A TARDI N HA
SALVADOR SÁBADO 3/11/2018
A7 Reprodução
O que os monstros sentem Em entrevista ao A Tardinha, o escritor Alexandre Rampazo fala sobre o medo
tempos de criança. E, depois da leitura, fica uma pergunta: e os monstros têm medo de quem?
BRUNA CASTELO BRANCO
Quem tem medo de monstro, aqueles seres horripilantes, escondidos nos armários, que têm como única missão na Terra nos assustar durante a noite e trazer os piores pesadelos do mundo? Cheios de dentes, olhos grandes e armas mortíferas... Mas vai que não é bem assim? No livro Se eu abrir esta
porta agora, da editora Sesi-SP, o escritor e ilustrador Alexandre Rampazo faz o caminho inverso. Entra no guarda-roupa e sente o que o monstro sente, o que está longe de ser monstruoso: a vontade de ter um amigo, de brincar e não estar mais sozinho. Em entrevista ao A Tardinha, o autor falou sobre os próprios temores e portas assustadoras dos
Você já teve medo de abrir uma porta? Todos temos. Como escreveu Carlos Drummond: “Em verdade temos medo. Nascemos no escuro [...] E fomos educados para o medo”. O medo é um sentimento que paralisa, mas também pode ser um chamado para a superação. Abrir uma porta e a surpresa que te aguarda do outro lado passa por isso: o desafio de se superar.
Monstros existem? Qual é o mais assustador de todos? Monstros ou o medo existem, sim. Eles precisam existir para que a gente possa perceber que as melhores coisas estão depois do medo. Talvez o monstro mais assustador seja aquele que te paralisa e não te faz seguir adiante. Dar este passo, que talvez lhe pareça um grande salto no escuro, pode ser justamente o passo que te iluminará. O que faz de um monstro um monstro? O que é ser monstro? O novo, o diferente ou o
desconhecido assustam? Talvez um monstro seja somente tudo o que a gente não consegue lidar, e que você sem se dar conta alimenta há tempos e quando percebe ele está ali de pé, te olhando no olho. Imagino que não lidar com questões que te angustiam só alimenta e permite que este monstro cresça e caminhe com pernas próprias ao seu encontro.
[ leia ] Se Eu Abrir Esta Porta Agora Alexandre Rampazo Editora Sesi-SP 56 páginas R$ 44,90
Fotos: Divulgação
Bicho cheio de sotaque
3, 2, 1... vamos ao cinema? Hoje e amanhã são os últimos dias do estival Internacional de Cinema Infantil (Fici), que começou no último dia 26 no Cinemark Salvador Shopping e tem uma programação bem especial. Destacamos para hoje os filmes A raposa má (às 15h30), com uma raposa que pensa ser uma galinha, um coelho que acredita que é uma cegonha e um pato que jura que é o Papai Noel. Outra boa pedida é a sessão de dublagem ao vivo em que duas pessoas farão as vozes de Meu amigo é uma girafa (às 16h30). Um garoto e uma girafa tentam encontrar um jeito de não se separarem num novo momento da vida. CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA NO SITE HTTPS://WWW.FICI.COM.BR/
FÁBIO FREITAS
Em Meu amigo é uma girafa, a rotina de dois amigões é abalada por causa do início das aulas
O filme A raposa má tem histórias divertidas sobre animais que estão em crise de identidade
BRUNO AZIZ
Imagina um mundo em que todo mundo falasse a mesma língua? Conseguiu imaginar? Isso só pode acontecer na imaginação mesmo, porque no mundo isso não tem como existir. Com todo mundo falando igual, logo logo cada bocado de gente espalhado ia começar a falar um pouquinho diferente. As palavras mudam um pouco o seu significado e a forma de falar as palavras vai fazendo aparecer um monte de sotaques. Os bichos também têm os seus sotaques. Um lobo de um lugar uiva bem diferente de um de outro lugar. Se você não fala lobês, pode
ficar difícil de perceber, mas para os lobos não tem confusão. Com passarinhos é a mesma coisa. O cantarolar deles é tão diferente que mesmo um humano consegue perceber a diferença, se o pássaro vem daqui ou de lá. As baleias-cachalotes viajam o mundo inteiro, quase sempre em grupos, então precisam de um baleiês bastante complexo e cheio de sotaque. Com isso, elas conseguem saber se fazem parte de um mesmo grupo ou até da mesma região. Toda vez que uma baleia canta, dá para saber de onde ela veio, igualzinho à gente. FÁBIO FREITAS É FÍSICO E PROFESSOR DO INSTITUTO DE FÍSICA DA UFBA