Cidadãos do Mundo

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De olho no

mundo Texto BRUNA CASTELO BRANCO editoria.muito03@grupoatarde.com.br Foto UENDEL GALTER editoria.fotografia11@grupoatarde.com.br

Escolas baianas oferecem educação com metodologias internacionais com a intenção de formar cidadãos globais

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ntrar na Pan American School of Bahia (Pasb) é como fazer uma viagem.Daportaparafora,estamosemSalvador,pertodapraiadePiatã, ouvindo banhistas e ambulantes falando baianês – o que é mais que português – em cada esquina. Da porta para dentro, a primeira coisa que se vê na escola são as placas em inglês que indicam os caminhos. Reception. Elementary school. Library. O porteiro conversa em inglês com uma funcionária. Só faltava um climatizador para simular a primavera fresquinha lá de cima e aliviar esse calorzão. Mas que saudade de Salvador. Em março, os estudantes já estavam no fim do ano. É porque o calendário da Pasb segue o padrão do norte do mundo: o ano letivo começa em agosto e vai até junho. Lá fora, isso é feito para que os estudantes tenham férias no verão, que começa em junho. Aqui, é para ter uma rotina igual à de lá de fora. “Muitos alunos acabam decidindo fazer faculdade nos Estados Unidos e na Europa, então, já fica ajustado”, explica a development director Graziela Arakawa. A Pasb nasceu em 1960 já como uma escola internacional. Foi fundada por americanos que queriam que os filhos tivessem uma educação igual à deles. Era uma casinha com poucos alunos e professores, todos estrangeiros. E foi assim durante um tempo. A professora de português Carmem Botelho trabalha lá há 45 anos e pegou a época em que brasileiros em sala de aula eram raros: “É como se eu estivesseem umbarquinho remando contraa maré ensinandoefalandoportuguês”. Hoje, está tudo ao contrário: 98% dos estudantes são brasileiros. Mesmo assim, a maioria das matérias são ensinadas em inglês. O português é usado só naquelas mais específicas, como literatura brasileira, gramática e história do Brasil, por exemplo. A escola segue o Programa do Diploma International Baccalaureate (DP), padrão nas instituições internacionais, mas também acata os as-

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A professora Andréa Basílio durante aula na Pan American

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Na Escola Concept, educação trilíngue e auditório singular

suntos indicados pelo Ministério da Educação (MEC). “E a gente também prepara para o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio], a gente prepara para as universidades de fora, prepara para tudo”, diz Graziela. Mas matemática, física e biologia, por exemplo, sãosóeminglês.Atéassalasdeauladosalunosmaiores são diferentes das que vemos por aqui: eles sentam em dupla, como nas escolas americanas, e não têm turmas fechadinhas, no estilo “A” e “B”, como no Brasil. Cada um, mesmo os que estão na mesma série, têm horários diferentes e mudam de sala de acordo com a aula. Em resumo, é uma escola estrangeira em solo baiano, mas não totalmente alheia ao que se ensina e se aprende aqui – mesmo que recepção seja “reception” e primário seja “elementary school”. Na sala dos menorzinhos, a professora mostrava o globo da Terra e apontava para os países, sempre em inglês. Apresentava os estudantes ao mundo. Nas aulas de música, uma lindeza que só vendo, também aprendiam e repetiam os nomes dos instrumentos no idioma. “Os que começam a aprender desde pequenos já tiram de letra quando vão avançando”, diz Graziela. E quem acha que é preciso ser fluente em inglês para entrar, está enganado. Pode até ser recomendável – se entender física em português já é difícil, em

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inglês quero nem pensar. “Se o aluno vem de uma escola diferente, passa por um período de adaptação, até para se ajustar ao calendário acadêmico”. As “admissions”, como são chamadas as matrículas, não funcionam com base na proficiência. “Quem tem mais dificuldade em inglês recebe ajuda, tem um reforço, a escola oferece”, esclarece Graziela. Para entrar, os pais e os alunos precisam ter o perfil que a instituição busca, reafirmado nas paredes e nas salas de aula: ser criativo, disciplinado, respeitar os colegas e professores. Também nas paredes estão as universidades em que os estudantes já foram aprovados neste ano: University of St. Andrews, Durham University, Brown e Columbia. A maioria deles decide sair do país, “porque sabe que é possível”, conclui Graziela.

INDIGENOUS ART A escola Concept chegou a Salvador com uma proposta de ensino ainda incomum por aqui. É uma escola brasileira, com programa brasileiro, mas uma metodologia universal. Se diz uma instituição trilíngue, já que, além do português e do inglês, a fluência digital é tratada como uma terceira língua. Todos os estudantes portam tablets. As avaliações são feitas por meio de projetos interdisciplinares, apresentados a cada trimestre, e os estudantes – lá, a palavra “aluno” foi banida – nem precisam usar farda. Até o auditório é diferente. Cada cadeira é de um jeito. “É legal isso de não ter farda, a gente pode se expressar”, diz Gabriel Cardoso, 14 anos, porta-voz da escola. Isso mesmo, porta-voz. Noanopassado,nosmesesdeloucuradaseleições presidenciais, até os não eleitores foram pegos pela política. Em meio a tantos debates, dúvidas e visões de mundo diferentes, a escola decidiu transformar esse novo interesse em projeto. “Tinha gente na nossa sala que tinha opiniões diferentes sobre política, a gente sempre discutia. Aí fez essas eleições, eu fui o presidente de uma das chapas e fui eleito. Teve até urna”, comenta ele. Por enquanto, a escola só vai até o 8º ano. No ano que vem, abre o 9º. Além das matérias regulares, a escola, que funciona em tempo integral, oferece aulas de música – totalmente em inglês – francês, mandarim e alguns esportes. Como o programa é bilíngue, as aulas são nos dois idiomas, mas a prioridade é o inglês. Na biblioteca, 80% dos livros disponíveis são na língua estrangeira, e até alguns assuntos bem brasileiros são ensinados no idioma forasteiro. No corredor, vimos mural todo colorido com os dizeres: “Indigenous art”. Aquele sistema que a gente já conhece, do professor de pé de frente para o quadro e os estudantes ali-

RAPHAËL MÜLLER / AG. A TARDE

Fundada há 60 anos, a Gurilândia tem programa com imersão parcial no inglês

nhados nas carteiras também é coisa do passado na escola, algo que não se faz mais, assim como a palmatória dos tempos dos nossos pais. “As famílias procuram a escola tanto pelo idioma, porque querem que os filhos falem inglês, como pela metodologia, que é uma tendência”, diz Daniela Serravalle, responsável pelo relacionamento com os pais. “Eles querem que os filhos sejam cidadãos globais”.

PARCIAL A Gurilândia International School, fundada há 60 anos, é bilíngue e internacional, como diz o nome. Mas lá, diferentemente das outras duas, o português ainda é a língua principal. A coordenadora do programa internacional Denise Rocha conta que o bilinguismo chegou à instituição há seis anos, e ainda há desafios a serem superados. “A matemática em inglês é ensinada de uma forma muito diferente, então é uma matéria que damos mais em português”, explica ela. Há um cuidado para que as aulas não sejam traduzidas na troca do idioma. Se um tema é discutido em inglês, outro é em português. “Somos uma escola de imersão parcial no inglês. Professor de inglês não fala português, ever”, brinca Denise. Na Gurilândia, a carga horária dos bebês é dividida igualmente entre inglês e português. Nas séries mais avançadas, até o 7º ano, o inglês cai para 33%. Nas escolas que visitamos, um dos principais objetivos dos pais e professores é levar o estudante a ter interesse no mundo inteiro. É isso o que quer dizer ser “cidadão do mundo”, expressão repetida nas três. Na Concept, há quadros com rostos de indígenas brasileiros, aborígenes, arte africana. Na Gurilândia, rostos de crianças e adultos indígenas também aparecem nos corredores, nas paredes, nos livros. Mas, talvez, a diversidade fique por aí. Ao investirem tanto numa educação universal, as mensalidades vão de uma média de R$ 4 mil a R$ 6 mil – e subindo. «

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