SALVADOR, SÁBADO, 24 DE OUTUBRO DE 2015
4e5
Tia do samba
O mistério de Anísio
ELES VIERAM DA BAHIA A Bahia é um dos berços culturais do Brasil. Você já ouviu falar do escritor Jorge Amado e da cantora Maria Bethânia? Eles são muito conhecidos, mas não são os únicos. E é isso o que descobrimos na coleção de livros Eu vim da Bahia, da editora Caramurê, lançada no último dia 20 com direito a noite de autógrafos. E tem mais: todos os livros foram produzidos a partir de material reciclado. Conhecer a história do poeta Castro Alves (1847-1871), do engenheiro Theodoro Sampaio (1855-1937) e da enfermeira Ana Nery (1814-1880), por exemplo, nos leva a caminhar pela história do nosso estado – a que não aparece nos cartões-postais. Quem melhor do que nós, baianos, para dizer que somos muito mais do que belas praias, acarajé e Carnaval?
BRUNA CASTELO BRANCO
Viagem de bonde no tempo
O mundo é um só
Natural da cidade de Santo Amaro, no interior da Bahia, Mabel Velloso teve muita sorte por ter sido escolhida para contar a história de Theodoro Sampaio. História que conhece desde criança, quando andava para lá e para cá com o pai, seu Zezinho, pelas ruas da cidade. Foi a partir das próprias memórias que Mabel escreveu o livro Theodoro, uma viagem no ontem, ilustrado por Rebeca Silva. Quem foi Theodoro? Filho de escrava com padre, ele nasceu em 1855, no Engenho Canabrava. Por ter pai branco, pôde estudar. Assim como diz no livro, o interesse de Mabel pela vida do baiano que, com os estudos, ajudou a melhorar a vida de várias pessoas, aumentou quando viu um grupo de meninos com a farda do Centro Educacional Theodoro Sampaio. Mas, infelizmente, não pôde estudar lá. “Quando abriu, eu já estava em Salvador”. Quem estudou lá foi o irmão, Caetano.
A autora Ayêska Paulafreitas e o ilustrador Mike Sam Chagas contaram a história do geógrafo Milton Santos (1926-2001), que nasceu em Brotas de Macaúbas, a partir de viagens no tempo. Em O menino e o globo, em um clique você está na Inglaterra, em outro, na Bahia. Milton foi um dos grandes pesquisadores da globalização. “A globalização é maravilhosa, diminui distâncias, mas também tem um lado perverso”, observou a autora. O que será que ela e Milton querem dizer com isso?
Muito perguntador, o menino Zuza gostava de resolver charadas. Foi assim que tentou desvendar o educador Anísio Teixeira (1900-1971). Quem contou essa história foi a autora e ilustradora Neide Cortizo, no livro Quem está aí? “Anísio era uma pessoa à frente do seu tempo”. A Escola Parque, em Salvador, inaugurada em 1955, foi sua ideia. Para ele, “a ausência da educação leva ao caos”. Até hoje, sua morte é um mistério.
A mãe de todos os soldados Ana Nery nasceu em Cachoeira em 1814. A personagem do livro Ana, meu avô e eu, escrito por Maria Antônia Ramos Coutinho e ilustrado por Janete Kislansky, foi uma heroína de guerra. Você não sabia que o Brasil lutou na Guerra do Paraguai, de 1864 até 1870? Naquela época, Ana Nery viajou para a guerra e construiu um hospital, onde cuidou de soldados brasileiros e paraguaios. Uma das coisas mais legais no livro são as ilustrações, elaboradas a partir de recortes feitos à mão, que levaram seis meses para ficar prontas.
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Coleção Eu vim da Bahia Editora Caramurê, 32 páginas R$ 34 (cada)
Os desenhos do livro Tia Ciata e um sonho de menina, escrito por Lena Lois e ilustrado por Paulo Rufino, foram feitos da forma que você conhece: papel e lápis de cor. Ah, e também teve a vantagem de que o desenhista estuda a cultura africana, muito presente na vida da cozinheira e mãe de santo Tia Ciata (1854-1924). Mesmo com 16 filhos para criar, ela fez sucesso no Rio de Janeiro vendendo quitutes baianos. E logo após a escravidão, quando o racismo era maior. E o samba nasceu no quintal da casa de uma baiana!
Cheio de amores Castro Alves, que nasceu na cidade que hoje leva seu próprio nome, morreu com 24 anos de idade. Mesmo assim, deixou um legado enorme para o mundo. No livro Cecéu, poeta do céu, ilustrado por Daiane Oliveira, a escritora Adelice Souza mostra um Cecéu além da poesia: brincalhão e cheio de amores. A história dele com Eugênia, atriz portuguesa, não ficou de fora. Essas aventuras só poderiam ser contadas em versos. “Por que não escrever na língua que Castro Alves escolheu, a poesia?”. Fotos Reprodução