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SALVADOR, SÁBADO, 7 DE NOVEMBRO DE 2015

Fotos Fernando Vivas/ Ag. A TARDE

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“Agora é a minha vez”

s a i r ó t s i h As o r t n do Ce

Equipe de filmagem no Centro; Wagner Júnior com Álvaro Ribeiro e Cecília Amado; Jéssica Vitória com a câmera; Jamile Santos em entrevista; Ruane Ramos ouve as gravações; e o novo cineasta Zhabriel Lloyd

Personagens e cenas de Salvador estão no filme Rua de Meninos, feito por crianças e pela diretora Cecília Amado BRUNA CASTELO BRANCO

D

epois de ouvir um conselho câmera, no equipamento de som e da mãe, Jamille Santos, 13, a entrevistar. O resultado é Rua de decidiu se Meninos, curta-metragem, Dirigiu o filme inscrever para participar exibido quarta-feira no Capitães da Areia, adaptado do livro de de um documentário Espaço Itaú de Cinema. um grande escritor sobre o Centro Histórico Curtas-metragens são filmes baiano, avô dela. de Salvador. “Ela disse com, no máximo, 30 Adivinhou? Jorge Amado, é claro! que, se eu fizesse tudo minutos de duração. Esse certo, eles podiam me tem seis. E muita história. chamar para participar de outra Para participar do documentário, coisa”, disse a menina, referindo-se foi preciso passar por uma seleção. à cineasta Cecília Amado. Depois da visita de Cecília, alunos Depois de cinco dias de oficinas, as das escolas municipais Vivaldo da 16 crianças que participaram do Costa Lima e Terezinha Vaz da projeto aprenderam a mexer na Silveira, além do Projeto Axé e da

É um festival que exibe filmes para crianças e adultos que normalmente não entram em cartaz nos grandes cinemas. Esta foi a 11ª edição.

Escola Olodum, escreveram uma redação sobre a própria vida. “Eu fui muito sincera, escrevi com o coração. Contei a eles que nunca tinha ido ao cinema e, por isso, queria participar”, lembrou Jamille, que estreou sua relação com a telona duplamente. Foi no Panorama Internacional Coisa de Cinema que assistiu ao filme que ajudou a produzir. Para ela, falar a verdade decidiu sua participação. “Vi que vários colegas inventaram, uma menina foi até olhar uma

história em um livro”. Depois de escrever as redações, as crianças conversaram com os produtores. “A gente queria perceber quem realmente estava interessado em fazer, porque não é algo chato, obrigatório”, explicou Cecília. Aí, foi a hora de cada um tirar uma foto. O tema era livre. “Eles buscaram objetos diferentes, alguns fotografaram pessoas, outros não, e aí avaliamos o critério de cada um”. Isso definiu os 16 escolhidos. Hora de filmar!

Para Wagner Júnior, 11, o mais legal foi aprender a filmar e usar o equipamento. “Eu nunca soube mexer na câmera. Filmei em vários ângulos, tirei foto, usei uma luz melhor. A gente subia em um lugar alto e tirava foto de uma pessoa que estava lá embaixo. Eu não sabia fazer isso”. Para Ruane Ramos, 11, e Jéssica Vitória, 12, essa também foi a melhor parte. “Eu quero ser atriz de filme e novela, por isso já é bom aprender essas coisas”, disse Jéssica, apesar de ninguém ter atuado no filme. Aliás, você sabe qual é a diferença entre filme de ficção e filme documental? Cecília Amado explicou que o primeiro é uma história inventada com personagens representando um papel.

Já o segundo, que é o gênero deste curta, mostra o olhar das crianças do centro sobre aquela realidade. “Não é uma história real, mas um olhar sobre essa história, com a ajuda de pessoas reais que vivem isso”, disse Cecília. Para facilitar as gravações, que aconteceram nos dias 31 de outubro e 1º de novembro, os participantes foram divididos em turnos. Produzir um documentário é bastante complicado. Precisa ter um editor, um entrevistador, um diretor... Entre as várias funções, a mais requisitada era passar o som. “Agora é a minha vez, você já foi”, era o que todos diziam. Talvez por timidez, o que quase ninguém queria ser era repórter.

Deu vontade de trabalhar com cinema Conhecedores do centro da cidade como ninguém, eram os novos cineastas quem procuravam e sugeriam os entrevistados. Todos com uma história para contar sobre o lugar, valiam. Terminada a filmagem, a equipe se reuniu com Cecília Amado para uma

das partes mais legais: decidir o que fica e o que sai. A edição. A experiência de gravar um filme pode ter durado apenas alguns dias, mas as lembranças e o aprendizado ficam para a vida toda. “Eu quero ser advogada para ganhar dinheiro e comprar uma

casa, mas agora também fiquei com vontade de trabalhar com cinema”, contou Jamille, que sonha um dia ser famosa. Entre uma entrevista e outra, todos eles concordaram com pelo menos uma coisa: não é todo mundo que tem a chance de gravar um

documentário com uma cineasta importante. “Você já pôde participar de uma coisa assim quando era pequena?”, me perguntou Jamille, a mais conversadeira de todas. “Não”, eu respondi. “Pois é. Eu acho que nunca mais vou esquecer esse dia”.


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