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A TARDI N HA
ALINE LARANJEIRA
Um dos livros mais incríveis do escritor cubano Ítalo Calvino inspirou a montagem de um espetáculo com o mesmo nome, O Barão nas Árvores, que volta a cartaz amanhã, no Teatro Gamboa Nova. Calvino foi um importante autor do século passado e escreveu diversas obras em que mistura fantasia e realidade, como Cidades Invisíveis, e as famosas conferências reunidas em Seis Propostas para o Próximo Milênio. De acordo com o ator Marcos Lopes, que também é músico, produtor e palhaço, O Barão nas Árvores, de 1957, tem muitos momentos poéticos.
SALVADOR SÁBADO 9/3/2019
Um mundo de fábula e poesia O espetáculo infantojuvenil O Barão nas Árvores faz curta temporada no Teatro Gamboa Nova
Diney Araújo / Divulgação
FANTÁSTICO
Na história, Cosme Chuvasco de Rondó, o filho mais velho do Barão de Rondó, decide subir em uma árvore e nunca mais descer. Passa a ser, assim, um observador privilegiado da vida. O ator, que também fez a adaptação do texto, ao lado de Antônio Fábio, acrescenta que a ideia foi mostrar um mundo fantástico, assim como no livro. Por isso, subir na árvore significa enxergar o espaço onde se vive de
A peça é o primeiro solo do multiartista Marcos Lopes
uma outra forma. “Cosme escolhe ter uma outra vida, em que ele pode ajudar as pessoas e não viver em uma zona de conforto”, revela. Ao longo da peça, o personagem se torna
uma pessoa diferente, conhece realidades das quais nunca havia ouvido falar, além de entender a importância da natureza. “Tem uma hora em que ele protege o bosque, não deixa um incêndio
destruí-lo”, conta Marcos. Com vários momentos de reflexão, o diretor da peça, Guilherme Hunder (que também fez figurino, maquiagem e adereços), espera que as crianças sintam-se motivadas a
Bruno Aziz
Algumas lembranças da minha avó BRUNA CASTELO BRANCO
Três dias antes de morrer, meu bisavô viu um chinês. “Tire esse chinês de perto de mim!”, ele dizia. “Mas que chinês?”, perguntava minha avó. Eu ainda não tinha nascido. “Ali, sentado, escrevendo e olhando para mim. Tire ele daqui, tire logo!”. Como ninguém mais via o chinês escritor, deram-lhe o nome de alucinação. Às vezes, minha avó se confundia e o chamava de assombração. “Pai, Assombração veio hoje?”,
perguntava ela, sempre que o moribundo abria o olho. “Ele nunca foi embora”, reclamou. Dois dias antes de morrer, meu bisavô já não tinha mais tanto medo do chinês. Ficou tão acostumado com a presença do estrangeiro que passou até a lhe
BRUNO AZIZ
pedir opiniões. “Senhor Chinês, que devo usar no funeral?”. Também compartilhava a própria janta. “Senhor Chinês, aceita uma colherzinha de sopa? Mas é só uma”. Disseram que o visitante ficou lá até o último dia. O engraçado – e talvez um pouco frustrante – é
que meu bisavô nunca contou como o amigo era. Ninguém sabia se ele tinha cabelos longos ou curtos, usava óculos ou não, era destro ou canhoto. Mas, antes de ir, meu bisavô disse que ele deixou um recado a todos os que estavam ali: “Eu volto”.
entender o mundo com outros olhos: “Assim como Cosme, espero que as crianças entendam que elas são os agentes transformadores do amanhã”. A peça concorre a dois
prêmios Braskem de Teatro 2018: melhor ator, para Marcos Lopes, e melhor espetáculo infantojuvenil. O BARÃO NAS ÁRVORES – COM MARCOS LOPES / AMANHÃ E NOS DIAS 17, 24 E 31 DE MARÇO, ÀS 17H / TEATRO GAMBOA NOVA / R$ 20 E R$ 10 (MEIA-ENTRADA)
PARA COLORIR