Atoleiros Nº 32

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Edi t or i al BGen Mendes Ferrão - Cmdt da BrigMec

No ano em que celebramos o 40º aniversário da Brigada Mecanizada, cujo expoente máximo é a Cerimónia Militar na Pista de Aviação, presidida por Sua Excelência o General Chefe do Estado-Maior do Exército, recaem sobre nós acrescidas responsabilidades de dar a conhecer o nosso passado, mostrar a vitalidade do nosso presente, e a determinação e otimismo como encaramos o nosso futuro no seio do Exército. A publicação desta edição da revista Atoleiros é espelho da nossa cultura, que estimula a transmissão do conhecimento prático adquirido nos Exercícios e Operações em que participamos, através da escrita de artigos pelos mais jovens quadros que fazem parte da nossa equipa. De facto, como afirmava então o primeiro Comandante da Brigada Mista Independente, Major-General Nascimento Garcia, “a Brigada deve ser o ponto de partida para a renovação do Exército, fundamentalmente nos planos técnico e tático”. É, pois, este legado que temos que honrar e continuar. Ao longo deste último ano, a Brigada promoveu, ou participou em múltiplas e diversificadas atividades, que podemos categorizar da seguinte forma: treino operacional, apoio ao desenvolvimento e bem-estar, segurança de pessoas e bens, formação, ações de divulgação, atividades cerimoniais e visitas, eventos e provas desportivas, proteção ambiental. Nesta revista poderão ver, através dos testemunhos, e relatos, o que fizemos, mas sobretudo o modo como o fizemos neste período. A Brigada Mecanizada é, na

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sua génese, organização e cultura, uma Unidade de Combate. Para isso dispõe dos materiais mais letais de que o Exército dispõe, e tem como Centro de Gravidade da sua ação o treino Operacional para as operações de alta intensidade. Este ano não foi exceção, e mantivemos elevados padrões de treino, materializados na participação nos Exercícios ROSA BRAVA 17, ORION 17, Real Thaw 17 e Eficácia 17, só para mencionar os mais relevantes. Foi com esta nossa matriz, que nos garante prontidão e eficácia, que acudimos às populações afetadas pelo flagelo dos fogos durante o verão e outono de 2017. Estivemos presentes junto dos portugueses, onde eles mais precisavam de nós, com uma atitude solidária extraordinária. Os nossos militares e funcionários civis nunca regatearam esforços, abdicaram de férias e de períodos de descanso, assumiram riscos, calcorrearam o país de lés a lés, protegeram pessoas e bens, mas também levaram uma palavra de conforto e muitos gestos de carinho. Mas foi também com os nossos valores, princípios e competência que aprontámos e projetámos duas FND para o TO do Iraque, onde nos temos distinguido no apoio à formação das Forças de Segurança daquele país. Embora num contexto de menor exigência e perigosidade, mantivemos a nossa participação no apoio à componente terreste das Forças de defesa de Timor-Leste, no âmbito da Cooperação Técnico-militar bilateral. São duas missões que muito nos orgulham, que acompanhamos com cuidado e preocupação,

mas são testemunho da qualidade dos nossos militares. 2017 foi marcado também pela consolidação das responsabilidades de formação à Brigada Mecanizada, percurso iniciado no ano anterior. Assumimos a formação da totalidade dos Cabos do Contingente Normal do Exército, num número que superou os 600 militares. Na prática, pode dizer-se que desenvolvemos este projeto por forma a criar em Santa Margarida a Escola de Cabos do Exército, com excelentes resultados ao nível da qualidade da formação e também muito boas referências por parte de todos os militares envolvidos. Face à escassez de recursos humanos na categoria de praças que o Exército enfrenta, e porque o recrutamento é responsabilidade de todos, incrementámos significativamente a nossa presença junto da sociedade. Marcámos presença nas escolas da região, incluindo Constância e Chamusca, nas quais interagimos com os jovens estudantes, e procurámos mostrar as realidades de Santa Margarida. Celebrámos o nosso dia festivo em Santa Margarida com a tradicional cerimónia militar na pista de aviação, que incluiu o

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A prática da Educação física é algo que fomentamos e estimulamos diariamente. Este ano demos continuidade a dois projetos desportivos de grande envergadura, o Trail Rota da HAKEA, que já vai na segunda edição e contou com a participação de quase 400 atletas, entre os quais a maioria civis e familiares dos militares da Brigada. Organizámos ainda a 2ª Corrida São Silvestre Solidária da Brigada Mecanizada, numa parceria com a Câmara Municipal de Constância, que é já uma referência a nível local e regional. A inscrição na prova é gratuita, apenas se pediu aos participantes que fizessem donativos de bens alimentares, roupa e brinquedos que se destinam à loja social de Constância. Foi um desafio que todos aceitámos e que, juntos, superámos. Fizemos entrega de quase três toneladas de bens! Falar da Brigada Mecanizada e de Santa Margarida, é falar de

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Ambiente. Mantivemos a nossa certificação, que muito nos honra, e que é marca distintiva do Exército, a nível nacional e internacional. Mas não nos acomodámos, e por isso abrimos mais duas frentes, plenas de atualidade e imperativas para um futuro que desejamos melhor, ambas em estreita coordenação com a Agência Europeia de Defesa. A primeira relacionada com a otimização da utilização os recursos hídricos, e seu reaproveitamento, a segunda, para a qual somos unidade piloto no Exército, diz

diário desenvolvido pela Secção Agro-Florestal do Campo Militar de Santa Margarida, no sentido de cuidar dos mais de 6500 ha de montado e floresta à nossa responsabilidade. Destaco este ano o enorme volume de trabalhos de desmatação e abertura de faixas de contenção, que em muito contribuíram para que não tivéssemos quaisquer fogos florestais no interior da nossa propriedade. Também aqui fomos exemplares, e deste modo conseguimos estar mais disponíveis para acudir a outras regiões mais flageladas pelos fogos florestais. Já vai longo o editorial, mas seria difícil sintetizar mais o muito que fizemos. Quero concluir dizendo que é para mim uma subida honra comandar esta gente de Santa Margarida, que se afirma pela sua competência, generosidade, espírito de missão, invulgar abnegação, e um espírito solidário ímpar.

respeito à eficiência energética, visando a redução de consumos. Mais uma vez somos pioneiros, e queremos continuar a ser um ator de relevo na implementação de novas práticas, processos e modelos organizacionais no seio do Exército e também no Universo do Ministério da Defesa Nacional. Queremos continuar a ser exportadores de inovação e afirmar a preocupação com a preservação do ambiente. Um outro domínio, nem sempre muito valorizado, mas de relevância para a Brigada e para o Exército, consiste no trabalho

Concluo com uma palavra muito especial para os Nossos, que estão a cumprir missão fora de Portugal, com admiração pela sua disponibilidade e inquebrantável espírito de missão. Bem hajam pelo vosso labor em proveito da segurança, que engrandece o nome da Brigada, do Exército e do nosso amado Portugal. Espero que a leitura desta revista seja do vosso agrado, que através da qual se apercebam do que fazemos e como o fazemos, em suma, fiquem a conhecer-nos melhor.

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desfile apeado e mecanizado. Presidiu a este evento Sua Excelência o General CEME, no seu primeiro ato oficial após a sua tomada de posse, tendo ficado gravadas na nossa memória as palavras proferidas no seu discurso, de que me permito citar o seguinte extrato “…O esforço a que me referi justifica-se em parte pela justa referência à Brigada Mecanizada como uma verdadeira escola de armas combinadas numa estrutura coerente em termos de sistemas de manobra de apoio de combate e de apoio de serviços, reunindo de forma ímpar condições de treino de excelência”. Recebemos ainda a visita de Sua Excelência o Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, que permitiu dar-lhe a conhecer a realidade da Brigada Mecanizada e do Campo Militar de Santa Margarida.

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Conteúdos: 6 A Região do Campo Militar de Santa Margarida: Uma Viagem no Tempo Através da Toponímia!

F i ch a T é c n i c a Diretor BGen Eduardo Mendes Ferrão Cmdt BrigMec

O presente ensaio, resultado de uma comunicação efetuada em abril de 2017, por ocasião do 40º aniversário da Brigada Mecanizada, pretende conduzir o leitor através dos principais indícios toponímicos e, por este meio, restituir, ao Campo Militar e região envolvente, alguma da existência que, no passado, o povoou.

Editor Chefe TCor Inf Luís Calmeiro CEM BrigMec

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Edição Maj AdMil Silva Tavares Chefe do G9 BrigMec

Uma Experiência!

Design e Execução Gráfica SAj SGE Sousa Amaral Adj do G9/BrigMec Impressão e Acabamento SerSilito - Empresa Gráfica, Lda Travessa Sá e Melo, 209 Apartado 1208, Gueifães 4471 Maia Capa SAj Mat ‘CMD’ José Matos Monumento no Quartel General da Brigada Mecanizada

Comandar no Iraque: O CN/FND/OIR, é a contribuição de Portugal para a Coligação Internacional no âmbito da OIR para derrotar o DAESH no Iraque e na Síria. Neste sentido, o Exército português, desde 2015, prepara, projeta e sustenta uma força de 32 Militares para o longínquo Teatro de Operações do Iraque. 16 EUTM - Somalia Edificação do Somali National Army: a perspetiva de um trainer Em estreita ligação com vários atores Internacionais, e em particular com a African Union Mission in Somalia (AMISOM) e a United Nations Assistance Mission in Somalia (UNSOM), a TT desempenha um papel ativo no apoio às autoridades militares da Somália, nomeadamente na formação e desenvolvimento dos seus conceitos, políticas, programas, doutrina e centros de formação.

Propriedade Brigada Mecanizada Campo Militar de Santa Margarida 2250-350 Constância Tiragem: 500 exemplares Depósito Legal nº 135479/99 Preço: €5,00 Para mais informações visite a página da Brigada Mecanizada no Portal do Exército Português em: www.exercito.pt

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25 Projeção de uma Unidade de Escalão Pelotão Para o Destacamento de Tavira do Regimento de Infantaria Nº1 Com o presente artigo, pretende-se explanar a vivência do pelotão no Destacamento do Regimento de Infantaria Nº1, em Tavira, bem como aquilo que este conseguiu desenvolver durante esse período, tendo em conta as principais dificuldades e oportunidades. 28 Carros de Combate em Portugal A intrincada e complexa história das Unidades de Carros de Combate do Exército português encontra-se, invariavelmente, ligada à história da Cavalaria portuguesa e tem acompanhado a sua evolução ao longo dos tempos. 30 Esquadrão de Reconhecimento A Ponta da Lança da Força Decisiva O presente Ambiente Operacional que se caracteriza por ser Volátil, Incerto, Complexo, Ambíguo e Urbano torna-se vital para o Comandante ter acesso à realidade que o espera ou que está prestes a enfrentar para garantir a sua Decisão com base em sólidas informações. 33 M901A1 ITV A viatura M901A1 ITV - Improved TOW Vehicle - foi construída nos Estados Unidos da América e foi fabricada para transportar o Sistema Lança Míssil (SLM) TOW M901A1. 35

Exercício Eficácia / Relâmpago 18

Obus Autopropulsado M109 A7 155mm

Uma Experiência na 1ª Pessoa

Com o presente artigo pretendemos dar a conhecer a mais recente atualização do Sistema de Armas de Artilharia de Campanha – Obus Autopropulsado M109 A7 155mm – desenvolvido para o Exército Americano e, em simultâneo, fazer uma breve análise das diferenças entre a nova versão A7 e a versão A5, que atualmente equipa o Exército Português no Grupo de Artilharia de Campanha 15.5 AP da Brigada Mecanizada.

Este exercício EFI-REL18, garantiu o duplo propósito do treino com vista à participação no exercício “ORION18”. Decorreu de 22 de fevereiro a 02 de março de 2018 e contemplou duas fases: Fase I - Exercício de Postos de Comando (CPX) e Fase II - Exercício de Treino de Campo (FTX).

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Sistema Míssil Portátil STINGER em VBTP M113?

Engenharia de Combate – Forças Pesadas

Face às necessidades atuais de dotar a Brigada Mecanizada com um Sistema de Defesa Antiaéreo eficaz de forma a garantir a capacidade de Proteção Antiaérea, torna-se capital adaptar os meios existentes, até ao reequipamento em sede da Lei de Programação Militar (LPM).

Emprego de Campos de Minas e os Desafios no Apoio à Contramobilidade

Preparar uma Unidade de Infantaria Mecanizada para Combater no Atual Ambiente Operacional

CC Leopard 2A6 – A Manutenção de Torre A BrigMec afirma-se como a força decisiva em combate, em grande parte devido ao seu potencial blindado e de fogo. fogo e poder de choque desse Sistema de Armas. 43 Conceito “Upgrade FM200” Evolução do Sistema de Feixes Hertzianos FM200 A necessidade de acesso a serviços e operações em rede no ambiente de campanha levou à criação do Sistema de Informação e Comunicações Tático (SIC-T). O SIC-T tem como desígnio a resposta à evolução da tecnologia e do ambiente operacional tendo como premissa a condução de operações centradas em redes em campanha. 45 Sistema de Intercomunicação Digital Compacto ICC-251 Tecnologia Portuguesa ao Serviço do Exército O sistema de Intercomunicação Digital Compacto ICC-251 é um sistema de intercomunicação desenvolvido para veículos com espaço interior reduzido, permitindo comunicação de voz e dados e a integração com redes rádio táticas nos dois modos, adequados aos sistemas de armas modernos, nomeadamente nos carros de combate. 47 Refuel on the Move - do Planeamento à Execução A força decisiva do Exército (a BrigMec) necessita de grandes quantidades de combustível em tempo útil para sustentar a sua capacidade para o combate, e desta forma o Refuel on the Move.

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53 Engenharia de Combate – Forças Pesadas Mobilidade: A Viatura Blindada Lança Pontes No âmbito da mobilidade um dos principais aspetos destacados é a importância e elevada necessidade de reconhecimentos de engenharia, proporcional à dimensão do sistema viário existente e ao elevado número de obstáculos a transpor, nomeadamente rios e cursos de água, quer do ponto de vista da mobilidade estratégica na projeção de meios por via terrestre, quer do ponto de vista tático. 56 Um Módulo de Alimentação para as Atividades Militares de Emergência

Para o militar, o treino físico não tem o objetivo principal de melhorar a saúde nem de aumentar a esperança de vida, mas é encarado como uma condição imprescindível para o desempenho da sua função, tarefas e cumprimento da missão, podendo, em última análise, ser uma condição ditadora da sua sobrevivência. 62 Brigada Mecanizada - 1001 Desafios Ambientais A exigência de um compromisso a tempo inteiro, de todos e para todos A preocupação ambiental da Brigada Mecanizada não é recente. Esta unidade tem sido regular candidata ao Prémio “Defesa Nacional e Ambiente” (PDNA) desde 1996, tendo estas sido premiadas em 1996 e 1998. Com a candidatura “Atividades Ambientais desenvolvidas em 2003”, obteve pela terceira vez o PDNA. 63 Sistema de Gestão de Energia na Brigada Mecanizada Simples na Definição, Complexo na Implementação

“Cooperar em missões da proteção civil” e “colaborar em tarefas relacionadas com a satisfação das necessidades básicas e a melhoria da qualidade de vida das populações” são duas das missões do Exército Português.

Através de uma candidatura, a par dos outros Ramos (Marinha e Forças Aérea), a proposta do Exército foi a escolhida, tendo sido a Brigada Mecanizada, pela sua dimensão e certificação ambiental já existente, a unidade piloto ideal para a implementação, tendo como objetivo futuro estender-se a outras unidades.

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O Tiro do Batalhão de Infantaria Mecanizado de Lagartas

Os Primeiros Passos Para Implementar a Cultura de Segurança e Saúde no Trabalho

Uma Nova Perspetiva

Do quadro orgânico do Quartel General da Brigada Mecanizada (QO 04.01.06, aprovado em 21/07/15) faz parte um Gabinete de Prevenção de Acidentes (GPA), no qual é centrada a formação da estrutura do Sistema de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SGSST) da Brigada Mecanizada, das suas Subunidades e do CMSM.

Por mais e melhores sensores ou sistemas de armas que equipem os militares, como temos vindo a verificar com as FND projetadas recentemente para os TO do Iraque, da República Centro-Africana, ou num futuro próximo, para o Afeganistão, de nada servirão se não formos exímios na sua utilização.

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O ressurgimento atual da ameaça convencional de forças pesadas na Europa, vinda de Leste, e os métodos híbridos empregues no decorrer da anexação da Crimeia e por novos agentes como o autoproclamado Estado Islâmico, mimetizando o emprego de forças convencionais através de meios e técnicas improvisadas, têm vindo a impor à engenharia de combate um retorno aos processos e procedimentos mais convencionais da Mobilidade e Contramobilidade.

A Relevância de Uma Boa Preparação Física

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Separata:

Cen tená ri o d a G ra nde G u e r r a “Do C a m p o Mi l i t a r d e Ta n c o s a o Campo M i l i t a r d e S a n t a M a r g a r id a ”

Factos e Figuras: 67 Dia da Brigada Mecanizada Força Decisiva Comemora o Seu 39º Aniversário 68 Campo Militar Celebra 1º Aniversário 69 Presidente da República Visita a Brigada Mecanizada 70 Brigada Mecanizada Recebe Comandante do NRDC-SP 71 Comando Logístico do Exército Brasileiro Visita a BrigMec 72 Visita à BrigMec do Bispo das Forças Armadas 73 MGen Luís Nunes da Fonseca Cessa o Comando na BrigMec 74 6º FND/CN/OIR Recebe Estandarte Nacional 75 Exercício ROSA BRAVA 17 76 Participação no Exercício ALLIED EFFORT 17 77 Brigada Mecanizada tem novos Instrutores de Míssil TOW

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78 Formação Sobre Sistemas de Combate a Incêndio “Plano Margalira 2017” 79 Jornadas do Dia da Defesa Nacional 2017 Mais de 5000 jovens visitaram a Brigada Mecanizada 80 Brigada Mecanizada Realiza a XXIª Semana do Ambiente 81 Projeto RASA Para Avaliar Qualidade dos Solos e Água no Campo Militar de Santa Margarida 82 Brigada Mecanizada no Combate aos Incêndios Florestais 83 Brigada Mecanizada e Município de Constância Assinam Protocolo de Colaboração 84 Brigada Mecanizada apoia os Peregrinos 85 Portas Abertas aos Mais Pequenos 86 2ª São Silvestre Solidária da Brigada Mecanizada Desafio aceite – Compromisso cumprido 87 Corta-Mato das Forças Armadas e de Segurança de 2017

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Pa r te I - Campo M i l i t ar

A Re g i ã o d o C a m p o Mi l i tar de Santa Mar gari da: U ma V ia g e m n o Tempo At r avés da Toponí mi a!

TCor Inf Carlos Filipe Afonso - afonso.cfnld@mail.exercito.pt O Campo Militar de Santa Margarida é, hoje, parte integrante dos concelhos de Constância e de Abrantes. Área semidesértica, conserva-se relativamente inalterada, no espaço rústico, desde o início da década de 1950, quando foi adquirida pelo Estado, através do Ministério do Exército, para a edificação do Campo de Instrução Militar1. Ao longo de mais de seis décadas, gerações sucessivas de oficiais, sargentos, praças e civis, têm desenvolvido as suas atividades neste espaço e áreas envolventes que, por entre os sobreiros, azinheiras, estradões de terra e linhas de água, encerram muito mais do que à primeira vista aparentam. Estamos certos de que instrumentos auxiliares da história, como a arqueologia, poderiam constituir uma mais-valia e apresentar surpresas. Mas os recursos que possuímos são suficientes para traçar um quadro bem recheado de quase dois milénios de presença humana no território. O presente ensaio, resultado de uma comunicação efetuada em abril de 2017, por ocasião do 40º aniversário da Brigada Mecanizada, pretende conduzir o leitor através dos principais indícios toponímicos e, por este meio, restituir, ao Campo Militar e região envolvente, alguma da existência que, no passado, o povoou. Métodos, fontes e abordagem A toponímia é uma divisão da onomástica que estuda os topónimos, ou “nomes do lugar”. É também utilizado como substantivo coletivo, designando um conjunto de vocábulos identificadores do terreno numa dada região. A toponímia do Campo Militar e área envolvente confere um manancial de informação que, com as ajustadas chaves de interpretação, permite perceber muito do passado da região. Isto devido ao elementar princípio de que o nome de uma localidade, de uma pequena nascente ou fonte, de uma linha de água, ou de qualquer acidente de terreno ou obra de arte, tem sempre uma justificação. Os topónimos podem ter um “batismo” oficial, associado a figuras ou acontecimentos que as gentes pretendem relembrar (como é o caso da toponímia urbana, dos nomes das ruas, em Portugal), ou podem ter evoluído de línguas antigas. A presença romana no

A definição dos limites do Campo Militar foi publicada pelo Decreto 41039 DR, I Série, nº66 de 2 de março de 1957.

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território que hoje é Portugal legou-nos topónimos relacionados sobretudo com a rede viária e com as áreas edificadas que ela interligava, bem como com as estruturas de apoio das vias (estações de muda, hospedarias, guarnições militares). A presença islâmica, nas suas diferentes manifestações, legou-nos toponímia relacionada com as Fig. 1 - Extrato da Carta Itinerária de Portugal, à escala 1:500 000, do Centro de Informação atividades agrícoGeospacial do Exército, abrangendo a área estudada las, religiosas e, por rabe, bem presente na região.6 vezes, com a configuração orográfica. O percurso efetuado é um de muitos A Idade Média Cristã é verdadeiramenpossíveis. Escolheu-se uma sequência te extraordinária e informativa, já que cronológica, porque é desta forma que os lugares tendiam a ser designados o ser humano está mais habituado a pela sua funcionalidade. Os períodos ouvir, ler e contar histórias – do tempo Moderno e Contemporâneo fornecemmais antigo para o tempo mais recen-nos alguma toponímia relacionada te; mas também, e fundamentalmente, com a função do espaço e também porque o Campo Militar de Santa Marde outra índole, por vezes mais difícil garida e região envolvente permitem de identificar à primeira vista, mas de identificar vestígios toponímicos aparastreamento relativamente mais fácil rentemente ininterruptos ao longo de através de registo em material de ardois milénios. Por último, sugere-se ao 2 quivo . leitor que, tendo possibilidade, se faça

O método utilizado consistiu em percorrer a cartografia militar da região3, procurando isolar os topónimos de origem absolutamente conhecida e confrontando-os com o que se sabe acerca da presença humana na zona. Foi compulsada alguma bibliografia de apoio, de que se destacam, pela abordagem direta ao assunto estudado, o Dicionário Toponímico e Etimológico do concelho de Abrantes de Eduardo Campos e Joaquim Candeias Silva4 e a monografia, de Hermínia Vilar, sobre Abrantes Medieval5. Os trabalhos de Joseph-Maria Piel foram igualmente centrais, nomeadamente para perceber os significados da toponímia moçá-

Disponível nos Arquivos Municipais de Abrantes e de Constância. Para o concelho de Abrantes, o documento mais antigo data de 1315 e o site Constância conta com documentos desde o final do século XVIII. Salientam-se, aqui, os arquivos municipais de Constância e de Abrantes. A partir do século XVIII é possível consultar muita documentação camarária, alguma dela digitalizada e disponível para consulta na internet. Para Constância, ver http://arquivo.cm-constancia.pt/. Aqui podem ser consultados bastantes documentos digitalizados. Para Abrantes, http://cm-abrantes.pt/index.php/pt/201412-09-16-55-06/arquivo-municipal-eduardo-campos. No concelho abrantino podem ser consultados os índices online, mas não estão disponíveis documentos digitalizados. 3 Do Centro de Informação Geospacial do Exército, série M888, à escala 1:25 000, procurando não só as folhas de produção mais recente, mas também as mais antigas, já que estas por vezes apresentam topónimos que, entretanto, caíram em desuso. 4 Campos & Silva, 1987. 5 Vilar, 1988. 2

munir das folhas à escala 1:25 000 da região. A viagem será mais bem acompanhada e, certamente, encontrará topónimos não referidos no presente texto, mas que facilmente associará ao que aqui é apresentado. Antiguidade

A comunicação efetuada em 2017 iniciou-se, como aconselham as boas práticas pedagógicas, com uma estória sobre um hipotético mercador hispano-romano do século IV d.C., que pretendia transportar, de carro, duas grandes ânforas de vinho, desembarcado no fundeadouro de Olisipo (Lisboa)7, para a capital administrativa da Província da Lusitânia, Emerita Augusta (Mérida), correspondente à atual cidade de Mérida. Para o efeito, dispunha de três itinerários principais, que consistiam em, de uma forma geral: i) partir de Olisipo atravessando o Tejo para Sul, por intermédio de uma barca, seguir por Salacia (Alcácer do Sal) e depois por Ebora (Évora) até Emerita; ii) partir de Olisipo para Norte, cruzar o Tejo a sul da Scalabis (Santarém), talvez na região de Muge ou mesmo em Scalabis, e Piel, 1980. Sobre o fundeadouro, veja-se https://www.youtube.com/ watch?v=7HKmMJRMYSY. Brigada

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Introdução

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Fig. 2 - Extrato do mapa das principais vias romanas da Lusitânia (Mantas, 2012, p. 312)

seguir por um itinerário secundário até entroncar no que provinha de Ebora; iii) atravessar em Scallabis, mas seguir ao longo do Tejo, na margem esquerda, tomando a via de Vila Formosa, Abelterium (Bemposta), Budua (Bótoa - Badajoz) e, finalmente, Emerita8.

O nosso mercador optara pela terceira via, já que isso o traria para a região que nos interessa. Provavelmente teria feito a viagem com um carro comprado por si (alugar o serviço não lhe permitiria obter tanto lucro), optando por fazer ele próprio toda a viagem, aproveitando as mutationes (estações de muda) e mansiones (hospedarias) que bordejavam as vias romanas e as tornavam extraordinariamente funcionais9. Ora este terceiro itinerário, já na margem sul do Tejo, procurava ganhar o terreno mais elevado – e, portanto, menos acidentado – da área onde se encontra hoje o Campo Militar de Santa Margarida10, o mais rapidamente possível. Por isso, seguia o vale da ribeira de Ulme – Tamazim, em direção ao Semideiro. Há vários vestígios deste Sobre estes três itinerários consulte-se, em detalhe (Alarcão, 2006). As mutationes eram as instalações mais frequentes ao longo das vias romanas. Eram geridas por pessoal reduzido e destinavam-se a fornecer mudas de cavalos, tratar de ferragens e arreios e podiam fornecer alimentação. As mansiones destinavam-se às paragens do fim de cada jornada. Eram complexos de grandes dimensões, com cavalariças, alpendres para carros, oficinas, armazéns, banhos, cozinhas e sala de refeições (Mantas, 2012, p. 66). 10 A construção do sistema vial romano tem a intenção de unir os principais núcleos urbanos e administrativos do modo mais direto e rápido possível. Por conseguinte, as vias romanas são, preferencialmente, vias de crista e não de vale, alcançam rapidamente os pontos mais elevados, ainda que a custo de pendentes de elevado ângulo e preferem as linhas retas. Em caso de necessidade, uma curva poderá ser extremamente fechada, desde que isso permita uma reta mais prolongada (Rodrigues, 2006, pp. 15-16).

caminho, nomeadamente dois miliários anepígrafos11, identificados em meados do Século XX por Mário Saa12, vários numismas e fragmentos de cerâmica comum na margem direita de ribeira de Ulme, indicando um povoamento rural ao longo da via13 e também a menção, no Itinerário de Antonino14, de outros topónimos que referiremos adiante. O topónimo Tamazim pode derivar, precisamente, do latim Trames Iter. Um Trames é um itinerário que ganha altura15, como é o caso do nosso. Iter é uma das possíveis designações para itinerário de terra (e não calçado, como a via)16. O topónimo “semideiro” ou “semedeiro” designou, também, na Idade Média, um caminho de cumeada, estreito, só para gente apeada17. Não há dúvida que, nesta região, o itinerário em causa constituiu, desde sempre, um elemento identitário. A atual povoação do Semideiro situa-se no ponto em que o itinerário começa a ganhar altura até atingir o planalto onde se encontra hoje a faixa sul do Campo Militar.

Nas imediações da atual capela da Sra. da Luz, ou um pouco mais para Leste, entroncava neste caminho um

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Sem epígrafes, inscrições. Alarcão, 2006, p. 226. Junto à capela da Sra. da Luz. Marques, 2002, pp. 28, 33. 14 Designação comum de um roteiro que agrupa 372 grandes itinerários do Império Romano, correspondendo 34 à Península Ibérica, que foi redigido nos finais do século III. Não se sabe exatamente se se tratava de uma obra para fins militares, comerciais ou ambos. A sua sobrevivência deve-se à preservação por copistas medievais (Mantas, 2012, pp. 78-80). 15 Mantas, 2012, p. 47. 16 Mantas, 2012, pp. 46-47. No entanto, há também a possibilidade de se tratar de um vocábulo de origem botânica, derivado da abundância de tramazeiras ou tramagueiras (tramaga). Seja como for, inclinamo-nos mais para a abordagem romana, já que há muitos elementos adicionais que reforçam a ideia. 17 Viterbo, 1865, p. 207. 11 12 13

outro, proveniente de Sellium (Tomar) e que, depois de atravessar o Tejo, talvez em Moron (Almourol), seguia até à Carregueira e daí subia, no sentido Noroeste-Sudeste, pelo Alto da Jardoa. O topónimo “Carregueira” pode ser romano ou medieval, mas manteve o mesmo significado na Antiguidade e na Idade Média: designava um caminho apropriado para a passagem de carros: carraria18. Daqui subia para uma mansio, no local que hoje se chama Galega Nova, onde foram encontrados vários materiais arqueológicos, com datação entre o século I e o século IV d.C.19, depois para a Lagoa da Murta, onde se encontrava um marco miliário a Constantino Magno20 e, finalmente, chegava ao Trames Iter. Para além do que já foi dito, o topónimo pode não fazer somente referência a um, mas aos dois itinerários. Pode aludir ao entroncamento dos dois caminhos, do Trames, que subia a ribeira de Ulme-Tamazim e o Iter proveniente da Carregueira. Após o entroncamento, o itinerário ganhava o planalto, chegando à milha 28 e a um lugar que os romanos designavam, provavelmente pela abundância das aves de rapina, de Rapaces21 (atual vértice geodésico Rapazes). Aqui foram encontrados quatro marcos miliários, um deles ao imperador Maximiano (285-305). Não é de estranhar que haja uma referência tão antiga a uma região conhecida pelas aves de rapina. Mesmo topónimos claramente Romão, 2012, p. 59 e Conde, 1996, p. 40. 19 Alguma cerâmica comum, um peso de tear, terra sigillata hispânica, fragmentos de vidro; elemento de mó em granito, um bronze de Constantino e ainda um disco de lucerna (Lázaro, 2017, p. 96). 20 Que está hoje exposto na Fundação Paes Teles, em Avis. 21 Rapax (cis): ave(s) de rapina (Torrinha, 1945, p. 727a) 18

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na atual herdade da Água Branca. Aritium é um termo celta romanizado, de origem incerta23. Mas praetorium é a tenda do comandante romano num acampamento militar, significando a base de um comando. O Aritium Praetorium seria uma estrutura militar, talvez um pequeno forte, a partir do qual uma guarnição exercia as suas funções de controlo das vias. Embora numa leitura um pouco forçada, podemos encarar o “passado militar” da região de Santa MargariFig. 3 - Marco miliário (fragmento I) a Constantino encontrado no Vale da Lama, Bem- da como muito mais reposta (Silva, et al., 2003) moto do que à primeira mais tardios do território hoje ocupado vista se possa pensar. E não ficamos pelo Campo Militar e seus arredores, por aqui: nesta matéria, os dados de evocam a existência destas aves, como interesse continuam, porque a via seo Vale do Gavião, o Vale de Açor e o guia para Emerita Augusta. Um pouco Vale da Coruja. Mais adiante, no Alto a norte da atual cidade de Badajoz, do Rapaz, três marcos miliários (milha passava na Budua romana, localidade 29). Segue-se Águas Negras, na milha que dá pelo nome atual de Bótoa, onde 30, onde também foram encontrados se situa o aquartelamento da unidade três miliários. Na milha 31, a Lagoa do mecanizada espanhola congénere da Junco e mais dois miliários, um deles BrigMec, a Brigada Extremadura XI. com a inscrição Consul IIII procônsul Os vestígios romanos na região refecit. Na Venda das Mestas, milha abundam. A localização do antigo op22 32, encontraram-se quatro miliários . pidum romano de Tubucci reclamada Já após a extremidade sudeste do por Abrantes, poderá corresponder atual Campo Militar, encontramos a Lanão à atual cidade, mas à herdade do goa Extrema do Copeiro. Aqui situavaCarvalhal, atualmente no limite entre o -se o miliário 35 e o Aritium Praetorium, concelho de Constância e o de Abrantes, junto à foz da ribeira da Alcolobra24. A milha romana baseava-se na estimativa da distância percorrida com 1000 passos a dois tempos, ou seja, o “pasOs vestígios estão bem à vista, com o 22

so” contado a cada dois passos que, em medidas atuais, está calculada em 1418 metros. A abundância de marcos miliários deve-se à forma de propaganda que os romanos utilizavam: qualquer governador que ordenasse a reparação de uma via não substituía o marco anterior; colocava um novo ao lado. Muitos marcos desapareceram, entretanto, das vias romanas, reaproveitados pelas populações para outras construções. Nalguns locais, como na geira romana do Gerês, ainda se mantêm na posição original. Outros há que foram removidos ou recolhidos dos locais onde foram encontrados e figuram em coleções museológicas um pouco por todo o país.

23 Em basco, o idioma ibérico mais antigo sobrevivente, “ari” significa “ser” ou “estar”. 24 No Século XVI, André de Resende apresentou a localização Tubucci como a ancestral urbanização romana que viria a originar a cidade de Abrantes, uma suposição que foi sendo replicada ao longo do tempo. Entre eles, Manuel António Morato, na segunda metade do século XIX (Morato, 1900, pp. 57-66). Jorge de Alarcão demonstrou que há mais indícios que apontem para uma localização diversa de Tubucci (Alarcão, 1990, p. 359; 2004, pp. 197-198).

balneário localizado mesmo à entrada da atual herdade. A existência de uma estrutura deste tipo pressupõe uma urbanização e, talvez associado, o topónimo Caldelas. Por definição toponímica, designa uma nascente de águas termais e a civilização romana procurava estes locais para se estabelecer. A ribeira de Caldelas é afluente da de Caniceira – Alcolobra e é possível que a ocupação humana de Caldelas remonte também à presença romana. No Crucifixo – Tramagal, estiveram, até muito recentemente, dois marcos miliários romanos sobrepostos, à entrada da rua da Tapada da Moura. Um datava de Constantino Magno e outro era um pouco mais recente. Foram recolhidos e estiveram na Junta de Freguesia de Tramagal até 2006, a aguardar transferência para o Museu de Abrantes. Os marcos encontravam-se no cruzamento de um velho caminho de terra que subia da herdade do Carvalhal e foram reaproveitados, algures entre a Idade Média e a Idade Moderna, para fazer um cruzeiro. Regressaremos a este assunto mais adiante. Na região, há ainda a assinalar o nome de outra povoação que se deve à presença romana. A foz do Zêzere, chamava-se, naquele tempo, de Pugna Tagis, “golpeia o Tejo”. O nome da localidade permaneceu, no português, como Punhete, até 1836, ano em que D. Maria II mudou a designação para Constância25. Idade Média À medida que as estruturas do Império Romano foram enfraquecendo, o comércio e tráfego inter-regional que deu vida a toda a região foi-se desvanecendo. As mutatio e mansiones foram abandonadas, as guarnições militares desapareceram ao mesmo tempo que a economia se tornava essencialmente local. A Idade Média deu 25 Decreto de 7 de dezembro de 1836 (Colecção de Leis..., 1930, p. 124). Ver também (Ferreira, 1907, p. 290).

Fig. 4 - Extrato da Carta de Portugal à escala 1:250 000, do CIGeoE, podendo observar-se os dois itinerários atuais que se sobrepõem, sensivelmente, aos romanos: Chamusca-Semideiro e Carregueira-Alto do Rapaz (a Oeste de Semideiro).

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lugar a outras lógicas de povoamento e aproveitamento dos solos e as vias de comunicação destinavam-se essencialmente à ligação local. O atual Campo Militar passou a ser local de outro trânsito: o dos rebanhos e o dos porcos selvagens. Onde há gado tem de haver pasto e, para haver pasto, não pode existir floresta. Foi a Idade Média a responsável pela desflorestação da região e alguns espaços não voltaram a recuperar até aos dias de hoje. Os depósitos polínicos de Santa Margarida da Coutada, Anta do Vale da Lage, Paul do Boquilobo, Abrigo da Pena D’Água e Alpiarça mostram claramente a diminuição da floresta, a multiplicação da oliveira, das gramíneas e das ervas durante a Idade Média26. Mas a principal terra arável acompanhava os principais cursos de água. Afastando-nos do Tejo ou das linhas de água mais profundas que bordejam o Campo Militar, deveriam ocorrer espaços de pastagem com uma ou outra pequena exploração agrícola. Podemos afirmá-lo com alguma segurança porque quando D. Afonso Henriques doou o castelo de Abrantes, com os seus termos, à Ordem de Santiago, em 1173, a esmagadora maioria das referências do limite do termo a sul do Tejo eram acidentes naturais (ribeiras, matas, montes), não se mencionando praticamente nenhuns lugares habitados27. Com menos intensidade do que no tempo dos romanos, o homem medieval também utilizou a área do atual Campo Militar como local de passagem. E deu-lhe nomes. Primeiro, a toponímia islâmica. A administração muçulmana implantou-se fundamentalmente ao longo do Tejo, de jusante para montante, numa província ou kura que tinha como principais polos urbanos Šantarīn (Santarém) e al-Ušbūna (Lisboa)28. Tratava-se da Bālata29, cuja designação permaneceu no topónimo Valada. A kura alongava-se para montante de Santarém, em ambas as margens do Tejo, e abrangia Almourol, cuja designação, não sendo de origem árabe, foi arabizada (a Moron romana converteu-se no termo que 26 Gomes, et al., 2013, pp. 51-60. Em Muge, todo o vale sofreu intensiva desflorestação, substituindo-se o arvoredo por gramíneas e oliveiras, sendo este o estado da natureza no século XII (Carrión, et al., 2012, pp. 758-759). A organização rural medieval consistia, de um modo geral, em campos agrícolas nas imediações dos povoados, junto às linhas de água. Fora deste espaço ocorriam os matos, que forneciam madeiras e caça para as gentes e os pastos. A região que é hoje o Campo Militar, porque planáltica, desabitada e com poucas linhas de água, foi pouco atrativa para as populações. 27 Documentos Régios, doc. 317, pp. 417-418, de 1173, setembro. 28 A transformação da Scallabis romana na Šantarīn islâmica deve-se à lenda da mártir Santa Iria (Oliveira-Leitão, 2008, p. 31). Ver também, para outra abordagem à evolução do topónimo, Boisselier, 1998, pp. 54, nota 147. Sobre a kura de Santarém veja-se Santos, 2011, pp. 20-26. 29 Com origem no vocábulo al-balat, significando terreno plano ou chão, planície (Oliveira-Leitão, 2008, p. 32).

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ainda hoje usamos). Os vestígios de islamização mais a montante de Almourol correspondem não a uma verdadeira implantação muçulmana, mas a uma ocupação moçárabe30. A delimitar os atuais concelhos de Constância e Abrantes, encontra-se a ribeira da Alcolobra (mais a montante, Caniceira). O topónimo provém de al-qalula, esgalho de cacho, invocando a vinha. O esgalho de cacho verde é uma tradição antiga, equivalente à da espiga, com o mesmo significado: é o rebento de uma cultura, onde se deposita esperança de uma boa colheita. Na doação de Abrantes à Ordem de Santiago, em 1173, surge a referência à “mata Dalcoloura”31. A meia distância entre o Crucifixo e o Carvalhal, o topónimo “Buraca dos Mouros” é bastante sugestivo da comunidade que povoou a zona32. Também moçárabe, mas na margem norte do Tejo, Alferrarede. Pode provir de al-kharrarat, “as cascatas”, ou de al-farragut, “as forragens”, local de pasto33. Inclinamo-nos mais pela segunda, já que é um termo moçárabe identificado por Joseph Piel, embora não nos possamos esquecer que, no local, existe a tradição de uma cascata, que hoje dá o nome a um conhecido restaurante… Um outro topónimo, bastante comum em muitos outros locais, que indica uma fortificação ou um mosteiro ermado, dedicado à jihād, designado por Rībat. Estas estruturas ou locais derivaram nos termos portugueses Arrábida ou Arrifana34. Encontramos uma Arrifana em São Miguel do Rio Torto, junto ao Rossio ao Sul do Tejo, o que contribui para confirmar, também por esta outra via, que a margem sul do Tejo era, pelo menos até ao Século XII, uma área isolada e escassamente povoada. Nem todos os topónimos são fáceis de situar cronologicamente. Por vezes, pela etimologia ou pelo próprio significado da palavra, conseguimos situar o século. E pelo que sabemos da região, que era escassamente povoada até ao final do século XII, podemos inferir que muitos dos topónimos relacionados com atividades agrícolas, com espécies vegetais ou animais, receberam batismo somente depois da conquista cristã. Na Idade Média,

30 Os moçárabes eram cristãos que, vivendo ao longo de gerações sob administração muçulmana, islamizaram muitos dos seus costumes e até o idioma. Praticavam um rito litúrgico diferente do preconizado por Roma e preservaram muitos princípios legislativos romanos e visigóticos (Azevedo, 2005, pp. 80-82). Sobre a civilização moçárabe e a sua historiografia, consulte-se Rei, 2010, pp. 562-569. 31 Documentos Medievais Portugueses, Documentos Régios, doc. 317 de 1173, setembro. Um outro indicador de uma comunidade cristã islamizada é o cultivo da vinha, inexistente no mundo muçulmano. 32 Campos & Silva, 1987, p. 33. 33 Piel, 1980, p. 38. 34 Gomes & Gomes, 2003, p. 142.

as gentes tendiam a nomear os locais pela sua aparência ou pela sua funcionalidade. Esta prática é também muito informativa acerca dos ecossistemas: o que vemos hoje não é, muitas vezes, correspondente ao que existia há seis, sete ou oito séculos. Sem saber precisar cronologicamente a proveniência, podemos identificar um espaço natural com uma diversidade considerável de espécies. Em relação ao universo das espécies vegetais, encontramos algumas dezenas de topónimos diferentes. Escolhemos alguns, que designam locais mais conhecidos dentro do Campo Militar e na sua vizinhança. A Caniceira, nome do curso superior da ribeira da Alcolobra, alude a um local com muitas canas. Provavelmente phragmites australis, que é autóctone tanto no Continente como na ilha da Madeira e cresce ao longo dos rios. Hoje sobrevivem poucas no local, mas o topónimo demonstra que já foram mais abundantes. A murta, um arbusto com bagas, da família myrtos communis, surge também como designador de vários locais, como o Vale e a Lagoa da Murta, no itinerário entre a Carregueira e a faixa sul do Campo Militar. A Sanguinheira, local habitualmente utilizado para treino de combate em áreas edificadas, dado ali existirem algumas casas abandonadas, atesta a presença da erva sanguinha, também conhecida como “erva-da-muda”, “corriola bastarda”, “sempre noiva” ou ainda “sanguinária”. Finalmente, no capítulo do mundo vegetal, uma referência à tramaga. Trata-se de um arbusto muito comum nesta região e dele deriva o nome de Tramagal (mato ou aglomerado de tramagas). O mundo animal selvagem também não passou despercebido ao homem de antanho. Aves e mamíferos, aracnídeos e insetos, há uma diversidade apreciável. Já aludimos às aves de rapina e podemos encontrá-las por toda a parte na toponímia, indicando também a sua abundância num passado seguramente mais florestado. Só no que respeita a aves de rapina temos as corujas, ao longo da Ribeira da Coruja, junto do limite ocidental de boa parte do Campo Militar (Coruja, Coruja do Pratas, Coruja do Meio). Também na vertente oriental, o Vale de Açor, o Vale dos Gaviões, ou o Bufão (já na Bemposta). À exceção da região de Rapazes, todas as alusões a aves de rapina correspondem a vales. Mas o que salta imediatamente à vista é a diversidade de espécies. Há outras aves, como o Vale do Corvo (no flanco Oeste, um dos vales transversais à ribeira da Coruja) ou o Casal dos Cucos (São Miguel

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era pescado, as terças ou quintas dos moinhos da Alcolobra, além de certas propriedades que lhes cabiam por inteiro40. Em 1478, um descendente de Fernão Álvares, D. Lopo de Almeida, era alcaide de Punhete e Torres Novas, senhor do Sardoal, Mação e Amêndoa. Foi nomeado primeiro Conde de Abrantes. D. Francisco de Almeida, vice-rei da Índia, era desta família.

do Rio Torto).

Encontramos também mamíferos selvagens. Destacamos o lobo. Já foi comum em todo o território nacional. Extinto em 1989 a sul do Tejo, deixou dois vestígios na toponímia da região: o Alto do Lobo, na região de Pai Poldro e, no Rossio ao Sul do Tejo, o Fojo, que nos demonstra não só a existência destes animais, como também do tipo de relação que as populações com eles mantinham35. Menos agressivo, mas igualmente selvagem, o “Cabrito”, em São Miguel do Rio Torto, que deve aludir ao cabrito montês. Mas o mais abundante em toda a região, incluindo no interior do próprio campo, é o topónimo Porco. Poderíamos estar na presença de topónimos recentes, decorrentes da presença de varas de porcos. Mas há indícios de se poderem tratar de topónimos mais antigos. Não muito distante do vértice geodésico Porco, encontramos várias Pucariças, que são locais bravios, com matagais, onde em tempos antigos se desenvolviam javalis, porcos bravos ou também zebros. Temos um topónimo Zebro, relativamente afastado do Campo Militar, mas ainda na região, nas Arreciadas – Abrantes36. A toponímia medieval dá-nos, sobretudo, indícios sobre a colonização do espaço. Como enquadrante geral, 35 Um fojo é uma cova profunda, frequentemente complementada por um canal que afunila na sua direção, delimitado por dois muros de pedras e que era construído e utilizado pelas populações para matar animais selvagens, nomeadamente lobos. O animal era afugentado na direção do fojo, onde caía e ficava aprisionado. Restava aos populares apedrejá-lo até à morte ou deixá-lo ficar, sem possibilidade de escapar. 36 O zebro era um equídeo selvagem, hoje extinto. Há abordagens que o associam ao cavalo Sorraia, e outras que o relacionam com o burro selvagem. O nome da zebra africana deriva do facto dos primeiros contactos de europeus com o animal se deverem a descobridores portugueses. Na região existem vários topónimos “Zebro” na zona de Rio de Moinhos e, a sul do Tejo, dois Vales de Zebro: um na zona da Bemposta e outro em S. Facundo (Campos & Silva, 1987, pp. 153-154).

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podemos afirmar que, durante a Primeira Dinastia, no termo de Abrantes, que abrangia também toda a zona do atual Campo Militar, salientaram-se sobretudo os poderes régio e concelhio, embora tenham também existido coutos de ordens militares. Em 1265, poucas décadas antes do final do sistema administrativo de tenências37, era tenente de Abrantes D. Aires Nunes de Gosende38. Foi, posteriormente, propriedade pessoal de duas rainhas, D. Isabel e D. Leonor Teles.

Fig. 6 - Representação artística de um fojo (http://www.ecotura.com/fojos.htm)

Na Segunda Dinastia, Fernão Álvares de Almeida, chanceler do rei D. João I, tornou-se senhor da honra de Abrantes. Os Almeidas passaram a dominar a região. Detinham a renda do canal grande de Abrantes39, a renda dos judeus, a renda das redes de pesca do Tejo, as dízimas de tudo o que 37 As tenências eram concessões de terras, com os seus direitos económicos, efetuadas pelo rei a senhores, como recompensa pelos serviços prestados ou que se esperava que fossem prestados, nomeadamente na guerra. Os tenentes eram, normalmente, ricos-homens, a mais alta nobreza. As tenências eram livremente revogáveis pelo monarca (Hespanha, 1982, pp. 155-156). 38 Ventura, 2009, p. 336. Os Gosendes eram uma linhagem de ricos-homens (o extrato mais elevado de nobreza) que se veio a extinguir no reinado de D. Dinis. D. Aires pertenceu à penúltima geração (Pizarro, 1997b, p. 1123). 39 Um canal – pequeno desvio do rio – destinado à pesca. O primeiro registo de um canal em Abrantes data de 1176, altura em que D. Afonso Henriques o doou ao mosteiro de Lorvão, para que este tratasse da sua conservação, ficasse com os rendimentos da pescaria, doando somente um décimo ao monarca (Documentos Régios, doc. 331 de 1176, maio).

Mas para termos notícia objetiva de Santa Margarida temos de avançar até 1431. Na altura era uma área onde existiam alguns casais42. Esta terra era coutada. Apesar de pertencer ao rei, os seus moradores estavam isentos de obrigações militares e do pagamento de, pelo menos, alguns impostos. Estas medidas eram habituais em locais com poucos habitantes ou pouco apetecíveis, tornando-se necessários incentivos à fixação de população. Na região, eram também imunes os montes a norte de Punhete, até Martinchel e ao Sardoal. Em suma: entre o final do século XII e o século XV, instala-se na região uma comunidade; a partir do século XIV, altura em que o orago a Santa Margarida se difunde no espaço português, assume a designação da santa43. Conhecemos os nomes de algumas pessoas que aqui se instalaram pela toponímia. Pai Poldro, por exemplo, a sudoeste do Campo Militar, no concelho da Chamusca, é elucidativo. “Pai” é a forma proclítica de Paio e o nome era muito comum na Idade Média44. Houve um “Paio”, que poderia ter como alcunha “Poldro” que aqui viveu. O vértice geodésico Gonçalo não nos permite Vilar, 1988, pp. 84-85. 41 Um documento anterior a 1257 (talvez de 1228?), a propósito de uma doação de um particular à Ordem do Hospital, refere a herdade de “rryo torto, q jaz é termho davrátes” (Figueiredo, 1800, p. 116). Em 1563, Santa Madalena da Bemposta era já freguesia (Campos & Silva, 1987, pp. 30-31). 42 Unidade de terreno agrícola concedido de forma precária a uma família para a explorar (Marques, 1980, pp. 92-93). 43 À semelhança de muitas outras localidades, Santa Margarida desenvolveu uma lenda justificando o seu orago e associando a sua “santa” a alguém que habitava a região. Trata-se, no entanto, de Santa Marina, Santa Marinha ou Santa Margarida de Antioquia, mártir do século IV (morreu em 304 d.C.). Na Igreja Católica o seu dia festivo é 20 de julho e a lenda de Santa Margarida passou-se na Anatólia. Um governador pagão (certamente que não “mouro”, cuja associação é anacrónica) queria casar-se com ela e fazer com que renunciasse ao cristianismo. Ao recusar, foi engolida por satanás, que tinha assumido a forma de um dragão. Mas conseguiu escapar, rasgando o ventre do animal com um crucifixo que trazia. Trata-se de uma lenda muito conhecida dos cruzados e popular na Idade Média. Talvez pelo episódio da “fácil” saída do ventre do seu captor, é também a padroeira da gravidez. É também o orago da Aldeia de Santa Margarida, concelho de Idanha-a-Nova, que mantém uma versão local da lenda. 44 Pai evoluiu de Pelayo ou Pelágio (Azevedo, 2005, p. 313). Brigada 40

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Fig. 5 - A Corriola Bastarda ou Sanguinha é frequente na região (http://hortaaporta.blogspot.com/2014/06/fallopia-convolvulus-corriola-bastarda.html)

A Bemposta foi uma das primeiras povoações a formar-se no termo, a sul do Tejo, juntamente com São Miguel do Rio Torto. Eram pequenos povoados, que viviam isolados, e que desenvolveram formas de falar tão caraterísticas que ainda hoje se distinguem. Existe um documento do século XIII que menciona a existência de São Miguel do Rio Torto41.

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perceber em que época aqui viveu um homem com o mesmo nome. Mas já o Alto do Castelhano, associado a outros topónimos que lhe são próximos, quer no léxico, quer na proveniência, quer na própria distância entre si, como Galega Velha, Cataloa ou Cabeço do Espanhol (junto à Jardoa, c. Chamusca), podem ter tido todos origem em imigração proveniente de Espanha.

ção de culturas, aqui, como no Alentejo, havia terrenos em pousio cinco a sete anos. O tempo de pousio era de tal modo prolongado que a Chã dos Pousios nos ficou na toponímia, a oeste da ribeira da Casta. Malhava-se o cereal junto ao local onde se cultivava, em terreno mais ou menos plano, como no Alto da Eira (junto à atual Resitejo, concelho da Chamusca)48.

O topónimo Malpique levanta muitas dúvidas. Quase não existe em Portugal e o que existe é Malpica, quer na Galiza, quer junto ao Tejo. Sabemos também que deu origem a uma alcunha, a um nome de família espanhol – Malpica – que passou para o lado português. Poderá este Malpique ou Malpica ter alguma relação com os castelhanos de outros topónimos da zona?

A par do cereal, na Idade Média a vinha era omnipresente e o vinho era utilizado como fonte de calorias para as populações a quem o alimento escasseava. A Casta e a Castinha, lugares a oeste do Campo Militar, aludem à presença de espécies vinícolas. Se dúvidas houvesse, as referências continuam, com a Parrada e o Vale da Vinha, mesmo a sul de Santa Margarida da Coutada. A vinha requer tratamento e é uma cultura mais próxima do povoado do que os mais extensos campos de cereal. Claro que também havia pomares. Basta atentar na Pereira, no Vale do Pereiro, no Vale da Macieira ou no vértice geodésico do Ameixoso (os dois últimos a sul do vértice geodésico Rodeio, uma vez mais nas imediações da atual Resitejo).

O homem medieval era extremamente pragmático no que tocava à nomeação dos lugares. Normalmente designava-os pela sua funcionalidade ou por alguma caraterística imediatamente distintiva. Por isso podemos situar não só cronologicamente (embora numa faixa alargada) a origem de alguns topónimos, como podemos também perceber a existência de práticas, culturas ou atividades que, entretanto, caíram em desuso. Em Santa Margarida criavam-se animais e, neste capítulo, os topónimos abundam. Comecemos pelo Vale de Mestre, que é uma corruptela comum de Vale da Mesta, ou seja, vale onde se pratica o pastoreio comum. Há, na região, outro topónimo que manteve a forma original, este associado à venda de gado: a Venda das Mestas, junto à Bemposta45. A Ervideira e o Pinhal da Ferraria, ali próximo, também evocam pastagens. A primeira é evidente. A segunda poderia estar relacionada com a produção ou trabalho do ferro, mas a origem é diferente. Trata-se de um topónimo igualmente associado à erva e pasto46. Também destinado a pastagens é o maxial, um lugar inculto, de matagal bravio. É possível também designar por maxial um pequeno conjunto de sobreiros ou azinheiras47. A região de Chã dos Maxiais contém todas estas caraterísticas. As pessoas da região cultivavam a terra de modo muito duro. Se no Minho quase não era necessário haver rotaAs mestas eram caminhos medievais de transumância (Mantas, 2012, p. 37), mas designavam também, de um modo geral, “gado”, como o topónimo Venda das Mestas (Bemposta, c. Abrantes). Muitos topónimos “Mestre” poderão constituir a adulteração da palavra original “Mesta” (Campos & Silva, 1987, p. 148). 46 Farris é a designação latina de uma espécie de trigo inferior. Em latim, um pasto para animais era designado de farrágo ou farragis. O topónimo ferreira também era usado, na Idade Média, para referenciar áreas onde crescia verbena, planta com propriedades medicinais (Piel, 1980, pp. 37-38). Pense-se na atual palavra “forragem”. 47 Campos & Silva, 1987, pp. 88-89. 45

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As populações também exploravam os recursos naturais. Obtinham um barro próprio, da região, avermelhado, que se não foi utilizado em olaria, foi certamente em construção. Provinha da Barreira Vermelha, em Santa Margarida da Coutada, ou das Barreiras Vermelhas, a sul da Pereira. A areia provinha de vários locais. O vértice geodésico Areeiro, em Vale de Mestre, é expressivo, mas, mais expressivo ainda, é o Couto das Areias, junto ao rio Tejo. Mostra-nos que não só existia areia no local, como também a sua pertença era reclamada e a sua extração era, de algum modo, controlada. Há igualmente vestígios das atividades “profissionais”, os mesteres. O Cardador, lugar mesmo à saída da área urbana do Campo Militar, era um artesão que preparava as matérias têxteis para fiação. Tratar-se-ia de lã de algumas ovelhas que por aqui se criassem, mas, mais provavelmente, de linhaça, que era comum em todos os locais na Idade Média, já que era 48 Para conseguir alguma rentabilidade do solo, muitos campos de cereal seriam bastante afastados das povoações e era mais eficaz malhar o escasso trigo e o centeio junto ao campo, do que transportar as espigas até a um local onde houvesse uma eira. Por isso era possível utilizar um terreno plano para o efeito. Era costume medieval (e até muito recentemente), produzir eiras com esterco bovino, que se aplanava e deixava secar. Depois de malhar o cereal, e com a chegada das chuvas, o estrume podia facilmente ser reutilizado como fertilizante (Almeida, 1978, p. 120). Não temos seguro que assim acontecesse na região – até porque o gado bovino escassearia – mas topónimos que referem eiras afastadas das herdades e povoações sugerem a prática de malhar o cereal no próprio local.

uma forma habitual de pagar imposto (em bragais de linho). A atestar a presença de linhaça poderá estar o Vale do Braga, (caso “braga” aluda a bragal e não a alguém proveniente do Minho) a norte do vértice geodésico da Coruja. Finalmente, funções militares medievais. Bem antes de existir a atual localidade de Chaminé, a sudeste do atual Campo Militar, o concelho de Abrantes instalou alguns besteiros do seu conto na região das Valeiras (Valeira Alta e Baixa)49. Sabemo-lo pelo vértice geodésico Besteiros e pelo vale do mesmo nome, a sudoeste da Chaminé. Também atribuiu terras a um escudeiro, nas proximidades, como o atesta o Vale do Escudeiro. Territórios praticamente intocados pela mão humana, eram ainda bastante selvagens três séculos mais tarde, quando, em 1712, o Padre António Carvalho da Costa lhes refere a abundância de caça e grandes matas, muito densas50. Idade Moderna No final da Idade Média e na Idade Moderna, entre os séculos XVI e XVIII, a região sofreu grandes alterações. Voltamos ao rio Tejo. Em 1505 temos o primeiro sinal da existência do Rossio ao Sul do Tejo. Eram duas ou três casas abarracadas que serviam de apoio à barca de passagem que aí existia. Bem mais para ocidente, o rio outrora banhava diretamente a Carregueira e o Pinheiro Grande. Em Tanchos (Tancos) havia uma lagoa que, durante o Verão, ficava isolada do rio e era foco de mosquitos e paludismo. Era designada de Lagoa Fedorenta. Em 1550, a Ordem de Cristo quis acabar com a lagoa, ao mesmo tempo que pensou aumentar a irrigação da Quinta da Cardiga (concelho da Golegã). A Ordem pediu apoio ao soberano e mais de 3000 homens trabalharam durante o verão para que, no Inverno seguinte, o rio passasse sobre a lagoa. Veio o inverno e o curso do Tejo alterou, levando consigo, para sempre, a referida lagoa51. O antigo leito ainda está marcado na toponímia, através dos nomes Areias e Mouchões, agora afastados do curso atual do rio. As cartas topográficas anteriores à década de 1990 ainda apresentavam a designação de 49 No final do século XIII, havia um anadel de besteiros em Abrantes e a vila mobilizava 32 (Martins, 2007, p. 159). Em 1385, Abrantes mantinha o mesmo número de besteiros do conto, mas em 1421-22 tinha 30. Eram peões especialistas no uso da besta, pelo que o seu estatuto era superior ao resto da peonagem e inferior ao dos cavaleiros. Tinham posses e os concelhos atribuíam-lhes, frequentemente, terras. No final do século XV desapareceram quase completamente, ao serem substituídos por espingardeiros (Monteiro, 1998, p. 83). 50 Costa, 1712, p. 188. 51 Sobre a alteração do leito do Tejo, veja-se Rovisco, 2009, pp. 85-87.

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de Abrantes, contava com 150 habitantes em 1712. Na mesma data, Santa Margarida contava com 230 almas distribuídas pelos lugares de Crucifixo, Coutada, Tramagal e Carvalhal54. Idade Contemporânea O século XIX traz-nos outro tipo de toponímia. Não deixam de ser comuns topónimos que aludem à funcionalidade dos locais, mas são mais frequentes os batismos de lugares por vontade dos governantes. É o caso de Punhete, que alterou o nome para Constância, pela mão direta da rainha D. Maria II55. A justificação formal aludiu ao apoio da vila à causa liberal, mas consta que a mudança se deveu ao descontentamento geral da população, e a pedido do município à rainha, pelo escárnio a que frequentemente eram sujeitos por parte de habitantes de outras terras56. Nesse mesmo ano, Santa Margarida da Coutada, que pertencia ao termo de Abrantes, foi incorporada no concelho de Constância, passando este a deter uma área ao sul do Tejo. O concelho desenvolveu-se grandemente e beneficiou de obras públicas que facilitaram a sua ligação a Abrantes, como é o caso da Ponte de Santo Antoninho57. Em 1889, foi extinto o concelho e o território reintegrado em Abrantes, o que levou a um requerimento entregue ao rei D. Carlos, pedindo a sua restauração58.

Punhete era, no século XVI, um grande porto fluvial, que rivalizava, com vantagem, com Abrantes. Em 1571, D. Sebastião destacou esta vila da de Abrantes, criando o concelho52. Nove anos depois o reino ficou, até 1640, sob a monarquia dual. Os vestígios seguintes não são propriamente toponímicos, mas transportam-nos de novo para a região do Tamazim. Em 1641 foi construída, sobre umas ruínas que aí existiam (provavelmente da estação romana), a capela da Senhora da Luz. No Semideiro existe uma lenda que associa o lugar da capela ao local onde D. Nun’Álvares Pereira teria derrotado castelhanos que regressavam do cerco de Lisboa. Trata-se, evidentemente, de uma manifestação de consciência nacional. O contexto é da Restauração da Independência (ocorrida a 1 de dezembro do ano anterior) e os portugueses procuravam heróis e justificações. Lembre-se que, durante 52 Pela Carta Régia de Punhete, de 1571 (Santos, et al., 2007).

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os sessenta anos de Dinastia Filipina, houve muitas manifestações de nacionalismo, incluindo uma obra literária a Nun’Álvares Pereira, de bastante divulgação53. O documento mais antigo conhecido que nos fala do Crucifixo data também desta época, de 1643. Na altura já era uma aldeia importante do termo de Abrantes. Aqui voltamos ao cruzeiro a que já aludimos. Poderá ter sido esta obra cristã, que recorreu a dois miliários romanos, a responsável pelo nome da povoação. As pessoas mais velhas ainda se lembram das duas pedras tombadas na Rua da Tapada da Moura. Poucas décadas depois temos referência, pela primeira vez, ao lugar das Bicas, em 1707. O nome da povoação alude às fontes de água e, à semelhança das colonizações medievais, também tem em seu redor um Vale da Vinha, um Vale do Curral e um Vale Poldro. No mesmo menciona-se a Chaminé e São Miguel do Rio Torto passa a freguesia. Ligada à igreja de São João 53 Em 1609, Francisco Rodrigues Lobo redigiu um poema épico, em 20 cantos, intitulado O Condestabre de Portugal D. Nuno Álvares Pereira. Esta obra teve várias edições durante o século XVII.

Seis décadas mais tarde já existia o Costa, 1712, p. 188. 55 Decreto de 7 de dezembro de 1836 (Colecção de Leis..., 1930, p. 124). 56 Veja-se a crónica de Matias Coelho, disponível em http:// www.mediotejo.net/cronica-de-punhete-a-constancia-por-antonio-matias-coelho/, consultada em 31 de dezembro de 2017. 57 Inclui um obelisco com a seguinte inscrição: “No ano de 1825, reinando o mui Alto e poderoso Imperador e Rei o Senhor D. João Sexto, se mandou construir para utilidade pública esta ponte”. 58 AMC, EJMNC/D/001/000021 de 1896, dezembro, 7. 59 O Sétimo Marquês, D. Pedro Maria da Piedade de Alcântara Xavier de Lancastre, nasceu em 1864. Dado que há, pelo menos, um documento da Câmara de Constância da década de 1880 que alude ao Casal de D. Pedro, presumimos que se trate do Quinto, referido na (Resenha das Famílias Titulares do Reyno de Portugal, 1838, p. 1). Brigada 54

Mecanizada

EM Ó RI A

Fig. 7 - Alteração do curso do Tejo no século XVI (Rovisco, 2009, p. 66)

um braço de rio abandonado, imediatamente a ocidente do Arripiado. Designava-se Rio Velho.

Pensamos ser mais ou menos desta altura a origem da designação de Dom Pedro (vértice geodésico bem conhecido do Campo Militar). Dever-se-á a D. Pedro de Lencastre da Silveira Castelo Branco Sá e Meneses, Quinto Marquês de Abrantes. Recebeu o título em 1789, foi comendador-mor da Ordem de Avis e presidente do Conselho de Regência em 1807, depois da partida da família real para o Brasil. Foi enviado, por Junot, para prestar homenagem a Napoleão e acabou como refém em Paris. Regressou a Portugal em 1826 e morreu dois anos depois. Era alcaide-mor de Abrantes, Punhete e Amêndoa; senhor de várias terras e coronel do Regimento de Milícias de Lisboa Ocidental59.

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DE

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casal de D. Pedro. João Ferreira Alves Morgado foi autorizado a fazer um pequeno desbaste no chaparral do Vale de D. Pedro, que pertencia, na altura, à Câmara60. Corresponderá o Vale do Morgado, adjacente ao Casal de D. Pedro, a este João Morgado? É possível que a ele ou a um parente, já que o apelido corresponde a uma família de Santa Margarida no século XIX, mas não temos dados para o afirmar categoricamente. À medida que nos aproximamos do século XX, deparamo-nos com um conjunto de designações de lugares que só podem ter tido origem em tempos recentes. Temos dados muito concretos, como o da presença de uma família inglesa, emigrada na Austrália, que aqui se instalou. Trata-se da família de William Tait, homem de negócios de ascendência britânica e radicado no Porto. Em 1880 iniciou a plantação-pi60

AMC, CMCTC/B-A/002/0008, Cx 2 de 1886, junho, 2.

loto de 600 hectares de acácias e eucaliptos. Na altura causaram bastante interesse nos silvicultores: a acácia era interessante pela sua casca, como fonte de taninos para a indústria dos curtumes. A abundância de acácias em todo o Campo Militar deve-se a esta plantação inicial61. Os topónimos legados por esta família são Nova Austrália, Nova Tasmânia e Mata dos Ingleses (na altura seria uma mata de acácias ou de eucaliptos, espécies totalmente novas em Portugal). Há topónimos que indicam novas realidades de prestígio social. É o caso do Casal do Bacharel. Há outros que, simplesmente, revelam objetos do quotidiano, como o Ferro de Engomar (junto à Resitejo). Quando, em 1951, o estado adquiriu os terrenos a sul de Santa Margarida para instalar o Campo Militar, o tempo congelou para alguns antigos topónimos do seu interior. Um 61

desses lugares é a Quinta do Mariola, hoje uma ruína. Não sabemos de onde provém o nome. Mariola é um monte de pedras que serve para indicar o caminho nos trilhos de montanha. Também pode significar uma pequena penha ou elevação destacada. Também é uma espécie de pombo. E também pode ser o diminutivo de Maria. E ainda pode significar um patife, malfeitor. Com a edificação do Campo Militar, os protagonistas da década de 1950 não fizeram nada mais, nada menos, do que todos os seus antecessores, desde pelo menos os romanos. Atribuíram nomes aos lugares que lhes definiam a utilidade prática, de realidades que lhes fizeram sentido. Daqui a cinco séculos poderá já não existir Campo Militar, mas seguramente perdurarão topónimos como Carreira de Tiro, Pista de Aterragem ou Campo Militar, que hoje figuram na carta.

Tait, 1885, pp. 246-248.

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Pa r te I I - Ativida de O per aci onal

Co m a n d a r n o I r aque: U ma Experi ênci a! Maj Art Sandro Geraldes - Cmdt do 6ºCN/FND/OIR

Quando me foi pedido pelo comando da Brigada Mecanizada (BrigMec) para escrever um artigo, para a presente edição da revista Atoleiros, sobre o 6º Contingente Nacional como Força Nacional Destacada no âmbito da Operation Inherent Resolve (6CN/ FND/OIR), fiquei deveras preocupado, pois, como poderia escrever um só artigo, só com algumas páginas, sobre praticamente um intenso ano repleto de inúmeras experiências, atividades, situações, diferentes militares, operações, exercícios, cerimónias, diferentes países, diferentes culturas, diferentes Exércitos. Recordemo-nos que o CN/FND/ OIR, é a contribuição de Portugal para a Coligação Internacional1 no âmbito da OIR para derrotar o DAESH no Iraque e na Síria. Neste sentido, o Exército português, desde 2015, prepara, projeta e sustenta uma força de 32 Militares2 para o longínquo Teatro de Operações (TO) do Iraque. À BrigMec, como grande unidade (GU) do Exército, já foi atribuída a responsabilidade de mobilizar e preparar dois contingentes nacionais a destacar para o TO do Iraque, no ano de 2016 o 4ºCN/FND/OIR em que a sua Unidade Mobilizadora (UnMob) foi o Batalhão de Infantaria Mecanizado de Lagartas e o atual contingente, projetado no Iraque desde 06 de novembro de 2017, o 6º CN/FND/OIR, sendo a UnMob o Grupo de Artilharia de Campanha 15, 5 Autopropulsionado (AP). Toda esta situação, por si só, mereceria um amplo artigo, recorde-se que foi a primeira vez que o GAC 15,5 AP foi responsável pelo aprontamento de uma FND, pelo que logo à partida o artigo não poderia ser focado na Preparação. De igual forma e dado que este é o 2º Contingente aprontado pela BrigMec, também já é por demais conhecido por todos, qual a estrutura do Contingente, qual a organização da OIR e qual a missão que está atribuída ao CN, pelo que seria infrutífero escrever um artigo versando Liderada pelos Estados Unidos da América, e que reúne mais de 60 países. 2 Um Oficial destacado no Comando de Componente (CJFLCC-I) em Bagdad, um Oficial no Comando Conjunto da Task Force (CJTF) no Koweit e uma Força de 30 militares que integram a Task Force Besmayah, com a missão de assegurar o treino às Forças Armadas iraquianas. 1

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estes temas. Quanto ao período de permanência no TO, como poderia resumir num só artigo, todas as experiências do treino ministrado a 3 Brigadas do Exército iraquiano, o treino operacional levado a cabo pelo 6CN, a relação com os intérpretes locais, a relação com os militares dos contingentes espanhol, inglês, americano, canadiano e eslovaco. Como poderia salientar as visitas do Exmo. Ministro da Defesa Nacional por ocasião do Natal, a visita do Comandante da OIR, do Secretário Geral da NATO entre outras. Como poderia enaltecer as inúmeras atividades levadas a cabo pelo 6CN tais como a Transferência de Autoridade (TOA), a celebração do dia da Artilharia, a celebração do Natal, da passagem de ano e a realização da Semana de Portugal uma iniciativa que foi acolhida e recriada pelos diversos contingentes presentes em Besmayah.

Todas estas experiências poderiam caber num só artigo, no entanto, só com uma revista completa poderão ser enaltecidas e dessa forma honrar o trabalho, a dedicação e empenho de todos os militares do 6CN, que colocaram no planeamento, execução e coordenação de todas as tarefas realizadas sempre com um único intuito: engrandecer o nome da BrigMec, do Exército e de Portugal. Posto isto, a decisão sobre o tema do artigo centrou-se no facto de ser Comandante, e a experiência de comandar uma Força Nacional Destacada que quase na sua totalidade é constituída por Oficiais e Sargentos do

Quadro Permanente. Não pretendendo com estas palavras dar uma fórmula, até porque sempre nos foi incutido que não existem formas corretas de comandar, mas sim poder contribuir para os jovens quadros com uma experiência a qual poderão analisar à luz dos conceitos de Liderança e seguir o seu próprio caminho. Não se pretende com este artigo, analisar e descrever as teorias da liderança, os dogmas edificados relativamente ao ónus do Comando, nem tão pouco apontar caminhos, pretende-se sim relatar como foi decidido atuar perante as circunstâncias dadas em determinada altura, sendo que, as que mais pesaram: só 30 militares, quase todos Graduados e do quadro permanente, num TO difícil como o Iraque, sem período de licença de férias, com a realização do Natal, da passagem de Ano e da Páscoa em Teatro. Assim sendo, os grandes pensamentos que me guiaram foram: 1. “Comandar não significa dominar, mas cumprir um dever.” (Lucius Annaeus Sêneca3) Pensamento que restabeleci, como a oportunidade que me foi dada de comandar uma FND, pelo que teria de colocar todas as minhas competências e qualidades no desempenho do cargo de Comandante, isto é, não estaria ali para dominar mas sim para cumprir um dever, o dever de comandar, o dever de fazer entender que todos ocupam um cargo, que cada um deve cumprir as tarefas inerentes ao seu cargo e que se isso acontecer, então o conjunto cumprirá a missão e atingirá os objetivos. 2. “Comandar muitos é o mesmo que comandar poucos.” Tudo é uma questão de organização.” (Sun Tzu4). Esta afirmação foi tida em conta, na medida que, o CN pelo facto de ter só 30 elementos não dispensaria a devida organização, isto é, as tarefas teriam de ser realizadas com método e organização, o contingente teria se ser organizado, não dispensando um planeamento rigoroso, uma Lucius Annaeus Sêneca foi um importante escritor e filósofo da época do Império Romano, sendo um importante representante do estoicismo (doutrina universal que defende a ideia de que o universo é regido por uma lógica universal). 4 Sun Tzu (544-496 a. C.) foi um general, estratega e filósofo chinês. Escreveu durante o século IV a. C. a obra com o título “A Arte da Guerra”. sendo ainda nos dias de hoje um importante legado para os militares. Brigada 3

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“Fazer grandes coisas é difícil; mas comandar grandes coisas é ainda mais difícil.” - Friedrich Nietzsche

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descentralização da execução, uma cadeia de comando bem definida e um constante controlo por parte do comando. 3. “Para comandar os homens, marcha com eles.” Esta citação, foi assumida na medida em que para prosseguir os objetivos, teria que formar o grupo na verdadeira ascensão da palavra, teria que estar com os militares, liderar pelo exemplo, pela proximidade pois assim, desta forma os militares sentiriam verdadeiramente que estaríamos todos juntos. De igual forma, esta citação foi tomada em conta, ao permitir e pedir sempre os contributos de todos, quer em termos de opinião, quer em termos de experiência quer ainda em termos das diferentes competências de cada um, fazendo desta forma com que cada um se sentisse útil e que todos fossem sempre tomados em conta para o cumprimento da missão. Apresentados, os faróis que guiaram a linha de comando, ressalvo a importância da elaboração de Intenção do Comandante5. A elaboração desta intenção tem de ser pormenorizada, clara, precisa e concisa de forma a que todos os militares a interiorizem e a entendam perfeitamente, que a tenham sempre presente, de modo a que todas as suas ações contribuam para o cumprimento das Tarefas Chave edificadas e assim permitir alcançar o Estado Final Desejado pelo Comandante da Força e desta forma cumprir a missão atribuída. Logo na primeira oportunidade, após o TOA, a Intenção do Comandante foi apresentada a todo o Contingente, e daí em diante, sempre perante qualquer nova tarefa, qualquer problema, qualquer dúvida sempre se revisitou esta intenção do Comandante. De forma a estar coerente com os três faróis supracitados, foi decidido efetuar um briefing semanal com todo o Contingente, onde para além de se passar revista à semana decorrida Parágrafo que relativamente a uma determinada Missão deve apresentar a visão do Comandante em termos de finalidade, das tarefas Chave e o Estado final Desejado.

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se perspetiva a semana seguinte, se transmite a informação descendente e se procura trazer à discussão os problemas de forma a encontrar uma solução de grupo. Neste briefing foi sempre apresentado uma frase, designada por “frase da semana” no intuito de reforçar e relembrar a intenção do Comandante e de forma a fortalecer o grupo e mante-lo focado no cumprimento da missão. São estas frases que agora são apresentadas e que todas elas tiveram um sentido específico de acordo, na sua essência com a Intenção do Comandante, com as tarefas a cumprir, os objetivos a alcançar e o Timing da missão e sempre de modo a fortalecer o grupo e a procurar que cada um desse o melhor de si em prol do grupo e da missão. 15 de novembro de 2017 “Triunfam aqueles que sabem quando lutar e quando esperar.” (Sun Tzu, A Arte da Guerra) 24 de novembro de 2017 “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas sim o que melhor se adapta à mudança.” (Charles Darwin) 08 de dezembro de 2017 “O verdadeiro método, quando se tem homens sob as nossas ordens, consiste em utilizar o avaro e o tolo, o sábio e o corajoso, e em dar a cada um a responsabilidade adequada.” (Sun Tzu, A Arte da Guerra) 15 de dezembro de 2017 “O talento vence jogos, mas só o trabalho em equipe ganha campeonatos.” (Michael Jordan) 22 de dezembro de 2017 “Trabalhar em equipe não significa que todos tenham que fazer tudo mas sim ter a consciência do todo e do papel de cada um neste todo.” (Daniel Godri Junior) 29 de dezembro de 2017 “Para conquistar o sucesso, você precisa de aceitar todos os desafios que estiverem na sua frente. Não pode aceitar apenas aqueles que preferir.” (Mike Gafta)

05 de janeiro de 2018 “Temos (os portugueses) muita dificuldade em fazer um trabalho consistente, demorado. Somos mais dados ao trabalho imediato.” (General Ramalho Eanes) 12 de janeiro de 2018 “Tudo se pode ter ou ser, basta saber trabalhar, saber querer e saber esperar.” (desconhecido) 19 de janeiro de 2018 “Paciência e perseverança tem o efeito mágico de fazer as dificuldades desaparecerem e os obstáculos sumirem.” (John Quincy Adams) 09 de fevereiro de 2018 “Posso ainda não ter chegado aonde queria, mas estou mais perto do que ontem.” (desconhecido) 16 de fevereiro de 2018 “Para ser grande e ter sucesso é preciso ter 99 por cento de talento, 99 por cento de disciplina e 99 por cento de trabalho.” (William Faulkner) “A disciplina é a alma de um exército; torna grandes os pequenos contingentes, proporciona êxito aos fracos, e estima todos.” (George Washington) “A disciplina é a chama refinadora através da qual o talento se transforma em capacidade.” (Roy Smith) 23 de fevereiro de 2018 “Todos têm, pelo menos, uma grande oportunidade ao longo da sua vida, a dificuldade reside em saber identificá-la e aproveitá-la.” (Maj Geraldes) Foi desta forma, que num TO difícil, sob circunstâncias difíceis, numa época do ano sempre complicada para estar projetado em operações, longe da família, num grupo pequeno onde a sua maioria são Oficiais e Sargentos do QP, se conseguiu construir um Grupo e onde todos os elementos desse grupo interiorizaram perfeitamente a intenção do Comandante levando que até ao momento se possa afirmar que o Estado Final Desejado está praticamente (ainda faltam dois meses de missão) alcançado: Tornar o 6º CN uma referência no seio da TF Besmayah.

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Pa r te I I - Ativida de O per aci onal

Eu r o p e a n U n i o n Tr ai ni ng Mi s s i on - Somal i a

E di f i caçã o d o So ma li Natio n a l A r m y : a p e r s p e tiv a d e u m tr a in e r Ten Cav Oliveira da Silva - Training Team / EUTM-S

A República Federal da Somália, é um país da África Oriental que se encontra localizado no Corno de África1. Com uma área de 637.657 km2 (7 vezes maior que Portugal) e uma extensão costeira de 3025 km, a Somália é delimitada a Norte pelo Golfo de Áden 2 pelo Djibouti (61 km), a Sul pelo Quénia (684 km), a Oeste pela Etiópia (1640 km) e a Este pelo Oceano Índico. É de salientar, a extrema importância estratégica que este país apresenta, na medida em que é adjacente às principais rotas marítimas realizadas entre o Oriente e o Ocidente (Mar Vermelho – Golfo de Áden através do estreito de Bab-el-Mandeb3) (CIA, 2017). Desde a sua independência4, com data de 1960, que a Somália tem sentido contínuos momentos de fragilidade e conflitualidade. Atualmente, enfrenta uma situação de precariedade extrema a todos os níveis, incluindo no seu aparelho de segurança e defesa. Neste âmbito, de acordo com a Fund For Peace (FFP) (2017), a República Federal da Somália é classificada como o país que apresenta a segunda maior taxa de fragilidade a nível Mundial. Corroborando a afirmação anterior, esta classificação deve-se em grande parte ao sentimento de insegurança e volatilidade que se vive neste território. É de salientar, que a Somália é diariamente “assombrada” por acontecimentos de cariz conflitual, nomeadamente: ataques terroristas, homicídios, violações, ataques a embarcações marítimas, conflitos sociais, entre outros. Nesta linha de pensamento e de acordo com o Institute for Economics and Peace (IEP) (2017), a Somália é classificada como o 158º país menos pacífico do mundo, numa lista onde apenas o Iémen, o Sudão do Sul, o Iraque, o Afeganistão e a Síria apresentam uma taxa superior de criminalidade e insegurança. Aliada a toda a conflitualidade e

“Extremo Oriental do continente Africano, constituído pela Somália, pela Etiópia, pelo Djibouti e que culmina no cabo Guardafui” (Infopédia, 2017). 2 O golfo de Áden caracteriza-se como uma “importante via marítima que ocupa a depressão tectónica entre as penínsulas da Árabia e da Somália. Liga o mar Vermelho (pelo estreito de Bab el-Mandeb) ao mar da Arábia. Com mais de 5000 m de profundidade, apresenta um comprimento de 880 km e uma largura de 480 km” (Infopédia, 2017). 3 O estreito de Bab-el-Mandeb, caracteriza-se por separar o continente Africano do continente Asiático e ao mesmo tempo, ligar o Mar Vermelho ao Golfo de Áden. Identifica-se como um canal estratégico e fundamental para a economia internacional, na medida em que 4% da produção mundial de petróleo passa por este estreito (Global Security, 2017). 4 Durante o período colonial (1891-1960) a Somália encontrava-se dividida em cinco regiões autónomas: a Somalilândia Francesa, a Somalilândia Inglesa, a Somalilândia Italiana, o nordeste do Quénia e o território de Ogaden. Posteriormente, em 1960, dá-se a independência das Somalilândias Inglesa e Italiana, das quais formaram a República da Somália nos limites acordados entre ambas (Metz, 1992). 1

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insegurança existente, a Somália atravessa uma profunda crise humanitária. De acordo com a European Comission (EC) (2107), dos 12 milhões de habitantes Somalis, 5 milhões necessitam de assistência humanitária, na medida em que se encontram em risco de desnutrição alimentar. Não obstante, a seca, a fragilidade e corrupção do seu governo5, a elevada taxa de deslocados e refugiados6, a ausência de escolarização, a inexistência dos cuidados básicos de saúde e saneamento, entre outros problemas, concorrem para que a Somália seja figurada como um dos estados mais voláteis do mundo (EC, 2016).

Fig. 1 - Configuração geográfica da Somália - Fonte: CIA (2017)

Perante todas as vulnerabilidades e problemas que emergem neste país, a Somália caracteriza-se como um território fértil para a propensão de movimentos subversivos. Desta forma, é de salientar o aparecimento do grupo insurgente Al-Shabaab, que desde 2006,

acordo com Jones, Liepman, & Chandler (2016), este grupo terrorista tem vindo a perder a preponderância que tivera em outrora, na medida em que o território que controla cada vez é menor. Contudo, são constantes os ataques terroristas que executa, nomeadamente contra membros do governo,

Fig. 2 - Ataque terrorista reivindicado pelo Al-Shabaab

procura controlar o país e estabelecer um regime Islâmico com base na sua versão mais extrema, a Sharia7. De A fragilidade e corrupção encontram-se patentes no governo da República Federal da Somália. Figura-se como exemplo o processo eleitoral de 2017, que inegavelmente ficou marcado pelos constantes subornos, atrasos e violência. Deste processo, resultou a eleição do presidente Mohamed Abdullahi Mohamed (Farmajo), que desde 08 de fevereiro de 2017, enfrenta o maior desafio da sua existência, a estabilização e edificação deste país (Lunn, 2017). 6 A Somália possui cerca de 1 milhão de deslocados e refugiados, que perante o clima de insegurança e volatilidade que o país atravessa, viram-se obrigados a deixar as suas casas. É de frisar, o campo de refugiados de Dadaab, no Quénia, como o campo que predominantemente é constituído por refugiados de origem Somali (EC,2017). 7 De acordo com Ramos (2017, p. 36), “a Sharia é o corpo da lei religiosa Islâmica. Significa “caminho” ou “rota para a fonte de água” e é a estrutura legal onde as ações públicas e privadas da vida, estão reguladas. A Sharia lida com diversos aspetos da vida quotidiana, bem como a política, a economia, a família, entre outros”. 5

forças militares e de segurança, organizações e instituições internacionais, população em geral, entre outros alvos (Jones, Liepman, & Chandler, 2016). A European Union Training Mission - Somalia (EUTM-S) identifica-se por contribuir para o reforço das capacidades do Somali National Army (SNA), efectuando ações de treino, mentoria e acessoria. Nos próximos parágrafos, iremos explanar os contributos da EUTM-S no Teatro de Operações (TO) para a edificação do Somali National Army (SNA). Numa fase inicial, será apresentada a

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Introdução

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missão e estrutura da EUTM-S. Posteriormente, abordaremos a missão, a estrutura e tarefas da Training Team (TT) – o foco deste artigo. Numa terceira parte, descreveremos a constituição do contingente Português que integrou a EUTM-S no período em que o autor deste artigo esteve destacado nesta missão (fevereiro a agosto de 2017). Por último, serão apresentadas as conclusões mais relevantes para a temática em causa. EUTM-S Como corolário da resolução nº 1872, de 26 de maio de 2009, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, foi instaurada a 10 de abril de 2010, uma missão “não-executiva”, com vista ao fortalecimento do governo de transição e das forças de segurança da Somália. Esta missão, em plena execução pela EUTM-S, visa principalmente o desenvolvimento do SNA, através de ações de assessoria, mentoria e treino (EEAS, 2016). A título de curiosidade, emerge a necessidade de referir que a par da EUTM-S, a União Europeia (UE) implementou outras duas missões congêneres, nomeadamente no Mali (European Union Training Mission in Mali (EUTM-M)8) e na República Centro Africana (European Union Training Mission - Central African Republic (EUTM-RCA)9). Numa fase preliminar, esta missão decorreu no Uganda, por inferência à instabilidade e insegurança que se faziam sentir na altura na Somália. Desta forma, a EUTM-S iniciou a sua missão em estreita colaboração com as Forças de Defesa Popular do Uganda, na medida em que toda a sua estrutura

Fig. 4 - General Dhagabadan Training Center - Fonte: EUTM-S

se encontrava instalada neste país. Posteriormente, em maio de 2013, a EUTM-S inicia a sua transferência para a Somália, mais propriamente para a capital Mogadíscio. É de salientar, que todo este processo apenas teve o seu término em janeiro de 2014, altura em que a EUTM-S altera a sua configuração para aquela que ainda hoje possui (EEAS, 2016). Atualmente, a missão da EUTM-S encontra-se no seu 5º mandato e irá estender-se até 31 de dezembro de 2018 com um orçamento previsto de cerca de 23 milhões de euros (Council of the European Union, 2016). A EUTM-S, comandada pelo Brigadeiro-General Italiano Pietro Addis, é instituída segundo a seguinte configuração: em Mogadíscio no Internacional Campus (IC) – Mogadishu International Airport (MIA)10, compreende o seu Headquarters (HQ), uma Medical Unit (Role 1 e Role 2), uma companhia como Security Suport Element (SSE)11, a Advisory Team (AT)12 e a TT; em Nairobi um gabinete de ligação; em Bruxelas13 uma célula de apoio. Perante esta estrutura, a EUTM-S é constituída por 177 militares oriundos de 12 países14. Training Team Em estreita ligação com vários atores Internacionais, e em particular com

Fig. 3 - Logotipo EUTM-SOMALIA De acordo com o Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) (2017a), “em resposta ao pedido do governo do Mali e com base nas resoluções da Organização das Nações Unidas, os Estados-Membros da UE acordaram desenvolver uma missão de formação das Forças Armadas do Mali. O primeiro mandato da EUTM-M decorreu entre fevereiro de 2013 e maio de 2014. O segundo mandato entre maio de 2014 e maio de 2016, altura em que se iniciou o 3.º mandato da missão”. 9 De acordo com o EMGFA (2017b), “a 16 de julho de 2016, a EUTM-RCA iniciou a sua missão a fim de providenciar aconselhamento estratégico ao Ministério da Defesa e ao Estado-Maior General das Forças Armadas Centro-Africanas; ministrar formação aos quadros das Forças Armadas; e ministrar instrução a unidades militares, com o objetivo de formar 2 a 3 Batalhões de Infantaria até 20 de setembro de 2018”. 8

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10 Os militares envolvidos nesta missão encontram-se aquartelados no IC. Este campo militar localiza-se na área circunscrita pelo MIA e é sustentado logisticamente pela empresa African Skies Limited. 11 A missão da SSE, substancia-se em garantir a integridade e segurança de todos os membros da EUTM-S, quer seja dentro do IC, ou no desenvolvimento das atividades planeadas fora deste. 12 A AT tem como principal tarefa mentorar e apoiar as instituições de defesa Somali ao nível estratégico. Com particular incidência no Estado Maior General das Forças Armadas e no Ministério da Defesa, a AT concorre para o desenvolvimento das capacidades de planeamento e organização destas (EEAS,2016). 13 Uma célula de apoio localizada em Bruxelas para assegurar a ligação com os diferentes ramos do Serviço Europeu para os Assuntos Externos (EEAS, 2016). 14 Na missão, existem cerca de 177 militares de diferentes países, nomeadamente: Hungria, Suécia, Alemanha, Finlândia, Holanda, Reino Unido, Espanha, Itália, Portugal, Irlanda, Roménia e Sérvia.

a African Union Mission in Somalia (AMISOM) e a United Nations Assistance Mission in Somalia (UNSOM), a TT desempenha um papel ativo no apoio às autoridades militares da Somália, nomeadamente na formação e desenvolvimento dos seus conceitos, políticas, programas, doutrina e centros de formação. Sob o comando do Head of Training Team (HoTT), um Coronel do Exército Espanhol, a TT estrutura-se segundo duas áreas distintas, a mentoria e o treino. É de frisar que, independentemente das particularidades existentes em cada uma das áreas, estas inserem-se num processo simultâneo e paralelo na medida em que concorrem para o mesmo propósito final - a estrutura de treino do SNA. A mentor team15 identifica-se por coadjuvar o SNA no desenvolvimento das suas infraestruturas de treino, todavia com particular incidência para o General Dhagabadan Training Center (GDTC). Deste modo, a mentor team além de aconselhar e mentorar todo o staff que é inerente ao GDTC, supervisa todos os regulamentos e procedimentos que estejam relacionados com as infraestruturas, a logística e a segurança deste mesmo campo. Situado a cerca de 2 km do IC, o GDTC define-se como o local designado pela EUTM-S para ministrar formação ao SNA, na medida em que dispõe das condições para tal. A par de todas as infraestruturas e medidas de segurança existentes, este campo possui salas de aulas para ministrar instruções teóricas, áreas de instrução práticas (entre elas, uma área de Fighting in built up area (FIBUA)), alojamentos para os instruendos, refeitórios, bem como outras instalações que concorrem para o funcionamento do mesmo. Contudo, o 15 Atualmente, a mentor team é comandada pelo GDTC mentor, um Major do Exército Espanhol. Sob a sua alçada, este possui um Sargento-Chefe da mesma nacionalidade, que por sua vez exerce as funções de GDTC deputy mentor.

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GDTC caracteriza-se como um campo que ainda carece de alguns desenvolvimentos. Nesta linha de pensamento, é de salientar o trabalho da mentor team, que através das suas ações diárias de mentoria, procura incrementar as condições deste campo.

A equipa de trainers, constitui-se o core bussiness da EUTM-S, na medida em que se institui como a entidade primária de formação do SNA. É constituída por 14 militares (7 oficiais e 7 sargentos) de diversas nacionalidades16, que possuem as competências pessoais e militares17 necessárias ao desempenho do cargo. Não obstante, todos os trainers têm de estar aptos a ministrar formação geral e especializada ao SNA, a desenvolver programas de treino, a aclarar questões inerentes aos cursos e a desenvolver doutrina e procedimentos. Até ao presente ano, a equipa de trainers era composta por 14 militares oriundos de 7 países constituintes da UE, nomeadamente: Portugal, Espanha, Itália, Holanda, Alemanha, Finlândia e Suécia. Em fevereiro deste ano, Portugal renunciou aos cargos de trainer 5 e de trainer 7, o que perfaz com que deixe de contribuir diretamente para a formação e treino do SNA. 17 O trainer da EUTM-S deve ser possuidor de um elevado sentido de diplomacia e de sensibilidade cultural. Não obstante, deverá fazer-se valer de uma grande flexibilidade e adaptabilidade, na medida em que poderá trabalhar em condições muito adversas. Deverá ainda, possuir experiência operacional e de treino, bem como um nível linguístico aceitável (Inglês). 16

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Fig. 5 - Formação geral a trainees do SNA - Fonte: Autor

Com base nas competências referenciadas no parágrafo anterior, no referencial de cada curso (vulgo course outline18) e na prévia calendarização das atividades de treino19, cabe ao TDL a estruturação da equipa de trainers. Nesta linha de pensamento e em função dos cursos existentes, os trainers são distribuídos por forma a constituírem equipas de instrução. Consequentemente, compete ao militar mais graduado da respetiva equipa de instrução, a nomeação como team leader20 do curso à sua responsabilidade. Uma vez estabelecida a cadeia hierárquica, iniciam-se todas as questões administrativas dos cursos, nomeada-

rentes a registos diários e semanais, a preparação de instruções e materiais, a atribuição de interpretes21, entre outras tarefas. Todos os cursos têm o seu exórdio com a fase de admissão, bem como o seu término com a cerimónia de encerramento. Relativamente à fase de admissão, esta particulariza-se por verificar a aptidão de cada trainee, na medida em que são realizados inúmeros testes de carácter biométrico, médico e cognitivo e ministradas instruções de âmbito normativo e de disciplina militar. A cerimónia de encerramento, materializa-se por ser o momento mais célebre e marcante de todo o curso. Dada a importância deste evento e a par de

Fig. 6 - Instrução de Basic Military Skills ao TtT - Fonte: Autor

mente: a concepção do horário de instrução, a elaboração dos modelos refe18 O course outline, identifica-se por ser o documento que regula o curso em questão. Vulgo referencial de curso, contém diferentes premissas e informações, tais como: a duração do curso, o número de trainers, interpretes e trainees, os objetivos do curso, o programa do curso, entre outras. 19 Os diferentes cursos, são realizados de acordo com as necessidades do SNA e a capacidade da EUTM-S. Posto isto, o calendário anual de formação é o documento que espelha esta mesma sinergia, na medida em que contém discriminado todos os cursos planeados, bem como as suas respetivas datas de execução. 20 Vulgo diretor de curso, é o responsável por todas as questões inerentes ao bom funcionamento do curso.

todos os procedimentos cerimoniais, é ainda realizada uma demonstração das capacidades adquiridas pelos trainees. Durante o período em que o autor deste artigo integrou a missão da EUTM-S, a TT ministrou dois cursos de formação ao SNA, designadamente o 21 Todos as ações de treino perante o SNA são coadjuvadas por interpretes, na medida em que os conhecimentos linguísticos dos Somalis, restringem-se na maioria à língua oficial do país – o Somali. Brigada

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Paralelamente, o training department encarrega-se de todas as questões inerentes ao treino. Assim sendo, e de acordo com as necessidades manifestadas, as suas tarefas distinguem-se por apoiar o SNA no planeamento, desenvolvimento e superintendência das demais ações de treino. Entre estas, destacam-se a elaboração de manuais e regulamentos, a concepção de doutrina e ações de formação geral e especializada. É de frisar, que por inferência ao propósito final da TT, o training department pauta a sua conduta por um percurso que irá culminar a longo prazo com ações de mentoria. Todavia, destaca-se ainda a intenção de formar 3 Companhias de Infantaria Ligeira, que num futuro próximo, irão possibilitar o reforço das capacidades operacionais do SNA. O training department é comandado pelo Chief of Training, um Tenente-Coronel Finlandês, que sob o seu comando, possui um Deputy Chief of Training, um Major da mesma nacionalidade. Ambos, são responsáveis pela coordenação de todas ações de treino com os demais atores que intervêm no processo de treino, entre eles a EUTM-S, o SNA e a AMISOM, através do Training Department Leader (TDL). O TDL, cargo exercido por um Major Italiano, é o elo de ligação entre o staff do training department e os trainers. Como tal, é responsável por coordenar e supervisionar toda a equipa de trainers.

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8de equipas de formação militar23 na vertente de FIBUA (Bernardino, 2014). Posteriormente, e por inferência à transferência da EUTM-S para Mogadíscio, o contingente Português foi alvo de uma restruturação, com a mesma configuração que possuía até ao início do presente ano.

Fig.7 - Trainee empenhando uma blue gun - Fonte: EUTM-S

Train the Trainers (TtT) course e o 1st Flame Coy Course. O TtT, destinou-se a formar os futuros instrutores do SNA, no âmbito das táticas, técnicas e procedimentos de um Pelotão de Infantaria. Desta forma, no final do curso, todos os trainees deverão estar aptos a constituir e instruir Pelotões de Infantaria de forma autónoma. Em concordância com o que foi referido ao longo deste artigo, o TtT destaca-se por ser o fundamento do sistema de treino do SNA, dado que irá possibilitar a sustentabilidade e autonomia deste mesmo. Por sua vez, o 1st Flame Coy Course, visou a constituição de uma Companhia Ligeira de Infantaria, disciplinada, coesa e capaz de ser empenhada num futuro próximo em todo o TO da Somália. Como tal, todo o programa de instrução passou por habilitar os trainees a desencadearem ações no âmbito das Operações Ofensivas, Operações Defensivas, FIBUA e Checkpoint Operations. A efetivação das ações de treino por parte da TT, foi sempre muito afetada pelas frequentes adversidades de índole logística, social e operacional que o SNA apresentou à EUTM-S e que em associação com o complexo TO da Somália, fizeram com que estas ações fossem eficazes, mas nem sempre eficientes. A nível logístico, evidenciou-se a carência de equipamentos e condições que permitissem aos trainees obterem o rendimento esperado nas instruções. A título de exemplo, salientou-se a utilização de uma arma de madeira (vulgo blue gun), cujo emprego substancia-se na simulação da arma orgânica do SNA, a AK-47. No domínio logístico, é ainda de destacar o desprovimento de alimentação com a regularidade exigida no GDTC, bem como o atraso de pagamento de salários aos trainees. No que diz respeito ao campo social, a maioria dos trainees são indivíduos que além de viverem em situações muito precárias, são, na sua maioria, iletrados e não têm qualquer

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tipo de conhecimento militar. Seria desejável que, um futuro trainer do SNA que possuisse um grau de alfabetismo e conhecimento que lhe permitisse ministrar instrução, o que na maioria dos casos não se verificou. Por último, a nível operacional, salientou-se a ausência de qualquer emprego por parte dos recursos humanos recém-formados pela EUTM-S. Nesta linha de pensamento, a Pilot Infantry Coy (PLIC)22 dentificou-se como o melhor exemplo deste desaproveitamento, na medida em que se encontrou formada e sem empenhamento durante um período de 8 meses. Contigente Português Desde 2010 que Portugal tem participado na missão da EUTM-S, no apoio à formação e treino das forças

No período compreendido entre fevereiro e agosto de 2017, a participação militar Portuguesa nesta missão foi constituída por 4 militares: dois Oficiais Superiores, um Tenente-Coronel de Engenharia e um Tenente-Coronel de Infantaria, que desempenharam cargos no HQ da EUTM-S, JEngineer and Infrastructure e J2 Intelligence Head, respetivamente, por um Capitão de Cavalaria que exerceu o cargo de trainer 7 e por um Tenente de Cavalaria que desenvolveu as suas atividades enquanto trainer 5. Relativamente ao JEngineer and Infrastructure, é o responsável primário pelos projetos infra-estruturais que visam a proteção da força, bem como, pela monitorização dos trabalhos que concorram para este propósito, a que acresce o papel relevante nos trabalhos de engenharia que visam a melhoria das condições de vida dos militares da EUTM-S. Por outro lado, o J2 Intelligence Head, realiza a avaliação precisa e atempada sobre a ameaça existente no TO. É um órgão de apoio e consulta por parte do comandante, utiliza todos os seus meios de pesquisa na procura de notícias e informações, que estejam relacionadas com o ambiente operacional e que possam ter o impacto na condução das atividades por parte da EUTM-S. No que concerne aos trainers Portugueses, e como explanado anteriormente, estes integraram a equipa de trainers da TT na condução dos cursos anteriormente referenciados, do trainer 7 como comandante do 3º Pelotão do 1st Flame Coy Course e o 5, team leader do TtT. Conclusões

Fig. 8 - Trainers Portugueses - Fonte: Autor

de segurança da Somália. Em conformidade com toda a estrutura da EUTM-S, a participação militar Portuguesa iniciou-se no Uganda, com a projeção A PLIC, identifica-se por ter sido a primeira Companhia a ser formada por trainers da EUTM-S. Sendo constituída por 143 trainees, tem capacidade para ser empenhada em todo o TO da Somália, no espectro das missões inerentes a uma Companhia Ligeira de Infantaria. Desta forma, poderá desenvolver ações no âmbito das Operações Ofensivas, Operações Defensivas, FIBUA e Checkpoint Operations. 22

A República Federal da Somália caracteriza-se como um país extremamente precário e volátil, no qual a insegurança e a violência permanecem constantemente no quotidiano dos seus habitantes. Não obstante, a Somália enfrenta uma profunda crise humanitária, que a par de todas as problemáticas existentes, figuram-na como o país que apresenta o segundo maior índice de fragilidade a nível Mundial. Numa tentativa de inverter e apoiar edificação deste país, são inúmeras as organizações, instituições e países que 23 Constituída por 17 militares oriundos da arma de Infantaria, a sua missão consistia em “ministrar, fundamentalmente, técnicas, táticas e procedimentos relacionadas com o combate urbano” (Bernardino, 2014).

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têm desenvolvido um contínuo esforço de cooperação com o governo da Somália. Neste quadro, salienta-se o contributo da EUTM-S, que através das suas ações de assessoria, mentoria e treino, procura a consolidação do sector da segurança e da defesa Somali. No que concerne ao treino, a EUTM-S através da sua TT, tem desempenhado um papel muito ativo na edificação do SNA, na medida em que tem procurado desenvolver os seus conceitos, doutrinas, programas e implementou os centros de formação. A edificação da estrutura de treino do SNA, visa no curto prazo a formação de 3 Companhias de Infantaria Ligeira e a médio/longo prazo evoluir para ações de mentoria. Nesta linha de pensamento, salientou-se a efetivação do 1st Flame Coy Course e do TtT course, na medida em que contribuíram para o

reforço das capacidades operacionais do SNA e para a sustentabilidade e autonomia do seu sistema de treino, respetivamente. Todavia, é de frisar que o desenvolvimento das demais ações de treino, se tornam particularmente difícil, em grande parte pelas adversidades de carácter logístico, social e operacional que o SNA apresentou à realização destas mesmas. Perante todas estas adversidades, é de realçar o intenso trabalho que a TT tem efetuado na edificação de um sistema de treino, que demanda ser autossustentável e eficiente. Desempenhar o cargo de trainer neste TO, constitui-se como uma experiência muito desafiante e enriquecedora, quer seja pela oportunidade de contribuir para um SNA consolidado, ou pela perceção do elevado espírito de patrio-

tismo e dedicação demonstrado pelos trainees, que perante todas as adversidades do seu quotidiano, salientam um empenho inigualável em fazer prosperar o seu exército e o seu país. Por último, é de evidenciar a participação Portuguesa na missão da EUTM-S, que através do seu contingente presente em Mogadíscio, tem contribuído consistentemente para o cumprimento da missão da EUTM-S. Num TO, que se destaca pela sua conflitualidade e complexidade, onde a ameaça é constantemente elevada, os militares Portugueses continuam a superar-se e a dar o melhor de si próprios, o que consequentemente, eleva e prestigia a imagem das Forças Armadas Portuguesas e do Exército Português em particular.

BIBLIOGRAFIA Bernardino, L. (2014). Somália – A esperança na paz e no desenvolvimento. A participação militar da União Europeia e de Portugal. Obtido em 07 de maio de 2017 de: https://www.revistamilitar. pt/artigo/896. CIA. (2017). The World Factbook. Obtido em 27 de março de 2017 de: https://www.cia.gov/library/publications/resources/the-world-factbook/geos/so.html Council of the European Union. (12 de dezembro de 2016). Press release: Somalia: EU missions EUCAP and EUTM prolonged. EC. (fevereiro de 2017). Somalia - Echo Factsheet. Bruxelas: European Civil Protection and Humanitarian Aid Operations. European External Action Service (EEAS). (abril de 2016). Common security and defence policy - European Union Training Mission – Somalia. EMGFA. (2017a). European Union Training Mission in Mali. Obtido em 18 de abril de 2017 de: http://www.emgfa.pt/pt/operacoes/missoes/eutmmali. EMGFA. (2017b). European Union Training Mission: Central African Republic. Obtido em 18 de abril de 2017 de: http://www.emgfa.pt/pt/operacoes/missoes/euforrca. FFP. (2017). Fragile states index: 2017. Obtido em 12 de janeiro de 2018 de: http://fsi.fundforpeace.org/rankings-2017. Global Security. (2017). Global Security: Bab al-Mandab strait. Obtido em 28 de março de 2017 de: http://www.globalsecurity.org/military/world/yemen/bab-al-mandab.htm IEP. (2017). Global peace index 2017. Obtido em 12 de janeiro de 2018 de: http://economicsandpeace.org/wp-content/uploads/2017/06/GPI-2017Report_2.pdf Infopédia. (2017). Infopédia - Enciclopédia e Dicionários Porto Editora. Obtido em 30 de março de 2017, de: http://www.infopedia.pt. Jones, S., Liepman, A., & Chandler, N. (2016). Counterterrorism and Counterinsurgency in Somalia: Assessing the campaign against Al-Shabaab. Santa Monica, Calif: RAND Corporation. Lunn, J. (2017). Somalia: February 2017 update. House of Commons Library: Briefing Paper nº 7298, 16 de fevereiro de 2017. Metz, H. (1992). Somalia: a country study. Washington: GPO for the library of congress. Obtido em 03 de abril de 2017 de: http://countrystudies.us/somalia. Ramos, N. (2012). Ameaças ao transporte marítimo – A pirataria: estudo do caso Somali. Dissertação de Mestrado, Departamento de Relações Internacionais, Universidade Autónoma de Lisboa: Lisboa.

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E xe r c í c i o “ E F ICÁCIA / RELÂMPAG O 18” Uma Ex pe riê n c ia n a 1 ª Pe s s o a

Maj Art Hugo Serrudo - Cmdt BtrAAA/BrigMec

1. Enquadramento Geral O exercício “EFICÁCIA / RELÂMPAGO 18” (EFI-REL18) é um exercício tático, de nível Exército, que está fundamentalmente orientado para o desenvolvimento da capacidade operacional das Unidades de Apoio de Fogos e de Defesa Aérea. Os principais objetivos são garantir a proficiência operacional dos Elementos de Apoio de Fogos e de Defesa Aérea da Componente Operacional do Sistema das Forças (COSF) no planeamento, coordenação, integração e sincronização do apoio de fogos e gestão do espaço aéreo, durante a condução de operações terrestres e, ainda, treinar o uso de procedimentos NATO e padrões táticos das Unidades de Apoio de Fogos e Defesa Aérea do Exército e, eventualmente, da Força Aérea Portuguesa e de outras nações, com particular ênfase nos escalões Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) e Bateria de Artilharia Antiaérea (BtrAAA). 2. Conceito do exercício Este exercício EFI-REL18, garantiu o duplo propósito do treino com vista à participação no exercício “ORION18”. Decorreu de 22 de fevereiro a 02 de março de 2018 e contemplou duas fases: Fase I - Exercício de Postos de Comando (CPX) e Fase II - Exercício de Treino de Campo (FTX). a. Fase I - CPX (22 a 25FEB18): Execução do planeamento tático (Processo de Tomada de Decisão Militar - MDMP) de acordo com o Plano de Operações da Brigada Mecanizada (OPLAN “AQUARIUS”), decorrente do exercício CPX da BrigMec “HAKEA 181.2 – Fogos”, preparando o anexo Fire Support e o apêndice Air Defense, dos quais decorreram as OpOrd do GAC e BtrAAA, respetivamente. Durante esta fase, as subunidades receberam as Ordens Preparatórias (WarnOrd) e asseguraram o treino e os ensaios necessários para preparar a fase subsequente, realizando um programa de treino cruzado com as Unidades estrangeiras. b. Fase II - FTX (26FEB a 02MAR18): Durante esta fase, o GAC e a BtrAAA executaram a respetiva OpOrder de acordo com o conceito

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de operação da BrigMec (HICON) e com as tarefas táticas das Unidades de Manobra (LOCON). 3. Experiência na 1ª pessoa a. Célula de Defesa Aérea e Coordenação do Espaço Aéreo A Célula de Defesa Aérea e Coordenação do Espaço Aéreo, comandada pelo Cap Art Afonso Peralta, esteve materializada no terreno, integrando, juntamente com a Célula de Fogos e Efeitos, a função de combate Fogos no Posto de Comando da Brigada Mecanizada (PC/BrigMec). Num planeamento concorrente e colaborativo, acompanhou a conduta da operação ofensiva por parte das forças de manobra no terreno, com os respetivos pelotões de Artilharia Antiaérea que garantiram a proteção antiaérea durante toda a operação.

estabelecer as políticas e procedimentos para o emprego dos meios de defesa aérea, zelando para que os meios aéreos inimigos e a sua vigilância aérea não interfiram com as operações da Brigada Mecanizada. O exercício foi uma mais-valia na normalização de procedimentos, relatórios, treino e prática da língua inglesa no que concerne a comunicações (apesar dos constrangimentos vividos durante o exercício), briefings, Ordens de Operações, etc. Foram identificados alguns aspetos com boa margem para melhoria, essencialmente no conceito e modus operandis

Esta Célula tem como missão estabelecer as políticas e procedimentos para a gestão dos meios no espaço aéreo, a fim de assegurar o seu uso sincronizado, contribuindo para a melhoria do comando e o controlo das forças que utilizam o espaço aéreo da Brigada Mecanizada, assim como

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trina ministrada ao longo do ano. No exercício EFI-REL 18 estiveram representadas todas as unidades de Artilharia de Campanha e Artilharia Antiaérea nacionais e algumas estrangeiras (GACA XI, Espanha), materializando a possibilidade da troca de experiências, onde o denominador comum foi a língua inglesa, utilizada entre os países NATO.

b. Posto de Comando BtrAAA Primeiramente, salientar a sã e profícua cooperação com militares de países estrangeiros, neste caso particular de Espanha, pois torna qualquer exercício muito mais enriquecedor. Consequentemente, na pessoa do 2.º Comandante da Bateria, Ten Art Carlos Nunes, coordenador do PC/BtrAAA para o exercício, foram também evidenciadas as áreas onde deve ser colocado o foco do treino ao nível do Posto de Comando (PC/BtrAAA). Desde logo, as comunicações em língua inglesa, no treino de todo o fluxo de informação desde as Secções, Pelotões (CHAPARRAL, STINGER, MISTRAL e Radar) até ao PC de Brigada, gerindo e superando todos os constrangimentos provocados pela respeitosa idade dos equipamentos. Foi manifestamente proveitoso também na medida em que conseguimos, no imediato, colmatar algumas das lacunas sentidas para que estas não se “arrastem”

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para o exercício “ORION 18”, que está para chegar, o que vai possibilitar um fluxo mais rápido e consistente de toda a informação. Esta cooperação com países estrangeiros é uma mais-valia, sendo que a permanência do Tenente Carlos Barrón Serna, do Exército Espanhol, no PC/BtrAAA que materializou a capacidade de Comando e Controlo com a ligação ao Pelotão MISTRAL, permitiu adquirir novas técnicas, táticas e procedimentos, em uso na Defesa Aérea de nuestros hermanos. c. Pelotão CHAPARRAL Na óptica do Comandante do Pelotão CHAPARRAL, Alf RC Lúcio Pina, um exercício desta natureza é um importante momento para colocar em prática todo treino e dou-

d. Pelotão STINGER O Pelotão STINGER, comandado pelo Ten Art Hugo Marrafa, garantiu a proteção antiaérea ao Esquadrão de Reconhecimento da Brigada Mecanizada, durante toda a conduta da operação. Esta ligação com uma Unidade de Manobra foi extremamente proveitosa, sobretudo no que diz respeito ao treino operacional das Esquadras

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da célula e da própria “guarnição”, fruto da inexperiência do Exército Português e, em particular, dos Oficiais da Arma de Artilharia que a guarnecem, neste muito abrangente e complexo desiderato da Gestão do Espaço Aéreo.

A saída do Pelotão para o terreno, apesar da missão “estática” de garantir a proteção antiaérea ao PC/BrigMec e AApSvc, é sempre um fator de motivação para os militares, permitindo praticar os procedimentos internos de cada Secção, assim como o Grupo de Comando treinar procedimentos de comando e controlo. Existindo diferentes subunidades de tiro, é possível aferir a interoperabilidade e incrementar algumas melhorias/atualizações. Em suma, o EFI/REL18 foi um bom treino para o “ORION 18” que se avizinha no calendário operacional.

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AA SMP, permitindo treinar as diversas TTP’s internas, bem como constantes mudanças de posição, decorrentes da necessidade de garantir a proteção antiaérea com o elevado nível de mobilidade, inerente à Unidade apoiada. e. Pelotão MISTRAL (ESP) O Pelotão MISTRAL, comandado no terreno pelo Tenente Julian

Blanco Hernandez, do Exército Espanhol, garantiu a proteção antiaérea ao Agrupamento Mecanizado da Brigada Mecanizada, durante toda a operação ofensiva, na conquista dos Obj RED e Obj GREEN e finalmente no controlo e proteção da Pista de Aviação. Esta estreita ligação com un batallón portugués foi extremamente profícua, sobretudo no treino operacional das

Secções AA MISTRAL, permitindo treinar as diversas TTP’s internas, bem como constantes mudanças de posição, decorrentes da necessidade de garantir a proteção antiaérea com o elevado nível de mobilidade, inerente à tipologia e missão da Unidade apoiada. f. Pelotão Radar O Alf RC João Sousa teve a oportunidade ímpar de comandar o Pelotão Radar P-STAR no âmbito do Exercício EFI-REL 18, em conjunto com diversas subunidades quer de Portugal quer de Espanha. Todo o exercício exigiu um esforço adicional por parte das equipas no sentido em que todas as comunicações táticas se fizeram em inglês, tornando o exercício mais real dados os exigentes procedimentos de nível NATO. Em termos de organização, nos momentos cruciais, a missão/tarefa de cada Comandante de Pelotão era disseminada, sabendo cada um deles o que, como, e quando o fazer, no terreno. Esta organização permitiu que todo o exercício decorresse com normalidade, tendo em conta os meios disponíveis, não permitindo que existissem dúvidas e incertezas no cumprimento da missão de cada um deles.

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Apesar do esforço de todos no cumprimento da missão, em alguns momentos evidenciou-se o impacto da falta de meios. Esta deficiência verificou-se essencialmente ao nível dos meios de transmissões. O bom espírito de camaradagem e a cooperação entre todas as forças foram notórios no decorrer do Exercício. 4. Ilações Os enriquecimentos extraídos de exercícios desta natureza e envergadura, como primeira ilação, são sobejamente proveitosos e enchem a alma de quem tem o privilégio de poder testemunhar, integrar e/ou usufruir de tamanha experiência, entre artilheiros de “brigadas irmãs”. A mais-valia da participação do Pe-

lotão AA MISTRAL do GACA XI (da Brigada Extremadura XI de Badajoz, Geminada com a Brigada Mecanizada) integrado na BtrAAA/BrigMec, mais que as experiências do treino cruzado, trocas de boas práticas e consolidar procedimentos táticos e técnicos, foi a assunção de que não somos nada menos que outros países aliados, pelo contrário. O Exército Português, a Brigada Mecanizada e a Bateria de Artilharia Antiaérea demonstraram, efetivamente, a capacidade para receber e integrar subunidades, independentemente da sua origem e língua, que quando aplicados os conceitos e procedimentos NATO, estamos perfeitamente à altura dos desafios. A segunda ilação concreta a retirar do exercício é que ainda existe um

grande espaço de progressão no que respeita à Gestão do Espaço Aéreo. Espera-se que a entrada ao serviço do SICCA3 constitua instrumento dinamizador do desenvolvimento de saberes, procedimentos e doutrina neste âmbito. Estamos, nós artilheiros, perante um novo e exigente desafio de modernização e modernidade, que vai exigir de nós estudo aprofundado, gerador de conhecimento, que permita consolidar táticas, técnicas e procedimentos, para atuarmos em ambientes operacionais de natureza conjunta e combinada. A terceira e última ilação é que, efetivamente, a questão da escassez de recursos ou até mesmo a sua obsolescência é fortemente condicionadora da qualidade do treino, em especial nos domínios mais técnicos. Foi, contudo, possível executar o treino tático, e a integração com os meios da manobra, assegurando a sua Proteção antiaérea a baixas e muito baixas altitudes, afinal a cumprir a nossa missão principal. Estamos cientes de que há, naturalmente, lacunas detetadas, procedimentos a aperfeiçoar, conceitos a consolidar, mas há, sobretudo, a consciência de que estamos no caminho certo e sabemos o “fado” que almejamos.

Autoria:

• Maj Art Hugo Serrudo, Comandante da BtrAAA/BrigMec. • Cap Art Afonso Peralta e Alf Art Carlos Silva, da Secção de Defesa Aérea e Coordenação do Espaço Aéreo (PC/BrigMec); • Ten Art Carlos Nunes, 2º Comandante da Bateria, coordenador do PC/BtrAAA para o exercício; • Alf RC Lúcio Pina, Comandante do Pelotão CHAPARRAL; • Ten Art Hugo Marrafa, Comandante do Pelotão STINGER; • Tenente Carlos Barrón Serna, Comandante da Bateria MISTRAL, 2º Comandante (ESP) da Bateria em exercício e Tenente Julian Blanco Hernandez, Comandante do Pelotão MISTRAL, do Exército Espanhol; • Alf RC João Sousa, Comandante do Pelotão Radar P-STAR. Brigada Mecanizada 24

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Especiais contributos:

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Pr o j e ç ã o d e u m a U ni dade de Es cal ão Pel otão

Par a o De st a c a me n t o d e Tav ir a d o Re g im e n to d e I n fa n ta ria N º 1 Ten Cav David Gomes

Introdução Face às solicitações das novas realidades e às missões a que se propõe ou que lhe são cometidas, o Exército Português, determinou que a partir de 1 de dezembro de 2015, a Brigada de Reação Rápida (BRR) conservasse a responsabilidade pela organização, aprontamento e manutenção de um efetivo a destacar para o Destacamento de Tavira. Face ao empenhamento, da BRR no exercício ORION 17, o respetivo Comando solicitou ao Comando da Brigada Mecanizada (BrigMec) um reforço de efetivo no período de 01 a 30 de junho de 2017. Respondendo a esta solicitação, a BrigMec constituiu uma força de escalão pelotão materializada

Projeção da Força BrigMec Destacamento de Tavira do RI 1 Na fase inicial, foi imperativa a elaboração de um horário que não englobasse matérias específicas de Carros de Combate ou Reconhecimento, áreas tipicamente atribuídas à Arma de Cavalaria, uma vez que esta era uma força multidisciplinar, constituída por três secções de diferentes unidades da BrigMec. Tendo isto em mente, elaborou-se um horário que visava matérias comuns a todos os militares, de forma a consolidar conhecimentos de comum interesse militar. Seguidamente surgiu a primeira tarefa crítica, o deslocamento da força até ao Destacamento de Tavira. Previa-se uma viagem que rondasse as dez horas, com velocidades lentas e várias paragens, sendo esta antecedida de todo o planeamento prévio necessário, em concreto: verificação de viaturas, escolha do itinerário a seguir e brie-

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por uma secção do Grupo de Carros de Combate, uma secção do Esquadrão de Reconhecimento e uma secção do Grupo de Artilharia de Campanha, sendo o Comando pertencente ao Grupo de Carros de Combate. Deste modo, após ter sido constituído o pelotão, a BrigMec definiu que, durante o período em que o mesmo estivesse no Destacamento de Tavira, deveria orientar a sua atuação em três áreas: • Execução de tarefas de Apoio de Área no distrito de Faro; • Realização de atividades de Treino Físico e treino individual, designadamente: Instrução Moral Cívica e Militar, Socorrismo, Transmissões, Topografia e Técnica Individual de

Combate; • Serviço interno da Unidade. Com o presente artigo, pretende-se explanar a vivência do pelotão no Destacamento do Regimento de Infantaria Nº1, em Tavira, bem como aquilo que este conseguiu desenvolver durante esse período, tendo em conta as principais dificuldades e oportunidades. Deste modo, inicialmente será abordada a fase do planeamento ao nível do comando do pelotão, bem como a fase da projeção da força e a elaboração do horário de instrução. Posteriormente, caracterizaremos o dia-a-dia dos militares no Destacamento de Tavira e, por último, serão apresentadas as conclusões mais relevantes desta experiência.

Fig. 1 - Pelotão de Santa Margarida

com os Valores Militares que lhes foram incutidos durante a sua formação, Chegados ao Destacamento, inicomo forma de dignificar a imagem ciou-se o período de adaptação da da instituição castrense em geral e do força a uma nova realidade, uma vez Exército Português em particular. que esta é uma unidade com uma reduzida atividade e escassos recursos Uma série de condicionamentos humanos, porém com um enorme espírito hospitaleiro. O facto desta se situar no seio da cidade de Tavira, condicionava o comportamento dos militares, uma vez que a sua conduta teria, inevitavelmente, um impacto de relevo na apreciação da população civil. Esta condicionante impunha que os militares pautassem a sua Fig. 2 - Militar de serviço no Destacamento de Tavira vivência de acordo fings de segurança aos militares.

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militar foi dado especial foco à Técnica Individual de Combate, tendo sido esta a área sobre a qual incidiu o maior número de instruções, contribuindo desta forma para normalizar procedimentos, independentemente da unidade de proveniência dos militares. Conclusões

Treino Operacional Como vimos inicialmente, o Treino Operacional materializava uma das áreas que deveria orientar a atuação da força. Assim sendo, foi levado a cabo um enorme esforço por parte dos graduados do pelotão de forma a dinamizar as instruções, no sentido de que o trabalho realizado pudesse ter impacto e visibilidade junto da popula-

ção. Pretendia-se, deste modo, atingir um duplo objetivo: dar a conhecer à população civil, as atividades realizadas no dia a dia de uma unidade militar e, simultaneamente, motivar os próprios militares, no sentido destes poderem tirar partido deste novo ambiente, diferente da sua rotina normal em Santa Margarida. Esta tentativa de entrosamento da atividade diária dos militares com a vivência da população civil foi conseguida, por exemplo, através da realização de instruções de Topografia, as quais foram inicialmente ministradas em sala, tendo-se posteriormente executado provas pela cidade de Tavira. Este tipo de iniciativas foi recebida de forma positiva por parte dos militares, refletindo o sucesso das instruções ministradas e maximizando os conhecimentos aprendidos. Semanalmente era também realizada uma MARCOR ou MARFOR pela cidade, com o intuito de desenvolver o espírito de corpo e a condição física dos militares.

No que concerne ao comando do pelotão, antecipava-se uma árdua tarefa, uma vez que seria necessário comandar militares de diferentes unidades da Brigada, que iriam estar sujeitos a inúmeros empenhamentos ainda que isso fosse, em parte, amenizado pelo facto de estarem enquadrados num ambiente agradável que é a cidade de Tavira. Rapidamente se constatou que essa ideia era infundada, uma vez que a constante preocupação dos Comandantes, mas acima de tudo o profissionalismo e vontade de bem servir dos militares facilitaram em grande medida o trabalho dos graduados do pelotão, ao mesmo tempo que os motivaram ainda mais para a elaboração de atividades que promovessem o espírito de corpo e camaradagem.

O Destacamento de Tavira dispunha de excelentes áreas para a instrução em Áreas Edificadas que frequentemente eram utilizadas para treino do pelotão, sendo esse tipo de instruções facilitado pelo facto de um dos graduados destacados ter o curso de Combate em Áreas Edificadas. Ao nível do treino

No final do período em que o Pelotão esteve no Destacamento Tavira, transmitiu uma clara imagem de disciplina, correção, prontidão, proficiência técnico-profissional e coesão, tendo contribuído para a promoção e credibilização da imagem da Brigada Mecanizada.

Fig. 4 - Instrução de Técnica Individual de Combate

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Fig. 3 - Instrução de Topografia

obrigou a um constante e dinâmico reajuste do planeamento inicialmente estabelecido, como forma de dar resposta a solicitações de índole diversa. Exemplo disso foi a realização do exercício ORION 17, decorrido no Regimento de Infantaria Nº1, exercício esse em que foi solicitado o apoio do pelotão. Também ao nível do Apoio de Aérea, e face ao calendário de cerimónias imposto, foi necessário antecipar o empenhamento das secções do pelotão, uma vez que o Destacamento de Tavira se constituía como a unidade militar no Algarve que teria de dar cobro a essas necessidades. Ao nível do serviço diário era necessário que o pelotão contribuísse com três militares para a consecução do mesmo, sendo necessário escalar diariamente um cabo e dois soldados para esse fim. Por último, impunha-se também a necessidade de contribuir com militares para o plano Lira.

Ao longo de todo o ciclo em que os militares da Brigada Mecanizada permaneceram no Destacamento de Tavira, sempre dispuseram de um constante e incondicional apoio por parte do Comando do mesmo. De referir que a estreita ligação e cooperação que se desenvolveu possibilitou que todas as atividades propostas pelo comandante de pelotão fossem aceites e postas em prática, sendo estas sempre encaradas positivamente e apoiadas por parte de toda a estrutura.

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Pa r te I I I - Meios O per aci onai s

C a r r o s d e C ombate em Por tugal Maj Cav Dias Lourenço - 2Cmdt GCC/BrigMec

A identificação de novos conceitos e necessidades da guerra moderna tem justificado a alteração da fisionomia do Exército, não só no que diz respeito à sua organização, mas também naquilo que diz respeito ao seu armamento e equipamento. Ao longo dos tempos as forças a cavalo transformaram-se progressivamente em forças motorizadas, algumas blindadas, tendo forçado a Cavalaria a adaptar-se às realidades vigentes e a modificar a sua natureza, sem nunca alterar o espírito que a tem caracterizado. A Arma Blindada, fonte de espanto e respeito, tanto para civis como para militares, tem vindo, ao longo dos tempos, a ser apresentada como fator de modernidade do Exército. O renascimento do Regimento de Cavalaria 4 (RC4), em 1964, com base na fusão do Grupo de Carros de Combate (GCC) do Regimento de Cavalaria 8 e do Grupo de Carros de Combate Divisionário, criado em Santa Margarida em 1955, marca a evolução da Unidade que, hoje em dia, é conhecida por Quartel da Cavalaria (QCav). A sua “viagem” está recheada de feitos e marcos indeléveis. Com participações no esforço de guerra em territórios ultramarinos de Angola, Moçambique e Guiné, passando, mais recentemente, pela participação em Forças Nacionais Destacadas no Kosovo, Bósnia-Herzegovina, Iraque e Afeganistão, os seus feitos têm merecido o reconhecimento público, nacional e internacional, que muito têm honrado a Pátria e as tradições de séculos de existência nacional. Desde 2006, ano em que se extingue o RC4 e se cria o QCav, tanto o GCC como o Esquadrão de Reconhecimento (ERec), unidades que têm a sua génese e afirmação enquanto unidades de referência do RC4, são as legítimas herdeiras do seu legado, das suas tradições e do seu espírito. Constituem o QCav e assumem-se como a

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“Escola” dos CC e do Reconhecimento Pesado de Lagartas mantendo como Divisa a expressão “Perguntai ao Inimigo Quem Somos”. Meios No que à plataforma CC diz respeito, essa capacidade tem passado pela utilização de inúmeros modelos: desde o Valentine e o Centauro, passando pelo M-47 Patton, o M24 Chaffee e o Sherman M4A3, e mais recentemente o M48A5 e o M60 A3 TTS, com origens inglesa e americana e finalmente o CC de origem alemã, o Leopard 2 A6. Pese embora Portugal seja um dos países integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) com menos capacidade financeira, tem vindo, ao longo dos anos, a implementar políticas de equipamento e armamento, na sua generalidade com base em equipamentos usados e com provas dadas noutros países parceiros da Aliança, que lhe têm assegurado níveis consideráveis de operacionalidade e interoperacionalidade, que lhe permitem ombrear e interagir, de forma muito positiva, com os exércitos com quem estabelece relações e conduz, de forma integrada, missões operacionais. A constante alteração da perceção do que será a ameaça militar ao espaço europeu, com consequências naquilo que tem sido e que se prevê que venha a ser a tipologia de emprego de forças blindadas em conflitos atuais ou futuros, tem levado a constantes alterações na forma como os principais e mais influentes países europeus encaram as suas necessidades, com impacto direto na forma e na alocação de recursos financeiros no equipamento e armamento militar. Na história mais recente do QCav, a partir de 2008, assistimos à entrada ao serviço do novo Cavalo de Guerra, o CC Leopard 2 A6. O equipamento de duas unidades da Brigada Mecanizada (GCC e ERec) com Sistemas de Armas atuais e em uso por grande parte dos exércitos aliados, constituiu-se como um garante nacional para a eventual participação portuguesa em Operações Multinacionais de Implementação ou Sustentação da Paz, bem como na disponibilidade nacional para a integração de Forças de Reação OTAN.

O salto tecnológico que esta aquisição representa implicou alterações de monta, não só em termos de emprego de material, equipamento e armamento, mas também em termos organizacionais no que diz respeito ao treino, formação, simulação e ao próprio emprego operacional. A aprovação dos novos Quadros Orgânicos do GCC (QO 09.04.04) e do ERec (QO 09.04.05), ambos de 14 de julho de 2017, tenta dar resposta às necessidades identificadas, sendo que o seu preenchimento em efetivos apenas tenha possibilitado o treino operacional efetivo de um esquadrão de CC, a dois pelotões de CC, 1 Pelotão de Reconhecimento e o Comando, mantendo um remanescente para encargos de formação, controlo de cargas e manutenção das tarefas territoriais inerentes a qualquer unidade militar. Parcerias Internacionais A natureza dos meios agora em uso nas unidades de CC não se compadece com uma postura do tipo Stand Alone. É necessário, senão imperativo, tirar partido de sinergias combinadas, aprender com parceiros e participar em fóruns onde se partilhem experiências, objetivos e formas de rentabilização de todos os aspetos relativos à utilização desta tipologia de equipamentos. Esta necessidade tem levado Portugal e o Exército português a participarem em grupos de trabalho e investigação especializados, como sejam o Combat Development Working Group (CDWG LEOBEN) e as diversas International Master Gunners Conferences (IMGC). O CDWG constitui-se como um dos grupos de trabalho do Steering Commitee do LEOBEN e tem como objetivo identificar adaptações e modificações passíveis de melhorar o desempenho do CC. Baseia-se na análise de experiências de emprego operacional, conjugado com possíveis desenvolvimentos tecnológicos aplicáveis nas situações carentes de melhorias ou para suprir necessidades identificadas. Cabe a este grupo analisar qualquer adaptação ou integração de novos sistemas que permitam a melhoria ou reforço das capacidades de proteção e mobilidade no campo de batalha, do poder de fogo ou aquisição de alvos

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A intrincada e complexa história das Unidades de Carros de Combate (CC) do Exército português encontra-se, invariavelmente, ligada à história da Cavalaria portuguesa e tem acompanhado a sua evolução ao longo dos tempos.

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e de Comando e Controlo (C2). Além de Portugal este grupo conta com representantes de países como sejam a Alemanha, Áustria, Canadá, Chile, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Polónia, Singapura, Suécia e Espanha.

a ser o único tipo de CC existente no Exército Português, enquanto elemento fundamental do GCC, força única que confere uma capacidade também única ao Sistema de Forças Nacional (SFN).

As IMGC, de carácter técnico, permitem a partilha e debate, relativos a informação técnica diversa, em particular sobre a atualização e estado de frotas, a distribuição de fogos e setores de tiro aos diversos escalões, à conduta de tiro do apontador e do chefe de CC, ao estudo e desenvolvimentos de novas munições, bem como à apresentação e demonstração de capacidades de sistemas de treino/ simulação em uso.

Esta singularidade no SFN determina que se acompanhem os desenvolvimentos internacionais de modernização deste sistema de armas, de modo a manter a sua adequação às necessidades do combate, em todo o espectro do conflito, mantendo-o relevante e decisivo nas tarefas e missões que lhe compete cumprir, à semelhança do que já acontece noutros exércitos aliados e amigos.

Way Ahead A partir de 2017, de acordo com o despacho de 3 de março, de S. Exa. o General Chefe do Estado-Maior do Exército, iniciou-se o processo de Phasing Out dos CCM60 A3 TTS, que serviram Portugal por cerca de 25 anos, tendo como um dos marcos importantes deste processo, a última sessão de fogos reais deste Sistema de Armas, realizada em 13 de março de 2018, dia da Unidade “Carrista” do Exército Português. Após o Phasing Out dos CCM60 A3TTS, o CC Leopard 2A6 passará

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Importa assim acompanhar um projeto de atualização, designado Midlife Upgrade (MLU), que visa o prolongamento do ciclo de vida útil do CC Leopard 2A6, através da modernização de alguns dos seus componentes. Este MLU permitirá, no seu Estado Final, garantir a resolução de alguns problemas de operação e colmatar algumas fragilidades da versão atual do sistema de armas, que se têm evidenciado na sua utilização e da qual têm resultado elevados custos para a sua sustentação e para a manutenção da sua operacionalidade. Além disso, também permitirá manter o GCC e o ERec,

enquanto elementos fundamentais da Capacidade Pesada (Brigada Mecanizada), em condições de poderem corresponder em pleno, às missões que lhe competem desenvolver no Território Nacional e fora deste, nomeadamente no que diz respeito aos compromissos internacionais assumidos e à sua capacidade para poder integrar forças e missões internacionais, cumprindo os requisitos que são exigidos, nomeadamente no âmbito da OTAN (e. g. Nato Response Force) e da União Europeia (UE) (e. g. European Union Land Rapid Response). Conclusões Conscientes do tremendo salto tecnológico com que agora lidam, na sua inserção na vanguarda da utilização de meios de combate, bem como das exigências e competências inerentes à sua condição, os militares do QCav, do GCC e do ERec da Brigada Mecanizada, herdeiros das glórias e tradições do passado e conscientes dos modernos meios blindados que possuem, ímpares no Exército Português, saberão sempre honrar as páginas brilhantes da sua história e “galopar” em direção ao futuro com determinação e vigor, para vencer novos desafios, ao serviço de Portugal.

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Pa r te I I I - Meios O per aci onai s

E s q u a d r ã o de Reconheci mento A Po n t a d a L a n ç a d a Fo rç a D e c is iv a

Alf Cav Daniel Valério - Cmdt 2Pel/ERec/BrigMec

Ciclo de Decisão O papel do Comandante é Decidir. Para atingir o seu propósito é apoiado por um Estado-Maior que lhe garante as possibilidades e informações para a sua Decisão. Um modelo que representa de forma simples um ciclo de Decisão1 é o OODA-Loop2, Observar-Orientar-Decidir-Agir. Este modelo baseia-se no princípio em que para alguém executar uma ação necessita inicialmente de fazer uma observação de algo (Observar), ordenar o que viu ou soube segundo os seus modelos e parâmetros (Orientar), conseguindo tomar uma Decisão sobre esse facto/ação e a forma como o associou (Decisão) e Agir para se adaptar a esse facto. Quanto mais rápido este processo decorrer, mais rápido se atinge a Execução e se garante a adaptação perante a nova situação. Este modelo pode ser adaptado a uma Não se pretende aludir ao Processo de Tomada de Decisão Militar, mas sim a um modelo mental das fases da Decisão. Conceito criado pelo Coronel da Força Aérea Americana John Boyd no seu Briefing “Patterns of Conflict”, disponível em http://www.ausairpower.net/JRB/poc.pdf.

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guarnição de um Carro de Combate (CC) que observa e reage perante uma ameaça individualmente, como a uma Companhia de Atiradores (CAt) que tem de adaptar o seu dispositivo para reagir a uma ameaça que ponha em causa a sua missão, como ao nível de um ERec que recolhe notícias e responde às necessidades da Brigada, garantindo-lhe a possibilidade de reagir à M/A do Inimigo. O conceito prescreve que a todos os níveis existe este ciclo de decisão e que o Inimigo o executa de igual forma. Para nos superiorizarmos a ele basta-nos reduzir o tempo do nosso ciclo para que seja menor que o dele, e se conseguirmos repetir isto vezes suficientes, então garantimos que a nossa Ação seja cada vez mais rápida e adaptada à nova realidade, o que nos garante o sucesso. Todas as fases são essenciais, e o ideal seria executá-las todas de forma mais rápida que o Inimigo, no entanto basta que executemos uma delas de forma mais rápida e as outras no mesmo tempo para que eventualmente nos superiorizemos. Guerra de Manobra Com vista a superiorizarmo-nos ao Inimigo falamos hoje no conceito de Guerra de Manobra que é descrito como “Uma maneira de lutar de forma inteligente, de pensar melhor que um oponente que não conseguimos destruir por força bruta.”3 (Lind, 1985, p. 2) e que segundo o mesmo autor para ser atingido com sucesso deve basear-se em três filtros, “Ordens Tipo Missão”, “Superfícies e Espaços” e “Schwerpunkt”. As “Ordens Tipo-Missão” centram-se sobre o Comandante dizer o que pretende, sob a forma de uma Missão e Intenção e dar liberdade aos subordinados para planear a Execução, atingindo-se o princípio do Comando-Missão sendo que o presente artigo não se centra neste conceito. O conceito de “Schwerpunkt” define-se livremente por Ponto de Esforço, não se centra especificamente num local, mas sim numa unidade e na sua missão. A definição da unidade que é o “Esforço” garante o foco de toda a força para apoiar a concretização da missão daquela unidade num determinado local, segundo Lind (1985). O local onde o “Esforço” vai ser empregue deve ser o ponto onde nos garante mais sucesso, onde o Inimigo se apresenta mais débil. É aqui que entra o conceito de “Superfícies e Espaços”. 3

Tradução livre do autor.

Uma “Superfície”, segundo Lind (1985) é um local onde o Inimigo é forte e um “Espaço” é um local onde o Inimigo é fraco. No entanto deve analisar-se as “Superfícies e Espaços” segundo o tipo de força que somos. Uma Bateria de Artilharia Antiaérea para uma esquadrilha de F-16 é uma “Superfície”, no entanto para um Subagrupamento forte em CC é um “Espaço”, já que não representa uma ameaça significativa. Como outro exemplo, podemos pensar que uma posição sumária com Armas Anticarro representa uma “Superfície” para um Pelotão de CC mas para um Pelotão de Atiradores apeado, que se consiga aproximar sem ser detetado, não representa uma ameaça substancial. As “Superfícies e Espaços” devem ser vistas como um conceito flexível mediante os nossos meios, sendo que idealmente devemos aproveitar os Espaços para garantir o sucesso, ou no limite criar condições para as “Superfícies” se tornarem “Espaços”, como é o caso de uma Abertura de Brecha. A visão de Guerra de Manobra de William S.Lind preconiza que se Procure os “Espaços” com vista a definir o “Schwerpunkt” para aumentar a probabilidade de sucesso. Aliando a esta visão, o conceito de OODA-Loop em que a primeira fase é Observação, percebemos facilmente que se executarmos a Observação de forma eficiente e rápida, procurando os “Espaços” garantimos a capacidade ao Comandante de definir o “Schwerpunkt” de forma eficiente. Na combinação destes conceitos entendemos que “Primeiro, precisamos de planear um ataque de uma posição de vantagem relativamente ao inimigo. Em segundo lugar, temos de identificar através de operações de reconhecimento essa posição de vantagem de onde pretendemos atacar”4 (Hastings, 2017) e concluímos assim que “A Vitória não escapa a quem a procura”5. Operações de Reconhecimento As operações podem ser categorizadas em Reconhecimento Furtivo ou Agressivo (EME, 2016, p. 1-20) segundo a Doutrina Nacional. Sendo o Reconhecimento Furtivo caracterizado por ser mais demorado e apoiar-se nos sensores e forças apeadas para garantir segurança à força de reconhecimento enquanto, o Agressivo se foca na velocidade e na reação ao contato com o Inimigo procurando esclarecer a Tradução livre do autor. Lema do Esquadrão do Reconhecimento da Brigada Mecanizada. Brigada

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Mecanizada

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No presente Ambiente Operacional que se caracteriza por ser Volátil, Incerto, Complexo, Ambíguo e Urbano torna-se vital para o Comandante ter acesso à realidade que o espera ou que está prestes a enfrentar para garantir a sua Decisão com base em sólidas informações, respeitando o princípio milenar enunciado por Sun-Tzu “Se conheceres o teu inimigo e a ti próprio, não tens que temer o resultado de mil batalhas[…]”. Tendo como base este conceito, o Reconhecimento representa uma parte essencial do planeamento e da execução da manobra de uma unidade garantindo rapidez no ciclo de decisão e a informação sobre o inimigo e terreno. Para garantir o sucesso desta missão no Ambiente Operacional atual é essencial que as unidades de Reconhecimento possuam o poder de fogo, proteção e mobilidade para que possam “Combater pela Informação” e garantir as necessidades de informação das unidades para as quais trabalham. O presente artigo vai centrar-se no papel das unidades de Reconhecimento para a Decisão, o que procuram no decurso das suas missões, como as cumprem e na comparação da evolução e atual organização das unidades de Reconhecimento, Reconnaissance Squadron e das suas subunidades, das Armored Brigade Combat Team (ABCT), nas quais a Brigada Mecanizada se molda, com a organização do Esquadrão de Reconhecimento (ERec) da Brigada Mecanizada.

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situação. Nos últimos anos alguns autores, como Taylor (2005) e Hastings (2017), argumentam que ainda que com o surgimento de novos sensores como os “Unmanned Aerial Vehichle” (UAV) se tenham vindo a abrir novas possibilidades para o Reconhecimento Passivo e Furtivo, este deve ser usado de forma complementar, combinada e redundante6 ao Reconhecimento Agressivo, e que este deve ser o centro do nosso treino. Taylor (2005) argumenta que o Ritmo Operacional elevado7 e a Densidade do Campo de Batalha8 que as forças atualmente enfrentam, levam tendencialmente a uma necessidade do Reconhecimento Agressivo. Adicionalmente o mesmo autor conclui a importância da existência de homens no terreno para confirmar informações recolhidas pelos sistemas de vigilância. Hastings (2017) acrescenta ainda ao Ritmo as seguintes razões para a frequente incompatibilidade das operações de Reconhecimento Furtivo: • As manobras de Infiltração que caracterizam o reconhecimento furtivo (apeado) são de alto-risco; • Podem não existir falhas no dispositivo inimigo para infiltrações e ser necessário criá-las pela força; • O reconhecimento furtivo cede a iniciativa ao inimigo, que pode tentar desorganizar ou atrasar as nossas forças; • O reconhecimento furtivo não cria espaço de manobra e facilita o movimento das forças principais para o objetivo; • O reconhecimento furtivo não revela a intenção do inimigo; Percebe-se assim que o Reconhecimento Agressivo deve ser o fundamental das operações de Reconhecimento, ainda que este deva ser complementado pelo Furtivo, sob a forma de sistemas de vigilância. “Combater Pela Informação” O Reconhecimento Agressivo é muitas vezes caracterizado por uma expressão “Fight For Information”9. Esta expressão não tem, no entanto, qualquer assento doutrinário, nem na doutrina portuguesa nem na doutrina de referência, no entanto, uma definição simples pode ser “[…] unidades

Gestão dos meios de Reconhecimento, previsto na Doutrina Nacional no PDE 3-01-00 Tática Operações Combate Vol II pag. 1-18. 7 Segundo a Doutrina Nacional prevista no PDE 3-00 Operações pág. 5-16. 8 “Battlefield Density”, conceito criado por Taylor que o explica por “[…] medida da quantidade de energia que uma força de reconhecimento precisa de aplicar para distinguir uma ameaça do ambiente circundante. Baseia-se em duas condicionantes, Terreno e Inimigo.” (Taylor, 2005, p. 54). 9 “Combater pela Informação”. 6

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de cavalaria [que] lutam para se sobrepor aos esforços inimigos para proteger informação vital.” (Palisca, 2017, p. 42).

ajustada para este tipo de Reconhecimento sendo que “[…] unidades incapazes de sobreviver ao contacto com o Inimigo […] tendem a ser marginalizadas pela Ameaça e pelos seus Comandantes.” (Cameron, p. 577)12. Com isso em vista Taylor (2005) recomenda que as unidades de reconhecimento americanas sejam compostas por M2 e M3 Bradley e CC Abrams.

O mesmo autor refere as seguintes situações: • Combater com a intenção de causar uma reação inimiga que pode ser observada e relatada por uma unidade de cavalaria ou outro sensor. Este é normalmente o caso de um reconhecimento de zona “forçado”10, orientado para o inimigo;

Inicia-se a partir desse momento um processo de reorganização das unidades de reconhecimento, nomeadamente do Reconnaissance Squadron do ABCT, alterarem o seu modelo para responder às novas necessidades e ao Ambiente Operacional atual.

• Destruir os meios de reconhecimento inimigo para sondar e expor

HMMWV

Bradley

6x36

8x33

Homens

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Atiradores Exploradores Apeados

18

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Viaturas

6

8

6xCanhão 25 mm 6xCoaxial 7,62 mm 6xTOW

3xCanhão 25 mm 3xCoaxial 7,62 mm 3xSistema TOW 3xMP 12,7mm 2xLG 40 mm

Poder de Fogo Viaturas

os escalões secundários do inimigo para a pesquisa de informação e potencialmente alterar o ciclo de decisão do inimigo; • Combater para atingir uma posição em que seja possível conduzir pesquisa de informação; O essencial é que a unidade de Reconhecimento entre em contato com o Inimigo para responder às necessidades de informação e garante a execução da fase Observação no menor tempo possível no ciclo de decisão da Brigada. Palisca (2017) refere ainda que todos os tipos de unidades de reconhecimento11 tenham capacidade para “Combater pela informação”, cada tipo deve ser usado mediante o tipo de inimigo referindo a importância da capacidade de sobrevivência devido a diferentes tipos de viatura e orgânicas. Organização para “Combater Pela Informação” Para ter capacidade para sobreviver ao contacto com o Inimigo e conseguir encontrar os “Espaços” entre as “Superfícies”, os elementos Poder de Fogo, Proteção e Mobilidade são essenciais. Uma força blindada é a mais

10 Tradução livre do autor de “Forceful”, um termo doutrinário americano para definir o Ritmo do Reconhecimento. Define-se por um desenvolvimento da situação através do uso de meios aéreos e terrestres, técnicos ou humanos. Pelo emprego de fogos diretos e indiretos. É o que impõe um ritmo mais rápido e violento. (US Army, 2015). 11 Refere-se aos 3 tipos de Grupos de Reconhecimento diferentes mediante o tipo de Brigada que pertencem (ABCT, Stryker Brigade Combat Team, Infantry Brigade Combat Team).

Pointdexter (2014) aponta que se deveria apostar numa organização denominada “6x36”, 6 viaturas Bradley a 36 homens por cada Pelotão de Reconhecimento (PelRec), abandonando-se a combinação existente de “8x33” com apenas 3 viaturas Bradley e 5 HMMWV 13 e 33 homens por Pelotão. O rácio poder de fogo-mobilidade-proteção compensa a perda de duas (2) viaturas no pelotão. O Exército Americano está agora em processo de transição para esta organização. Por outro lado, Pointdexter (2014) e Taylor (2005) apontam a importância dos CC nas unidades de Reconhecimento. Tendo isso em vista, atribuiu-se um Esquadrão de CC (ECC) (14 CC) ao Reconnaissance Squadron. Sendo assim, o Reconnaissance Squadron possui agora organicamente um (1) ECC e três (3) ERec, cada um com dois (2) PelRec e uma Secção de Morteiros Pesados (120mm) a dois (2) morteiros. O Comandante pode eventualmente decidir que o ECC ceda todos os seus PelCC aos três (diferentes) ERec, mas isto não é de todo viável. Tipicamente o ECC cede um PelCC ao ERec que se preveja vá ter maior nível de empenhamento com o Inimigo, ficando o resto do Esquadrão na “mão” do Comandante do Reconnaissance Squadron para explorar uma oportunidade ou intervir para desempenhar unidades. Com a atribuição de um PelCC a um dos ERec 12 13

Tradução livre do autor. High Mobility Multipurpose Wheeled Vehicle.

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fase de Observação; • O Esquadrão de Reconhecimento executa as suas missões segundo o modelo da Guerra de Manobra de forma a procurar os “Espaços” ou possibilidades de tornar “Superfícies” em “Espaços” para as unidades de Manobra da Brigada de forma a possibilitar a Decisão do Comandante na definição do “Schwerpunkt”, o seu “Esforço”; • Na atualidade o Reconhecimento Agressivo tem-se imposto como a principal forma de Operações de Reconhecimento por diversas razões, ainda que se devam utilizar de forma complementar, combinada e redundante os outros meios de reconhecimento (Radares e Mini-UAV) para garantir a recolha de informações e a resposta às necessidades da Brigada;

Fig. 1 - Organização do Reconnaissance Squadron ABCT

significa que esse Esquadrão fica com um total de 12 Bradley e 4 CC. Um ERec que receba um (1) PelCC tem o mesmo número de viaturas que o ERec/BrigMec a dois (2) Pelotões de Reconhecimento, com 12 Viaturas Blindadas e 4 CC. Não se pode comparar o poder de fogo, blindagem e mobilidade de uma viatura Bradley a uma VBTP M113A1/M113A2, no entanto, importa reforçar a lógica final da organização semelhante aos baixos escalões. No entanto apesar de ao nível do Esquadrão, os quantitativos de viaturas fiquem semelhantes, é ao nível do Pelotão que se denota a diferença e a distinção entre estas forças. Enquanto no ERec/Reconnaissance Squadron o PelCC sob o comando do Comandante de Esquadrão para empregar onde considerar mais crítico, no PelRec/ ERec/BrigMec os CC existem apenas ao nível de Secção CC e estão sob o comando do Cmdt do PelRec garantindo ao mais baixo escalão de comando a existência de Armas Combinadas e de uma ferramenta que lhe permite não só desempenhar, se necessário, as suas forças mas sobretudo “Combater pela Informação”!

O estudo e o planeamento que é feito das operações permite-lhe executar operações com um “mini-subagrupamento” em que pode empregar a sua SecCC com a sua SecAt ou pode apoiar uma Esquadra de Exploração e “recriar” o conceito de “Hunter-Killer Teams” que com esta nova orgânica ressurgiu no Exército Americano14. Percebemos assim a necessidade de adaptação das unidades pesadas de reconhecimento do Exército Americano com vista a terem capacidade para “Combaterem pela Informação”. Comparando com a orgânica do ERec/ BrigMec entende-se como esta está adaptada e atual perante os novos desafios que surgem no atual Ambiente Operacional e como a lógica de Emprego ao nível do Esquadrão e dos Pelotões estão a par dos nossos aliados. Conclusões

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• O Esquadrão de Reconhecimento em operações de Reconhecimento serve o propósito de Observar, o que contribui ativamente para o Ciclo de Decisão e subsequentemente para capacidade de Manobra da Brigada, podendo reduzir ao seu nível de ação o tempo na

https://www.youtube.com/watch?v=xbXu-dafGn8.

• O Combate pela Informação assume várias possibilidades, mas exige forças musculadas e com capacidade para sobreviver no campo de batalha, o que levou a uma reorganização das unidades de reconhecimento pesadas do Exército Americano; • Adicionou-se um ECC a cada Reconnaissance Squadron, e que tipicamente é atribuído um PelCC ao ERec que se preveja ter mais empenhamento com o Inimigo, ficando assim com o mesmo número de CC e Viaturas que o ERec/ BrigMec possui a dois (2) PelRec; • No entanto existe uma diferença substancial no emprego de forças já que no ERec/BrigMec os CC estão sob o comando direto dos Cmdt’s de PelRec enquanto no ERec/Reconnaissance Squadron o PelCC está sob as ordens diretas do Cmdt do ERec; • Sendo assim a organização nacional garante mais flexibilidade na execução e adapta-se completamente à realidade para qual os nossos Aliados se preparam e treinam, isto torna o ERec como uma força capaz de conduzir Reconhecimento Agressivo e ser a Ponta da Lança da Força Decisiva!

BIBLIOGRAFIA Cameron, R. (s.d.). To Fight or Not to Fight? Organizational and Doctrinal Trends in Mounted Maneuver Reconnaissance from the Interwar Years to Operation IRAQI FREEDOM. Fort Leavenworth, Kansas: Combat Studies Institute Press. EME. (2012). PDE 3-00 Operações. Lisboa: Exército Português. EME. (2016). PDE 3-01-00 Tática das Operações de Combate Volume II. Lisboa: Exército Português. Hastings, A. (3 de Junho de 2017). Picking ‘Unfair Fights’: Understanding Maneuver. Obtido de The Tactical Leader: https://www.thetacticalleader.com/blog/picking-unfair-fights Hastings, A. (10 de Junho de 2017). Spoiling for a Fight: Making a Case for Aggressive Reconnaissance. Obtido de The Tactical Leader: https://www.thetacticalleader.com/blog/spoiling-for-a-fight-making-a-case-for-aggressive-reconnaissance Lind, W. S. (1985). Maneuver Warfare Handbook. Colorado: Westview Press. Palisca, N. (Verão de 2017). What Do We Mean When We Say ‘Fight For Information’? Armor-The Professional Bulletin of the Armor Branch, pp. 42-29. Pointdexter, T. (2014). Transforming Mechanized Reconnaissance: How the Armored Brigade Combat Team Cavalry Squadron Should Be Structured for Reconnaissance and Security Operations in the Near Future. Fort Leavenworth, Kansas: U.S. Army Command and General Staff College. Taylor, C. D. (2005). The Transformation Of Reconnaissance: Who Will Fight For Information on the Future Battlefield? Fort Leavenworth, Kansas: U.S. Army Command and General Staff College. US Army. (2015). FM 3-98 Reconnaissance and Security Operations. Washington: Department of the Army. Brigada

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M901A1 ITV Alf Cav Sérgio Rosa - Cmdt 1Pel/ERec/BrigMec

A viatura M901A1 ITV - Improved TOW Vehicle - foi construída nos Estados Unidos da América e foi fabricada para transportar o Sistema Lança Míssil (SLM) TOW M901A1. Esta viatura entrou ao serviço no final da década de 1980 e a sua construção foi baseada na Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP) M113A1. O projeto de construção foi iniciado em 1978, adaptando o casco da VBTP M113A1 para a M901A1 ITV. Porém, apenas alguns meses depois, já em 1979, este foi substituído pelo casco da VBTP M113A2 (Military Today, 2017). Mais recentemente, a VBTP M113A2 foi substituída pela VBTP M113A3 no processo de construção, dando origem à produção do M901A3 ITV (Military Factory, 2018). Apesar desta viatura ter trazido algo de novo para o exército americano, a verdade é que ainda nas décadas de 1950 e 1960 já haviam sido desenvolvidas viaturas equipadas com míssil guiado anticarro por outros países. Só após a Guerra de Yom Kippur, em 1973, os Estados Unidos da América iniciaram pesquisas para o desenvolvimento de uma viatura com tal característica (Military Today, 2017). Projetada com o propósito de conferir mais proteção ao apontador do

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SLM TOW, a M901A1 ITV confere a capacidade de aquisição de alvos diurnos ou noturnos, por estar equipado com o aparelho de visão noturna AN/ TAS-4, de funcionamento por infravermelhos (Sherman, R., 2000). Isto permite que o apontador não tenha de se expor para manobrar o SLM TOW M901A1. Este sistema permite ainda que seja disparado um segundo míssil assim que o primeiro atinja o alvo, sem remuniciar. Isto acontece precisamente pela particularidade do SLM TOW M901A1 possuir dois tubos lançadores, que atuam independentemente. Para o remuniciamento, existe a possibilidade de rebater o SLM TOW M901A1 pela escotilha e desta forma remuniciá-lo a partir do interior da viatura em menos de 40 segundos (Esquadrão de Reconhecimento/Brigada Mecanizada [ERec/BrigMec], 2001). Quanto ao seu emprego no teatro de operações, esta viatura oferece às unidades blindadas uma arma anticarro eficaz e altamente móvel, sem descurar na segurança dos militares que constituem a sua guarnição. Guarnição esta que de acordo com o Manual de Curso de Formação do Sistema Lança Míssil TOW (2001) varia entre 4 ou 5 militares, dependendo apenas se a viatura pertence a uma força de Infantaria ou Cavalaria. Em ambas as guarnições

constam as funções de Chefe de Viatura/Comandante de Esquadra, Apontador, Municiador e Condutor, diferindo apenas a presença de um Atirador Explorador para unidades de Cavalaria (ERec/BrigMec, pág. II-B.1, 2001). Isto prende-se com o facto destas viaturas, ao equiparem uma força de Infantaria, pertencerem a Pelotões Anticarro, onde não existe a necessidade de mais um militar na viatura para apear. Pelo contrário, ao equipar uma unidade de Cavalaria, nomeadamente de Reconhecimento, este Atirador Explorador torna-se uma mais-valia para um Pelotão de Reconhecimento (PelRec) porque lhe confere uma maior capacidade no combate montado, e assim aumenta a capacidade de observação e obtenção de notícias, contribuindo para o sucesso das tarefas atribuídas às unidades de Reconhecimento (Ministério da Defesa Nacional [MDN], pág. 10-1, 2012). Durante deslocamento, o SLM TOW M901A1 é rebatido para dentro da viatura, tornando-se difícil de distinguir esta viatura de uma VBTP M113A2. Porém, após paragem, uma guarnição treinada consegue preparar, adquirir o alvo e disparar em apenas 20 segundos (Military Today, 2017). Para bascular o SLM TOW M901A1 para dentro ou fora da viatura é utilizado um

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sistema elétrico e hidráulico. Em caso de necessidade, a viatura está também equipada com um SLM TOW M220A1, para que se a situação tática assim o exigir, a guarnição monte e opere o sistema no solo. Cada viatura está capacitada para transportar 10 mísseis no seu interior, a somar aos 2 que poderão ser municiados no SLM TOW M901A1. Para além do equipamento TOW, a M901A1 ITV está também equipada com uma metralhadora M60 de 7,62 mm capaz de bater alvos terrestres

Estados Unidos da América desde a sua criação até ao final da Guerra Fria. Papel este que se tornou preponderante na sua utilização na Operação Tempestade no Deserto, onde destruíram pelo menos 14 viaturas inimigas sem nenhuma baixa (Military Today, 2017). No exército americano, a M901A1 ITV equipava principalmente Batalhões de Infantaria Mecanizada, onde constavam um total de vinte e duas viaturas (Harper, M., pág. 21, 1979), tal como

Egito, Grécia, Jordânia, Kuwait, Marrocos, Paquistão, Portugal, Tunísia e do seu último comprador, Tailândia. Relativamente ao caso português, desde 1993 que se encontram em território nacional 4 viaturas M901A1 ITV. Apesar de não constarem no Quadro Orgânico do desativado Esquadrão de Apoio de Combate do Grupo de Carros de Combate da Brigada Mecanizada (EAC/GCC/BrigMec), estas viaturas pertenciam à Secção Anticarro do Pelotão de Exploração. Após a desativação do EAC/GCC/BrigMec, as M901A1 ITV perderam alguma preponderância. Porém, estas viaturas encontram-se atualmente na última fase de recuperação no Batalhão de Apoio de Serviços da Brigada Mecanizada (BApSvc/BrigMec) e irão agora equipar o Esquadrão de Reconhecimento da Brigada Mecanizada (ERec/ BrigMec). Tendo em consideração o Quadro Orgânico do ERec/BrigMec, as M901A1 ITV irão substituir as VBTP M113A2 equipadas com o SLM TOW M220A1, que atualmente fazem parte das Esquadras de Exploração dos PelRec, em conjunto com uma VBTP M113A1.

Estas características, junto com a silhueta reduzida e grande mobilidade – apenas 12 toneladas, aproximadamente, com velocidade máxima de 64 km/h (Direção de Serviço Material [DSM], 1996) fizeram com que a viatura desempenhasse um papel importante na força blindada e anticarro dos

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demonstra o quadro orgânico seguinte: Na segunda metade da década de 1990, o exército americano resolveu prescindir do uso das M901A1 ITV. Este facto prendeu-se com a decisão de substituir estas viaturas por M2 Bradley e M3 Bradley, para que estes assumissem a missão das M901A1 ITV e garantissem o apoio necessário aos M1 Abrams (Military Today, 2017). Atualmente, o M901A1 ITV encontra-se ao serviço de países como Bahrain,

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ou aéreos, 2 lança-potes de fumo M243 situados na frente da viatura e pode transportar 3 LAW no seu interior (ERec/BrigMec, pág. II-B.2, 2001).

Esta mudança reforçará a capacidade anticarro do ERec/BrigMec, colmatando uma lacuna respeitante a um dos princípios do uso de viaturas com armamento anticarro: viaturas com capacidade anticarro devem atuar em parelha, no mínimo, combinando entre si a capacidade de apoio mútuo. Isto é algo que não acontece ao empregar as VBTP M113A2 equipadas com SLM TOW M220A1, dado que estas necessitam de ser remuniciadas após cada disparo, pois apenas têm um tubo lançador. Dado que o SLM TOW M901A1 é constituído por dois tubos lançadores, este problema fica minorado, uma vez que após um dos mísseis ser disparado, esse tubo lançador pode ser imediatamente remuniciado, estando ainda o segundo míssil pronto a ser disparado.

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O b u s Au t o p r o pul s ado M109 A7 155mm Ten Art Ribeiro Pereira | 2Sarg Art Nicolau Ginja

Introdução A nova geração do Obus Autopropulsado M109 155 mm, designado como Paladin M109 A7 155mm, constitui-se o mais recente desenvolvimento deste sistema de armas norte-americano que há muitos anos equipa diversos exércitos a nível mundial. Com provas dadas no campo de batalha, a sua longevidade vem demostrar a capacidade para continuar a ser um dos melhores sistemas de armas de Artilharia de Campanha e garantir o adequado apoio de fogos às unidades de manobra, quer em conflitos convencionais, híbridos, irregulares ou de combate à contrainsurgência. Com o presente artigo pretendemos dar a conhecer a mais recente atualização do Sistema de Armas de Artilharia de Campanha – Obus Autopropulsado M109 A7 155mm – desenvolvido para o Exército Americano e, em simultâneo, fazer uma breve análise das diferenças entre a nova versão A7 e a versão A5, que atualmente equipa o Exército Português no Grupo de Artilharia de Campanha 15.5 AP da Brigada Mecanizada (GAC 15.5 AP/BrigMec). Pretendemos ainda, identificar possibilidades de atualização que aproximem os M109 A5 155mm das capacidades do sistema M109 A7 155mm, como alternativa à substituição e como garantia da sua contínua atualidade, que poderão ser equacionados num programa de extensão de vida destes sistemas de armas. Desenvolvimento do Obus M109A7 O Obus M109 A7 155 mm Autopropulsado, inicialmente designado como M109 A6 Paladin Integrated Management (PIM) enquanto na sua fase de desenvolvimento, surge na sequência da necessidade de adequar e aproximar as capacidades de proteção, mobilidade e rapidez de resposta do Obus M109 às das unidades de manobra que integra - Army’s Armored Brigade Combat Teams (ABCTs) – do Exército norte-americano. O desenvolvimento desta nova versão decorre do programa Paladin Integrated Management (PIM) e teve o seu início em 2007 com a assinatura de um contrato com a empresa BAE Systems para a produção do novo sistema M109 A7 155mm Autopropulsado (Army Technology, 2018). O programa de atualização prevê a reconversão de 580 obuses e veículos de munições, e a sua sustentação até ao ano de 2050, contemplando a substituição do casco, torre, motor e suspensão relativamente ao M109A6 e à viatura de transporte de

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Fig. 1 - Obus M109A7 - Fonte: (Modern Weapons, 2018)

munições M992 A3 (evolução da anterior M992A2), que também sofrerá o correspondente upgrade. Ainda assim, o Obus M109 A7 mantém o tubo canhão M284, que equipa este sistema de armas desde a versão A5, mantendo as mesmas características balísticas e alcances da versão que equipa o Exército Português, com 24 km e 30 km de alcance, respetivamente para munições convencionais e assistidas. Ao nível do reparo, herda o reparo M182 mas com um sistema de carregamento automático, passando a designar-se como M182A1. Como já referido, as alterações significativas surgem ao nível do grupo do casco passando a partilhar da mesma estrutura da viatura de combate Bradley, melhorado relativamente às suas versões anteriores, melhorias essas que se verificam sobretudo ao nível da blindagem e da mobilidade (Modern Wea-

pons, 2018), garantindo assim uma mais elevada proteção e capacidade de resposta, maioritariamente fruto do seu novo motor, electronicamente melhorado e mais potente, com 800 cavalos de potência, permitindo um ganho de aceleração para os deslocamentos, que cada vez mais se pretendem rápidos. Desta forma, esta versão permite a mudança e a ocupação de posições de forma mais célere e consequente maior prontidão para garantir o apoio de fogos às unidades de manobra. Para esta capacidade, contribui também o sistema GPS integrado em cada uma das bocas de fogo, herdado da versão A6 e com melhoramentos ao nível do sistema de navegação inercial e do sistema digital de controlo de tiro, permitindo receber missões de tiro e efetuar o cálculo das mesmas em deslocamento, e posterior execução da missão de tiro com maior oportunidade e precisão,

Fig. 2 - Viatura transporte de Munições M992 A3 - Fonte: (Modern Weapons, 2018)

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Ao nível da capacidade de sobrevivência é de salientar o facto de a sua guarnição permanecer dentro do Obus durante toda a missão de tiro, garantindo maior proteção à sua guarnição. Está ainda equipado no seu interior com um sistema automático de extinção de incêndios, e também com um gunnerprotection kit (GPK1) que possui uma blindagem melhorada que garante proteção contra armas ligeiras e estilhaços de Artilharia. O grupo da torre está equipado com proteção Kevlar, bem como proteção Nuclear, Biológica ou Química (NBQ). Todos estes aspetos aliados à rapidez de execução de tiro bem como a ocupação de uma nova posição garantem maior capacidade de sobrevivência tanto à sua guarnição com às unidades de manobra (BAE SYSTEMS, 2018). No respeitante à sua disponibilidade operacional, além das alterações sofridas ao nível do grupo do casco, a torre passou a ser operada exclusivamente por motores elétricos, tendo sido abolido o sistema hidráulico, que exigia elevada manutenção e potenciais falhas, face à sua complexidade. Em caso de avaria de algum dos motores elétricos que garante a operação em direção e elevação, é possível substituí-lo em apenas 15 minutos, retomando o obus a sua operacionalidade. No seu interior possui um computador de bordo que efetua o diagnóstico de qualquer anomalia que o equipamento tenha sofrido, facilitando assim a manutenção do próprio. Em consequência das alterações referidas, esta versão faz face às situações mais exigentes no terreno, com grande mobilidade e garantindo uma resposta precisa e oportuna às unidades de manobra em operações de alta intensidade (Army Technology, 2018). Com base numa comparação entre os dois sistemas através das suas características gerais verifica-se desde logo a redução da guarnição da versão M109 A7 relativamente à versão M109 A5, tal facto resulta da inovação tecnológica e maior automaticidade deste material. A versão M109 A7 possui carregamento automático, destacando-se também o facto de o seu apoio de marcha funcionar automaticamente, não sendo necessário abandonar o interior do obus para soltar ou fixar o tubo canhão. O peso é outra das característi1 2 3

Características M109 A7 VS M109 A5 M109 A 7 País de Origem Guarnição

EUA 4

6

35,380 Kg

25,000 Kg

Comprimento

9,7 m

9,17 m

Largura

3,9 m

3,15 m

Altura

3,7 m

3,28 m

Peso e Dimensões Peso

Armamento Arma principal

Tubo Canhão M284 155 mm

Comprimento do tubo canhão

39 calibres

Arma Auxiliar

Metralhadora Pesada 12,7 mm

Alcance máx.

24 Km (munição convencional) 30 Km (com munições RAP2) 40 Km (munição assistida)3

Cadência máx. de tiro Pontaria Velocidade máx. cas que diferem substancialmente sendo a versão M109 A7 a que apresenta maior peso passando mesmo 10,000 kg de diferença comparativamente com a versão M109 A5, sendo resultante da melhoria da proteção sofrida quer no grupo do casco quer no grupo de torre, comparativamente aos equipamentos suplementares anteriormente referidos que atribuem uma melhor performance a este equipamento. Relativamente ao seu armamento orgânico principal, o tubo canhão permanece igual à versão M109 A5. A versão M109 A7 mantém a possibilidade de colocação de uma metralhadora pesada de calibre 12,7 mm, com a particularidade de possuir maior proteção ao comandante de secção face aos novos escudos que envolve o atirador. No que aos alcances respeita, mantêm-se os números da versão M109 A5 com um alcance máximo de 24 Km para as munições convencionais e de 30 Km quando utiliza as munições assistidas (Rocket Assisted Projectiles - RAP). Com a munição especial M982 Excalibur, o alcance chega aos 40 Km. Upgrade M109 A5 O upgrade da versão M109 A5 é já uma realidade em alguns países, exemplo disso é o Brasil que assinou um contrato para a atualização dos sistemas M109 A5 com a empresa BAE Systems. O contrato visa, além da atualização dos Obuses, o treino, apoio na manutenção e acompanhamento durante os primeiros disparos. Houve

Possui armaduras mais altas e escudos transparentes que oferecem maior visibilidade da área circundante. RAP- RocketAssistedProjectiles Com munição M982 Excalibur.

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M109 A5

4 tiro obus por minuto Elevação (máx/min) : 1333 milésimos a -53 milésimos Direção : 6400 mil 61 Km/h

56 Km/h

um grande acréscimo de capacidades para este material, que permitiram um aumento significativo de precisão, diminuição substancial dos tempos de entrada em posição e de execução de fogo. A melhoria dos alcances é outra melhoria digna de registo, que se deve à utilização de cargas modulares. Das tecnologias incorporadas, resultantes da modernização do sistema M109 A5, de salientar o sistema automático de bloqueio e libertação do tubo, o radar cronógrafo para medir a velocidade inicial da munição, o sistema de navegação inercial, o GPS, o sistema eletrónico de pontaria e computador de bordo. Estas atualizações no Sistema M109 A5 vieram reduzir em cerca de 80% o tempo entre a receção da missão e o disparo. A atualização do Sistema M109 A5 em M109 A5+ decorre do programa ForeignMIilitary Sales (FMS), programa do Governo Americano destinado à venda de produtos e serviços de defesa (DefesaNet, 2018). Em Portugal já foram elaborados alguns estudos que contemplam o upgrade do Obus M109 A5, sendo que a sua atualização comportaria o custo unitário de 1,5 milhões de euros (EME, 2015). A imagem abaixo mostra as atualizações que foram estudadas e previstas para o upgrade do Obus M109 A5+ em Portugal. Conclusões As grandes atualizações que a versão M109 tem sofrido até chegar à

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em apenas sessenta segundos após a receção dos mesmos. É um material que opera sobre quaisquer condições atmosféricas garantindo fogos precisos e oportunos para objetivos que podem alcançar os trinta quilómetros (Modern Weapons, 2018).

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sua mais recente versão, o M109A7, materializaram sempre avanços importantes nas capacidades deste Obus. O novo tubo-canhão na versão A5, que se mantém até à atualidade; o sistema individualizado de GPS, referenciação inercial e cálculo automático do tiro na versão A6; e agora a subsituição completa do casco e sistema de locomoção da torre, têm permitido a este equipamento manter-se na vanguarda dos sistemas de armas de apoio de fogos associados ao apoio às forças pesadas. Na atual versão A7, a passagem

do sistema hidráulico para o sistema elétrico de locomoção da torre, vem garantir maior fiabilidade, simplicidade de manutenção e rapidez na execução das pontarias. Ao que se pode apurar junto do Pelotão de Manutenção do GAC 15.5 AP, a alteração no Obus M109 A5 para passagem do sistema hidráulico para o sistema eléctrico, poderá ser efetuada através da aplicação dos adequados motores auxiliares para executar os movimentos do tubo canhão em direção e elevação. Outra das alterações pertinentes para aumentar a proteção dos comandantes de secção

e dos vigias do ar, seria a aplicação de uma proteção nas escotilhas por forma a reduzir a exposição de ambos, à semelhança da versão M109 A7. O upgrade da atual versão A5 (designado como M109 A5 Plus) e consequente incremento de novas capacidades, já estão estudadas para o caso nacional, e têm sido adotadas em diversos países como alternativa à aquisição de novos equipamentos com grandes vantagens custo-benefício. A par do incremento do equipamento de navegação inercial, GPS, sistema eletrónico de pontaria e computador de tiro, este upgrade aumenta substancialmente a precisão do Obus, e o tempo de entrada em posição e prontidão para execução do primeiro tiro, que é reduzido para padrões atualmente inalcançáveis com a versão A5. Associada às performances ofensivas, está naturalmente a maior proteção, furtividade e possibilidade de ser alvo de fogos de contrabateria. O custo associado a este salto tecnológico é incomparavelmente menor (cerca de um terço) que o de aquisição de novos equipamentos, e tornariam o Sistema M109 A5 num sistema bastante atual, acompanhando a evolução dos exércitos de referência, e capaz de fazer face a operações mais exigentes.

Fig. 3 - Atualização do Sistema M109 A5+ - Fonte: (EME;2015)

BIBLIOGRAFIA: Army Technology. (16 de janeiro de 2018). Paladin M109 A7 155mm. Obtido de Army Technology: http://www.army-technology.com/projects/paladin-m109a7-155mm-artillery-system/ BAE SYSTEMS. (16 de janeiro de 2018). M109A7 Self Propelled Howitzer. Obtido de BAE SYSTEMS: file:///C:/Users/Ricardo%20Pereira/Downloads/baes_ds_201409_M109A7.pdf Defesa e Seurança. (21 de fevereiro de 2018). Obus M109 A5 BR. Obtido de Defesa e Seurança: http://defesaeseguranca.com.br/bae-envia-obuseiro-autopropulsado-m109a5-br/ DefesaNet. (21 de fevereiro de 2018). Moderniozação da Artilharia com o novo Obus M109 A5+ BR. Obtido de DefesaNet: http://www.defesanet.com.br/terrestre/noticia/25965/Modernizacao-da-Artilharia-com-novo-obuseiro-M109-A5%2B-BR/ EME. (2015). O Futuro da Artilharia, Capacidades, Tendências e LPM. EME. Forças Terrestres. (16 de fevereiro de 2018). Exercito Brasileiro. Obtido de Forças Terrestres: fevereiro Military Today. (16 de janeiro de 2018). M109A7. Obtido de Military Today: http://www.military-today.com/artillery/m109a7.htm Military1. (16 de janeiro de 2018). M109A7 Self-Propelled Howitze rSystem. Obtido de Military1: https://www.military1.com/defense/article/571180-army-accepts-delivery-of-first-m109a7-self-propelled-howitzer-system/ Modern Weapons. (15 de janeiro de 2018). American Paladin. Obtido de Modern Weapons: http://www.dmitryshulgin.com/tag/m992a3-cat/ Operacional. (21 de fevereiro de 2018). Operacional. Obtido de M109 A5+ BR: http://www.revistaoperacional.com.br/2015/exercito/uma-nova-plataforma-para-a-artilharia-de-campanha-o-m109-a5br/

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Pa r te I I I - Meios O per aci onai s

Sist e m a Mí s s i l Po r t á ti l STIN G ER em VBTP M113? Alf Art Carlos Silva | Alf RC Lúcio Pina | 1Sar Art Fábio Nascimento | 2Sar Art Jorge Costa - BtrAAA/BrigMec

Face às necessidades atuais de dotar a Brigada Mecanizada com um Sistema de Defesa Antiaéreo eficaz de forma a garantir a capacidade de Proteção Antiaérea, torna-se capital adaptar os meios existentes, até ao reequipamento em sede da Lei de Programação Militar (LPM). Com este artigo pretende-se demonstrar a viabilidade da combinação do Sistema Míssil Portátil (SMP) STINGER transportado em Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP) M113. Para se responder à questão central “É possível coadunar o SMP STINGER com a VBTP M113?” primeiramente ter-se-á de abordar as seguintes questões derivadas:

tura é mais utilizada, com o condutor e apontador da arma principal, em posição na viatura, que se constituem como elemento de apoio à Secção de Atiradores Mecanizada” (Manual M113, 2013). Tem uma lotação máxima de 13 homens (imagem 2), um condutor, um apontador, um comandante de secção e 10 elementos da secção de atiradores. Para além da sua missão primordial, esta é uma plataforma bastante versátil, assegurando grande flexibilidade no seu emprego tático, ao mesmo tempo que garante a mobilidade e proteção inerente a uma unidade mecanizada.

• Qual a missão, características e particularidades da VBTP M113? • Qual a missão, características e particularidades do SMP STINGER? • Há algum exemplo análogo do emprego desta simbiose? Enquadramento Histórico Em 1960 teve início, nos Estados Unidos da América, o fabrico da Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP) da família M113 (imagem 1). Os primeiros a equipar o Exército Português, chegaram a Portugal no ano de 1976, destinados à 1ª BRIGADA MISTA INDEPENDENTE recentemente constituída, totalizando cerca de 150 unidades de VBTP M113, modelos A1 e A2, juntamente com outras versões. Atualmente existem na Brigada Mecanizada cerca de 300 unidades da família M113 (Manual M113, 2013). Missão “É no combate apeado que a via-

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Fig. 3 - Dimensões VBTP M113

• Blindagem – garante protecção contra projécteis de armas ligeiras, estilhaços de granadas e contra radiação nuclear e contaminação química. • Armamento – organicamente está definida a metralhadora Pesada (MP) Browning calibre 12,7 milímetros (mm). • Transporte – pode ser aerotransportada e lançada com pára-quedas de carga, à excepção do M577. Pode ser transportada por reboque ou comboio. Sistema Míssil Portátil STINGER

Fig. 2 - Lotação da VBTP M113

Características Gerais • Peso pronto para combate – cerca de 11 toneladas • Altura - 249.6 cm • Comprimento – 486.4 cm • Espaço interno – 45m³ • Motor – Diesel com potência de 210 CV (cavalos) • Autonomia – 450 quilómetros (km) e depósito de 360 litros de combustível • Velocidade máxima – 64 quilómetros por hora (km/h), 10 km/h para retaguarda e 6 km/h na água com ondulação inferior a 30 cm • Condução com visibilidade reduzida ou noturna – Utilizando o periscópio M19 e raios infravermelhos facilita a navegação para o condutor. • Transposição de obstáculos – consegue ultrapassar obstáculos de 61 cm à frente e na retaguarda até 35 cm. • Consegue navegar com inclinações até 30% e declives até 60%. Fig. 1 - VBTP M113

Nomenclatura: Míssil Guiado de Interceção Aérea FIM – 92 STINGER. Sistema de Armas: Sistema de defesa antiaérea portátil – MANPADS (MAN-Portable Air-Defense System), compacto, disparado ao ombro, para defesa próxima, tendo entrado ao serviço do Exército Português em 1992.

Fig. 4 - FIM-92 STINGER (http://guns.wikia.com/wiki/FIM-92_Stinger)

Missão Garantir proteção contra ataques aéreos hostis, efetuados a baixa e muito baixa altitude sobre Unidades de manobra e de apoio de combate. Características • Peso Total – 15,6 kg • Comprimento – 1,52 m • Tubo de lançamento – Descartável • Grupo do punho – Reutilizável até 4 vezes • Alcance máximo – 8Km • Alcance máximo eficaz – 5Km • Altitude – 3Km

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Introdução

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• Velocidade máxima – Mach 2.2 (750m/s)

(deveriam) ter um MANPADS no seu interior.

O SMP STINGER é uma arma, cujo míssil FIM-92 é de guiamento por pesquisa de infravermelhos ou infravermelhos passivos/ultravioletas negativos, arma do tipo dispara e esquece (fire and forget), possibilitando assim ao operador empenhar-se sobre outro alvo ou tomar ações evasivas logo após o disparo.

Especificando, o exército Russo, possui o SA-7/GRAIL, um sistema míssil portátil terra-ar de baixa e muito baixa altitude, com uma ogiva altamente explosiva, guiado por um sistema de infravermelhos, muito similar ao Sistema Míssil Portátil STINGER utilizado pelo Exército Português.

Fig. 5 - SMP STINGER, com subsistema IFF

É um sistema compacto, que inclui a sua própria fonte de energia elétrica, arrefecimento e subsistema IFF (Identification, Friend or Foe). A versão RMP que equipa o Exército Português, tem a possibilidade de ser reprogramável para fazer frente a qualquer alteração das características da ameaça sem se recorrer a qualquer alteração ou substituição do equipamento estrutural. Este sistema tem como possibilidades a sua grande capacidade de projeção, extrema mobilidade, rapidez de entrada em posição, capacidade IFF e elevada eficácia. Tudo isto aliado ao facto de ser um sistema MANPAD e às suas reduzidas dimensões.

No que concerne ao seu emprego operacional do SA-7/GRAIL, basicamente cada Batalhão de Atiradores Mecanizado tem um Pelotão SHORAD orgânico em que 9 apontadores são transportados por 3 VBTP (uma secção = 3 apontadores, 5 mísseis e uma VBTP). Todas as brigadas motorizadas e os batalhões aerotransportados têm um pelotão de defesa aéreo orgânico. Semelhantes pelotões de defesa aérea também são orgânicos a nível de batalhão tanto em operações aeromóveis e aerotransportadas assim como em unidades de ataque aéreo. (FM 100-2-3,THE SOVIETIC ARMY; TROOPS, ORGANIZATION AND EQUIPMENT, 1991) Conclusões Esta adaptação do Sistema Míssil Portátil STINGER a uma força mecanizada, transportado por uma viatura VBTP M113, não será uma criação por parte do Exército Português, mas sim uma apropriação e aproveitamento de um sistema para se constituir como

Fig. 7 - Contentores de transporte do SMP STINGER no interior da VBTP M113

uma alternativa fiável ao obsoleto Sistema Míssil Ligeiro CHAPARRAL e à carência de um viável meio de defesa antiaérea por parte da Brigada Mecanizada. Em suma, respondendo à questão central “É possível coadunar o SMP STINGER com a VBTP M113?”, apoiando-nos nas questões derivadas que foram abordadas e dissecadas no teor deste artigo, é legítimo afirmar que sim, é possível coadunar os dois materiais face às características de ambos, assim como é essencial para a Brigada Mecanizada dispor de uma Bateria de Artilharia Antiaérea (BtrAAA) capaz de garantir a respetiva proteção e acompanhar as suas Unidades de manobra. SISTEMA MÍSSIL PORTÁTIL STINGER EM VIATURA BLINDADA DE TRANSPORTE DE PESSOAL M113? “YES, WE CAN!”

Exemplo análogo do emprego desta simbiose Esta adaptação não seria ímpar e exclusiva nos Exércitos atuais. Como exemplo temos a Rússia que defende, segundo a sua doutrina, que todas as VBTP – infantaria, cavalaria, artilharia, observadores avançados – devem

Fig. 6 - Versão Manpad do SA-7 Grail, disparado de uma VBTP

Fig. 8 - SMP STINGER em VBTP M113 – “Yes, we can!”

REFERÊNCIAS: MANUAL M113, Edição 2013. Santa Margarida TANK ENCYCLOPEDIA, Obtido em 23 de Janeiro de 2018 http://www.tanks-encyclopedia.com/coldwar/US/M113_APC.php M113 Armored Personnel Carrier Variants, obtido em 23 de janeiro de 2018 http://www.inetres.com/gp/military/cv/inf/M113.html FM 100-2-3, THE SOVIET ARMY, TROOPS, ORGANIZATION AND EQUIPMENT, JUNE 1991, Headquarters, Department of the Army

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Pa r te I I I - Meios O per aci onai s

C C L e o p a r d 2 A 6 – A Manutenção de Tor r e 1Sar SMat Matias Daniel

“Quanto mais complexo um sistema, maiores as probabilidades de avariar”. Esta foi a frase que me ficou gravada numa conversa com um Comandante de Pelotão, e que o Projeto Leopard fez questão de me mostrar. A equipa de Manutenção de Torre do Carro de Combate (CC) Leopard 2A6 foi renovada em 2013, e tem sido a mesma a garantir a operacionalidade de um dos sistemas de armas mais complexos e modernos da Brigada Mecanizada (BrigMec). Uma Questão de Atualização A BrigMec afirma-se como a força decisiva em combate, em grande parte devido ao seu potencial blindado e de fogo. Corria a primeira década deste século, e o CC M60A3TTS era indubitavelmente um dos símbolos desta força, aliado à mobilidade, fogo e poder de choque desse Sistema de Armas. No entanto, a oportunidade de atualização deste sistema de armas surgiu no horizonte, e os CC Leopard 2A6 encontraram nos terrenos de Santa Margarida, a sua nova casa. Comprados em segunda mão à Holanda, chegaram com a promessa de revolucionar a capacidade blindada da Brigada, a par de um longo trabalho de manutenção deste mesmo potencial. Foram chegando, e atualmente contamos com 37 viaturas. A manutenção foi acautelada como uma das áreas mais importantes a intervir, e foi enviada uma equipa à Holanda. Essa equipa frequentou o curso de manutenção do CC Leopard 2A6, englobava técnicos de Casco e Torre, e pessoal da área da eletrónica e soldadura. No âmbito do Armamento e Torre,

Fig. 2 - Leopard 2A6 e M60A3 TTS lado a lado, ambos em manutenção.

o curso durou cerca de 7 meses, onde se abordou a Torre de fio a pavio. “Os instrutores holandeses até nos criaram um manual com eletrónica básica, para aprendermos” relata o SAJ Nuno Cristóvão, que integrou a equipa, e foi o último mecânico de Torre deste grupo a abandonar o projeto. As noções de eletrónica passaram a fazer parte de um processo que até aqui não era fundamental nos nossos carros de combate, mostrando a importância crescente da Mecatrónica para a formação das novas gerações de técnicos ao serviço do Exército. Esta equipa inicial da qual faziam parte 4 sargentos Mecânicos de Torre, trouxe com ela a ferramenta e os conhecimentos para intervencionar a Torre em todos os aspetos de Apoio Direto.

Formação Necessária e Indispensável Entrar no projeto Leopard significava uma coisa: Santa Margarida seria a casa desse militar por 5 anos. Corria o ano de 2013, e há muito se identificava a necessidade de garantir a continuidade do projeto, mediante a formação atempada e adequada, a par de atividades sobrepostas entre a nova equipa e a veterana. A formação saiu, mas não seria nos mesmos moldes da anterior: o estágio de 6 semanas passaria a ser na Brigada, e seria vocacionado para as Manutenções Sistemáticas, em detrimento das Manutenções Corretivas. Era o que as 6 semanas de formação permitiam. O 1SAR André Brandão é o técnico de Torre mais intimamente ligado ao projeto. Desde a sua colocação na BrigMec, tem orientado o seu trabalho quase exclusivamente para o Projeto Leopard, sendo o único da equipa atual que realizou uma sobreposição de tarefas com a equipa anterior. “Os desafios são enormes na manutenção de um carro de combate. Há sempre novo desafio para manter a viatura operacional. O Leopard é um bom carro, e como tal precisa de uma boa manutenção para preservar o seu bom desempenho”. Atualmente em missão pela OIR – Iraque, mostra-se preocupado com as lacunas na formação, que trariam melhores resultados na resolução de avarias. Do conhecimento adquirido pela equipa de 2008, muito não foi transmitido, ou encontra-se irremediavelmente fragmentado. Fornecer, Manter, Reparar

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Fig. 1 - Remoção da Torre do Leopard, a cargo da Rheinmetall Landsysteme no BApSvc, 2015

Uma das frases mais ditas na gíria da manutenção, é que “trabalhamos

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jeto Leopard. Este poderoso software permite potenciar a ação administrativa da Manutenção, com melhorias significativas na requisição de sobressalentes ou gestão de pedidos de Manutenção e Ordens de Trabalho.

Fig. 3 - Pormenor de um dos esquemas elétricos, e manual de teste FLOK. A maioria das avarias nos subconjuntos é identificada com recurso a esta informação.

nas sombras”. A Manutenção da Brigada foca-se em manter o estado operacional de um sistema, desenvolvendo tarefas que se centram em dois pilares: Manutenção Preventiva e Manutenção Corretiva. Enquanto a primeira se caracteriza pela substituição e afinação de componentes e lubrificantes antes do fim da vida útil, a segunda centra-se em mitigar um desgaste ou acidente imprevisto. No âmbito da Torre, as Manutenções Preventivas começam com as guarnições, na Manutenção de Unidade, onde são intervencionadas e detetadas a maioria das avarias. “O mecânico no GCC tem também uma função de mentoria. Os utilizadores são quem cuida realmente na viatura, e os primeiros a detetar anomalias. São a primeira linha de intervenção. “O custo e tempo da manutenção preventiva são muito menores quando comparados às intervenções corretivas” refere o 1SAR Gonçalo Lino, que, colocado no QCav, mais tempo acompanhou as guarnições. A sua função era a de detetar avarias e encaminhá-las para a CMan/BApSvc quando a sua resolução não era possível na Unidade.

A segunda linha de manutenção é o Apoio Direto. Em Portugal, é atualmente a última linha de intervenção dos equipamentos para os Leopard. É na Secção de Armamento e Torre (SecArmTor) da Companhia de Manutenção (CMan) que se encontra a maioria da informação relativa à Torre do CC Leopard, e é comum depararmo-nos com largas folhas de esquemas elétricos dos componentes espalhadas pelas mesas, a maioria em alemão. “WNA”, “FCU”, “PERI GRT”, são siglas largamente faladas pelo “Torrês”, e chegam a ser alvo de humor pelas restantes secções da CMan. As siglas descritas dizem respeito a subconjuntos que completam a Torre do Leopard

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2A6, e são normalmente o máximo que se faz em Portugal, para voltar a dar “garras à fera”. Se o problema se identifica num destes conjuntos, o destino do mesmo são as empresas especializadas, normalmente na Alemanha, a cargo da Direção de Material e Transportes (DMT).

A Secção de Controlo Oficinal (SCO) modera todas estas operações. Responsável pelo controlo da manutenção na BrigMec, é uma entidade fundamental na articulação dos trabalhos realizados pela CMan. O SAJ Nuno Ferreira é o responsável pelos Leopard. Integrou a equipa inicial, como técnico de Casco. Atualmente, gere as capacidades da SecArmTor e Secção de Lagartas, as potencialidades do PelReab, as necessidades do QCav e as orientações do Escalão Superior, do Comandante da CMan à DMT. Entre cliques de rato, vai dominando o ManWinWin, a plataforma de gestão de manutenção utilizada no pro-

Diogo Alves é a entidade final na cadeia de distribuição do material Leopard. Soldado no Pelotão de Reabastecimentos (PelReab), tem há anos a tarefa de atribuir os sobressalentes e consumíveis para o projeto Leopard. A sua experiência, aliada ao conhecimento quase enciclopédico, dão um forte apoio à Manutenção, caracterizados pela flexibilização dada ao fornecimento de material. O SAJ Joaquim Gomes (Cmdt PelReab) garante que toda esta flexibilidade e prontidão não chocam com as diretrizes do Escalão Superior, em matéria de Reabastecimentos. O trabalho vai-se desenrolando ao longo do ano. Entre as manutenções corretivas, vão-se realizando as manutenções preventivas, também apelidadas de sistemáticas, que nos permitem uma identificação atempada de muitas avarias, uma vez que a lista de itens a avaliar ultrapassa as 200 verificações distintas, por viatura. O trabalho é considerável, com uma média de 3 dias por viatura. As manutenções corretivas são a “alma do negócio” e as que necessitam de maior emprego de meios, e as que mais retêm o Leopard 2A6. São recorrentes num sistema desta complexidade, e são a parte mais desafiante do nosso trabalho. As bases que nos foram ministradas são constantemente testadas, e o apoio das equipas da manutenção de algumas empresas que desenvolveram o projeto (maioritariamente a RLS e a KMW) são ajudas preciosas na resolução das avarias mais

Fig. 4 - Controlos do apontador do CC Leopard 2A6. A troca de conjuntos é uma atividade fundamental para garantir a operacionalidade do sistema.

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nicos têm agora uma pausa, enquanto as guarnições fazem os treinos finais. “Um bom Mecânico de Torre descansa no dia do tiro”, é a frase que tenho dito aos vários sargentos de Torre estagiários que por aqui passaram. Os últimos dias foram uma azáfama entre carros, com as guarnições impacientes com os nossos veredictos. O procedimento FFF “Fit For Firing” é trabalhoso, e muitas vezes frustrado por uma simples avaria. Sob a cooperação e olhar atento e esperançoso dos Chefes de Guarnição, vamos inspecionando as viaturas uma a uma. O procedimento é sempre o mesmo: histórico, FLOK e recuo artificial. Qualquer uma das provas é eliminatória, e logra semanas de preparação das guarnições e técnicos. Fig. 5 - Pormenor da lista de verificações (3IWK) das manutenções sistemáticas. São avaliados mais de 200 aspetos por viatura, anualmente.

complicadas. Situações como separar a torre do casco, realizar e certificar boroscopagens ou atestar a operacionalidade de um sistema após um acidente, ainda não figuram nas competências de uma equipa (pequena) ávida, mas parca em certificação. A relação com as equipas civis é excelente, e acabam por brotar amizades duradoras, onde o “à vontade” latino revela uma simpatia genuína alemã. Todo este trabalho se desenvolve entre o galope do QCav, ajustando a nossa missão à missão da Manobra, apoiando os deslocamentos, e no caso da SecArmTor, as sessões de tiro. Upgrades vs Downgrades O CC Leopard 2A6 é considerado por muitos, um dos carros de combate mais avançado do mundo. Versões há muitas, e a versão 2A7 há muito que é falada. No que diz respeito à nossa versão, são comentados alguns upgrades, destacando-se na Torre a refrigeração dos compartimentos eletrónicos, o cérebro da viatura. Os novos desafios de blindagem trazem novos tipos de muni-

ção, e talvez seja uma das novas áreas a intervir nos anos vindouros. Com o material, ou nos atualizamos, ou regredimos. As avarias têm aumentado, e nem sempre refletem o tipo de empenhamento. Os desafios da manutenção são cada vez mais complexos, à medida que o desgaste se faz sentir. “A manutenção de depósito é muitas vezes ingrata, e frustra o nosso trabalho pela demora em reparar os subconjuntos. O desconhecimento na manutenção e o circuito a que são sujeitos os materiais evacuados, levam a uma degradação de outros componentes, que pode ser irreversível”, refere o 1SAR Lino. Sabemos a importância do projeto, e consideramos que a curva de aprendizagem está a estabilizar, porém a curva das avarias não. De entre os vários desafios que vamos lançando com o nosso trabalho, o que mais nos preocupa a longo prazo é simples: “Manutenção - E agora? Evoluímos ou regredimos?” “À Minha Voz: FOGO!” É dia de LFX para o GCC. Os mecâ-

O histórico destina-se a identificar avarias ou situações pendentes das viaturas que ainda não tenham sido resolvidas. Permite-nos também prever ou testar situações anteriormente resolvidas, e que o Orçamento só agora permite confirmar. O FLOK é o teste a toda a Torre, onde cada um dos sistemas (controlo de tiro, observação do campo de batalha, etc.) são inspecionados com recurso a uma plataforma de monitorização do CC. São lidos e introduzidos valores, e testadas potencialidades da viatura. Na tão esperada ausência de mensagens de erro, a preparação continua. O recuo artificial destina-se a simular o movimento da peça aquando do disparo. Aproveitamos para mostrar aos curiosos o disparo em câmara lenta. Num disparo intervêm forças consideráveis e tudo tem de funcionar na perfeição: freios de recuo, recuperadores, movimentos da culatra móvel. Qualquer falha pode ser fatal para a guarnição. Cabe ao Mecânico decidir a viabilidade do sistema para ser empregue. Se a viatura não cumpre os requisitos de segurança, não faz fogo. Simples. Restam-nos os alinhamentos, realizados pelos Master Gunners, e os treinos finais.

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Fig. 6 - Caixa de ferramenta especial do CC Leopard 2A6. Ainda que exista em oficina, alguma da ferramenta tem uso limitado, por falta de qualificações dos técnicos.

Normalmente a SecArmTor envia um mecânico para os LFX, em apoio. Qualquer relutância pessoal se desfaz quando os motores rugem, e a terra estremece à medida que as viaturas assumem as posições de fogo. Nunca estamos muito longe, para assistir e aconselhar tecnicamente a manobra. Dissimulamos aquele arrepio de orgulho quando vemos o clarão característico do impacto no alvo. Passámos dias dentro das entranhas das bestas, a devolver-lhes a alma. Agora que as garras se mostram, não há como não ter orgulho nisso.

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C o n c e i t o “U pg r ade FM200”

Evo lu ç ã o d o Sistem a d e Fe ixe s He r tz ia n o s F M2 0 0 Cap Tm Gonçalo Soeiro | Ten Tm Pedro Marques

Introdução A necessidade de acesso a serviços e operações em rede no ambiente de campanha levou à criação do Sistema de Informação e Comunicações Tático (SIC-T). O SIC-T tem como desígnio a resposta à evolução da tecnologia e do ambiente operacional tendo como premissa a condução de operações centradas em redes em campanha. A possibilidade de fornecer a Common Operational Picture (COP) nos diferentes escalões tem como objetivo o auxílio no processo de tomada de decisão. Com a evolução das tecnologias e dos sistemas de armas, os meios de transmissão e comunicação também sofreram alterações. O presente artigo aborda de forma geral a arquitetura do SIC-T e o reequipamento da Companhia de Transmissões da Brigada Mecanizada no âmbito do Conceito “Upgrade FM200”.

utilizador. A Figura 1 materializa os cinco subsistemas que compõem o sistema de comunicações. A componente de Sistema de Informação assenta na disponibilização de um conjunto de serviços com o propósito de apoiar a tomada de decisão nos diferentes escalões. A partilha de informação em rede, garante a disponibilidade de serviços como o Sistema de Informação para o Comando e Controlo (SICCE) e o Battlefield Management System (BMS). Para a implementação da arquitetura funcional do SIC-T existem oito módulos, materializantes dos subsistemas da componente de comunicações: • Nó de Trânsito (NT) • Nó de Acesso (NA) • Ponto de Acesso Rádio (PAR) • Rear-Link (RL)

Sistema de Informação e Comunicações Tático (SIC-T)

• Centro de Comunicações de Batalhão (CCB)

O sistema é baseado numa estrutura Full IP, capaz de habilitar o fluxo de informação entre os diferentes escalões. Tem por base uma arquitetura modular e funcional capaz de suportar um conjunto de serviços que percorrem de forma transparente os diversos módulos, subsistemas ou meios de transmissão, com o mínimo envolvimento do

• Centro de Comunicações de Companhia (CCC) • Estado-Maior Brigada (EM Brig) • Estado-Maior Batalhão (EM Bat) Analisando de forma geral os módulos, o Nó de Trânsito integra o Subsistema de Área Estendida (SAE) e baseia-se numa infraestrutura de fei-

xes hertzianos que garante, o encaminhamento automático do fluxo de informação, através de um conjunto de ligações redundantes. O módulo Rear-Link integra o subsistema anterior, tendo capacidade de integrar uma força projetada com a componente fixa/ operacional quando tal não é possível por outros meios, garantindo assim a ligação à retaguarda. Os módulos Nó de Acesso, CCB e CCC integram o Subsistema de Área Local (SAL) e destinam-se a dotar os Postos de Comando de uma unidade de escalão Brigada, Batalhão e Companhia respetivamente, fornecendo-lhes um conjunto de serviços e comunicação necessários à ação de comando e controlo do respetivo comandante. O módulo Centro de Comunicações de Companhia constitui uma plataforma tática ligeira e flexível, apresentando uma conceção adaptada à necessidade de projeção aérea[1]. Relativamente ao módulo PAR a sua função principal é a integração do rádio no ambiente de rede IP, tendo como finalidade o estabelecimento da estrutura de interface entre o subsistema de utilizadores móveis e o subsistema de área estendida. Esta interface é garantida através de um conjunto equipamentos de comunicações com uma forte componente rádio (HF/VHF/UHF) e uma componente de meios para integrar a estrutura superior da rede, essa

Fig. 1 - Arquitetura SIC-T

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da foi baseada num ponto central, já referido anteriormente, e três postos de comando que estabelecem ligação ao posto central. Cada posto de comando é constituído por um equipamento instalado numa shelter designado por equipamento terminal e por um equipamento de distribuição de sinal aos utilizadores designado como caixa de utilizador. A Figura 2 apresenta o conceito de comunicações estabelecido, sendo possível visualizar o equipamento terminal através da Figura 3. De realçar que tanto o equipamento terminal como a caixa de utilizador não se esgotam num único equipamento, tendo na sua constituição um conjunto de equipamentos de rede, destacando-se as antenas Winlink. Fig. 2 - Conceito de Comunicações na BrigMec [2]

integração ocorre fundamentalmente através de feixes hertzianos e interfaces óticos. Upgrade FM200 Em virtude do elevado desenvolvimento tecnológico registado nos últimos anos e dos meios utilizados pela CTm/BrigMec para disponibilizar dados em exercícios, nomeadamente equipamentos de feixes hertzianos FM200 ligados à central de campanha P/CD132 por uma placa RDIS, verificou-se uma inadequabilidade da largura de banda fornecida (128 Kbps) face às necessidades atuais. Devido às limitações de largura de banda existentes através dos equipamentos enunciados e à previsível demora do fornecimento de módulos SIC-T foi equacionado o upgrade dos FM200 para permitir, através de um equipamento de inter-

ligação, ligar os FM200 diretamente a um router, e obter assim a largura de banda máxima alcançável pelos equipamentos (1Mbps). Após análise do custo do equipamento de interligação foi verificado que a relação custo/ benefício era reduzida, sendo reanalisado o Conceito “Upgrade FM200”. A decisão final recaiu na aquisição de equipamentos WinLink, possibilitando capacidade de voz IP e a substituição do binómio FM-200 – P/CD-132. As valências dos novos equipamentos levam à descontinuação da central P/CD-132 nos postos de comando da Brigada.

O conceito para a ligação planeado e estabelecido na Brigada Mecanizada teve como linha orientadora a sua estrutura atual, bem como a contenção de custos. O material adquirido foi apenas o estritamente necessário para estabelecer as comunicações em três postos de comando, assentes num ponto central, que se materializa pela Torre de comunicações do Campo Militar de Santa Margarida. Deste modo, a arquitetura para a Brigada MecanizaFig. 3 - Conceito de Comunicações na BrigMec

Conclusões A tecnologia e os serviços disponíveis estão constantemente a evoluir, necessitando que os equipamentos e o sistema de informação e comunicações reflitam a atualidade. Face à inexistência de módulos SIC-T na Companhia de Transmissões da Brigada Mecanizada, foi elaborado um projeto designado “Upgrade FM200” para reequipar a Companhia de Transmissões da Brigada Mecanizada, de modo a disponibilizar novas capacidades e valências, enquanto se aguarda pela receção desses módulos. Os equipamentos recebidos em 2017 no âmbito do conceito “Upgrade FM200” permitem o apoio de comunicações a três postos de comando, que se encontram assentes num ponto central, no caso da Brigada Mecanizada a torre de comunicações no Campo Militar de Santa Margarida. Os equipamentos WinLink recebidos permitem alcançar larguras de banda superiores às anteriormente alcançáveis com os feixes hertzianos e fornecer telefonia IP, descontinuando deste modo a utilização da central P/ CD-132. O projeto “Upgrade FM200” não substitui os módulos SIC-T, no entanto permite a disponibilização de serviços e larguras de banda que não eram possíveis com o binómio FM200-P/CD132.

[2]

REFERÊNCIAS: [2]

D. D. E. Comunicações and E. S. D. E. Informação, “SISTEMA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÕES TÁCTICO (SIC-T) ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO,” 2011. “UPGRADE FM200 Conceito”, Direção de Comunicações e Sistemas de Informação - Equipa de projeto SIC-T

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Sistema de Inter comuni cação D i gi t al C om pacto IC C - 2 5 1 Te c n o lo g ia Po r tug u e s a a o Se r v iç o d o Ex é r c ito

SAj Tm Lopes Silvestre | 1Sarg Tm Rodrigues Cachucho

O sistema de Intercomunicação Digital Compacto ICC-251 é um sistema de intercomunicação desenvolvido para veículos com espaço interior reduzido, permitindo comunicação de voz e dados e a integração com redes rádio táticas nos dois modos, adequados aos sistemas de armas modernos, nomeadamente nos carros de combate. Permite a comunicação interna entre a tripulação e outros pontos de acesso rádio.

de tripulação simples CC-201.

Quando utilizado com rádios táticos mais recentes, como o rádio P/PRC-525, o sistema de intercomunicação ICC251 facilita o acesso ao serviço de dados e a comunicação de voz tradicional. O sistema permite o O sistema de intercomunicação controlo remoto do ICC-251 é composto pela unidade rádio, via RS-232, central principal (IC-251), terminais de possibilitando a altetripulação simples (CC-201) ou duplo ração dos modos de (CC-203), cabos e acessórios áudio operação do mesmo, (headset, com e sem capacete e active as frequências e ounoise redution - ANR, handset, etc.) e Fig. 2 - Terminal de tripulação simples CC-201 tras caraterísticas, altifalante. terruptor, sistema comumente conhecievitando deste modo a necessidade A ligação da unidade central aos do com VOX (Voice Operated Switch). da permanência física de um operador terminais de tripulação faz-se através Estão disponíveis vários acessórios qualificado. de um cabo coaxial que fornece alitais como; um altifalante ativo de alta A operação do ICC-251 é extremamentação e comunicação ao terminal. eficiência, gateways táticos sem fios, mente simplificada e flexível, permitinEsta ligação é totalmente digital com que permitem a comunicação integrado vários modos de operação configuuma modulação de largura de banda da de soldados, em terra, com o sisrados por uma aplicação proprietária muito estreita, minimizando assim a tema de intercomunicação do veículo. para Windows, o ICC-251 Manager. degradação e interferências por cross A nível de manutenção referir que Esta aplicação é executada num comtalk (interferência de transmissão, caua frequência de avarias é baixa devido putador e faz o download da configurasada no mesmo canal), própria para ao MTBF (Mean Time Between Failução para o sistema de intercomunicaser utilizada em veículos blindados res) elevado, e o operador através da ção via protocolo RS-232. com interfaces de torre com slip-ring. função BITE (built-in test equipment) O sistema de intercomunicação Nos CC Leopard 2A6 do Grupo de incorporada no sistema consegue deICC-251 foi concebido para ambientes Carros de Combate da Brigada Mecatetar avarias sem recurso a ferramencom níveis de ruído extremamente elenizada o modelo da arquitetura escolhitas adicionais. vados, através da incorporação de um do foi uma Unidade central e terminal Descrição geral algoritmo DNR – Redução dinâmica de comando IC-251 e três terminais O sistema de intercomunicação dide ruído (por DSP gital compacto ICC-251 fornece uma - Processamento arquitetura de comunicações em estreDigital do Sinal). la que permite a ligação de periféricos O sistema também de comunicação (Terminais, rádios, suporta vários ticomputadores, etc.) à unidade central. pos de headsets, A interligação com outros sistemas com ou sem ANR, ICC-251 é possível através da interfapossibilitando asce de telefone de campanha disponível sim aumentar o num terminal de tripulação específico, desempenho, caso permitindo assim uma rede de comunihaja necessidade. cação mais extensa. Através do proA unidade central do ICC-251 apecessamento digital sar de mecanicamente ser muito comde sinal (DSP) é pacta, contém todas as funcionalidapossível detetar des para ser utilizada em veículos de atividade de voz transporte de pequenas tropas, com para suportar as necessidades de comunicação reduziconversas do opedas. A unidade central é em simultâneo rador sem que seja um terminal de comandante permitindo necessário preso controlo total do sistema. Fig. 1 - Unidade central e terminal comando IC-251 sionar qualquer in-

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Fig. 3 - Arquitetura do sistema de intercomunicação digital compacto ICC-251

Caraterísticas Técnicas Das caraterísticas gerais e especificações técnicas do sistema realça-se a elevada amplitude térmica de operação, assim como, o reduzido consumo. Sistema Geral

Tensão de Alimentação

Consumo de energia

Membros da tripulação

Até 7

Número máximo de rádios

3

Interface computador

2 X portas RS232

9 a 33 VDC (MIL-STD 1275)

(24VDC com 4 utilizadores com auriculares passivos)

<7W

Especificações Ambientais em conformidade com a norma MIL-STD-810G Temperatura de Operação

-40ºC até +60ºC

Choque

Método 516.6

Vibração

Método 514.6

Humidade

Método 507.5 95% a 60ºC

Estanquicidade

Método 512.5 (imersão de 1 metro durante 2 horas)

Especificações Mecânicas

Dimensões (Comprimento x Largura x Altura)

Unidade central IC-251

175 X 145 X 85 mm

Terminal de tripulação

175 X 120 X 54 mm

Peso Terminal de tripulação Conclusão O sistema de intercomunicação digital compacto ICC-251 apresentado está instalado nos CC Leopard 2A6, estando preparado para comunicações com elevado ruído. Devido às suas caraterísticas de redução dinâmica de

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1100g 845g ruído permite alcançar desempenhos adaptativos ao ruído e mais eficientes durante os deslocamentos. Quanto à manutenção, a deteção de avarias é realizada de forma relativamente fácil, sem necessidade de técnicos e ferramentas especializadas. A arquitetura

de comunicações apresenta-se sob a forma de estrela, em que todos os periféricos de comunicação (Terminais, rádios, computadores, etc.) ligam-se à unidade central, tendo esta o controlo total do sistema.

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Unidade central IC-251

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Re f u e l o n t h e Move - do Pl aneamento à Execuçã o Asp Adm M Liliana Rodrigues - Cmdt PelReabTransp/CRT/BApSvc

Introdução A força decisiva do Exército (a BrigMec) necessita de grandes quantidades de combustível em tempo útil para sustentar a sua capacidade para o combate, e desta forma o REFUEL ON THE MOVE (ROM), como propósito doutrinário, amplia o tempo das forças terrestres no cumprimento da missão ao movimentar viaturas de transporte de combustível para a zona tática a fim de proceder ao abastecimento flexível de viaturas e outros equipamentos (geradores/cozinhas/arcas), de forma eficiente, rápida e segura. O Planeamento O ROM é uma missão que é atribuída ao Pelotão de Combustíveis do BApSvc sendo executada com a montagem de uma ou várias linhas de reabastecimento Classe III, tendo em conta o número de viaturas a abastecer. Recebida a missão de efetuar um ROM há que considerar os fatores de decisão militar: restabelecer a missão atribuída, conhecer a ameaça na missão a desempenhar, avaliar o terreno, verificar e avaliar os meios disponíveis, o tempo disponível para o cumprimento da missão e as considerações de âmbito civil. O restabelecimento da missão é fundamental para que de uma forma simples, clara e concisa se transmita aos militares o objetivo pretendido.

A avaliação do terreno é essencial, pois está diretamente relacionada com o tempo disponível e a ameaça, além de que é um ponto sensível de planeamento. O conhecimento do inimigo/ ameaça influencia o estudo do terreno na escolha do itinerário de reabastecimento e na escolha do terreno mais apropriado para a operação (ROM). Na montagem da linha de abastecimento para o ROM, é necessário realizar um estudo cuidado de forma a certificar que nas linhas de reabastecimento existe espaço suficiente para a manobra de viaturas e abastecimento de combustível, garantida a adequada dispersão. Fazendo a identificação do tempo disponível, o número, a tipologia de viaturas a abastecer e a quantidade de combustível necessária, estão reunidas as condições para a escolha dos meios adequados ao cumprimento da missão. Considerando o Ambiente Operacional, avaliar as considerações de natureza civil pode revelar-se extremamente importante na medida em que podemos tirar proveito das mesmas a nosso favor. A Companhia de Reabastecimento e Transporte tem como meios de transporte de combustível as viaturas táticas M49 com capacidade de transporte de 4.500 litros e os atrelados de transporte

de combustível M969 com capacidade de transporte de 18.000 litros. O Abastecimento A primeira preocupação é a elaboração do esquema de abastecimento, identificar o local para colocar as viaturas de transporte de combustível e verificar se o espaço de manobra é suficiente para a entrada e saída de viaturas em segurança. Escolhido o local, inicia-se a preparação da linha de abastecimento: posicionamento das viaturas, colocação de extintores junto às mangueiras de abastecimento, sinalização dos locais de abastecimento e colocação de bacias de retenção para aproveitar desperdícios de combustível, mantendo assim sempre presente as considerações ambientais, evitando a absorção de gasóleo pelos solos e evitando a contaminação dos mesmos. Reunidas as condições de segurança, inicia-se a preparação de um reabastecimento. Na montagem de uma linha de abastecimento, é necessário colocar uma ou mais viaturas de transporte de combustível (consoante a missão atribuída), sendo estas o M49 ou o M969, e de dois militares para cada uma das viaturas, sendo um o operador (aquele que efetua o abastecimento) e o outro o condutor. Para coordenar a entrada e saída da posição de viaturas no abastecimento, um militar fica entre as duas

Fig. 1 - Refuel On the Move, com duas linhas de abastecimento

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abastece a viatura em conformidade com as indicações recebidas e após o seu término informa o condutor da viatura e o militar que está a fazer a gestão de entrada e saída de viaturas. Todos os militares são fundamentais neste processo pois assim é garantido que o abastecimento é efetuado corretamente, em segurança e no mais curto espaço de tempo possível. Terminado o abastecimento, a missão só se encontra terminada após a retração das viaturas de transporte de combustível estar concluída. Considerações Finais

Fig. 2 - Refuel On the Move, com três linhas de abastecimento (2M49 e M969 a abastecer)

linhas de abastecimento ou no caso de haver apenas uma linha, à frente da mesma (conforme figura 1 e figura 2). O M49 abastece, consecutivamente, viatura a viatura em cada linha, podendo estar ligado a um M969 que por sua vez o vai abastecendo, aumentando a capacidade de abastecimento.

As viaturas aproximam-se do local de abastecimento, seguem as indicações do militar para o posicionamento da viatura, é desligado o motor e o condutor da viatura apoia o abastecimento abrindo a tampa do depósito de combustível garantindo assim mais celeridade nos procedimentos. O operador

O ROM é uma missão que pode ser determinante para o cumprimento da missão do Escalão Superior pois pode ser aquele combustível, ainda que limitado por tempo ou por quantidade, que consegue fornecer às unidades de combate o tempo necessário para que o seu ponto decisivo seja alcançado e a missão concluída com sucesso. É interessante pensar que um ROM efetuado com sucesso, desde o seu planeamento até a sua execução pode ser o fator decisivo para o sucesso de uma unidade.

Fig. 3 - ROM num exercício da BrigMec no CMSM (Viatura M 49 e CC Leopard 2A6)

BIBLIOGRAFIA

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ARMY SUSTAINMENT. Maintaining momentum through refuel on the move, Jan 2016. CONCEPTS AND EQUIPMENT OF PETROLEUM OPERATION- FM10-67-1, Headquarters department of the army, Washington, DC, 2 April 1998. APOIO LOGÍSTICO NAS OPERAÇÕES MILITARES DE GUERRA COMPONENTE TERRESTRE, ME 60-10-03, Set 2016. APOIO LOGÍSTICO NAS OPERAÇÕES MILITARES ESCALÃO BATALHÃO E COMPANHIA NOÇÕES GERAIS, ME-04-260-01, Out 2012.

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E n g e n h a r i a d e Combate – Forças Pes adas

Empr e go de Ca m pos de Mi nas e o s D e s a f io s n o A p o io à C o n t r a m o b il i dade Cap Eng Fernandes Basto | Ten Eng João Conceição

1942. 2ª Guerra Mundial. Tunísia. O desfiladeiro de Kasserine, no interior do território e a escassos 20 km a este da fronteira argelina, é um estreito corredor de mobilidade de brigada, defendido por um batalhão de infantaria americano. Um tenente de engenharia das forças aliadas recebe a missão de lançar um campo de minas, reforçando a barragem desse eixo de aproximação. Parte sozinho, pelas 19h30, acompanhado apenas pela dotação de minas, indo ao encontro do comandante de uma das companhias que constituem a frente do batalhão. Espera obter deste a indicação do local de implantação do campo de minas. 23h30. PC da com-

ros elementos avançados das forças alemãs, as minas são facilmente detetadas, espalhadas numa encosta ao longo de um itinerário e na sua maioria mal enterradas. Pela sua implantação desadequada o campo de minas não pode ser batido pelo fogo. Os engenheiros alemães rapidamente removem as minas do itinerário prosseguindo a sua manobra sem resistência. (FM 90-7, 1994) Volvidos cerca de 8 anos. 1950. Coreia do Sul. A estrada que liga as cidades de Taegu-Sangju, dividida pelo rio Nakdong, no coração da Coreia do Sul é defendida por um regimento de infantaria americano, reforçado com alguns carros de combate e apoiado por artilharia. Os norte-coreanos detêm vantagem numérica em carros de combate, contudo as defesas americanas dispõem de campos de minas com minas anti-carro devidamente implantadas e camufladas e batidos pelo fogo do armamento ligeiro da infantaria

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panhia de infantaria. Ninguém sabe indicar com clareza a localização do campo de minas. O oficial dia à companhia indica um itinerário em direção à frente, assegurando ao jovem tenente que estaria alguém a aguardá-lo adiante para lhe fornecer as informações de que necessita. 01h30 da madrugada. De regresso ao PC sem ter encontrado a ligação na frente, nem o local de implantação do famigerado campo de minas. O comandante da companhia é acordado a pedido do tenente engenheiro. Garante-lhe 40 atiradores para a montagem do campo de minas e um tenente de infantaria conhecedor da localização do campo de minas. 03h30.

Fig. 1 - Militares recebendo instrução de colocação de minas anti-carro

e pelos fogos de morteiros e artilharia. (FM 90-7, 1994)

Resultado: no decorrer do assalto das forças norte coreanas, são destruídos dezoito carros de combate, quatro obuses auto-propulsados e inúmeras viaturas blindadas de transporte de pessoal. Naturalmente, não tanto pelo efeito das minas, mas pelos efeitos dos fogos combinados sobre os obstáculos, o ímpeto do ataque é quebrado e as forças norte coreanas derrotadas e impedidas de atingir o seu objetivo. Regista-se um número muito reduzido de baixas nas tropas americanas. (FM 90-7, 1994) Estes dois exemplos são paradigmáticos da nossa concepção do emprego

Finalmente o tenente de infantaria aparece. Traz 12 homens para trabalhar. E também desconhece a localização da implantação do campo de minas. Sem alternativas e sem mais informação disponível, a implantação do campo de minas é definida no local, de noite e sem conhecimento claro do terreno e das posições das armas que batem o obstáculo pelo fogo (viria a verificar-se ter ficado fora do alcance do armamento orgânico da infantaria). A mão de obra é escassa e não especializada. O tempo é pouco. O material necessário inexistente. (FM 90-7, 1994) Resultado: à chegada dos primei-

da engenharia em apoio à Contramobilidade – reforço do terreno defensivo através do lançamento de campos de minas e outros obstáculos – e da sua importância num campo de batalha onde se defrontam forças militares convencionais, em particular entre forças pesadas.

Fig. 2 - Coordenações entre militares norte coreanos

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enunciam:

- Legislação: a generalidade dos países aliados é signatária da convenção de Ottawa ou impõe internamente restrições da mesma ordem ao emprego de minas convencionais, o que impôs a redução dos stocks de minas existentes, bem como restrições significativas quanto ao seu emprego; - Produção: as imposições legais tornaram a produção de minas pouco interessante, tornando escassas ao longo dos anos as indústrias fortes na sua produção, o que acarreta atualmente elevados custos associados à sua reintrodução em produção maciça;

Fig. 4 - Contaminação de minas Mundial em 2015

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simultaneamente, os stocks existentes, mesmo de minas dispersáveis (FASCAM/SCATMINE) atingem o seu fim de vida útil nas próximas décadas; é ainda agravante que os efeitos indesejados e indiscriminados das minas, em particular AP, que se prolongam muitos anos após a cessação dos conflitos tornam esta área de negócio muito pouco atrativa para as indústrias de defesa atuais; - Implicações pós-conflito: conforme referido, e como se pode verificar na figura 4 referente à contaminação global com minas em 2015, a implantação maciça de obstáculos baseados em campo de minas tem repercussões dezenas de anos para além da cessação dos conflitos, causando baixas indiscriminadas entre civis, impedindo o normal retorno das populações e a utilização dos terrenos para fins económicos de qualquer tipo e exigindo um enorme esforço, quer humano, quer económico, de desminagem e limpeza; por outro lado a existência de largas quantidades de minas não detonadas disponíveis, abre espaço à sua recolha e utilização para construção de engenhos explosivos improvisados, para fins de terrorismo. - Aceitação pública/política: face às implicações futuras do emprego maciço de campos minas, hoje conhecidas

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Fig. 3 - Militares americanos combatendo tropas norte coreanas

O ressurgimento atual da ameaça convencional de forças pesadas na Europa, vinda de Leste, e os métodos híbridos empregues no decorrer da anexação da Crimeia e por novos agentes como o autoproclamado Estado Islâmico, em particular na Síria, mimetizando o emprego de forças convencionais através de meios e técnicas improvisadas, têm vindo a impor à engenharia de combate um retorno aos processos e procedimentos mais convencionais da Mobilidade e Contramobilidade, nunca abandonados definitivamente, mas parcialmente adormecidos em prol de maiores esforços no apoio à contrainsurgência.

No entanto, esse retorno não pode ocorrer desligado do atual contexto de emprego de forças militares, o que no âmbito da Contramobilidade, em particular no que se refere ao lançamento de campos de minas, tem vindo a suscitar alguns desafios ainda não resolvidos, discutidos por ocasião da Combat Engineers Conference 2017 (Nuremberga, Alemanha) e que de seguida se

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de todos, o escrutínio público, político e mediático do seu emprego no coração da europa trará forte limitação ao seu emprego pelas forças militares, nomeadamente sem que se alterem algumas das características das minas tradicionais, mesmo das minas AC; - Elevada necessidade de recursos humanos: a montagem de campo de minas devidamente implantadas e camufladas é uma tarefa manual que requer elevada mão-de-obra disponível, o que não se coaduna com a atual lógica de minimização dos efetivos em prol de maior tecnologia; o emprego de campo de minas dispersáveis (SCATMINE) por meios mecânicos, artilharia ou aviação, parece ser a única via aceitável neste domínio; As respostas iniciais a estes desafios apresentam duas vertentes. A primeira, de base conservadora, reforça a importância do emprego de obstáculos não explosivos, por um lado com recurso a meios mecânicos, como a construção de fossos anticarro, colocação de obstáculos metálicos e de betão armado, e lançamento de obstáculos de arame farpado. Por outro lado, através do emprego controlado de explosivos, como a execução de crateras e abatises ou demolições.

A outra vertente é de base tecnológica, e visa desenvolver e alterar algumas das características indesejadas do emprego de minas, nomeadamente:

que têm a capacidade de reconhecer e detonar com determinado tipo de viaturas com base na sua assinatura térmica ou eletromagnética.

- Capacidade de autodestruição por deflagração: visando a eliminação efetiva da massa de explosivo (atualmente as minas dispersáveis têm um tempo de neutralização, no entanto esse ocorre pelo consumo das suas baterias elétricas, que neutraliza o sistema de iniciação, mas não elimina o explosivo);

Por fim, e regressando aos elucidativos relatos com que se iniciou o presente artigo, a importância da implantação dos obstáculos garantir a sua cobertura pelos fogos, diretos e indiretos, implícita em vários momentos, é importante transpor para esta nova realidade. É que além dos fogos, esta vertente tecnológica impõe uma forte cobertura destes campos de minas em termos de guerra eletrónica e cyberdefesa, pois o controlo efetivo do campo de minas deixará de estar apenas no terreno e na observação, passará também para o espectro eletromagnético, e esse, é talvez, o maior dos desafios também na área da contramobilidade.

- Capacidade de ativação/desativação/neutralização controlada por via remota: permitindo a escolha criteriosa do alvo, eliminando o carácter indiscriminado da guerra de minas; - Capacidade de ser dispersável: parece ser unânime que este será o principal método de lançamento de campos de minas, eliminando os custos, quer económicos, quer táticos, associados à elevada mão-de-obra necessária ao lançamento de campos de minas; - Capacidade de iniciação seletiva ou múltipla: conjugação de diferentes sensores permitindo diferentes sistemas de iniciação, por exemplo, influência magnética, sísmica, sensível à mudança de temperatura ou ainda minas

Enquanto estes desafios permanecerem, as tarefas de contramobilidade suportadas pelos meios mecânicos (Figura 5) e nas destruições (Figura 6) terão que ser pontos fortes das forças pesadas de engenharia de combate, e para essas, a CEngCombPes da BrigMec encontra-se razoavelmente bem equipada e devidamente treinada.

Fig. 5 - Obstrução de itinerários com recurso a meios mecânicos

Fig. 6 - Obstrução de itinerários através de destruições

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Quadro Destaque: Explosive Counter Mobility Capabilities in USAREUR1

Em profundidade (até 300km)

Médio alcance (até 17 km)

• Sem utilização de minas; • Demolições (pontes, caminhos de ferro, barragens etc); • Substituição do equipamento Gator Landmine Replacement (GLMR2).

Remote Anti-Armor Mine (RAAM): • Cria um campo de minas tático com uma frente de 69km (efeito de deter); • Cria um campo de minas tático com uma frente de 139km (efeito de fixar). • Air Volcano: • Cria um campo de minas tático com uma frente de 12km (efeito de deter); • Cria um campo de minas tático com uma frente de 24km (efeito de fixar). Ground Volcano (capacidade atual): • Cria um campo de minas com uma frente de 12km (efeito de deter); • Cria um campo de minas tático com uma frente de 24km (efeito de fixar).

Alcance próximo (1-4km)

Proteção

Ground Volcano (capacidade futura): • Situationally Activated Volcano Obstacle (SAVO).

Spider: • Constituído por 3 elementos principais: até 63 unidades de controlo de lançamento de munições cada tem até 6 lançadores de granadas de pequena dimensão, 1 unidade de controlo das minas e 1 dispositivo de comunicação usado em terreno condicionante ou em longas distâncias; • Incorpora capacidade de autodestruição e Auto inativação; • M18 claymore para obstáculos de proteção Quadro 1 – Equipamentos atuais utilizados no âmbito da contra mobilidade

Destaque de texto: “um obstáculo, seja ele natural ou artificial, é todo aquele que condiciona a manobra de uma força”. (FM 90-7, 1994) Alguns obstáculos como montanhas, rios ou áreas urbanas existem antes das próprias ações militares. Outros foram criados e utilizados como suporte para essas mesmas ações de forma a enquadrarem-se com a manobra aumentando o potencial de combate. Os campos de minas são obstáculos artificiais utilizados com o propósito de

matar, destruir ou limitar o militar ou equipamento inimigo. Caracterizam-se ainda por ter um efeito extremamente devastador no moral das tropas inimigas. Podem ser facilmente colocadas, seja numa área mais abrangente ou apenas com a função de reforço a outros obstáculos e quando agrupadas em campos de minas têm as seguintes finalidades: - Limitar ou condicionar a manobra inimiga, através de efeitos (fixar, desviar, deter, desorganizar) associados aos

campos de minas táticos; - Separar forças inimigas dificultando o seu comando e controlo (C2); - Infligir danos no pessoal e equipamento; - Exponenciar o efeito dos sistemas de armas amigos atrasando a resposta inimiga através da criação de áreas de empenhamento; - Proteção de forças ou instalações amigas (campos de minas de proteção) face a infiltrações inimigas.

Componente do exército americano no comando europeu. Gator Landmine Replacement Program (GLRP) é um programa que está a redefinir a forma como a força limita a manobra inimiga no combate em profundidade, substituindo o sistema GATOR (lançamento de minas antipessoal e anticarro em clusters (munição que aloja minas) por via aérea. Brigada

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E n g e n h a r i a d e Combate – Forças Pes adas Mo b ilid a d e : A V iatu r a B lin d a d a L a n ç a Po n te s

Cap Eng Fernandes Basto | 2Sar Eng Mariana Bragança

O ressurgimento atual da ameaça convencional de forças pesadas na Europa, em particular vinda de Leste, foi um dos aspetos centrais da Combat Engineers Conference 2017 (Nuremberga, Alemanha), remetendo-nos para os processos e procedimentos mais convencionais da Mobilidade e Contramobilidade, nunca abandonados definitivamente, mas parcialmente adormecidos em prol de maiores esforços no apoio à contrainsurgência. No âmbito da mobilidade um dos principais aspetos destacados é a importância e elevada necessidade de reconhecimentos de engenharia, proporcional à dimensão do sistema viário existente e ao elevado número de obstáculos a transpor, nomeadamente rios e cursos de água, quer do ponto de vista da mobilidade estratégica na projeção de meios por via terrestre, quer do ponto de vista tático. Do prisma do sistema de engenharia, no caso da primeira destacam-se as necessidades de pontes logísticas. Quanto à segunda, do ponto de vista tático, imperam as necessidades de meios flutuantes de assalto e pontes móveis de assalto. Nas últimas enquadram-se as Viaturas Blindadas Lança Pontes, destinadas a garantir a mobilidade tática na transposição de formações de combate em pequenos vãos ou obstáculos, como fosso anticarro, crateras, pequenos rios, ravinas ou pontes parcialmente destruídas. No âmbito do processo de mecanização da BrigMec, a CEngCombPes foi equipada, em 1994, com Viaturas Blindadas de Lançamento de Pontes (VBLP), passando a acompanhar a manobra de formação de CC e de Infantaria Mecanizada. Com um chassi “standard” da série de CC M60 ou M48 modificado, a VBLP tem capacidade para transportar, lançar e recolher um tabuleiro de 20 metros. O chassi do CC é modificado através da remoção da torre e do armamento. Tem disponíveis dois lugares, ocupados pelo operador e chefe de viatura, que constituem a Guarnição da VBLP. Um sistema de apoio da ponte é adicionado à traseira do casco e assegura o suporte necessário para o transporte da ponte. A VBLP tem capacidade para suportar o tráfego de veículos de Classe 60 vencendo um vão de 17,5 metros sem encontros preparados e um vão

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de 18,30 metros com encontros preparados. Esta viatura acompanha a manobra de formações de CC e de Infantaria Mecanizada tornando-se uma solução imediata na ultrapassagem de obstáculos para estas forças. O seu sistema de lançamento do tipo tesoura permite o emprego da VBLP sem expor a guarnição da viatura a fogo inimigo e permite a recolha da ponte por ambos os lados. Esta ponte é de lançamento rápido que pode ser feito em 2 a 5 minutos e a recolha em 10 minutos. Esta viatura pode ser operada em ambiente Nuclear, Biológico e Químico, em terreno irregular, pode ainda ser usado na água até 1,2 m de profundidade, sem equipamento especial e lançar ou recolher a ponte em declives traseiros e dianteiros de 15% ou declives laterais de 8%. Com a entrada ao serviço na BrigMec dos CC LEOPARD Classe 70 e o phasing out do CC M60 colocam-se alguns desafios ao emprego da VBLP. A primeira de todas é de ordem técnica e tática, uma vez que nos deparamos com uma diminuição acentuada das capacidades da VBLP, uma vez que o vão que esta pode vencer para viaturas Classe 70 se encontra limitado a 15 metros e com velocidade de transposição reduzida. Esta limitação, apesar de tudo, ainda permite cumprir com o requisito de força exigido pela NATO às companhias de engenharia de combate, e que se encontra traduzido no QO da CEngCombPes: providenciar o lançamento de pontes móveis para vãos até 12 metros para veículos MLC 70 (T). Ainda do ponto de vista da mobilidade tática, a menor velocidade de progressão da VBLP (48 km/h) compa-

rada com a do CC LEOPARD (68 km/h) significa potencialmente um fator limitador da velocidade de progressão da formação de combate (o M113, apesar de tudo, descola-se também a uma velocidade de cerca de 64 km/h em terreno plano). Por outro lado, do ponto de vista da sua sustentação logística, a manutenção de um sistema de armas que já ultrapassou o seu tempo esperado de sua vida útil, com elevada especificidade e sem efeito de escala (a BrigMec está dotada com 4 VBLP, 2 na CEngCombPes e 2 no GCC) significa a curto/médio prazo, um elevado potencial de obsolescência do equipamento. Ainda do ponto de vista da manutenção da capacidade ao nível da formação e qualificação dos operadores (responsabilidade da CEngCombPes) e condutores (responsabilidade do GCC), residem desafios. Se do ponto de vista da formação de operadores da VBLP não se perspetivam alterações, ao nível dos condutores já não é assim. O phasing out do CC M60 pressupõe também que os Quadros da Arma de Cavalaria deixam de ser formados no CC M60 passando a ser qualificados para operar o CC LEOPARD (o que já acontece). Se num período transitório o know how existente ainda permitirá qualificar condutores, a curto/médio prazo, existe também um elevado potencial para a obsolescência da capacidade. O reconhecimento destes aspetos é essencial para que possam ser acauteladas as medidas adequadas à manutenção da capacidade, conforme determinado superiormente, nomeadamente, enquanto não for equacionada a aquisição de sistemas mais moder-

Fig. 1 – IMISYSTEMS - Israel Military Industries - Joint Assault Bridge for armored vehicles (JAB)

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nos e de maior capacidade. Esta preocupação é, no entanto, comum a outros exércitos aliados, e têm vindo a surgir alguns novos equipamentos, apostando na tecnologia para criar novas soluções e modernizar meios, aos quais devemos permanecer atentos, e de que se destacam: IMISYSTEMS - Israel Military Industries - Joint Assault Bridge for armored vehicles (JAB) Este sistema é em tudo similar ao da VBLP embora seja de maior capacidade. • País de origem: Israel • Sistema tesoura • MLC 85 • Substituiu a VBLP do exército americano PEARSON ENGINEERING - Bridge Launch Mechanism (BLM)

WFEL - Dry Support Bridge (DSB) Este sistema é diferente da VBLP, sustentando-se no lançamento de uma lança hidráulica para a margem afastada que serve de grua para lançamento do tabuleiro da ponte. É lançado atra-

Fig. 2 – PEARSON ENGINEERING - Bridge Launch Mechanism (BLM)

vés de uma viatura de lançamento (rodas) e os elementos do tabuleiro são rebocados ou transportados por uma viatura auxiliar. Este sistema é mais vocacionado para o lançamento de pontes táticas logísticas, embora a sua capacidade de lançamento de grandes vãos num curto espaço de tempo, com recurso a um efetivo muito reduzido tornam esta ponte um sistema bastante

Fig. 3 – WEEL - Dry Support Bridge (DSP)

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interessante e com elevado potencial em apoio às forças pesadas. • País de origem: Reino Unido • Adotada pelo Exército dos Estados Unidos • Instalada por 8 soldados • Vão até 46 metros • MLC 85

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Em termos de funcionamento este sistema também é similar ao da VBLP, embora a ponte de assalto não seja lançada em tesoura, o que implica menores vãos alcançados. Por outro lado, a particularidade do sistema é sua modularidade e versatilidade, pois permite que qualquer CC, VBTP lagartas ou de rodas equipado com um Mounting Kit da Pearson Engineering, possa transportar e lançar uma ponte de assalto quando equipada com o Bridge Lauching Mechanism. O Mounting Kit porém, pode ser utilizado com um largo leque de outros equipamentos de engenharia de combate, como charruas, rolos, lâminas, entre outros. • País de origem: Reino Unido • Lança e recolhe a ponte em menos de 2 minutos • O sistema é leve e especialmente concebido para criar o mínimo de impacto na mobilidade do veículo

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U m Mó d u l o d e Al i mentação par a as A t i v i d a d e s Mi l i tar es de Emer gênci a Cap Cav Sandra Amaro - Cmdt CRT/BapSvc/BrigMec

Durante o verão de 2017, Portugal foi assolado por uma terrível vaga de incêndios que causou um número elevado de vítimas humanas, destruiu património, e expôs os nossos cidadãos a situações de enormes e diversificadas carências. O Exército mobilizou todas as suas capacidades para, numa situação de emergência, ajudar a combater incêndios, proteger bens e pessoas e, também, assegurar o apoio logístico ao bem-estar das populações e às diversas entidades envolvidas. Foi neste quadro que a Brigada Mecanizada organizou e projetou módulos de alimentação para Oleiros. Fizemo-lo com base na organização de campanha, que funcionou. Mas cedo identificámos que poderíamos fazer mais e melhor, quer no domínio da organização, quer do seu funcionamento. Desde logo, o modelo de organização, para além do Comando, deverá dispor de equipas de aquisições/reabastecimento, de confeção de alimentação, e uma outra de materiais, de dimensões variáveis, consoante o efetivo a apoiar e o modelo de reabastecimento definido. Vejamos agora a missão de cada uma delas mais em pormenor: O Comando do Módulo, deve estar preparado para, em coordenação com o RAME, constituir-se como equipa avançada com a responsabilidade de restabelecer a missão atribuída ao módulo, clarificando a modalidade de reabastecimento – canal logístico do Exército – autoridades autárquicas – aquisição local – efetivo a apoiar e modalidade de distribuição, apoios locais disponíveis, nomeadamente, infraestruturas, energia elétrica e água potável. Definição da hora de início do apoio, do local exato para operar o módulo e itinerários principal e de alternativa que a ele conduzam. A equipa de reabastecimento tem por missão obter os artigos de todas asclasses necessárias à confeção e

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distribuição da alimentação confecionada. Consoante a modalidade de reabastecimento definida, está preparada para requisitar, todos os artigos à cadeia de reabastecimento do Exército ou, em alternativa, diligenciar junto das entidades responsáveis pelo reabastecimento o seu fornecimento, podendo identificar-se para o efeito as Autoridades Autárquicas, a Autoridade Nacional de Proteção Civil, ou outras entidades, nomeadamente a Cruz Vermelha, as Misericórdias, ou instituições Particulares de Solidariedade Social. Pode ainda, se necessário, proceder à aquisição de todos ou parte dos artigos necessários à operação dos módulos que, de uma forma simplista poderão incluir, géneros (frescos, congelados, águas para a refeição) os consumíveis de apoio à distribuição (talheres, pratos, cuvetes, guardanapos e outros artigos descartáveis), e ainda os materiais de higienização e limpeza da instalação, equipamentos e dos recursos humanos. A definição, a montante, da modalidade de reabastecimento é indispensável para a definição da missão e constituição desta equipa, que poderá variar na sua dimensão e especialização, incluindo a parte financeira. A equipa de confeção é o cerne do Módulo de Alimentação. A sua missão, para além da confeção, engloba a distribuição e também o armazenamento de todo o stock de artigos da Cl I e VI. O trabalho desta equipa foca-se, numa primeira fase de planeamento, em assegurar as condições para participar na elaboração do plano de ementas estabelecido atentas as capacidades humanas e dos equipamentos disponíveis, e propondo alterações de acordo com possíveis dificuldades na gestão ou reabastecimento de géneros. De acordo com o que lhe vier a ser solicitado deverá estar preparada para operar um local de distribuição, efetuara distribuição descentralizada através de contentores isotérmicos, ou ambas em simultâneo, o que poderá fazer variar o número de efetivos e o tipo de equipamentos a operar. É responsável por operar os materiais mais técnicos, como a cozinha de campanha e equipamentos de frio e, eventualmente linhas de distribuição.

A equipa de materiais tem por missão garantir a montagem, manutenção e limpeza do local onde o Módulo vai operar. A constituição desta equipa permite focar a equipa de confeçãona preparação, confeção e distribuição da alimentação, libertando-a das tarefas de sustentação e segurança do próprio Módulo (manutenção de geradores e tendas, reabastecimento da CL III e limpezas). Na sua constituição é desejável incluir militares de manutenção dos equipamentos principais do Módulo. Definidas as missões das três equipas é agora necessário elencar os recursos materiais principais e humanos para tornar este Módulo exequível. Uma organização tipo poderá ser a seguinte: o Comando (0/1/1), dotado de uma viatura tática ligeira, do tipo Land Rover Defender ou Mitsubishi L200, a equipa de reabastecimento (0/1/1), deverá estar dotada de uma viatura administrativa versátil que permita operações de reabastecimento ou transporte de militares; a equipa de materiais (0/2/4), constituída por duas viaturas táticas pesadas, transporta toda a dotação de materiais necessários à montagem e sustentação do local de operação que compreenderá uma tenda de 4 arcos para apoio da cozinha e depósito de secos, uma tenda de 4 arcos para distribuição, uma tenda de 4 arcos para as guarnições das equipas e uma tenda de 5 arcos para refeitório, eventualmente gerador e torre de iluminação. A equipa de confeção (0/1/6) organizada com três viaturas táticas pesadas com cozinha, dois equipamentos de frio (refrigeração e congelação) e um depósito de água potável para a confeção. A organização tipo deste Módulo de Alimentação é simples e assenta nos pressupostos de que o reabastecimento é garantido pelo canal logístico do Exército e é montado num local onde não existem infraestruturas disponíveis, do tipo cantina escolar, para um período máximo de 72 horas, após o qual é necessária a rendição do pessoal. Estará dotado com1 viatura tática ligeira, de 5 viaturas táticas pesadas e uma viatura administrativa, e é operado por, 5 Sargentos e 11 Praças.A sua operação é, no entanto, de grande

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“Cooperar em missões da proteção civil” e “colaborar em tarefas relacionadas com a satisfação das necessidades básicas e a melhoria da qualidade de vida das populações” são duas das missões do Exército Português.

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complexidade, desde logo na definição das modalidades de reabastecimen-

momento da atribuição da missão.

Numa situação de Apoio Militar de

Exige-se por isso que este módulo

Emergência, a imprevisibilidade e a in-

seja operado por pessoal especializa-

certeza são os dois únicos fatores tidos

do, conhecedor profundo das técnicas

como certos, pelo que as tarefas chave

de confeção e operação dos equipa-

para o sucesso residem numa atempa-

diferenciadas e carenciadas, tarefas

mentos de que dispõe, e também das

da preparação e num baixo notice to

para as quais deverá o RAME estar

normas de Saúde e Segurança no Tra-

move deste Módulo de Alimentação.

particularmente desperto e atento, no

balho.

to, coordenação/ligação com diversas Autoridades e Entidades, garantia de quantidade, qualidade e disponibilidade de refeições para populações muito

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O T ir o do Bat a lh ã o d e I n fa n t a r i a M e c a n i z a d o d e L a g a r t as Uma N ova Per spet i va

Alf Inf Rafael Amador | 1Sarg Inf Sousa | 2Sarg Inf José Filipe

Num Mundo cada vez mais tecnológico e num ambiente operacional caraterizado pela sua volatilidade, incerteza, complexidade ambiguidade e desenvolver-se, na sua maioria no meio urbano, existiria a tendência para considerar a relevância da tecnologia em detrimento do elemento humano, leia-se o Soldado. A realidade tem-nos mostrado, que ambos coexistem, melhor dizendo, se complementam, mas colocando novos e exigentes desafios ao nível da capacidade da perceção da envolvente e da correspondente tomada de decisão, exigindo maiores celeridade e descentralização. Por mais e melhores sensores ou sistemas de armas que equipem os militares, como temos vindo a verificar com as FND projetadas recentemente para os Teatros de Operações (TO) do o Iraque, da República Centro-Africana (RCA), ou num futuro próximo, para o Afeganistão, de nada servirão se não formos exímios na sua utilização. Com vista à preparação dos militares do Batalhão de Infantaria Mecanizado (BIMec) que possam integrar uma Força Nacional Destacada (FND) em TO exigentes, mas também à manutenção dos mesmos para Treino Operacio-

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nal e vida interna da unidade e de todas as missões que nela decorrem, o BIMec tem abordado o treino de tiro com uma matriz de especialização, rigor, progressividade e segurança. Um dos aspetos que tem vindo a ser debatido, e talvez o de maior importância, é o de que cada atirador é diferente, e que o tempo despendido para este atingir objetivos pretendidos é diferente de Homem para Homem. No entanto, a formação do tiro dos militares que servem o BIMec deve ter uma sequência lógica, nunca se podendo passar para uma fase mais à frente sem ter sido atingido o patamar anterior daquilo a que podemos chamar o ciclo da evolução do atirador. O ciclo da evolução do atirador é composto por seis fases, são elas: Sessões Teóricas, onde se toma contacto com alguns conhecimentos de balística e munições, regras de segurança no manuseamento de armas, primeiros socorros, funcionamento das armas de fogo em geral e posteriormente o funcionamento pormenorizado das armas que vai operar; Sala Didática de Tiro (SDT), onde o atirador entende colocar em prática, de forma consciente, os princípios fundamentais do tiro; Tiro de

Precisão, onde o atirador consolida a aplicação dos princípios fundamentais de tiro em carreira de tiro; Tiro Reativo, em que se desenvolvem reflexos condicionados que lhe permitam equacionar corretamente o binómio velocidade/precisão de tiro, disparando rapidamente e com eficácia em situações limite; Tiro Dinâmico, onde se introduz movimento tanto em deslocamentos como durante o tiro, e, por último, Tiro Operacional, onde se deverá ser capaz de efetuar tiro integrado na sua força, contribuindo para a resolução das ta-

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“Uma citação num discurso, artigo ou livro, é como uma espingarda nas mãos de um soldado de Infantaria. Fala com autoridade.” - Brendan Behan

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refas críticas definidas. Para qualquer uma destas fases, é totalmente necessário haver uma consciencialização de que o Treino em Seco é não só necessário como obrigatório, por forma a que os militares adquiram automatismos inerentes ao manuseamento eficiente das suas armas, bem como resolução de falhas de disparo em carreira de tiro que acabam por se refletir na competência das unidades e dos seus militares em situações reais. Durante todo o ciclo supracitado, existe a necessidade de criar meios para que o tiro não seja entediante, mas sim motivacional, e para tal é pertinente não só garantir que os instrutores de tiro mantêm uma postura motivadora, mas também introduzir meios materiais que já estão a ser utilizados em várias unidades e que têm dado excelentes resultados. São eles a introdução de novos tipos de alvos, em que

o atirador é responsável por distinguir a “ameaça” de “amigo”, alvos reativos, rebatíveis e móveis, que permitam ao atirador receber automaticamente um feedback da utilização da sua arma, e até mesmo alvos de tipologia policial, que permitem localizar zonas letais de zonas não letais, úteis por exemplo para treino de tarefas de segurança militar de instalações. Para além dos alvos, a carreira de tiro deve conter várias tipologias de máscaras, de várias formas e tamanhos, para que o atirador aprenda a adquir as tão famosas posições modificadas combinadas. Outro conceito a mudar em termos de treino de tiro no nosso Batalhão é o de aumentar o treino com todas as armas orgânicas das Secções, com especial ênfase para a pistola, com o objetivo de o atirador ganhar automatismos na decisão de qual das suas armas empregar consoante a ameaça

que o opõe, uma vez que as transições de armas principais para secundárias têm tomado enorme relevância nos TO’s, e cuja aplicação prática é inquestionável. Em suma, e concluindo, deparamo-nos com uma necessidade não só da melhoria de tudo o que acima foi referido, bem como da existência de um Manual que sirva como linha orientadora aos Comandantes de Companhia (responsáveis pelo Treino de Tiro dos seus Pelotões), e que lhes permita uniformizar procedimentos/técnicas de tiro adaptados a qualquer fase do ciclo de treino operacional. Se, no que diz respeito aos aspetos técnicos do tiro, existem doutrina e procedimentos testados e consolidados, que são garantia de utilização do armamento com a maior eficiência e eficácia por parte dos militares do Exército atuando individualmente, existe ainda um exigente caminho a percorrer no que concerne à organização, sistematização e validação do tiro de combate executado por unidades constituídas, de que o escalão Secção de Atiradores constitui paradigma. O Batalhão de Infantaria Mecanizado tem integrado boas práticas no que diz respeito a este último tipo de tiro, validadas em aprontamentos de FND e preparação de Unidades de Escalão Batalhão para integrar as Nato Response Forces. É, pois, este desafio de partilha de experiencias e saberes, que queremos transformar em conhecimento, que nos colocamos, e que será objeto de próximos artigos.

REFERÊNCIAS: Manual de Tiro das Unidades Comando, Regimento de Comandos, Março 2013

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P r ep a r a r u ma Un id a d e de Infant ar i a M ecani zada par a Co mb ate r n o Atual Ambi ent e O per aci onal A Relevância de Uma Boa Preparação Física

Ten Inf Costa Freire

Introdução Atualmente vivemos numa época em que a prática de atividade física tem sido bastante incentivada por especialistas e é vista como uma forma de contribuir significativamente para a melhoria da saúde geral do ser humano, autoconfiança, assim como o aumento da esperança média de vida. No entanto, para o militar, o treino físico não tem o objetivo principal de melhorar a saúde nem de aumentar a esperança de vida, mas é encarado como uma condição imprescindível para o desempenho da sua função, tarefas e cumprimento da missão, podendo, em última análise, ser uma condição ditadora da sua sobrevivência. Antigamente, as profissões eram de forma geral fisicamente mais exigentes e as pessoas eram mais ativas, mas com a evolução da tecnologia, a população tem-se tornado mais sedentária, as crianças e os jovens têm práticas de educação física diferentes, quiçá menos exigentes. Constatamos que o tempo dedicado aos videojogos, presença nas redes sociais e também a televisão é predominante nas suas vidas. Esta realidade não é diversa da-

Fig. 1 – Treino Físico Modificado com a integração de dois cadetes Franceses em 30JAN18

quela que observamos nos cidadãos que estamos a incorporar nos quais observamos uma preparação física mais débil, objetivada nos resultados obtidos nas provas físicas. Esta realidade torna o desafio de preparar os novos militares mais importante e aliciante, considerando a necessária evolução da sua preparação física para o desempenho

de funções muito exigentes daquele ponto de vista. Não obstante as evoluções do ambiente operacional que temos vindo a observar, em que muitas vezes se refere o advento da tecnologia como fator determinante para o sucesso, a realidade tem trazido à evidência uma acrescida exigência física e psicológica para os combatentes. Combater em ambientes urbanos, e entre as populações, encurtou as distâncias ao inimigo, como por exemplo na limpeza de compartimentos, onde o perigo é constante e os militares operam sobre um elevado stress psicológico e grande intensidade física. De acordo com a revista Heavy Matter, “Urban Operations’ Density of Challenges” de 2000, onde foi publicado o gráfico seguinte, pode verificar-se que o combate urbano é que gera mais desafios (Fig.1):

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Fig. 1 – Os desafio do Combate Urbano

Segundo o Urban Operations Training Handbook (2012) “aproximadamente 80% das missões futuras irão ser conduzidas em ambien-

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Fig. 3 – Marfor de Batalhão em 09FEV18

te urbano” e, referindo-se ao Exército Norte Americano, “só aproximadamente 8% do nosso treino atual é conduzido em áreas urbanizadas”. Preparação Física no BIMec No Batalhão de Infantaria Mecanizado, o treino físico é considerado como uma das linhas de esforço do seu treino operacional, a par do tiro e do treino técnico e tático. Face aos desafios do atual ambiente operacional todos estamos conscientes da importância do treino físico para o cumprimento da missão, onde se incentiva a prática desportiva diária. Como linhas orientadoras específicas, a prática de exercício físico pelo menos quatro vezes por semana, dos quais uma MARFOR quinzenal, duas sessões de treino em circuito semanais, podendo este ser modificado com inspiração no Crossfit, Insanity, etc., ou em acumulação com corrida contínua, e uma sessão semanal de Combate Corpo a Corpo (podendo ser também em acumulação com a corrida contínua. Para todos estes treinos o instrutor da sessão tem a liberdade de fazer as alterações e modificações, desde que vão ao encontro dos seguintes princípios do treino: Continuidade – O treino para ser eficaz tem de ter uma continuidade e

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assegurar que os estímulos fornecidos ao organismo aconteçam de forma regular e repetidamente com uma periodicidade adequada. Este princípio é muito difícil de obedecer devido aos empenhamentos do pessoal, quer ao nível de serviços ou de exercícios militares. Por esta razão, se possível tentamos fazer MARCOR ou MARFOR nas semanas dos exercícios. Progressão ou Sobrecarga – De forma a existir progressão deveremos, de forma genérica e controlada, aplicar um novo estimulo que, por norma, deverá ser um pouco mais intenso, mas de forma sempre muito controlada. Se a carga se mantivesse inalterada ao longo dos treinos, o nosso organismo deixaria de se adaptar e deixaríamos de evoluir. Reversibilidade – Ter sempre em atenção que se não mantivermos os estímulos físicos de forma contínua ocorre uma reversão das capacidades obtidas. Esta reversibilidade também ocorre de forma diferente para os vários tipos de capacidades, e por norma as que demoram mais tempo a ganhar, também são as que permanecem durante mais tempo após a interrupção do treino

treino, tal como qualquer processo de adaptação, é um processo muito individualizado, obtendo resultados extremamente diversos de militar para militar e de atividade para atividade. O motivo destas diferenças prende-se com fatores genéticos e/ou biológicos e com as vivências anteriores de cada indivíduo. Especificidade – É também importante recordar que o treino de uma determinada qualidade física não acarreta obrigatoriamente melhorias nas restantes. Isto acontece devido aos diferentes processos bioquímicos envolvidos. Um militar não se deve apenas especializar num único desporto, o militar deve ser completo e multifacetado para se conseguir adaptar às diversas situações em campo de batalha. Desta forma tentamos seguir, de modo geral, todos estes princípios na elaboração das sessões de treno físico, ao mesmo tempo que tentamos incutir nos militares o gosto pela prática desportiva, para que estes continuem a treinar por iniciativa própria, mesmo quando o exercício físico não se encontra em horário.

Individualização – o processo de

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B r ig a d a M e c a n i z a d a - 1001 Des afi os Ambi entai s A exigência de um compromisso a tempo inteiro, de todos e para todos

Asp RC Angela Máximo

“A parte mais rica do Curso de Proteção Ambiental foi a visita ao Campo Militar de Santa Margarida” foi um dos comentários que recentemente se ouviu e sem dúvida, muito se aprende nesta unidade sobre as questões ambientais. • Proteção de uma floresta que ocupa a grande parte dos 67000 hectares da unidade • Controlo dos consumos de electricidade, água e combustíveis em toda esta área • Tratamento das suas próprias águas residuais • Tratamento das águas resultantes da lavagem de todas as viaturas da Brigada Mecanizada • Preservação da biodiversidade • Encaminhamento adequado de mais de 480 toneladas de resíduos ano Os tópicos mencionados são apenas alguns dos muitos desafios ambientais que a Brigada Mecanizada tem que enfrentar diariamente sem deixar de viver, treinar e cumprir a sua missão. A preocupação ambiental da Brigada Mecanizada não é recente. Esta unidade tem sido regular candidata ao Prémio “Defesa Nacional e Ambiente” (PDNA) desde 1996, tendo estas sido premiadas em 1996 e 1998. Com a candidatura “Atividades Ambientais desenvolvidas em 2003”, (baseada na otimização da gestão de todo o património ambiental, com vista à implementação de um Sistema de Gestão Ambiental), obteve pela terceira vez o PDNA. Desde 1996 esta unidade dedica uma semana por ano exclusivamente à Sensibilização Ambiental. A designada “Semana do Ambiente” tem sempre atividades práticas para os militares da Brigada Mecanizada, convidados especialistas na matéria que muito nos

têm ajudado a melhorar a cada ano, visitas de estudo e ainda atividades para os agrupamentos de escolas. É necessário procurar novas soluções para os novos desafios e por isso a Brigada Mecanizada apoia vários projetos de investigação. Atualmente decorrem quatro: -- O projeto “Smart Blue Water Camps”, em desenvolvimento pela Agência Europeia de Defesa, focado nas técnicas de gestão de recursos hídricos e intervenções tecnológicas, tendo em vista a redução significativa do consumo de água em instalações militares; -- Projeto RASA – Riscos Associados ao Solo e Sistemas Aquíferos do Campo Militar de Santa Margarida, de monitorização e controlo dos solos com o Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação da Academia Militar (CINAMIL) e o Instituto Superior Técnico de Lisboa (IST); -- Implementação de um Sistema de Gestão Energética com a finalidade de deteção das áreas de intervenção, de forma a reduzir o consumo de energia sem perder qualidade no trabalho e desempenho das missões; -- O aproveitamento da biomassa, atra-

vés da entrega na central termoelétrica do Caima, como fonte energética para produção de energia que é, deste modo, uma forma de utilizar resíduos florestais que, doutro modo, poderiam criar riscos ambientais, nomeadamente incêndios florestais. Desde 2001 o Campo Militar de Santa Margarida partilha com a sociedade civil os resultados do seu trabalho e desde essa data mantém a Certificação Ambiental ISO14001 pela APCER. Os requisitos para atingir esta certificação têm vindo a aumentar o nível de exigência em complexidade, diversidade e rigor a cada renovação bianual, o que tem vindo a colocar desafios acrescidos à estrutura de proteção ambiental implementada na BrigMec, ao mesmo tempo que tem feito transparecer a sua fragilidade ao nível organizativo. Uma Brigada e um Campo Militar certificados ambientalmente, são uma realidade complexa, mas sobretudo evolutiva. As várias janelas que todos os dias se abrem, em variados domínios e em crescente dimensão, aconselham a que se olhe deste presente para o futuro próximo, revendo a estrutura de proteção ambiental da BrigMec, conferindo-lhe especialização e evitando o caráter supletivo. As exigências técnicas, de processos, e as acrescidas responsabilidades ambientais, implicam que se volte a levantar o Gabinete de Proteção Ambiental no Quartel-General da BrigMec com caráter permanente, na direta dependência do Brigadeiro-General Comandante. O presente desafio é a certificação energética, na qual ainda se dão os primeiros passos, na certeza, porém, que, como todo o trabalho já levado a cabo, esta constituirá mais uma forma de diminuir a pegada ecológica do maior Campo Militar português.

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Sist e m a d e G e s t ã o d e Ener gi a na Bri gada Mecani zad a Simples na Definição, Complexo na Implementação

TCor Cav João Paulo Faria

O presente artigo visa esclarecer os leitores dos passos dados até ao momento sobre a implementação de um SGE no CMSM. Para tal desidrato, numa primeira parte, pretende-se caracterizar as motivações que conduziram a esta implementação, tendo como referencial o normativo ISO 50001 que regulamenta o SGE. Numa segunda parte, numa vertente mais prática, descrever o trabalho realizado até ao momento no desenvolvimento e implementação deste sistema.

uma grande poupança. As palestras feitas aos militares desde a estrutura de topo até aos mais baixos escalões

O SGE na Brigada Mecanizada decorre da clara intenção de S. Exa o General CEME de implementar um tal sistema no Exército. Através de uma candidatura, a par dos outros Ramos (Marinha e Forças Aérea), a proposta do Exército foi a escolhida, tendo sido a Brigada Mecanizada, pela sua dimensão e certificação ambiental já existente, a unidade piloto ideal para a implementação, tendo como objetivo futuro estender-se a outras unidades. O ponto de partida ocorreu em março de 2017, com a participação de militares na formação de gestores de energia na área da defesa, desenvolvida pela European Defense Agency (EDA) em Bruxelas. A implementação de um SGE, procura oportunidades para melhoria da organização, estruturar métodos de trabalho e orientação para um melhor desempenho, ou seja, redução de custos para obtenção de melhores desempenhos.

Fig. 1 - Objetivo da Eficiência Energética Militar

Foram, neste âmbito, dados os primeiros passos com a organização de documentação e envolvimento das unidades da BrigMec através da nomeação de equipas, no sentido de operacionalizar as várias etapas deste processo, bem como o envolvimento da estrutura de topo (Comando da Brigada Mecanizada), na elaboração de um compromisso e uma Política Energética. Importa agora fazer a ponte entre o compromisso e o envolvimento das equipas nomeadas para operacionalizar as medidas necessárias à implementação do SGE. Uma das principais medidas foi e “é” de carácter comportamental; porque é um aspeto que pode representar

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controlo e ao planeamento que exigem um trabalho de equipa. Todo o histórico documental e base de dados reunidos revelam algumas fragilidades, sendo difícil correlacionar a informação atual com a já existente. As leituras e equipamentos de registo são áreas de oportunidade de melhoria significativa e essencial para esta implementação, sendo que sem estas o trabalho a ser efetuado ficará comprometido. Tendo por base a metodologia conhecida como “Plan-Do-Check-Act” (PDCA), pretende-se através desta dinâmica “ativa”, assegurar a melhoria contínua do sistema de gestão de energia. Neste contexto o envolvimento e empenho no projeto por parte de todos os militares, é crucial para uma implementação de sucesso. Todos temos de fazer parte.

Fig. 2- Política Energética da BrigMec

Apesar das dificuldades, ainda assim os benefícios são por demais evidentes sendo um caminho de futuro. No imediato é essencial apostar no desenvolvimento e implementação de medidas de carácter comportamental, porque é um aspeto

serviram para dar a conhecer e alertar para aspetos que, apesar de simples, podem ter um impacto enorme na redução do consumo de energia. Identificar as ineficiências e propor medidas ou alterações que conduzam ao aumento da eficiência energética nos edifícios, espaços exteriores, equipamentos, etc, são atualmente o maior esforço da equipa, que está a trabalhar no sentido de preparar a BriFig. 3 - Implementação do SGE gada para uma que pode representar uma grande pouauditoria, conduzida pela EDA, prevista pança sem implicar custos elevados. O para março de 2018. desafio é grande, mas será cumprido. Apesar das motivações e benefíO caminho faz-se caminhando. cios, o SGE também enfrenta obstá“small changes, culos à sua implementação. As dificulinvolving everyone” dades mais relevantes dizem respeito às ações corretivas e preventivas, ao

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O s Pr ime i r o s Pa s s o s Par a Impl ementar a Cul tur a d e S e g u r a n ç a e Saúde no Tr a bal ho Cor Art José Aquino

Mas comecemos por uma breve apresentação do significado de Segurança e Saúde no Trabalho. Estas duas palavras, Segurança e Saúde, estão

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associadas a três outras, Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho (SHST), que, na sua fundamentação, estão relacionadas com conceitos distintos, assim: Segurança está diretamente ligada a acidentes de trabalho e a todas as medidas, em termos de técnicas não médicas, para os evitar (acidentes, incidentes e quase acidentes); Higiene está relacionada com doenças profissionais, sendo o conjunto de métodos e técnicas não médicas para as evitar, sejam elas originadas por fatores de natureza física (vibrações, ruido, luz, temperatura, etc.), por exposição a agentes químicos (corrosivos, inflamáveis, oxidantes, explosivos, etc.) ou biológicos (bactérias, vírus, etc.); Saúde está associada ao estado físico, mental e social (completo) do trabalhador e neste caso do militar, que tem como fatores associados a ergonomia no local de trabalho (postura, esforços e movimentos repetitivos), o estado psicossociológico (condições de trabalho, insatisfação e motivação) e a medicina, com os atos médicos de prevenção, deteção, avaliação e tratamento das doenças profissionais, bem como dos acidentes de trabalho. Hoje, este conceito, está a evoluir para uma nova designação “Saúde Ocupacional”. Em vários períodos da nossa história, as Forças Armadas em geral e os ramos em particular, mantiveram uma preocupação permanente e uma ação direta e indireta na prevenção e segurança do seu elemento fundamental, o militar. O Exército tem elaborado vários documentos para que a Segurança e Saúde no Trabalho seja adequada às reais exigências da atividade Militar. De entre eles o PDE – 23-00 – Manual do Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho do Exército de março de 2012, tem a legislação aplicada à função pública, Lei 102/2009 de 10 de setembro, Regime jurídico da promoção da segurança e saúde no trabalho, alterada e republicada pela Lei nº 03/2014 de 28 de janeiro, que é aplicável às atividades do Exército. Mais recentemente foi difundida a diretiva nº 12/CEME/16

“Programa Anual de Saúde e Segurança no Trabalho do Exército para o Biénio 2016-2017” e, para as Unidades do Comando das Forças Terrestres, a diretiva nº 3/CFT/16 “Programa Anual de Saúde e Segurança no Trabalho do Comando da Forças Terrestres para o Biénio 2016-2017”. Tendo por base estas diretivas a Brigada Mecanizada difundiu a diretiva 16/BRIGMEC/16, Programa Anual de Saúde e Segurança no Trabalho da BrigMec para o Biénio 2016-2017, que, quando da sua avaliação de execução em 2017, foi substituída pela diretiva nº 37/BRIGMEC/17, Elaboração do Programa de Segurança e Saúde no Trabalho da BrigMec para o Biénio 2017-2018. Atualmente entrou em execução a diretiva nº 19/ CEME/18 “Programa Anual de Saúde e Segurança no Trabalho do Exército para o Biénio 2018-2019”, que substitui a diretiva nº 12/CEME/18 de 3 de fevereiro de 2016 e aguarda-se a diretiva do CFT. Do quadro orgânico do Quartel General da Brigada Mecanizada (QO 04.01.06, aprovado em 21/07/15) faz parte um Gabinete de Prevenção de Acidentes (GPA), no qual é centrada a formação da estrutura do Sistema de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SGSST) da Brigada Mecanizada, das suas Subunidades e do CMSM. A constituição deste gabinete é, organicamente, um Chefe (TCor QQA) e um Adjunto (SCh QQA). Ao nível das Unidades, a estrutura é idêntica, no seu Estado Maior está nomeado um Chefe (Oficial) e um Adjunto (Sargento), que constituem o GPA da Unidade, em acumulação de funções e por decisão do respetivo Comandante. Estes elementos, de acordo com o manual PDE 1-23-00, são designados por Técnicos de Segurança e Saúde no Trabalho (TSST) e, para tal, devem ser portadores de formação específica para esta função. As Unidades, para fazerem face às necessidades de acompanhamento, formação e responsabilização, de acordo com as instruções recebidas, a criticidade dos locais de trabalho, a probabilidade de ocorrências e a gravidade estimada das mesmas, procederam à nomeação, por sectores de atividade e em acumulação de funções, de Trabalhadores Designados (TD), estes também devem ser portadores de formação específica para a função. Para oficialização e responsabilização desta estrutura é publicada em Ordem de Serviço da Unidade a sua nomeação e

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Nas várias escolas de formação militar, independentemente do local e do tempo, a formação básica foi efetuada tendo como referência o Manual de Campanha MC 110-10 (Volume I e II). Este manual é, como todos bem se recordam, constituído por várias áreas de formação, das quais se destaca a Técnica Individual de Combate (TIC). Uma das instruções ali planeada designa-se por “Progredir no Terreno” (TIC (00)-0205), de entre as técnicas apresentadas, a progressão por lanços, sendo “sempre um ato vital para o Combatente” e “a sua realização exige reflexão na preparação e proficiência na execução”, exige do combatente uma preparação e resposta a algumas perguntas: “Para onde vou? Por onde vou? Como vou? Quando vou?”. A Segurança e Saúde no Trabalho (SST), poder-se-á dizer, obedece ao mesmo princípio, assim, transformemos “Para onde vou? em “O que vou fazer?”, o “Por onde vou?” em “Como vou fazer?”, o “Como vou?” em “Quais os perigos presentes e os riscos associados?” e “Quando vou?” em “Estão garantidas as medidas de controlo do risco? O risco é nulo? O risco residual é aceitável?”, estas são as questões principais para a avaliação do risco de uma atividade.

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enviada, em cópia digital, ao Comando da Brigada Mecanizada e ao Gabinete de Segurança e Saúde no Trabalho do Exército (GSSTE), que será permanentemente atualizada, quando da cessação de funções e novas nomeações. Mas, como em toda a hierarquia militar, as responsabilidades não se esgotam nos TSST e nos TD, de acordo com o PDE 1-23-00, página 3-30, o elemento principal é o Comandante da Unidade. É o responsável, de entre outras obrigações, por proceder à aplicação dos requisitos legais e dos outros requisitos em matéria de SST, avaliar e determinar quais as áreas críticas, atuando sobre todas as atitudes e procedimentos que possam vir a provocar acidentes ou incidentes de trabalho e doenças profissionais, tomar medidas que visem eliminar, inibir, adiar e minimizar os riscos de exposição aos perigos identificados, elaborar o Sistema de Gestão, o Programa Anual de SST da Unidade, providenciar o conhecimento ao GSSTE dos militares e civis da Unidade que receberam ações de formação em SST e comunicar as nomeações efetuadas. Com esta estrutura a funcionar em pleno, a Brigada Mecanizada, assegura a primeira componente da SST ou SHST, a segurança. Mas para implementação do SGSST é ainda necessário operacionalizar as componentes higiene (doenças profissionais) e saúde (ergonomia, situação psicológica e médica). Se a componente saúde, na área da medicina de prevenção, diagnóstico e recuperação (com a execução de exames médicos de rotina para as provas físicas e quando atingidos determinados escalões etários), é assegurada pelos serviços de saúde do Exército (centro de Saúde de Tancos e Santa Margarida), a vertente de ergonomia talvez não esteja a ser assegurada, o que, com o decorrer do tempo, poderá ser considerada como um fator limitador da identificação de lesões músculo-esqueléticas e potenciador de algumas das consequentes doenças profissionais associadas. A componente psicológica sempre foi vista como um fator fundamental para a motivação e incentivo para condução das missões militares, com o decorrer dos anos, a influência das novas tecnologias e o consequente aumento do stress, tem vindo a demonstrar a existência de um agravamento do estado psicológico dos elementos da instituição. Cada vez mais o militar, como em qualquer outra atividade, necessita do apoio familiar, para se manter “equilibrado” e em condições psicológicas para a perfeita execução das tarefas técnicas, cada vez mais tecnologicamente evoluídas

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e exigentes. Se até há alguns anos se dizia “O capelão é o conselheiro e psicólogo da Unidade”, hoje, com a diminuição da presença desta figura e a sua não substituição por uma avaliação permanente deste fator, poder-se-á estar a potenciar um gradual aumento de depressões e estados de “fadiga física, mental ou sensorial” não identificadas em tempo oportuno. Como pode a Brigada Mecanizada fazer face a esta situação, já grave, e que pode ainda ser reforçada com a diminuição de efetivos e o consequente aumento e acumulação de tarefas? Talvez a resposta tenha que ser estudada, ponderada e sustentada numa análise efetuada por especialistas na matéria. Falta assim, para que o SGSST esteja completo e operacional, a componente higiene (relacionada com as doenças profissionais), que podem ser resultantes de exposição a agentes físicos, químicos ou biológicos. Na área da segurança (security), cada militar quando é transferido de unidade, a secção que controla a sua credenciação de segurança, transfere o seu processo para a nova unidade. E na doença? Não existindo processo de saúde na unidade, mas só no centro de saúde ou no hospital onde foi assistido, podendo não estar reunidas todas as informações de consultas, exames médicos efetuados, bem como os respetivos tratamentos e resultados finais, como é que esse processo vai ser transferido? Existe comunicação permanente e fidedigna, entre os vários locais de assistência, que permitam um acesso aos processos e onde estejam registados todos estes dados? Podem estes dados ser consultados em qualquer dos locais de assistência? Quem atualiza esta informação, onde constam os exames e os resultados de cada um, as medicações, as vacinações e todas as ocorrências de que o militar foi alvo na sua vida profissional? E os não

profissionais, quando passam à disponibilidade o seu processo é transferido para o novo sistema de saúde do cidadão, agora não militar? Uma doença profissional não é o resultado de uma ocorrência, mas sim de um acumulado delas que levam a que seja reconhecida como tal. Por esta razão é urgente que sejam esclarecidos e/ou constituídos mecanismos para operacionalizar esta vertente da SST. Em jeito de conclusão poder-se-á dizer que o SGSST da Brigada Mecanizada está em plena implementação, a sensibilização de cada militar ou civil, bem como dos comandos das unidades, está a “alastrar” a bom ritmo nesta realidade. Se a estrutura para a Segurança está em fase de consolidação e no início dos trabalhos, a estrutura para a Higiene terá que ser, desde já, estudada e implementada. Quanto à Saúde, dada a nossa proximidade com Centro de Saúde Militar Tancos/Santa Margarida (CSMTSM), é uma questão de operacionalização da parte médica. Na componente de ergonomia e psicologia é um “desafio” e uma oportunidade de estudo, de melhoria e de implementação. Não poderemos fazer tudo de uma só vez, mas se em cada dia fizermos um pequeno pedaço, em pouco tempo, teremos a garantia de que os militares que aqui servem trabalham em condições de segurança e saúde. Será assim possível constituímo-nos como um modelo para as outras unidades, instituições e, de forma simples e eficaz, colaborar com eles na sua implementação do SGSST. Que cada tarefa seja realizada em segurança. Nunca nos poderemos esquecer que cada um de nós só tem um corpo, constituído pelos seus membros e que, quase garantidamente, ninguém os quererá perder ou danificar, pois fazem-nos muita falta.

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Dia d a Br i gada M ecani zada Fo rç a D e c is iv a Comemor a o Seu 39º Ani ver sár i o

No dia 6 de abril comemorou-se, no Campo Militar de Santa Margarida, o 39º aniversário da Brigada Mecanizada com a realização de uma Cerimónia Militar presidida por sua Excelência o General Chefe do Estado-Maior. A parada militar realizou-se na Pista de aviação e integrou forças apeadas e montadas que no final desfilaram em continência à alta Entidade que presidiu. As celebrações decorreram com a distinção, elevação e sobriedade que caraterizam o cerimonial castrense, exaltando as tradições, os valores e a cultura intrínsecos a esta Grande Unidade que, ao longo da sua existência, tem constituído o sustentáculo das capacidades únicas da Força Decisiva, no espectro de forças do Exército Português. Para além das entidades convidadas, esteve presente uma delegação de cerca de 60 antigos combatentes do Núcleo de Cantanhede da Liga dos Combatentes, que muito enobreceram a cerimónia.

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Ca mp o Milita r Cel ebr a 1º Ani ver sár i o

10 de outubro de 2017 foi dia de festa na Brigada Mecanizada, mais concretamente, para a Unidade Campo Militar de Santa Margarida (CMSM) que celebrou o seu primeiro ano de existência. As celebrações do dia festivo iniciaram-se logo pela manhã com o hastear da Bandeira Nacional. Posteriormente, realizou-se um almoço festivo em que tomou parte a totalidade do efetivo da Unidade, militares e funcionários civis. O momento alto das comemorações teve início pelas 15h30, com a prestação da Guarda de Honra a S. Ex.ª o Chefe do Estado Maior do Exército (CEME), General Frederico José Rovisco Duarte, prestada à Porta de Armas do Campo, a que se seguiu a Cerimónia Militar Comemorativa da efeméride. Assistiu à Cerimónia o Exmo. Comandante do CFT em suplência Major-General Marco Serronha. A cerimónia foi simples, mas carregada de um profundo significado, enobrecida pela entrega dos Estandartes Heráldico e Nacional. Foi com profunda emoção e sentido das responsabilidades que todo o efetivo da Unidade assistiu à entrega do Estandarte Nacional ao Comandante do CMSM, Coronel de Artilharia José Manuel Vinhas Nunes por sua Ex.ª o General CEME. Nos discursos alusivos ao evento foram enaltecidos o esforço e dedicação que o Campo Militar e a BrigMec têm tomado no sentido de melhorar e rentabilizar processos, procurando novas formas de crescer e criando sinergias fundamentais para ultrapassar os obstáculos conjunturais à concretização da missão de servir Portugal e os portugueses.

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P r es id e n te d a Re p ú bl i ca V i si t a a Br i gada M ecani zada

O Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, Marcelo Rebelo de Sousa, visitou a Brigada Mecanizada (BrigMec), sediada em Santa Margarida. Acompanhado pelo Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, General Pina Monteiro, pelo Secretário de Estado da Defesa Nacional, Marcos Perestrello, e pelo Chefe do Estado-Maior do Exército, General Rovisco Duarte, o Comandante Supremo das Forças Armadas realizou a sua primeira visita a este Campo Militar, único em Portugal, que aloja a Brigada com as forças pesadas do Exército e que, na região, se constitui como uma comunidade militar integral que contribui para a mitigação dos efeitos da desertificação. Após a apresentação sobre a Brigada, efetuada pelo Coronel Tirocinado Eduardo Ferrão, Comandante em Suplência da Brigada Mecanizada, o Presidente da República percorreu algumas das Unidades, recebendo as explicações e questionando diretamente os militares presentes nas demonstrações de meios e capacidades no Quartel da Artilharia, no Batalhão de Apoio de Serviços, no Quartel da Cavalaria e na Carreira de Tiro de Dom Pedro, onde assistiu a um exercício de fogos reais com os sistemas de armas que consubstanciam o elemento dissuasor e garante da capacidade de defesa terrestre nacional. No final da visita, o Comandante Supremo das Forças Armadas deixou uma palavra de incentivo a todos os que servem nesta prestigiada Brigada Mecanizada, digna sucessora da Divisão Nun’Álvares, reconhecendo a forma como têm sabido cumprir a sua missão, com a convicção de que “Feitos farão tão dignos de memória”.

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B r i ga d a Me c a n iza d a Recebe Comandant e do N RDC- SP

A Brigada Mecanizada recebeu em 29 de novembro de 2017, a visita do Exmo. Comandante do NATO Rapid Deployable Corps – Spain (NRDC-SP), Tenente General José Francisco Gan Pampols, do Exército do Reino de Espanha. À chegada foi recebido com as honras militares regulamentares, à Porta d’Armas do Campo Militar de Santa Margarida, a que se seguiu um Brífingue no auditório do Quartel General. Tirando partido de se encontrar a decorrer o Exercício de Treino do Comando e Estado-Maior da Brigada Mecanizada, ‘HAKEA 172’, o Exmo. Comandante do NRDC-ESP, teve a oportunidade de visitar o Posto de Comando da Brigada e posteriormente observar um exercício tático com fogos reais. Já durante a tarde, após uma visita ao simulador de tiro de Artilharia, o Exmo. TGen Francisco Gan Pampols fez questão de vincar a hospitalidade e profissionalismo que testemunhou durante a sua visita, procedendo à assinatura do Livro de Honra da Brigada Mecanizada.

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C om an d o L o g ís tic o d o Exér ci t o Br asi l ei r o V i si t a a Br i gMec

A Brigada Mecanizada recebeu a visita de uma delegação do Comando Logístico do Exército Brasileiro, liderada pelo Exmo. General de Brigada Eduardo Pazuello. Esta visita insere-se no plano de cooperação entre os Exércitos Português e Brasileiro, tendo como objetivos, a identificação de procedimentos de apoio logístico às Forças Nacionais Destacadas (FND) e Elementos Nacionais Destacados (END) em missão nas diversas organizações internacionais e, posteriormente, proceder a um intercâmbio de experiências, dificuldades e soluções no âmbito do apoio logístico às FND. Quanto ao programa desta jornada, após serem recebidos no Quartel General pelo Exmo. Comandante da BrigMec, Brigadeiro General Mendes Ferrão, seguiu-se o brífingue de apresentação preparado pelo Chefe do Estado Maior no auditório do QG e a visita ao Batalhão de Apoio e Serviços, onde a delegação teve a oportunidade de conhecer a Secretaria de Reabastecimento, a Companhia de Manutenção e os principais meios da Companhia de Reabastecimento e Transporte. A efeméride terminou no Salão Nobre do Quartel General, com a entrega de uma lembrança institucional por parte do Comando da Brigada Mecanizada. Um gesto simbólico, mas agradecido com simpatia pelo Exmo. General Pazuello que fez questão de realçar, na assinatura do Livro de Honra, a hospitalidade do Exército Português e da Brigada Mecanizada, nesta sua passagem por Portugal.

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V i s ita à Brig Me c d o Bi spo das For ças Ar madas

Em 19 de abril a Brigada Mecanizada, recebeu, Sua Eminência Reverendíssima, D. Manuel Linda, Bispo das Forças Armadas. A Páscoa é um acontecimento religioso cristão que evoca a ressurreição de Jesus Cristo 3 dias apos a sua morte por crucificação. É por isso o tempo de recolhimento, de penitência e também de festa, particularmente sentido e celebrado em Portugal, onde a tradição e a devoção religiosa do povo se encontram fortemente enraizadas. Nesse sentido a vinda do Sua Ex.ª Reverendíssima (SER) é também uma celebração para muitos dos militares e civis que servem na Brigada Mecanizada (BrigMec) e suas famílias, materializada pela missa de Celebração Pascal que se realizou na Igreja da BrigMec. A homilia litúrgica relativa ao período festivo decorreu com a solenidade e o brilho que são apanágio da BrigMec tendo sido celebrada com simplicidade, inteiro significado.

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M G en L u ís Nu n e s d a Fonseca Cessa o Comando na Br i gMec

Passados três anos e três meses, o Exmo. Major-General Luís Nunes da Fonseca, formalizou hoje, dia 29 de setembro de 2017, o cessar de funções de Comandante da Brigada Mecanizada, numa Cerimónia Militar no Largo São Jorge, que contou com todas as unidades da Brigada na máxima força. Cumprindo o ritual regulamentar castrense as Forças em Parada prestaram continência e desfilaram com garbo e orgulho, perante o seu Comandante, homenageando desta forma o Soldado que com eles serviu, com distinção os comandou e que para eles foi exemplo de competência e abnegação. No discurso que fez no decurso da Cerimónia Militar, o Exmo. Mgen Luís Nunes da Fonseca fez questão de realçar aos homens e mulheres, militares e civis, que perfilavam perante si, um sentimento inequívoco de honra e orgulho por os ter comandado. Terminou, deixando palavras de confiança no futuro e no seu sucessor e exortando todos os militares e civis a elevarem bem alto a divisa da Brigada Mecanizada “Feitos Farão Tão Dignos de Memória”. Já durante os dias anteriores o Exmo. Major-General Luís Nunes da Fonseca teve a oportunidade de visitar as subunidades da Brigada e despedir-se pessoalmente dos Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis bem como assinar o respetivo Livro de Honra. A concluir o cerimonial de despedida, o Exmo. MGen Luís Nunes da Fonseca procedeu à assinatura do livro de honra, no Salão Nobre da Brigada Mecanizada, perante os Comandantes das Unidades, respetivos Adjuntos e o seu Estado-Maior.

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6º F ND /C N/OIR Recebe Est andar t e N aci onal

Celebrou-se no Quartel da Artilharia a cerimónia de entrega do Estandarte Nacional à Força Nacional Destacada (FND) do 6º Contingente Nacional (CN) para o Teatro de Operações do Iraque – Operação INHERENT RESOLVE (OIR). Este dia especial iniciou-se logo pela manhã com o hastear da Bandeira Nacional. Em seguida, numa inequívoca demonstração de prontidão, o 6º CN desenvolveu, na Carreira de Tiro A7 D. Pedro, uma simulação em contexto operacional do espectro de situações que poderá encontrar no TO iraquiano. Após, seguiu-se um salutar almoço-convívio entre o Comando da BrigMec, a FND e seus familiares. Às 15H30 teve início a Cerimónia Militar aquando da chegada de S. Ex.ª Comandante das Forças Terrestres (CFT) em suplência Major-General Marco Serronha, que presidiu a cerimónia, acompanhado pelo Exmo. Comandante da Brigada Mecanizada Coronel Tirocinado Mendes Ferrão. Com grande simplicidade e nobreza, o momento de maior significado da cerimónia ocorreu quando S. Ex.ª o Comandante do CFT procedeu à entrega em mãos do símbolo maior da prátia – o Estandarte Nacional – recebido pelo comandante da força aprontada. De notar em igual medida, a proteção oferecida pelo Comando do Quartel da Artilharia ao contingente com a entrega de uma imagem de Santa Bárbara, padroeira dos artilheiros. Nas alocuções dirigidas à FND, ambos os comandantes tanto do CFT como da BrigMec manifestaram extrema confiança nas capacidades do contingente, desejando as maiores sortes e exortando à dignificação do nome da Brigada e do Exército Português, tendo sempre presente que “feitos farão tão dignos de memória”. Para encerrar da melhor forma tal ato solene procedeu-se ao desfile das Forças em Parada, sob comando do 2º Comandante do Grupo de Artilharia de Campanha Major Luís Sardinha e, posteriormente, já com a celebração oficialmente encerranda, a assinatura do Livro de Honra do quartel.

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E xe r c íci o RO SA BRAVA 17

A Força Decisiva do Exército terminou o seu 1º ciclo de Treino Operacional de 2017, em que a Força Mecanizada 17 (FMec17), produto operacional da Brigada Mecanizada, executou o seu exercício sectorial “ROSA BRAVA 17” no qual participaram 498 militares e 290 viaturas. Este exercício decorreu no Campo Militar de Santa Margarida, no período de 26ABR17 a 12MAI17 tendo como finalidade treinar, avaliar e certificar internamente todas as unidades da Brigada, no planeamento e condução de operações ofensivas, num ambiente Volátil, Incerto, Complexo, Ambíguo e Urbano (VICAU). Durante estes dias pudemos conduzir o nosso treino com as forças no terreno, cumprindo diversas missões e tarefas, para as quais efetuámos planeamentos e aplicámos diversos modelos de organização, potenciando o emprego de armas combinadas em prol de um conjunto que funcionou de modo eficaz e eficiente. Os militares da Brigada Mecanizada apresentaram grande motivação e demonstraram grande proficiência tática e técnica, mas mantiveram uma atitude humilde de saber identificar o que correu menos bem, para poderem corrigir para o futuro, recorrendo ao sistema de lições identificadas e aprendidas do Exército. No final deste Exercício ficou confirmada a nossa especial aptidão para trabalhar em armas combinadas para o cumprimento das mais diversas tipologias de missão. Terminámos mais confiantes nas nossas capacidades e certos da nossa competência. Somos uma força disponível, pronta e credível, ao serviço de Portugal e dos portugueses.

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Par tic ip a ç ã o n o E xer cí ci o ALLIED EFFO RT 17

Decorreu em setembro de 2017, na Brigada Extremadura XI em Badajoz, o Exercício CPX “ALLIED EFFORT 17”, que contou com a presença de 4 Oficiais da Brigada Mecanizada e teve como finalidade estabelecer e validar a estrutura de simulação, comando e controlo desenhada para o Exercício “ALLIED SPIRIT VII”, a realizar em Saragoça, no Centro de Adiestramiento “San Gregório”. Foi ainda objetivo deste exercício, a familiarização das células de resposta com o Posto de Comando, com o Teatro de Operações onde se vai desenvolver o exercício, bem como padronizar todos os procedimentos a adotar no Exercício “ALLIED SPIRIT VII”.

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B r i g a d a Me c a n iz a d a tem novos Inst r ut or es de M í ssi l TOW

Decorreu na Brigada Mecanizada de 27NOV17 a 12DEC17, o 19º Curso de Instrutores do Sistema Lança Mísseis TOW 2, que foi frequentado por 12 formandos (2 Oficiais e 10 Sargentos). O Curso compreende 72 horas de formação, com uma forte componente pratica e pedagógica, que visa habilitar a ministrar a formação aos operadores deste sistema de armas. O Curso concluiu com a execução de uma sessão de fogos reais que permitiu aos futuros instrutores ficarem conhecedores das reais capacidades desta arma anti-carro.

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For m a ç ã o S o b r e S is t emas de Combat e a Incêndi o “P la n o M ar gal i r a 2017”

Em 12 de julho de 2017, no âmbito do apoio da Brigada Mecanizada no combate aos incêndios florestais, decorreu no Quartel de Artilharia, uma palestra e prática simulada ministrada pelo Sargento Ajudante de Artilharia Bruno Martins. A referida palestra, visou sensibilizar os militares do Quartel de Artilharia relativamente à devida utilização e manuseamento de Extintores de Dorso, que fazem parte da dotação dos Pelotões empregues no “Plano Margalira 2017” e como complemento, de extintores de Pó Químico e CO2, que podem ser empregues noutras situações de combate a incêndios. Estiverem presentes, todos os Oficiais, Sargentos e Praças do Quartel de Artilharia.

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Jo r n a d a s d o D ia da Defesa N aci onal 2017 M a i s d e 5 0 0 0 jove n s vi si t ar am a Br i gada M ecani zada

Decorreram na Brigada Mecanizada, em Santa Margarida, no período compreendido entre 27 de setembro e 27 de novembro de 2017, as 13as Jornadas do Dia da Defesa Nacional (DDN) que contaram com a presença de 5.139 jovens cidadãos portugueses. O DDN visa, essencialmente, sensibilizar os jovens para a temática da Defesa Nacional, em particular para divulgar o papel das Forças Armadas (FFAA) e, paralelamente, informar e esclarecer sobre as atuais formas de prestação de serviço militar. A par das atividades diretamente ligadas aos três Ramos das FFAA, levadas a efeito pelas equipas de divulgação, salienta-se ainda o desenvolvimento de ações por parceiros institucionais, nomeadamente pela Guarda Nacional Republicana, Autoridade Nacional de Proteção Civil, Comissão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências e pela Comissão para a Igualdade de Género do Ministério da Educação, no que concerne ao projeto da SEGURANET. Com a concretização destas Jornadas do DDN, a Brigada Mecanizada, através do seu Centro de Divulgação de Defesa Nacional, contribuiu mais uma vez para a prossecução dos objetivos delineados superiormente, garantindo assim aos jovens convocados uma visão mais objetiva das FFAA.

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B r i ga d a Me c a n iz a d a Re al i za a XXIª Semana do Ambi ent e

Entre 04 e 07 de dezembro, celebrou-se no Campo Militar de Santa Margarida, a XXIª edição da “Semana do Ambiente” da Brigada Mecanizada. Responsável por um vasto património natural sobre o qual tem redobrado a sua atenção, a Brigada Mecanizada procura, com esta iniciativa, educar e consciencializar os seus militares e funcionários civis, e 72 jovens alunos das escolas convidadas, para os desafios decorrentes da defesa dos valores ambientais, nomeadamente a importância de uma gestão eficiente dos recursos naturais, incentivando à prática da reciclagem e à adoção de outras boas práticas ligadas à preservação da natureza. Neste sentido, ao longo da semana desenvolveram-se uma série de atividades de caráter ‘ambiental’, destacando-se, logo a começar, a plantação de uma árvore pelos Exmos. Comandante da Brigada Mecanizada e Presidente do Município de Constância. Seguiram-se os mais pequenos que colocaram as mãos na terra e plantaram, também eles, as suas próprias árvores. A semana continuou com uma limpeza florestal, duas provas de Peddy Papper para os mais pequenos, uma prova topográfica ambiental para os nossos militares e três visitas de estudo à SISAV (Unidade de Tratamento de Resíduos perigosos), RESITEJO e AMBIGROUP PLÁSTICOS (Unidade Recicladora de Plásticos). Foram também realizadas várias palestras com diferentes intervenientes, mas sempre com um denominador comum: a proteção ambiental. A encerrar, decorreu no último dia desta “Semana do Ambiente 2017” uma cerimónia de grande significado para a Brigada Mecanizada com o hastear da bandeira da Certificação Ambiental que, desde 2001, vem dar sentido a todo o esforço investido numa redução da “pegada ecológica” da atividade operacional da BrigMec no Campo Militar de Santa Margarida.

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P r oj e to R A S A Pa r a Aval i ar Q ual i dade dos Sol os e Água n o C a mp o Mil i t ar de Sant a M ar gar i da

A Brigada Mecanizada recebeu a 25OUT17 a visita de um grupo de docentes, investigadores e alunos oriundos do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, no âmbito do projeto RASA – Riscos Associados ao Solo e Sistemas Aquíferos do Campo Militar de Santa Margarida: avaliação química e viral, um dos projetos de Investigação, Desenvolvimento e Inovação em que a Brigada colabora, através do Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação da Academia Militar (CINAMIL). Orientada para a proteção ambiental e biotecnologia, a visita teve como objetivos primários a identificação e caracterização dos riscos associados à carga viral e aos constituintes químicos presentes nos sistemas aquíferos e nos solos da Brigada Mecanizada após 60 anos de constante utilização. Recebidos pelo Núcleo de Proteção Ambiental do Campo Militar de Santa Margarida, o grupo procedeu à recolha de diversas amostras de água e terra, retiradas de diferentes pontos da área militar, para posterior avaliação. A preocupação da BrigMec com o meio ambiente é uma constante, sendo este projeto de monitorização e controlo da qualidade dos solos exemplo disso. Trata-se de salvaguardar e diminuir os impactos ambientais provenientes da atividade operacional, tomando a iniciativa de procurar possíveis lacunas no nosso Sistema de Gestão Ambiental, certificado pela APCER desde 2004.

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B r i ga d a Me c a n iza d a n o Combat e aos Incêndi os F l or est ai s

Dos 14.234 empenhamentos de homens e mulheres, militares do Exército Português, no combate aos incêndios florestais de 2017, mais de 1.200 vieram da Brigada Mecanizada. Dos 269 Pelotões de Rescaldo e Vigilância pós-incêndio, 50 eram nossos, assim como 14 dos 79 destacamentos de Engenharia empenhados. Números que refletem a importância que a Brigada e os seus militares tiveram no combate aos incêndios florestais que tanto assolaram o nosso país. Depois de percorridos mais de 60.000 Kms de estradas e caminhos sinuosos entre as cinzas da floresta ardida, é de louvar a determinação e competência demonstrada, uma vez mais, pelos soldados, sargentos, oficiais e civis da BrigMec que sempre se mostraram prontos a ajudar, seja em ações de rescaldo e vigilância, evacuação de populações ou deteção de vítimas. Fazendo valer o juramento que os distingue dos demais, estes homens e mulheres nunca viraram a cara à luta e, mesmo com sacrifício da vida pessoal, marcam presença em 28 diferentes localidades que lutaram contra os incêndios florestais. A Brigada congratula-se com a prontidão e profissionalismo demonstrando por todos estes que contribuíram para a missão, servindo Portugal e os portugueses. São feitos como estes que ficam “tão dignos de memória”.

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B rig a d a Me c a n iz ada e M uni cí pi o de Const ânci a As s in a m P r ot ocol o de Col a bor ação

A Sala de Honra da BrigMec foi, dia 17 de outubro, o palco escolhido para a formalização de um Protocolo de Colaboração entre a Brigada Mecanizada e a Câmara Municipal de Constância. No ato estiveram presentes a Sr.ª Presidente da Câmara Municipal de Constância, Dra. Júlia Amorim, o seu Vice-Presidente Eng. Arsénio Cristóvão, o Presidente da Junta de Freguesia de Santa Margarida, Sr. António Pinheiro, o Exmo. Comandante da Brigada Mecanizada em suplência, Coronel Tirocinado Mendes Ferrão e demais militares do Grupo de Comando. Com a assinatura deste Protocolo, formalizou-se uma colaboração que tem vindo a ser implementada no terreno há vários anos, através da cedência de instalações e equipamentos da Brigada Mecanizada, definindo as atividades que poderão ser desenvolvidas no Campo Militar de Santa Margarida, no âmbito do projeto Pedagógico e de Animação dos Campos de Férias para crianças e jovens dos 3 aos 14 anos do Concelho de Constância, bem como as contrapartidas que daí advêm para a família militar. O Exército Português, através da Brigada Mecanizada reforça deste modo o relacionamento com a sociedade civil, dando um apoio inequívoco à educação e melhoria da qualidade de vida das populações e à família militar.

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Brig a d a Me c a n izada a poi a os Per e g r i nos

O Exército tem apoiado as peregrinações a Fátima durante as celebrações do mês de maio, empregando anualmente um conjunto significativo de meios humanos e materiais, em resposta a solicitações feitas por várias entidades. Este ano com a presença de Sua Santidade Santo Padre, muitos foram os pedidos de apoio pelas várias ordens e instituições. A Brigada Mecanizada no período de 8 a 14 de maio, através do seu Batalhão de Apoio de Serviços, montou e opera 28 tendas para, através do Santuário da Nossa Senhora do Rosário de Fátima, ser prestado o apoio aos peregrinos durante a sua estadia. Estamos, como sempre, próximos e disponíveis, prontos para apoiar os nossos concidadãos.

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Po r ta s Ab e r t as aos M ai s Pequenos

No dia 11 de setembro, a Brigada Mecanizada viu-se, uma vez mais, repleta por combatentes de palmo e meio. Desta feita, foram 35 alunos do ATL de Almeirim a visitar o a Brigada Mecanizada. Numa tarde onde o calor foi uma constante, os alunos do ATL de Almeirim, com idades compreendidas entre os 4 e os 12 anos puderam passar alguns momentos inesquecíveis no Batalhão de Infantaria Mecanizado onde tiveram o seu batismo de passeio em Viatura Militar. Ao longo desta pausa letiva a Brigada Mecanizada recebeu carinhosamente mais de 400 jovens crianças onde deu a conhecer as suas viaturas e as atividades que os militares da Brigada Mecanizada habitualmente fazem. Foi um verão cheio de sorrisos e alegria para os mais novos. Certamente que se irão recordar destes dias por muito tempo, nós certamente que sim.

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2 ª S ã o S ilve s tr e S o lidár i a da Br i gada M ecani zada D e s a fio a c e ite – Compr omi sso cumpr i do

A Brigada Mecanizada acolheu este domingo 758 atletas que, com espírito solidário com a causa, participaram na 2ª edição da Corrida/Caminhada São Silvestre Solidária da Brigada Mecanizada numa organização conjunta com o Município de Constância. A prova, que contou com a participação de 228 crianças e jovens, associou a prática do exercício físico à solidariedade. Numa bela tarde de sol, a Avenida Nuno Álvares encheu-se de pessoas, vindas das mais diversas partes do país, que caminhavam em direção ao pavilhão gimnodesportivo, todas elas transportando os seus donativos para a Loja Social de Constância. Depois, foram mais de quatro horas de provas, para todas as idades, em família, uns correndo, outros caminhando, mas todos transpirando alegria num ambiente de sadia competição e convívio amigo. Para além da prova, foram montadas, com o apoio da Câmara Municipal de Constância e do Núcleo de Santa Margarida da Coutada da Liga dos Combatentes, áreas de lazer especialmente destinadas às crianças, que incluíam torre de escalada, parque de insufláveis e pinturas faciais. No final do dia foram angariadas [2,7 toneladas] de bens alimentares, roupas e brinquedos que serão agora entregues à Loja Social de Constância para apoiar as famílias mais carenciadas do Concelho. Quanto aos resultados desportivos, a encerrar este dia de festa, e já depois da caminhada e das provas para os atletas de palmo-e-meio, foi altura de se assistir à corrida onde o maratonista Bruno Paixão, antigo-militar da Brigada Mecanizada, fez primeiro-lugar cortando a meta com o cronómetro a marcar o tempo de 28’05’’ e afirmando-se como o novo recordista da prova.

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C o r t a-Mato d a s Fo rç a s Ar madas e de Se gur ança de 2017

Decorreu, na manhã de 24 de novembro, na Pista de Corta-Mato do Campo Militar de Santa Margarida, mais uma grande jornada de atletismo na Brigada Mecanizada com a realização do Campeonato Desportivo Militar de Corta-Mato Fase IV (Forças Armadas e de Segurança) de 2017. Nesta prova participaram delegações da Marinha, Exército, Força Aérea, Guarda Nacional Republicana e Polícia de Segurança Pública. No total, competiram 140 atletas (101 masculinos e 39 femininos). Quanto aos resultados, sagraram-se vencedores absolutos a Guarda Maria Vieira da GNR na categoria feminina e o 1Sar Ricardo Dias do Exército nos masculinos. De notar, a proeza alcançada pela atleta feminina ao conseguir estabelecer um novo record na prova com o cronómetro a registar 18’05’’. Por equipas, a GNR foi a grande vencedora. Após a prova, teve lugar no Pavilhão Gimnodesportivo do Campo Militar de Santa Margarida, a tradicional Cerimónia de Encerramento e Entrega de Prémios, onde foram distinguidos os vencedores com as tradicionais e sempre honrosas subidas ao pódio.

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In ic ia r a m Funções na Br i gM ec

Cmdt BrigMec

2Cmdt CMSM

Cmdt GCC

Cmdt BIMec

BGen Mendes Ferrão

TCor Cav Aparício Filipe

TCor Cav Freilão Braz

TCor Inf Gama de Barros

Chefe G3

Chefe G7

Capelão

Cmdt CEng

TCor Cav Gonçalves Serrano

TCor Art Claro Sardinha

Maj SAR Oliveira Carmo

Cap Eng Fernandes Basto

Cmdt CCS

Cmdt CTm

Adj Cmd BrigMec

Adj Cmdt GCC

Cap Art Martins Castro

Cap Tm Correia Soeiro

SCh Cav Neves Pratas

SCh Cav Martins Bernardino

Adj Cmdt GAC

Sarg Operações G3

Sarg Informações G2

Sarg Adj CIMIC G9

SCh Art Cópio Daniel

SCh Inf Rodrigues Correia

SCh Cav Pires Gonçalves

SAj SGE Sousa Amaral

Adj Of Manutenção

Sarg Justiça

Adj Cmdt CTm

Sarg Transmissões G6

SAj Mat Reis Sanches

SAj Eng Monteiro Lourenço

SAj Tm Lopes Silvestre

1Sarg Tm Santos Rosa

04/12/2017

30/01/2017

25/01/2017

03/03/2017

02/10/2017

26/10/2017

04/12/2017

03/10/2017

02/11/2017

01/08/2017

30/01/2017

16/03/2017

09/10/2017

14/09/2017

21/09/2017

12/09/2017

02/08/2017

02/11/2017

25/09/2017

08/09/2017

C e s s a r a m Funções na Br i gM ec Cmdt BrigMec

Cmdt BIMec

Chefe G7

Cmdt CEng

MGen Luís Nunes da Fonseca

TCor Inf Estevão da Silva

Maj Art Oliveira Capitulino

Maj Eng Paulo Cordeiro

Cmdt CTm

Ajd Cmd BrigMec

Adj Cmdt GCC

Sarg Operações G3

Maj Tm Lopes Silva

SMor Inf Almeida Barata

SCh Cav Neves Pratas

SCh Cav Martins Bernardino

Sarg Adj CIMIC G9

Adj Cmdt CTm

Sarg Informações G2

Sarg Transmissões G6

SCh Cav Cardinho Ramos

SCh Tm Grincho Pinela

SAj Eng Dias Pita

SAj Tm Martins da Rosa

03/10/2017

03/07/2017

88

08/09/2017

27/04/2017

18/09/2017

03/12/2017

09/10/2017

14/09/2017

13/02/2017

02/11/2017

28/09/2017

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