societal", como mostrou Boaventura, antes de apresentar-se plenamente como política e crueldade a partir do Estado.
Divis O Serviu S Classes Dominantes
A divisão extrema, realizada no país, em todo período de campanha bolsonarista e durante a sua gestão demoníaca, trouxe à tona verdades concretas, que estavam adormecidas no inconsciente das massas - acima das divisões entre classes sociais, que já nos permite concluir o seguinte: a má consciência real, de vastos setores populares que estariam "objetivamente" no nosso camponeste momento históricofoi o dado político mais forte que atraiu as classes dominantes para o bolsonarismo, e não ao contrário.
Não foram as classes do- minantes - adictas da democracia liberal "contida" ou de ditaduras militares - que forjaram o lastro de massas do bolsonarismo. Foi principalmente o fascismo "popular", que estava contido no inconsciente dos explorados e excluídos que, provocado pelo "líder", abriu para as classes dominantes a oportunidade de domesticação de Bolsonaro, para que ele se tornasse, com Guedes, o epígono das reformas.
Bolsonaro, arremedando Mussolini, "desprezou a arrogância dos intelectuais" (qualquer um que defenda a humanidade dos outros); sobretudo cultivou a ideia da morte, como aríete para arredar qualquer problema que bloqueasse a sua grandiosidade resolutiva.
Sua capacidade de responder, sem censura civilizatória, com o trágico e o apocalíptico - sempre no limite entre o que é pura ficção e o duramente real - esteve na sua própria existência, também como tragédia e mistificação. O que é simbólico e duramente real parecem repetir, sempre, que “se eu morrer vai tudo por água abaixo”.
LULA COMEÇA BEM, COMBINANDO REALISMO DEMOCRÁTICO COM A MUDANÇA HUMANISTA, PARA UM PAÍS ASSEDIADO PELA
MAIOR BARBÁRIE JAMAIS VISTA NA SUA HISTÓRIA"
(TARSO GENRO)
Da nossa parte, foi um arrogante equívoco pensar que o alcance dessas políticas estava nos limites do "cercadinho" palaciano, quando - na verdade - todo o país era um enorme campo cercado, com diversas modulações de gado ruminando a violência e os seus recalques. Até um certo momento tal predisposição para a barbárie foi trabalhada pela mídia tradicional como um modo legítimo de mandar e governar. A questão era matar Lula e destruir a esquerda!
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Neste novo campo da irracionalidade radical, ensejada de "baixo" para cima - das massas para as elitesrecomeçou também a vicejar a razão democrática, que sempre sobreviveu no iluminismo, ao lado da irracionalidade, da industrialização da morte, dos massacres coloniais, que sempre ganharam expressões simbólicas de resistência, na América Latina e no mundo, através de líderes referenciais na democracia política, como Allende, Mandela, Kemal Ataturk, Lula, Lumumba e Jacobo Arbenz, para citar alguns mais próximos da nossa experiência de formação da nação.
Os movimentos na política externa, a criminalização dos genocídios do bolsonarismo na saúde públi- ca, a frontal impugnação do genocídio indígena, a expansão de uma política ambiental sadia a partir da Amazônia, a ampliação da frente política a sua máxima possibilidade coerente, bem como a pactuação de uma saída altiva e respeitosa, para questão da tutela militar do Estado.
Estas atitudes de gestão política do Estado, combinadas com a guerra contra a fome (adaptando o orçamento público para o cumprimento desta missão urgente) mostram que Lula começa bem, combinando realismo democrático com a mudança humanista, para um país assediado pela maior barbárie jamais vista na sua história.
Sem Anistia Aos Fascistas E Bandidos
Para Adorno e Horkheimer, o fascismo é um complemento simétrico da racionalidade moderna, mas para nós - no momento - ele pode ser um despejo jogado na sarjeta da democracia, cuja derrota final ainda está em disputa. Mas Lula, conosco, já começou.
Fazer da tolerância, combinada com a firmeza inteligente - curtida com o realismo das características dos novos tempos - significa colocar a estratégia democrática como centro da disputa pelo futuro. Para isso ser provável, sem perdão e sem anistia, fascistas e bandidos - exclua-se os ingênuos e os idiotas inofensivos - não podem ser perdoados.