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Para as crianças da Síria, país árabe localizado na Ásia, viver tem sido fugir do conflito que já dura quatro anos

Pessoas que são obrigadas a deixar suas casas e pedir asilo em outros países devido a guerras, violência, perseguições políticas ou até desastres naturais, como terremotos, por exemplo.

Uma primavera sem flores

A Primavera Árabe, movimento de luta pela democracia, chegou à Síria em janeiro de 2011. Os protestos, que continuam, são para derrubar o ditador Bashar al-Assad e

Hazem Alyounes/ Arquivo pessoal

BRUNA CASTELO BRANCO

O

espaço que separa os três irmãos, Halima, 6, Hevin, 4, e Ibrahim, 2, do pai, Hazem Alyounes, é de 9.963,48 quilômetros. Essa é a distância que afasta Salvador de Mardin, uma província no sudeste da Turquia. Naquele país, com a mãe, estão refugiados os três filhos de Hazem, que hoje mora no Centro Cultural Islâmico da Bahia, no bairro de Nazaré. Viver fugindo de uma guerra sem fim pode parecer incompreensível para você, mas é a realidade de milhares de pessoas na Síria, que explode em bombas desde 2011.

fundar um governo novo e livre. Sem aceitar as manifestações pacíficas, o presidente manda o Exército Nacional abrir fogo contra o povo e mostrar que nesta primavera há mais espinhos do que

pétalas. A Síria, que é um país milenar, virou campo de guerra. Desesperadas, famílias inteiras viajam em barcos superlotados. Alguns chegam ao destino desejado, outros naufragam. Mais de quatro

Os sírios Halima, Hevin e Ibrahim estão refugiados na Turquia e o pai deles está aqui em Salvador

milhões de pessoas deixaram o país e 250 mil foram mortas. Você sabia que no Brasil moram 2.077 refugiados sírios reconhecidos pelo nosso governo? (Leia mais sobre esta guerra na página 6).

Todo dia é amanhã O trajeto da família Alyounes começou em Al-Hasakah, província no nordeste da Síria. Lá, as crianças só começam a estudar depois dos 6 anos, por isso Halima, Hezin e Ibrahim ainda não foram à escola. Um dia, durante um bombardeio, um irmão de Hazem foi morto. Depois disso, ele decidiu trancar a casa e ir embora. “Era um lugar tranquilo e bonito. Assim que acabar a guerra, quero voltar”. Depois de partir para a Turquia com a família, Hazem veio para o Brasil procurar um lugar seguro para viver. A ideia era, mais tarde, trazer a esposa, Shavin, e os filhos. Mas, durante o percurso, ele e um grupo de sírios, que viajavam com passaportes falsos, foram pegos pela Justiça e tiveram os documentos apreendidos. Até tudo se resolver, Hazem precisa ficar em Salvador. O próximo destino, depois de reencontrar a família, que não vê há mais de seis meses, é pedir asilo na Alemanha. Hazem contou que sente muita saudade de duas coisas. A primeira é de abraçar os filhos, com quem conversa apenas por mensagens de vídeo pelo celular. “Eles sempre me perguntam: ‘Que horas você volta?’, como se eu estivesse ali pertinho. E eu respondo, ‘amanhã’, todos os dias”. A outra falta que o preenche é comum a muitos sírios. Hazem espera “poder viver em paz de novo”.

4e5 Talal Al-tinawi/ Arquivo pessoal

Histórias de uma guerra sem fim

SALVADOR, SÁBADO, 26 DE SETEMBRO DE 2015

A família Al-Tinawi: os filhos Riad, Sara, Yara e os pais, Talal e Ghazal, estão vivendo no Brasil

Onde chove mais forte A família Al-Tinawi morava em uma casa grande em Damasco, capital da Síria. Talal, pai de Riad, 13, Yara, 10, e Sara, de sete meses, e marido de Ghazal, trabalhava como engenheiro mecânico. Quando a guerra começou, tiveram que se mudar. Com a ajuda da embaixada do Brasil no Líbano, chegaram a São Paulo, onde estão desde 2013. Como ainda não conseguiu ser reconhecido como engenheiro aqui, Talal começou a vender comida síria. Agora, ele

quer abrir um restaurante. Diferentemente do pai e do irmão, Yara, que tinha 7 anos quando deixou o país natal, quer voltar quando a guerra acabar. O que sente mais falta na Síria são os familiares que deixou para trás. Mas, aqui no Brasil, a vida continua. “Aprendi a falar português com professores na mesquita (templo da religião islã), e tenho muitos amigos brasileiros”, disse, em um português perfeito. Riad, que tinha 10 anos quando saiu da Síria, tem lembranças tristes da

guerra. “Eu lembro de lojas queimadas, bombas caindo e vi pessoas mortas”, contou. Talvez por esse motivo, disse não sentir falta de lá. E a maior diferença entre os dois países, você consegue imaginar qual é? Acho que a sua resposta não vai chegar nem perto da de Riad: “Aqui é melhor, tem chuva forte, lá chove pouco”. No início, como não falava português, a comunicação era complicada. A solução foi usar uma linguagem universal. Quem nunca brincou de mímica?

O meu amigo sírio Árabe é uma língua bem diferente do português. Imagine, então, como você faria para se corresponder por e-mail com um amigo sírio que fala apenas essa língua? Para a sorte de Samira, a mãe dela, que é filha de libaneses, país árabe, podia traduzir tudo. Foi assim que a menina brasileira começou a conversar com Karim, refugiado sírio que fugiu com a família para o Líbano depois que a guerra chegou à porta de casa. Com a ajuda do amigo, Samira passou a entender melhor o conflito que tem tirado a vida de milhares de pessoas. E Karim, claro, pôde pela primeira vez se abrir e relatar para alguém distante os terrores da guerra.

[ leia ] Diálogos de Samira – por dentro da Guerra Síria Autoras: Marcia Camargos e Carla Caruso Editora Moderna 184 páginas R$ 43


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