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▶ A luta pela terra e por justiça social foi um dos pilares que uniu milhares de sem terras na busca de uma vida melhor e mais digna. Em 18 de setembro de 1989, mais de 1500 famílias ocuparam a fazenda Bacaraí, em Cruz Alta, Noroeste do Rio Grande. O local não cumpria sua função social, ou seja, não havia produção nem moradia em uma vasta propriedade. No acampamento, as famílias já discutiam formas de como cultivar a terra que imaginam obter. Dois anos mais tarde, a persistência deu certo e elas conquistaram seu pedaço de chão.

Diversas áreas foram sorteadas para fins de assentamento e uma delas, com 1409 hectares, estava no município de Eldorado do Sul, na Grande Porto Alegre. Foi destinada ao grupo nomeado “Integração Gaúcha”, composto por famílias oriundas de diversos municípios gaúchos, como Três Passos, Aratiba, Lagoa Vermelha, Constantina, Ronda Alta, Bagé, Criciumal e Canoas.

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Oitenta e nove delas conquistaram o assentamento a que batizaram como Integração Gaúcha ou Irga. É onde acontecerá a próxima Romaria da Terra.

Produ O Org Nica Certificada

Com a proposta de buscar o trabalho cooperado, nos primeiros cinco anos elas trabalharam de forma coletiva. No entanto, após esse tempo, formaram-se grupos menores que passaram a realizar um trabalho mais individualizado. No assentamento, a luta continuou. Foi necessário conseguir financiamentos para, então, iniciar as atividades agrícolas, produzir os alimentos de subsistência, e também construir suas moradias.

Hoje, 64 famílias produzem principalmente hortifrutis orgânicos para comercializar em feiras ecológicas, tendo uma relação direta com os consumidores e consumidoras. A produção das famílias é certificada pela Cooperativa Central de Assentamentos do Rio Grande do Sul (Coceargs) através de um sistema de Certificação Participativa de Conformidade Orgânica –OPAC. São vistoriadas, uma vez por ano, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Outras seis famílias trabalham com o plantio de arroz orgânico, certificado pela Coceargs, no sistema designado OPAC de certificação social, totalizando 90 hectares de terra cultivada. Elas colhem em torno de 10 mil sacas de arroz orgânico anualmente.

O assentamento construiu uma comunidade e, hoje, além de oferecer trabalho para os seus moradores, conta com minimercados, espaços de lazer e de educação. Os filhos dos assentados frequentam duas escolas do campo, uma com sete educadores, contemplando 56 educandos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, e outra de educação infantil, dispondo de 13 educadoras e 50 educandos desde o berçário até a pré-escola.

Os PRiMeiROs PA ssOs AcOnteceRAM AindA sOb A

ditAduRA dOs GeneRAis

De 1978 a 2023, a caminhada mantém sua trajetória de compromisso com os mais pobres

▶ O longo percurso da Romaria da Terra começou em tempos sombrios. Era 1978 e o Brasil vivia sob a ditadura implantada em 1964 quando aconteceu a primeira das procissões. Foi uma das primeiras manifestações sociais de vulto a abrir caminho em pleno autoritarismo. Aconteceu em Caiboaté, em São Gabriel, Campanha gaúcha. Reuniu apenas 400 romeiros que debateram o tema “A salvação do índio está na consciência do branco”, matéria que, em 2023, continua ocupando o centro dos debates.

Já em 1982, ainda sob o regime militar, o encontro se deu em Encruzilhada Natalino, município de Ronda Alta, que, então, abrigava o maior acampamento de sem terra do país.

Trinta e três mil romeiros acorreram à caminhada conduzida sob o lema

“Povo unido jamais será vencido”. Cresceu ainda mais no ano seguinte - 40 mil participantes - quando o mote foi “Água para a vida e não para a morte”. Discutia-se então a ameaça representada pelas barragens do rio Uruguai ameaçando afogar terras, vidas e memórias no Norte do estado.

A edição seguinte inovou ao ser realizada, pela primeira vez, na Região Metropolitana de Porto Alegre, mais exatamente na Vila Santo Operário, em Canoas, onde milhares de sem teto reivindicavam um lugar para morar. Somou 50 mil manifestantes motivados pelo bordão “Terra e trabalho para que todos tenham vida”.

O recorde de romeiros ocorreria em 1985, último ano da ditadura, quando juntou 70 mil pessoas em Tenente Portela, na região Noroeste. Aquela 8ª

Em 1982, mais de 30 mil romeiros estiveram em Encruzilhada Natalino edição teve como temática “Os jovens e os sem terra em busca de pão e vida”.

Nos anos que se seguiram o evento transitou por todas os quadrantes do Rio Grande, abordando os mais variados assuntos como agricultura fa- miliar e camponesa, organização popular, função social da propriedade, reforma agrária, agroecologia, preservação da natureza, papel das mulheres na sociedade, quilombos e quilombolas entre muitos.

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