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SALVADOR, SÁBADO, 24 DE OUTUBRO DE 2015
A magia dos orixás BRUNA CASTELO BRANCO
D
euses que brigam entre si, princesas que fogem do castelo e poderes fantásticos. Parece uma descrição de histórias de contos de fadas ou mitos gregos. Mas, na verdade, são lendas dos orixás africanos, divindades ligadas a elementos da natureza. No dia 15 deste mês, a autora e artista Edsoleda Santos lançou quatro livros da coleção Lendas Africanas, da Editora Solisluna, na Festa Literária de Cachoeira (Flica). Lá, ela contou a história de Iemanjá, Nanã, Xangô e Obaluaê.
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Na infância, você já conhecia as lendas dos orixás? Minha bisavó, que era filha de escravos, morava em frente ao Dique do Tororó. Eu me lembro disso muito bem, o Dique nessa época era enorme, e ela sempre me levava na ladeira e contava as histórias dos orixás. Ela foi a primeira pessoa que me mostrou a
natureza como divindade, que as plantas ajudavam a curar doenças e podem ser usadas em terapias. Eu fui criada por tias católicas, fiz primeira comunhão, mas levei a vida inteira vendo e vivendo esse imaginário do candomblé, da cultura africana. Qual a importância de contar essas histórias? Quando era criança escutava essas histórias, mas cresci e fui fazer outras coisas. Aí um dia vi um livro ilustrado do escritor Enéas Guerra, sobre a lenda de Oxóssi, comprei e senti vontade de fazer algo parecido. Sempre gostei muito de desenhar e acho a imagem uma coisa muito forte. Nesses livros, fiz primeiro a ilustração, deixei todo o esboço pronto, e só depois escrevi. Acho que a importância é mostrar que o povo africano contribuiu muito na formação da nossa cultura, que deve ser conhecida pelas novas gerações. Essas lendas são parecidas com as histórias dos deuses gregos e romanos. Então por que, ainda assim, são
tratadas com preconceito, ao contrário das europeias? Isso ainda acontece por causa do preconceito contra os negros. Quando os africanos vieram para o Brasil, os portugueses quiseram catequizá-los, eliminar a cultura africana. Mas o povo negro é forte demais, principalmente aqui na Bahia. A culinária, a arte, a música, a dança e a alegria de festejar os orixás é forte, mesmo usando o nome dos santos católicos. Como conhecer as lendas africanas ajuda a entender a história da Bahia? As lendas africanas estão
A cultura africana nos ensina sobre nós, contou a escritora Edsoleda Santos ligadas à explicação da criação do mundo. Além disso, acho que tem uma mensagem muito importante. Por exemplo, a história de Obaluaê fala sobre um homem guerreiro que não era respeitado por ter o rosto cheio de cicatrizes. Por isso, ele se tornou rígido, punia severamente todos os inimigos. Mas, no dia em que ele foi tratado com bondade, mudou. Essa é uma história de respeito à diversidade. Muitas vezes não respeitamos idosos, pessoas com deficiência. Por isso algumas pessoas se tornam amargas.
[ leia ] Coleção Lendas Africanas Edsoleda Santos Editora Solisluna 32 páginas, cada R$ 35,00, cada