Campo Militar de Santa Margarida - 1952-2012

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Editorial O Campo Militar de Santa Margarida celebra 60 anos! Sucessivas gerações de Soldados receberam aqui a sua instrução básica, treinaram como unidades constituídas, manobraram, comunicaram e operaram os mais diversos sistemas de armas e viaturas, e aprontaram para o cumprimento de missões de guerra nos antigos territórios ultramarinos ou mais recentemente para operações de apoio à paz, sempre com o indómito espírito de bem Servir Portugal e os portugueses! O Campo Militar foi sempre uma realidade indissociável da unidade que albergou, chamando-se esta, Divisão Nun’Alvares, 3º Divisão, 1ª Brigada Mista Independente, Brigada Mecanizada Independente ou simplesmente na designação presente de Brigada Mecanizada. O conjunto ímpar de infraestruturas, idealizado nos anos de 1952 e concebido para campo de instrução militar, permitiu estruturalmente, a concentração de unidades de todas as Armas e Serviços no mesmo espaço, gerando sinergia e unidade de comando, e o vasto espaço de manobra disponível com limitadas restrições de segurança, possibilitou treinar, em ambiente austero, e efetuar todo o tipo de tiro com os sistemas de armas das Forças Armadas. De igual forma, a concentração de unidades e o escol de quadros que aqui serviram, permitiram desenvolver os conceitos doutrinários das armas combinadas, na dimensão da NATO, o que projetou a imagem de modernidade do Exército no panorama das alianças internacionais de que o País é membro. Importa igualmente sublinhar o excelente relacionamento, carinho e compreensão que sentimos nas gentes do município de Constância pela nossa realidade operacional, bem como pela constante interação em inúmeras iniciativas de apoio à família militar da Brigada Mecanizada, residente neste Campo Militar. O Campo Militar de Santa Margarida está de Parabéns! Todas as gerações que aqui serviram foram mais fortes que as circunstâncias do seu tempo. Do serviço militar obrigatório ao serviço voluntário profissional, com menos ou mais recursos, com material mais ou menos obsoleto, os Homens e Mulheres, militares de sempre, foram capazes de manter viva a Escola das Armas Combinadas possibilitando projetar o futuro sem temor, sabendo que qualquer solução passará sempre pela capacidade deste Campo Militar em acondicionar todo o tipo de grande unidade, bem como o treino e tiro operacional do Exército e das Forças Armadas. Bem Haja! O Comandante da Brigada Mecanizada António Xavier Lobato de Faria Menezes Major-General

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Este ano o Campo Militar de Santa Margarida (CMSM) comemora 60 anos de existência. Independentemente da data importa evocar o trajeto das unidades aquarteladas no CMSM e do seu contributo de modernidade, de dinamismo e de motivação de quadros ao longo dos 60 anos de presença. Iniciou-se este percurso em 1952 com a criação do CMSM, resultado do cumprimento de compromissos assumidos por Portugal no quadro da NATO e que respeitavam ao levantamento de uma Unidade de Escalão Divisão com a função de ser afetada a missões NATO, no continente Europeu. A década de 50 foi dedicada ao levantamento das infraestruturas do Campo e à preparação e treino das Unidades da Divisão Nun’Alvares, constituída para satisfação dos compromissos assumidos. Na década de 60, face ao eclodir da guerra em África, as unidades da Divisão Nun’Alvares são reorganizadas e desviadas para os Teatros de Operações (TO) africanos, centrando-se a missão do CMSM até meados da década de 70,

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essencialmente para o treino e aprontamento de tropas para esses TO. Com o fim da guerra e a reorientação do esforço do Exército para a plataforma europeia, através da NATO, deu-se origem a uma transformação profunda que conduziu a uma grande alteração dos pressupostos da criação do Campo. A partir de 1978 passou a estar aquartelada no seu interior em permanência a 1ª Brigada Mista Independente. Em 1994 esta Grande Unidade foi transformada em Brigada Mecanizada Independente, com a totalidade dos seus recursos aquartelados no CMSM. No âmbito da Transformação do Exército Português, a Brigada Mecanizada Independente passou a designar-se, desde 2006, de Brigada Mecanizada. Pretende-se com a edição deste número da revista Atoleiros complementar o trabalho elaborado nos anteriores livros editados pela Brigada Mecanizada, em especial o livro dos 20 anos da Brigada Mecanizada Independente (BMI) (1978-1998), o livro dos 30 anos da Brigada Mecanizada (1978-2008) e o livro dos 50 anos do CMSM (1952-2002).


Os artigos que se apresentam nesta revista, foram elaborados pelas unidades da Brigada Mecanizada e retratam a edificação, presença e evolução das várias armas e apoio de serviços no CMSM, ao longo dos seus 60 anos de existência. A introdução pretende fazer uma caraterização dos fatores sociais, políticos, económicos e militares, quer a nível Nacional, mas também Internacional que se assistiram nas décadas de 40 e 50, possibilitando assim a criação do CMSM. No 1º Capítulo descreve-se a evolução da tropa de infantaria neste CMSM, desde a tropa apeada, passando pelo aparecimento da mecanização, pela presença de tropas das Forças Especiais até à projeção de forças destacadas em TO. No 2º Capítulo aborda-se a participação da Cavalaria no percurso do CMSM. O enfase é dado à evolução e presença da sua plataforma de combate por excelência, o Carro de Combate, desde o Carro de Combate M47 “Patton” até ao moderno Carro de Combate Leopard 2A6. O 3º Capítulo destina-se a marcar a presença da Artilharia no CMSM. Este capítulo é dividido em duas partes, a Artilharia de Campanha e a Antiaérea, descrevendo-se com pormenor a

mudança dos vários sistemas de armas ao longo dos 60 anos. O 4º Capítulo descreve a presença da Engenharia no CMSM, com particular enfoque a partir da data da criação da CEng em 1978. O 5º Capítulo, respeitante às Transmissões, aborda de forma exaustiva e pormenorizada a evolução das Transmissões Militares desde os primórdios até à atualidade. O 6º Capítulo desenvolve a forma como as várias funções logísticas se edificaram no CMSM, a partir de 1978. O 7º Capítulo destina-se a abordar o levantamento do apoio de serviços, numa vertente territorial, desde a criação do CMSM até ao aparecimento do Agrupamento Base Santa Margarida. Ontem como hoje, as unidades aqui aquarteladas sempre se distinguiram pelo rigor, disciplina, espirito de servir e eficácia de resultados, fazendo jus à nossa divisa “Feitos Farão Tão Dignos de Memória”.

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A GERAÇÃO NATO “Todos tinham uma vontade enorme de produzir algo de novo, de alterar e modificar o que não estava bem, de actualizar o que estava desactualizado.” Estudo do Esforço Militar Português na Década de 50 Os Compromissos com a OTAN 1. Antecedentes As décadas de 40 e 50 do século XX foram caracterizadas por um elevado isolaccionismo. A II Guerra Mundial, constituiu para Salazar um enorme desafio, pois ao tentar manter o nosso país neutral, relaciona-se economicamente com a Alemanha e diplomaticamente jogava com a Inglaterra e mais tarde com os Estados Unidos da América uma posição de tampão a uma Espanha, cujo papel na guerra podia tender para o lado alemão, colocando em perigo toda a estratégica britânica. Este papel dúbio levou inclusivamente à iminência de uma ocupação inglesa dos Açores, salva in extremis, pela assinatura de um Tratado entre os dois países.

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2. A População A população portuguesa, no ano de 1950, era estimada em 8 441 312 habitantes. Trata-se de uma época em que a procura de mão-de-obra em França e na Alemanha do pós-guerra, determinou uma emigração maciça para além Pirinéus, sendo que este fenómeno é mais nítido, como aliás ao longo da nossa história, nos meios rurais do interior, do que junto dos grandes centros urbanos. Reflectindo a entrada progressiva de Portugal num regime demográfico moderno, com baixos índices de natalidade e de mortalidade, regista-se de igual modo o aumento da esperança de vida. Começa a verificar-se de igual modo, o crescimento espectacular dos «cogumelos»


suburbanos nos concelhos periféricos das duas grandes cidades – a «Grande Lisboa» e o «Grande Porto». A ausência de infra-estruturas habitacionais, sanitárias ou de transportes para receber esse enorme acréscimo de uma população de fracos recursos económicos, gera um conjunto enorme de problemas como a falta de saneamento básico, degradação das condições de vida, aumento da prostituição e criminalidade. Com a explosão urbanística, ocorreu, igualmente importantíssimas mudanças sociais, culturais e de mentalidade que influenciam decisivamente toda a história do período em causa. A proletarização nas indústrias de grande parte da população rural chegada às cidades, o nascimento e expansão de um moderno sector de serviços, a alfabetização progressiva, o maior acesso à educação, à cultura e aos meios de informação, as novas formas de sociabilidade – tudo isso, fará da população urbana e suburbana nas principais cidades e nas áreas metropolitanas, sobretudo em Lisboa e nas margens Norte e Sul do Tejo, um agente de intervenção social e política de importância crescente. Em 1950, a população activa agrícola concentrava quase metade dos activos (48%), enquanto que a indústria transformadora e extractiva concentrava 25% e o comércio concentrava 8% (MATTOSO, 1993c). 3. A Economia No início da década de 50, a acção económica do Governo, procurava fazer face à necessidade de modernização e industrialização do país, às quais se juntavam perante a incapacidade da agricultura acompanhar as exigências crescentes do consumo interno e as da exportação, a hidráulica agrícola, povoamento florestal e colonização interna, entenda-se reforma das estruturas fundiárias. À margem das querelas teórico-políticas, a economia portuguesa, sofria a sua mais espectacular metamorfose de sempre. O país entrou em fase de crescimento económico autosustentado, a sua indústria desenvolveu-se exponencialmente, enquanto que a importância relativa da agricultura decrescia em termos drásticos e definitivos. Dos anos 50 em diante, Portugal deixou, na realidade de ser «essencialmente agrícola» e

a maior parte das suas transformações pouco tiveram a ver com quaisquer medidas de política agrária – que o mesmo não é verdade para as de política industrial. Nesta década, o disparar da industrialização fica a dever-se em grande parte ao arranque da electrificação e da moderna industrialização. A nova estratégia económica do Estado, encetada no pós II Guerra Mundial, procurando enquadrar coerentemente os grandes objectivos da política económica nos chamados «Planos de Fomento», terá sido o elemento detonador desta significativa evolução, promovendo em obediência às tendências gerais do capitalismo europeu, as condições que viriam a proporcionar um acentuado crescimento do sector industrial nacional (MATTOSO, 1993c). 4. O Governo O Governo Salazarista era o único órgão com competência legislativa normal, cabendo no entanto à Assembleia Nacional uma competência excepcional, que na prática não era aplicada, cabendo-lhe unicamente o papel fiscalizador e definidor das linhas fundamentais de orientação de carácter político. Em 1951, a designação de «colónias» é alterada no texto convencional pela de «províncias ultramarinas», para reforçar o carácter integrador da política colonial, bem como para tentar fugir aos ventos de protesto internacionais, designadamente ao nível das Nações Unidas. Voltando à Assembleia Nacional, ela tinha-se tornado num grande conselho político nacional, onde se reuniam, sob a fiscalização atenta do Governo as forças da União Nacional, partido único. O presidente da República que em teoria teria vastos poderes no sistema de «presidencialismo bicéfalo» previsto na Constituição de 1933, na prática encontrava-se completamente esvaziado de poderes, limitando-se a ser uma mera figura decorativa. O presidente do Conselho de Ministros tomava toda e qualquer decisão política, cabendo unicamente aos ministros uma competência sobretudo administrativa, técnica e executiva. Uma das figuras fundamentais que possibilitou a política salazarista de controlo do poder militar foi o General Fernando Santos Costa, que esteve no governo durante 22 anos. A sua acção, começou a

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fazer-se sentir em termos políticos, através do elo que foi estabelecendo entre Salazar e as Forças Armadas, assumindo-se como um técnico militar e como um político, ao iniciar uma série de reformas que passavam pela diminuição dos vencimentos dos militares e pela reforma antecipada de grande número de oficiais, culminando na reforma militar de 1937. Com a ajuda de Santos Costa, Salazar levou a bom porto a sua missão fundamental: submeter as Forças Armadas ao poder político, controlandoas e instrumentalizando-as na totalidade, fazendo com que a legitimidade do Estado Novo assentasse em grande parte na instituição militar, que também era o seu garante (CAEIRO, 1997). 5. O Cenário Internacional Quando termina a Segunda Guerra Mundial, em 1945 e aparece a Guerra Fria, este facto virá não só a alterar a percepção da ameaça como o próprio quadro estratégico da segurança europeia. O desequilíbrio de forças militares na Europa e a institucionalização das democracias populares, que o golpe de Praga simbolizou dramaticamente, vêm alterar de forma radical, a percepção da ameaça à segurança europeia. O inimigo virtual que fora a Alemanha Nazi desaparece e o seu lugar é, agora, ocupado pelo inimigo potencial que se prefigura na União Soviética (TEIXEIRA, 1999). Estaline na URSS, lançava repetidos ataques ao governo português, apoiando claramente a esquerda portuguesa. A propaganda soviética condenava a falta de liberdade de imprensa, de reunião e a não existência livre de Partidos políticos, sendo ainda Salazar acusado do conluio com a Inglaterra e os Estados Unidos (Nogueira, 1977d). No plano externo, um problema continuava a preocupar Salazar. O da recuperação das bases dos Açores concedidas aos ingleses e americanos durante a guerra. Perante o seu receio de as perder definitivamente, o governo britânico toma a iniciativa de abandonar a base conforme o previsto nos acordos de guerra. De Washington, o embaixador português, informa o seu conhecimento de um grandioso projecto americano ainda secretíssimo – uma aliança tripartida – Portugal, Estados Unidos, Inglaterra, para cobertura e defesa de todo o

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Atlântico. Para o efeito, seriam consideradas todas as posições estratégicas portuguesas, quer a norte, quer a sul, auxiliando ainda Washington massiçamente a ampliação e o rearmamento das Forças Armadas de Portugal. Salazar, perplexo e com receio do expansionismo e do chamar a si das amizades e alianças do governo britânico por parte dos americanos, não sabe que por iniciativa destes últimos a Grã-Bretanha adia a sua retirada dos Açores. A admissão de Portugal nas Nações Unidas, acabadas de criar, não preocupa Salazar, pois esta não lhe merece crédito, nem se lhe afigura que venha a ser eficaz ou benéfica, perante no entanto, a insistência americana desejosa de assumir a preponderância nesse organismo, de que Portugal apresentasse a sua proposta de adesão. Finalmente a 30 de Maio de 1946, é firmado com americanos e ingleses um acordo para devolver as bases de Santa Maria e das Lages à administração portuguesa. Enquanto se processam estas negociações, estes dois países reiteram o seu empenho na admissão de Portugal às Nações Unidas, pois sentiam a urgência no reforço, perante a agressividade soviética, da posição dos países ocidentais na ONU, prometendo pôr em jogo a sua capacidade de manobra política e prestígio, perante o veto mais que provável da União Soviética. Finalmente, Portugal manda apresentar o pedido de ingresso em Nova Iorque a 3 de Agosto de 1946, mas a que como já se esperava se opôs vetando, a União Soviética e também a Polónia. Entretanto a defesa colectiva da Europa, continuava na ordem do dia, e os Estados Unidos são autorizados pelo congresso a saírem do continente americano, em tempo de paz, numa coligação político-militar, para prevenir qualquer agressão ao ocidente. Desde esse momento, iniciam-se as negociações entre os cinco países europeus já aliados no Pacto de Bruxelas Inglaterra, França, Bélgica, Holanda e Luxemburgo – os Estados Unidos e Canadá. É preparado então um projecto multilateral, com a designação de Pacto do Atlântico. No preâmbulo, estabelece-se a intenção de proteger, pela força se necessário, os regimes democráticos ocidentais. Em caso de ameaça, que será declarada pelo país ameaçado, os


Estados signatários, consultar-se-ão. Os promotores deste Pacto convidam para serem co-signatários, a Noruega, a Dinamarca, a Islândia, a Itália e Portugal. Portugal surpreso perante o convite, fica indeciso. Concorda na generalidade, mas não com a alusão à Carta da ONU e a profissão de defesa das ideias democráticas, sendo que muitas disposições constantes nessa Carta, poderiam dar-lhe problemas no futuro, em especial com as colónias. Para mais, a Espanha não tinha sido convidada, pondo inclusive em causa o Pacto Peninsular entre os dois países. Cancela de Abreu e em especial Santos Costa, Ministro da Guerra, são de opinião favorável à assinatura do Tratado. E é assim que no dia 4 de Abril de 1949, em cerimónia presidida pelo presidente americano, Truman, Caeiro da Motta, Ministro dos Negócios Estrangeiros, em representação de Portugal assina o Pacto do Atlântico. Portugal tornavase assim membro da maior coligação política e militar dos tempos de paz. Duas perguntas se poderão colocar nesta altura: Porquê o convite a Portugal? A resposta a esta questão é de natureza geopolítica e geoestratégica, estando na base da própria instituição do novo sistema de segurança mundial. Construído em dois pilares, o americano e o europeu, precisava todavia para que o sistema funcionasse, não só da protecção dos flancos norte e sul mas, fundamentalmente, a articulação entre a frente e a retaguarda. Portugal, mais propriamente os Açores conferiam desta forma um valor estratégico acrescentado, revelando-se indispensável no decorrer da Guerra Fria. Porquê a aceitação do convite a Portugal? A razão embora seja de ordem diversa e complexa, prende-se sobretudo com a pouca margem de manobra da política externa portuguesa e dos receios comunistas de Salazar. 6. O Exército do Estado Novo O Exército português no início da década de 50 do século passado era o resultado da reforma militar do Estado Novo levada a cabo por Salazar e Santos Costa através fundamentalmente da Lei 1960 (Lei de Organização do Exército) e da Lei 1961 (Lei do Recrutamento e do Serviço Militar). As grandes linhas-mestres dessa reforma militar consagravam o “... Serviço militar geral e pessoal para todos os cidadãos; divisão

territorial militar do solo nacional em quatro regiões militares e um governo militar (Lisboa); organização imediata de uma Divisão em cada uma das regiões militares e no governo militar; aquisição de armamento para as cinco Divisões (correspondentes aproximadamente a 100 000 homens) e provisão para compra do armamento apropriado a um Exército em mobilização geral (400 000 homens aproximadamente); fortes bases navais em Lisboa, Açores, Madeira, Cabo Verde; manutenção da aeronáutica indispensável à cooperação com as cinco Divisões, sendo de prever desde já a constituição de uma aeronáutica independente, para caça e bombardeamento; artilhar defensivamente os principais portos; manter uma indústria militar capaz de reparar e conservar todo o material de Infantaria e de Artilharia ligeira, de fabricar todas as munições para estas duas armas, e de fabricar todo o armamento a distribuir à Infantaria, Cavalaria e Engenharia” (MARTELO, 1999, 92-93). Com a eclosão da II Grande Guerra, o Exército começou a ser rearmado com diverso material, como o material alemão (as Espingardas Mauser 7.9, Metralhadoras pesadas e ligeiras e Obuses 10,5 e 15cm), o material de Artilharia inglês (obuses 8.8, 11.4 e 14 cm), Metralhadoras ligeiras e Carros Bern e Obuses italianos de montanha 7.5 M/43. As Baterias de Artilharia de Costa de 5.7, 15.2 e 23.4 cm para a defesa de Lisboa e Setúbal, são instaladas também nessa altura. Da Lei 1960 e 1961, são de salientar, entre outros, os seguintes aspectos inovadores: - Para exercer o comando efectivo do Exército, em campanha, era reformulada a função de Major-General do Exército, que se tornava assim a primeira figura da hierarquia do Exército, pois o Chefe do Estado-Maior, era, nessa época, «apenas» Chefe do Estado-Maior do Ministério da Guerra, estando fora da cadeia de comando. Os comandantes das Regiões Militares subordinavam-se em tempo de paz, directamente ao Ministro da Guerra; - Criava-se um Comando-Geral da Aeronáutica Militar, que, tal como as Regiões Militares, ficava na dependência directa do Ministro da Guerra; - Consagrava-se a existência da Legião Portuguesa como componente da estrutura militar. Em tempo de guerra dependeria, para efeitos de emprego, do Ministério da Guerra. Em tempo de

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paz, a Legião podia, também, ser colocada na dependência do mesmo Ministério «para efeito da manutenção de paz e ordem públicas» ou para tomar parte em exercícios (MARTELO, 1999); - O território metropolitano ficava dividido em cinco regiões no continente e dois comandos militares nos arquipélagos dos Açores e da Madeira. - Ao nível do Exército de campanha é pela primeira estipulado o significado de: - Forças militares em operações; - Tropas; - Grandes Unidades; - Destacamento misto; - Comandante em Chefe; - Carta de Comando; - Comandante em Chefe dos Exércitos. - A grande unidade fundamental era sob o ponto de vista táctico a Divisão e sob o ponto de vista estratégico e de serviço, o Exército. - Em relação à organização das Tropas em tempo de paz, ela compreendia: - Unidades de fronteira, organizadas segundo o tipo das unidades de campanha, constituídas com efectivos, e armas, equipadas e instruídas em condições de poderem entrar imediatamente em acção e de assegurarem a guarda e vigilância dos pontos vitais do território nacional e especialmente das fronteiras; - Unidades de linha, organizadas parte em quadros e parte em efectivos, e armadas, equipadas e instruídas em condições de poderem actuar dentro de reduzido número de dias. As unidades de linha, agrupavam-se em 4 Divisões, Tropas e Serviços do Exército e serviços de comando em chefe, e unidades e formações de tropas não endivisionadas. No que toca à Lei 1961, merece atenção especial o estabelecimento da preparação militar da juventude, abrangendo os indivíduos do sexo masculino com idades entre os 7 e os 18 anos de idade (1º escalão) e dos 18 anos até à incorporação (2º escalão), confiada à Mocidade Portuguesa. A duração total do serviço militar nas tropas activas compreendia normalmente o tempo destinado à instrução que não deveria exceder os 4 meses, um ano de serviço no quadro permanente e cinco anos na situação de disponibilidade. O Exército passava a contar então com cerca de 30 000 homens, tendo sido efectuados uma redução no número de oficais subalternos, pois

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o tempo de permanência nesses postos podia chegar até aos 9 anos. É também criado o Corpo de Estado-Maior. 7. A NATO e a Modernização do Exército Português Aquando da entrada de Portugal para a Organização Tratado do Atlântico Norte, o nosso Exército apresentava um enorme desfasamento em relação aos outros Exércitos ocidentais. Apesar de no quadro técnico haver uma excelente preparação dos quadros superiores, tendo por base o método francês, relativamente ao equipamento, pode-se dizer que Portugal “dispunha de um significativo e actualizado parque de Artilharia e de uma razoável defesa antiaérea e de costa das principais áreas sensíveis e portos” (COUTO, 1999, 18). O grosso do Exército encontrava-se ainda organizado, equipado e instruído de acordo com a reorganização de 1937, apresentando “rusticidade e baixo tecnicismo; tracção hipomóvel ainda generalizada; movimentos apeados; motorização reduzida (mas que deu origem a uma legislação disciplinar sobre a circulação auto excepcionalmente dura e radical); meios de ligação e transmissões escassos e de baixo tecnicismo; dificuldade de realização de exercícios interarmas, incapacidade de realização de grandes exercícios que implicassem a manobra de forças com fogos reais” (COUTO, 1999, 18). Com a entrada na Aliança Atlântica a “fase inglesa”, traduzida no estreito relacionamento com o velho aliado, (sendo de salientar a inclusão de forças inglesas nos nossos Planos de Defesa durante a II Guerra Mundial, pelo menos numa 2ª fase do conflito), verá chegar o seu fim, passando os Estados Unidos, superpotência emergente, a ser a nossa nova doutrina de referência, fonte de fornecimento de material militar e local de destino para a maioria dos cursos de actualização dos nossos oficiais. “Face a esta situação, a grande empresa de aderir à NATO poderá ser considerada como uma reestruturação quase completa do Exército português, tanto ao nível das mentalidades, como dos equipamentos e armamentos, das tácticas de guerra, da formação dos quadros, da organização superior do Exército e das unidades” (MDN, 1999, 197). “A participação de Portugal na NATO teve


profundas repercussões nas Forças Armadas. Organização, equipamento, métodos e progressos de instrução, técnicas de Estado-Maior e processos de trabalho foram significativamente alterados mercê do acesso a nova documentação e regulamentos, dos contactos internacionais, da frequência de cursos no estrangeiro e do equipamento recebido ao abrigo da ajuda militar” (MDN, 1999, 210). Anossa entrada na NATO, veio também preparar toda uma geração de oficiais e sargentos, com os conhecimentos e métodos de trabalho, instrução, e treino, que permitiria fazer a transição para uma guerra colonial em três teatros de operações, a tão longas distâncias dos outros e da metrópole, com uma natureza doutrinária completamente diferente para a qual estava preparado (a guerra subversiva). Irão ser profundamente alteradas pela nossa entrada na organização internacional, variadíssimos domínios, como a organização superior do Exército, infra-estruturas, organização das unidades, equipamento, doutrina, instrução e treino e mentalidades dos quadros. Iria surgir nesta fase a chamada “geração NATO”, verdadeiro movimento de baixo para cima, que ajudou a promover um conjunto de jovens oficiais, “motivados pelas novas perspectivas de realização profissional que se abriam” (MDN, 1999, 199), revelando uma abertura de espírito a novas ideias e métodos, tentando dessa forma alterar e melhorar a organização onde estavam inseridos. A base de todo o processo de adesão, foi a definição dos compromissos a assumir pelo nosso país para com a Aliança. Esses compromissos são escalpelizados na Directiva do Ministro da Defesa Santos Costa em 1951, conhecida como “O esforço militar Português”. O compromisso inicial era criar, em caso de guerra, cerca de dez Divisões: o equivalente a duas para Portugal continental; três para a defesa dos Pirinéus; e cinco para a NATO, tendo cada Divisão um efectivo aproximado de 20 000 homens. Este desiderato, revelava bem o atraso do conhecimento militar reinante na altura em Portugal, pois a verdadeira dimensão e tudo o que implicava o levantamento de uma Divisão de Infantaria “tipo Americano” só se começou a aperceber aquando do início do trabalho nos seus quadros orgânicos, levando a que o nosso compromisso com a Aliança fosse diminuindo

gradualmente até chegar a uma Divisão – a 3ª Divisão ou a Divisão Nun’Álvares. Os organismos, que monitorizavam e controlavam tudo o que estava a ser feito em resultado da nossa adesão à NATO, eram o Military Assistence Advisory Group (MAAG) com a missão de avaliar as nossas necessidades em material e verificar o modo como esse material estava a ser empregue e mantido, bem como a partir de 1953 a missão SHAPE, junto do Secretariado Geral de Defesa Nacional, com a missão de canalizar elementos de doutrina para a formação de quadros e para a realização de exercícios. A partir de 1952, o material americano começou a chegar a um ritmo nunca visto, compreendendo materiais de Artilharia, de transportes, sanitário, de transmissões, de engenharia (pontes), carros de combate e variado tipo de viaturas. Grande parte deste material tinha de ficar em depósito, pois não existia pessoal habilitado a lidar e operar com ele. O levantamento desta Divisão vai dar origem à criação de novas Armas e Serviços e corpos de tropas. “Surgem assim: o Serviço de Material, inicialmente organizado, essencialmente, com os engenheiros fabris e outros quadros do que fora chamada “artilharia a pé”; a CHERET; a Polícia Militar que, nas sedes das Regiões Militares, vem progressivamente a substituir as tradicionais “rondas de unidade”; bastante mais tarde, a Arma de Transmissões, essencialmente ao nível dos quadros, por cisão da Arma de Engenharia” (COUTO, 1999, 19). 8. Campos de Instrução e Manobras em Portugal Desde 1849, aquando da iniciativa da reorganização do Exército, surgiu a necessidade de um maior empenhamento do mesmo na experimentação do armamento produzido pelo Arsenal do Exército, bem como na possibilidade de realização de exercícios militares conjuntos, de forma a poder exercitar e adestrar no terreno os vários Corpos com os princípios da arte da guerra, particularmente a capacidade de Comando e Controlo, visando, por outro lado a interoperabilidade de meios, durante a realização de exercícios conjuntos inter-armas, nas diversas situações de combate. Do anterior, os exercícios e as manobras militares decorriam em diversos

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locais do território nacional, na sua maioria organizados exclusivamente por cada Arma, encontrando-se especialmente vocacionados para o adestramento, treino e adaptação das forças sobre regiões de possível influência e interesse estratégico em caso de invasão terrestre do território nacional, zonas consideradas vitais para a Defesa Militar da Nação. Estas regiões representavam Pontos Importantes sobre os possíveis eixos de penetração e invasão terrestre do território nacional, o que permitia às forças em exercícios, com o treino e o seu adestramento, aproximarem-se e ambientaremse com os diversos tipos de terreno circundantes e característicos da região, bem como uma ambientação às condições físicas do possível Teatro de Operações, proporcionando-lhes, antecipadamente, o conhecimento do terreno, permitindo-lhes, dessa forma, uma preparação prévia e antecipada do terreno sobre o invasor, o que representava uma vantagem táctica e estratégica para o defensor, pois lhe permitia o conhecimento do terreno e a preparação antecipada das suas posições defensivas. Por outro lado, no que concerne à preparação e investigação de tecnologia necessária à evolução do armamento, sempre se sentiu a necessidade da experimentação do armamento de fogo produzido nas instalações do Arsenal do Exército, especialmente armamento de Artilharia, tendo grande parte dessas medidas decorrido nas proximidades de locais populosos, especialmente nas imediações de Lisboa, motivada em muito pela sua proximidade ao centro de fabrico e produção. Neste sentido, salientam-se as inúmeras experiências com bocas-de-fogo de Artilharia na Trafaria, em Morfacem, no Alfeite, no Poço do Bispo e em Cacilhas, tendo como área de impactos o próprio Rio Tejo. Estes testes, para além de permitirem uma avaliação dos alcances e das capacidades de cada tipo de material utilizado, garantiam, em simultâneo, uma avaliação concreta das possibilidades de defesa de Costa na entrada da Barra do Tejo e proporcionavam uma avaliação das potencialidades das defesas de Sítio e de Praça nas fortificações no interior e em redor da capital, método este que levava a não serem empreendidos grandes esforços de transporte para as zonas de testes e destas para as dependências do Arsenal (CALHAÇO, 2009). A entrada na segunda metade do século XIX

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possibilitou a absorção de inúmeras ideologias inovadoras para a arte militar, especialmente no que diz respeito à construção e ao fabrico de material de guerra. Nesse sentido, em Portugal, estes factores conduziram, indubitavelmente, à necessidade da criação de um campo de experiências permanente para todo o tipo de armamento, à semelhança dos exemplos recolhidos do estrangeiro, como os casos do Campo de Vincennes e de Chalons, em França, e de Beverlow, na Bélgica. Para a sua implementação, estes teriam que ter uma superfície suficientemente ampla e adequada para a experimentação de bocas-defogo de Artilharia e de outro tipo de armamento ligeiro que pudesse ser fabricado no Arsenal do Exército ou fosse adquirido ao estrangeiro, tendo como condicionantes, encontrar-se na proximidade geográfica das suas instalações, e que utilizasse para isso fáceis acessos para o deslocamento e transporte dos materiais e pessoal, e que não interferisse ou perturbasse as actividades rurais das populações em seu redor, sobretudo as actividades relacionadas com a agricultura e o cultivo dos campos. Neste sentido, escolheu-se a região de Vendas Novas como a mais indicada para o estabelecimento desse local, dada a existência de instalações próprias para tal fim, como o “Palácio das Passagens” e respectivas dependências, cavalariças e oficinas, bem como da ligação ao caminho-de-ferro do Sul. Para além dos aspectos mencionados, a construção da Linha de Caminhode-Ferro do Sul, inaugurada em 1861, permitiria o transporte de pessoas e bens de Vendas Novas até ao Barreiro e, consequentemente, a passagem do Rio Tejo para Lisboa, tornando-se um dos prováveis locais para a concentração de um campo de experiências. A criação da Escola Prática de Artilharia (EPA), em Vendas Novas e do seu Polígono de Tiro, em 18 de Março de 1861, tinha, para além da experimentação de bocas-de-fogo de Artilharia e de armas ligeiras para o Arsenal do Exército, a instrução prática e combinada das várias Armas combatentes do Exército, expressa na realização de exercícios militares conjuntos, bem como a formação prática dos Alunos da Escola do Exército. Este “Campo de Instrução” reunia, assim, em 1861, a Escola Prática do Serviço Combinado de todas as Armas, o Polígono de Artilharia, a Escola Prática do Serviço Especial de


cada uma das Armas e o campo de instrução da Escola do Exército (CALHAÇO, 2009). Devido ao facto de não se poder concentrar grandes efectivos na região de Vendas Novas, surge o Campo de Instrução e Manobras de Tancos, localizado sobre o principal eixo de invasão terrestre no território nacional em torno da confluência entre o Rios Tejo e Zêzere, junto à antiga aldeia de Punhete. A 9 de Junho de 1866 Fontes Pereira de Melo ordenava a formação de um campo de manobras em Tancos e em Outubro desse mesmo ano já ali se efectuavam os exercícios necessários à divisão comandada pelo visconde de Leiria. A sua inauguração oficial, a 14 de Outubro, foi feita pelo próprio S. M. El-Rei, perante 10075 homens e 1116 cavalos, além de 226 prestáveis muares e 30 bocas de fogo, que conviveram muito harmoniosamente na arte da guerra durante alguns dias. Esta área, passados mais de 100 anos continua ainda a servir propósitos militares, embora já não os de campo de manobras e tiro. Perante a necessidade de criação de um novo polígono para efeitos da experimentação de bocas-de-fogo, dado o Polígono de Vendas Novas ter uma dimensão reduzida para tal fim, após inúmeros estudos efectuados para a sua escolha na região das charnecas do Infantado foi, em 1904, criado o Campo de Tiro de Alcochete, ficando, inicialmente, funcionalmente dependente do Comandante Geral do Serviço de Artilharia. Destinado, fundamentalmente à realização de trabalhos científicos e experiências balísticas com bocas-de-fogo e armas portáteis, proporcionava, também, às unidades de Artilharia de Campanha a possível execução de exercícios militares conjuntos para o adestramento da prática do Tiro de Artilharia de Campanha e para o estudo dos efeitos dos projécteis. Durante a primeira década do século XX, iniciaram-se os estudos de outros locais para a realização de fogos de Artilharia de Campanha, tendo como principal critério, a sua localização geográfica encontrar-se materializada sobre os principais eixos de possível invasão territorial. Neste sentido, desde essa data foram realizados estudos para a criação de um Polígono de Tiro na região de Abrantes, na perspectiva da realização de exercícios com Grupos de Artilharia Montada, mais precisamente nas regiões de Codes e Ortiga, a Norte do Tejo e entre a região de Vale d`Arco e Sanheira até Tancos, a Sul do mesmo

Rio (CALHAÇO, 2009). A actual região compreendida pelo Campo Militar de Santa Margarida terá servido como terreno de manobras e treino, pelo menos, desde o levantantamento do Campo de Instrução e Manobras de Tancos, pois existem relatos da sua utilização por tropas de cavalaria e engenharia aproveitando os seus terrenos não cultivados e seu relativo isolamento. A sua criação oficial só veio a concretizarse, no entanto, cerca de 100 anos mais tarde, aquando do levantamento da 3ª Divisão ou Divisão Nun’Álvares. A sua manutenção em condições de prontidão e operacionalidade implicava a existência de uma área para instrução e treino em condições tão próximas das reais quanto possível, com a possibilidade de execução de fogos reais, tanto em carreiras de tiro como em simultâneo com os movimentos tácticos das unidades. Pertenceu ao Ministro do Exército de então, General Abranches Pinto, a decisão da instalação de um Campo, onde finalmente se pudesse efetuar o treino sem restrições de uma Grande Unidade. Na Directiva inicial do Ministro, datada de 17 de Fevereiro de 1951, eram definidos as seguintes condições respeitantes à localização, dando como mínimas as seguintes condições: - Proximidade de vias de comunicação rodo e ferroviárias, e de água em abundância; - Terreno pobre para não onerar o preço total com grandes custos de aquisição e também terreno pouco acidentado para reduzir quanto possível os movimentos de terra, sempre dispendiosos; - Região afastada de povoações e em cujas proximidades se possam realizar à vontade exercícios de todas as armas e de uma Grande Unidade; - Se possível, na proximidadade de zona já servida pela rede eléctrica nacional; - Ficar próximo de campo de aviação. Embora a ideia inicial fosse a de construir um campo de instrução onde fosse possível reunir, no máximo, uma Divisão com todos os seus meios orgânicos em tropas e serviços, durante um período variável em cada ano, com uma utilização temporária, não foi bem isso que depois foi colocado em prática. Os critérios economicistas levaram a que se reduzisse ao número de três os tipos de edificios a construir, sendo um para casernas, depósitos de material, comandos de unidade, alojamento de oficiais e sargentos e refeitórios de praças, só diferindo

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entre si pela compartimentação interior, outro para balneários e um terceiro para instalações sanitárias. As estruturas ligeiras e que seriam apenas destinadas a uma utilização temporária, sofreram uma primeira adaptação no final dos anos setenta, início dos anos oitenta destinada a transformá-las para uma utilização permanente de tropas conscritas. Mais tarde em colaboração com a CP, a estação de caminhos-de-ferro de Santa Margarida foi remodelada para permitir o embarque e desembarque dos carros de combate em larga escala. Surge assim o Campo de Instrução Militar de Santa Margarida, onde durante seis anos se realizaram os exercícios da Divisão NATO. A sua concepção inovadora, pela racionalização da sua implantação, pela leveza, sobriedade, economia e funcionalidade, permitiram, que ainda hoje 60 anos depois da sua construção, continue a ser o paradigma da grande unidade inter-armas, com todas as condições necessárias à instalação e aprontamento de uma grande unidade como um todo. O ano de 1954 marca o início do melhoramento e sistematização de uma instrução planeada, com objectivos perfeitamente definidos, sendo de realçar a execução de exercícios de Postos de Comando (CPX) no terreno, com o intuito de dar aos comandos e aos Estados-Maiores uma melhor preparação para as tarefas que teriam de desempenhar. No IAEM é criado o designado curso dos “S”, que visava a formação dos Oficiais de Estado-Maior das unidades de escalão Batalhão, Grupo e Regimentos, para uniformização dos procedimentos de trabalho. Foram elaborados pela primeira vez em Portugal com todo o pormenor e objectividade, os chamados Quadros Orgânicos Militares relativos a todas as unidades e sub-unidades da 3ª DI. Ao nível do equipamento, o Exército recebe tipos de material e equipamento que nunca possuíra. Veio permitir manobrar pela primeira vez em “todo o terreno”, incluindo a transposição de obstáculos apreciáveis. Entre os materiais e equipamentos contam-se o Jeep de ¼ Ton, de ¾ Ton (o Jipão) e de 2,5 Ton., Carros de Combate, o lança granadas (bazuca), os rádios de cristais e pré-sintonia, equipamento de engenharia para abertura e conservação de itinerários, pontes, os grandes autotanques de combustíveis, os atrelados-oficina do Serviço de Material, as tendas de campanha, redes de camuflagem, entre outros.

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O quadro de modernização vai, reflectirse a todos os domínios de instrução e treino. Introduzem-se de forma generalizada os processos audiovisuais, sob a forma de quadros parietais e dos “filmes de instrução”, de transparências, modelos em corte e simuladores. A organização e o planeamento da instrução, leva à criação de uma nova Repartição e de uma Direcção no EME, à revalorização das Repartições de Instrução das Direcções das Armas e Serviços. A influência da NATO reflectiu-se também no treino. Além de um desenvolvimento crescente de exercícios conjuntos entre os três ramos e dos tradicionais exercícios das unidades, passaram a realizar-se no CIMSM, as chamadas “manobras anuais” as quais tinham a duração de um mês, e iam desde a formação elementar até ao escalão Divisionário. As manobras de 1958 foram, na época, as últimas que se realizaram em Santa Margarida, tendo sido também a última vez que a 3ª Divisão actuou como um todo (MDN, 1999). BIBLIOGRAFIA - CAEIRO, Joaquim Manuel Croca, (1997), Os Militares no Poder – Uma análise históricopolítica do liberalismo à revisão constitucional de 1959, Hugin Editores, Lda, Setembro, Lisboa; - COUTO, Abel Cabral, Gen., (1999), A OTAN e a Modernização do Exército, Jornal do Exército, Nº 472; - MARTELO, David, (1999), A espada de dois gumes: As Forças Armadas do Estado Novo (1926/1974), Publicações Europa-América, MemMartins; - MATTOSO, José, (1993c), História de Portugal, Sétimo Volume, O Estado Novo (19261974), Círculo de Leitores, Lda e Autores; - MDN, (1999), Portugal e os 50 anos da Aliança Atlântica – 1949/1959, Lisboa; - NOGUEIRA, Franco, (1977d), Salazar – O Ataque (1945-1958), Vol. IV, Atlântida Editora, Coimbra; - OLIVEIRA, Luis, TCor (2004), As grandes Reorganizações do Exército Português, Lições Aprendidas, TILD, IAEM; - TEIXEIRA, Nuno Severiano, Doutor, (1999), Portugal e a Fundação da Aliança Atlântica, Jornal do Exército, Nº 472; - CALHAÇO, Nuno, (2009), A Escola Prática de Artilharia no Início do Período Contemporâneo Português, Revista de Artilharia.


em 1977 o Batalhão de Infantaria Mecanizado da então Brigada Mista Independente. De então para cá, a Infantaria tem-se mantido com carácter permanente em Santa Margarida. É este trilho histórico da “Rainha das Batalhas” que vamos tentar percorrer ao longo das linhas seguintes.

1. INTRODUÇÃO Este capítulo visa, de uma forma breve, narrar a evolução histórica da presença da Arma de Infantaria no Campo Militar de Santa Margarida (CMSM). Embora a presença de Unidades de Infantaria em manobras no CMSM tenha acontecido desde o início da sua criação, a presença de Unidades aquarteladas permanentemente remonta apenas a 1976 com o levantamento da 1ª Companhia de Atiradores Mecanizada, embrião do que seria

Coube às Armas de Cavalaria e de Engenharia, bem como ao Quartel- General da Divisão e ao Comando do Campo Militar, serem as primeiras a estabelecerem-se com carácter permanente no Campo de Santa Margarida. As Unidades de Infantaria, nos primórdios, estavam aquarteladas junto das suas Unidades mãe e deslocavam-se a Santa Margarida para participarem em manobras. Nesta altura, o Exército encontrava-se implantado em todo o território nacional, metropolitano, através de Regimentos, e foi com base neste tipo de forças, que durante a década de 50 os exercícios foram sendo conduzidos, numa base anual.

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2. OS PRIMÓRDIOS ( DE 1952 A 1961) Para enquadramento geral da situação que a Infantaria vivia durante a década de 1950, tem que ser referido o facto que os Infantes deslocavam-se e combatiam a pé, ou seja não havia viaturas de transporte de pessoal no campo de batalha. Associado a este facto, está, por outro lado, a integração entre a Infantaria e os carros de combate, embora tenha sido treinada em todos os exercícios desta década e lhe tenha sido dada uma elevada importância, foi sempre dificultada pelo facto do Infante apeado, possuir uma capacidade de mobilidade completamente diferente do carro de combate. Em última instância a Infantaria poderia recorrer aos próprios carros de combate para lhe garantir o transporte, mas os resultados desta forma de atuação não eram muito significativos. O primeiro exercício realizado no CMSM e conduzido pela então designada 1ª Divisão do Corpo Expedicionário Português decorreu entre 01 e 21 de Outubro de 1953. As unidades de Infantaria mobilizadas tiveram por base unidades pertencentes ao Governo Militar de Lisboa, e Regimentos de Infantaria (RI): RI_10, RI_12 e RI_14 tendo estes Regimentos ainda recebido forças de outras Unidades. Assim: • As forças do RI_10 tinham o comando do RI da EPI, e eram constituídas por um BI a duas companhias do RI_10; um batalhão a duas companhias do RI_11 e um batalhão a duas companhias da EPI, mais três companhias de Atiradores do RI_10. • As forças do RI_12 tinham o comando do regimento do RI _12, e receberam 1 Batalhão a uma companhia do RI_9, 1 batalhão do RI_16,

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um Batalhão a duas companhias do CMSM, mais 3 Companhias de Atiradores do RI_12. • O RI_14 foi constituído com base no comando do RI_14, um Batalhão a duas Companhias do RI_8, um Batalhão do RI_13, um batalhão a uma companhia do RI_14 mais 3 companhias de atiradores do RI 14 e uma companhia de recompletamento do RI_ 14(EME, 1988:83) Como se pode verificar esta constituição não era muito coerente e foi produzida com pouco rigor e assertividade não havendo sequer um quadro orgânico bem definido para as forças da Divisão. A mais valia, foi, apenas, tornar as manobras de 1953 possíveis. De uma forma geral estas manobras não foram muito ambiciosas nos seus objectivos, pretenderam “fazer uma aproximação táctica em meios auto e a pé”(EME, 1988:90). Decorreram em duas fases: uma primeira de treino das unidades de escalão batalhão, e uma segunda a da manobra da Divisão propriamente dita. As lições identificadas para a Infantaria, quer por entidades nacionais quer por entidades estrangeiras que assistiram aos exercícios, nomeadamente o Coronel SIDNEY BROWN chefe da missão do SHAPE em Portugal, foram: (EME, 1988:94). • deveria ser aumentado o tempo de instrução em Santa Margarida para 2 meses, após 16 semanas de instrução individual visando a integração entre a Infantaria, Carros de Combate e Artilharia, bem como o trabalho dos Estadosmaiores dos Regimentos; • possibilidade de enviar comandantes de batalhões e regimentos de Infantaria para exercícios na Alemanha; • aumentar a capacidade de supervisão do treino por parte dos Regimentos de Infantaria. Foram também identificados problemas na instrução de base nas companhias de atiradores que provinham de centros de instrução diferentes. Ressalta ainda a necessidade de se continuar a desenvolver esta escola de armas combinadas e aproveitar o campo de Santa Margarida com a capacidade para 20000 militares para praticar, treinar e evoluir. O treino do ano de 1954, para as unidades da Divisão teve início com um exercício de postos de comando, que decorreu entre 15 e 16 de fevereiro que teve a finalidade de treinar os comandos do RI e dos Batalhões de Infantaria (BI) na tomada de decisões e difusão de ordens. A opinião geral


sobre este exercício foi que decorreu da forma esperada sendo notados alguns progressos no trabalho dos chefes das secções de EM. As lições aprendidas do exercício do ano anterior mostraram que as forças de Infantaria provinham de um vasto leque de Únidades e constituídas de uma forma pouco coerente. Por forma a colmatar esta situação, foi decidido por despacho de 6 de Maio de 1954 do Subsecretário de Estado do Exercito, (EME, 1988:106). que as tropas de Infantaria da designada, (a partir deste despacho) 2ª Divisão, eram garantidas pelos RI_10, RI_12 e RI_14 cada um deles dando o comando do Regimento, um Batalhão de Infantaria e um Batalhão de Recrutas de Santa Margarida. Eram ainda acrescentados mais três batalhões de recrutas dos RI_2, RI_7 eRI_15. Esta organização manteve-se até à Criação da 1ª Brigada Mista Independente. O que se pretendeu foi dotar da capacidade de mobilização as Unidades de Infantaria com os meios necessários para desencadear esse processo. As manobras decorreram de 11 de Setembro a 08 de Outubro e tiveram um percurso crescente de aplicação de forças, ou seja, começaram por ser treinados os mais baixos escalões até à manobra geral da Divisão, quer em temas de defesa quer de ataque. Para a Infantaria, as lições aprendidas neste ano foram que a fraca instrução ministrada durante a escola de recrutas se reflectia depois nos exercícios de escalão Agrupamento. Concluise que as tropas devem ser completamente proficientes nas tarefas do escalão imediatamente abaixo do qual se está a realizar o exercício. Foi ainda notada uma deficiente capacidade na instrução de esgrima com baioneta, bem como falta de viaturas para instalar postos de comando e redes de camuflagem, quer individuais, quer para viaturas. Não sendo problemas que a Infantaria pudesse resolver directamente, eram importantes para o seu treino. É verificada a necessidade dos Batalhões de Infantaria passarem a contar com um 2ª Comandante. Por último, para melhor funcionamento da Divisão, o seu Quartel-General deverá passar a ser constituído com base no da 3ª Região Militar em vez da 2ª, passando também a Divisão designar-se desde esta altura de 3ª Divisão. No ano de 1955 a Divisão destinada ao SHAPE, então designada de 2ª Divisão passa a chamar-se 3ª Divisão . As manobras divisionárias decorrem entre 05 de Setembro e 01 de Outubro.

Relativamente às implicações para a Infantaria, na fase de planeamento é levantada a necessidade de: • treino nocturno, • aumento do treino das Pequenas Unidades, incluindo fogos reais, antecedendo os exercícios dos escalões superiores, • dotar as Unidades de escalão Batalhão e Regimento dos seus quadros de transmissões. Foi ainda treinada a cooperação Infantaria / Carros de Combate. O ano de 1956 traz um avanço significativo para as Armas combinadas Infantaria/Carros de Combate. É neste ano que é executado um plano de treino a partir do escalão secção de atiradores, por forma a integrar os carros de combate. Não foi completamente executado o planeamento devido à forte chuva que caiu até final de maio, no entanto já foi um grande avanço que se veio a concretizar nos anos seguintes. As manobras de 1956 foram planeadas tendo em vista a visita do Marechal MONTEGOMERY e decorreram entre 30 de Agosto e 6 de Outubro, sendo os principais problemas identificados para a Infantaria, a deficiente preparação dos militares, quer do Quadro Permanente, quer do Quadro de Complemento, bem como dificuldades na manutenção de equipamentos e armamento. No ano de 1957 dá-se um incremento significativo na cooperação entre Infantaria e os Carros de Combate com a realização de diversos treinos conjuntos aos baixos escalões de 01 de maio a 19 de junho. Relativamente às manobras anuais propriamente ditas elas decorreram de 1 a 28 de Setembro nas modalidades de treino de posto de comando e treino de armas combinadas Infantaria/ Carros de Combate até escalão Batalhão. Não houve nenhum exercício de manobra de Divisão. Assim sendo, foi dada ênfase ao “pormenor”, como se pode verificar na saudação do General Buceta Martins, Comandante da 3ª Divisão na saudação que dirigiu em 04 de setembro: “Por isso mesmo, o programa de exercícios a realizar visa a trabalhar o pormenor, no quadro das pequenas Unidades. Se esta orientação – trabalhar o pormenor- for geral e severamente prosseguida, a 3ª Divisão, a despeito da eliminação do exercício de conjunto divisionário, poderá obter um grande benefício para a sua preparação…. Este trabalho de pormenor não exigirá- muito

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ao contrário- menos tenacidade, severidade de controlo e esforço físico e intelectual dos comandos em todos os escalões e das tropas.” (EME, 1988:120) Para as Unidades de Infantaria esta situação revelou-se muito proveitosa. O ano de 1958, constitui-se como o último ano em que a 3ª Divisão realizou as suas manobras no CIMSM. Isto ficou a dever-se por um lado à nomeação do General Buceta Martins para Comandante da Academia Militar, o que se revelou vir a ser uma grande perda pois era um grande dinamizador dos trabalhos da Divisão. Por outro lado, o surgimento da dúvida quanto à capacidade de reorganização das forças da Divisão para poderem ser empregues na Guerra Colonial que viria a eclodir em 1961. Para a Infantaria este ano fica marcado pelo continuar da matriz de trabalho desenvolvida nos anos anteriores, ou seja: partindo do treino individual, ir aumentado os conhecimentos dos quadros e tropas, por forma a poderem ser empenhados na manobra da Divisão. Este ano as manobras decorreram entre 7 a 30 de setembro. Das lições identificadas neste exercício, para a Infantaria houve a reter que era necessário mais treino individual e que o período destinado, dentro das manobras ao treino dos batalhões poderia ser suprimido, desde que esse treino fosse feito nas suas Unidades de origem, revertendo este tempo para a manobra geral da Divisão. No ano de 1959 não se realizaram manobras da Divisão, apenas exercícios de Postos de Comando e um Exercício de Agrupamento Táctico (AgrT), aproveitando o facto das unidades como um todo terem sido projectadas para Santa Margarida para a execução apenas dos exercícios de postos de comando. No conjunto este treino decorreu de 3 a 19 de agosto. Foram constituídos Sub-Agrupamentos (SubAgr) com unidades de Infantaria, Artilharia, Cavalaria (Grupo de Carros de Combate e Esquadrão de Reconhecimento) e Engenharia. Das lições identificadas para a Infantaria salienta-se o facto de uma dificuldade de comando e controlo dos SubAgr por parte do comando do Agr uma vez que estavam empenhados na execução dos exercícios de PC que decorria em simultâneo. O ano de 1960 fica marcado pelo exercício de

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postos de comando BASTÃO e pela execução, já pretendida há alguns anos, da parte final da Escola de Recrutas com destino às Unidades de Infantaria e Artilharia, decorrer em Santa Margarida. De salientar que um dos Batalhões de todos os Regimentos de Infantaria da Divisão era um Batalhão da Escola de Recrutas. Pretendia-se com este treino no CIMSM para além da instrução específica da Escola de Recrutas, treinar a integração em armas combinadas: Infantaria/ Artilharia, Carros de Combate, Engenharia. Devido a custos deixam de se realizar manobras da Divisão como um todo, voltando a repetirse a modalidade do ano anterior de exercícios de Agrupamento Táctico, com foco no treino integrado de armas combinadas. Esta decisão ficou expressa no despacho do CEME de 09 de Abril de 1960: “A Divisão deverá fazer as suas próprias manobras ao nível Agrupamento Táctico (…) O treino das tropas ( combinação Inf, Art e Carros) é muito importante, (…). As manobras da Divisão completa (…) só com um intervalo de 3 a 4 anos se poderão voltar a realizar, dado o seu grande custo.” (EME, 1988:216). Como forma de rentabilizar o treino, dados os meios disponíveis, foi decidido testar o emprego de um tipo de força diferente: uma Brigada de Infantaria. Os meios materiais e humanos eram extremamente menores comparados com os da divisão. Era um tipo de forças que se vinha a ser pensado e trabalhado na NATO. Assim, garantido o apoio do SHAPE foi criada a Brigada de Infantaria LANDCENT. As já tradicionais manobras anuais decorreram entre 4 e 19 de Agosto e serviram para; • a concentração de forças e organizar a Brigada, • um exercício interno das sub unidades da Brigada e para um exercício de Brigada. Em termos de forças de Infantaria esta Brigada era composta por 3 batalhões provenientes dos RI_2, RI_7 e RI_15. Das conclusões do exercício resulta uma grande necessidade de conceitos doutrinários para o emprego deste tipo de forças. Com o desencadear da Guerra colonial em 1961, não foi realizado o exercício BATALHA que estava previsto para esse ano, que incluía a cooperação, participação de uma Unidade Britânica, mas que também por razões estratégicas britânicas no dia em que deveria embarcar para Portugal, não o fez. (EME, 1983:30)


Nos anos de 1962 e 1963, embora já com a Guerra Colonial em curso, o Exército ainda procurou manter o treino de armas combinadas por forma a garantir a satisfação dos compromissos assumidos com a NATO. Assim em outubro e novembro de 1962 os RI 2, 7 e 15 garantem uma companhia cada para a realização de um exercício. Em 1963 embora decorra um treino de fogos reais, a Infantaria já não participa.

durante este período. 4. DO FINAL DA GUERRA COLONIAL ATÉ AO FIM DA GUERRA FRIA

3. O PERÍODO DA GUERRA COLONIAL (DE 1961 A 1974)

O marco histórico que levou a esta quebra de continuidade foi o eclodir dos conflitos no então designado Ultramar Português. O esforço das Forças Armadas em geral e do Exército em particular, deixa de ser o Teatro de Operações da Europa Central, para passarem a ser os territórios portugueses em África. Neste período, a responsabilidade de mobilização e aprontamento de forças para serem projectadas para os teatros de operações ultramarinos passou a ser do Regimento de Cavalaria 4, sendo as unidades projectadas com a designação de Batalhões ou Companhias de Cavalaria. Durante este período, o RC _4 projectou 13 Batalhões a 4 Companhias e mais 18 Companhias Independentes para os três teatros de operações: Angola, Moçambique e Guiné(QG/ CMSM, 2002:104). Em termos de técnica individual e táctica de pequenas unidades podemos afirmar que a Infantaria está presente durante todo este período, pois era com base nos conhecimentos e organização das unidades de infantaria que as forças foram levantadas, organizadas, treinadas, desenvolveram as suas ações de combate e foram retraídas novamente para o território metropolitano. No entanto como unidades “puras” de infantaria estas não estiveram presentes

Com o final da Guerra Colonial e com o normalizar da situação político-militar vivida após o 25 de Abril de 1974, o Exército português voltase novamente para a NATO. O contributo de Portugal para a defesa coletiva aliada tinha sido modificado entretanto. Assim, do emprego previsto da 3ª Divisão no centro da Europa, na década de 1950, passou-se para o emprego de uma Brigada de reforço ao comando sul da Europa tendo como sector atribuído uma região no noroeste de Itália, sendo esta força atribuída ao SACEUR. Assim, por despacho do então Chefe de Estado-maior do Exército (CEME), General Ramalho Eanes, foi decidido levantar uma Brigada com reduzidos elementos com forças blindadas e mecanizadas, com elevada prontidão, cujas Unidades se deveriam localizar no Campo de Santa Margarida, ou regiões vizinhas e que deveria ser o ponto de partida para a renovação técnica e táctica do exército. Dando cumprimento a este desígnio é formalmente constituída, através do decreto-lei 91/98 de 11 de Maio de 1978 a 1ª Brigada Mista Independente. Relativamente a Unidades de Infantaria, esta Grande Unidade contava com 3 Batalhões, sendo um equipado com Viaturas Blindadas de transporte de pessoal – M113, o BIMec, permanentemente aquartelado em Santa Margarida e mais dois Batalhões de Infantaria Motorizados: o 1º BIMoto aquartelado em Tomar no então Regimento de Infantaria de Tomar e o 2º BIMoto aquartelado em Abrantes, no Regimento de Infantaria de Abrantes. Os BIMoto destinavam-se ao combate apeado e possuíam grande capacidade de combate em

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qualquer tipo de terreno sob quaisquer condições climatéricas, em operações em que a velocidade não fosse factor essencial. Estas unidades só se deslocavam ao Campo de Santa Margarida para treinos e exercícios. Por seu turno, o BIMec, criado de raiz a 15 de Março de 1977 no Campo Militar de Santa Margarida e aí permanentemente aquartelado, estava equipado com os diferentes modelos da viatura blindada de transporte de pessoal – M113, Estes meios, garantiam a fácil integração entre a Infantaria e os Carros de Combate e estava dotado de grande flexibilidade de emprego, uma vez que usando a viatura, os Infantes podiam acompanhar os Carros de Combate, podendo sempre que necessário desembarcar e combater a pé. Embora este Batalhão tenha sido totalmente levantado em Santa Margarida, os militares que integraram a 1ª Companhia deste batalhão, encarregue de receber as primeiras 20 viaturas M113 A1 de origem Norte Americana , e ocupar as instalações (provisórias, onde hoje se situa o Batalhão de Apoio de Serviços da BrigMec) tiveram origem numa Companhia do Regimento de Infantaria de Abrantes, que selecionou, aprontou e treinou e projetou estes militares para Santa Margarida no ano de 1976. Só em 1977 é que o BIMec ocupou as actuais instalações . No que concerne às viaturas, há que referir que vieram por transporte marítimo até ao porto de Lisboa, sendo depois embarcadas em plataforma ferroviária até à estação de Santa Margarida . Como forma de ilustrar os primórdios desta Unidade de Infantaria e o espírito então vivido apontam-se os testemunhos recolhidos a alguns dos protagonistas dessa época num recentre encontro (10 de Outubro de 2012) no 1º BIMec: O 1º Comandante do BIMec - Coronel (REF) Barroso de Moura. O início da alocução, realizada de improviso, impôs no ambiente da sala onde decorreu a reunião de trabalho, um profundo silêncio, denotando a plateia um misto de expetativa e respeito pelo primeiro Comandante do BIMec. Destacam-se do discurso proferido os aspetos seguintes: a. A ênfase e elogio imediato à lealdade e qualidade dos Oficiais, Sargentos e Praças que serviam na Unidade, distinguindo sem hesitações o TGen (REF) Rino, TGen (REF) Vizela Cardoso, TGen (REF) Silvestre Martins. b. Os desafios sentidos na ação de comando,

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provocados por influências políticas próprias do período conturbado e incerto do pós 25 de abril, visavam dispersar, dividir, a unidade de comando do BIMec que possuía à data entre oficiais, sargentos e praças, cerca de 1000 militares. c. A edificação da primeira unidade mecanizada do exército português caraterizouse pela existência de um “espírito novo” para o Exército. Da existência de um espírito de entreajuda, onde cada um exercia o sentido de responsabilidade que lhe competia, procurando contribuir para a resolução dos problemas da unidade. Simplesmente, o dever de cumprir, colaborando em permanência para o princípio do bem-fazer. d. O sentido do “espírito novo” traduz-se no lema seguinte: Aperfeiçoar o que está bem e remediar o que está mal. O Oficial de Operações do BIMec – TGen (REF) Cardeira Rino Em resultado de determinações superiores deixa a unidade de operações especiais em Lamego para servir o BIMec como Oficial de Operações. Releva-se da alocução a perceção das enormes dificuldades que em 1975 se faziam sentir em todo o Exército, talvez, bem mais graves quando comparadas com as que hoje se sentem. Da desmotivação sentida, em resultado do estado caótico que o país vivia, surge associado à vinda para a Brigada Mecanizada um inesperado incentivo, muito devido à existência de nova tecnologia e doutrina, promovendo uma dinâmica que se traduz nas palavras seguintes: foi uma vida nova e…COMEÇÁMOS! Fomos muito felizes aqui em Santa Margarida. Os ciclos existem e vão continuar, permanecendo a necessidade do Exército continuar a prestar um Serviço a Portugal e aos Portugueses. O Comandante da Companhia de Apoio de Combate – TGen (REF) Vizela Cardoso O destaque realizado a Oficiais do BIMec durante a alocução do Coronel Barroso de Moura foi complementado, porquanto, no seu entendimento, o sucesso e padrões atingidos no BIMec deveu-se ao empenho de todos, oficiais, sargentos e praças. Inclui-se com distinção o TGen Silvestre Martins. Por determinação do Brigadeiro Jasmim Freitas, é designado para vir para o BIMec para levantar a Companhia de Apoio de Combate. Veio com a missão de trabalhar uma vertente tecnológica


até então desconhecida, com a qual se constatou que a formação dos quadros necessitava de um aperfeiçoamento abrangente para fazer face à disrupção cognitiva que então os novos sistemas de armas promoveram ao nível dos quadros do Exército. Regressou mais tarde ao BIMec como 2º Comandante. Em conclusão, evidencia-se que a existência de novos sistemas de armas e tecnologias requerem uma lógica de sustentabilidade, plurianual, que nem sempre é devidamente identificada. Temos dificuldade em sustentar o que é bom. Temos dificuldade em sustentar o investimento realizado na Defesa. O Oficial de Informações do BIMec – MGen (REF) Afonso A novidade das funções, associado a uma integração numa unidade em edificação, constituíram à data os motivos principais de motivação para fazer face ao desafio com que se deparava. Para além dos aspetos referidos e de tudo ter que ser erguido de novo, existiam particularismos da unidade que lhe permitam desencadear uma mística única (i.e., posição de sentido de punhos fechados, movimento do ombro arma diferente do regulamentado, existência do código de honra). Obviamente, que a existência destes aspetos diferenciadores visavam incrementar a unidade de comando, obter um elevado espírito de corpo e assegurar um elevado sentido de disciplina, totalmente contrário às tendências que se viviam na maior parte das unidades do Exército no período conturbado do pós 25 de abril de 1974. Temia-se, então, a existência de unidades com elevados padrões de disciplina. A dedicação, empenho e iniciativa atingiram padrões extremamente elevados e, notavelmente, sempre com um sorriso na cara de cada Soldado . Dado o ambiente geopolítico que se estava a viver durante este período, a 1ª Brigada Mista Independente tinha um duplo empenhamento: por um lado a defesa do território nacional, constituindo-se como núcleo central do Corpo de Exército, sendo os exercícios da série ORION, MARTE, ROSA BRANCA, ARCO e GAMEX ( exercícios de PC) os grandes momentos de treino para esta missão. Por outro lado, tendo em vista a satisfação dos compromissos com a NATO, a Brigada participava nos exercícios DEFENSE CROP, WINTEX CIMEX e DISPLAY DETERMINATION, alternado as modalidades

de CPX e FTX. Estes foram tempos de grande intensidade de treino para a 1º Brigada Mista Independente e consequentemente para as Unidades de Infantaria, particularmente para o BIMec que sendo a primeira Unidade mecanizada do Exército constitui-se numa unidade de referência na Infantaria, participando nos seguintes exercícios internacionais: “DISPLAY DETERMINATION – 80,82,84,86,89”; “DRAGON HAMMER - 91”. 5. DO FIM DA GUERRA FRIA AOS NOSSOS DIAS

O propósito das linhas seguintes é destacar o que mais significativamente marcou as unidades de Infantaria no Campo Militar de Santa Margarida desde o final da Guerra Fria até aos nossos dias. Propositadamente não será abordada aqui a participação da Infantaria nas, genericamente designadas, missões de apoio à paz/ resposta à crise, visto para este tema ser reservado exclusivamente o capítulo seguinte. Uma das consequências do fim da Guerra Fria foi a redução de forças convencionais estacionadas no centro da Europa. Com esta redução houve uma redistribuição dos meios, sendo Portugal contemplado com uma elevada quantidade de viaturas e equipamento. A Brigada recebeu ainda uma parte considerável de verbas da 2ª Lei de Programação Militar. Assim, surgiu a capacidade para mecanizar completamente todas as unidades da Brigada. Por despacho de 17 de março de 1994, do General CEME, a 1º BMI passa a designar-se Brigada Mecanizada Independente. As consequências directas para as unidades de infantaria foram: • Alteração da designação de BIMec para 1º BIMec;

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• Criação do 2º Batalhão de Infantaria Mecanizado em 08 de Janeiro de 1996, diretamente herdeiro das tradições e património do 2º BIMoto, do RI de Abrantes. • Extinção do 1º BIMoto do RI de Tomar; • Reequipamento de algumas subunidades ainda equipadas com meios de rodas, como por exemplo o Pelotão Anti-Carro do 1º BIMec com viaturas da família M113. Relativamente à criação do 2º BIMec, tendo como data oficial a já referida de 08 de Janeiro de 1996, o seu levantamento teve por base a recepção de 77 viaturas M113 de origem holandesa em 1994 Em termos de treino e exercícios a BMI manteve os padrões atingidos pela sua antecessora a 1ª BMI. Com o evoluir da situação geopolítica, a NATO decide criar, na Cimeira de PRAGA a 21 e 22 de Novembro de 2002, um novo tipo de forças, as NATO RESPONSE FORCES (NRF) que deveriam possuir as seguintes capacidades: • Empregue como Initial Entry Force (IEF); • Empregue como Stand Alone Force (SAF) para: – Evacuação de Não-Combatentes (NEO); – Apoio na Gestão de Consequências (Ocorrências NBQR e situações de Crise Humanitária); – Operações de Resposta à Crise; – Apoio a Operações de Contra Terrorismo;

– Operações de Embargo. • Empregue como Força de Demonstração;

Assim, a partir do 2º Semestre de 2004 e durante todo o ano seguinte, o 1º BIMec recebe a missão de treinar, certificar e garantir a prontidão durante o 2º Semestre de 2005 um Agrupamento Mecanizado, força que Portugal disponibilizava para a NRF 5. Para o cumprimento desta missão, 1º BIMec organizou-se em comando e estado-maior, 2 companhias de atiradores e uma companhia de comando e serviços, tendo recebido do Grupo de Carros de Combate da Brigada Mecanizada Independente um Esquadrão de Carros de Combate. Esta “tarefa hercúlea” (Ferrão, 2006:4), como foi considerado na altura, revelou-se uma enorme oportunidade de treino para a uma unidade de Infantaria. Teve o seu ponto alto na execução do exercício COHESION 05 que decorreu no Campo Militar de S. Gregório em Saragoça, Espanha, e que obrigou à projeção de 300 militares, 35 viaturas de lagartas, 30 de rodas e 5 contentores, num total de cerca de 1000 toneladas por via ferroviária desde a estação de Santa Margarida até Espanha. O Esquadrão de Carros de Combate foi transportado por via rodoviária até à fronteira e depois a partir de Badajoz em plataforma ferroviárias até ao Campo de S. Gregório em Saragoça. (Esteves, 2006:127). Novamente em janeiro de 2008, o 1º BIMec recebe a missão de organizar, treinar e manter durante o 1º semestre de 2009 o AgrMec NRF 12, em todo semelhante ao que foi feito na NRF 5. Mais uma vez esta tarefa difícil, enorme e complicada foi levada a bom termo por uma unidade de Infantaria. Decididamente que o contributo que o Exército deu para a NATO através dos dois Agrupamentos

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Mecanizados, foi um marco indelével na história recente das unidades de Infantaria da Brigada, ajudando significativamente à:melhoria das oportunidades de treino; quantidade e qualidade dos meios disponibilizados; recolha lições identificadas, procurando sempre obter a excelência.. De referir ainda que durante este período a Brigada Mecanizada Independente transformouse em Brigada Mecanizada, em Janeiro de 2006 não tendo qualquer implicação na organização geral das Unidades de Infantaria, ou seja o 1º e o 2º BIMec mantiveram-se. 6. A INFANTARIA NA CONSTRUÇÃO DA PAZ Vamos agora abordar, em exclusivo, a participação das Unidades de Infantaria nas Operações de apoio à paz. De salientar desde já, que de todas as unidades da Brigada, o 1º BIMec foi a Unidade pioneira na projecção deste tipo de forças, bem como foi a única unidade da Brigada a ser projectada para o teatro de operações de Timor Leste. Assim:

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Todas estas operações em que as unidades de Infantaria da Brigada participaram tornaram prático o sentido do povo português em contribuir para a paz e a segurança mundiais. Souberam provar, no terreno e ombro a ombro com outras forças que os militares Infantes portugueses estão na primeira linha da qualidade e capacidade do “saber fazer”, da determinação e da coragem moral e física. Todo este conjunto de experiências e lições ímpares que as unidades recolheram, que depois as souberam incorporar no seu treino em território nacional e passar a outros, são um repositório de conhecimentos teóricos e práticos que enriquece, em muito, a Arma Infantaria. 7. OS COMANDOS MARGARIDA

EM

SANTA

Os Comandos, embora sendo Tropas Especiais, estão por tradição, por filosofia e código de conduta, pelo tipo de treino e pelo tipo de missões que podem despenhar, integrados na Infantaria. De 1975 a 1988 os Comandos tiveram localizados em Stª. Margarida um Destacamento de apoio designado Destacamento de Comandos de Santa Margarida, instalado em parte da área geográfica que actualmente ocupa o Quartel da Artilharia. Este Destacamento tinha como missão apoiar a realização dos cursos de comandos. Tinha sempre em permanência pessoal, material e instalações à sua responsabilidade. Sendo aumentados, sempre que necessário, com mais meios humanos e materiais para apoiarem a execução dos Cursos de Comandos. Esse apoio foi prestado assente em vários modelos que poderiam ir desde o simples apoio à

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realização de provas especiais, passando por se ministrar todo o curso de comandos ou podendo ainda ministrar-se a toda a formação geral comum (recruta) seguida do referido curso. 8. AS OPERAÇÕES ESPECIAIS EM SANTA MARGARIDA

Pelas mesmas razões apontadas para o Comandos, também as Operações Especiais se integram na Infantaria. Sendo que nunca tenham estado estacionadas, como uma Unidade constituída, de for de forma permanente no Campo Militar, com ele tem contado, ao longo dos tempos e de diferentes formas. Desde logo, como Elementos isolados que integravam as Unidades aquarteladas em Santa Margarida. São exemplos disso desde Elementos fundadores do 1º BIMec, até comandantes da Brigada e comandantes do 2º BIMec . Outro contacto regular tem sido, longo dos anos, o uso de algumas infraestruturas do Campo Militar para a execução de exercícios e de fogos reais. Para além disto, elementos de Operações Especiais, como Sub unidades constituídas, tem integrado o quadro orgânico de diversas Forças Nacionais Destacadas ( FND), ás quais as Unidades da Brigada têm pertencido. Assim, como parte integrante de forças da Brigada projetadas fora do Território Nacional, os Elementos de Operações Especiais já estiveram a operar em Timor, e nos Balcãs. O facto de unidades da Brigada Mecanizada integrarem forças de Operações Especiais materializa o conceito de modularidade da força, que caracteriza a nova tipologia de operações, ou seja diferentes valências que são postas à disposição de um comandante para o cumprimento de uma missão. 9. CONCLUSÃO Procuramos trilhar de forma breve, ao longo deste artigo, a presença física das Unidades de Infantaria no Campo Militar de Santa Margarida. Inicialmente, durante a década de 1950, esta presença foi não permanente, deslocando-se as unidades, numa base anual apenas para a execução de treino e exercícios, as designadas manobras.


Durante o período da guerra colonial, dáse uma ausência completa de unidades “puras” de Infantaria, sendo que, no entanto, o treino ministrado tinha por base a doutrina e táctica da infantaria. O regresso definitivo da Infantaria ao Campo de Santa Margarida dá-se em 1977 com a criação do Batalhão de Infantaria Mecanizado a quem se juntou em janeiro de 1996 uma Unidade gémea, o 2º BIMec e assim se manteve até hoje. Neste momento difícil da nossa história, e com os dados que possuímos, não é fácil vislumbrar qual o futuro das Unidades de Infantaria em Santa Margarida, nem sequer é propósito deste artigo. Ainda assim, poderemos tecer algumas considerações. O produto operacional da Brigada Mecanizada diferencia-se das demais Grandes Unidades pela unidade de comando que a caracterizam, permitindo constituir com coerência e celeridade uma força de armas combinadas. Este é o princípio diferenciador em qualquer teatro de operações – no passado, no presente e no futuro. O desafio posiciona-se nos dilemas que conseguimos criar na ameaça através do diferente uso de sistemas de sistemas para vencer os obstáculos. Por outro lado, a doutrina que nos move é a que privilegia a manobra em detrimento da atrição; consideramos que os conflitos ocorrem entre a população e se situam tendencialmente em áreas edificadas. Transmissão de conhecimento de geração em geração com a finalidade de assegurar a constante regeneração dos meios, otimizando-os em prol do produto operacional que temos que obter. Isto é, por definição: somos parte da solução e não do problema. Este conhecimento dos mecanizados e das armas combinadas, sustentado em princípios, permite-nos hoje, sem falsas modéstias, afirmar que estamos preparados para trabalhar com outras plataformas, porquanto, os princípios mantêm-se e a doutrina de armas combinadas existe. Considera-se também oportuno enfatizar que o exército e esta Brigada, em particular, privilegiam o treino operacional de alta intensidade uma vez que é ele que nos torna aptos a cumprir as outras missões – média, baixa intensidade ou vulgarmente conhecidas por operações de apoio à paz – o contrário não é verdade. Por fim, podemos dizer que é consensual entre os Infantes que o Campo de Santa Margarida tem condições ímpares, em termos nacionais para o treino da Infantaria. Resta-nos esperar que o nosso Patrono (dos

Infantes e da Brigada), S. NUNO de SANTA MARIA, D. Nuno Álvares Pereira, ilumine e inspire todos aqueles que tem poder de decisão sobre o futuro da “ Rainha das Batalhas” para que a Infantaria possa continuar a encher de prestígio e glória o Exército e Portugal.

BIBLIOGRAFIA Livros EME, (1988). Subsídios para o Estudo do Esforço Militar Português na Década de 50 Volume I e II. Estado Maior do Exército . 1º BIMEC, (2006). Reflexões de Experiencia Feita. 1º BIMec BRIGADA MECANIZADA INDEPENDENTE, (1998). Brigada Mecanizada Independente 1978-1998 – 20 Anos. Brigada Mecanizada Independente BRIGADA MECANIZADA, (2008). Brigada Mecanizada 1978-2008 – 30 Anos. Brigada Mecanizada QG/ CMSM, (2002). 50 Anos Campo Militar de Santa Margarida 1952-2002. QG/ CMSM Trabalhos de Investigação FERRÃO, Tenente-Coronel de Infantaria, Eduardo Manuel Mendes, (2006) Introdução à obra Reflexões de Experiencia Feita ESTEVES, Capitão de Infantaria, António Evangelista, (2006). Projecção de umAgrupamento Mecanizado por Meios Ferroviários TEIXEIRA, Tenente-Coronel de Infantaria, Pedro Brito, (2012), “Dos Oficiais, Sargento e Praças fundadores da primeira unidade mecanizada do Exército Português: O Batalhão de Infantaria Mecanizado – 1976 a 1977”. Endereços de Internet http://10.105.0.55:90/sites/BrigMec/Historial/ Paginas/default.aspx http://10.105.0.55:90/sites/2BIMec-BrigMec/ Historial/Paginas/default.aspx

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Lista de abreviaturas, Siglas e Acrónimos AOR - Area of Responsibility BAI - Brigada Aerotransportada Independente BRIGMEC - Brigada Mecanizada CIMSM - Campo de Instrução Militar de Santa Margarida CMSM - Campo Militar de Santa Margarida CEME - Chefe de Estado-Maior do Exército CFT - Comando das Forças Terrestres ECOSFE - Elementos da Componente Operacional do Sistema de Forças do Exército EPC - Escola Prática de Cavalaria EREC - Esquadrão de Reconhecimento FND - Força Nacional Destacada GCC - Grupo de Carros e Combate GDCC - Grupo Divisionário de Carros de Combate

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KFOR - Kosovo Force OI - Organizações Internacionais OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte QCAV - Quartel da Cavalaria RC4 - Regimento de Cavalaria 4 RC7 - Regimento de Cavalaria 7 RC8 - Regimento de Cavalaria 8 RI - Regimento de Infantaria SFOR - Stabilization Force TO - Teatro de Operações UE - União Europeia UNMIK - United Nations Mission in Kosovo


1. A PARTICIPAÇÃO DA CAVALARIA NO PERCURSO DO CMSM “Ser soldado é dedicar-se por completo à causa pública, trabalhar sempre para os outros.” Mouzinho de Albuquerque No ano em que o Campo Militar de Santa Margarida (CMSM) comemora o seu 60º aniversário e o Regimento de Cavalaria 4 (RC4) comemorou o seu 250º aniversário, entendeu o comando da Brigada Mecanizada (BrigMec) que se elaborasse um conjunto de reflexões sobre as diversas realidades que enformam a nossa Brigada e que os textos compilados, materializassem uma publicação, sendo este desiderato um dos eventos a levar a cabo para esta marcante ocasião. A Cavalaria de Santa Margarida, enquanto arma combatente, treina os seus recursos humanos e materiais de modo a gerar forças blindadas de Carros de Combate e de Reconhecimento. Se em 1952, este treino começou por ser com Carros de Combate M47 “Patton”, hoje, o mesmo é feito com o resiliente M60 A3 (TTS) e com o sofisticadíssimo Leopard 2A6, ainda que a forma de viver o espírito da arma se mantenha ao longo de gerações de Oficiais, Sargentos e Praças que deram os melhores anos das suas vidas à nossa Pátria. Fazer parte da história da BrigMec e do CMSM, é para nós Cavaleiros um orgulho e um desafio constante, alicerçado numa responsabilidade coletiva que nos foi legada pelos nossos antecessores. A nossa conduta assenta num conjunto de linhas de ação que procuramos respeitar e que contribuem para: - Ser um importante ativo da BrigMec, a única Brigada que integra os principais sistema de armas do Exército Português, constituindo-se assim, como a principal força de combate terrestre das Forças Armadas Portuguesas; - Garantir o treino operacional de duas importantes Unidades do Elemento da Componente Operacional do Sistema de Forças do Exército (ECOSFE), o Grupo de Carros de Combate (GCC) e o Esquadrão de Reconhecimento (ERec); - Garantir que esse treino operacional esteja adequado à nova conflitualidade, merecendo destaque o treino do emprego de carros de combate em ambiente urbano; - Contribuir para a formação dos Quadros do Exército, desiderato plasmado na Missão Restabelecida da BrigMec.

Nesta pequena reflexão propomo-nos assim revisitar o percurso da Cavalaria de Santa Margarida desde a data da criação do CMSM até aos dias hoje, procurando sistematizar o conjunto de informações que se encontram disponíveis e que relatam o crescimento do CMSM e da BrigMec como o resultado da constante modernização do principal sistema de armas da BrigMec, o Carro de Combate. a. A Chegada dos “PATTON” A chegada a Portugal do Carro de Combate M47 “Patton”, em 1952, veio dar um forte impulso à mecanização da Cavalaria Portuguesa, que já se tinha iniciado com outros Carros de Combate, como são os casos do Valentine, o Centauro, o Stuart (M5A1), o Chaffee (M24), e o Sherman (M4A3). Contudo, esta nova plataforma impôs-se pelas suas linhas, velocidade e potência de fogo, bem como pela sua maneabilidade, facilidade de condução e por vir dotada com novos sistemas de pontaria e visibilidade noturna – os infra-vermelhos. Portugal passava assim a fazer parte dos países que possuíam uma das melhores e mais modernas máquinas de guerra. A Arma de Cavalaria responde de forma afirmativa a este desafio, levando a cabo algumas tarefas de significativa importância: implementa um exigente plano de formação de quadros, enviando militares à Alemanha frequentar cursos; são traduzidos manuais americanos; estudam-se novas orgânicas a adotar; e, formam-se os primeiros Esquadrões de Carros de Combate M47. É assim constituído, a partir do zero, o Grupo Divisionário de Carros de Combate (GDCC). À Escola Prática de Cavalaria (EPC), sediada então em Torres Novas, competia organizar, treinar e manter este GCC, destacado no então Campo de Instrução Militar de Santa Margarida (CIMSM), com destino à Divisão Nun’Álvares. Oficiais, Sargentos e Praças dinâmicos, interessados e dedicados; chefes de carro, guarnições e mecânicos, que dedicavam aos carros o melhor do seu esforço, faziam então parte de uma das mais eficientes e operacionais Unidades do país. Uma outra Unidade de Carros de Combate que se afirmava em Santa Margarida, era o GCC do Regimento de Cavalaria Nº8 (RC8). Em 1953, já o GCC do RC8 estava sediado com carácter permanente no CIMSM. Os seus militares ligados inicialmente ao RC8, pelas necessidades de

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formação e pelo Juramento de Bandeira, eram posteriormente colocados neste GCC. Em 1954 realizou-se no CIMSM o primeiro Juramento de Bandeira. Os Soldados-Recrutas, que normalmente jurariam bandeira na EPC e no RC8, ali receberam a sua instrução e ali assumiram o seu compromisso público para com a Nação. Iniciou-se um esforço coletivo no sentido de melhorar as instalações territoriais que permitissem aos militares efetuar o treino operacional necessário, garantindo em simultâneo condições de habitabilidade para os militares, e de manutenção. Uma vez criadas as condições de manutenção adequadas, cedo se começaram a realizar os primeiros exercícios regulares com Carros de Combate. É assim, que, no ano de 1954, se realizam os primeiros exercícios envolvendo os dois GCC, embora integrados individualmente nas manobras Divisionárias. Segue-se um período de intenso treino operacional, destacando-se o exercício de armas combinadas em 1958, denominado “A Cooperação Infantaria/Carros de Combate”, muito elogiado, bem como todos os melhoramentos territoriais levados a cabo nas instalações ocupadas pelos dois GCC, até que, em 1964, os GCC dão origem ao ressurgimento do RC4, extinto 9 anos antes. Este ajustamento ocorre em pleno esforço de guerra, que se desenvolvia nos territórios de Angola, Guiné e Moçambique. b. O Regimento no Esforço da Guerra Colonial Em 1961 eclode a Guerra Colonial com um levantamento popular no norte de Angola, que obriga a uma intervenção do Exército Português, no sentido de recuperar o território que deixou de estar sob controlo nacional. A necessidade de mobilizar Unidades capazes de combater fez com que a prioridade de escolha assentasse em Unidades da 3ª Divisão que, de facto, à data, representavam o que de melhor tinha o Exército Português, quer na vertente material, quer de pessoal treinado. Assim sendo, os Batalhões de Infantaria pertencentes à Divisão, aquartelados nos Regimentos de Infantaria (RI) 2,7 e 15, foram os primeiros convocados para esta operação em África. Só a partir de 1968 é que o CMSM começa, através do RC4, a participar na Guerra Colonial. O RC4 constituiu-se como Unidade Mobilizadora de Companhias de Cavalaria, com destino

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aos territórios em África. Aqui se concentraram, instruíram e organizaram milhares de cavaleiros que, em África, e em missões não características das sua Arma de origem, afirmaram as qualidades do Soldado Português. De 1968 a 1974, o RC4 mobilizou e aprontou 13 Batalhões a 4 Companhias e 18 Companhias Independentes que atuaram em Angola, Guiné e Moçambique. O esforço de guerra levado a cabo nos anos de conflito foi significativo para todos quantos passaram pelo RC4. As baixas sofridas, os louvores e as condecorações recebidas atestam bem o empenho e a dedicação com que todos e cada um dos militares do “4”, viveram este período da história de Portugal, no sentido de garantirem as condições mínimas para uma solução do conflito, que acabou por resultar no 25 de Abril de 1974. c. O 25 de Abril de 1974 A participação do RC4 no 25 de Abril de 1974 foi materializada pelo reforço do Regimento de Cavalaria 7 (RC7), com 5 Carros de Combate M47. Dos 5 Carros de Combate que marcharam para Lisboa, apenas 4 chegaram ao RC7, em virtude de um deles ter ficado no Depósito Geral de Material de Guerra em Beirolas, por solicitação do seu Comandante, com o pretexto de garantir a defesa desse Depósito. São precisamente estes 4 Carros de Combate M47 do RC4, que protagonizam algumas das situações mais emblemáticas da manhã de 25 de Abril, nas imediações do Terreiro do Paço, quando as forças governamentais e as forças “revoltosas” mediram argumentos. É justo salientar que no entender do Cap Cav Salgueiro Maia, o Alf Sottomayor, Comandante deste Pelotão de Carros de Combate e as suas guarnições foram determinantes para a vitória do 25 de Abril de 1974, pois se os Carros de Combate tivessem aberto fogo, em apoio ao regime, tudo teria sido diferente. d. A Modernização das Plataformas de Combate O Carro de Combate M47 fez o seu percurso no RC4 ao longo de trinta e dois anos, contribuindo de forma decisiva para a manutenção da escola dos blindados na Brigada e para a cimentação do


espírito cavaleiro em todos os quadros e praças que tiveram a honra de servir o Regimento. Em 1976 chegam os primeiros Carros de Combate M48 A5, fruto do apoio externo. Esta nova plataforma veio contribuir para concretizar o objetivo de força definido pelo então Chefe de EstadoMaior do Exército (CEME), Gen Ramalho Eanes, que considerava a criação de uma Brigada com forças de reduzida dimensão, aquarteladas em Santa Margarida, pronta para atuar em qualquer ponto do território nacional. A constituição orgânica que deu resposta a este desiderato, no que à Cavalaria dizia respeito, previa um ERec e um ECC. Contudo, cedo foi detetado que apenas um ECC não garantia o poder de fogo, o poder de choque e a mobilidade necessários a uma Brigada com uma capacidade mecanizada, que se pretendia significativa. Para superar esta limitação, a solução passou por incrementar o escalão da força de Carros de Combate, de Esquadrão para Grupo. A mecanização destas Unidades era garantida por viaturas da família da Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP) M113 e pelo Carro de Combate M48 A5. Nova modernização do principal sistema de armas da Cavalaria, da Brigada e do Exército, surge em 1993, com a chegada dos Carros de Combate M60 A3 (TTS). Esta plataforma era tecnologicamente bastante mais sofisticada que a sua antecessora, destacando-se as seguintes características: estabilização da peça, computador balístico de controlo de tiro, telémetro laser, sistema NBQ, sistema de visão noturna (Tank Thermal Sight), entre outros avanços. O M60 A3 veio incrementar significativamente a componente blindada da Brigada, mas veio igualmente identificar algumas vulnerabilidades na capacidade do Exército manter a operacionalidade de um sistema de armas desta natureza. Foi assim criado ao nível do Comando do Exército um Grupo de Trabalho, presidido pelo Comandante do RC4, com a finalidade de: estabelecerem-se as possibilidades dos carros de combate satisfazerem as exigências do Sistemas de Forças Nacional; definir o tipo de formação a ministrar às guarnições e pessoal de Manutenção; analisar o tempo de vida remanescente dos sistemas que os equipam; estudar a viabilidade económica de substituir/melhorar alguns componentes para prolongamento da vida útil; e/ou proceder-se à sua substituição por um sistema de armas mais mod-

erno, em termos de economia e eficácia. Na sequência deste trabalho de equipa, foi possível adequar a estrutura logística do Exército a esta nova realidade, bem como identificar algumas necessidades de melhoria, destacando-se a modernização do sistema de tiro do M60 A3. Esta modernização foi adjudicada à Raytheon, empresa norte americana que opera na indústria de defesa. Contudo, esta iniciativa não foi concluída com sucesso, tendo o projeto sido interrompido por Portugal, em virtude da Raytheon não estar a cumprir os pressupostos definidos no contrato. e. Forças Nacionais Destacadas A nossa Brigada tem-se constituído como um dos três polos aprontadores de Forças Nacionais Destacadas (FND) para os Teatros de Operações (TO) onde o Exército tem garantido a sua presença. O GCC e o ERec têm-se disponibilizado para esse desiderato, procurando consolidar uma linha de ação que garanta em simultâneo: a manutenção da capacidade de treino operacional (ainda que condicionada); a manutenção de uma estrutura de apoio ao projeto Leopard 2A6; e a criação de condições para disponibilizar os recursos humanos com base em Unidades constituídas e na meritocracia. Enquanto FND, a nossa participação começou com a projeção do Agrupamento BRAVO para o Kosovo em Agosto de 1999, cujo Comandante era na altura o Comandante do GCC, tendo no seu Estado-Maior diversos Oficiais e Sargentos do RC4, assim como no Esquadrão de Comando e Serviços do Agrupamento. Ainda que a composição desta força tivesse apenas Subunidades de Cavalaria, o aprontamento da mesma teve lugar na então Brigada Aerotransportada Independente (BAI). A missão recebida era uma típica operação militar de quadrícula, com uma área de responsabilidade (AOR), onde a força desempenhava um conjunto de tarefas que visavam: estabelecer uma presença permanente em toda a AOR; verificar e impor, quando necessário, o cumprimento dos acordos assinados; garantir a liberdade de movimentos em toda a AOR; e cooperar com a United Nations Mission in Kosovo (UNMIK). Este esforço voltou a ter a marca do “4” com a participação do Agrupamento DELTA, em Agosto de 2000. Apesar dos resultados extremamente positivos alcançados pelos intervenientes lusos

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por terras kosovares, a verdade é que houve a decisão política de retrair o dispositivo no Kosovo, de modo a permitir reforçar a capacidade militar em Timor. Em 2005 há uma nova intenção política e estratégica de regressar ao Kosovo, agora como Reserva Táctica do Comandante da Kosovo Force (KFOR). Em Maio de 2009, iniciou-se o aprontamento de mais uma força da BrigMec para o Kosovo que integrou um Esquadrão de Carros de Combate, denominado para o efeito de 1ECC/AgrMecNRF12 . Esta força teve como base, o AgrMec NRF12, tendo sido projetada a partir de Setembro de 2009 para o TO do Kosovo. No Quadro de Empenhamento de Forças do Comando Operacional das Forças Terrestres (CFT), foi atribuída a responsabilidade de aprontar uma FND à BrigMec para a rotação correspondente ao 2º semestre de 2011. O Comandante da BrigMec decidiu atribuir ao Quartel da Cavalaria (QCav) a missão de se constituir como Unidade aprontadora desse mesmo contigente para o Kosovo. Mais uma vez, houve a necessidade de agilizar procedimentos no sentido de garantir a organização de uma força e em simultâneo, garantir os recursos humanos para que o GCC mantivesse a capacidade operacional mínima e a capacidade de manter o projeto Leopard com todas as suas valências. A constituição do Agrupamento ÍNDIA e o seu aprontamento decorreram no QCav, tendo sido projetado para o Kosovo no passado mês de Setembro de 2012. No que diz respeito ao TO da Bósnia Herzegovina, a participação iniciou-se em 2001, com a integração do ERec no Agrupamento ECHO. Esta força desempenhou a sua missão como Reserva Operacional Terrestre do Comandante da Stabilization Force (SFOR), recebendo a missão, de “estar pronta para, à ordem, ser empenhada em qualquer área do TO da Bósnia Herzegovina, em reforço das Divisões Multinacionais”. A participação da Cavalaria de Santa Margarida continuou em 2003, com a constituição e aprontamento do Agrupamento GOLF, força que ainda atuou sob a égide da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Por proposta franco-britânica, a operação militar em curso transitou para a responsabilidade da União Europeia (UE), o que veio a materializarse em Dezembro de 2004. A nossa última participação cavaleira neste território, enquanto FND, ocorreu em 2006, já como Componente Portu-

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guesa, integrada num Batalhão Multinacional, do qual faziam parte forças turcas e polacas. O nosso contributo consistiu numa Força de Manobra e militares (Oficiais e Sargentos) no comando do Batalhão. Tinha como missão “atuar de forma preventiva para evitar reacendimentos das hostilidadese e garantir o apoio à atuação das Organizações Internacionais (OI) presentes no terreno”. A participação de vários militares do RC4, e mais recentemente do QCav, em Operações de Apoio à Paz tem sido uma constante, quer integrados em contigentes aprontados noutras Unidades da Brigada, quer individualmente. Este facto, constitui-se este facto, como uma mais-valia para os militares, para as Unidades ou forças que os integraram e naturalmente, para o GCC e o ERec, que os recebem mais conhecedores da realidade dos TO onde cumpriram as suas missões. f. O Projeto Leopard 2A6 A importância que o projeto Carro de Combate Leopard 2A6 tem para a Cavalaria, para a BrigMec e para o Exército, é incontornável. Razão pela qual merece uma especial atenção e uma referência à parte. Este projeto nasce da necessidade do Exército se modernizar e dispor de sistemas de armas tecnologicamente avançados e capazes de responder às exigências dos modernos campos de batalha. O Leopard 2A6 é um dos Carros de Combate de última geração com maior sucesso. Das suas principais caraterísticas, merece destaque: a blindagem de terceira geração, constituída por materiais compostos, com um reforço adicional da torre na parte frontal, bem como das abas de proteção laterais; o sistema digital de controlo de tiro com telémetro laser; estabilização total, tanto da peça, como da metralhadora coaxial; equipamento de visão noturna fazendo uso de câmara térmica; e a peça de 120 mm, de alma lisa. Estas caraterísticas permitem que esta plataforma de guerra bata alvos em movimento, enquanto em movimento em todo o terreno. Podemos afirmar com segurança que, a blindagem desta versão Leopard 2A6, permite ao carro resistir aos RPG de ogiva dupla, bem como aos novos projéteis de energia cinética. Considerando a blindagem, a sofisticação dos seus sistemas eletrónicos, a potência da sua arma principal, a


potência e relativa economia do seu motor e a sua velocidade, o Leopard 2A6 pode ser considerado um dos melhores Carros de Combate existentes no mundo. Este projeto representa assim um enorme desafio para o GCC e para o ERec, mas também para a BrigMec e para o Exército, uma vez que para garantir a operacionalidade dos 37 Carros de Combate, que compõem a frota, é necessário um esforço da estrutura superior do Exército para criar as condições de Manutenção que este sistema de armas exige. Existem três áreas de intervenção no que ao Leopard diz respeito: Formação, Treino Operacional e Manutenção. Quanto à Formação, está a cargo da EPC, sendo que no terreno o GCC, é a entidade responsável por garantir a execução dos cursos de Municiador, Apontador, Condutor e Chefe de Carro. Apesar de ter havido uma interrupção nesta formação, a mesma recomeçou no 2º semestre de 2012. O Treino Operacional tem estado parado em virtude de não ter havido autorização para a sua realização. Entende-se como linha de ação, que o mesmo recomece após o terminus das formações em curso, tendo em vista a realização dos exercícios setoriais da BrigMec e do CFT para 2013. Quanto à Manutenção, estamos cientes que o Novo Conceito de Manutenção é uma realidade que veio para ficar. Pensamos ser oportuno que a implementação deste conceito seja acompanhada de relatórios de satisfação do cliente final (Unidades operacionais da BrigMec), de modo a que se façam os ajustamentos necessários ao mesmo, garantindo que este conceito seja uma mais-valia para todos e que sirva os interesses da BrigMec. g. Síntese Conclusiva Entendemos assim que a Cavalaria de Santa Margarida e os cavaleiros que a servem, têm dado um contributo positivo para que hoje, a BrigMec, se sinta confortável com a nossa presença na sua orgânica. O CMSM teve o seu percurso e dele nós fizemos parte, sempre como atores principais. Podemos, inclusivamente dizer que a história do campo se cruza com os avanços das plataformas de guerra que têm constituído o nosso património. Se no início dos anos 50, os M47 Patton marcaram toda uma geração de Oficiais, Sargentos

e Praças que serviam no GDCC e no GCC do RC8, hoje, a primazia é dada aos poderosos Leopard 2A6, que vieram para se afirmar como uma mais-valia operacional para a Componente Terrestre das Forças Armadas. A nós, cavaleiros, compete-nos ter a arte e o engenho necessários para fazermos a melhor utilização possível deste sistema de armas, formando os quadros e tropas, bem como, garantirmos o treino operacional necessário para que a BrigMec possa apresentar capacidade mecanizada e assim se afirmar como a principal força operacional do ECOSFE. BIBLIOGRAFIA Livros, Monografias e Teses BRANCO, Carlos, GARCIA, Francisco (2005). Os Portugueses nas Nações Unidas. Prefácio. Lisboa. COSTA, Eduardo (2002). Regimento de Cavalaria. 240 ao serviço do Exército e da Nação. Tipografia Papelaria Marques. Carregueira. MOREIRA, Adriano (2010). Portugal e as Operações de Paz, Prefácio, Lisboa. QG/BRIGMEC (2008). Brigada Mecanizada, 30 anos. 1978-2008 Tipografia Papelaria Marques. Carregueira. QG/CMSM (2002). 50 anos do Campo Militar de Santa Margarida 1952–2002. Tipografia Papelaria Marques. Carregueira. Sítios da Internet OPERACIONAL (2009). Carro de Combate M60 A3 (TTS) Em Panorâmica [em linha]. Disponível [referência de 03 de Novembro de 2012]. Disponível na Internet em: http://www.operacional.pt/carro-de-combatem60-a3-tts-em-panoramica/. OPERACIONAL (2010). Leopard 2 A6 Em Panorâmica [em linha]. Disponível [referência de 01 de Novembro de 2012]. Disponível na Internet em: http://www.operacional.pt/leopard-2-a6-empanoramica/. OPERACIONAL (2010). Um dia no Grupo de Carros de Combate [em linha]. Disponível [referência de 02 de Novembro de 2012]. Disponível na Internet em: http://www.operacional.pt/um-dia-no-grupo-decarros-de-combate/.

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1. ARTILHARIA DE CAMPANHA a. Divisão Nuno Álvares A Artilharia de Campanha esteve sempre associada à génese do Campo Militar de Santa Margarida (CMSM), dado que a intenção do Exército foi a da criação de uma Grande Unidade (GU), inicialmente de escalão Divisão e a partir dos anos 70, de escalão Brigada, as quais se caracterizam por possuírem na sua orgânica, todas as funções de combate, entre elas a função de combate, FOGOS. Assim, a Artilharia surge na orgânica da 1ª Divisão do Exército Português, mais conhecida como Divisão Nun’Álvares. Na sua criação, optou-se por uma organização que tirava partido das unidades de toda a estrutura do Exército. Em 1953 ficou concluída a sua organização como 1ª Divisão, sendo constituída a partir de militares colocados nas unidades do Governo Militar de Lisboa e das várias Regiões Militares. O Quartel-General foi inicialmente instalado no edifício do Estado-Maior do Exército, em Lisboa. Em termos de forças, articulavam-se do seguinte modo: -1 Quartel-General (QG); -3 Regimentos de Infantaria (RI) reforçados com 1 Esquadrão de Carros de Combate (ECC) cada; -3 Grupo de Artilharia de Campanha de 10,5 cm (GAC 10,5 cm); -1 Grupo de Artilharia de Campanha de 14 cm (GAC 14 cm); -1 Grupo de Artilharia Anti-Aérea de 4 cm (GAAA 4 cm); -1 Grupo de Carros de Combate (GCC); -1 Esquadrão de Reconhecimento (ERec); -1 Batalhão de Engenharia (BEng);

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-1 Companhia de Transmissões (CTm); -1 Batalhão Sanitário (BSan); -1 Companhia de Quartel-Mestre (C de Quartel-Mestre); -1 Companhia de Manutenção de Material (CMM); -1 Companhia de Polícia Militar (CPM); -1 Companhia de Recompletamento (CRecpl); -1 Banda de Música. O Quadro Orgânico da Divisão previa um efetivo de 18.773 homens, apesar de ser admissível alcançar os 20.000 homens, tendo em conta as outras forças de apoio. Dos 3 GAC Ligeiros 10,5 cm, dois deles e o Comando da Artilharia Divisionária, estavam sedeados no Regimento de Artilharia Ligeira nº2 (RAL 2) em Coimbra enquanto um terceiro estava sedeado no RAL 4 em Leiria. A lógica seria a de ter um GAC (Ligeiro de 10,5 cm) em apoio direto a cada um dos regimentos de Infantaria restando um GAC (pesado de 14cm) para a Ação de Conjunto e ao dispor do Comandante da Artilharia Divisionária. Esta era uma organização da Artilharia típica de uma Divisão, na qual aparece a Artilharia Divisionária em apoio às unidades de manobra da Divisão. Estes GAC 10,5 cm estavam organizados da seguinte forma:

Figura 1. – Quadro orgânico do GAC 10,5 cm Tal como se constata, este Grupo era constituído por 3 tipos de Baterias: O Comando e Bateria de Comando era constituído por 168 militares (20 Oficiais, 27 Sargentos, 121 Praças) e a sua organização era a seguinte:

Figura 2. – Quadro orgânico da bateria de Comando do GAC 10,5 cm

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A Bateria de Serviços era constituída por 105 militares (02/14/89), com a seguinte estrutura:

Figura 3. – Quadro orgânico da bateria de Serviços do GAC 10,5 cm As 3 Baterias de Bocas de Fogo (BBF) apresentavam um efetivo de 384 militares (18/51/315), com a seguinte organização:

Figura 4. – Quadro orgânico das BBF do GAC 10,5 A Artilharia da Divisão contemplava ainda um Grupo de Artilharia Pesada. Este estava sedeado no RAL nº3, na Figueira da Foz. Tal como o GAC Ligeiro, também era constituído por 3 Baterias distintas, como no quadro seguinte:

Figura 5. – Quadro orgânico do GAC 14 cm

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O Comando e Bateria de Comando tinham um efetivo de 145 militares (19/22/104), contemplando a seguinte organização:

Figura 6. – Quadro orgânico da bateria de comando do GAC 14 cm A Bateria de Serviços era constituída por um total de 105 militares (02/14/89), com o seguinte quadro orgânico:

Figura 7. – Quadro orgânico da bateria de serviços do GAC 14 cm As 3 BBF constituintes deste GAC Pesado perfaziam um total de 405 militares (12/51/342), com a seguinte estrutura:

Figura 8. – Quadro orgânico das BBF do GAC 14 cm

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Em 28 de Maio de 1954, a 1ªDivisão passa a designar-se por 2ª Divisão e nesse mesmo ano, em Setembro e Outubro, realizou importantes manobras no então Campo de Instrução Militar de Santa Margarida (CIMSM). As causas mais importantes e fulcrais para a reorganização foram o facto do Comando da Divisão e as unidades constituintes estarem longe do CIMSM, o qual reunia as condições ideais para uma GU, mas que só poderiam ser aproveitadas se as forças estivessem ali aquarteladas ou nas proximidades. Assim, em Dezembro de 1954 os encargos de mobilização passaram na sua maior parte para unidades da 3ª Região Militar, com sede em Tomar, adaptando-se para esta GU a designação de 3ª Divisão, com destino à satisfação dos compromissos assumidos com a NATO, sendo atribuída até à década de 90 como reserva do Comando do Centro da Europa. Nas manobras realizadas no 2º semestre de 1955, a referida GU atuou já sob a sua nova designação. No que toca às reorganizações na Artilharia Divisionária houve uma pequena mas significativa alteração, materializada com o facto do RAL 2 deixar de fornecer dois GAC e passar a fornecer um só para a 3ªDivisão, recebendo o RAL 4 a responsabilidade de constituir um Comando de Artilharia Divisionária e os GAC 1 e 2. Para este efeito, o RAL 4 recebeu um enorme volume de material, nomeadamente material de transmissões e cerca de 300 viaturas. Para satisfazer as necessidades de parqueamento foi necessário utilizar “as diversas paradas do Quartel do RI7 (Cruz d’Areia) e do antigo Hospital Militar. A atestar a quantidade de material recebido, refere-se que, no convento de S. António dos Capuchos, as viaturas tiveram que ficar estacionadas “roda a roda”. Entre 1955 e 1960, existem diversas referências sobre a participação dos militares do RAL 4 em exercícios da Divisão, demonstrando um “elevado grau de especialização e treino, nomeadamente nas especialidades de PCT, Topografia e Transmissões. Ocasião houve em que praticamente todas as ligações do Comando da Divisão com as Unidades de manobra eram asseguradas pelos meios artilheiros presentes.” As manobras continuaram de 1956 até 1959, sendo este Figura 9. – Formatura dos GAC 1 o período áureo da organização e treino da Divisão e do e 2 da Divisão em Leiria profundo empenhamento na satisfação dos compromissos assumidos para com a Aliança. Em 1959 iniciou-se a reestruturação da 3ª Divisão, no sentido de uma organização tipo “LANDCENT”, que previa uma articulação em Brigadas e a reorganização do necessário apoio logístico da GU face às alterações. A preparação das manobras de 1960 apela a uma diminuição das forças executantes com vista a testar a nova organização. As manobras daquele ano foram realizadas por uma Brigada de Infantaria, já com orgânica da Divisão tipo “LANDCENT”. Nesta última reorganização da divisão houve alterações na Artilharia Divisionária, sendo que desta vez, de forma mais substancial. Os GAC de Artilharia ligeira passaram todos a estar sedeados no RAL 4 em Leiria, assim como o Comando da Artilharia Divisionária. Já no que toca à Artilharia pesada, mudou do RAP (regimento de Artilharia Pesada) 3 na Figueira da Foz, para o RAP 2 em Vila Nova de Gaia. No entanto, o início da guerra do Ultramar viria alterar este ciclo de preparação e de participação portuguesa no reforço militar da NATO, uma vez que o esforço do empenhamento militar nacional concentrou-se em África. (1) Materiais da Artilharia Divisionária (a) Obus K 10,5 cm / 28m/ 941 Este material, proveniente da Alemanha, foi recebido em 1941 pelo Exército Português. O “K” (KRUPP) significa que o material foi concebido para tração hipomóvel, apesar de muitos modelos serem posteriormente adaptados para serem rebocados por viaturas. Este material serviu nas campanhas de

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África 1961-74, na sua fase inicial, tendo sido substituído pelo Obus M101A1, em 1978. (b) Obus 14 cm m/943 O Obus 14 cm, de origem inglesa, foi recebido em Portugal, em 1943, para equipar as Unidades de Artilharia pesada, substituindo os Obuses 15 cm T.R. m/918 e 15 cm / 30 m/41. O Obus foi concebido para tração auto. Serviu operacionalmente nos teatros de guerra da Guiné, Angola e Moçambique, entre 1961 e 1974, tendo sido substituído, em 1987, pelo Obus M114 155mm/23. b. Artilharia da “Divisão Nun’ Alvares” na Guerra Colonial À Artilharia Portuguesa aconteceu algo de semelhante à Cavalaria: a maioria dos seus efetivos teve de combater como Infantaria, e apenas um núcleo reduzido efetuou ações típicas de apoio de fogos. No entanto, diversas unidades de Artilharia foram mobilizadas para os três teatros de operações. No ano de 1961, com o início das operações no Norte de Angola, o RAL4 (de onde provinham os 3 GAC e o Comando da Artilharia Divisionária) teve que mobilizar 3 Baterias de Artilharia, com organização tipo infantaria. Foram as Companhias de Artilharia (CArt) 101, comandada pelo Cap Albuquerque Nogueira, a CArt 119, comandada pelo Cap Fernandes Basto, ambas para Angola e a CArt 178, comandada pelo Cap Franco Charais, para Moçambique. A maior parte do material que possuía teve de ser entregue nos diversos depósitos para ser redistribuído pelas unidades mobilizadas. Na Guiné, o emprego da Artilharia enquadrou-se no conceito de manobra do General Spínola, no sentido de evitar a penetração dos guerrilheiros do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) pelos corredores com origem na Guiné-Conacri e no Senegal, assegurar a capacidade de atuar em qualquer ponto do território com unidades de intervenção e garantir a proteção das populações junto aos aquartelamentos portugueses. O dispositivo da artilharia na Guiné baseou-se em pelotões a 03 BBF, instalados junto das companhias de caçadores e disseminados por todo o território, tendo a possibilidade de concentrar e coordenar fogos nas áreas fulcrais, possibilitando o apoio a operações, a flagelação de objetivos fronteiriços em resposta a penetrações e a ações desencadeadas a coberto da linha de fronteira e a proteção dos aquartelamentos e dos núcleos em autodefesa. Os efetivos da artilharia na Guiné atingiram o quantitativo de 32 pelotões, com material de 8,8 cm, 10,5 cm, 11,4 cm e 14 cm, todos do tempo da II Guerra Mundial sendo que os Obuses 10,5 e 14 faziam parte do encargo Operacional da artilharia Divisionária. c. Brigada Mista Independente Terminadas as operações nos teatros Africanos e concretizada a independência dos territórios ultramarinos portugueses, foi possível retomar o empenhamento nos compromissos Internacionais que, em boa verdade, Portugal sempre procurara cumprir mesmo em condições difíceis, quer do ponto de vista político, quer militar. A partir de 1976, a participação de Portugal na Aliança vai ganhar um significativo incremento, pois a 9 de Fevereiro de 1976 é criada a 1ª Brigada Mista Independente no CIMSM, herdando as tradições e o património histórico da 3ª Divisão e passando a constituir reserva estratégica regional do Comando Sul da Europa (CINCSOUTH). A intenção de substituir a 3ª Divisão por outro tipo de GU, mais adaptado às realidades estratégicas e militares do Teatro europeu remonta a 1960, data em que se testou a organização e possibilidades táticas e logísticas da Brigada “tipo LANDCENT”. No entanto, a criação daquela Brigada Mista somente se concretizou com o despacho de 9 de Fevereiro de 1976, do Chefe do Estado-Maior do Exército, que determinou a constituição urgente de um comando de Brigada. A 5 de abril desse ano a unidade passa a ser designada por 1ª Brigada Mista Independente (1ªBMI) constituindo-se como uma GU, que integra elementos de manobra, de apoio de combate e de apoio de serviços, além dos indispensáveis

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meios de comando e controlo. Focando particularmente a Artilharia, a nova organização consistia na existência de um único GAC constituído por 03 BBF, guarnecidas por obuses ligeiros (M101 A1). Mais uma vez, continua a ligação ao RAL, sendo-lhe cometida a responsabilidade de levantar o GAC da 1ªBMI. Assim, em 01Abr77, juram bandeira os recrutas do 1º turno da Escola Recrutas -77 que integraram a 1ª BBF, comandada inicialmente pelo Cap Canatário Serafim e, mais tarde, pelo Cap Canha da Silva. As Escolas de Recrutas seguintes serviram para alimentar o levantamento da Bateria de Comando e das 2ª e 3ª BBF. Em 1978 dá-se por concluído o levantamento do GAC da 1ªBMI. O GAC foi equipado com o obus Krupp 105mm, que tinha servido nas unidades de Artilharia de Campanha durante a Guerra Colonial, sendo no entanto um Sistema de Armas completamente desadequado para assegurar o cumprimento da missão de apoio de fogos à Brigada. Em Maio de 1979, o GAC é equipado com o Obus M101 A1 105mm, participando logo em Jun79, com o novo material, na fase LIVEX do Exercício MARTE 79. No entanto, o novo Obus M101 A1, apesar de trazer um significativo incremento ao nível do alcance e da cadência de tiro, continuava notoriamente aquém no que diz respeito ao poder de fogo, devido ao calibre, bem como ao nível da mobilidade, dado ser um material rebocado, No entanto a 1ª BMI tinha um Batalhão de Infantaria Mecanizado e um Grupo de Carros de Combate. Acrescente-se ainda, o facto de o GAC assentar numa estrutura de três BBF para assegurar o apoio de fogos a uma brigada quaternária em termo de unidades de manobra. Pelo que se tornou evidente a necessidade de prover o GAC de maior poder de fogo, aliado a uma maior mobilidade. Deste modo, em 1981, procedeu-se ao levantamento da 4ª BBF, já no CMSM e à aquisição do Obus M109 A2 155mm AP. Inicialmente a 4ªBateria encontrava-se fisicamente nas atuais instalações do 2ªBIMec. O GAC da 1ª BMI permanece no RAL até 10Abr91, data em que é definitivamente transferido para o CMSM com exceção da 2ªBBF. Assim ficam em Santa Margarida o Comando do GAC, a Bateria de Comando, a Bateria de Serviços, a 1ªBBF, a 3ªBBF e a 4ª BBF; esta com os M109 AP A2. Desta forma o GAC passou a ter capacidade de resposta e a dar cumprimento à sua missão de apoio de fogos, direcionando a 4ª Bateria para o apoio às unidades de manobra mecanizadas da 1ªBMI e as restantes baterias equipadas com o obus M101 A1 105mm rebocado, em proveito das unidades de rodas, equilibrando desta forma a capacidade de mobilidade. (1) Materiais de Artilharia da 1ªBrigada Mista Independente (a) Obuses M101 A1 105mm/22 No ano de 1978, deu-se a aquisição de material, proveniente dos Estados Unidos da América (EUA), mais concretamente dos Obuses M101 A1 105 mm/22, destinados a equiparem as Unidades de AC Ligeira. O Obus M101 A1 veio substituir o robusto 10,5 alemão, da era de 40, vindo a equipar 2 BBF do GAC da 1ª BMI (1 BBF sedeada em Santa Margarida e 1 BBF em Leiria). Este obus serviu operacionalmente desde 1978 até 1999, ano em que foi retirado do Sistema de Forças Nacional. d. Brigada Mecanizada Independente A Brigada Mecanizada Independente teve origem na 1ª Brigada Mista Independente que lhe antecede, devido a dois acontecimentos centrais. O primeiro foi a assinatura dos acordos CFE, que consistem na tentativa de redução de armamento convencional na Europa. O segundo foi o arranque da 2ª Lei de Programação Militar (LPM), que vai atribuir uma grande percentagem das verbas disponíveis à 1ª BMI. Deste modo, o General Chefe de Estado-Maior do Exército determina que a 1ªBMI se passe a designar por Brigada Mecanizada Independente (BMI) com efeitos a partir de 12 de Outubro de 1993, estando esta alteração registada no Decreto Regulamentar nº48/94 de 02 de Setembro de 1994. Em relação às grandes alterações na Artilharia, começa-se logo pela mudança de instalações e

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pela criação do Quartel da Artilharia (QA). Por despacho de 24 de Outubro de 1994 do Brigadeiro Comandante da BMI, tanto o GAC como a BAAA passam a estar concentradas num mesmo local, o QA, que ainda no presente dia se mantém. Anteriormente o GAC estava localizado onde está atualmente o 2ºBiMec. Os respetivos comandantes do GAC e BAAA ficariam na dependência direta do Brigadeiro Comandante do CMSM e da BMI. Com esta junção fica determinado pelo mesmo despacho que o comandante do GAC é o comandante do aquartelamento, no entanto não irá interferir em aspetos de justiça e disciplina internos da BAAA, nem exercerá a gestão dos recursos financeiros específicos para a mesma. Em 1993 dá-se a extinção da 2ªBBF a que se segue a extinção da 1ªBBF e da 3ªBBF em 1994. Ainda em 1994 a 4ªBBF passa a designar-se 2ªBBF. O primeiro Comandante do QA e cumulativamente do GAC é o Tenente Coronel Freire Nogueira. Em 2002 iniciou-se o processo de receção dos Obuses M109 A5 de modo a levar a cabo a total mecanização do GAC, bem como da substituição dos seis obuses da versão A2, já com 20 anos de serviço. Foram adquiridos 14 obuses, sendo 12 entregues ao GAC e dois à EPA. Deste modo a 1ª BBF foi reativada e procedeu-se à substituição dos Obuses A2 que equipavam a 2ª BBF. A total mecanização do GAC só viria a ser concluída em Dezembro de 2006, com a aquisição de mais quatro obuses aos EUA e com a transferência dos dois que se encontravam na EPA para o GAC/BrigMec. Ao contrário da versão do A2, que foi construído de raiz, o obus M 109 A5 é uma versão melhorada dos modelos A3/A4, com a substituição do canhão M-284 que permite maior alcance, podendo atingir 24Km e 30Km com munição assistida e maiores cadências de tiro, bem como da proteção NBQ de toda a viatura obus. Ainda em 2007, o GAC recebe o Sistema Automático de Comando e Controlo (SACC), AFATDS (Advanced Field Artillery Tactical Data System) dando mais um salto tecnológico. Este, visa auxiliar o Comandante na aplicação e integração de todo o Apoio de Fogos no Campo de Batalha, através do emprego de quatro subsistemas: Advanced Field Artillery Tactical Data System, Battery Computer System (BCS), Forward Observer System (FOS) e Gun Display Unit – Replacement (GDU-R). Estes quatro subsistemas equipam os vários elementos e órgãos de planeamento, coordenação e execução do Apoio de Fogos. Este período é ainda marcado pelo início das Forças Nacionais Destacadas (FND), para os diversos Teatros de Operações, tais como: Bósnia, Kosovo e Timor Leste. A Artilharia ficou afastada da constituição destas FND pelo carácter da missão atribuída às mesmas. No entanto, embora o GAC nunca tendo sido mobilizado como um todo ou com qualquer escalão, sempre teve militares que integraram estas FND, quer como elementos isolados nos QG, quer ainda como elementos integrantes das unidades aprontadas. Decorrente da não atribuição de FND ao GAC, foi atribuída ao QA a missão no âmbito da NATO (Task Force Fox) e no âmbito da EUFOR (CONCÓRDIA) na FYROM (Former Yugoslavia Republic of Macedónia). Esta Missão constituiu-se como uma missão de equipas de observadores militares. O QA aprontou três equipas de Observadores.

Figura 10. – Estrutura orgânica do GAC

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O Grupo de Artilharia de Campanha é assim constituído pelo seu comando, três BBF, uma Bateria de Comando e por uma Bateria de Serviços, tendo como missão o fornecimento do apoio de fogos convencionais de Artilharia de Campanha às Unidades de Manobra da BMI, ou outra força; e reforçar os fogos de outra Unidade de Artilharia de Campanha. (1) Meios de artilharia da Brigada Mecanizada Independente: (a) Obus M109 A2 AP

Figura 11. – Obus M109 A2 AP

Figura 12. – Obus M109 A5

Figura 13. – Viatura Blindada de Lagartas M577 A2

Figura 14. – Viatura de lagartas de transporte de munições M548

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e. Brigada Mecanizada No âmbito da transformação do Exército Português a BMI passou a designar-se em 2006 de Brigada Mecanizada (BrigMec). A BrigMec assumiu desde essa data, na generalidade, as missões que eram atribuídas à extinta BMI, ocupando o mesmo aquartelamento, reunindo naturalmente os requisitos para herdar o seu património histórico e as tradições militares, facto esse consagrado através do Despacho n.º 220/ CEME/2010, de 13 de dezembro de 2010. Em relação à Artilharia pode-se referir que as grandes alterações foram ao nível do seu Quadro Orgânico de Pessoal (QOP) e organização. Assim exposta no Quadro Orgânico de Pessoal (QOP), de: 33 Oficiais, 86 Sargentos e 249 Praças. A constituição Orgânica distribui-se da seguinte forma:

Figura 15. – Quadro Orgânico em vigor- EME, (2009). Quadro Orgânico 24.0.24 Brigada Mecanizada GAC, Junho, Santa Margarida. O GAC da BrigMec, segundo o seu Quadro Orgânico, tem como missão a preparação da força para executar operações em todo o espectro de operações militares, no âmbito nacional ou internacional, de acordo com a sua natureza. Esta unidade terá de garantir de forma autónoma a disciplina e a segurança imediata do seu aquartelamento bem como a manutenção e conservação das suas infraestruturas.   2. ARTILHARIA ANTIAÉREA a. Divisão Nuno Álvares À data da criação do CIMSM, existiam em Portugal diversas unidades de Artilharia Antiaérea denominadas de Grupos de Artilharia Contra aeronaves (GACA). Estes grupos apesar de possuírem como missão primária a defesa Antiaérea de diferentes regiões do território Português, eram ainda responsáveis pela cedência de Grupos de Artilharia Antiaérea para as Grandes Unidades (GU).

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No período em que a 1ª Divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP) efetuava os primeiros treinos e exercícios no CIMSM, a responsabilidade de fornecer um Grupo de Artilharia Antiaérea (GAAA) coube ao Grupo de Artilharia Contra Aeronaves Nº 3 (GACA3) . Este criado inicialmente em Penafiel e mais tarde transferido para Espinho fornecia um GAAA composto por baterias equipadas com a peça Antiaérea (AA) 4cm m/940. Durante o tempo em que o GAAA foi orgânico da 1ª Divisão e mais tarde 2ª Divisão, participou em diversas manobras da mesma até ao segundo semestre do ano de 1954. Neste ano e devido ao reconhecimento das vantagens em possuir Unidades que se encontrassem próximas do CIMSM, a responsabilidade da cedência de um GAAA passa a ser do GACA2 , unidade criada em Abrantes com o objetivo principal de constituir a defesa Antiaérea da área do Entroncamento, este GAAA tal como o anterior era composto por uma bateria de AA 4cm. Durante os dez anos que se seguiram (essencialmente até ao inicio da guerra colonial ) esta unidade foi orgânica da 3ª Divisão tendo participado em diversas manobras da mesma no CIMSM. (1) Evolução dos Quadros Orgânicos de Mobilização (Q.OM.) do GAAA (a) Q.O.M do GAAA do GACA3 O quadro orgânico do GAAA de 4 cm (Tração Auto), pertencente ao GACA3, definia como missão do mesmo: “Assegurar uma defesa antiaérea local contra aviões voando baixo e, eventualmente, contra elementos mecanizados ou outros objetivos terrestres” (EME, 1952). O grupo tinha ainda como possibilidade principal e devido à sua mobilidade acompanhar uma divisão blindada. No que à organização diz respeito, inicialmente o Grupo era constituído pelo Comando, Bateria de Comando e quatro Baterias de Bocas de Fogo.

Figura 16 – Organigrama do Grupo AA de 1952. (Fonte: EME, 1952) O Comando e Bateria de Comando tinha como missão, “Dirigir e coordenar as operações do Grupo, obter e distribuir todas as classes de reabastecimento para o Grupo, realizar a manutenção regulamentar no Grupo, fornecer os meios necessários ao Comandante do Grupo para acionar as suas unidades.” (EME, 1952)

Figura 17 – Organigrama do Comando e Bateria de Comando. (Fonte: EME, 1952)

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Cada uma das quatro Baterias de Bocas de Fogo era composta pelo Comando e ainda por dois pelotões que compreendiam uma Secção de Comando, quatro Secções de Peças 4cm e quatro Esquadras de Metralhadoras.

Figura 18 – Organigrama da Bateria de Bocas de Fogo de 1952. (Fonte: Q.O.M., 1952) Assim era definida a organização de um GAAA 4cm, tendo esta permanecido inalterada até ao segundo semestre de 1954, altura em que o GAAA passa a ser fornecido pelo GACA2 e é então aprovado um novo Q.O.M. do Grupo. (EME, 1952) (b) Q.O.M. do GAAA do GACA2 No que diz respeito ao Q.O.M. aprovado em 1954, verifica-se como principais alterações ao anterior, a redução de quatro Baterias de Bocas de Fogo para três baterias apenas. Em termos de efetivos humanos, este era composto por 683 militares dos quais 26 da classe de Oficiais, 71 da classe de sargentos e 586 Praças. É importante referir ainda que a missão do GAAA e das suas Baterias permanece inalterável com a criação do novo Q.O.M. (EME, 1954)

Figura 19 – Organigrama do GAAA de 1954. (Fonte: EME, 1954) (c) Q.O.M. Final do GAAA do GACA2 Do Q.O.M. aprovado em 1957 (Q.O.M. que viria a ser o último do GAAA até ao final da 3ª Divisão), destaca-se o aparecimento de uma Bateria de Comando e Serviços e ainda o aumento de uma Bateria de Bocas de Fogo, passando assim a ser constituído por quatro Baterias de Bocas de Fogo à semelhança do Q.O.M. de 1952. Para além do incremento de uma Bateria, a organização das mesmas foi também alterada, passando as esquadras de metralhadoras a pertencerem organicamente à Secção de Peças 4cm. Relativamente aos efetivos humanos, verifica-se um aumento no Q.O.M. do GAAA em 5 Oficiais, 14 Sargentos e 145 Praças, passando o efetivo total a ser constituído por 847 militares. O aumento do número de militares deveu-se essencialmente ao incremento de uma Bateria de Bocas de Fogo e ao aparecimento de uma Bateria de Comando e Serviços (anteriormente existia apenas uma Bateria de Comando) que fez com que algumas secções dessem lugar a escalões maiores, nomeadamente a passagem de uma Secção de Transmissões a um pelotão de Comando e Transmissões do Grupo

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e, uma Secção de Munições a um pelotão de Material e Munições. Todas estas alterações referidas anteriormente fizeram com que o efetivo do GAAA aumentasse em 164 militares. (EME, 1957)

Figura 20 – Organigrama do GAAA de 1957. (Fonte: EME, 1957) (2) Evolução dos materiais de Antiaérea do GAAA No que diz respeito ao material de Antiaérea como já referido o equipamento utilizado pelo GAAA orgânico da divisão era a Peça de AA 4cm M/940, este equipamento viria a ser o único a equipar o GAAA durante o período em que foi orgânico da Divisão. Das características principais destacam-se:

Figura 21 – Peça AA 4 CM M/940. (Fonte: boletim AAA, 2003) (3) Exercícios Realizados Durante o período em que o GAAA foi orgânico da 3ª Divisão, participou em diversos exercícios no CIMSM. Do início da Divisão até 1963 , foram efetuados diferentes exercícios, tanto de Postos de Comando, como exercícios FTX englobando todas as Unidades orgânicas da Divisão, fosse a mesma atuando como um todo ou ainda dividida em Agrupamentos. Assim o GAAA participou durante dez anos não só em exercícios táticos da divisão mas ainda através da realização de diversos exercícios de Fogos Reais, tendo mesmo em 1963 e já após o final da 3ª Divisão realizado uma sessão de Fogos Reais no CIMSM. (BRIGMEC, 2002) b. Da 1ª Brigada Mista Independente à atualidade A partir do período da Guerra Colonial e com o desenrolar da mesma, assiste-se a um declínio da Artilharia Antiaérea em Portugal, sendo extintas diversas unidades devido à praticamente nula ameaça aérea existente nos territórios Ultramarinos. Este declínio atinge o seu ponto máximo já depois do 25 de abril de 1974, através da extinção da maioria das Unidades de Antiaérea no Continente, permanecendo apenas o Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea de Cascais (CIIAC).

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O Ressurgimento da Antiaérea em Portugal dá-se já no início dos anos 80. Derivado da tomada de consciência da importância da mesma no Campo de Batalha, a Direção da Arma de Artilharia, elabora em 1980 um Projeto de Ação com vista a sensibilizar a estrutura superior do Exército para a necessidade da recuperação da Antiaérea em Portugal. Assim, durante a década de 80 são adquiridos pelo Exército Português diferentes sistemas de Armas de Antiaérea e em 1988 é criado o Regimento de Artilharia Antiaérea Nº 1 (RAAA1) . Assiste-se assim a um ressurgir da Antiaérea em Portugal, que culmina ainda com a criação em 1991 da sua unidade mais recente, a Bateria de Artilharia Antiaérea (BtrAAA), criada para garantir apoio à então 1ªBMI. (1) Origem da BtrAAA Em Maio de 1990, através de uma informação do Estado-Maior do Exército, é atribuído ao CIIAC como missão, levantar uma Bateria de Antiaérea. Esta seria constituída pelo Comando, um Pelotão Radar e um Pelotão sistema Míssil Ligeiro Autopropulsionado, de forma a garantir que estivesse pronta a ser transferida de forma definitiva em setembro desse mesmo ano para o CMSM. Em 30 de outubro de 1991, a Bateria é então transferida definitivamente para o CMSM, passando a ocupar as instalações do antigo aquartelamento de Comandos. Durante o primeiro ano de existência e apesar de diversas dificuldades sentidas, nomeadamente ao nível das condições do aquartelamento e, na falta de materiais de transmissões para equipar a Bateria, esta recebe ainda nesse ano, os sistemas Míssil Ligeiro AP M48A2E1 Chaparral e ainda o sistema Radar de Aviso Local AN/MPQ-49B FAAR . (ALVES, 2003) (2) Evolução dos Quadros Orgânicos (Q.O.) Ao longo dos anos de existência da Bateria o seu Q.O. tem vindo a sofrer diversas alterações, essencialmente com o objetivo de reduzir pessoal, procurando racionalizar os recursos existentes. (a) Missão e Possibilidades da BtrAAA Durante a existência da BtrAAA e apesar das sucessivas restruturações relativamente às SubUnidades que compõem o Q.O. da mesma, a sua missão e possibilidades não têm sofrido grandes alterações. Assim o seu Q.O. define como missão: “ (…) executar operações em todo o espectro das operações militares, no âmbito nacional ou internacional, de acordo com a sua natureza.” (EME, 2009) Para além desta missão primária a Bateria apresenta diversas possibilidades da qual se destaca essencialmente e segundo o Q.O, a seguinte : “Conferir protecção antiaérea aos pontos/áreas sensíveis e unidades de manobra, de apoio de combate e de apoio de serviços da Brigada Mecanizada (BrigMec), contra ataques aéreos de aeronaves hostis voando a baixa e muito baixa altitude”. (EME, 2009) (b) Q.O. inicial da BtrAAA O primeiro Q.O. da BtrAAA da 1ª BMI, contemplava essencialmente um Pelotão Míssil Ligeiro, equipado com o sistema AP M48A2E1 Chaparral, dois Pelotões Autopropulsionados equipados com o sistema canhão AP VULCAN, um pelotão Míssil Portátil Stinger e ainda um Pelotão Radar de Aviso Local equipado com o sistema Radar AN/MPQ-49B FAAR. Este quadro orgânico inicial visava essencialmente garantir uma proteção antiaérea adequada às unidades da 1ªBMI, através da combinação dos três sistemas de armas apoiados por um Pelotão Radar de Aviso Local.

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Figura 22 – Organigrama inicial da BtrAAA (Fonte: boletim AAA, 2008) (c) Q.O. da BtrAAA de 1996 a 2007 Em 1994 por despacho do General Chefe do Estado – Maior do Exército, a 1ª Brigada Mista Independente, passa a designar-se Brigada Mecanizada Independente (BMI). Apesar de algumas alterações nas Unidades da BMI, o quadro Orgânico da BtrAAA permanece inalterável com esta mudança. Apenas em 1996 o seu Q.O. sofre a primeira alteração, destacando-se: o desaparecimento dos Pelotões Canhão, a criação de novas secções nomeadamente uma Secção de Ligação e uma Secção de Transmissões e, a criação de um Pelotão Míssil Portátil, passando assim a dois pelotões equipados com o sistema Stinger.

Figura 23 – Organigrama da BtrAAA 1996. (Fonte: boletim AAA, 2008) Em 2000 e já após a receção dos sistemas míssil ligeiro APM48A3 Chaparral , o Q.O. da Bateria sofre nova alteração, desaparecendo um Pelotão Míssil Portátil e criando dois pelotões sistema Míssil Ligeiro. A Bateria passa assim a ser constituída por três Pelotões Míssil Ligeiro e um Pelotão Míssil Portátil. Para além desta alteração verifica-se ainda a criação de um Pelotão de Comando e Serviços, procurando agrupar as diferentes Secções nomeadamente Transmissões, Reabastecimentos, Manutenção e Sanitária. O Q.O. da BtrAAA permanece inalterável até 2006, ano em que um novo é então aprovado. Neste Q.O. a grande alteração é a desmobilização tal como no Q.O. de 1996 do Pelotão de Comando e Serviços, desaparecendo ainda a Secção de Transmissões. No que diz respeito aos pelotões de Sistemas de Armas este permanece inalterável relativamente ao anterior. Em 29 de novembro de 2007, surge nova alteração e aqui com influência direta na capacidade da BtrAAA de cumprir a sua missão. Assiste-se com a aprovação deste Q.O. ao desaparecimento do Pelotão Míssil Portátil Stinger, reduzindo assim substancialmente a capacidade da BtrAAA de garantir uma proteção adequada a todas as Sub-Unidades da BrigMec. (ROSENDO, 2008)

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Figura 24 – Organigrama da BtrAAA 2007. (Fonte: boletim AAA, 2008) (d) Q.O. da BtrAAA de 2009 Com a aprovação do Q.O. de 2009 (em vigor atualmente) verifica-se o aparecimento de novo, de uma Secção de Transmissões. No que diz respeito ao Pelotão Radar, este contempla uma secção Radar de Vigilância a ser levantada. Esta secção encontra-se na orgânica do Pelotão Radar da Bateria de Artilharia Antiaérea das Forças de Apoio Geral, Bateria esta pertencente ao GAAA sediado no RAAA1 em Queluz. Assim quando forem adquiridos sistemas para equipar este pelotão, o mesmo será responsável por garantir o apoio a todas as unidades de Antiaérea do Exército, de acordo com as necessidades, estando previsto se necessário o apoio de uma secção deste pelotão à BtrAAA da BrigMec. Para além destas alterações a orgânica contempla um Pelotão Míssil Portátil, este também a ser levantado conforme as necessidades e a ser fornecido pelo GAAA/RAAA1. Após uma análise do atual Q.O. torna-se importante referir que apesar das diversas unidades que este contempla, atualmente a orgânica da bateria é composta essencialmente por: um Pelotão Radar, equipado com sistema Radar de Aviso Local, três pelotões Sistema Míssil Ligeiro e diversas secções, como traduz o seguinte organigrama:

Figura 25 – Organigrama da BtrAAA 2009. (Adaptado de: EME, 2009)

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(3) Evolução dos Sistemas de Armas (a) Sistema Míssil Ligeiro Durante o primeiro ano de existência, a BtrAAA recebe o Sistema Míssil Ligeiro Chaparral M48A2. Este sistema ao serviço do Exército Português desde 1990 tem como capacidade, executar tiro guiado antiaéreo, conseguindo através do seu subsistema de infravermelhos (FLIR) efetuar a aquisição de objetivos e o seguimento de alvos sob quaisquer condições meteorológicas. Ao longo dos anos a BtrAAA tem funcionado com este mesmo sistema recebendo a sua última versão, M48A3 em 1999. As sucessivas alterações ao sistema inicial introduziram essencialmente, a capacidade de defesa NBQ e ainda através do subsistema IFF a capacidade de identificar aeronaves como “Amigas” ou “Desconhecidas”. Cada Pelotão Míssil Ligeiro contempla quatro secções equipadas com este sistema, sendo cada uma destas composta por um comandante de secção e três serventes, estes últimos divididos em: Condutor, Cabo Apontador e Vigia do Ar.

Figura 28 – Chaparral (Fonte:www.wikiwak.com/image/Chaparral.jpg) (b) Sistema Míssil Portátil Relativamente ao sistema Míssil Portátil, a Bateria até 2007 foi equipada com o sistema Míssil Portátil Stinger, sendo que atualmente, com o desaparecimento do Pelotão Míssil Portátil na BtrAAA a mesma deixou de ser equipada com este material.

(Fonte: http://www.militaryphotos.net) (c) Sistema Radar de Aviso Local No que diz respeito ao sistema Radar de Aviso Local, ao longo da existência da BtrAAA o sistema utilizado não sofreu alterações tendo sido rececionado em 1991 o sistema Radar AN/MPQ-49B FAAR. Este apresenta como missão detetar, localizar e identificar aeronaves voando a baixa e muito baixa altitude e enviar os respetivos elementos de alerta para as unidades de tiro em tempo oportuno,

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contribuindo para uma eficaz reação à ameaça. Das características principais destaca-se a capacidade de deteção de aeronaves com velocidades entre os 20 e os 600 m/s a uma distância máxima de 20 Km. O pelotão Radar de Aviso Local é constituído organicamente por três secções Radar, sendo cada uma destas composta por um comandante de secção e dois serventes.

(Fonte: http://www.areamilitar.net) (4) Exercícios Realizados Desde sempre a Bateria tem participado em diversos exercícios com objetivo do treino operacional. No que diz respeito aos exercícios de Fogos Reais, após a formação da BtrAAA e com o objetivo de treinar as guarnições e testar os meios operacionais, sentiu-se a necessidade da criação de uma carreira de tiro de forma a conseguir efetuar tiro real. Devido ao alcance do míssil que equipa o sistema Chaparral tornava-se impossível efetuar estes exercícios no CMSM. Assim em 1993, definiuse após análise, que a região denominada de “Fonte dos Morangos”, relativamente próxima da vila de Vieira de Leiria e junto à orla marítima possuía as condições ideais para a criação de uma carreira de tiro temporária. Em outubro de 1993 realizou-se assim a primeira sessão de Fogos Reais nesta região, tendo voltado a repetir-se em maio de 1995, contando ambos com a organização da BtrAAA/BrigMec. Em maio de 1999 e já sob coordenação geral do RAAA1, volta-se a realizar uma sessão de Fogos Reais, passando este exercício a englobar não só a BtrAAA/BrigMec mas também as unidades de Antiaérea pertencentes ao RAAA1. (ALVES, 2003) Durante os anos que se seguiram, até à atualidade, a Bateria tem participado em diversos exercícios de Fogos Reais, tendo sido realizado uma média de dois exercícios por ano. Torna-se importante salientar a enorme evolução e excelente prestação dos militares que ao longo do tempo participaram nestes exercícios, garantindo assim um elevado nível operacional da BtrAAA. Relativamente ao treino da parte tática, a Bateria tem realizado desde sempre diversos exercícios internos com a finalidade de garantir elevados níveis de desempenho dos seus Quadros e Guarnições. Para além destes exercícios destaca-se ainda, a sua participação nos exercícios das diferentes SubUnidades da Brigada e ainda em exercícios englobando a Brigada como um todo, nos quais a Bateria tem participado ao longo dos anos com os seus Pelotões, garantindo em termos de treino uma defesa antiaérea às Sub-Unidades da BrigMec. Por fim a bateria tem sido ainda parte integrante de treinos efetuados com a Força Aérea Portuguesa (FAP), que transmitem uma visão bastante aproximada da realidade, permitindo que as secções efetuem treinos bastante importantes no que diz respeito ao seguimento de aeronaves. A BtrAAA tem revelado ao longo da sua existência elevados níveis de desempenho em todos os exercícios em que participa, fruto da enorme dedicação dos militares que nela servem. Assim e apesar das dificuldades existentes atualmente, torna-se imperativo continuar a realizar exercícios tanto táticos como técnicos, de modo a que os militares consigam atingir os níveis de desempenho pretendidos, pois como Aristóteles disse um dia: “Nós somos o que fazemos repetidamente, a excelência não é um feito, e sim, um hábito.”

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BIBLIOGRAFIA • AAVV, “Dez anos de Actividade da Divisão Nun’Âlvares (1953-1963)”, EME-AHM, Lisboa, 1982. • ESCOLA PRÁTICA DE ARTILHARIA (2010). As armas e as munições na Artilharia de campanha. In, Boletim de informação e divulgação Ano XI/II série, pp. 11-31. • GENERAL JOÃO A. DOS SANTOS CALLADO. Apontamento sobre a construção do CIMSM. • TELO, António José, Portugal e a Nato, o reencontro da tradição atlântica. • TELO, António José, Portugal e os 50 anos da aliança atlântica 1949-1999. • TELO, António José, Portugal e a NATO, Edições Cosmos, Lisboa, 1996. • 50 anos do Campo Militar de Santa Margarida, QG/CMSM, Cor Infª Armando A. G. Borges, 2000. • Anuário do Campo Militar de Santa Margarida, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2008. • Escola Prática de Artilharia, As Armas e as Munições na Artilharia de Campanha. - Boletim de informação e divulgação Ano XI / II Série. • Ordem de Serviço Nº 001, Quartel da Artilharia, 26 de outubro de 1994. • Ordem de Serviço Nº221, GAC/1ª BMI, 18 de Novembro de 1993. Livros • BORGES, J.V. (2007). Armamento do Exército Português vol. II – Armamento de Artilharia Antiaérea, Prefácio, Lisboa. • EME (1982), Síntese Histórica da Artilharia Portuguesa, Imprensa Portuguesa, Porto. Manuais • EME (1952). Quadros Orgânicos de Mobilização - Grupo de Artilharia Antiaérea de 4cm (Tração Auto), Estado-Maior do Exército, Novembro, Lisboa; • EME (1954). Quadros Orgânicos de Mobilização - Grupo de Artilharia Antiaérea de 4cm (Tração Auto), Estado-Maior do Exército, Agosto, Lisboa; • EME (1957). Quadros Orgânicos de Mobilização - Grupo de Artilharia Antiaérea de 4cm (Tração Auto), Estado-Maior do Exército, Dezembro, Lisboa; • EME (1997). RC 18-100 Regulamento de Táctica de Artilharia Antiaérea, Estado-Maior do Exército, Setembro, Lisboa; • EME (2002). MC 18-2 Regulamento da Bateria de Artilharia Antiaérea, Estado-Maior do Exército, Julho, Lisboa; • EME (2009). Bateria de Artilharia Antiaérea da BrigMec – Quadro Orgânico n.º 24.0.07.Estado-Maior do Exército, Junho, Lisboa; Publicações Periódicas • ALVES, Maj Mariano (2003) A Bateria de Artilharia Antiaérea da Brigada Mecanizada Independente, Boletim de Artilharia Antiaérea, Nº3, II Série, outubro, p. 169-172; • BENRÓS, TCor José (2005). A Artilharia Antiaérea na transformação do Exército, Boletim da Artilharia Antiaérea, Nº5, II Série, outubro, p.18-26; • BENRÓS, TCor José (2006). A Artilharia Antiaérea em Portugal, Boletim da Artilharia Antiaérea, Nº6, II Série, Julho, p.92-95; • BRIGMEC (2002). A 3ª Divisão, 50 Anos do Campo Militar de Santa Margarida 1952-2002, Novembro, p. 81-102; • GRILO, TCor António (2007) A Artilharia Antiaérea no Sistema de Forças Nacional, Boletim da Artilharia Antiaérea, Nº7, II Série, outubro, p.10-15; • MONSANTO, TCor Ricardo (2008) 20 Anos da Evolução dos Sistemas de Armas do RAAA1, Boletim de Artilharia Antiaérea, Nº8, II Série, outubro, p. 39-41 • ROSENDO, Maj Paulo (2008) A Bateria de Artilharia Antiaérea da Brigada Mecanizada, Boletim de Artilharia Antiaérea, Nº8, II Série, Outubro, p.48-52; • ESTRIGA, Cap Hélder (2003) A Defesa Antiaérea do Porto e do Entroncamento, Boletim de Artilharia Antiaérea, Nº3, II Série, Outubro, p. 84-85;

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CAPÍTULO I – DA 1ª DIVISÃO DO CORPO EXPEDICIONÁRIO

O contributo português face a esse compromisso materializou-se na criação de uma Divisão. (Revista 20 Anos da Brigada Mecanizada de Santa Margarida, 1998).

Em Novembro desse ano, é inaugurado o Campo de Instrução Militar de Santa Margarida por Sua Ex.ª o Chefe do Estado, sendo que na segunda metade de 1953, a 1ª Divisão foi dotada de pessoal no sentido de dar início às atividades de instrução e treino desta Grande Unidade. Estas compreendiam anualmente vários Exercícios de Postos de Comando e Manobras (ver foto nº1) no quadro divisionário, com efetivos variáveis que atingiram um total de 25 mil homens. Participaram nestes exercícios a grande maioria dos oficiais, sargentos e praças do Exército Português, que assim, tinham oportunidade de aplicar no campo os seus conhecimentos teóricos e de os desenvolver e aperfeiçoar, tanto em ambiente operacional como em trabalho de equipa.

Em 1952, foi então constituída a 1ª Divisão de Infantaria a qual se designou por 1ª Divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP), e que tem como seu patrono o Santo Condestável D. Nuno Álvares Pereira. (Revista 20 Anos da Brigada Mecanizada de Santa Margarida, 1998).

À semelhança das outras armas, a Escola Prática de Engenharia (EPE) e os Regimentos de Engenharia Nº1 em Lisboa e Nº2 do Porto, também treinavam os seus militares no campo. (Livro Síntese Histórica de dez anos de atividade da Divisão Nun’Álvares, 1953-1963).

Na sequência do fim do conflito mundial e tendo em vista a constituição de um sistema de defesa coletiva que permitisse ombrear com a ameaça proveniente de leste e manter a Alemanha controlada, é criada a OTAN, da qual Portugal é membro fundador. Nesta organização de caráter político-militar, os estados membros concordam com a defesa mútua em resposta a um ataque por qualquer entidade externa.

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Foto1- Manobras Divisionárias CAP II – DA CONSTRUÇÃO DO CAMPO MILITAR À época da construção do Campo Militar de Santa Margarida, a Engenharia possuía as seguintes Unidades: - A EPE em Tancos, com o Batalhão de Pontoneiros e o Depósito de Pioneiros; - Regimento de Engenharia nº1 em Lisboa; - Regimento de Engenharia nº2 no Porto; - Batalhão de Telegrafistas em Lisboa; - Batalhão de Sapadores de Caminhos de Ferro em Lisboa; - A Companhia de Instrução do Batalhão de Sapadores de Caminho de Ferro no Entroncamento; - Grupo de Companhias de Trem-Auto em Lisboa; - Depósito Geral de Material de Engenharia em Lisboa; - Oficinas Gerais de Material de Engenharia em Lisboa; A obra de construção do Campo de Instrução Militar foi iniciada em Maio de 1952 sendo que a 1ª fase deveria estar concluída em Julho de

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1954. Em Agosto de 1953, estavam reunidas as condições para alojar as tropas de uma Divisão. A entidade responsável pela condução das obras foi a Direção da Arma de Engenharia, que dispunha de um gabinete de projeto em Lisboa e uma direção de estaleiro no local da construção (ver foto nº2). Visto a aquisição do material ter sido feito em grande escala, esta foi realizada por concurso público. Com efeito, uma obra desta dimensão necessitou de muita madeira e pessoal de carpintaria. Nas oficinas da Escola Prática de Engenharia, além de mobiliário (mesas, cadeiras, secretárias etc), foram pré-fabricados variados elementos, principalmente de madeira, que eram terminados nas oficinas construídas no Campo Militar para esse efeito, com a ajuda de gruas e outros aparelhos. Desta forma obtiveramse economias na ordem dos 30 a 50% em relação ao preço praticado por empresas civis. (Caracterização da Engenharia Militar PortuguesaEPE, 1997). Esta obra tinha como finalidade garantir alojamento para cerca de 18 mil Homens. Nessa medida, resolveu-se adotar um modelo de construção com compartimentação interior simples e funcional, que permitiu criar três tipologias de edifícios: Edifício multi-funções (comando, casernas, depósitos, alojamentos OF/Sar, etc), edifício de balneários e um terceiro que serviria de instalações sanitárias. Estimase que o número de trabalhadores envolvidos na execução da obra tenha atingido um total de três mil pessoas, entre pessoal indiferenciado e elementos especializados. (Caracterização da Engenharia Militar Portuguesa- EPE, 1997). Além do planeamento e execução dos planos e projetos dos edifícios que viriam a ser edificados no Campo Militar, a Direção da Arma de Engenharia foi ainda encarregue de efetuar o planeamento e execução da estrada de ligação do campo à EN118 e a construção da estação de caminhos-de-ferro e respetivos cais que servissem o Campo. A ligação da EN118 ao Campo fez-se utilizando a estrada já existente até Santa Margarida da Coutada, a que se acrescentou cerca de 2km de pavimento em betume asfáltico com 7 metros de largura. (Caracterização da Engenharia Militar Portuguesa - EPE, 1997).


Foto nº2- Modelo de Edifício para o Campo Militar de Santa Margarida CAP III – DAS 2ª E 3ª DIVISÕES DO CORPO EXPEDICIONÁRIO E PERÍODO DO ESTADO NOVO. É deveras importante realçar que no intervalo de 1954 até 1975 a Engenharia esteve presente nas campanhas de descolonização, na Índia (19541961) e em África (1961-1975), que segundo o Jornalista Martinho Simões num extrato do Livro “Nas Três Frentes”, refere que a “…Equipa de formigas, a Engenharia Militar laboriosamente realiza uma obra de gigantes que, por muito estranho que seja, passa despercebido”. As origens do Batalhão de Engenharia 3 remontam a 1953, podendo dizer-se que na sua origem primitiva esteve o Batalhão de Engenharia Divisionário (CCS e duas companhias de sapadores) que se formou na Escola Prática de Engenharia para a articulação orgânica da 1ª Divisão atribuída ao SHAPE (Supremo Quartel-General das Potências Aliadas na Europa). (Livro Comemorativo dos 350 Anos, Vol. 1, Engenharia Militar Portuguesa, 1997). Em 1954 a 1ª Divisão é substituída pela 2ª Divisão onde o Batalhão de Engenharia é integrado mas sob dependência da Escola Prática de Engenharia (mobilização de cargas de material). Só em 1955 passa a estar aquartelado no Campo Militar de Santa Margarida, resultado da organização da 3ª Divisão do Corpo do Exército Português igualmente atribuída ao SHAPE

como encargo nacional português para a OTAN, passando nesta altura a designar-se por Batalhão de Engenharia 3 (BEng3), unidade mobilizada e apoiada pela Escola Prática de Engenharia. Nestes primeiros anos o BEng3 só tinha vida efetiva nos períodos em que se realizavam as manobras anuais, regressando depois à Escola Prática de Engenharia e sendo desmembrado. (Livro Comemorativo dos 350 Anos, Vol. 1, Engenharia Militar Portuguesa, 1997). Em 1956 verificam-se novas mudanças e com o términus das manobras, só alguns dos efetivos do batalhão regressam à Escola Prática de Engenharia, ficando o BEng3 instalado com caráter permanente no Campo de Instrução Militar de Santa Margarida, naquelas que são hoje as instalações ocupadas pelo Batalhão de Apoio de Serviços da Brigada Mecanizada. A sua primeira ordem de serviço data de 3 de Setembro de 1956, sendo o seu primeiro Comandante o TenenteCoronel de Engenharia Cesário Pereira Montez. As principais tarefas do BEng3 materializavamse na abertura e manutenção de itinerários, na construção e conservação de edifícios, tendo também a responsabilidade técnica pelos sistemas de abastecimento de água e energia elétrica, rede de esgotos e oficinas do Campo Militar. (Livro Comemorativo dos 350 Anos, Vol. 1, Engenharia Militar Portuguesa, 1997). A partir de 1962 o BEng3 passou a ter o Centro de Instrução Especial, responsável pela

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formação técnica de praças de quase todas as especialidades de engenharia, especialmente operadores e mecânicos de equipamento pesado de Engenharia, grande parte dos quais integraram as Companhias de Engenharia e de Construção mobilizadas para o Ultramar. (Livro Comemorativo dos 350 Anos, Vol. 1, Engenharia Militar Portuguesa, 1997). CAP IV – DO REVOLUCIONÁRIO.

PERÍODO

PÓS-

Findas as campanhas do Ultramar, recomeçou um processo lento de transformação, cuja linha de força principal é, ainda hoje, a obtenção de uma componente operacional moderna e dimensionada ao nível dos outros Países membros da OTAN. Em 1976, na sequência do Decreto-Lei nº 181/76 de 4 de Maio o BEng3 é extinto, dando origem ao Regimento de Engenharia de Espinho (REE), sendo os seus meios transferidos para essa unidade. (Livro Comemorativo dos 350 Anos, Vol. 1, Engenharia Militar Portuguesa, 1997).

subunidade foi cometida à Escola Prática de Engenharia e à Direção da Arma de Engenharia. (Livro Comemorativo dos 350 Anos, Vol. 1, Engenharia Militar Portuguesa, 1997). A Companhia de Engenharia da 1ª BMI, foi levantada no aquartelamento do Casal do Pote, no polígono de Tancos, a partir de 15 de Abril de 1977, com a nomeação do seu primeiro Comandante, o Capitão de Engenharia Alfredo Pires Guerreiro, e o levantamento do 1º Pelotão de Engenharia. (Livro Comemorativo dos 350 Anos, Vol. 1, Engenharia Militar Portuguesa, 1997). A formação da Companhia ficou praticamente completa em pessoal e material em janeiro de 1981, com o Pelotão de Pontes equipado com as Viaturas Blindadas de Lançamento de Pontes da classe 60 e a Ponte Flutuante Dobrável Ribbon, da Classe 60, meios adquiridos ao Exército dos Estados Unidos da América. Em 11 de dezembro de 1985 passou a ocupar as atuais instalações em Santa Margarida, permanecendo no entanto o Pelotão de Pontes em Tancos, devido à existência próxima de local apropriado para a instrução dos meios de travessia de cursos de água. Estas novas instalações foram oficialmente inauguradas em 06 de Abril de 1986. No âmbito do processo de completa mecanização da Brigada, a Companhia de Engenharia, foi a partir de 1994, equipada com Viaturas Blindadas de Transporte de Pessoal M113A1 provenientes da Holanda, passando assim a ser a primeira unidade mecanizada da Engenharia Militar Portuguesa. Nos anos de 2000 e 2001, foi também equipada com Viaturas de Combate de Engenharia e uma Viatura Blindada Ligeira de Recuperação. (Livro Comemorativo dos 350 Anos, Vol. 1, Engenharia Militar Portuguesa, 1997). CAP V – DA ENGENHARIA NAS FORÇAS NACIONAIS DESTACADAS

Foto Nº 3 – Escudo de Armas do BEng 3 No mesmo processo de reorganização é extinta a Divisão e iniciado o levantamento da 1ª Brigada Mista Independente (1ª BMI) e das suas subunidades onde se inclui uma Companhia de Engenharia. A tarefa de levantamento desta

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Desde a sua criação que a Companhia de Engenharia tem vindo a participar ativamente em todos os exercícios da Brigada, a nível nacional e internacional, nomeadamente nos exercícios das séries ARCO, ROSA BRANCA, ROSA BRAVA, ORION, MARTE, DISPLAY DETERMINATION, DENSE CROOP, WINTEX CIMEX, ARDENT GROUND, DYNAMIC MIX, LINKED SEAS E STRONG RESOLVE, entre outros. Para além do


treino operacional que permanentemente ministra aos seus quadros e tropas, dos apoios prestados aos exercícios finais de outras unidades e das tarefas eminentemente operacionais, tem ainda a Companhia de Engenharia desempenhado um vasto conjunto de missões de apoio às infraestruturas do Campo Militar de Santa Margarida e às populações locais através da realização de trabalhos para diversas autarquias. (Livro Ao Serviço da Paz – A Engenharia Militar Portuguesa na UNIFIL). Desde 1996 a CEng levantou e participou no aprontamento de Destacamentos de Engenharia para integrar as Forças Nacionais Destacadas que, na Bósnia Herzegovina, Kosovo e Timor Leste, têm garantido Apoio de Combate e Apoio à sustentação das Forças Portuguesas, bem como às populações locais. Em 12 de outubro de 2006, por portaria do Ministro da Defesa Nacional, o Governo autoriza o CEMGFA, a aprontar e a empregar uma missão militar constituída por uma Companhia de Engenharia (CEng) do Exército a participar no reforço à UNIFIL.Aopção pelo emprego da CEng assenta na sua grande versatilidade para realização de trabalhos em apoio da UNIFIL e em apoio das populações do sul do Líbano, aliado às capacidades técnicas dos Soldados de Engenharia. A Diretiva nº65/CEME/06, marca o início da constituição da Unidades de Engenharia (UnEng). Tendo a missão de levantamento da 1ª Unidade sido cometida à Brigada Mecanizada, é então nomeada como Unidade Mobilizadora a Companhia de Engenharia da BrigMec (Livro Ao Serviço da Paz – A Engenharia Militar Portuguesa na UNIFIL). Assim, em Setembro de 2006, tendo como base a CEng, foi levantada e projetada para o Teatro de Operações do Líbano, a 1ª Unidade de Engenharia (UnEng1/FND/UNIFIL) constituída desde a Guerra do Ultramar. Em 2007, fruto da experiência e vivência acumulada no Teatro de Operações do Libano, constitui-se como Companhia de Engenharia para o Battlegroup da União Europeia, cuja Framework Nation é a Espanha, estando até ao final do 1º Semestre de 2008 no período de Stand-By. A CEng projetou em dezembro de 2008 a UnEng5/FND/UNIFIL, em Junho de 2010 UnEng8/FND/UNIFIL e por último em janeiro de 2012 a UnEng11/FND/UNIFIL, que viria a ser a última unidade presente no território. (Livro Ao Serviço da Paz – A Engenharia Militar Portuguesa na UNIFIL.

Foto Nº 4 – Réplica de Castelo erigido à entrada do “Ubique Camp” – Shama, em Homenagem aos Militares que Participaram nessas FND CAP VI – DO LABORATÓRIO ENGENHARIA DE COMBATE

DA

Finda a missão em território libanês ao serviço das Nações Unidas, novos desafios se colocam à companhia de Engenharia, a começar pela regeneração do potencial da Unidade, enquanto força de engenharia de combate. A nova conflitualidade e os métodos utilizados pelos adversários exige da Engenharia um esforço acrescido de ajustamento de velhas missões a novos ambientes e acima de tudo um ambiente em que todo o espetro eletromagnético é usado. Continuando a longa ligação das unidades de engenharia sediadas neste campo à Escola Prática de Engenharia, a companhia de Engenharia da BrigMec pode e deve ser um verdadeiro laboratório da engenharia de combate, onde sejam testadas e validadas as novas Técnicas, Táticas e Procedimentos de engenharia, num ambiente fisicamente inigualável em qualquer outra grande unidade do Exército, que é a possibilidade de trabalhar em permanência num conceito de armas combinadas. BIBLIOGRAFIA - Revista 20 Anos da Brigada Mecanizada - Síntese Histórica de dez anos de actividade da Divisão Nun’Álvares 1953-1963 - Caracterização da Engenharia Militar Portuguesa – EPE, 1997 - Ao Serviço da Paz – A Engenharia Militar Portuguesa na UNIFIL - Livro Comemorativo dos 350 Anos, Vol. 1, Engenharia Militar Portuguesa, 1997

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Ao abordarmos a presença das Transmissões Militares no Campo Militar de Santa Margarida (CMSM) ao longo da sua história, não se pode dissociar as designadas transmissões permanentes (de carater territorial) das de campanha. Estas duas áreas de apoio de comunicações encontram-se intimamente ligadas entre si, disponibilizando os meios necessários ao Comandante para o exercício do Comando e Controlo da Brigada, enquanto aquartelada ou em situações operacionais. Por forma a compreendermos melhor a evolução do apoio das Transmissões, há que enquadrá-lo na própria história das Transmissões - desde o Corpo Telegráfico em 1810, até às comunicações digitais de hoje - passando pela Companhia de Telegrafistas de 1884, o Batalhão de Telegrafistas de 1913, o Batalhão de Transmissões nº3 sedeado no Casal do Pote, a dependência das Transmissões da Arma de Engenharia e o Sistema Integrado de Telecomunicações do Exército Português (SITEP).

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1. AS TRANSMISSÕES MILITARES De acordo com o Coronel Aniceto Afonso, a história das TRANSMISSÕES MILITARES começa em 1810, com a criação da primeira unidade com responsabilidades nesta área de atuação - o Corpo Telegráfico. É certo que a necessidade de comunicações para fins militares surge com as origens do próprio conflito, mas o Corpo Telegráfico foi de facto, em Portugal, a primeira tentativa de estruturar uma vertente de apoio que se tornava cada vez mais necessária e mais exigente. A criação de Corpo Telegráfico obedeceu às necessidades de um contexto de guerra, com as tropas invasoras presentes em território português, provavelmente a caminho de Lisboa. Assim, é facilmente compreensível que a sua primeira grande ação ocorresse nas Linhas de Torres Vedras, onde se conduzia a grande operação defensiva das forças anglo-portuguesas em torno da capital. A transmissão de mensagens fazia-se através de telégrafos óticos, cujos vários postos


encontravam-se instalados em duas das linhas de fortes e fortins, entre o Tejo e o mar, e que retransmitiam a mensagem desde o originador até ao destinatário. Este sistema prestou serviços de elevada importância, sabendo-se hoje que nestes postos se usaram também telégrafos de origem portuguesa, inventados por Francisco Ciera, diretor do Corpo Telegráfico, guarnecidos por pessoal português do Corpo Telegráfico. Depois da Guerra Peninsular, a rede de postos estendeu-se a quase todo o país constituindo desta forma a primeira rede de comunicações à distância, infraestrutura que possibilitou a tão importante aproximação das regiões mais distantes aos centros de poder. O telégrafo elétrico chegou a Portugal em meados do século XIX, substituindo o telégrafo ótico e expandindo o sistema de comunicação a quase todo o território nacional. Nesta rede, inaugurada em 1855 utilizaram-se inicialmente os telégrafos Breguet e depois os telégrafos Morse, que aca baram por ser os dominantes. A nova rede foi inicialmente operada pelo Corpo Telegráfico mas, após assegurada a total transição da telegrafia ótica para a telegrafia elétrica, dá-se a extinção do Corpo Telegráfico, em 1864, assumindo o Ministério das Obras Públicas a responsabilidade sobre a rede telegráfica.

Só em 1873, o Exército voltaria a ter uma rede telegráfica permanente, inaugurada no dia 17 de setembro, dia que hoje se mantém como o dia festivo do Regimento de Transmissões. No ano seguinte foi criada a Direção do Serviço Telegráfico Militar e publicadas pelo seu diretor, Francisco da Câmara Leme, as primeiras “Instruções Provisórias para o Serviço das Estações Militares”. Em 1880 foi desenvolvida a rede de pombais militares que vinha do anterior e reintroduziu-se a telegrafia ótica (através de semáforos, lanternas e heliógrafos), sendo desenvolvidas paralelamente as primeiras experiências para a utilização de telefones. Com a Reorganização Fontista do Exército, em 1884, foi criada a Companhia de Telegrafistas, primeira Unidade de Transmissões de Campanha, integrada no Regimento de Engenharia que ocupava as instalações do Quartel dos Quatro Caminhos, hoje Regimento de Transmissões. No início do século XX as Transmissões passaram a depender da Arma de Engenharia com a criação da Inspeção dos Telégrafos Militares e da Companhia dos Telegrafistas de Praça. Foram continuados os trabalhos anteriores para a utilização de equipamentos telefónicos, resultando na montagem da primeira rede telefónica militar e na introdução da telegrafia sem fios (TSF) através

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de quatro estações TelefunKen adquiridas em 1909. A evolução das Transmissões do Exército na primeira metade do século XX foi marcada pela participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, verificando-se significativas mudanças antes, durante e depois da guerra. Antes da Primeira Guerra Mundial, as transmissões no Exército foram sobretudo permanentes, evoluindo relativamente pouco em relação ao sistema herdado do século XIX. Com a reorganização republicana do Exército, em 1911, surgiu a Inspeção dos Serviços Telegráficos Militares e foram criadas a Companhia TSF e a Companhia Aerosteiros. A organização é completada em 1913 com o Batalhão de Telegrafistas de Campanha, constituído essencialmente por uma Companhia de Telegrafia Por Fio (TPF) e uma Companhia de TSF, unidades que vieram a desempenhar um papel importante na participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial. Durante a Guerra, o predomínio foi naturalmente das transmissões de campanha, com o seu emprego em três frentes: Angola, Moçambique e, em especial, a Flandres. A necessidade de pessoal e o esforço de mobilização para a componente de campanha afetaram as transmissões permanentes.

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Com o envio para Flandres do Corpo Expedicionário Português, o sistema de transmissões adotado foi naturalmente o sistema inglês, recaindo na utilização dos sistemas telefónico, telegráfico, rádio (sobretudo nos escalões mais elevados), pombos-correio, foguetes de sinais, e como sempre, os mensageiros. Depois da Primeira Guerra Mundial ocorreu uma progressiva desvalorização das transmissões de campanha, com o seu pessoal e material sistematicamente a ser direcionado para os sistemas permanentes, principalmente nas estações radiotelegrafistas. 2. AS TRANSMISSÕES DE CAMPANHA EM SANTA MARGARIDA E TANCOS A primeira presença significativa das TRANSMISSÕES DE CAMPANHA em Santa Margarida/Tancos surge na sequência da entrada de Portugal na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da constituição nos inícios da década de 50, da 3ª Divisão (Divisão SHAPE) designada de Divisão Nun’Álvares. A motorização da Divisão com o auxílio americano deu lugar a uma dotação de material de transmissões em todas as Armas e Serviços, em especial na quantidade e qualidade dos equipamentos rádio, que se traduziu no aumento da eficácia das transmissões não só na Divisão mas em todo o Exército. Na orgânica Americana, a Divisão era apoiada por uma Companhia de Transmissões, que foi formada no Porto tendo, em 1953, atuado em manobras em Santa Margarida. Contudo, em 1956 surge a necessidade de alterar o escalão da Unidade de transmissões pela constatação das necessidades de apoio de comunicações que o exercício do Comando e Controlo numa Unidade de escalão divisionário realmente requeria. Uma vez que as transmissões constituíam um ramo especial dentro da Arma de Engenharia, a sua Escola Prática recebeu o encargo de mobilizar um Batalhão de Transmissões em substituição da Companhia que anteriormente mobilizava. Surge assim o BATALHÃO DE TRANSMISSÕES Nº 3 (BTm3) que ocupa um aquartelamento no Casal do Pote e que materializa as importantes mudanças nas transmissões de campanha ocorridas entre a entrada de Portugal na OTAN e o início da Guerra Colonial. Com o BTm3 apareceram novos meios de


transmissões, em substituição dos rudimentares, pouco seguros e pouco eficientes para o exercício do Comando e Controlo, existentes até à data. Assim aparecem: - Os primeiros feixes hertzianos de campanha, os terminais AN/TRC 3, com terminais telefónicos e telegráficos TC 22, que permitiam quatro canais de voz simultâneos e constituíam um progresso indiscutível em relação ao lançamento de linhas; - Os primeiros teleimpressores de campanha que permitiam maior capacidade no escoamento de tráfego; - Os primeiros Rádios FM de campanha, que permitiam maior fiabilidade das comunicações em fonia a qualquer hora do dia, nomeadamente nas comunicações dos carros de combate, com os excelentes rádios SCR 508 e 528 e SCR 608 e 628, controlados a cristal. Enquanto a Divisão Nun’Álvares e o CMSM orientavam esforços para o aprontamento dos contingentes para os Teatros Ultramarinos, é criada a Arma de Transmissões através do Decreto Nº364/70, publicado na Ordem do Exército Nº8 (1ª Serie) de 31 de Agosto de 1970. Posteriormente, com os ajustamentos que a Arma de Transmissões sofre e a criação da 1ª Brigada Mista Independente (1ª BMI) com a extinção da 3ª Divisão, é criada a COMPANHIA DE TRANSMISSÕES (CTm) da 1ª BMI, constituindose como parte integrante da sua estrutura orgânica. Em setembro de 1976 foram colocados os primeiros militares de Transmissões na Companhia: dois Oficiais que, por não haver ainda espaço físico destinado a esta, ficaram instalados no Quartel-General da 1ª BMI. No ano seguinte é colocado um segundo grupo de militares, constituído por 6 Sargentos, 12 Praças operadores de transmissões, 5 Praças condutores auto e respetivo equipamento, 4 viaturas pesadas Berliet com cabinas equipadas com rádios TR15 e TR28, assim como uma central telefónica manual BL10. Podemos considerar que este foi o primeiro núcleo de Transmissões com capacidade de operar como tal, ainda que essa capacidade fosse limitada. O primeiro apoio efetivo a exercícios da Brigada ocorreu logo nesse ano, com a participação no Exercício “ORION 77”. Foi a partir deste núcleo que a CTm foi crescendo até alcançar uma dimensão significativa e publicada a primeira Ordem de Serviço, datada de

02 de novembro de 1978, pelo então Comandante da Companhia de Transmissões, Major Tm (Eng.º) Pedro Rocha Pena Madeira, adotando-se este dia para celebração do aniversário da Unidade. Em Agosto de 1979, a CTm foi instalada provisoriamente no aquartelamento do Batalhão de Apoio de Serviços da 1ªBMI e posteriormente na 4ª Bateria do Grupo de Artilharia de Campanha, passando a ocupar definitivamente as atuais instalações em 1988. Em 10MAR98 é aprovado o seu primeiro Quadro Orgânico (QO 6.8.651). A CTm constitui assim uma das subunidades da Brigada Mecanizada (BrigMec), ocupando as suas instalações no Campo Militar de Santa Margarida e sendo responsável pelo funcionamento da infraestrutura de comunicações e sistemas de informação em apoio ao exercício do Comando e Controlo da Brigada, graças aos seus equipamentos rádio, telefone, teletipo e sistemas multicanal. A CTm apresenta como missão “prepara-se para executar operações em todo o espectro das operações militares, no âmbito nacional ou internacional, de acordo com a sua natureza”, tendo o seu atual Quadro Orgânico sido aprovado em 29FEV09. Encontra-se articulada funcionalmente por forma a garantir flexibilidade no apoio através do emprego de módulos específicos para cada tipologia de sistema a implementar em apoio aos diferentes Postos de Comando (PC). A CTm/BrigMec encontra-se assim organizada em 4 Pelotões, com possibilidades diversas e distintas, por razões relacionadas com a instrução e treino do seu pessoal e para efeitos de Comando e Controlo. O Destacamento de

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Guerra Eletrónica é a única componente que não se constitui à custa dos efetivos da Companhia, sendo responsabilidade da Escola Prática de Transmissões. Para implementar um Sistema de Comunicações de apoio ao Comando e Controlo das Operações da BrigMec, cada Pelotão articula-se nas suas Secções com a finalidade de constituírem um Centro de Comunicações (CCom) autónomo para apoio ao Posto de Comando da Grande Unidade (BrigMec), ou de uma Unidade de Escalão Batalhão. Para isso, cada CCom é constituído, normalmente, por uma secção de Feixes Hertzianos, uma Central Telefónica e uma RAPC (transmissão de dados por rádio utilizando o programa STM3). Deste modo, o CCom é constituído por diferentes meios cuja responsabilidade de implementação e operação se encontra distribuída pelos diferentes Pelotões. Doutrinariamente, o Sistema de Comunicações da Brigada assenta, basicamente, na montagem de dois CCom de apoio aos PC Principal e Tático da BrigMec, e Núcleos de Comunicações de apoio aos PC das Unidades, permitindo o exercício do Comando e Controlo da BrigMec.

São disponibilizados serviços de voz e de dados, embora esta última seja de alguma forma limitada uma vez que a transmissão de dados é efetuada através de centrais telefónicas PCD 132 (por chamada RDIS), tendo uma largura de banda máxima de 128 Kbps, nitidamente insuficiente para a tipologia de sistemas de informação que atualmente são fornecidos aos utilizadores (Sistema de Informação para o Comando e Controlo do Exército – SICCE, portais web de partilha de informação, videoconferência, email, etc). O Comando e Controlo à voz é exercido através das várias redes rádio e circuitos filares (telefónicos) identificadas como sendo necessários para determinada situação tática. A CTm/BrigMec é totalmente motorizada e os seus meios de comunicações estão instalados em Cabinas de Transmissões, conferindo condições de acondicionamento que permitem a sua operação e o transporte adequado, assim como um elevado grau de flexibilidade ao sistema que integram. Os grupos geradores existentes permitem que o apoio de comunicações seja garantido 24 sobre 24 horas.

Por forma a garantir o apoio mencionado, a CTm/BrigMec dispõe de uma Estrutura Orgânica de Material que contempla uma grande variedade de equipamentos de comunicações, a maioria com anos consideráveis de utilização e características técnicas que os tornam desajustados face às exigências operacionais, táticas e de segurança dos atuais cenários. Destacam-se os seguintes: • Equipamentos Rádio:

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• Central Telefónica:

• Meios Criptográficos: P/IC – 425 (de origem Portuguesa). • Equipamentos de Dados: Routers Cisco e Switch D-Link. • Viaturas táticas (onde estão montadas as cabines de comunicações) Mercedes Unimog 1750; Mercedes Unimog 1300; Toyota Land Cruise (instalados apenas meios rádio). A CTm/BrigMec espera que os novos módulos de comunicações destinados à implementação do Sistema de Informação e Comunicações Tático (SIC-T), capazes de disponibilizar maiores larguras de banda e desta forma satisfazer as necessidades de fluxo de informação associadas aos novos campos de batalha, sejam entregues de modo a possibilitar um apoio de comunicações mais eficiente à Brigada Mecanizada. Por forma a disponibilizar aos utilizadores do SIC-T os serviços existentes no Sistema de Informação e Comunicações Operacional (SICOp), nomeadamente o portal da intranet e email, bem como explorar outros sistemas de informação simultaneamente em ambiente de treino operacional com forças no terreno e aquarteladas, a CTm/BrigMec efetua a interligação entre as duas redes socorrendo-se do sistema multicanal FM200 e do nodo existente no Destacamento de Comunicações e Sistemas de Informação Centro (DestCSI Centro).

3. TRANSMISSÕES PERMANENTES EM SANTA MARGARIDA O DestCSI Centro é efetivamente um órgão que, apesar de se encontrar nas instalações da BrigMec, depende do Regimento de Transmissões e tem atribuída a responsabilidade de garantir o apoio regional às TRANSMISSÕES DE CARÁTER TERRITORIAL do Exército. A sua área de responsabilidade estende-se desde Coimbra até à Serra de São Mamede, passando por Tomar,

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Entroncamento, Tancos, Abrantes e Estremoz. Mas o apoio de comunicações de caráter territorial, ou Permanentes, no CMSM tem vindo a sofrer evoluções ao longo do tempo, paralelamente com o apoio de comunicações de campanha, sendo implementadas novas infraestruturas e tecnologias. Até ao início da década de 80 encontravamse instaladas centrais PPC no Entroncamento, Tancos, Abrantes e Santa Margarida assim como implementadas ligações de feixes analógicos garantindo a interligação destas Unidades com um nodo de repetição no CHORAFOME (próximo de Tancos). Nos anos seguintes foram iniciados os trabalhos de instalação dos PPCA eletrónicos, em substituição dos PPC e CROSSBAR, de tal modo que, em 1987, o número de correspondentes da Rede Regional da Brigada ascendia a 384.

As transmissões Permanentes em Santa Margarida nesse período eram as internas ao próprio Campo, acrescendo a existência de ligações com alguns canais telefónicos a Lisboa, de onde se ganhava acesso às outras Regiões Militares/Zonas Militares (RM/ZM) e um terminal de telex ligado à Central Telegráfica de Lisboa. O tráfego entre o Comando da Brigada e as suas Unidades que se encontravam fora do CMSM tinha de passar forçosamente por Lisboa e daqui para o CHORAFOME, de onde radiava para Tomar, Entroncamento, Tancos e Abrantes, por quatro canais cedidos pela Força Aérea na ligação analógica Lisboa-Porto. Nestas condições, para estabelecer ligação entre o Comando e as Unidades ligadas ao CHORAFOME, tinha de ser efetuada uma chamada para Lisboa, de Lisboa para o CHORAFOME e daí para a Unidade respetiva. O primeiro passo na evolução do sistema

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dá-se com a libertação dos canais Lisboa-Porto e a instalação dos repetidores analógicos no CHORAFOME, por não existir linha de vista direta entre cada uma das Unidades e o CMSM. A partir daí, uma ligação entre o Comando da Brigada e cada uma das suas Unidades exteriores ao CMSM era repetida no CHORAFOME, fazendo o percurso CMSM – CHORAFOME - Unidade e vice-versa. Na segunda metade da década de 80 foi implementado o Sistema Integrado de Telecomunicações do Exército Português (SITEP) que introduzia a digitalização das transmissões, promovendo a comutação de mensagens por pacotes e introduzindo a fibra ótica e feixes hertzianos digitais como meio de transporte de informação. O SITEP é um sistema que obedece aos três critérios base: respeita o cenário tecnológico envolvente; tem em conta os requisitos operacionais do Exército; e incorpora tecnologias emergentes de valor provado. Considerou-se como cenário envolvente o teatro de operações estendido a todo o território nacional, os meios e estruturas militares de transmissões existentes, as infraestruturas de transmissões dos Ramos das Forças Armadas, das Forças de Segurança, da OTAN, infraestruturas civis (Marconi e CTT/TLP) e, interligado a estas, os meios de transmissões de campanha do Exército. Assim, o SITEP foi idealizado por forma a garantir um sistema de transmissões privativo do Exército, com cobertura nacional, constituído por uma estrutura que engloba os recursos humanos, meios de transmissão e infraestruturas de apoio, capazes de veicular de forma apropriada toda a informação de natureza eletrónica resultante da atividade do Exército e da sua relação com o exterior. Sendo um sistema destinado a servir o Exército, foi concebido em hierarquias ou patamares destinados a replicar uma “imagem” da própria estrutura do Comando, dispondo de uma hierarquia Primária (ou subsistema nacional), uma hierarquia Intermédia (ou subsistema regional) e uma hierarquia Básica ou de Pequena Unidade (PU). A hierarquia Primária espalha-se por todo o território nacional e é através dela que o Exército estabelece ralações com sistemas exteriores e com as RM/ZM. Constitui-se essencialmente por um sistema malhado de feixes digitais e centrais


nodais, onde os feixes primários passam pelos Quarteis Generais (QG) das RM e se interligam ao respetivo nodo regional. Cada RM fica assim ligada por duas vias ao resto do sistema, garantindo a capacidade de estabelecimento de ligações alternativas em caso de falha da ligação principal. A hierarquia Intermédia compreende o subsistema regional e em alguns casos a rede de guarnição, como em Santa Margarida onde o subsistema regional inclui parte do nodo regional, torre de transmissão, e sistema de feixes para as unidades fora do Campo e a rede de guarnição inclui a central digital de comutação de serviços, as centrais digitais das unidades do Campo e a rede enterrada de cabos. A hierarquia Básica ou de PU corresponde ao nível básico do sistema privativo do Exército e é constituída pela rede interna da unidade, pela sua central eletrónica digital de comutação, pelos terminais de feixes hertzianos de acesso ao subsistema regional e pelo acesso à rede civil externa, garantindo que qualquer correspondente de qualquer Unidade tenha acesso a qualquer corresponde da rede do Exército, onde quer que este esteja.

Para a implementação do SITEP, tornou-se necessário libertar o nodo em CHORAFOME para aí serem instalados os repetidores do anel da hierarquia Primária, colocando uma torre em Santa Margarida de onde fosse obtida linha de vista direta para as Unidades da então 1ª Brigada Mista Independente situadas fora do Campo e, simultaneamente garantisse o apoio ao SITEP e servisse o nodo de Santa Margarida. Nos estudos desenvolvidos, foi considerada como melhor solução a instalação de uma torre de 94 m no CMSM. No seu patamar intermédio, aos 45 m, seriam instalados os equipamentos de interligação à hierarquia Primária (o feixe primário liga para um lado a São Mamede e Évora e por outro ao CHORAFOME, onde abre para Lisboa e para norte para Coimbra) e no patamar superior seriam colocados os emissores/recetores para as Unidades, uma vez que a infraestrutura de suporte dos equipamentos existentes no CHORAFOME iria ser ocupada pelos futuros repetidores dos feixes primários. Os trabalhos de transferência dos equipamentos e de implementação do Link Sul (São Mamede, Arraiolos, Évora, Mendro, Arrábida, Lisboa), que garantiria a existência de trajetos alternativos e a interligação a novas localidades, deveria decorrer sem que houvesse interrupção nos serviços disponibilizados. Por outro lado, tornavase também necessário proceder a melhorias na infraestrutura de comunicações interna do CMSM e nas Unidades ali existentes. Encontrando-se assim definida a arquitetura da infraestrutura de comunicações com a implementação do Link Sul, servindo Santa Margarida através de um nodo no QG da Brigada, iniciaram-se os trabalhos de projeto e construção da torre de comunicações que iria suportar o equipamento de transmissão necessário à implementação do link da hierarquia Primária e ligação à hierarquia Intermédia que servia as Unidades fora do Campo Militar. Foram também conduzidos trabalhos de construção das instalações para acomodar a central nodal e lançada uma rede local em tecnologia digital. O SITEP foi estruturado por forma a permitir que, em locais como Santa Margarida, enquanto se implementavam projetos completamente digitais continuassem em serviço sistemas analógicos. Assim, o CMSM e a Brigada passaram a estar ligados ao SITEP através de tecnologia digital, suportada por dois links do sistema de hierarquia

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velhinhas centrais telefónicas que ainda perduram vão ser substituídas por call manager, passando a disponibilizar serviço de voz sobre protocolo IP (VoIP). Foi um longo caminho percorrido desde os dias dos telégrafos óticos até à fibra ótica, até à tecnologia digital. Não se pode antever como estarão as TRANSMISSÕES NO CAMPO MILITAR DE SANTA MARGARIDA daqui a 60 anos, mas é certo que farão jus ao lema da Brigada “Feitos farão tão dignos de memória” e perpetuarão o grito das Transmissões “Na vanguarda avançamos”. Primária, enquanto as restantes Unidades vizinhas passaram a estar ligadas por links individuais de tecnologia analógica, através do nodo em Santa Margarida. Com a evolução do SITEP, tecnologias emergentes de valor provado foram sendo introduzidas em substituição de tecnologias analógicas, únicas existentes até então no Serviço de Telecomunicações Militares (STM) e incapazes de responder às exigências modernas. Realçamos a introdução da comutação digital de serviços integrados por pacotes (essencial à linguagem entre computadores), a transmissão digital por feixes e por fibra ótica, a centralização do comando e o controlo remoto da infraestrutura de transmissão. Os utilizadores da infraestrutura de comunicações do CMSM passaram a ter acesso direto a todos os subscritores do Exército onde quer que estes se encontrem, beneficiando da implementação dum conjunto de tecnologias que permitem aceder aos vários serviços disponibilizados pelo SIC-Op através de terminais com características puramente comerciais, valências disponíveis num sistema integrado de comunicações onde diferentes equipamentos terminais “falam” entre si. Durante as duas últimas décadas os sistemas foram sendo melhorados, foram sendo implementadas novas tecnologias e ligações analógicas substituídas por digitais. As ligações com as unidades vizinhas de Entroncamento, Tomar, Tancos e Abrantes sofreram aumentos na largura de banda possibilitando um incremento na qualidade de serviço prestado. A infraestrutura filar foi sendo substituída por fibra ótica e aumentada a capacidade de processamento dos servidores que agora constituem o Centro de Dados Regional. Num futuro próximo, as

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BIBLIOGRAFIA AFONSO, Coronel Aniceto – História das Tm. [em linha]. [Consult. 07 out 2012]. Disponível na WWW: http://historiadastransmissoes.wordpress. com/historia-das-tm/ BORGES, Coronel Infª Armando, coord. (2002) – 50 Anos do Campo Militar de Santa Margarida. Santa Margarida. Edição QG/CMSM, 2002. MADEIRA, Major Tm (Engº) Pedro Miguel Pena (2010) – Companhia de Transmissões da Brigada Mecanizada, A Mensagem, Boletim Informativo da Escola Prática de Transmissões. Março 2010, 12 – 13. RIBEIRO, Tenente Coronel Tm (Engº) Carlos, coord. (2007) – Regimento de Transmissões, 30 anos de serviços distintos, Lisboa. Regimento de Transmissões, 2007. TRANSMISSÕES, Comissão da História das (2008) - As Transmissões Militares da Guerra Peninsular ao 25 de Abril. Lisboa. Edição da Comissão Portuguesa de História Militar, 2008. ISBN nº 978-989-95946-0-9. TRANSMISSÕES, Comissão da História das (2010) – Bicentenário do Corpo Telegráfico 1810 - 2010. Lisboa. Edição da Comissão Portuguesa de História Militar, 2010. ISBN nº 978-989-959463-0. Agradecimentos - Comissão da História das Transmissões - Exmo. Sr. Coronel Tm (Engº) Ref. Manuel da Cruz Fernandes - Exmo. Sr Coronel Tm (Engº) Ref João Martins Alves Brigada Mecanizada - Exmo. Sr.TCor Tm Quaresma Rosa - Exmo. Sr SAj TM João José Moreira Fernandes


1. APOIO DE SERVIÇOS a. 1952-1976 No ano de 1952 é construído o atual quartel do Batalhão de Apoio de Serviços (BApSvc), sendo ocupado por unidades de Engenharia. O Apoio Logístico às unidades operacionais, no início da construção do Campo de Instrução Militar de Santa Margarida (CIMSM) estava pulverizado num conjunto de subunidades com escalões diversos e cuja coordenação era muito complicada, sendo mesmo de presumir que ao fim de muito pouco tempo do início das hostilidades o apoio logístico entraria em colapso. b. 1976-1978 Em 1976 foi definida a orgânica de uma Brigada Inf semi-mecanizada, com aproximadamente de 4200 homens e capacidade para desenvolver ações de combate independentes, onde se comtemplava um Batalhão de Apoio de Serviços. No fim do mesmo ano deram-se inicio as obras de

edificação do BApSvc pelo TCor Infª Eurico Cesar Moreno. No ano seguinte, em 1977, como embrião o BApSvc só tinha a Companhia de Manutenção e Destacamento de Comando, para os quais foram feitas nomeações de alguns militares, para assumir o comando do Batalhão e da Companhia. Os trabalhos iniciais foram iniciados no QG/ BMI, tendo como prioridade o levantamento da CMan, sendo atribuídas a companhia instalações provisorias. c. 1978-1979 Por Decreto-Lei nº91/78 de 11 de Maio, é criada em 1 de Janeiro de [1978], a 1ªBrigada Mista Independente (1ºBMI), que tinha na sua organização o BApSvc com várias funções logísticas além do apoio de manutenção, comtemplava também apoio sanitário e de reabastecimento e transportes. Nesse mesmo ano, o BApSvc participou no exercício “Marte 78”, tendo sido reforçado por uma Companhia Sanitária (CSan) vinda do Hospital Militar do Porto

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(HMP), e uma Companhia de Reabastecimento e Transportes (CRT) vindo da Escola Pratica de Administração Militar (EPAM). No final do ano, por decisão do Comando da BMI é dado um significativo impulso no levantamento do BApSvc, pelo facto do apoio logístico ser fornecido do exterior, especialmente em exercícios, tendo sido determinado constituir um Batalhão de Apoio de Serviços que fornecia apoio logístico a todas os elementos orgânicos e de reforço da BMI, de modo a possibilitar a sua atuação como força independente, e para tal garantiria as seguintes funções logísticas: a. b. c. d. e.

Manutenção; Administração de Pessoal e Financeira; Reabastecimento, Transportes; Serviços de Campanha; Evacuação e Hospitalização.

No seguimento do que foi determinado no ano anterior, no inicio de Janeiro de 1979 apresentaram-se na BMI o Comandante do BApSvc, o Oficial de Operações e Informações, o Ajudante Geral da Companhia de Administração, assim como o Chefe da secretaria de Manutenção, o Chefe da Secretaria de Reabastecimentos, e os Comandantes da CRT e da CAdm. O comando do BApSvç partilhava o edifício com a Companhia de Comando e Serviços do Quartel-General (CCS/ QG). E em 1 de março de 1979 é publicada a 1ª Ordem de Serviço BApSvc. Posteriormente é criada a CAdm, elaboramse as NEP e doutrina e intensifica-se a instrução. Em julho do mesmo ano participa no exercício “Marte79”, já homogeneizado e com o comando efetivo, embora a CSan pertence-se ao HMP, e a CRT a EPAM. O BApSvc passa a ocupar as antigas instalações da Policia do Exército onde de encontram actualmente a Companhia de Engenharia. As instalações encontravam-se muito degradadas e só graças ao esforço dos militares do BApSvc se recuperam e ganham condições de habitabilidade. Nas cerimónias do dia da BMI já participou no desfile motorizado, e por alturas de outubro o BApSvc estava já em pé de igualdade com as restantes unidades da 1ªBMI, efectivando-se no fim do ano quando participou no exercício “Rosa Brava 79” já com capacidade

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de apoiar totalmente a 1ª BMI, precisando apenas do reforço de um Médico do CIMSM, um cenário que se tornou possível pois a CRT, a CAdm, e CSan eram já uma realidade por essa altura. d. 1980-1994 A 9 de Abril de 1980 é efetuada a entrega do Guião ao BApSvc e as Flâmulas às Companhias em cerimónia presidida pelo Cmdt da 1ªBMI, Brigadeiro-General Tomé Pinto. Dois dias depois nas cerimónias do dia da 1ªBMI o BApSvc desfila montado causando impressão pelo volume de viaturas e a novidade que consistiam os depósitos flexíveis de combustível de 500 galões.

Figura 1- Depósitos flexíveis de combustível de 500 galões. Em Novembro o BApSvc participa no exercício “ROSA BRAVA 80” com todas as suas subunidades, executando todas as funções logísticas: a) A CAdm actuou integrada no Escalão Recuado do PC/1ªBMI com todas as suas Secções; b) Ocupou uma área significativa e distribuise por 3 núcleos com todos os órgãos montados sobre rodas; c) Ao comando do BApSvc foi atribuído o comando da área da retaguarda. Em 1981 o Dec-Lei nº44/81 cria o Agrupamento Base de Santa Margarida (ABSM) que se destina a fornecer apoio logístico e administrativo ao CIMSM. Em Janeiro o BApSvc muda para as atuais instalações. Partilha o quartel com o 1BIMec e outra parte do quartel é destinada a oficinas do


ABSM. Dado o efetivo presente, o BApSvc é considerado apto a cumprir plenamente a sua missão. A 6 de Abril, dia da 1ªBMI, participa na formatura geral com 3 companhias e no desfile motorizado com cerca de 80 viaturas, entre elas, os semiatrelados de 18.000 Litros de combustível, recém- chegados.

Pela primeira vez foi efetuado pela CRT a organização dos lotes de abastecimentos de Classe I para 18 núcleos de alimentação. Foram manuseados diariamente cerca de 20 Ton de víveres. Ainda nesse ano (2ºQuadrimestre) foram recebidos: a. 5 Camiões trator 5 Ton M818 W/W diesel; b. 5 Semiatrelados 20 Ton Vulcan ma/82; c. 17 Viaturas Auto TG 5 Ton Mercedes Benz 1017/A.

Figura 2- Trator M818 com semiatrelado de 18000l De 4 a 11 Julho tem lugar o exercício “ORION 81” – LIVEX, de nível divisionário (2 Brigadas) o qual foi apoiado logisticamente pelo BApSvc, que atuou como um CASD. No exercício “ROSA BRAVA 82” – L I V E X, o PelReab/CMan participou já equipado com as novas viaturas semi-atrelados armazém de sobressalentes (4) de 6 Ton M/750 MF/82- EUA.

Figura 4 – Trator M818 com Semiatrelado Vulcan Foram adaptadas a viatura oficina, 8 viaturas MAN substituindo as velhas GMC e 3 viaturas das Secretarias de Manutenção e Reabastecimentos.

Figura 3 - Semi - atrelado armazém de sobressalentes De 12 a 16 de Julho de 1982 o BApSvc participa no exercício “ORION 82”- LIVEX de nível divisionário (2 Brigadas). O BApSvc apoiou 7.200 homens e 1300 viaturas.

Figura 6 – Viatura oficina MAN

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Quadro Orgânico do BApSvc:

e. 1994-2006 Em 1994 e por despacho de 17Mar, S.Exa o Gen CEME determina que a 1ªBMI passe a designar-se Brigada Mecanizada Independente (BMI) e o CIMSM passa a designar-se de Campo Militar de Santa Margarida (CMSM). Os seus meios passam a estar concentrados em Santa Margarida. O acordo CFE e a 2ª LPM (que atribui uma grossa fatia de verbas), estão na base da transição. Em 1999 o BApSvc recebe as viaturas ligeiras de recuperação de lagartas M578. A Unidade participa, em 2001, num exercício LOGEX, integrado numa das fases do Exercício ARCO 01. Nesse ano dá-se a Substituição do Sistema Lança Misseis TOW M220 A1 pelo sistema TOW M220 A2 (TOW2). O BApSvc participa em 2005 no exercício “Allied Warrior” como unidade de apoio de serviços do Joint Command Lisbon. Este exercício visava certificar a 3rd Div (UK) como NRF CJFLCC HQ. f. 2006-2012 Por Despacho de S.Ex.a o Gen CEME de 23 de Agosto de 2005, a BMI passa a designar-se Brigada Mecanizada em 2006.

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No ano de 2006 verificaram-se profundas modificações na estrutura orgânica do BApSvc, sendo desativada a CSan e a CAdm em junho e dezembro respetivamente. Ainda assim, em outubro de 2006, o BApSvc efetuou pintura, reparação e deslocamento dos meios a aprontar para equipar a UnEng1/FND/UNIFIL. Em dezembro de 2007 o BApSvc sofre mais uma restruturação quando é encerrada a CRT, ficando o BApSvc com a estrutura embrionária (DCmd e CMan). Com a chegada do Carro de Combate Leopard 2 A6, foi necessário a criação de novas infraestruturas de manutenção, sendo então aprovado por despacho de 28Fev de Exmo. Gen. CEME a construção das novas áreas oficinais no BApSvc/BrigMec. Para o exercício “ROSA BRAVA 08” é acionada a Ordem de Batalha do BApSvc, apenas para os elementos fundamentais ao normal desenrolar do exercício. Apresentaram-se os seguintes elementos: (a) PelReab/CRT – CompReabSvc da EPS;

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militares

da


(b) Pel Tpt/CRT – 19 militares do Reg Tpt; (c) Célula Sanitária – 28 militares de HMP, Centro de Saúde Santa Margarida/Tancos (CSSMT), Centro de Saúde Évora e HMR-1 e HMR-2. Em 2010 foi celebrado o primeiro contrato de manutenção para o CC Leopard 2 A6, e foram utilizadas varias instalações oficinais situadas no

GAC, GCC e BApSvc, por força de as instalações do BApSvc para esse propósito, não estarem ainda concluídas. Em 7 de Novembro de 2011 é aprovado o novo Quadro Orgânico do BApSvc, tendo como principal novidade a reintegração da CRT, e os pelotões de manutenção dedicados a cada uma das Unidades da BrigMec.

Quadro Orgânico aprovado em 7 de Novembro de 2011:

Foram terminadas no ano de 2012 todas as Obras de Construção da nova oficina possibilitando que o segundo contrato de manutenção para o CC Leopard 2 A6 com a empresa ReinhMetal, possa ser realizado na sua totalidade nas novas instalações.

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