Caminho do Oriente-Guia do património industrial (Expo-98)

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CA.MiNHO DO ORiENTE GUIA 00 PATRI1l'10nl0 inDUSTRIAL TEXTOS DE DE0LlnOA FOLGAOO

10RGE CUST6DIO

GUIAS 00 CAIl'11nH0 00 0RIEnTE C00RDEnAçÃ0 GERAL

R.,!;visÃo

José Sarmento de Matos

Fernando Milheiro PAGinAçÃO ELECTR0n1CA

GUIA HIST0RIC0 (2 volumes)

José Sarmento de Matos Jorge Ferreira Paulo

Fernanda Quendera

© DESTA EDIÇÃ0 Livros Horizonte, 1999 SELECÇÕES DE COR...

GUIA DO AlVLEjO

Luísa Arruda GUIA DO PAtlti.tnónio inDvstlti.AL

Deolinda Folgado Jorge Custódio

Policor ItnPR.,!;SSÃO

Printer ISBn 972-24-I056-3 DEPósito LEGAL

GUIA DO 0Li'lAR...

1312IO/99

Ricardo Martins Diane Gazeau Paulo Pascoal Dulce Fernandes

Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian

0vt"-9S

c�Ditos FOtOG�Ficos

Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa

LEvAntAtnEnto FOtOGRBFiCO

António Sacchetti DiR.,!;cçÃo GRBFiCA

José Teófilo Duarte

Irene Buarque Maria de Fátima Jorge Rui Rasquilho


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partir do desenvolvimento manufactureiro do período pombalino, a Zona Oriental vai conhecer uma mutação no seu tecido urbano, económico e social. Essa viragem estrutural transformar-se-á em verdadeira revolução depois da implantação do caminho-de-ferro, seguido em breve pelo reordenamento das insta­ lações portuárias, criando as condições para que esta zona se transformasse no principal centro industrial de Lisboa, caracterizado sobretudo pelas grandes unidades de indústria pesada, como é o caso de refinarias e outros equipamentos. Assim, sobre um tecido rural composto essencialmente por conventos e quintas de recreio de vários estratos das classes dominantes do Antigo Regime, que a revolução liberal tinha esvaziado de gente e de sentido, instala-se uma nova realidade urbana, feita de fábricas, armazéns de comércio por grosso e pequenas empresas ligadas às actividades portuárias, a que naturalmente se juntaram os equipamentos para habitação - vilas e pátios - necessários para albergar uma mão-de-obra em constante crescimento. Essa nova realidade dominante nesta área de Lisboa merece uma atenção muito especial, já que o património se deve enten­ der na sua dimensão mais vasta, como retrato vivo de uma história real que se foi fazendo de rupturas e sobreposições, talvez nem sempre muito respeitadoras, mas reveladoras das preocupações dominantes em cada momento concreto. O património industrial é parte integrante de Lisboa, tanto como os testemunhos de qualquer outra época, pelo que merece um tratamen­ to idêntico, reforçado ainda pela facilidade com que por hábito se sacrifica o mais recente em prol de uma errada política de valorização exclusiva do mais antigo. Quintas e conventos, armazéns e fábricas são parte integrante de um universo coerente que Lisboa deve cultivar através de uma política dinâmica de preservação e reutilização criativa de espaços e edifícios. Esta consciência do relevo na Zona Oriental do património industrial, detentor de critérios específicos de abordagem glo­ bal, levou os responsáveis pelo Caminho do Oriente a autonomizar o seu tratamento no âmbito do projecto de investigação histórica da Zona Oriental. Jorge Custódio e Deolinda Folgado, cujos créditos no estudo deste património são por demais conhecidos, desenvolvendo de há muito um pioneirismo teimoso a quem a historiografia portuguesa tanto deve, impuse­ ram-se como a escolha natural para prosseguir e dar corpo a esse propósito do Caminho do Oriente, garantindo as condições técnicas e científicas de uma leitura segura e completa de um conjunto que urge conhecer. Estamos certos, assim, que este Guia do Património Industrial constituirá um marco importante no conhecimento aprofundado da evolução histórica da cidade de Lisboa no seu conjunto, abrindo caminho a novas metas que se impõem prosseguir. Esperamos, também, que ele possa ser um importante contributo para se dar corpo à proposta feita pelos autores da constituição em Lisboa de um museu vivo onde se trace o percurso da evolução industrial e sejam devidamente acauteladas as importantes peças dispersas de um património que se encontram, quantas vezes, em risco de desaparecer. Para isso, na Zona Oriental não faltam instalações abandonadas à espera de melhor sorte. Se este esforço de estudo e conhecimento constituir um contributo para a definitiva salvaguarda de uma parte essencial da memória contemporânea, tornando-a não um peso mas um elemento galvanizador no processo de auto-reconhecimento colectivo, o Caminho do Oriente julga ter dado o seu contributo para devolver à cidade uma parte substancial de si própria e da sua história. Lisbo a , Selem ro de 1998 José Sarmento de Matos



cAminl=to DO O�EntE:

FÁBRICA DE FIAÇÃ0 E TECID0S 0RIEnTAl

vmA lEitvR.f\ inDvst�Al DO tE,,-�tó�O . ..

9

I. LISB0A - UIl'1A .

InDUSTRIAL?

IllAnUTEnçÃ0 IllILlTAR .

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- nATU RElA E LIIl'1ITES

CEnTRAL ELEVAT0RIA A VAP0R DA PRAIA

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FÁBRICA DE P0lV0RA DE CHELAS VIlA FLAIllIAn0

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I B0nEnSE

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FÁBRICA DE TABAC0S DE XABREGAS

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C01llPAnHIA P0RTUGUESA DE F0SF0R0S .

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FÁBRICA DE C0RTIÇA DA QU inTA DA IllITRA .

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S0CIEDADE C01llERCIAl ABEL PEREIRA •

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FÁBRICA DE IllATERIAl DE GUERRA DE BRAÇ0 DE PRATA

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A TABAQUEIRA

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GÁS DA IllATInHA/PETR0QU íllllCA T0RRE DE DESTIlAÇÃ0 DA SAC0R

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BAIRR0 0PERÁRI0

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DE D01lllnG0S 10SÉ-"DE rtr0RAIs-Q IRIllÃ0

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FÁBRICA DE ADUB0S EIll SACAvÉIll .

.. 2°3

FÁBRICA DE 1ll0AGEIll

FÁBRICA DA C01llPAnHIA DE FIAÇÃ0 E TECI 00S

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FÁBRICA DE l01ÇA DE SACAvÉIll

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10sÉ D01lllnG0S BARREIR0 Er C�, lOA

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FÁBRICA DE B0RRACHA lUS0-BELGA

VIlA DIAS

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DE FRAnCISC0 ALVES G0UVEIA

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(VVlCO FÁB�CA DA SAmA�tAnA) . . . . . . . . . . .

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FÁBRICA DE FIAÇÃ0 E TECID0S DE XABREGAS

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VIlA PEREIRA .

FÁBRICA DE IllAlHAS DE InÁCI0 DE IllAGAlHÃES BAST0S Er C�

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S0CI EDADE nACI0nAl DE F0SF0R0S

ASIl0 D. Ill ARIA PIA E ESC0lA InDUSTRIAL AF0nS0 001lllnGUES

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DA F0nSECA, S.A.R.l .

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S0CIEDADE nACI0nAl DE SABÕES

ESTAÇÃ0 ELEVAT0RIA D0S BARBADlnH0S I E II

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FÁBRICA DA C01llPAnHIA llSB0nEnSE .

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DE TRAnSF0RIllAÇÃ0 DE CEREAIS, S. A

ESTAÇÃ0 DE CAIllInH0 DE FERR0 DE SAnTA AP0l0nlA

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13

FunOlçÃ0 E FÁBRICA D E ARIllAS .

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HA nAC10nAl" - C01llPAnHIA InDUSTRIAL

.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

00 ARSEnAL 00 EXÉRCIT0

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II. A InDUSTRIALIlAÇÃ0 DA LISB0A 0RIEnTAL

DE TABAC0S

(VVlCO, FÁB�CA DAS VAR.f\nOAS)

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. 209 .

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2 13

CIDADE SEIl'1



Ao nossofilllO Vasco António, pelas horas que esperou...

C A I'h l n H 0 D 0 0 R I E n T E! U I'h A l E I T U RA I n D U S T R I A L D 0 T E R R I T 0 R I 0

I.

llSB0A - UIl1A CIDADE SEIl1

I. o

PATRI1l10nl0 InDUSTRIAL?

património industrial de Lisboa O riental encontrava-se numa situação de abandono e ruína, por altura do início das obras

da EXPO '98. As mutações urbanas ocorridas nos últimos dois anos, iniciaram um processo de transformação de toda a área orien­ tal da capital, desde as Alfândegas até ao rio Trancão . Essa metamorfose não vai estancar depois do encerramento da Exposição Mundial, prevendo-se uma completa alteração da organização do território , tal como aconteceu em 1940, quando se realizou a Exposição do Mundo Português, na zona industrial de Belém-Pedrouços. Toda essa série de fenómenos terá como consequên­ cia imediata o fim da vivência industrial dos últimos dois séculos, daquela que era uma das zonas mais industrializadas de Lisboa. A área oriental da cidade experimentou uma vocação industrial, cujas marcas ficaram traçadas na paisagem, desde a época da expan­ são . Oficinas, manufacturas, fábricas, chaminés, fornos, grandes conjuntos industriais, bairros operários, trabalho, greves , ideologias d a emancipação foram o leitmotiv de espaços urbanos e rurais, acumulando-se gradativamente no tecido periurbano . Os núcleos habitacionais preexistentes cresceram com a migração de gentes à procura de empregos no sector secundário . A insta­ lação de fábricas modernas decorrera desde os meados do século XIX e fora um processo crescente, pelo menos até aos anos 70 de Novecentos . O fenómeno da implantação industrial resultara de condições bem específicas, comuns à localização da cidade de Lisboa e outras, não menos importante s , próprias desse largo espaço aberto de povoamento disperso . Nas quintas de toda essa vasta área ergueram-se as primeiras fábricas, seguindo lógicas ligadas às acessibilidades e às transacções comerciais das matérias-primas. Essa ocupação de espaços com indústrias, vilas operárias e serviços correspondentes realizou-se por fases, mais dependentes de conjunturas e interesses, do que de uma evolução planificada. Ao longo de dois séculos, entre a fundação das importantes manufacturas pós-pombalinas dos tabacos, do açúcar e do sabão e a " revolução " da EXPO '98, somente se conhece um momento de planificação de características industriais - a decisão governamental de instalação fabril e desenvolvi­ mento do "parque industrial dos Olivais" . Duas consequências fundamentais resultaram do D ecreto-Lei de 19 de Outubro de 1942, que criara a Zona Industrial do Porto de Lisboa. Uma decisão desta envergadura, em pleno Estado Novo , quando na Europa corria uma bárbara Segunda Guerra Mundial, marcava um destino para a Zona Oriental de Lisboa. O decreto enquadra-se nas remodelações urbanísticas dos anos 40, nomeada­ mente no Plano de Urbanização de Lisboa de 1938-1948 de E. D e Groer. Solucionavam-se vários problemas relacionados com a requalificação da Zona Ocidental da cidade, de Alcântara até Pedrouços, exigências da sociedade burguesa do lazer. Também a ocidente se expandiram centenas de fábricas, ao longo do rio Tejo , a partir de pequenos núcleos urbanos, de cais acostáveis , de centros fabris primitivos . Com a escolha do Mosteiro dos]erónimos e-da Torre de Belém como expressão da "alma portuguesa " , acudia-se a um desafronto e resolvia-se uma polémica com décadas de discussões.

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Libertar toda essa área das fábricas e das indústrias, edificadas pelo tempo, era um dever de Portugal, numa hora de "identificação pátria". O móbil criou sinergias, transferindo-se para a Zona Oriental da cidade, a fábrica de gás de Belém, os depósitos de gasolina, algu­ mas fábricas poluentes, armazéns , umas tantas indústrias a precisar de espaço. Belém passou a ser entendida como uma zona de qualidade, para fruição de pú­ blicos diversificados, valorizada pelo seu património classificado e pelas grandes construções públicas que resultaram da Exposição do Mundo Português. Aproveitou-se a nova vocação da cidade Avenida Infante D. Henrique.

Peupectiva

oriental para instalar na Zona Industrial actual.

de Cabo Ruivo , entre Braço de Prata e

Moscavide, diversos empreendimentos, corno a Fábrica de Gás da Matinha, o Matadouro de Lisboa, a Moagem Lisbonense, a nova fábrica de material de guerra de Moscavide, os Depósitos de Beirolas, já perto de Sacavém. Uma segunda consequência, consistiu na organização modelar de uma espécie de Parque Industrial, nos Olivais , a partir de um conceito pouco habitual, entre nós, de urbanização fabril. Procedeu-se à implantação de fábricas e grandes unidades industriais ao longo de dois eixos viários estruturadores - a Avenida Marechal Gomes da C osta e a Avenida Infante D . Henrique. Nesses eixos implantaram-se entre outras a SACOR, a Petroquímica, a Tabaqueira de Cabo Ruivo , o Consórcio Laneiro , a Fábrica Barros, a UTIC , a Plessey Automática Portuguesa, a Diamang, entre outras. Várias empresas buscavam nesse território agrícola condenad o , espaços para construir novas fábricas, seguindo os padrões da arquitectura e da engenharia da época. O surto indus­ trializador dava novo sentido a um gradual envelhecimento pré-industrial dos Olivais , preenchendo espaços vazios rurais e quin­ tas. C onsolidava, por outro lado , a mancha industrial na Zona Oriental, alargando a densificação que Braço de Prata já atingia nos anos anteriores. Mas, se entre Braço de Prata e Sacavém o fenómeno da industrialização era recente e as indústrias novas, o mesmo não se passava entre Santa Apolónia e Braço de Prata. A partir da década de setenta muitas indústrias da Zona Oriental de Lisboa davam mostras de envelhecimento e acabaram por soçobrar perante o impacto económico e social do 25 de Abril. O mesmo fenómeno ocorreu nas indústrias dos Olivais , apesar da sua modernidade . 2.

O ra, o processo d e desindustrialização da Zona Oriental d a cidade , não foi acompanhado d e medidas d e conservação e salva­

guarda de edifícios e de espólios, nem da sua recuperação e reconversão, evitando assim o desaparecimento da imagem industrial de Lisboa, tão importante numa concepção cultural da urbe, tal como o são os palácios, as igrejas, os conventos ou as quintas e alguns elementos do mobiliário urbano e rural.

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Esta situação foi igualmente vivida por outros bairros industriais da capital (Boavista, Belém, Alcântara, Campo Grande o u a Junqueira) , determinando uma transformação sem as contrapar­ tidas culturais que um planeamento coerente exigiria. Note-se que o Plano Director Municipal de Lisboa não contemplou importantes aspectos do património industrial da cidade, num contexto de política de prevenção da sua identidade, nem viabilizou vertentes in­ dispensáveis para a manutenção de uma memória técnica à altura das suas responsabilidades culturais, excepção feita à vertente dos bairros operários, onde se atendeu aos estudos de arquitectos portugueses que com a cidade trabalham.

Zona Industrial de Cabo Ruivo. Autor desconhecido (I950), in Lisboa Ribeirúlh,1,

1994.

foto

l.

A ausência de medidas cautelares em relação a todo o património industrial da cidade envolve, para além da negação da componente paisagística, a ocultação dos valores arquitectónicos e técnicos, que esse mesmo património pressupõe e transmite em termos de criatividade e de futuro. Os efeitos desta postura, na qual têm colaborado os responsáveis pela urbe, sejam políticos ou técni­ cos, urbanistas ou cidadãos , gera efeitos perversos na própria transmissão da identidade, fazendo a separação entre um passado (com valor cultural equivalente ao património arqueológico e ao edificado anterior à industrialização oitocentista) e um presente sem patrimónios de valor espiritual. Esta dicotomia é acompanhada pela desvalorização das realidades fabris , industriais e técni­ cas , algo estranhas à cultura , e sua negação por razões económicas, sociais ou ambientais. O alheamento público face ao património industrial e à sua valorização moderna, segundo critérios europeus e determinados pelo Conselho da Europa, faz com que Portugal seja o país onde os imóveis industriais são menos contemplados com medidas caute­ lares de protecção . Este alheamento tem motivações na mentalidade da população , no obscurantismo das instituições e nas condições económicas do país, onde os próprios empresários , só com raras excepções, se envolveram em acções de preservação e salvaguarda da sua identidade industrial. Em Lisboa, por exemplo , fogem à regra do anonimato a Central Tejo , a Estação Elevatória dos Barbadinhos (só homologada) e os edifícios da Escola Industrial Fonseca e B enevides (antiga Marquês de Pombal) . Outros bens foram acautelados pela Câmara Municipal, como o que resta da Fábrica das Gaivotas ou a Cordoaria Nacional. Algumas empresas souberam musealizar os seus edifícios fabris, como a EDP (Central Tejo) e a EPAL (Barbadinhos) e outras têm salvaguardado parcialmente o seu espólio , porque ainda laboram (como por exemplo a Fábrica de Sant 'Ana, os Armazéns Frigoríficos de Lisboa, a Portugal e Colónias, a Manutenção Militar) ou porque atendem a motivações familiares ou outras. A criação de-urn Museu da Indústria e da Técnica, Tojecto de enOTme significado, numa das mais importantes cidades maquinofactureiras do país, é omissão inadmissível que contribui quotidianamente

II


para a ocultação da história e da identidade industrial de Lisboa, com a qual todos os poderes têm compactuado . O património industrial da Zona Oriental da cidade mante­ ve-se, no entanto, fora de uma pressão económico -social tão vincada, pela sua localização numa área secundarizada face a outros espaços citadinos. As transformações urbanísticas dos Olivais e do Vale de Chelas, vieram contribuir para o despertar dos interesses imobiliários neste território da cidade . A escolha da Zona Oriental para a localização do parque da Exposição Mundial - Os Oceanos, Um Património para o Futuro e os seus efeitos no crescimento e transformação , deter­

minaram que o património industrial ainda existente, aban­ donado à sua sorte, sej a objecto de desaparecimento , situação comum em países pouco desenvolvidos.

Moagem deJoão de Brito, Lda. Beato. Importância da Arquitectura Industrial.

Atendendo aos parâmetros de actuação do projecto Caminho do Oriente torna-se admissível minimizar estes factos, desde

que a acção sej a entendida numa perspectiva múltipla, onde conhecimento , valorização, recuperação e refuncionalização possam intervir de forma concertada a curto, médio e longo prazo . Assim, julgamos poder contribuir para o reconheci­ mento e salvaguarda dos valores industriais da cidade oriental, através de uma identificação da sua história industrial e dos seus edifícios notáveis', da caracterização do valor patrimonial, artístico -arquitectónico e técnico das unidades sobreviventes. Reconhece-se ser um objectivo possível - com o contributo de muitos (descendentes de empresários e trabalhadores, técnicos, historiadores, responsáveis pelo Património) - salvaguardar o espólio móvel ainda existente nos bairros industriais de Lisboa A Nacional. Uma obra

de arquitecto ao serviço da indústria.

Oriental e seu possível armazenamento em condições de segu­

rança, de modo a viabilizar a sua musealização num edifício fabril a proteger, transformando-o no Museu do Património Industrial , onde a memória da industrialização da capital e das suas realizações materiais possa ser mantida e observada pelas gerações futuras. Se nenhuma destas iniciativas se concretizar, poderá acontecer, no próximo século , que a leitura do território de Lisboa seja viciada, encontrando-se omissa uma das fases mais importantes da sua história, a que desencadeou uma transformação sem parale­ lo, só comparável com a da sua fundação na Antiguidade.

I Ver a análise individuliazada das indústrias.

12


II. A InDUSTRIALIZAÇA0 DA LISB0A 0RIEnTAL - nATUREZA E L1rl'1ITES

r.

A LONGA TRANSFORMAÇÃO

DA LISBOA RIBEIRINHA, ENTRE

O TERREIRO DO PAÇO E O RIO TRANCÃo o

estudo integrado da cartografia, da iconografia e fotografia da

cidade, que nos últimos anos tem mostrado franco progresso , permite compreender os fenómenos modernos e contemporâ­ neos da Lisboa ribeirinha, correspondente à Zona Oriental. Do ponto de vista espacial reconhece-se uma grande homogenei­ dade geomorfológica entre o Terreiro do Paço e o rio Trancão, indispensável ao entendimento da evolução industrial da cidade, entre os meados do século XIX e a construção do Parque

Cais das fragatas da Abel Pereira da Fonseca. Anos 50. Acervo da Abel Pereira da Fonseca,

SARL.

da EXPO . Essa homogeneidade pode detectar-se na cartografia e sobretudo na fotografia aérea de toda a região. Em segundo lugar, a compreensão da expansão industrial deste espaço deve fazer-se a partir da descrição de uma realidade hoje desa­ parecida: a primitiva orla ribeirinha. O avanço das obras do Porto de Lisboa, a oriente da Praça do Comércio , foi a causa da sucessiva mutação dessa orla. A Ribeira entre o Terreiro do Paço e Santa Apolónia encontrava-se, no terceiro quartel do século XVI II, pejada de pequenos cais acostáveis . Em muitos lugares, obras públicas de relevo tinham criado um recorte nas margens que estabeleciam a relação entre a cidade e o rio . Nos cais acostáveis, a toponímia dava notícia ou era lugar de acontecimentos económicos e sociais ligados à actividade do rio. Na antiga Lisboa Oriental muitos desses lugares de acontecimento falavam da actividade fluvial e dos produtos que chegavam a Lisboa pelo Tej o , vindos de Abrantes, Santarém, Ribatejo ou da Outra Banda. Júlio de Castilho deixou-nos alguns relatos dessa vida da orla ribeirinha , continuados e aprofundados por Norberto de Araújo e outros olisipógrafos. Depois do Convento de Santa Apolónia seguiam-se margens irregulares, praias, onde de lugar em lugar havia pequenos cais correspon­ dentes a lugares - Xabregas, Poço do Bispo - ou pertencentes a antigas ou novas quintas, construídos em pedra ou em madeira. Nas praias ainda existentes nos anos 30, o ambiente fluvial predominava e as boas condições ecológicas e naturais convidavam ainda ao seu aproveitamento para banhos e lazer. Um primeiro problema radica na definição de Lisboa Oriental. O conceito urbano do Bairro da Ribeira, um dos doze bairros da divisão da cidade do tempo de D . João V, para o alvará de 1742 correspondia a três freguesias - S. João da Praça, S. Pedro e S. Miguel - e à fachada fluvial que ia até ao Cais do Carvão, situado na freguesia de Santa Engrácia. Por sua vez, Santa Engrácia, encontrava-se integra­ da no Bairro de Alfama, em cuja área se localizava uma extensa faixa ribeirinha até ao Convento de S. Bento de Xabregas. De acordo com a organização paroquial de 1 7 5 5 , esta última paróquia era a mais oriental das freguesias de Lisboa, atingindo Xabregas, os conventos dos Grilos e das Grilas, o Vale de Chelas, limite onde começava o seu termo na Zona Oriental, com loca­ lidades importantes como o Beato António e os Olivais . A planta da remodelação paroquial de 1770 mostra, no entanto, uma ligeira redução da área urbana e periurbana , pois para aqueles lados dominavam as quintas, os cerrados e as propriedades rústicas . A referida remodelação mostra-nos uma freguesia de Santo Estêvão , bastante consolidada, tanto no que se refere à densidade urbana,

'3


como à caracterização ribeirinha, onde diversas obras já executadas e outras em projecto conferiam unidade ao território. Mas, na orde­ nação de 1770, previa-se o restabelecimento da freguesia de S. Bartolomeu, cujos limites envolviam S. Bento de Xabregas, a partir do largo da mesma igreja, a margem do Tejo até ao Largo do Poço do Bispo, Marvila, Vale de Chelas'. Sobressaem na planta de Santo Estêvão, edifícios notáveis do ponto de vista industrial. O mais saliente era o da Fundição de Canhões, que ganhara na fachada ocidental, a frontaria que hoje o caracteriza . Não longe daquele espaço ficava a Real Fábrica de Tabacos, enquan­ to que em Santa Engrácia se encontrava a Fundição de Cima, junto ao Campo de Santa Clara. Estas importantes unidades fabris são, tal como a Real Fábrica do Sabão , situada em Marvila, mas já no termo de Lisboa, os primeiros testemunhos da presença manufactureira na Lisboa Oriental. Através da extensa documentação do Arquivo Histórico do Ministério de Obras Públicas há notícia de uma gradual mutação dos espaços rurais em empreendimentos manufactureiros e fabris, estamparias sobretudo, mas também curtumes, refinação de açúcar, cerâmica comum, manufactura de alfinetes e outras. Estas mutações ocorreram no ambiente político-institucional do Antigo Regime , encontrando-se associadas ao desenvolvimento do comércio atlântico e ao florescimento de UIna burguesia comercial ligada ao Brasil e às matérias-primas coloniais - tabaco, algodão , açúcar. Os interesses do tabaco , por sua vez, articulavam-se com os do sabão , para cujo fabrico era necessário azeite. Ora, em toda a área agrícola do termo de Lisboa, havia olivais e lagares de azeite em abundância que permitiram fixar algumas regras de exploração deste combustível, no tempo de Pina Manique, para a iluminação pública de Lisboa. Não existem mutações administrativas significativas nos bairros e freguesias da cidade até à legislação de 1852 - decreto da organização administrativa do concelho de Lisboa. A Zona Oriental da cidade continua a pertencer ao Bairro de Alfama e a sua expansão máxima atinge o Poço do Bispo . O ano de 1852 significou uma retracção da área de Lisboa a oriente, motivada por dois factos, um de natureza económica e fiscal - a circunvalação ou estrada fiscal, para controlar a entrada de produtos de consumo do interior, vindos por terra; o outro correspondeu à criação do concelho dos Olivais. Durante o período de 1852 e 1885, a área administrativa dos Olivais detinha algumas das mais importantes indústrias modernas, que lhe conferiam um lugar à parte na transformação industrial de Lisboa. Faziam parte deste concelho , as freguesias de S. Bartolomeu do Beato (restabelecida em 1770) , Charneca, Ameixoeira (fundação de 1541) , Lumiar (f. 1276) , Olivais (f. 1420) , Campo Grande (f. 1620) , Sacavém (f. anterior a II91) e Camarate (f. 15II) . A reforma administrativa de 18 de Julho de 1885, extingue e integra o concelho de Olivais numa Lisboa em expansão. Desde 1868, que os velhos bairros de Lisboa sofriam grandes alterações. O Bairro de Alfama, que fora até então sinómino de Lisboa Oriental ribeiri­ nha, extingue-se para nascer o Bairro Oriental, com quinze freguesias (1868) e o 1 . Bairro, com dezassete freguesias (r885) . o

Uma noção realista e aproximada da industrialização da área oriental poderá fazer-se, durante a segunda metade do século XIX, a partir dos inquéritos industriais de 1865, 1881 e 1890, tendo como pano de fundo a estrutura administ�'ativa correspondente da cidade. O território oriental da cidade alarga-se, um pouco mais, temporariamente, às freguesias de Sacavém e Camarate, entre 1 8 8 6 3 e 18954. A concepção d e unidade intrínseca d a Lisboa Oriental, entre a s Alfândegas e o rio Trancão atingira a sua máxima

Da freguesia de S. Bartolomeu se desanexou a Rua Direita de Manila. para a entregar a Santa Maria dos Olivais, com o Plano da Divisão de 1780. Cf. Lisboa na 2. a Metade do Séc. XVH! (Plantas e

Descrições das suas Freguesias), Recolha e índices por Francisco Santana, Lisboa. CML. s. d.. pp. 13, 110, 132.

3 Decreto de 22 de Julho de 1886. 4 Decreto de 26 de Setembro de 1895.


expressã o , numa territoralidade da capital resultante da expansão industrial oitocentista. Fenómeno semelhante acon­ tecera à Zona Ocidental de Lisboa, entre Belém, Pedrouços e Algés . Em r895, no entanto , uma parte de Sacavém e toda a fregue­ sia de Camarate serão integradas no concelho de Loures. Por essa altura, o fenómeno da industrialização das periferias urbanas de Lisboa fazia-se já por ciclos concêntricos aten­ dend o , sobretudo , na Zona Oriental, à implantação da linha de caminho-de-ferro, que partindo da Estação de Santa Apo­ lónia seguia para o Leste e para o Norte. Esse fenómeno carac­ terizará a expansão industrial entre o concelho de Loures e o de Vila Franca de Xira , hoje partes integrantes da Grande Lisboa. O conceito territorial de Lisboa O riental abrangia tanto a zona ribeirinha, como os aglomerados urbanos e uma exten­ sa área rural, cruzada por centenas de azinhagas. Convém, desde já entender que o fenómeno da instalação industrial

Ponte de Xabregas. in Archil'O Piltoresco. Ano 1. 1857. p. 33-

não se verificou apenas no Caminho do O riente - projecto

de valorização e revitalização urbana de Lisboa, centrado num eixo compreendido entre Santa Apolónia, Marvila e Doca dos Olivais. Muitas unidades fabris vieram a lo calizar-se no interior, seguindo determinadas lógicas particulares, não se reduzindo às que seguidamente trataremos . 2.

COMÉRCIO E A NAVEGAÇÃO

FLUVIAL

A longa história da Lisboa Oriental, da Antiguidade ao Antigo Regime, é a do comércio e navegação fluvial. O Tejo constituiu desde sempre uma importante acessibilidade, motivando o contacto entre as povoações a montante, como as que se situavam na Outra Banda. Embarcações do Ribatej o , de Santarém e seu termo, de Tancos e do Arripiado , de Abrantes e de Ródão desciam o Tej o até Lisboa. Traziam as importações da cidade e, depois no regresso , levavam as exportações de Lisboa, muitas vezes com produtos oriundos do Mediterrâneo , do Atlântico , do Índico , do Norte da Europa. Barcos da Outra Banda marcavam o quotidiano do Tej o , estabelecendo as trocas entre a Estremadura e o Alentej o . Para resolver e dignificar o comércio que vinha do Sul e atravessava o mar da Palha, construiu-se um importante cais junto à Fundição do Arsenal do Exército , chamado Praia dos Algarves. A observação dos modelos de embarcações do Tejo permite equacionar, a diversidade de barcos, de soluções e especializações de transporte . A quantidade de embarcações que aportavam a Lisboa pode ser um bom indicador do volume do comércio . Situavam-se na Lisboa Oriental os mais importantes cais acostáveis dos barcos fluviais, com seus pequenos portos de chegada, de carga e descarga, sob os olhos dos responsáveis alfandegários. Uma certa especialização urbana da Ribeira de Lisboa, fez com que a Ribeira Velha detivesse essa função de maior articulação com as embarcações e os produtos do comércio fluvial; sob o olhar vigi-

15


lante das Alfândegas. Na Ribeira Nova encontravam-se sobretudo os mercados de peixe, os cais dos pescadores, dos carregadores braçais e as tercenas de construçâo naval. Identificar os cais acostáveis de Lisboa Oriental é, em primeiro lugar, isolar diferentes situações concretas da vida económica, social e produtiva do comércio fluvial. Esta metodologia contribuirá para a determinação do efeito fluviocomercial na gestação das indústrias deste território . Outro tanto permitirá a identificação dos produtos postos em circulação nas rotas deste intenso comércio interno. Um balanço dos pequenos portos e cais da costa ribeirinha entre o Terreiro do Paço e Braço de Prata, antes das grandes modificações que o Porto de Lisboa introduziu, contribuirá para chegar a algumas conclusões. A introdução do barco a vapor no Tejo não alterou o fluxo fluvial de produtos transformados 5. 3 . CAIs AGRÍCOlAS E A FIXAÇÃO DAS INDÚSTRIAS Na coroa agrícola que envolvia Lisboa antiga salientavam-se os vales de Sete Rios / Alcântara e Chelas , bem como as celebérrimas quintas . Mamadas desde a Renascença, estendendiam-se desde Xabregas até Sacavém. Espaços agrícolas pertencentes a importantes famílias da nobreza e da burguesia da capital, nos quais sobressaía quase sempre uma importante casa solarenga, com todas as seus oficinas agrícolas. Não se encontram completamente averiguadas as razões principais que motivaram a vocação manufactureira e industrial de muitas dessas quintas , sobretudo a partir do reinado de D . João V. A presença desses interesses pode ser aferida em documentação da Junta do Comércio, orientando -se para diversos ramos industriais. Com a extinção das ordens religiosas e a nacionalização dos seus bens, várias propriedades que lhes pertenciam foram adquiridas por uma nóvel burguesia liberal que, não só renovou a exploração agrícola, como pôde articular-se com os rendosos negócios manufactureiros e industriais. Ainda nos meados do século XIX - já em pleno surto industrial - divulgam-se imagens dessas quintas paradisíacas da Lisboa Oriental, com seus palácios e ambiente natural e agrícola: Quinta da Mitra, Quinta das Rolas, Palácio de Valadares, Quinta da Matinha, etc. A toponímia que persistiu evidencia esse mundo que nós perdemos (Peter Laslett) , de leitura agrícola e paisagem natural : Rua de Vale Formoso de Baixo e de Cima, Azinhaga das Veigas. Ora, muitas destas quintas, dispunham de seus cais, onde acostavam embarcações para transporte dos produtos agrícolas, engrossando as correntes comerciais de bens para a alimentação de Lisboa. O desenvolvimento das actividades manufactureiras activou esses cais e obrigou os proprietários a mudar a lógica do seu funcionamento ancestral, integrando­ -os no universo das mudanças económicas da capital. Esta lenta transformação da paisagem agrícola de Lisboa em industrial, pelo efeito da propriedade,

4. PRAIAS

constitui uma outra lógica que não deve ser descurada na caracterização dos novos ambientes.

E ATERROS

Difícil é imaginar a Lisboa ribeirinha de outras eras, face à uniformização da linha da costa que o Porto de Lisboa lhe impôs, desde o último quartel do século XIX. Para além das pequenas docas ou caldeiras de protecção fluvial e dos cais acostáveis das quintas, muitas vezes erguidos sobre estacas de madeira, existiam praias, algumas de grande extensão , que ainda serviram para banhos dos habi­ tantes das localidades e dos bairros respectivos.

5 A frota d e três lanchas a vapor d a Companhia de Real Fiação delomar é disto exemplo. C . Jorge Custôdio , A Aftiquina

16

.1

Vapor de Soure, Porto. Fundação Belmiro deAzevedo. 1998.


A dado momento, essas praias contrariaram o desenvolvimento industrial e houve necessidade de fazê-las desaparecer. Os inte­ resses industrais e comerciais foram suficientemente claros para impulsionar medidas que, por um lado, vieram uniformizar essa linha homogénea e rectilínea de margem fluvial e, por outro lado, conquistar terrenos ao Tejo. O desaparecimento das praias da Lisboa Oriental é abordado inúmeras vezes, sem se dissecar a sua verdadeira intencionalidade. O método utilizado - quando se encontra documentado consistiu em aterros sucessivos que preencheram os recortes da linha de costa, fazendo desaparecer os antigos cais, docas e praias e empurraram o Tejo para novo leito, cada vez mais urbanizado. Essa estratégia é conhecida de outros tempos, mas durante o século XIX ganha novo incremento e maior alcance, por inter­ ,

Descarga mecânica de areia para o aterro da praia da Matinha. Foto de Eduardo Portugal Lisboa Ribeirinha. 1894. foto 4.

venção de meios mecânicos mais eficientes. Júlio de Castilho

(r938).

in

descreve os métodos de aterro utilizados na época de Pombal, entre o Cais de Santarém e o Cais dos Soldados, do qual nascerão as novas obras da margem do Tejo, junto ao moderno Arsenal (1760) . As iniciativas são de pequena extensão e enquadráveis em projectos de renovação da imagem da cidade, nas novas áreas urbanas . A construção da Estação de Santa Apolónia inaugura uma nova etapa nessa mudança - a da conquista das margens do Tejo em benefí­ cio dos interesses comerciais e marítimos. Para essas obras utilizaram-se dragas movidas por máquinas a vapor, que desde 1843 , se encon­ travam ao serviço da cidade. São dragas cada vez mais sofisticadas que farão as obras dos finais do século para o alargamento do Porto de Lisboa, na faixa oriental da cidade. Os mesmos aparelhos, com sistemas automáticos contribuirão para imprimir velocidade na trans­ formação da praia da Matinha, num terreno moderno para a edificação da nova Fábrica de Gás, entre I936-I940. Várias fotografias existentes no arquivo da Câmara Municipal de Lisboa documentam o método utilizado. As obras realizadas para a construção da Avenida Infante D. Henrique, nas décadas de trinta e quarenta, que abrirão os horizontes indus­ triais de toda a margem de Lisboa, entre a praia de Xabregas e a Doca dos Olivais, implicaram a remoção de quantidades astronómicas de terras para os aterros indispensáveis à fixação dos terrenos. Nesse processo megalómano de nivelamento e modernização , não foram poupadas sequer as recentes obras portuárias, como os paredões de Santa Apolónia. As cartas topográficas de Lisboa, a partir dos meados do século XIX mostram essa gradual conquista do Tej o , que fez desaparecer praias, ,

cais, docas, caldeiras de moinhos de maré, quintas e até fenómenos geográficos de significado fluvial, como o cabo Ruivo . O mote da mudança encontrava-se associado à construção da linha de caminho-de-ferro do Leste e do Norte, que precisou de se insta­ lar no território oriental de Lisboa, com perfil adequado , cortando a direito , sobre as depressões de terreno , procurando o fixe dos acidentes geográficos mais antigos. A construção da Estação de Santa Apolónia prova, com bastante rigor , o efeito do caminho-de-ferro na caracterização da Lisboa Oriental, tanto na perspectiva da conquista das margens para as instalações industriais modernas, como afir­ mando as mudanças das acessibilidades. A linha férrea, além de estimular a localização industrial, contribuiu para a mudança da pai­ sageUl de Lisboa Oriental. O estabeleciUlento da circunvalação-ferroviária-funcionou COlllO UUla cunha de ligação da cidade, entre o-todo e as diversas partes, Alcântara com Xabregas, o centro com a periferia, ajudando à circulação dos produtos e da população trabalhadora.

17


5. UM

NOVO CONCEITO DE LISBOA RlBEIRlNHA

A Carta Topográfica de Lisboa, publicada em 1871, representava uma linha de costa resultante da reconstrução da Lisboa na sequência do terramoto . Todavia, a partir da decisão da construção do Porto de Lisboa as novas ideias instalar-se-ão na modernização das margens do Tejo, quer através dos aterros da linha de caminho-de-ferro, quer na implantação de importantes melhoramentos de apoio às activi­ dades portuárias. Os projectos mais antigos, que vieram a ser executados, na Zona Oriental, datam de 1888. Nos finais da década de quarenta a linha marginal do Tejo era completamente diferente da que sobrevivera às mutações do fim de século. Inicia-se assim o efeito portuário na localização das indústrias orientais da cidade . A construção da Doca da Alfândega e da do Terreiro do Trigo implicaram mudanças nos antigos cais, impondo o seu gradual desa­ parecimento. A actividade fluvial era destruída pela oceânica, as populações começavam a aprender virar costas ao rio. Uma das conse­ quências mais directas da ampliação do Porto de Lisboa, para as bandas da Ribeira, foi a construção de desembarcadouros flutuantes. As actividades portuárias exigiam bastantes armazéns, população , novas profissões, transitários e o reforço alfandegário . O Porto de Lisboa afirma-se como o construtor do novo conceito de Lisboa ribeirinha, fazendo surgir novas docas (Poço do Bispo, Olivais) , autorizando novas pontes-cais, outras realidades para o crescimento do volume de negócios e mercadorias. O conceito de escala impõe-se na margem, exigindo obras que facilitem a acostagem de cargueiros de grande tonelagem. Esse modelo encontra-se projecta­ do no Plano de Melhoramentos de 1946 . Mas os efeitos da escala ainda tardam, pois a revolução da contentorização só se impõe no Porto de Lisboa, a partir de 1970. Esse é o momento da criação de uma autêntica barreira física na Lisboa ribeirinha, desde Cabo Ruivo à Alfândega. A nova realidade fora motivada pela industrialização , mas age constantemente sobre a própria densificação da implantação das indústrias no mesmo espaço. Exige acessibilidades próprias, já não as ferroviárias . Não se vivia na década de quarenta uma outra revolução - a rodoviária? Tudo contribuía para a moldação dos efeitos portuários, desde a produção de alcatrão na Matinha, à refinaria de petróleo em Cabo Ruivo , à localização de empresas de transporte nos Olivais, até às novas máquinas de asfaltar. Acompanhando o traçado rectilíneo das margens ribeirinhas - obra de engenheiros hidráulicos - rasgava-se a Avenida Marginal, a Infante D . Henrique - obra de engenheiros de estradas. Os espaços entre as antigas fábricas e oficinas (situadas na convergência dos seus factores de sucesso) , e a linha do novo porto, tornam-se propícios a uma certa planificação de localizações industriais. Veja-se a diferença entre as instalações fabris da João de Brito e a moderna moagem e os silos da Portugal e Colónias. 6. A INDÚSTRIA NA LISBOA ORlENTAL E

OS INQUÉRITOS INDUSTRWS

A actividade manufactureira encontra-se documentada na Lisboa Oriental desde o início da época moderna. A génese do Arsenal do Exército e da sua fábrica de armas articula-se com a fundição e tercenas de Artilharia das Portas da Cruz, fundada pelo rei D. Manuel, na parte oriental da cidade, entre 1515 e 1521. Não muito longe desta fundição fabricavam-se explosivos na Casa da Pólvora, referen­ ciada no desenho de Lisboa, atribuído a Duarte Darmas. Até aos' quéritos pOlnbalinos inventariaram-se diversas oficinas e actividades {abris através da literatura e da toponimia na Lisboa Oriental, como fornos de vidro , olarias (entre as quais a célebre Fábrica Real da Bica do Sapato) , fornos de cal e de carvão , curtumes.

18


As tendências oficinais e manufactureiras são perenes entre 1775 e 1 8 3 0 , sob o impulso da Junta do Comércio .

À medida que o tempo da industrialização se aproxima aumenta o número das unidades fabris instaladas na Lisboa Oriental. Essa propensão acentua-se a partir de 1 8 5 � , atingindo o auge em 1890, depois do duvidoso Inquérito de 1 8 8 1 .

I) D e facto , o Inquérito de 1890, revela existirem 1 5 6 ramos industriais em plena laboração no I. o Bairro da cidade, no qual se integravam as freguesias de Lisboa Oriental. A peque­ na indústria começava a ser ultrapassada pelas grandes fábri­ cas mecanizadas em diversos sectores, albergando centenas de operários do sexo masculino e feminino . O crescimento pode ser acompanhado através do Boletim do Trabalho Industrial, desde os princípios do século XX até à expansão do Porto de

Caminho-de-ferro de Le.ile. Corte de Xabregas, in Archim Piltoresco. Ano I,

Lisboa, para oriente de Xabregas. Todos os autores são unâ­

1857. p.

265.

nimes. Na Lisboa Oriental encontravam-se os indicadores mais específicos da industrialização da capital.

2) Por volta de 1 9 1 5 , em plena I República, os trabalhadores do Oriente da cidade ultrapassavam os 15 0 0 0 , havendo muitas associações de classe e sindicatos organizados, uma prova de tradições sociais do bairro e das novas contendas com os senhores da indústria. Fenómeno semelhante ao de Alcântara é claro, mas talvez aqui com menor intensidade e menor duração . D epois de 194�, a realidade afirma-se e amplia-se e são considerações de ordem económica que impõem o inquérito industrial de 197�, executado pela empresa PLANOP, para a Divisão de Planeamento e Urbanização da Câmara Municipal. Procurava-se interpretar a estrutura industrial para determinar as consequências da execução do novo plano director da urbanização da zona.

3) As conclusões revelam a permanência e extensão do sector secundário,

-

4 3 , 7 % num universo de �70 empresas. Nas indús­

trias transformadoras o pessoal operário ocupava ainda II 400 postos de trabalho . Com outras indústrias, comércio e pessoal administrativo atingia-se quase os �I 000 trabalhadores. As empresas continuavam a justificar a permanência por efeito do Porto de Lisboa.

4) A década de oitenta finaliza um ciclo de crescimento e inicia a época da desindustrialização . Agonizam e morrem as fábricas seculares e outras transferem-se para novos arrabaldes da Grande Lisboa. O propósito do presente trabalho não se identifica com um estudo de carácter económico . Pretendeu, antes, precisar e reco­ nhecer o valor e a importância de algumas das unidades industriais que marcaram e desenvolveram a história económico - social e cultural de Lisboa Oriental. Por outro lado , tentámos, tanto quanto possível, abordar as diferentes indústrias que ainda testemunham de alguma forma a sua presença na cidade - edifícios, arquitecturas, linguagens, cores, máquinas, memórias, gentes. Conhecer as principais realizações da industrialIzação tem uma finalidade . Entender e divulgar os cason nais emblemáticos d e uma época que chega ao fim, no momento da afirmação dos fenómenos da sociedade de consumo .

19


o • • O O O O :

CENTRAL ELEVATÓRIA A VAPOR DA PRAIA FUNDiÇÃO E FÁBRICA DE ARMAS DO ARSENAL DO EXÉRCITO ESTAÇÃO DE CAMINHOS DE FERRO DE SANTA APOLÓNIA FÁBRICA DA COMPANHIA LISBONENSE DE TABACOS ESTAÇÃO ELEVATÓRIA DOS BARBADINHOS I E II ASILO D. MARIA PIA E ESCOLA INDUSTRIAL AFONSO DOMINGUES FÁBRICA DE MALHAS DE INÁCIO DE MAGALHÃES BASTOS & C. FÁBRICA DE PÓLVORA DE CHELAS

O VILA FLAMIANO • FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS DE XABREGAS (VULGO FÁBRICA DA SAMARITANA) • VILA DIAS

48 CD O

O e

FÁBRICA DA COMPANHIA DE FIAÇÃO TECIDOS LISBONENSE FÁBRICA DE TABACOS DE XABREGAS FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS ORIENTAL (VULGO, FÁBRICA DAS VARANDAS) MANUTENÇÃO MILITAR "A NACIONAL" - COMPANHIA INDUSTRIAL DE TRANSFORMAÇÃO DE CEREAIS, S.A.

8 SOCIEDADE NACIONAL DE SABÕES o FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA •

COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS

G) FÁBRICA DE CORTiÇA DA QUINTA DA MITRA G VILA PEREIRA fi SOCIEDADE COMERCIAL ABEL PEREIRA DA FONSECA, S.A.R.L.




Do ponto de v i sta arquitect ó n i c o , a Estação e n c o n t r a - s e organ i z ada em três corpos. Ao centro, no corpo m a i s e l evado, l oc a l i z a v a - s e a C a s a d a s M á q u i nas e d a s B o m b a s , sob a q u a l res i d i a a i n d a o d e p ó s i t o do carvão. A s u a composi ção res u l tava de um grande pórt i c o de arco de vo l ta perfeita envi draçado , s ustentado por d u a s c o l unas de ferro , m ostrando à v i a p ú b l ica as m á q u i n as que d e t i n h am o poder de e l evar a água do reservatório d a Praia até ao da Veró n i ca. Essa fachada era marcada por u m a c i m a l h a decorativa sobre a q u a l se constr u i u uma p l at i b a n da m o d e l ada. D e cada lado desta construção, de organ i zação s i m é t r i c a , erguera m - se Planta Aerofotogramétrica 3/6. Escala 1: 2000. }'faio de 1963. Actualizada em ,

C E n T RA L E l E VAT0 R I A A VA P 0 R D A P RA I A

duas casas, u m a para as c a l deiras e

Ig87.

outra, l o c a l izada do l a do o r i e n t a l ,

Loca li zação - Largo da Chafariz

p ara servir de casa de h a b i tação

de Dentro.

do m a q u i n ista e do guarda do

período de Activi dade

-

1 8 6 8 - 1 8 80

F u n c i o n o u i n t e r m i tentemente d e s d e

escritório de apoio da e m presa. O e d i f í c i o foi e q u i p a d o com

então até D e z e m b r o de 1 9 3 1 , d a t a em

i n st a l ações de á g u a e gás.

que se i n sta l o u um m o t o r e l éctr i c o .

D e p o i s da a l teração da s u a f u n ç ã o ,

Laborou a t é 1 3 de J u l ho d e 1 9 3 8 .

a e s t a ç ã o d a s águas da Pra i a perdeu a

Fundadores

-

2 . a Com p a n h i a d a s Á g u a s

de Lisboa.

s ua m a q u i n a r i a - um grave efeito patr i m o n i a l - e esteve a l ugado a um

Activi dade Industrial

-

Abastec i m ento

part i d o p o l ít i c o .

de á g u a à ci dade de Lisboa,

Estado d e Conservação

Zona O r i e n ta l .

C l assifi cação

Valor Patrimon ial

-

H o j e só e x i s t e o

-

-

R eg u l ar.

Sem c l a s s i f i c a ç ã o .

V e m conte m p l ado n o I n ventário

e d i fí c i o da a n t i g a Estação E l evatória de

M u n i c i p a l do Patr i m ó n i o d o p l a n o

Á g u a s da Pra i a , c uj a fachada p r i n c i p a l

D i rector M u n i c i p a l ( P D M ) .

se encontra v i rada para o C h a f a r i z d e D entro n o B a i rro de A l f a m a .

23


Q

UANDO a 2 . a Companhia das

Águ as

de Lisboa (CAL) , consti­

tuída em 2 de Abril de 1 8 6 8 , começou a pensar sobre as formas de moderniza­ ção do abastecimento público de águas à cidad e ,

de modo a garantir uma

distribuição domiciliária, o velho sis­ tema do aqueduto entrou numa fase de recessã o , pelos múltiplos incon­ venientes que manifestava. Uma das obras mais avançadas , que a CAL realizou no terceiro quartel do século XIX, foi a Estação Elevatória a Vapor da Praia. Um dos obj ectivos da sua construção consistiu no aproveitamento de águas inutilizadas ( 6 5 anéis de água) , re­

I --

sultantes das nascentes orientais da cidade (chafarizes de EI-Rei, de Den­ tro , da Praia e Tanque das Lavadeiras) , vertidas directamente no Tejo . O pro­ j ecto foi estudado pelo engenheiro Joaquim Nunes de Aguiar (29 de Fe­ vereiro de 1868) e consistiu na cons­ trução de um reservatório na Praia e outro na Verónica, este a 69 metros

,

"

l-

'I Máquina a vapor. Alçado.

va-se à cidade à cota de 49 metros de

i! ]

elevava-se a água por meio de máquinas

I

!

acima do nível do mar. A água destina­

L:

altitude. Para que tal fosse possível, a vapor desde o reservatório da Praia até ao da Verónica. O volume de água de

186B. Arquivo Histórico da EPAL.

2 207 8 2 0 litros era depois conduzido por tubagem de ferro aos bairros bene­ ficiados . .As

obras da Estação Elevatória inicia­

ram-se em Julho de 1 8 6 8 . Foi celebra-

24


do um contrato com a empresa de

1ft

engenheiros construtores d e Ruão, E. Windsor & Fils para o fornecimento de duas máquinas a vapor elevatórias, as quais deveriam bombear 1 9 0 0 m3 d e água à altura d e 73 m (contrato de 1 6 de Junho de 1868) . As máquinas eram verticais, conforme os desenhos apresentados, de duplo efeito , com

.,

dois cilindros e de sistema Woolf, então o método mais usual para a elevação de água nas cidades. O balan­ ceiro tinha 6 , 1 0 m de comprimento . Produziam 2 3 c/v em água elevada

I"

ou 30 c/v sobre a árvore do volante .

, .'X '

A Windsor fornecia ainda o maqui­ nista que estaria em Lisb o a , por volta dos princípios do mês de Julho para a montagem da Estação a Vapor. Cada máquina encontrava-se munida de um

bliU;ào da Praia. Interior. Corle.

J868. Arquivo Histórico

da EPAL

reservatório em ferro fundido com

atraso em relação às suas congéneres

luções de expediente para concentrar

comunicação com a conduta ascen­

londrinas e parisienses . O mo delo

na exiguidade das salas as diversas ofi­

sional. Três caldeiras forneciam o

voltará a ser repetido uns anos depois

cinas e funções requeridas . Junto à casa

vap o r , situando -se à esquerda do

nos Barbadinhos. As duas máquinas

do maquinista colocaram-se depósitos

corpo central , perto do Reservatório das "Águas O rientais" .

n e ce ssitaram de uma plataforma à

para os óleos e para aparelhos de fabri­

altura dos balanceiros e instalou-se

co de tubos de chumb o . O combustível

O corpo central dividia-se e m dois

uma ponte rolante no topo para os

armazenou-se por cima da cobertura

piso s . No piso térreo situavam-se dois

trabalhos de montagem e conserva­

do reservatório .

grupos de duas bombas de simples

ção do sistema técnico . Uma chaminé

A Companhia das Águas pro curou estimular os empreiteiros a instalar

efeito, os c ondensa dores da s má ­

foi construída por detrás do e difí­

quinas, as bombas alimentadoras das

cio , no ângulo formado pelo corpo

com urgência as máquinas a troco de

caldeiras e os reserva t órios de a r

central e lateral da direita (Borges de

um bónus de indemnização d e 2 0 0

nos tubos d e aspiração e d e refluxo

Souza) .

francos. N o Arquivo Histórico d a EPAL

(Borges d e Souza) .

Um dos p rincipais problemas da

Estação Elevatória das Águas O rientais

existem os desenhos desta Estação

No piso superior veio a instalar-se a

Elevatória , pioneira no território na­

rimeira central a vap01: de elevação de

foi o pouco espaço para tão grande

cional , que marcou a históúa do abas­

águas do nosso país, j á com algum

empreendimento. Recorreu-se a so-

tecimento de água em Portugal.

25


Segundo Bernardino António Gomes,

, .- :: . '::.1 -�-

as obras da Praia orçaram em 100 contos de réis, custando à Companhia três contos as despesas das máqui­ nas por ano . Leva nta m-se por dia I

9 0 0 0 0 0 litros de água, consumin­

do-se por h ora I kilo de carvão e correspondendo isto a 75 kilogra ma s de água levantada . Com 100 contos de réis, pois, e mais 3 de despesa anual, conseguiu-se um acréscimo de abas­ tecimento, valendo quasi tanto ou mais como o que se chegou a ter na estiagem, à custa de milhares de c ontos, por meio de um gra nde a queduto, ainda aumentadas as água s livres com as da Mata e Carnaxide; tão

importante [ai o melhoramen�o po'r semelhante modo aumentado (Ber­

nardino Gomes : 18 71) . A obra da Elevação a Vapor da Praia constava : I. da Casa de aproveitamento o

das nascentes do antigo Tanque das Lavadeiras (com 0 , 8 0 cm de altura) ; 2.

o

do encanamento das diversas nas­

centes e do tanque para o Reservatório " da Praia; 3 . do Reservatório da Praia de 3 m de altura e capacidade de 969 m3 ; 4." da Casa das Máquinas; 5." do Reservatório da Verónica , com a capa­ cidade de 4764 m3. O reservatório assentou sobre estacas, consolidando -se o terreno e desviando dele outras nascentes com água lnenos própria para consumo . Quanto à Casa das Máquinas ...há um.a diferença entre Estação da Praia. Chaminê. Alçado e corte. 1868. Arquivo Histórico da EPAL

o primitivo proj ecto do engenheiro


Aguiar e aquele que foi executado pela firma de Ruão . Sabe-se que a casa se construiu à medida das máquinas,

Relicrve.torio da Praia - Casa cas !�ach!t'�s

como era habitual nesse tempo, divi­ dindo-se o corpo central de seis metros de altura em três pavimentos para o

.�

funcionamento vertical das máquinas e bombas . Os trabalhos das fundações e das canalizações para o Reservatório da Verónica foram da autoria do Eng. Martin da Windsor da cidade de Ruão. Para a montagem das máquinas foi necessário adquirir uma ponte rolante para a respectiva casa. As paredes do edifício cresceram à volta da instalação dos equipamentos . Os reservatórios foram arquitectados com pilares de tij olo revestidos a cimento e cobertos de abóbada de betão. Com a montagem e funcionamento da Elevação a Vapor da Praia concluída

E�taçào da Praia. Fachada. Alçado. 1868. Arquivo Histórico da EPAL.

nos finais de r 8 6 8 , a Companhia

BIBLIO GRAFIA;

1871, pp. 86-90; SOUZA, Frederico Borges de,

dava-se por satisfeita pelos resultados

Companhia das Águas de Lisboa, "Portugal ,

COlnpagllie des Eaux de Lisbonne,

alcançado s .

Distribution d'Eau, Ville de Lisbonne". n. os 16 a

Notice SUl' I 'Alimentatioll de la Vale de

O s e u funcionamento regular durou

19. in

Lisbonne en Eaux Potables.

Relatoria da Direcção e seus Documentos

I900, Lisboa,

desde r 8 6 9 até Outubro de r 8 8 0 ,

e Relatoria da Comissão Fiscal. Gerencia da

Typographia da Companhia Nacional

altura d a inauguração d a Estação Ele­

Companhia desde a sua instalação, em

Editora, 1900 ; CUSTÓDIO, Jorge,

vatória dos Barbadinhos. Desde essa

Abril, até

altura até à desmontagem da central,

Imprensa Nacional, 1868, pp. 48-55;

in

os motores a vapor da Praia só funcio­

Companhia das Ág uas de Lisboa,

Lisboa , Livros Horizonte, 1994.

naram esporadicamente, colmatando

Relatario da Direcção Balanço e os seus

pp. 99-104, 133, 135-139.

2 de

9 de Outubro de I868, Lisboa,

as deficiências no serviço da captação

desenvolvimentos e Relataria da Comissào

das águas do Alviela. Então , de novo,

Fiscal. Exercício de

as históricas águas da cidade oriental

Nacional, 1870, pp. 18-2 2 ;

entravam na distribuição domiciliária.

GOMES, Bernardino António, a Limpeza Lisboa,

1869. Lisboa, Imprensa

O Esgoto.

e- o AbasteciInento das Águas

enl

Lisboa, Academia Real das Ciências,

"As Infra-estruturas. Os Canais de Lisboa". Lisboa em MOI·imento.

I8SO-I920,



p ú b l i c o em 1 8 5 1 . A ideia f o i do genera l J osé B a p t i sta da S i lva Lopes, barão de Monte Pedra l . I n i c i a l m ente estabe l e c e Ll - s e n a Fábrica de Armas de Santa C l ara, mas f o i trans f e r i d o em 1 87 6 para a FLl n d i ção de B a i x o , o n d e h o j e se en con tra com a desi g n a ç ã o de MLlSeLl M i l itar. A S Lla p r i m i tiva concepção de local de rec o l h a de peças m i l itares e de m á q Ll i n a s acab o Ll por ser parc i a l m en t e a b a n d o n a d a , para s Ll r g i r Llm i n teressante m Lls e Ll modern izado e CLljO p l a n o se d e v e Ll ao c a p i t ã o de art i l h a r i a E d Llardo Ernesto de Caste l o Branc o . R e c o rd e - s e q Lle n o t e m p o de D . M a n Ll e l I e x i stira Llm aLltên t i co m Ll s e Ll de armas n o Arsen a l , j Llnto ao Paço R e a l da R i be i ra , cLlja e x i stên c i a e v a l or se Planta Aerofotogramétrica 3/6 e 3/7. Escala 1:2000. Maio de Ig63. Actualizada em Ig87.

p r o l o n go Ll até aos F i l i p e s .

F u n O l ç Ã 0 E F Á B R I C A D E A R f'h A S D e:> A R S E n A L 0 0 E X E R C I T e:> ,

O s m onarcas espa n h ó i s desmem brara m - n o , e n v i a n d o c o l ecções de p e ças para M a d r i d

e s p i n gardar i a , de projécte i s ,

e S e v i l h a , perdendo q Ll a n t i dades

Art i l h a r i a , R Ll a Te i x e i ra Lopes e

d e b a l a s , de e s p o l etas e e s corvas;

de armas no d esastre d a Armada

Largo dos C a m i n h o s de Ferro.

man LlfactLlra e conserto

I n ve n c íve l . O Lltros arsenais

período de Actividade

Local ização

-

Largo d o M Lls e Ll de

d e v i at Llras, fabrico d e arr e i o s ,

e x i s t i a m n o p a ís c o m boas

EnqLlanto M Ll s e Ll M i l itar d e s d e

correames e e q Ll i pamentos; fabrico

c o l e c ç õ e s c o m o a de Estremoz,

1927-1998>

de ferramentas para serral h eiros,

a de A l fângega da F é , a de E l v a s e

ferre i ros e carp inteiros.

a de S a n taré m , m a s desapareceram

FLlndadores

-

-

1 5 1 6 - 1927

D . Man Ll e l i .

R e c o n s t r Ll ç ã o : D . J oão V e D . J os é i .

Actividade IndLlstrial

-

FLl n d ições

Valor Patrimonial

-

O M Ll s e Ll

d Llrante a G Llerra Pen i n s Ll l a r e a

M i l it a r ( de s i gn a ç ã o de 1 9 2 6 ) tem as

G Llerra C i vi l . D e s p r o v i d o s das

de canhões e m bronze; fLln d i ção de

SLlas o r i g e n s n o M Ll s e Ll de Art i l h a r i a

m e l h o res arm as, os m i l i tares

s i n o s e d e estatLlár i a ; fabrico

d o Ars e n a l R e a l do E x é rc i t o ,

portLlgLleses d e O i to c e n t o s

de armas brancas e portát e i s , de

i n s t i t Llído em 1 8 4 2 e aberto ao

verifi caram e x i s t i r Llm das m e l h ores

29


c o l ecções m u n d i a i s de art i l h a r i a de

n o t á v e i s da H i s t ó r i a de Port u g a l ,

das A r m a s , cuja t i p o l o g i a l embra

brome e ferr o . F o i esse o p r i n c i p a l

a l é m de d i versas o b r a s a l egóri cas

a i nda um q uarte l .

m o t o r patrimon i a l do M u s e u d o

onde a portuga l i dade marcou de

Estado de conservação

A r s e n a l R e a l d o Exérc i t o , h o j e

forma n a c i o n a l i s t a a presença

Cl assificação

M u s e u M i l i tar. A n ova i n s ta l ação

un i v e r s a l da gesta l us ía d a .

P ú b l i c o , Decreto n.O 45 327, de 2 5

-

-

Bom.

I m óve l de I n teresse

requereu i mportantes obras nas

Por esta r a z ã o , o M u s e u M i l i t a r é

de O u t ubro d e 1 9 6 3 .

fachadas e espaços da F u n d i ção de

também uma i m po r t a n t e

A c l a s s i f i cação l i m i t a - s e ao e d i f í c i o

B a i x o , que foram acrescentadas às

e n c i c l op é d i a da a r t e p o r t u g u e s a ,

onde s e i n sta l o u o M u s e u M i l itar.

mel h o r e s obras do t e m p o do

desde o s é c u l o XV I I I a t é aos

Vem refere n c i ado no I nven tári o d o Patr i m ón i o M u n i c i p a l do P D M .

marquês de P o m b a l ( f a c h ada

meados do s é c u l o XX. N as d iversas

o c i d e n t a l ) . O p á t i o da f u n d i ção foi

salas do Museu e n c o n t ra m - s e obras

aprove i t a d o para g uardar, ao ar

de c o l u m b a n o , Carlos R e i s ,

l i vre, as c o l ec ç õ e s de c a n h õ e s de

J os é M a l h o a , A n t ó n i o Ram a l h o ,

várias é p o ca s , entre as quais a

L u c i a n o F r e i r e , V e l o s o Sa l g a d o ,

c é l ebre peça de D i u ( 1 5 3 3 ) .

T o m a z de M e l o , A l b erto de S o u s a ,

Manteve - s e a fach ada p o m ba l i n a ,

J oão Vaz, Antó n i o C a r n e i r o .

mas fec h o u - s e a n a s c e n t e com um

As s uas c o l ecções de c a n h õ e s v ã o

pórt i c o d e notab i l ís s i m o lavor de

d e s d e as p e ç a s do s é c u l o X I V até

Te i xe i ra Lopes ( 1 895 - 1 9 1 0 ) .

aos meados do século X X .

P o r o utro l ado i n tr o d uz i u - s e u m a

I n depen d e n t e m e n t e d o v a l o r

b e l a c o l u n ata e b a l a ustrada, e m

m us e o l ó g i c o , o a n t i g o A r s e n a l R e a l

i n íc i o s d o s éc u l o x x ( fachada s u l ) .

do Exérc i t o detém um r i q u ís s i m o

O Museu M i l itar i n i ciou, p o r volta

v a l o r a r t í s t i c o e arqu itectón i c o .

de 1 9 8 3 - 1 984, uma i m p ortante fase

S o b as fundações man u e l i n as

de renovação , i l u strando uma n ova

e r g u e u - s e um espaço

concepção m u s e o l ógica das

j oa n i n o - pomba l i n o de grande

c o l e c ç õ e s . Tod a v i a o período á ureo

i n t eresse no â m b i t o da

das grandes a q u i s i ções

a r q u i tectura c i v i l , o q u a l foi

m us e o l ó g i cas corresponde à s obras

en gran d e c i d o com obras

dos f i n a i s do s é c u l o , r e l aci onadas

nas d i versas fachadas,

com o s centenários q u e então

correspondentes aos gostos mais

se c e l ebra ram das Descobertas

m odern o s , c o m o refer i m o s a c i m a .

p o r t u g u e s a s . Vários art i stas

E s s a s o b r a s ret i raram ao c o n j u n t o

port u g u e s es e estrangeiros

as carac t e r í s t i c a s de u m e s p a ç o

part i c i param na decoração d o s

m a n uf a c t u re i ro - i n d u s t r i a I ,

espaços expo s i t i vos, verdadeiro

a s p e c t o q u e n ã o o corre t a n t o na

repos i t ó r i o dos factos m a i s

F u n d ição de Cima, a v e l h a F á b r i ca


um oitavo monumento público - as tercenas e fundição de artilharia das Portas da Cruz, na Zona Oriental da cidade , obra que se iniciou em 1515 e que ainda continuava em 1 5 2 1 , no ano da morte do rei. A sua conclusão o correu durante o reinado de D . João III. A ambiciosa construção pressupôs a localização do novo armazém da artilharia muito perto da Casa da Pólvora, localiza­ da numa torre do recinto muralhado . O desenho de Lisb oa existente na Biblioteca da Universidade de Leyden,

�jJ:.�

-t:��,:: -

atribuído a Duarte Darmas , oferece­ - nos uma imagem deste grandioso

Fundição de Artilharia (século XVI). Panorâmica de Lisboa. Desenho. Universidade de leyden.

edifício impondo-se na paisagem lis­

O

boeta , exterior ao recinto muralhado e

ARSENAL Real do Exército tem

armazéns para acorrer a mais de du­

a sua origem numa das mais an­

zentos navios de todas as categorias,

ocupando um cais conquistado ao rio .

tigas manufacturas portuguesas, man­

permanentemente apetrechados e im­

A planta da manufactura parece revelar

dada edificar pelo rei D. Manuel I.

pecavelmente municiados (Damião de

três alas, organizadas em U, havendo

descobertas marítimas e a expansão

Góis) . Nos referidos depósitos man­

uma

&

quarta perpendicular às das

ultramarina ocorrida no seu reinado

tinham-se, para além de armaria de

nascente e poente, que fechava para

levaram-no a proceder a importantes

todas as qualidades e tipos, incluindo

um pátio interior . Junto ao edifício

modificações nas antigas tercenas reais.

arcabuzes e espingardas, diversas peças

encontra-se um forno de cal e vêem-se

Essas obras ficaram conhecidas por

de artilharia de toda a espécie.

diversos canhões no solo , podendo

tercenas novas - a futura Ribeira das

O crescimento e evolução das activi­

admitir-se que uma extensa área não

Naus -, em construção desde 150I.

dades marítimas exigiu , no entanto,

coberta se integrava na fundição de

Simultaneamente edificou-se o sétimo

não só bastantes canhões, como sobre­

canhões, tal como refere Sousa Viterbo.

grandioso monumento público do

tudo boas peças de bronze. & ferrarias

Foi nesta manufactura que veio fun­

seu temp o , no dizer de Damião de Góis

de Barcarena e as terce nas da Ribeira

dir-se uma boa parte das peças de

- o Arsenal de Guerra.

de Lisboa trabalhavam para peças de

artilharia portuguesa , que são outras

Os Depósitos de Armas situavam-se

artilharia de ferro fOljado e a casa das

tantas obras de arte das naus e das

junto aos Paços da Ribeira, próximo

bombardas de Cataquefarás, fundadas

praças do país, de África , da Ásia e do

das tercenas novas de C ataquefarás

nos finais do séculos XV , trabalhavam

Brasil.

(r515) e eTan> , ness a altura , os mais

o bronze. Exigências de uma produção

A área deste edifício manufactureiro

importantes da Europa e da Ásia, com

em série obrigaram o rei à fundação de

era grande, estando delimitada pelo

31


Arsenal, in Uni.'erso Pittoresco. 1839. Desenho de C. Legrand. litografia de Manuel Luís.

ArRnal do Exército e Museu de ArtUharia, in Portugal Pútoresco, 1903.

No tempo dos Filipes, a sua actividade

perfeita" (1718) . Pensava-se fabricá-la

era tal, que ficou conhecida por "fun­

na nova oficina .

dição dos castelhanos" .

A disposição do Arsenal d a Guerra

Após a Restauração de 1640, criou-se

só se renovará com a reestruturação

a Tenência (28 de Dezembro) , consti­

moderna, posta em execução depois do

tuindo um autêntico renascimento do

seu incêndio em II de Junho de 1 7 2 6 .

Arsenal do Exército . Sob a gerência de

O novo plano foi mandado implemen­

Ruy Correia Lucas competia-lhe a fun­

tar por D. João V, sob a direcção do

dição de artilharia e o municiamento

engenheiro francês, Larre (a quem

de peças e armas das praças de guerra.

se deve o arranjo artístico do pórtico

Podia ainda adquirir armas e compe­

ocidental) , ainda em início de cons­

tia-lhe conservá-las e guardá-las em

trução em 1 7 5 0 . O terramoto de 1755

armazéns. Através da planta da cidade

demolirá a reconstrução . A obra só

de Lisbo a do século XVII, de João

se concluirá sob as orientações do

Nunes Tinoco, verifica-se a grandiosi­

marquês de Pombal, depois de 1 7 6 0 ,

dade da Fundição de Artilharia (inte­

pela m ã o d e Manuel Gomes d e Car­

grando já a Fundição de Baixo e de

valho e Silva e do tenente Bartolomeu

Cima) , a qual ocupava uma zona que ia

da Costa.

do rio até ao Postigo do Arcebisp o ,

O novo Arsenal Real do Exército - com

separada apenas p e l o eixo viário da

esta designação e alteração de estrutura

Porta da Cruz. Durante a segunda

a partir do alvará de 24 de Março 1764

metade do século XVII, o seu plano

- compunha-se, então , de três edifi­

sofre algumas modificações, ainda não

cios, que ao longo da sua actividade

totalmente esclarecidas, entre as quais a

anterior se tinham estabelecido em

introdução da fundição de artilharia

diferentes épocas : a Fundição de Baixo ,

de ferro , instalada nas Reais Ferrarias

a Fundição de Cima e a Fundição de

Pátio do Sequeira e Beco do Surra,

de Figueiró dos Vinhos (região de

Santa Clara. Apesar das designações

Largo da Fundição de Baixo , Largo dos

Tomar) .

oficiais não passavam de diversas re­

Caminhos de Ferro e Calçada do Forte,

No reinado de D . João V, o tenente­

partições do mesmo empreendimento ,

podendo ver-se nas plantas da cidade

-general de artilharia do reino , Fernan­

umas com melhor arquitectura do que

dos séculos XVII, XVII I e XIX.

do Chegary - responsável da Tenência

outras, manifestando as dificuldades

A fundição do Arsenal da Guerra man­

entre 1712 e 1732

encontradas para resolver as múltiplas

-

mandou cons­

teve-se em plena actividade desde o

truir uma oficina de manufactura de

actividades a que se dedicavam, sobre­

reinado de D . João III até ao reinado de

armas. Foi nessa época que dois mestres

tudo a partir da criação de um exército

D . João V. No século XVI exerceu uma

serralheiros Cesar Fiosconi e J ordam

permanente e regular em Portugal .

função de escola das novas -fundições de

Guserio entregam a D. João V, um

Depois da gerência de Bartolomeu da

canhões instaladas em Goa e em Macau.

tratado para o fabrico da " espingarda

Costa, o Arsenal do Exército sofreu

32


diversas remodelações, a primeira com

manufactura de espingardaria e uma

a publicação do decreto de Janeiro de

fábrica. A partir da obra pombalina

1 8 0 2 (n. r 2 ) . D epois da vitória liberal

readquirira a função antiga de Arsenal,

houve várias outras reformas e reestru-

espécie de museu das colecções de armas

turações. A primeira o correu em r 8 3 4 ,

do reino. A obra pombalina reafirmara

uma outra em r 8 5 1 . Esta última con­

o papel do despotismo iluminado na

o

tribuiu para a modernização indus­

reorganização da estrutura pilar do

trial do Arsenal , transformando - o

exército. O liberalismo , ao remodelar o

cada vez mais numa fábrica moderna,

Arsenal, em r834, assumira-o como es­

ao serviço da renovação do sector.

tabelecimento indispensável na moder­

Em ro de Dezembro de r 8 5 r , o Arse­

nização das forças militares e como

nal passa a depender do Ministério

escola de ofícios mecânicos. Em r839

da Guerra, sendo chefiado por um

existiam cinco salas de armas : a de

inspector-geral. Com a regulamen­

D. João V, a de D . José I, a da Rainha

cinas ficava a residência do inspector

tação de r853 ficou constituído com

(D . Maria II)

da fundição . Foi para esse local que se

sete dependências:

dos Heróis. Os melhores pintores de

deslocou a fundição de canhões de

Fundição de Cima;

arquitectura de ornato do tempo engra­

bronze nos meados do século XVII.

Fábrica de Santa Clara ;

deceram essas salas (Baccarelli, Manini,

Em inícios de Setecentos alargara essa

O ficina de Pirotecnia da Cruz da

Pedro Alexandrino , Cyrillo Wolkmar

função . D . João V mandou instalar nas

Pedra;

Machado , Berardo Pereira Pegado ,

casas dos mestres fundidores, Nicolau

Bruno José do Valle e António Caetano

Lavache e os seus artífices , aos quais

l.

2. 3.

4. Fábrica de refino de salitre e enxofre

I,

a das Armaduras e a

Pormenor da fachada pombalina, risco de Larre.

da Silva) .

encarregou de fundirem os sinos para a

5. Fábrica de Pólvora de Barcarena;

À volta do pátio central encontravam­

igrej a do Convento de Mafra.

6. Oficinas de Elvas (carpintaria, ferra-

-se diversas oficinas . Outras ficavam

N a Fundição de Cima trabalhou o

no edifício superior a este, virado a

engenheiro Bartolomeu da Costa, que

de Alcântara;

ria, serralharia) ;

nort e , onde se colocara um sino para

deixou o nome ligado à estátua do

A Fundição de Baixo reorganizou-se

marcar as horas de entrada e saída do

rei D . José, para a Praça do Comércio.

como oficina de fundição, de coronha­

pessoal. Neste grande edifício , organi­

O transporte da estátua do seu local

7. Carvoarias de Rilvas.

ria e de espingardaria, mantendo acti­

zavam-se as dependências administra­

de fabrico p ara a referida praça,

vidades laborais até à deslocação do

tivas (as secretarias, o arquivo e a casa

obrigou à abertura de uma rua nova

museu de artilharia da Fundição de

da inspecção) .

para passar a zorra com o bronze. Em

Santa Clara, para o local actual.

A Fundição de Cima situava-se no

r 8 8 8 , a fundição de artilharia encon­

Todavia, a Fundição de Baixo não era

Campo de Santa Clara, defronte da

trava-se instalada no Campo de Santa

apenas um conjunto de oficinas, uma

Igreja de Santa Engrácia. Junto às ofi-

Clara, ocupando r80 operários. Duas

I

Chamara-se antes Sala do Príncipe.

33


Localização das Fundições do Arsenal do Exército (1857).

em

Plano de Lisboa com o diagrama da epidemia da Febre Amarella.

18 5 7.

Esc.

1 : )0 000.

máquinas a vapor moviam equipamen­

Exército para alargamento dos espaços

Como escola de mecânica, no A.t'senal

das peças de artilharia, enquanto de­

do Exército nasceram muitas invenções

corressem as obras de reconstituição da

e inovações, não só de fundição aplicá­

Fundição de Baixo . Aqui encontra­

veis nas suas oficinas, mas também na

vam-se as ferrarias, em 1839. Em 1 8 7 6 ,

indústria portuguesa, dos séculos XVIII

a fundição passou a ser a Fábrica

a XX.

de Armas e , em 1 9 2 7 , a sua oficina de

Junto à Fundição de Baixo , no cais

Equipamentos e A.t' reios, transformou­

privativo existiu durante anos um

-se numa fábrica especializada. Foi na

guindaste muito conhecido , demolido

Fundição de Santa Clara que se consti­

durante as obras de urbanização do

tuiu um colégio de aprendizes (r845-

espaço público . Em 1 8 3 9 , o labora­

-1872) .

tório de fogos-de-artifício , perten­

A Fábrica de A.t'mas, nos seus quatro

cente ao A.t'senal , encontrava-se ainda

departamentos, tinha 346 operários

em Santa Apolónia.

em 1890 e quatro engenhos a vapor

A primeira grande crise do Arsenal do

(dois fixos e dois locomóveis, num total

Exército ocorre em 1869, quando é

de 40 c/v) .

extinto , pela primeira vez, desdobran­

Para além da fundição de artilharia e do

do-se na sequência em diversos esta­

fabrico de armas brancas e de fogo , o

belecimentos fabris e criando -se o

A.t'senal Real do Exército realizou uma

Depósito Geral do Material de Guerra.

obra notável na história da indústria

Nos princípios do século XX decidiu-se

portuguesa. A partir do século XVI

construir uma nova fábrica militar que

ficou ligado à fundição de pesos e

respondesse às exigências do rearma­

medidas , contribuindo para a sua

mento do exército português (1904-

padronização e uniformizaçã o . Em

-19°8) , pois tanto a Fundição de Ca­

tos entretanto instalados, significando

1819 fundiu os pesos e as medidas da

nhões como a Fábrica de A.t'mas não

uma gradual mecanização das tarefas

reforma de D , João VI. Também são

acompanharam a modernização exigida

desde 1844 , data dos dois primeiros

conhecidos os estudos realizados no

pelo avanço das técnicas militares no

engenhos a vapor de origem inglesa de

A.t'senal a propósito do fabrico de má­

estrangeiro . Todavia , a nova Fábrica de

8 c/v, cada um .

quinas a vapor, desde o tempo do enge­

A.t'mas de Braço de Prata fez parte inte­

Finalmente refira-se a terceira manu-

nheiro director Bartolomeu da Costa

grante do A.t'senal do Exércit o , desde

factura - a Fundição de Santa Clara,

(t 1 8 0 1 ) . Depois de 1 8 5 0 , chegaram-se

a fundação até 1 9 2 7 , altura em que a

situada nos espaços do extinto conven­

a fabricar e a montar engenhos mo­

manufactura pombalina foi finalmente

to das clarissas, a nascente do Campo de

trizes. Também ali se estabeleceu uma

extinta (ver , Fábrica de Material de

Santa Clara .

do

oficina de instrumentos matemáticos

Guerra de Braço de Pra ta) .

convento , depois de T755, permitiu a

que contribuiu para o desenvolviInento

ocupação por parte do Arsenal do

da mecânica de precisão em Portugal.

O e ncerramento

34


B I BLIOGRAFIA,

GÓIS, Damião de, Lisboa

Descrição da Cidade de

(r554), ed. de Felicidade Alves, Lisboa,

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Lisboa,



\

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Planta Aerofotogramêlrica 3/7- Escala 1:2000. Maio de 1963- Actualizada em Ig87.

E S T A Ç Ã 0 D E C A I'h l n H 0 D E F E R R 0 D E S A n TA A P 0 u:) n I A Localização - Praça da Estação, Rua do Cais

A cobertura de ferro que a caracterizava

betão, facto que veio desvalorizar as suas

dos Soldados, Av. Infante D. Henrique.

in icialmente dispunha de uma

características de esti lo. Reconheça-se que

período de Actividade - 1865- 1998>

interessante portaria metálica encimada

as obras da estação revelam pouca ousadia

Fundadores - Real Companhia dos

pelas armas da casa real. Esta porta da gare

de projecto, sobretudo do ponto de vista

Caminhos de Ferro.

foi apeada, tal como a cobertura de vigas

arquitectónico, em comparação com outros

Actividade - Transportes ferroviários de

de ferro assentes sobre cachorros de pedra,

casos ferroviários europeus.

passageiros e mercadorias. Linhas do Norte

donde recebia iluminação natural através

As suas linhas são sóbrias, procurando

e do Leste.

de chapas de vidraça. Seguindo o padrão

esconder as ousadias dos engenheiros por

Valor Patrimonial - Grande edifício

mais funcional e comum de estações,

detrás de fachadas clássicas e materiais de

albergando cais ferroviário de três pisos,

Santa Apolónia dispunha de uma das obras

construção nobres, como a pedra dos

de planta em U , com três fachadas

de engenharia mais importantes e aquela

cunhais, das sacadas, dos entablamentos,

principais viradas a cada um dos lados

que lhe conferia um lugar na arquitectura

das ombreiras e l intéis, enfim das

de serventia públ ica. Todas as fachadas

do ferro em Portugal - a cobertura

pilastras divisórias dos diversos corpos

dispõem de um corpo central com frontão

da gare de passageiros.

dos edifícios.

classizante, onde se embebeu um óculo

A obra evidenciava algum valor

O vestíbulo, como noutras importantes

com seu mostrador de relógio.

artístico, mas antes de 1872, dezasseis asnas

estações portuguesas, não recebeu grande

As fachadas Norte e Sul têm 135 m de

de ferro da primeira estrutura caíram,

tratamento artístico.

comprimento e a Ocidental 50, 4 m.

tendo-se modificado o seu p l ano inicial.

Optou-se por sol uções construtivas práticas

A gare coberta tem 2 5 m de largo (1955 m'

Esta situação incomodará a Companhia Real

e funcionais, sem relevo decorativo.

de área, em 1872)

dos Cam inhos de Ferro Portugueses,

Estado de Conservação - Bom.

que no entanto, manteve essa estrutura,

Classificação - Sem classificação.

No que respeita à altura, o edifício subiu de 13 m, como foi concebido

apesar das preocupações de segurança.

nos meados do século XIX, para

Todavia, nos anos 50, toda a gare em ferro

aproximadamente mais 8 m.

foi removida e substituída por uma de

37


que atingira Vila Nova de Gaia, em 7 de Junho de 1864. O traçado pressupunha a passagem do vão do Douro , através da Ponte D . Maria Pia , para atingir o Porto , em 1 8 7 7 . A construção desse importante e m ­ preendimento , próprio d e uma cidade que se modernizava, implicava trans­ formar toda a linha de costa, entre o Arsenal do Exército e a praia de Xabre­ gas . Escolheu-se o antigo Cais dos Sol­ dados, onde existia um quartel de artilharia . A grandiosidade do proj ecto determinou a destruição do Cais dos Algarves, do palácio da família Prego , do mercado do toj o , de várias pequenas caldeiras para resguardo de embar­ Santa Apolónia. in Diário lluStl".ldo, Ano I, n:

D

62,

3' de Agosto,

cações, dos armazéns do azeite de peixe

1872.

ESDE 2 9 de Outubro de 1856 -

portugueses, Thomaz Rumball pro­

e da forca da cidade de Lisboa, que

data da inauguração do troço da

punha a localização junto à Fundição

j azem

linha de caminhos-de - ferro , entre

ou no Largo do Intendente ; Hardy

construções ferroviárias. A extensão das

por

debaixo

das mo dernas

Lisboa e o Carregado - até I de Maio

Hislop perto da Igreja dos Anj os, ou

obras obrigou ainda à demolição do

de 1 8 6 5 , houve uma pequena estação

em Xabregas ou ainda no Cais dos

Forte da Cruz de Pedra e do Palácio do

da Linha do Leste, situada junto ao

Soldados ; Harcourt White em Xabregas

Braço de Prata. No local dos armazéns

Convento de Santa Apolónia, a nascen­

e J oão Crisóstomo de Abreu e Sousa no

veio a surgir a rotunda das locomotivas,

te da actual gare ferroviária, defronte

Cais dos Soldados. Aquela decisão

uma obra de enorme significado , aliás

da Calçada dos Barbadinhos. O Con­

vinha de 1 8 5 3 , mas só se materializou

sacrificada durante as actuais mudanças

vento de Santa Apolónia (ver , Guia

mais tarde. Dois factos fundamentais,

da cidade (r997-1998).

Histórico) pertencia então à Empresa

fizeram crescer o tráfego de pessoas e

Conhece -se uma planta em papel-tela

Construtora dos Caminhos de Ferro

mercadorias, acelerando os projectos

da Estação de Santa Apolónia, com edi­

Portugueses , por aquisição datada de

e as obras. Primeiro concluiu-se a

fício dos passageiros e nível da platafor­

1 85 2 .

Linha do Leste, até Elvas (inaugurada a

ma, datada provavelmente de 1856, cuja

A localização d e 1865 resultou d e uma

24 de Setembro de 1863) . Vilhena Bar­

distribuição de espaços foi parcial­

decisãó governamental, que deu corpo a

bosa considerava o obj ectivo B adajoz

mente respeitada.

diversas hipóteses de traçado ferroviário

como o facto ferroviário mais significa­

A obra de edificação seguiu os parâme­

a partir de uma estação central. Entre os

tivo desta linha. Em segundo lugar, a

tros construtivos da arquitectura de

interlocutores dos caminhos-de-ferro

conclusão parcial da Linha do Norte ,

engenheiros . Em termos de planta era


um empreendimento de grande exten­

correu pela serração mecânica "Ace­

são , implicando o apetrechamento de

leração" , uma fábrica lisboeta. A obra

uma estação ferroviária similar a outras

pressupôs grandes aterros e construção

j á erguidas em capitais europ eias .

de uma grande muralha de cantaria,

Importava construir um edifício , cujo

que serviu de cais fluvial até ao rasga­

mo delo fosse reconhecido pela sua

mento da avenida marginal , que hoje

funcionalidade , uma espécie de obra

liga a Praça do Comércio à EXPO ' 9 8 .

pública de uma empresa privada, na

O início das obras ocorreu e m 20 de

qual se utilizassem materiais baratos,

Outubro de 1 8 6 2 , lavrando-se docu-

entre os quais o ferro . A empreitada foi

mento oficial e terminou dois anos e

adjudicada ao engenheiro Oppermann,

meio depois. Veio a custar 255 164$000

que dirigia uma importante revista , os

réis.

Annales de la Construction, através do

Como obra de engenharia a Estação de

seu representante em Lisboa, o enge­

Santa Apolónia caracteriza-se por duas

nheiro Agnes.

partes fundamentais . Uma, entre o

Todavia, antes da obra ter sido entregue

Arsenal e o fim dos edifícios principais,

ao construtor, o projecto foi gizado

é a estação propriamente dita. A outra,

pelo engenheiro João Evangelista Abreu

entre esse limite e Xabregas, constituiu

(engenheiro - chefe) . Este projecto era

a extensa área onde se lançaram todas as

muito harmonioso , mas as modifi­

estruturas técnicas e armazéns de apoio

cações que recebeu nas diversas instân­

a uma estação ferroviária central. A an­

cias governativas e técnicas alteraram

tiga estação tinha já um vasto cais de

substancialmente o conjunto e o risco .

mercadorias, enquadrando as funções

A direcção das obras esteve a cargo de

correspo ndentes a duas linhas que

Angel Arribas y Ugart (director) , de

detinham uma única estação principal.

Nicolas Le Crenier (engenheiro divi­

A estação procurava responder às fina­

sionário) e do referido Oppermann.

lidades determinadas na experiência

Intervieram ainda D . Eugenio Page ,

ferroviária de então : dispor de gares

o director da Companhia. A sua gran­

para viaj antes e mercadorias, oficinas

diosidade implicou subempreitadas.

de reparação , cocheiras para recolha

As

obras de alvenaria foram da respon­

sabilidade de firma Charles Pezerat &

Estação Principal dos Caminhos de Ferro do Norte. Vista do lado sul. Foto de A. S. Fonseca.

Estação Principal dos Caminhos de Ferro do Norte. Gare de ferro. Foto de A. S. Fonseca.

de locomotivas e vagões e várias vias

Concebeu-se um importante vestíbulo

de serviço.

junto à porta central da estação , onde a

C . a , de Lisboa, a cantaria esteve a cargo

Do ponto de vista construtivo é um

Companhia construtora foi obrigada

da António Moreira Rato , com esta­

edifício , três pisos sustentados por vigas

a criar um espaçoso largo . Equipou-se

belecimento na Boavista, a estrutura de

e colunas de ferro , em toda a extensão

a estação com serviço telegráfico e um

ferro da gare deveu-se a James Blair

das suas paredes de alvenaria, com mar­

despacho alfandegário . Os espaços ex­

de Glasgow e toda a obra de madeira

cação formal dos cunhais em cantaria.

teriores e interiores foram iluminados a

39


namento ferroviário , a estação conce­ beu -se para receber as diversas repar­ tições e departamentos da empresa e as habitações dos chefes das linhas e da estação, entre os quais se salientou o legendário Miguel Queirol (terceiro quartel do século XIX) . Desde o início teve um bufete, depois transformado em restaurante. Nos primeiros tempos a fachada virada ao Tejo serviu de cocheira das carrua­ gens reais, salões e reservados. Inicial­ mente tinha apenas quatro vias de serviço . Com a ampliação da estação passou a dispor de sete vias, para os di­ versos tipos de funções. Tornaram-se bastante conhecidas as Oficinas Gerais de Santa Apolónia. A 6 de Abril de 1908, uma portaria aprova um projecto de ampliação do edifício ferroviário , demonstrando -se finalmente a exiguidade do plano inicial Chegada da Princesa D. Maria Amélia de Qdiam à Gare do Caminho de Ferro do Norte e Leste - 19 de ?\hio de 1886, in 9: Ano, vaI. IX, n: 268, de 1 deJunho, Lisboa, 1886, pp. 122-123.

luz artificial, primeiro a gás (cento e

O Occidente,

ferroviária na cidade de Lisboa. Passou

perante o aumento de tráfego . As mu­ danças ocorridas corresponderam à in­ trodução de novos meios de locomoção

cinquenta e dois candeeiros do sistema

então a chamar-se Estação do Caminho

ferroviária, sobretudo. Antes da cele­

Weygand, de Paris) , depois a electrici­

de Ferro do Norte e do Leste.

bração do r.

dade.

o

centenário, houve pro­

D o ponto de vista funcional a orgânica

fundas alterações na Estação de Santa

Estação

interna da Estação de Santa Apolónia

Apolónia marcando uma nova fase da

Central - muito embora o vulgo a ape­

modificou-se ao longo das diferentes

sua existência. Se depois de 1890 houve

lidasse

etapas da história dos caminhos-de-ferro

um diminuição da importância da

Inicialmente por

denominada Estação

do

Cais

dos

Soldados -, essa proeminência na vida

em Portugal, sendo curioso observar as

estação, a partir de 1956 o seu significa­

ferroviária portuguesa só durou até

mutações ocorridas na estrutura orga­

do na vida da empresa afirma-se, com o

1 8 9 0 , p o r altura da construção da

nizativa da empresa responsável pela

alargamento da área da Grande Lisboa,

Estação C entral do Rossio , ligada desde

linha e modo de funcionamento da

sem as correspondentes mutações da

então à..linha de cintura interna, ser­

estação . No entanto, para além elos ser­

linha ele circulação interna, actualmente

vindo de espinha dorsal da distribuição

viços específicos respeitantes ao funcio -

com troços fechados ao trânsito.

40


, \

I

rl'� � Estação do Caminho de Ferro de Santa Apolónia no Cais dos Soldados, in O Caminho de Ferro Rc\'isitado.

I. �

11111

O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996,

Q íiii? 1 11 1

Lisboa, CP, 1996, p. 27·

A construção de mais um piso veio a

do ferroviário da Estação do Rossi o .

RAM O S , Paulo. IIOS caminhos de ferro e o cais

alterar a escala equilibrada da estação,

B I B LI O GRAFIA,

da Europa", in

contribuindo para a sua falta de graciosi­

BARBOSA, Inácio Vilhena, " Caminho de Ferro

°

dade, apesar da linguagem funcional que

de Norte e Leste", in A..rchivo

I996, Lisboa, CP, 1996,

sempre apresentou.

9,° Ano, vol.,

A Estação de Santa Apolónia - tal como

Irmão & c . a , 1866, pp. 1 - 3 e 2 5 - 2 7 ; "A Estação

lIA Estação de Santa Apolónia e a Toponímia de

outros cais ferroviários - foi e é um local

de Caminho de Ferro de Norte e Leste" ,

Lisboa", in

de acontecimentos, espaço de partidas e

in Diario ll1ustrado, Ano t n . o 6 2 . Lisboa,

Lisboa, CML, 1997, pp. 39-44.

chegadas, de mudanças de vida e quoti­

31 de Agosto de 1872 ; MESQUITA AIfredo,

IX,

Pittoresco,

n.os I e 4. Lisboa, Castro

diano , de momentos altos da vida do país,

Portugal Piltoresco e Illustrado,

de viagens e sucessos. Conhecer a Estação

p . 86; CÂNCIO, Francisco,

Lisboa, 1903,

Arquivo Alfacinha,

de Santa Apolónia é também acompa­

vo1. II, caderno V, Lisboa, 1954, pp. 2 - 3 ;

nhar a história dessas efemérides ou então

ABRAGÃO, Frederico d e Quadros,

das normalidades estatísticas, que mar­

Cem Anos de Caminho de Ferro na Literatura

cam a regra ou a excepção dos gráficos dos

Portuguesa,

movimentos económicos e sociais.

ABRAGÃO , Frederico de Quadros,

Nos últimos anos, S anta Apolónia

"16

readquiriu as funções de

ma estação

central, face à diminuição do significa-

-

Lisboa, CCFP, 1956;

A Estação de Santa Apolónia" in

Caminhos de Ferro Portugueses. Esboço de sua História,

Lisboa, CCFP, 1956, pp. 457-470;

O Caminho de Ferro Revisitado.

Caminho de Ferro em Portugal de I856 a pp.

26-28 [ver

também pp. 140 e 345] ; DIAS, João Barros,

Toponímia de Lisboa. IIJornadas,



FÁ B RI C A D A C 0 1'l1 PA n H I A L I S B 0 n E n S E D E TA B A C 0 S Localização - Rua da Cruz de Santa Apolónia, n.O 30.

período de Actividade - Com fabrico próprio desde 1865 a 1881. Integrada na Companhia Nacional de Tabacos e suas continuadoras, entre 1881 a 1961. A fábrica funcionou até 3 1 de Dezembro d e 1932. A partir desta data passam a ser apenas armazéns da fábrica de Xabregas.

Fundadores - José Maria Eugénio de Almeida e João Paulo Cordeiro.

Actividade Industrial - Fabrico de tabacos de fumo e cheiro (folha picada, tabaco em pó, rapé, cigarros, rolo, charutos, cigarilhas).

Valor Patrimonial - A fachada do edifício revela ainda as características de um palácio setecentista (ver Guia Histórico), no qual se instala a fábrica primitiva. Com a Fábrica de Tabacos o edifício solarengo adaptou-se às novas funções industriais, havendo notícia de algumas alterações, nomeadamente na fachada principal. Ali abriram-se várias janelas que mantiveram a riqueza da fach ada, sem modificar profundamente as características iniciais. O seu portal revela decoração da época de fundação. As oficinas fabris do interior do palácio desapareceram em simultâneo com a nova adaptação às funções parami l itares sofridas por este mesmo espaço. Conserva ainda no Planta Aerorotogramêtrica 3/7 e 4/7· Escala 1: 2000. Maio de 1963. Actualizada em 1987.

logradouro interior alguns edifícios das oficinas antigas.

Estado de conservação - Bom. Classificação - Não tem.

43


as coberturas. Os antigos tectos substi­ '.

.

tuíram-se por um telhado assente em vigas e asnas de madeira, ao mesmo tempo que se constrói uma espécie de

...... l.�•• ' - ,

.

r...

" "

mansarda. Todavia , os documentos per­

.'

mitem detectar dois momentos distintos de modificações, um caracterizado por

_.. :. .

adaptação do palácio, nobilitado pela presença do portal e janela brasonada e o Projecto d'altc,'ação de fachada no pr�dio da Companhia Lisbonense dc Tabacos, 1879, Arquivo de Obras. CML.

A

outro , pela ampliação dos corpos regu­

INSTAlAÇÃO da Companhia Lis­

estatutos aprovaram-se em 29 de No­

lares no prolongamento da fachada

bonense de Tabacos, na Rua da

vembro de r 8 6 5 .

anterior.

Cruz de Santa Apolónia, n . o 30, eviden­

As

instalações d a fábrica correspondiam

Estes documentos provam as alterações

cia mais um caso de refuncionalização de

a quase um quarteirão, situado entre a

o corridas numa tentativa de adaptação

um espaço não construído para os fins

referida Rua da Cruz de Santa Apo­

às novas funções industriais. No entan­

industriais. De facto, o prédio pertenceu

lónia (onde se desenvolvia a fachada

t o , a exiguidade das instalações e de

a um importante negociante do tempo de

principal) e a Calçada dos Barbadinhos,

espaço obrigou a ampliações na área do

D. João V, nobilitado, e que veio a per­

tendo acesso pela Afonso Domingues,

logradouro e da quinta do comer­

der parte da sua fortuna no terramoto de

correspondente às traseiras do antigo

ciante, crescimento por justaposição de

Lisboa de r de Novembro de r755. Sobre

palácio e quinta do grande comerciante

oficinas, entre as quais se deverá referir

o portão principal do palacete ainda se

do período joanino . As características

a casa das máquinas. Os novos edifícios

encontra o brasão de armas de Veloso

do imóvel permitiam adaptações for­

revelam uma arquitectura consonante

Rebelo . O prédio andou associado a

çadas às necessidades da indústria, mas

às funções tabaqueiras, com imóveis de

contendas judiciais até ser adquirido

os administradores sentiram que se

alvenarias de tijolo e ferro .

pelos negociantes de tabaco, que apro­

impunham alterações indispensáveis.

Entretanto , em r88r, ano do Inquérito

veitando a liberdade de comércio e

Em r 8 7 9 , o administrador da fábri­

Industrial, a Companhia Lisbonense de

fabrico, introduzida em r de Janeiro de

ca, Guilherme P. Sá Viana solicita à

Tabacos funde-se com a Companhia

r865, pelo conde Valbom, resolveram

Câmara de Lisbo a a alteração da facha­

Nacional de Tabacos, de Xabregas . Dessa

fundar, sem grandes custos de edifi­

da do prédio , introduzindo-lhe nova

fusão nasceu a Companhia Nacional de

cação, uma nova fábrica em Lisboa.

fenestração regular no piso inferior do

Tabacos de Lisboa, doravante adminis­

A fundação deveu-se à iniciativa de

edifício , em toda a extensão do mesmo .

tradora das duas empresas, a de Xabregas

José Maria Eugénio de Almeida (I8II­

O presidente do município Rosa Araújo

e a de Santa Apolónia. O seu destino

- r 8 72) e João Paulo Cordeiro, que

autorizou a obra, acabando por ser exe­

industrial passará a andar associado à

constituíram uma sociedade anónima

cutada em conformidade com as exigên­

história das companhias que adminis­

de responsabilidade limitada com o

cias da Câmara. Por sua vez, o mesmo

trarão a fábrica de Xabregas, até r965.

capital de roo contos, passando para

administrado r , em r 8 8 3 , submete à

Com uma existência curta em termos

450 , pouco tempo depois. Os seus

aprovação um projecto para remodelar

de realização industrial autónoma


(1865-1881) a Fábrica de Tabacos Lis­

lhadores . Mandou construir casas para

bonense dispunha de algumas caracte­

cinquenta operários na Calçada dos

rísticas próprias detectáveis nas respostas

Barbadinhos, arrendadas entre 8 0 0 e

ao Inquérito de 1 8 8 1 .

1 5 0 0 réis . Abriu uma escola para a

A criação desta unidade obedeceu a al­

instrução primária, num edifício que

guns princípios de renovação industrial

mandou reedificar e montou um

do sector , servindo uma fábrica em

"rancho" para operários, uma espécie

grande com 878 operários, quase mais

de cantina primitiva, onde se comia

cem do que a fábrica de Xabregas. Dis­

carne uma vez por semana. As multas

punha de motores a vapor de origem

aplicadas pelos patrões destinavam-se a

inglesa (uma máquina de 25 c/v e outra

beneficiar o rancho . O trabalho era

de 8 c/v) , com carregador mecânico de

executado em toda a fábrica e também

carvão para as caldeiras. A resposta ao

numa oficina apetrechada na cidade do

Inquérito revela vários engenhos e um

Porto .

grau bastante elevado de mecanização

A integração da Fábrica de Tabacos

(onze máquinas para fazer cigarro s ,

Lisbonense na Companhia Nacional de

oitenta e uma máquinas d e fazer cigar­

Tabacos de Lisboa e nas empresas que

rilhas, vinte e quatro para fazer charutos

lhe seguiram é detectável na documen­

e catorze moinhos para rapé) , para além

tação posterior e em anúncios de várias

de muitas outras para as diferentes

épocas (ver, Fábrica de Tabacos de Xa­

Projecto d e reconstrução e alteração n o madeiramento d e uma oficina da Fábrica Lisbonense de Tabacos. 1883. Arquivo de Obras. CML.

secções. Na Calçada dos Barbadinhos

bregas) . A concentração industrial que

dispunha de uma litografia bastante

se seguiu às aprovações governativas de

evoluída para a impressão das suas em­

1 9 2 7 - na origem da fundação da

Edifícios das antigas oficinas. Estado actual.

balagens. D o ponto de vista tecnológico

Companhia Portuguesa de Tabacos -

B I B LI O GRAFIA,

a empresa era dirigida por um enge­

contribuíram para o encerramento das

" Companhia Nacional de Tabacos, Fábrica

nheiro inglês (cigarros e cigarrilhas) ,

instalações da Lisbonense . Os edifícios

de Santa Apolónia. antiga Fábrica Lisbonense".

outro alemão (charutos) e um mestre

industriais e o espaço anexo passaram

in

português para o fabrico do rap é .

gradualmente para as mãos do Estado ,

Directo 2. a parte, Visita às Fábricas, Lisboa,

Segundo Raul Esteves dos Santos, a

ocorrendo a primeira cessão, em Mar­

Imprensa Nacional, r881, pp. 339-246;

Companhia de Tabacos Lisbonense

ço de 1 9 3 8 , data em que o Comando

SANTOS, Raul Esteves dos,

tornou-se, por alguns métodos que

Geral e o Batalhão n.O I da Guarda

Sua Influência na Vida da Nação.

pôs em prática, a mais progressiva

Fiscal aí começaram a funcionar. No

Lisboa, Seara Nova, 1974, pp. 83-99;

das nossas fábricas de tabacos (cf. Os

entanto, só em 1 9 6 1 ocorreu a sua inte­

CÂMARA, João de Sousa da,

Tabacos, I 974) .

gração total. Hoje encontra-se esta­

Tabaqueira,

Entre I 8 6 5 e 1 8 8 1 , a Companhia de

belecida no seu espaço uma unidade

Tabacos Lisbonense desenvolvera uma

da Guarda Nacional Republicana (a

estratégia social de apoio aos traba-

Brigada Fiscal) .

45

Inquérito Industrial de

r88r, Inquérito

O s Tabacos.

2 vaIs . .

História d a

Lisboa, Tabaqueira, 1995.



M u s e u , com s e u s espaços de e x p o s i ções permanente e temporária e servi ços de gestão . A Casa das B o m bas é um e d i f í c i o bastante a l t o , construído de r a i z para a i n st a l a ç ã o das g i gantescas b o m b a s a s p i rantes p r e m e n t e s ( p i so t é r r e o ) a c c i on adas por quatro m á q u i nas a vapor vert i c a i s de b a l an c e i r o , do t i p o W o o l f . datadas de 1 8 7 6 - 1889 ( p i s o s up e r i o r ) , s obre as q u a i s s e c o n stru i u uma p l ataforma de a p o i o t é c n i c o ao f u n c i onam ento dos b a l a n c e i ro s . Aqui f u n c i ona uma p o n te - g u i n c h o que d e s l i za sobre d o i s carris colocados a todo o comprimento das suas p a r e d e s m urárias. D o ponto d e vista a r q u i tectón i c o , a c a s a nobre deste t i p o de centr a i s e l evatórias é o e d i f í c i o de m e l h o r q u a l i dade, i ntegrável na t i p o l o g i a d a a r q u i t e ctura d o ferro , aspecto só v i s ív e l n o interior d o s e u espaço. Planta Aerofotogramêtrica 4/7. Escala 1:2000. Maio de 1 963. Actualizada em 19B7· -

A n ível das fachadas as s o l uções

,

E S T A Ç A 0 E L E VA T 0 R I A D 0 S B A R B A D l n H 0 S I E I I localização

-

R ua do A l v i e l a n . · 1 2 .

Actividade Industrial

-

Abaste c i m e n t o

e n contradas reve l a m um m a i o r comed i m ento c o n s t r u t i v o . N a fachada p r i n ci p a l , as d uas

A entrada faz-se p e l a C a l çada

de á g u a à c idade de L i s b o a .

dos Barbad i n h o s .

Va lor Patrimonial

Pro x i m i dade d o a n t i g o Convento

dos Barbad i n h o s I , u m dos c o n j u n t o s

l a rgo portão de ferro, construído p e l a s

e Igreja dos Barb a d i n h o s .

m a i s c ur i osos d o s e u t i po ,

o f i c i n a s m e t a l ú r g i cas da Compan h i a

caract e r i z a - s e p o r u m reservatór i o d e

d a s Á g u a s , l a d e a d o d e d u a s j a n e las

recepção d a s á g u a s , u m a C a s a d a s

s i m étricas d e d e s e n h o o v ó i d e .

período de Actividade

-

Barbad i n h o s I:

1 8 8 0 - 1 9 2 9 . Barba d i n h os II: 1 929- 1 998>

-

A Estação E l evatória

f u n ç õ e s d o e d i f í c i o e n contram - s e bem m a rcadas. N o piso térreo ras g o u - se um

Bombas a Vapor ( o utrora em

Em correspondên c i a com o p i s o

Á g u a s de L i sboa, empresa fundada em

art i c u lação com o referi d o

superior, os engen h e i ro s -construtores

1 868, a n t e passada da Empres P ú b l i ca

reservatór i o ) e u m a ant i ga C a s a d a s

i n seriram três j an e l ões g e m i n a d o s ,

das Á g u a s Livres ( E PA L ) .

C a l d e i ra s , o n d e h o j e s e encontra o

q u a s e a toda a l a r g u r a da parede,

Fundadores

-

2.' C o m p an h i a das

47


e v i d e n c i ados p o r m o d e l aç õ e s

marcados pelo rev i v a l i s m o românt i co ,

e l em e ntos f u n c i o n a i s de protecção

espec í f i c a s . A e n c i m á - I a s , d entro de

q ue t a m b é m c a r a c t e r i z o u a

( p a r a p e i t o s ) e escadas ( obras de

u m a cart e l a d e reboco m o d e l a d o

a rq u i t e c t ura do ferro, n o m e a d a m e n te

f u n d i ções de ferro a r t ís t i c a s ) .

e n c o n t r a - s e a in s c r i ç ã o Á G UAS D E

n a s obras o n d e se notam u t i l izações

A o r d e m arq u i tectón i c a que marc a

L I S BO A , s i na l i za n d o a f u n ç ã o d o espaço

e x t e n s iv a s d a v i d ra ç a . A grande

todo o e s p a ç o i n t e r i o r é a t o s c a n a , com

da b o m b agem m e c â n i c a .

novidade é o u s o do t i j o l o b urro

s u as c o l u n a s de capitéis e b ases átitas

N o ta rdoz, também se r a s g o u u m

a parente no i n teri or, em t o d o s os

em a ç o e s e us fustes com c a n e l uras,

grande j an e l ã o , a o j e i t o d o q u e

p i s o s , mas com m a i o r r e l evo no p i so

p i n ta d o s a preto.

carac t e r i z ava a f a c h a d a p r i n c i p a l d o

térreo e n o n ív e l superior do piso das

Ordem q u e n ã o se r e s u m e à c o l u n a ,

P a l á c i o C r i s t a l d o Porto de 1 8 6 5 e u m

m á q u i n a s a vapor. N o p i so térreo o

o n d e n a sustentação das v i gas

portão s e m e l h a n te a o da entrada.

t i j o l o s e r v i u p a ra s up o rtar os m a c iços

s e reproduz a l ó g i ca d o e n t a b l a m e n t o

De m o do a aproveitar esta fachada os

das b o m b a s e conj u g o u - se com

c l áss i co . A a n t i ga Casa das C a l de i ras

responsáveis p e l o M u s e u fizeram a q u i ,

grandes b l o c o s de c a n t a r i a ( o n de as

oc upava o espaço marcado exterior­

n o a n t i g o e s p a ç o de u m a grande

bombas foram a p a rafusa d a s ) e c o m u m

m en t e por três e d i f í c i o s d e arq u i t e c ­

c h a m i n é , um átr i o de l azer,

b o n i to l aj ea d o de p e d r a q u e a

t u r a s i m p l e s com s e u s t r ê s frontões

para os v i s i t a n t e s .

g a l e r i a cen tra l eviden c i a . N a s a l a

o c u l ados e s i m e t r i a de portas e j a n e l as ,

O s j an e l õ e s d a Estação E l evatória

das máquinas o tijolo encontra-se

e x c e p t u a n d o - s e a e n trada centra l .

p e r m i t e m a p enetração franca da luz

a rt i c u l a do com p aredes rebocadas

O i n te r i o r era a m p l o , antes da

n o i nt e r i o r d a Casa das M á q u i n a s ,

confer i n do u m a riqueza decorat i v a nas

d e s t r u i ç ã o das c i n c o boas c a l de i ras

d i gn i f i ca n do e s p a ç o e fac i l i t a n d o a

s ua s r e l a ç õ e s com os e n g e n h o s . No p i so

durante a década de c i nq u e n t a .

l e i tura de todo o c o n j u n t o estético,

da p l ataforma , o t i j o l o encontra - s e

As três coberturas, a s s e n t e s

o n d e ferro fundido, l a t ã o , v i dro , panos

a p l i c a d o em t o d a a extensão m ur á r i a e

sobre a s n a s de v i gas de ferro

m ur á r i o s de t i j o l o aparen t e , paredes

no recorte da l in h a de assentamento da

s u p ortav a m - s e por b e l a s c o l unas

reb o c a d a s e p i n t a d a s , m a d e i ra dos

p o n t e r o l an t e , onde f o r m a remate infe­

de ferro f u n d i d o .

p a v i m e n t o s e das c a m i s a s exteri ores

r i o r de s e m i c ír c u l o s e decoração de

As o b r a s de a daptação que v i eram

dos c i l i n dros ut i l i zadores s e c o n j u g a m ,

p o n t a s de d i a ma n t e s i mé t r i c o s .

depo i s d a dem o l i ção d i v i d i ram o

conferi n d o v a l o r e s t é t i c o a t o d o

Mas o e l em e n t o d o m i n an t e do i n te r i o r

e s p a ç o em d o i s p i s o s . O p i s o i n fe r i o r

o espaço. Marcado por uma

é o f e r r o , m a t e r i a l de c on strução

f o i r e p art i d o p e l os d iversos serv iços e

d o m i n a n t e e st i l ís t i ca da época

de p r i m e iro p l a n o durante a

m a i s tarde o r g a n i z a d o em função do

v i t o r i a n a - o n de se destacam as suas

Revo l ução I n d u s t r i a l .

projecto m us e o l ó g i c o . O piso s u p e r i or

i n f l u ên c i as a n g l o - sa x ó n i cas - as

Para a l é m d o ferro estrutural que

f i c o u a m p l o , reve l a n d o a s

características artís t i c a s da Estação

o r g a n i z a o e s p a ç o (vigas l am in a d a s em

característ i c a s da a r q u i te c t ura fabr i l ,

E l evató r i a dos Barbad i n h o s n ã o se

I e c o l u n a s de ferro f u n d i d o , c h a pas

serv i n do m odernamente c o m o s a l a

esgotam n a d o m i n an t e e s t é t i c a do seu

estri a d a s ) , há o ferro e o aço u t i l i zado

de e x p o s i ç õ e s temporárias da E PAL.

i n t e r i o r . Tan t o a s f a c h a d a s

nas b o m ba s e nas m á q u i n as ( c i l i n dros,

M u i t o e m b o r a t i vesse desapare c i d o a

e x t e r i o r e s , c o m o os e l em e n t o s

ê m b o l o s , hastes, b a l an c e i ro s , v o l antes,

a n t i g a e s c a d a de c a r a c o l em ferro

decorati vos i nteri ores encontram-se

c o n d e n s a d o r e s , etc . ) e a i n d a os

f u n d i do (de l i n g u a g e m s e m e l h ante às


escadas do p i s o da S a l a das M á q u i n a s )

de 1987. Em 1990, obteve o P r é m i o do

patr i m ón i o i n d u s t r i a l da empresa

e a i m p o n e n t e C a s a das C a l d e i ras, a

Con s e l h o da Europa, p a ra o m e l h o r

a merecer maior c o n s i deração do ponto

Estação E l evatória a Vapor dos

m us e u , aspecto de grande orgu l h o

de v i s ta m us e o l ó g i c o .

Barba d i n h o s reve l a ainda a

d a empresa . E m Port u g a l o M u s e u dos

F i n a l m e n t e ref i r a - se a recuperação

a u t e n t i c i dade e o a m b i en t e de uma

Barbad i n h o s f o i até hoje o ú n i co a

da antiga casa do f i s c a l da Estação

i n st a l ação de bombagem d a era do

receber este ga l ardão. A expos i ç ã o

E l ev a t ó r i a , o n d e a E PA L integrou o seu

vapor, da segunda m et a d e do s éc u l o

permanente i ntegra aspectos v á r i o s

arquivo h i st ó r i c o , composto por

X I X , c o m para l e l o s preservados e m

do patr i m ó n i o m ó v e l d a empresa,

d i versos f u n dos documentai s ,

I n g l aterra e n o s Estados U n i d o s .

i l ustrando os d i versos m o m e n t o s e

fundament a i s p a r a o estudo

A n ív e l d a m a q u i n a r i a o aspecto

s i s t e m as do a b astec i m en t o de á g u a

d a h is t ó r i a do abaste c imento de á g u a

essen c i a l d a Estação E l evatória dos

a L i s b o a , afirmando - se t a m b é m c o m o

em Port u g a l (Arquivos da R e a l Fábrica

Barbad i n h o s é a preservação in situ de

expos i ção d o c u m e n t a l de o utros

das Sedas e Obra das Á g u a s Livres,

quatro m á q u i n as a vapor vert i c a i s de

n úcl eos do mesmo M u s e u ,

da Adm i n i stração das Á g u a s Livres,

b a l an c e i r o , datadas d e 1876 (três) e

nomeadamente do A q u e d uto d a s Á g u a s

da Compa n h i a das Á g u a s L ivres,

outra de 1 889. Todas e l a s são do

L i vres e da M ã e de Á g u a das A m o r e i r a s .

d a Com issão de F i sc a l ização das Á g u a s

sistema W o o l f , m a s a p e rfe i çoadas por

N o exter i o r l o c a l i z a - s e o Reservat ó r i o

de L i s b o a e do Con s e l h o dos

u m a f i r m a de engen h e i ro s ­

dos Barb a d i n h o s ( 7 5 , 2 m de

M e l horamentos S a n i t á r i o s ) .

- construtores de o r i g e m i n g l es a ,

comprimento po 37 m d e l argura

Estado de Conservação

-

Bom.

I m ó v e l de I n teresse

com f i r m a em R u ã o , W i ndsor 8 F i l s .

e 4 m de a l t ura e u m a capac i d a d e

Classificação

A s q uatro m á q u i n as s ã o d e d u p l a

de 1 0 280 m3) a i n d a u t i l i zado n a

P ú b l i c o h o m o l ogado em 25 de Agosto

e x p a n s ã o de a l t a e b a i x a pressão, com

e l evação de á g u a s do s i st e m a Tej o .

de 1 9 8 4 , m a s q u e espera p u b l i ca ção no

l i ga ç ã o d i recta das hastes do ê m b o l o a

A cobertura o n d u lada de abóbada d e

Diá rio da República. A Câm ara

-

um l a d o do ba l a n c e i r o , enquanto o

t i j o l o s , q u e s e observa do exter i o r ,

M u n i c i p a l de L i sboa determ i n o u

o u t r o se e n contra art i c u l a d o com a

a s s e n t a s o b r e arcadas s i métri cas

uma Z o n a de Protecção para

h a s t e q u e transforma o m o v i m ento

s ustentadas s obre p i l a r e s .

todo o conj un t o das Estações

a lt e r n a d o em c i rcular.

D i v id e - s e em d o i s compart i m e n t o s ,

E l evatóri as I e II dos Barba d i n h o s

A i n s t a l ação das bombas e máquinas in

recebend o a á g u a da casa das v á l v u las

( Z . E . P. n . o 238 de J a n e i ro de 1 9 8 5 ) .

situ, a e x p o s i ção permanente dos

por meio de d u a s c a n a l i zações

Barbad i n h o s e a criação da ga l er i a de

adequadas. J unto ao depós i to

exposições temporárias (esta

de água estabe l e c e r a m - s e o f i c i n a s

ú l t i m a recuperada em 1992) const i t u em

de a p o i o à estação.

um d o s m a i s i m portantes p ó l o s do

Embora a E PA L não con s i dere a Estação

patr i m ó n i o da E PA L e do M u s e u M a n u e l

E l evatória dos Barbad i n hos II c o m o um

d a M a i a ( i de i a de 1919, m a s s ó

espaço c u l t u r a l n o â m b i t o do M u s e u

concreti zada nos f i n a i s d a década

d a Á g ua , e s t a central m o v i da

de o i te n t a ) . A in auguração do espaço

a e lectri c i d a d e , não d e i xa

m us e o l ó g i o ocorreu em

de ser um in teressante e d i f í c i o do

I

de O ut u bro

49


para a bombagem da água do Sena para o Palácio do Rei Sol. As primeiras máquinas a vapor utilizadas na bom­ bagem da água para abastecimento público surgiram na primeira metade do século XVlI I . Os Barbadinhos não foram a primeira Estação Elevatória de

Águ a

de Lisboa,

nem de Portugal. A "fábrica" da Praia (ver, neste Guia) , constitui a primeira experiência do abastecimento moderno na cidade de Lisboa, utilizando bombas a vapor (1868) . Em Santarém, a Fives­ - Lille montou uma pequena bom­ bagem de água a vapor para a cidade, entre a Ribeira e a Alcáçova, em 1878 . A concepção da Fábrica de

Água

dos

Barbadinhos - como então eram co­ nhecidas as estações elevató rias de Inauguração da chegada das Âguas do Alviela a Lisboa, in

D

O Occiden te.

1880, p . 169.

Água

abastecimento - derivou de duas ideias

ESDE a preservação e musealiza­

Livres e na Mãe de

das Amo ­

fundamentais. Por um lado, apetrechar

ção da antiga Estação Elevatória

reiras, e o moderno assente nos pres­

a cidade de Lisboa de grandes quanti­

supostos técnicos da elevação de água

dades de água, em todos os bairros, de

de Água dos Barbabinhos muito se tem escrito sobre este importante monu­

de um nível inferior para um nível

modo a instalar o abastecimento do-

mento do abastecimento de água à

superior . No primeiro cas o , a água

miciliário , cobrando -se o seu consu­

cidade de Lisb o a , cuja bibliografia não

era transportada a longas distâncias

mo por família, empresa ou serviço .

cessa de crescer. Pela sua importância

sempre de níveis superiores para ní­

Por outro, introduzir um vector bas­

técnica e museológica impõe-se um

veis inferiores, através, sobretud o , de

tante descurado , indispensável numa

estudo não apenas descritivo , mas so­

meios baseados na gravidade . No

cidade moderna e em crescimento : o sa-

bretudo comp arativo e integrativo ,

segundo caso , apesar do seu transporte

neamento básico. Abastecimento do ­

tendo como base o conjunto das

pressupor também a gravidade , uti­

miciliário , higiene pública , esgotos,

soluções modernas do abastecimento

lizaram - s e meios técnicos motores

combate aos incêndios reestruturaram­

de água às grandes cidades .

para a elevar para pontos mais altos ,

-se a partir das novidades introduzidas

Convém desde já estabelecer a enorme

n ã o sempre necessariamente por meio

nos Barbadinh o s , que colo cavam a

diferença entre o abastecimento de

de b o mbas a vapo r . Recorde-se que

cidade de Lisboa a par de Paris, Bor­

água tradicional , de monumental ma­

em Versalhes utilizaram-se, no tempo

déus, Lião , Narbonne e Nantes.

terialização no Aqueduto das Águas

de Luís XIV, máquinas hidráulicas

A necessidade de grandes caudais de

50


água obrigou à sua captação a alguma

Windsor & Fils, d e I04 c/v e r o o c/v.

distância e à utilização de meios técni­

A inauguração foi presidida pelo rei

cos potentes para a bombear. Assim,

D. Luís I e teve a bênção do arcebispo

a Companhia das Águas de Lisboa

de Mitilene . O contrato entre a Com­

obteve autorização para a explorar nas

panhia das Águas e a firma francesa

nascentes do Alviela , no distrito de

realizara-se em r 8 7 6 . Uns anos depois

Santarém . Fê -las transportar p o r

da inauguração , em r 8 8 9 , a Windsor

m e i o de condutas superficiais e sub­

&

terrâneas, aquedutos e sifões desde

quina do mesmo tipo , completando ­

as origens até a um reservatório si­

- s e o aparato motriz que garantiu a

Fils ainda fornece mais uma má­

tuado nos B arbadinhos (reservatório

completa remodelação do abasteci­

receptor) e depois bomb eá-la daí para

mento de água à cidade . As máquinas

outros reservatórios superiores loca­

podiam elevar 300 m3 de água à altura

lizados em diferentes partes da cidade,

de 70 metros e uma delas 500 m3 a

servindo diferentes co nsumidores ,

43 metros, servindo os reservatórios

em qualquer lugar onde estivessem,

do Monte e da Verónica resp ecti­

desde que estabelecessem contrato

vamente .

com a Companhia.

Por altura d a inauguração , o s B arba­

Numa distância de II4 050 metros

dinhos foram visitados por milhares

instalou-se uma primeira captação a

de curiosos interessados em conhecer

longa distância ,

c o m importantes

tão importante melhorament o . Um

des do abastecimento de Lisboa à

obras hidráulicas (aquedutos, sifões e

dos mais credenciados fotógrafos da

comunidade científica e técnica mun-

Directores e engenheiros da Companhia das Águas, in O Occidente, 1880, p. 92.

dade de dar a conhecer as novida­

pontes) em todo o percurso e das quais

cidade , Rochinni registou em chapa

dial .

sobressai a ponte- sifão de Sacavém

todas as oficinas e fo ram publica­

To davia, em r908 , o crescimento po­

(inicialmente metálica) . Na seu termi­

dos os retratos dos administradores

pulacional da cidade exigia já alte­

no a captação do Alviela atravessa toda

da CAL, responsáveis p elo empreen­

rações significativas no sistema de

a Lisboa Oriental, até ao Reservatório

dimento .

condução das águas . Manteve - s e ain­

dos Barbadinhos, devendo -se as obras

D epois da elevação de água dos Barba­

da, como era natural, o abastecimen-

aos engenheiros Jo aquim Pires da

dinhos assistiu-se ainda à criação do

to do Alviela mas, a partir de r9 3 2 -

Sousa Gomes e José J oaquim de Paiva

sistema de elevação de água do Arco

- 3 3 , montou-se uma nova captação

Cabral C ouceiro .

(bombas a vapor da Worthington , com

de águas a partir do rio Tej o (canal

As águas chegaram aos Barbadinhos

caldeiras da De Nayer) facto que

Tejo) .

em r 9 de S etembro de r 8 8 0 e a

permitiu completar todo o equipa­

Estas águas eram conduzidas ao Reser­

Estação foi inaugurada em 3 de Ou­

mento moderno de abastecimento

vatório dos Barbadinhos, tal como as do

tubro , com três máquinas a vapor

da cidade . Em r 9 0 0 , aquando da Ex­

Alviela. Aí as máquinas da Windsor & Fils

vertic.ais do sistema Woolf, fabrica ­

po sição Universal de Paris, Frederico

continuaraln a cUluprir as suas funções.

das em Ruão pela e mp resa E . W .

Borges de Souza teve a oportuni-

Mas, a bombagem a vapor foi posta em

51


servatório, enquanto a antiga Casa das

ficativo d o abastecimento d e água a

Máquinas ficava a poente.

grandes aglomerados urbanos por

A montagem da nova central data de

meio de máquinas a vapor. S e desde

1 9 2 8 . Construiu -se uma casa com

o primeiro quartel do século XIX,

vários grupos de bombas eléctricas,

o tipo de máquina a vapor se padroni­

servida por uma porta central, n a qual

zou a partir do modelo de Woolf,

se mandou colocar um painel de

vertical de alta e baixa pressão e balan­

azulejos referente à temática da água.

c e ir o , foi apenas n a sua segunda

O painel foi executado na Fábrica de

metade , que as estações se uniformi­

Sacavém. A inauguração ocorreu em

zaram , adquirindo inclusive carac­

6 d e S etembro de 1 9 2 8 ,

"Fábrica da Água". Foto Rochinni. Álbum da Companhia das Águas.

com a

terísticas técnicas e estéticas comuns .

presença do presidente da República e

Talvez se possam considerar as estações

Água

dos ministros da Guerra e da Justiça.

elevatórias de

A nova estação procurava dar resposta

Paris (r858) , o u a de Chaillot (r853-

de Austerlitz , em

ao agravamento das co ndiçõ es de

-54) os pontos de partida deste tipo

aprovisionamento de água à cidade.

padronizado de centrais elevatórias

Com o funcionamento da nova esta­

a vap o r (ver quadro das Estações

ção , as velhas máquinas verticais e

Elevatórias a vapor) .

bombas de vapor entraram em re­

Nos anos seguintes instalaram-se im­

cessã o , só funcionando como alterna­

portantes sistemas de reservatórios­

tiva às falhas da nova central. Esta

- centrais a vapor, como o de Rhyope

situação manteve -se ainda cerca de

Pumping Station, Sunderland (1868-

três décadas , até que as cinco caldeiras

- 6 9 ) , com duas bombas da R. W. Haw­

foram desmontadas . Entre 1 9 5 0 e

thorn de Newcastle) , para a Sunderland

1 9 8 0 houve indecisões quanto ao

and South Shields Water c . a (hoj e um

destino a dar às quatro máquinas

museu do mesmo tipo do da EPAL)

da Windsor . Algumas administrações

ou como o de Crescent Hill da Louis­

quiseram preservá-las e outras viam

ville Water Pumping, em Louisville ,

nelas um empecilho . Nos princípios

Kentucky (EUA) . Esta última encon­

da década de o itenta quase foram

tra-se datada de 1 8 7 6 - 7 9 , correspon­

demolidas. Prevaleceu o bom senso e a

dendo no interior à obra que foi

EPAL soube retirar daí uma nova

executada pela C o mpanhia de

causa com a introdução das bombas eléc­

filosofia para a conservação e a gestão

de Lisboa, em 1 8 8 0 . Na sequência

tricas, correspondente à Central dos

do seu património histórico .

desta série de monumentos ao abaste­

Barbadinhos II, localizada no mesmo

D o po nto de vista tecnológico , a

cimento de água, referira-se ainda o

espaço da Companhia das

de

Estação dos B arbadinhos I corres­

de .Papplewik, em Nottinghamshire,

Lisboa, mas posicionada a sul do re-

ponde a um período bastante signi-

onde se instalaram duas bombas da

Casa das Caldeiras. Área superior. Foto Rochinni. Álbum da Companhia das Águas.

Águas

52

Águas


ESTAÇ ÕES ELEVATÓRIAS DE ÁGUA A VAPOR

ESTAÇÕES

LOCALIZAÇAO

DATAÇAO

TECNOLOGIA

C ONSTRUTOR

Samaritanal

Pont-Neuf. Paris

1608 - 1813 1670/71 - 1856/58 1 6 8 � . Restaurada em 1860 1781/82 - 1851/53

máquinas hidráulicas

Jean Limlaer

Panl Notre Dame. Paris

Notre-Dame\!

Marly-Ia- Machine3

Versalhes

Chaillot If

Sena. Paris

Gros-Caillout 5 Bêziers6

Bievre Orb

Bêziers 7 Chaillo. I I '

1783-1858 1826/27 - 1 8 3 7 1844 - 193° 1853/54 19°2

La Plantade

Cais de Billy. Sena. Paris

Port -à-l 'Anglais [O

Sena

Auteuill2

Sena Sena

Maisons-Alfort II

1858

Sena

Saint - Que n 15

Sena

Saint Maurl6

London Bridge'7 Kew Bridgel8

com 14 rodas e 2 I I bombas aspirantes

e Rannequim Swalen

2 bombas a vapor sistema Watt 2 máquinas a vapor

Jean Corclier

2 bombas a vapor (Augustine e Constantine) de sistema Newcomen (aperfeiçoado por Watt)

Irmãos Périer

Comp. dos Irmãos Périer

Jean Cordier

máquinas hidráulicas turbinas Fourneyron 2 bombas a vapor ,Alma e lena) sistema

engenheiros do serviço muni

eipal. Máquinas encomendadas à

Ménilmontant

1865

Tamisa. Londres

1582 18?? - 1944

Brentford

Schneider & C. a de Creusot

2 bombas a vapor de Farcot (alta pressão de 130 c/v) 2 bombas a vapor 3 bombas a vapor 3 bombas a vapor 2 bombas a vapor I bomba a vapor 3 bombas a vapor 4 máquinas hidráulicas dos sistema de Giraud com 480 c/v; 3 turbinas Fourneyron de c/v; 2 máquinas a vapor de 300 c/v cada

Sena

Neuilly" Clichy"

máquina-hidráulica

das de Cornouailles

Cais e Ponte de Austerlitz. Sena

Austerlitz9

Daniel Jo�ly_e J a��es Deamnace Baron de Ville

máquinas hidráulicas

Farcot

Projecto Haussman

Peter Morice

máquina hidráulica

I bomba a vapor de balanceiro e 4- bombas com motor (Harveys)

Cresswell l9

2 máquinas verticais triplas de Hathorn Davey;

1932

motor de cilindro horizontal da Green & Son

Huntington '20 Lichfield21 Milford'2'2

Brindley Park23

Ru�eley

19°5-1968

Hereford

18951r906-

Papplewich 2 6 Basford '27

Bunter Nottinghamshire

Rhyope29

Sunderland

1883-85 1857 1883/85 1868/69

Tees Cottage water

Coniscliffe Road,

Swynnerton 24 Broomy Hi1l25

Bestwood '28

>

Darlington

Maryland (EUA)

I. 1849 - 1965 II. 1907; I I I . 1926/28 1837

Crescent Hill e

Louisville, Kentucky (EUA)

1876/79

East Boston Sewage

Mystic River

1895

Barbadinhos

Rua do Alviela, 12

1880/89-1929

_pumping I, II, III

Chesapeake e Delaware

Canal Pumping-

Louisville pumpingPumping Station30

Port03'2

de Stockton-on-Tees

'Vater 'Vorks Trust

2 bombas da R . W. Hawthorn (Newcastle) . 100 c/v

Thomas Hawksley Sunderland

2 bombas da James Watt Co

L 'archéologie Industrie/le en [rance,

Paris . 1980, pp. +01. .3 TIGUTER, ob. cit. , pp. � I dem , pp. 3°1-306. 5 Ide m , ibidem .

360-368.

6 DAU11AS, Maurice, pp. 402-404·

7

ob.

Companhia das Aguas de Lisboa

4 bombas a vapor

da E. \Vindsor & Fils de Ruào

(1868) Museu da EPAL

1868/69-??

2 bombas a vapor da E . \Vindsor & Fils tRuão)

Companhia das Aguas de Lisboa

1878 1887

I máquina 3 turbinas de 110 c/v (Mahler) e

Compagnie Française des Eaux

4

FIGUIER. Louis, Les Meneilles de .. ), vol. 1I1, Paris, s.d., pp. 291-299· 2 Idem, ibidem. DAU11AS, Maurice,

Arthur F. Gray

3 máquinas a vapor horizontais de

tríplice expansão do sistema Corliss (Allis Co)

Ribeira de Santarém Rio Sousa

I

and South Shields Water Co

sistemas a vapor, a gás e a electicidade

máquinas a vapor verticais

Bonton (EUA)

J'Industrie (.

Museu de Hereforshine

2 máquinas da 'Vorth Mackenzie,

sistema 'Voolf

Praia Santarém3]

máquina de Hathorn Davey

cit,

1980,

(r868) Fives-Lille

paUl' l'Etranger

máquinas a vapor horizontais de 84 c/v

16 FIGUIER, ob. dt., pp. 339-345. BUC HANAN. R . A., Industrial

']

'16

Idem. ibidem.

COSSONS, Neil.

The

BP Book o t Industrial Archaeology,

Middlesex, 1977, Londres, 1978. p. 204. IIp8 Idem, ibidem. 8 FIGUIER. Louis, ob. cit., pp. 313, 315p· 331. 18 BUrr. John e DONNACHIE, 119 Idem, ibidem. HUDS ON . Kenneth. 316; Maurice, oh. cit, 1980, archaeology, Iam, Industrial Archaeology lYorld industrial pp. 407-408. in the British files, ondres, Cambridge. 1979, pp. 191-197. 9 Tdem. ibidem, pp. 316-318. 10 pp. 213-216. )0 The East Boston Sell'age Pumping FIGUIER, ob. cit . , pp. 318, Il. 1 3 . 1 , . 1 5 , Idem, ibidem. 19, 'l.O.21. 2U).2'.�5. Idem, ibidem Station & the Steam Pumping Engines. A .

Idem, ibidem.

Al'chuology in Britain,

53

Cuide for Visitors,

3'

1984.

BRANDÃO. Zeferino.

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Lisboa, 1883, 440-443· 3� CORDEIRO, José M. Lopes,"Um abastecimento centenário, o abastecimento domiciliário de água à ciaade do Porto (1887-1987)", in Arqueologia Industrial 1883, \'01. I n."'1-2, Porto, 1993, pp. JI-34 · e Lt:ndas de Santarém,

pp.


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3 .0 Ano, vol. III, n .o 71, 1 de Dezembro ,

Documentos para a história d o abastecimento

1880, Lisboa Lallement Fréres, pp. 1 9 1 - 1 9 4 ;

de água ,

tação elavatória da Praia se pode in­ tegrar n este conj unto tecnológic o , pelo tipo d e máquinas instaladas , afas­ ta-se , no entanto , pelas características estéticas do e difício . A mo ntagem da bombagem eléctri ­ ca insere-se num novo período da era e n e rgética . Na realidade, foi durante a década de vinte que ocor­ reram as mais significativas trans­ formações de estações elevatórias a vap o r , entre as quais se menciona a de Tees C ottage em C o niscliffe Road, D arlington, com bombagem eléctrica contemporânea de B arbadinhos II (I928) .

Estação

Águ a dos Bal'badinhos. Album

PllOtogl'aphico

da Estação dos Barbadinhos. Se a es­

Água à Região de Lisboa

do Abastecimento de

Companhia de Águas" , in

Companhia d a s Águas de Lisboa.

James Watt C . a , quatro anos depois

Histól'ia

] . B . , "Os Directores e engenheiros da

Elevatória de

R�5�rvatório dos Barbadinhos I.

Lisboa, MOP,

(Fotos Rocchini) , Lisboa, 1880 ;

Lisboa, AAIRL, 1 9 8 1 ;

Elevatória de

Estação

Água dos Bal'badinhos (I880),

Visita Guiada, Coord. António Nabais, Jorge Custódio e Teixeira Rainha, Comissão

"Eaux de Lisbonne " , in IVe . Centenaire de la

Organizadora da Exposição de Arqueologia

D écouverte de la Route Maritime des Indes.

Industrial, Lisboa, Fórum das PME's, 1984 ;

ExcuI"sion industl'ielle de Lisboa à Thomal',

},{useu da

Ág ua de Manuel da Maia,

Lisboa,

Museu da Água de Manuel da

Lisboa, 1899 , pp. 2 1 - 3 2 ; SOUZA,

EPAL, 1987;

Frederico Borges de,

Maia, Lisboa. Estação Elevatól'ia a Vap ol' dos

COlnpagnie des Eaux

Lisboa, EPAL, 1990;

de Lisbonne, Notice SUl' l 'AJ imentation de la

Bal'badinhos,

Ville de Lisbonne en Eaux Potables

Do Alviela e d o s Bal'badinhos a o Museu da

I900,

Lisboa, Typographia da Companhia Nacional

Ág ua,

Editora, 1 9 0 0 ; MESQUITA, Alfredo,

Curso de Formação de Técnicos de Turismo

POl'tugal Pittol'esco e Illustl'ado,

Lisboa,

Campo Al'queológico de Mértola,

Cultural, Património Arqueológico I I ,

1903, p . 404; SEGURAD O , J. E. dos Santos,

Visitas Guiadas, Coord. d e Jorge Custódio,

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Lisboa, APAI, 1 9 9 3 ; CUSTÓDIO, Jorge,

Coimbra, nos princípios do século :XX] , in

"As Infra-estruturas. Os Canais de Lisboa " ,

Encanamentos e Salubridade das Habitações,

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Lisboa, Biblioteca de Instrução Profissional,

Livros Horizonte, 1994, pp. 9 9 - 1 04 , 1 3 3 , 135-

Lisboa e m MOl'imento.

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[1904] , pp. 2 9 - 4 6 ; SANTOS , J . Corrêa dos,

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Exposição, Lisboa, EPALIHumorgrafe , 1997.

Pl'oblemas e Manipulações Químicas,

vol. III,

Lisboa, 19I1, pp. 2 9 0 - 2 9 7 ; ALVES , João Carlos, Cidade de Lisboa,

Abastecimento d e

Ág ua à

Separata do Boletim n. o 16

da Comissão de Fiscalização das Obras de Abastecimento de Água à Cidade de Lisboa, 1940; ALVES, João Carlos, "Águas de Lisboa " , in

Quinze Anos de Obl'as Públicas.

54

I932 -194-7,

A

Catálogo de


Volante da mรกquina da Windsor & Fils (1875-1880).

Balanceiro da mรกquina a "apor.

Casa das Bombas. Bomba aspirante premente.

Barbadinhos II. Casa das Mรกquinas.

55



A S I l 0 D . Ill A R I A P I A E E S C 0 lA I n D U ST R I A L A F 0 n S 0 D 0 1ll l n C U E S Localização

-

Perímetro do Convento

da Madre de Deus.

período de Actividade

-

Casa Pia:

1867- 1 998> A última data refere-se à Escola edificada noutro espaço. Actualmente Escola Secundária. Escol a Industria l : 1884-1975.

Fundadores

-

Min istério d e Obras

Públicas.

Actividade

-

Ensino de desenho

industrial e ensino industr i a l . Oficinas técn ico-industriais.

Valor Patrimonial

-

Importante portão de

ferro dá acesso ao interior do ve l h o Asi lo. N um dos c l a ustros e cerca do Convento encontram -se as oficinas da esco l a assis­ tenc i a l . Estes edifícios reproduzem os modelos da arquitectura industria l Planta Aerofotogramétrica 4/7. Escala I:2000. Maio de 1963. Actualizada em I987.

da época, em pequena escala.

Estado de Conservação Classificação

-

-

Reg u lar.

Instalações inseridas na

área de protecção da Igreja e Convento da Madre de Deus. A I greja da Madre de Deus é Monumento N acion a l , Decreto de 1 6 de J unho de 1910.

57


Oficina da Escola Industrial Manso Domingues. in Álbum de Vieira da Silva. r.,ruseu da Cidade.

O

ASILO D . MARIA PIA foi obra

ocorrido em I9 de Julho, exigiu obras

Domingues, em memória ao importante

de reedificação . A morte da última

arquitecto quatrocentista do Convento

freira, em I869, permitiu anexar-se o

da Batalha, personalidade altamente esti­

convento ao asilo .

mada entre a intelligentia romântica

Como casa de correcção , o asilo dirigiu­

portuguesa, durante o século XIX .

-se à formação técnica de jovens aban­

Depois da sua criação por iniciativa

donados e com cadastro, tendo como

do ministro de Obras Públicas, Antó­

objectivo a promoção e a regeneração

nio Augusto de Aguiar, começou por

pelo trabalho . As dificuldades finan­

ter apenas um professor - o artista João

ceiras determinaram a criação de salas

Vaz (1859-193I) - e localizou-se, até

de aula e oficinas adaptadas aos edifícios

I897, num edifício da Calçada do Grilo.

preexistentes, de modo a permitir res­

A partir de I892 , começaram as obras

posta efectiva às exigências da accção

para a adaptação de alguns edifícios ane­

assistencial e educativa.

xos ao Asilo D . Maria Pia, nas traseiras

Em 3 de Outubro de I927, o asilo passa a

do Convento da Madre de Deus. A inau­

de assistência para inválidos e

designar-se Escola Profissional de D . Ma­

guração das novas instalações, agora em

casa de correcção para menores, cuja

ria Pia, mais consentâneo com a evolução

edifício do Estado , ocorreu em 24 de

fundação data de I4 de Março de I 8 6 7 ,

dos conceitos sociais. Criaram-se dois

Dezembro de I897, passando a dispor

sendo u m a das instituições d o género,

cursos, um de natureza industrial e outro

de boas salas de aula e ficando perfeita­

mais importantes da cidade de Lisboa .

relacionado com a produção , actividade

mente acomodada, embora sem as carac­

A sua entrada destaca-se pelo portão de

prática modelar donde se extraiu o carác­

terísticas da Escola Industrial Marquês de

ferro localizado no fim da Calçada da

ter correctivo anterior. Tinha capacidade

Pombal, em Alcântara.

Cruz de Pedra, um dos principais aces­

para seiscentos alunos.

Foi pensando nesta mudança que o

sos de Lisboa antiga. O Asilo D . Maria

Tornaram-se célebres as suas oficinas de

primeiro responsável pedagógico da

Pia instalou-se inicialmente no Palácio

carpintaria e marcenaria, que serviram

escola, propôs, em I889, a admissão

do Marquês de Nisa, em Xabregas e

igualmente os alunos da Escola Afonso

de Tomaz Bordallo Pinheiro (I860-

depois os espaços cobertos e cerca do

Domingues, a de entalhador, para além

- I92I), então desenhador da fundição

Convento de Madre de Deus, quando

das oficinas de sapataria e alfaiataria.

de canhões, no Arsenal do Exército .

este passou às mãos do Estado (ver,

Diversas reestruturações administrati­

Ambos irão reestruturar o programa das

Guia Histórico e Guia do Azulejo) .

vas abrangeram o Asilo D. Maria Pia.

aulas e das oficinas.

O último marquês de Nisa, D. Domin­

A de I93I, ligou-o à I. a repartição da

Em I900, a Escola Afonso Domingues

gos da Gama, caído em desgraça apesar

Direcção - Geral de Assistência, onde se

encontrava-se perfeitamente estabeleci­

da sua grande fortuna e casa de origem

englobavam os asilos de sexo masculino .

da, com relevo para o curso de desenho,

(Unhões, Vidigueira e Nisa) , vendera o

tanto elementar, como de arquitectura e

seu palácio, em I862, a um particular

A escola foi fundada em 2 4 d e No­

de máquinas, com oficinas de pintura,

que cinco anos depois o cede ao Estado ,

vembro de 1B84, com a designação de

de fundição, carpintaria e serralharia ,

para ali se instalar o asilo . Um incêndio

���Qla de Desenho Industrial Afonso

transformando-se gradualmente num


importante centro de estudos dos filhos

director Avelino Marques Poole da

dos mestres e operários da região de

Costa. O pessoal docente crescera e aos

Xabregas.

cursos do passado somava-se o de Elec­

Entre os seus primeiros directores desta­

tricidade e de Condução de Máquinas.

ca-se o pintor João Vaz. Salientou-se

Mantinha um quadro de pessoal de

como professor de nomeada Tomaz Bor­

origem portuguesa, como fora concebido

dallo Pinheiro , responsável pela edição

nos princípios do século.

da Biblioteca de Instrução Profissional e

O ensino industrial foi extinto em

dos Livros do Povo, personalidade que se

Portugal depois do 25 de Abril, passan­

tornou um verdadeiro impulsionador da

do a escola industrial a secundária, com

qualificação técnica dos operários portu­

a designação de Escola Afonso D omin­

gueses. Professor efectivo desde 1915-16,

gues. As suas relações com o Convento

a sua acção permitiu estabelecer as prin­

da Madre de Deus haviam-se esbatido

cipais oficinas desta escola - carpintaria

com as novas instalações escolares do

e serralharia, celebrizando-se como pro­

Estado Novo , em Marvila. Mas o velho

Oficina actual de serralharia.

fessor de desenho de máquinas, com obra

Asilo D. Maria Pia, ligado à Casa Pia lá

publicada. Tomaz B ordallo Pinheiro '

permaneceu em Xabregas, mantendo-se

destacou-se também pelo desenvolvi­

as oficinas mais importantes.

mento das artes gráficas e da gravura

Parte das instalações da escola foram

química. A escola foi para ele o filtro

aproveitadas para uma secção de artes

Pormenor de calçada fronteira à oficina de senalharia.

onde lançou os factos da vida do indus­

decorativas do Museu Nacional de Arte

et de Dessin Industriel de la Circonscription du

trial, e donde saiu depurado de todos os

Antiga (1965) , que, por sua vez, corpo­

Sud.

resíduos de interesses económicos e pre­

rizava uma protecção ao acervo de cerâ­

Ex/remadura Portuguesa, L a

juízos de classe, o seu lúcido julgamento

mica e azulejo, localizado no Convento

Lisboa,

sobre a psicologia do operário (Home­

de Madre de D eus , dependente da

Vitorino,

Lisboa,

190 0 ;

1908,

pp.

PIMENTEL, Alberto, Parte - ° Ribatejo.

82-83; RIBEIRO,

Armando

Relatório de Visíta à Escola Afonso

nagem . . . : 1921).

D GEMN. O Museu Nacional do Azulejo

Domingos, Igreja Madre de Deus e Asilo Maria

Com o tempo fizeram-se acrescentos e

foi criado apenas em 1980 (ver, Guia

Pia,

pavilhões, sendo frequentado por cerca

Histórico e Guia do Azulejo) .

de oitocentos alunos, nos inícios da dé­

Lisboa, lN,

1913.

Escola Industrial de

"Affonso Domingues".

Sessão do Conselho

Escolar em Homenagem do Falecido Professor

cada de trinta , altura em que foi seu

Thomaz Bordallo Pinheiro, 15

de Outubro

director Furtado Henriques.

BIBLIOGRAFIA ,

Em 1960, a Escola Industrial Afonso

LEITÃO , Carlos Adolpho Marques Exposition

de Lisboa,

Domingues encontrava-se instalada na

Unú'ersel1e de

Quinta das Veigas, a Marvila . Era seu

Industriel et Commercia1. Les Eco1es Industriel1es

Jorge, ·'Introdução". in FranciscD Barbosa, Manual . do ApJ'endiz de Relojoeiro, Lisboa, APAr, s. d .

de

1900. Enseignement Specia1

a 1 Bordallo Pinheiro, saliental"a-se também como desenhador d a Casa Baerlein & C. , entre 1880 e 1890, sendo director d a Escola Superior Técnico.

59

192 1 ;

ARAÚJO, Norberto de, Lisboa,

[1938-39] ;

Peregrinações

CUSTÓDIO,

Normal d e Ensino d e Desenho e professor do lnstituto



Localização - Antiga Estrada de Cheias n . 3. o

Rua G ualdim Pais.

período de Actividade - 1893-1973 Fundador - Inácio de Magal hães Bastos. Actividade Industrial - Fabrico de mal has. Valor Patrimonial - Os edifícios integram -se na tipologia construtiva dos anos 20. O uso do tijolo aparente, embora não se tenha instalado em todo o aparel h o m urário, como se tornou habitual nas fábricas de cerâmica, alcança a sua expressividade nos cunhais, ombreiras das portas, l intéis das j anelas e cimalha da Fábrica de Mal has de Magal hães Bastos. Na arquitectura fabri l sobressaem a inda duas chaminés, em tijol o . É interessante a portaria, actualmente preservada p e l a Câmara Municipal de Lisboa, com repetição de elementos decorativos. Entre os edifícios de arquitectura fabr i l destacam-se nove pavi l hões com

Planta Aerofotogramétrica 5/7- Escala 1,2000. Maio de 1963- Actualizada em 1987_

cobertura de duas águas e grandes

F Á B R I C A D E I'l1 A L H A S D E I n Á C I 0 D E I'l1 A GA L H A E S BAST0S

&-

janelões de i l um inação.

Estado de Conservação - Edifícios

C�

adaptados para serviços camarários. A refunciona l ização da antiga fábrica, para as de instalações do Departamento Municipal de Ambiente ( DMAGGRH - DAG ) e da Divisão de Imprensa Municipal não foi, todavia, extensiva a todo o conjunto. Excl u i u-se entre outros, a casa das máquinas.

Classificação - Sem classificação.

61


dia, Inácio de Magalhães Bastos, nego­

para camisolas ínteriores. Esta unidade de

ciante de Lisboa , que procurava um

confecção de malhas teria surgido no local

técnico alemão para trabalhar com

de uma antiga estamparia que sofrera um

máquinas recentemente adquiridas. Ora,

incêndio em 1888 .

este equipamento era precisamente o que

Em 1 9 1 2 - 1 4 , segundo refere Albertina

Reinhart acabara de perder da fábrica de

Dias, quando empregava 2 2 0 operários

Alcântara .

constroem-se dois novos armazéns .

Esclarecida

a

situação ,

Magalhães Bastos convidou Reinhart para

Este aumento de pessoal talvez se possa

mestre da sua unidade fabril,

relacionar com o crescimento dos

que

precisava instalar no Vale de Cheias.

grandes armazéns de venda directa ao

Perspectiva geral da Magalhães Bastos. a partir da Estrada de CheIas.

Magalhães Bastos alojou o mestre na

consumidor, que se expandem nas

HISTÓRIA da Fábrica de Inácio de Magalhães Bastos & C . a de CheIas

proximidade da fábrica, em casa própria,

grandes cidades.

donde depois passou para a quinta anexa,

Entre 1893 e 1920 - as datas neste ponto

anda associada, nas origens, a traições

no mesmo lugar. Apesar de se viver numa

são imprecisas - a firma era propriedade

entre sócios desavindos e a vendas ilícitas,

época muito atribulada, sobretudo du­

de Magalhães Bastos. Depois da I Guerra

A

que só a memória oral de familiares ainda

rante a I Guerra Mundial, Reinhart será

Mundial, Magalhães Bastos, envelhecido e

conserva.

um dos mais persistentes empresários da

sem continuador na vida industrial, vende

Um alemão da região da Turíngia, natural

Fábrica de Magalhães Bastos & C. a, desde

a unidade de Cheias a Reinhart, que

de Apolda, onde se desenvolveu a tece­

1920 até à sua morte.

movido pelo interesse do seu projecto

lagem de malhas, recebeu uma avultada

A fundação da unidade têxtil de CheIas

inicial ascende a sócio de uma sociedade

herança (1888) . Resolveu então fixar-se

ocorreu assim sob o signo de uma aliança

composta por Euclides Maia e um tal

em Portugal, tendo comprado modernas

entre um negociante com capital e um

Machado . Esta nova sociedade não abju­

máquinas de tecer malhas, na cidade

industrial sem máquinas, em 1893 (?).

rou o nome do fundador ficando com a

natal. Mandando-as para Lisboa intro­

No fim de século existiam duas impor­

duziu essas novidades industriais.

tantes unidades fabris de lãs e malhas em

designação de Fábrica de Lanifícios de

Inácio de Magalhães Bastos & C . a , de­

Chamava-se Karl Friedrich Richard

Cheias, a de Francisco Garcia & Matos, de

preendendo-se continuidade do capital.

Reinhart (1861-1934) . Cerca de 1891,

José Pedro de Matos (124!I50 operários)

Na fase empresarial dos Reinhart, os três

instala-se em Alcântara fundando uma

e outra conhecida por João Lourenço

filhos de Friedrich continuaram a obra

empresa com outro sócio. Este empre­

de Medely & Filhos (em funcionamento

do pai : Richard Reinhart, filho (tI966) ,

sário inviabilizou o projecto e vendeu as

em 1907) .

Hugo R. (tI966) e Jorge (1893- 1974) .

máquinas ' que Reinhart comprara, sem

As

primeiras referências (datadas de

Se até aos anos 30 os mestres da fábrica

sua autorização, fugindo para o Brasil.

1898) aludem a uma Fábrica de Tecidos

foram alemães, assiste-se, desde então, a

Quis o acaso - que por vezes é bom

em Ponto de Malha de lã e algodão movi­

uma "nacionalização " dos cargos desem­

conselheiro - que Reinhart (ultimando

da por teares mecânicos modernos, de

penhados na fábrica, regressando à

os preparativos de regresso ao seu país,

origem alemã, onde trabalhavam oitenta

Alemanha vários trabalhadores germâ­

filhos) encontrasse no

operários. Ali funcionaram vários tipos

nicos . Nesta altura, a fábrica dispunha

consulado alemão em Lisboa, no mesmo

de teares Jacquard, Rachell e circulares

de alguns instituições sociais, como um

COln

a =ulher

e.


posto médico, uma creche e um refei­

Após um período de relativa degra­

tório . Aos sábados à tarde havia folga.

dação das velhas instalações fabris, como

A herança industrial deixada por Maga­

a oficina de fiação e da tecelagem , em

lhães Bastos aos Reinhart - mas também

1989, a Câmara Municipal de Lisboa,

construída por esta família - era, por

inicia um projecto de recuperação dos

volta de 1920, uma fábrica em grande

imóveis adaptando-os aos serviços técni­

para malhas, têxteis, fio e tinturaria, na

cos que ali estabelecera e respeitando a

qual trabalhavam entre 80 e 100 operá­

sua linguagem arquitectónico-industrial

rios salientando António de Oliveira

(fachadas, interiores com asnas e colunas

Baptista, mestre de máquinas, deixando

de ferro) . Na antiga oficina de fiação

viva as memórias da sua existência fabril.

montou-se uma tipografia.

Eram conhecidas as roupas interiores,

A importância histórico-industrial desta

os xailes e camisolas, no espectro da sua

unidade radica na introdução da indús­

produção .

tria de malhas e de vestuário no tecido

Entre 1 9 2 1 e 1924 deu-se uma nova fase

industrial português. No seu espaço for­

de expansão, mas agora no número e

mar-se-ão futuros técnicos e industriais

tamanho das edificações, ganhando o

deste ramo, como o Simões de B enfica,

aspecto geral que hoje revela na sua

que uns anos depois fundou uma grande

arquitectura exterior. Os armazéns de

unidade naquele bairro lisboeta.

Trabalhadores da Magalhães Bastos. Cerca de 1930. Foto Esboço. Lisboa.

1914, foram então adaptados a oficinas, com boas asnas de ferro , ampliando-se também a capacidade energética da

B IBLIO GRAFIA,

fábrica, demonstrada pela existência de

"Fabrique à Chellas de Mrs. Ignacio de

duas casas de máquinas motoras, com

Magalhães Bastos & cal>, in IVe Centenaire de la

suas chaminés.

Découverte de la Route Maritime des Indes.

A fábrica da Magalhães Bastos reproduzia

Excursion industrielle de Lisboa

nos finais da década de sessenta o tipo

Lisboa, 1899. p. 33; CUSTÓDIO, Jorge,

característico de unidade industrial in­

o Património Industrial

serida no espaço de uma quinta , como

° caso do Vale de Chelas. separata de

era vulgar em CheIas e, em geral, em toda

l. o Encontro Nacional do Património

a Lisboa Oriental. A quinta anexa foi

Industrial. Actas e Comunicações, Coimbra,

vendida à Câmara de Lisboa em 1968,

Coimbra E d . . 1990. sobreI. PP . 33-34 e 41-45;

e

à

Thomar,

os Trabalhadores:

para ampliação do Cemitério do Alto de

R.AM:OS, Albertina, " Inventário do Património

São João. O seu encerramento ocorreu

Industrial de Lisboa - Vale de Cheias". in I."

em 1 97 2 , depois de um processo de

Jornadas Ibericas de Patl'imonio Industrial y la

falêncilL

e.

integrando -se também no

património do município .

ObLa Publicao-Se.villa:.MoU:iL(L990). ---S e.vilha. Junta de Andalucia, 1994. pp. 176-177.

Trabalhadores da Magalhães Bastos. Identificação através da memória. I.

Fernando Ferreira; 2. Gabriel Marques; 3. Fernando Pinga; Luís Beça; 5. Valadas; 6. Belarmino; 7. :Manuel de Oliveira; 8 . João Henrique de Carvalho; 9 . Felix Pereira; 10. António Augusto; II Abel Cardoso; 12. João Marques; 13. Manuel.. . ; 14. Alberto Seabra; 15. Artur Marques; 16. Manuel Moreira; 17. Evangelino Adão Figueiredo; 18. Armando de Oliveira; 19. António de 01i�·eira. Baptista; 2 0 . Duarte Furtado; 21. Alberto Gomes; 22. O filho do guarda da fábrica ; 23.



j.>

�S · Planta Aerofotogramétrica 6/7. Maio de 1963. Actualizada em 1987. ,

,

F A B R I C A D E P 0 LV 0 RA D E C H E L A S Localização - Largo de cheias.

tel hado em shed em estrutura de ferro.

Actualmente a geradora Krupp pertence

período de Actividade - 1898 - 1 983 (±)

Ex iste também um pequeno n úcleo de

à EDP, estando prevista

Fundadores - O Estado Português, tendo

armazéns j unto à casa da máquina a

a s ua deslocação para o Museu

como base a inovação

d i ese l . O testemunho que apresenta

da E lectricidade, em Belém.

do coronel Barreto.

maior valor patrimonial é a central

Classificação - Os edifícios da

Actividade Industrial - Fabrico

geradora Krupp, de 1922.

arquitectura do ferro encontram-se

de pólvora sem fumo para m u n i ções

Trata-se da força motriz q u e a l i m entava

registados no Inventário do Património

e cartuchames.

toda a fábrica após a s ubstituição

Municipal do PDM de Lisboa.

Valor Patrimon ial - Do conjunto

da energia a vapor.

edificado que constituía a fábrica

N a casa da máquina encontra-se u m a

de pólvora sem fumo pouco subsiste.

panóp l i a de ferramentas da geradora,

Das d iversas oficinas restam os

o quadro de e l ectricidade e o utras

negativos no solo e um edifício em

infra-estruturas para a laboração do

ruínas, do qual se destaca o seu

motor, como o depósito de combustív e l .


o algodão-pólvora, de carácter eminen­ temente fracturante, não era ainda a pólvora de combustão progressiva, conveniente às armas de fogo . Paul Vieille, químico francês e engenheiro de pólvoras, deu um forte contributo para um explosivo de características pro ­ gressivas. Mas, o cientista que maior im­ pulso deu à resolução do problema foi Nobel, em 1897 . Este químico sueco, provou a possibilidade de gelatinizar o algodão-colódio pela nitroglicerina . Com esta descoberta, abria-se um novo caminho para as pólvoras nitrocelulósi­ cas e nitroglicéricas. Em 1 8 8 9 , o então coronel Correia Barreto foi incumbido , pelo director Antônio Xavier Correia Barreto. inventor da pôlvora sem rumo. in Problemas e J\/anipula ções Chimicils, 1911, s/p.

de artilharia João Manuel Cordeiro, de

FÁBRICA de Pólvora sem fumo

A Fábrica da Pólvora de Cheias é dupla­

estudar o fabrico de uma pólvora sem

instalou-se em finais do século

mente significativa para Portugal. Por

fumo , para as armas portáteis e bocas­

na cerca e em algumas dependências

um lado , vai produzir uma pólvora quí­

-de-fogo . Este objectivo prendia-se

do antigo Convento das Religiosas Donas

mica inovadora e por outro, esse avanço

com a autonomização do nosso país face

de Santo Agostinho (ver, Guia Histórico

técnico, ficar-se-á a dever ao fundador

ao trust de Nobel e a uma economia

e Guia do Azulejo) , mais conhecido pelo

da própria unidade fabril, o general

de meios que favorecesse o exército

A

XIX,

Convento de Cheias . A localização de

António Xavier Correia Barreto (1853-

português, numa época de corrida aos

uma fábrica de explosivos nas envolvên­

- 1939) ·

armamentos .

cias de casario ou de estruturas religiosas

Só no final de Oitocentos, se deixa de

Correia Barreto veio a obter uma pólvo ­

não era uma opção comum, pois geral­

utilizar a pólvora preta em armas por­

ra de primeira qualidade, igual ou supe­

mente eram escolhidos lugares ermos,

táteis de fogo , generalizando-se a partir

rior às congéneres alemãs e inglesas.

devido a exigências de segurança.

de então , o uso da pólvora "branca" .

As

suas investigações permitiram-lhe

O fabrico da pólvora para abastecer

Em 1846, descobriu-se o algodão-pól­

descobrir, quase ao mesmo tempo de

o exército português fazia-se desde o

vora, por Schonbein e Bottger . No

Nobel, um novo tipo de pólvora química.

tempo de D. Manuel na grande fábrica

entanto , esta pólvora não convinha aos

O grande avanço tecnológico prendia-se

de Barcarena. A criação de uma outra

exércitos , pois quando se procedia ao

com a diminuição do explosivo na cons­

estrutura industrial, por parte do Esta­

disparo a posição do atirador era de­

tituição da pólvora. Doravante, a sua per­

do , para o fabrico da pólvora prende-se

nunciada. Várias explosões desastrosas e

centagem passava a ser de 30 %. Houve,

com a necessidade de inovação técnica.

acidentes múltiplos, demonstraram que

assim, a possibilidade de se desenvolver

66


um outro tipo de pólvora baseada na nitrocelulose. João Correia dos Santos salienta que a pólvora sem fum o cons­

A

titui pois uma das descobertas que mais nos deve orgulhar a todos, os por­ tugueses (Problemas e Manip ulações Chimicas, 19II) . Em 1 8 g 8 , abria a fábrica de pólvora sem fumo , sob a direcção de Correia Barreto , estando em laboração até cerca dos anos 80 desta centúria. No

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kCbu-r,u,(k.

início , o espaço ocupado pelas ins­

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talalações fabris era muito limitado ,

E..-r=,/u;� ·

não ultrapassando um hectare. Como é

r�C'av-attari.fa

as diferentes oficinas foram construí.

de segurança. As instalações que apre­ devido

manipulação de substâncias explosivas,

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O�Arro1ca.da,r»o .

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Os edifícios construídos prendiam -se com funções ligadas à secretaria, aos

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V-t�«-��· X:-!IIotor Y"-MMAí,.

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depósitos, ao laboratório , ao motor e à fabricação da pólvora propriamen­

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te dita. Assim, as oficinas instituídas inicialmente para a produção da ni­ troglicerina, da pólvora e da junção destas duas substâncias, organizavam-se em: Oficinas do primeiro grupo , onde

se preparava o algo dão , nitrava- s e , desfilava - s e , lavava - s e , enxugava-se e desidratava - s e . Eram construídas em alvenaria , formando cinco casas contíguas .

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negativa , no subsolo .

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tinham parte das suas paredes em cota

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das separadamente devido a exigências maior perigo ,

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usual, em todas as fábricas de pólvora,

sentavam

J. fi,.. '

Planta da fâbrica de pô!vora sem fumo, in "A fabrica de polvora em Chellas",

Rel'úta de Artilharia,

Ano II, n. o 21,

1906.


5 - Existiam ainda as áreas de serra­ lharia e carpintaria, as casas da caldeira e da máquina a vapor. De início a for­ ça motriz de toda a fábrica era uma máquina a vapor de firma suíça, Sulzer, com go c/v de potência. A produção desta fábrica abastecia munições para as armas portáteis do exército português como , por exemplo , a s espingardas 8 m m K o u as carabi­ nas 6 , 5 mm. Após Ig04, com o desen­ volvimento do armament o , houve a necessidade de alargar gradualmente as instalações e de a equipar com nova fupecto exterior da fábrica de pólvora sem fumo, in

O Occidente,

maquinaria, de modo a responder ao

1901, p. 205·

volume das encomendas.

Mas , foi

durante a I Guerra Mundial, que a fábrica se firmou no municiamento de pólvoras de artilharia e cartuchos de espingarda, metralhado ra e pistola, para o exército português. A fábrica incorporou também oficinas onde se carregavam o s cartuchos das armas portáteis e se fabricavam balas e caixas de cartuchos para a espingarda de in­ fantaria . Estas últimas oficinas cons­ tituíram um dos mais interessantes exemplares da arquitectura portuguesa do ferro . Oficina de carhu:ame, in Exposição Internacional do Rio deJaneiro. Secção Portuguesa, Lúro d'Oiro e

- Oficinas de segundo grup o , onde

Em IgII , a fábrica de CheIas tinha uma Catálogo Oficial,

1922.

vertia-se a mistura de algodão -pólvora e

capacidjlde de produção de trinta toneladas de nitroglicerina e quarenta

se fazia a nitroglicerina. Aqui prepara­

a nitroglicerina em lâminas translúcidas

de nitro celulose. Em relação aos car­

va-se e purificava-se o explosivo , mis­

e com espessura apropriada de acordo

tuchos, atingia- se o número de 60 mil

turando - o com o algodão -pólvora.

com o fim a que se destinava.

por dia.

3 - Oficinas de laminagem e de granu­

4

lação . Nestes espaços de laboração , con-

tufas para a dessecação do algo dã o .

-

Oficinas onde se instalaram as es­

68

D o conjunto das diversas infra- estru­ turas, subsiste um magnífico edifício


de telhado em shed e de colunas em ferro , inserido no que resta do ver­ dej ante Vale de CheIas, lembrando tempos idos . Numa simbiose entre a oficina e a natureza, a hera começa a cobrir o edifício . A destacar a central geradora Krupp, instalada numa casa própria. A casa da máquina é feita em alvenaria , sendo o seu interior revestido a estuque e com lambris de azulej o . A cobertura é em madeira, sustentada por vigas de ferro , apresentando já algumas infil­ trações. A máquina Krupp, da central termo ­ eléctrica de I9 2 2 , simboliza a im­ portância que esta fábrica alcançou na produção da pólvora, pois foi neces­

Oficina de pulverização c lavagem do algodão-pólvora, in O Decideme. 1901, p. 205.

sário recorrer a um motor muito potente para fornecer energia- electri­ cidade a todas as oficinas. Trata-se de um momento de viragem em termos energéticos, quando ainda a distribui­ ção de electricidade não alcançara todo o território da cidade. Acompanhava­ -se assim a evolução que Lisbo a vinha sentindo com a inauguração da C entral Tej o , desde I9II. Entre os finais da década de vinte e a de cinquent a , a fábrica de CheIas continuou as duas linhas essenciais de fabrico , acentuando a produção de munições para infantaria. Neste ponto de vista, era uma unidade tecnicamente completa (Filipe Themudo Barata) .

A dado momento passou a designar­ - se por Fábrica Nacional de Munições

Oficina de carregamento de cartuxo! de infantaria, in Problemas e Manip uJa fdes Chimicas, 19B, p. 395·

69


in

Ano II,

Revista de Artilharia,

n O

2 1 , Lisboa,

Ferreira & Oliveira, Editores, Março, 1906, pp. 478-486; X., "A polvora sem fumo Barreto" , in Revista de Artilharia, Ano III, n.·' 25-26, Lisboa, Ferreira & Oliveira, Editores, Julho -Agosto de 1906, pp. 3 2 -39 e 89-93; SANTOS, J. Correia dos, "Fabrica de Polvora sem fumo" , in

Problemas e

Manipulações Chimicas,

vol. III, Lisboa, 19II,

pp. 387-398 ; "Fabrica de Polvora de Chelas", in Exposição Internacional do Rio de Janeiro. Secção Portuguesa, Oficial,

Livro d'Oiro e Catálogo

Lisboa, 192 2 ; Caixa de Crédito e

Cantina de Víveres do Pessoal da Fábrica de Pólvora em Cheias (SCRL), da Gerência de

Relatório e Contas

[94-0, Lisboa, Imprensa Lucas &

c.a, 1941; "Fábrica de Cartuchame e Pólvoras Químicas (CheIas) " , in

Notícia Histórica

Sobre os Estabelecimentos Fabris do Ministério da Guerra,

Lisboa, Bertrand,

1947, pp. 15-17; BARATA, Filipe Themudo, "Indústria Militar Nacional Como e Para Quê? " , in

Aspecto actual de oficina com telhado em shed.

Nação e Defesa,

pp. IIo-IJ6;

MATOS, Ana Maria de, e TINOCO, Alfredo,

de Armas Ligeiras (FNMAL) . Um novo

B I B L I O GRAFIA,

incremento deu-se durante a II Guer­

A. , " Polvora sem Fumo "Barreto" ,

ra Mundial , desenvolvendo -se uma

in

estreita colaboração entre Chelas e a

1 9 0 1 , p p . 2 0 3 e 205 ; PELLEN, Eduardo,

Fábrica de Material de Guerra de

UAssumptos Militares. Polvora sem fumo.

Braço de Prata (ver, neste Guia) .

A Fabrica da Polvora em Chelas",

Foi durante o decorrer dos anos 5 0 ,

in

que as instalações das munições das

SIMÕES, José Maria de Oliveira,

O Occidente,

Indústria da Pólvora e Fundição de Armas.

Ano XXIV, 2 0 d e Setembro d e

Brasil-Portugal,

Roteiro de Visita Guiada, Lisboa, APAI , 1986 ; CUSTÓDIO, Jorge, "As Infra-estruturas. Os Canais de Lisboa" I in Lisboa em

[850-[920, Lisboa, Livros Horizonte, 1994, pp. 121- 12 2 .

1904, pp. 1 2 - 1 3 ; Curso

armas l igeiras se t ransferem para

Elelnentar sobre Substâncias explosivas,

Moscavide. Todavia , o sector químico

Lisboa, Typographia do Arsenal do Exército,

ainda se manteve no mesmo espaço até finais da sua laboração , apesar do

SIMAS, Frederico António Ferreira de,

crescimento urbano de CheIas.

"A fabrica de polvora em Chenas",

val. r.

Movimento.


Central geradora Krupp.

(Ç) r, . .

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V I LA F L A rtl l A n e Localização

-

Com serve n t i a para o

Largo Marquês de N i s a .

Data de Construção

-

1 8 8 r l 888

Proprietários Fundadores

-

Compan h i a

de F a b r i c o d e A l godões de Xabregas.

Valor Patrimonial

-

A s u a l o c a l i zação

j un t o da un i d a d e i n dustri a l , a sua organ ização em duas correntezas formando um p á t i o i n t e r i o r e a sua i m p l antação afastada das vias de c o m u n i c a ç ã o p e r m i tem i d e n t i f i c a r u m d o s paradi gmas da construção h a b i ta c i o n a l para operários de f i n a i s d o s é c u l o X I X . O utros e l ementos q u e i n tegram e s t a construção, no u n i verso d a s h ab i tações operárias, é, p o r exemplo, a sua

Planta Aerofotogramétrica 4/7- Escala 1:2000_ Maio de 1963- Actualizada em 1987-

c o n f i g uração un i forme. C a d a correnteza de d o i s a ndares é c o m p o sta por m ó d u l os repet i t i vos em q u e o r i t m o da fenestração e d a s portas podem ser m u l t i p l icados até a o i n f i n i t o , perm i t i nd o sempre u m a organização r a c i o n a l e e qu i l ibrada, s e m m u itos gasto s . U m outro f a c t o r a c o n s i derar é a dependên c i a e n tre a h a b itação e o local de traba l h o . A construção da V i l a F l a m i a n o p e l a C o m p an h i a de Fabrico de A l g odões de Xabregas é exem p l o d a d i gn i f i cação e da mora l i zação d a h a b itação para os traba l h adores .

Estado de Conserva�ão C lassificação

73

-

-

Reg u l a r.

Sem c l assi f i c a ç ã o .


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na freguesia do Beato com a condição de que as pias e latrinas sejam collocadas pelo lado externo das propriedades, que o solo sobre que hade levantar-se a construção se torne impermeável pelo asfalto ou beton e que sob o pavimento do andar terreo se faça uma caixa d 'ar. A nova área residencial da unidade industrial têxtil o cupava um total de 4040 m" sendo 1 0 8 0 m' p ara as contruções e 2 9 6 0 m' para logradouros e ruas. O espaço central entre as duas correntezas apresentava 14 m de lar­ gura, estando prevista implantação de árvores . O projecto do bairro é da autoria do

Planta. alçado e corte da Vila Flamiano. 1887. Arquivo de Obras. CML.

engenheiro António Teixeira ]údice,

C OMPANHIA do Fabrico de Al­

ponímia do pátio do Black, tratando-se

tendo a empreitada sido adjudicada ao

godões de Xabregas foi uma das

também de um conjunto de habitações

construtor António Machado de Faria e

primeiras empresas portuguesas a cons­

para os trabalhadores da fábrica, mais

Maia.

truir casa para os seus operários, numa

concretamente para os fiscais . O nome

A área de instalação das novas habita­

época em que era inexistente uma polí­

atribuído a este pátio relaciona-se com

ções situava-se nos terrenos da fábrica e

tica governamental de habitação social.

um dos engenheiros fundadores da

próxima desta. O novo bairro operário

A Vil a Flamiano constitui um dos exem­

empresa, o inglês Alexandre Black.

compunha-se de dois conjuntos de

pIares da habitação operária mais co­

Data de 1887, o proj ecto da Vil a Fla­

prédios, com dois andares, identifica­

nhecido de Lisboa e é automaticamente

miano entregue à Câmara Municipal,

dos na planta por tipo n.o I e tipo n . O 2 .

associada à empresa fundadora. No

a pedido da Companhia do Fabrico

As diferenças entre estas tipologias resi­

entanto, esta construção de 1887-88

de Algodões de Xabregas . Este plano

dem no seu interior, compondo-se o

pertence a um último período das

foi inovador para a época devido aos

tipo n . O 2 de um maior número de

edificação para operários, fomentada

cuidados apresentados com as infra­

assoalhadas, variando de acordo com o

pela Fábrica da Samaritana.

-estruturas de saneamento , aspecto ge­

agregado familiar. O número de quar­

O Inquérito Industrial de 1 8 8 1 , refe­

ralmente descurado em outras vílas e

tos oscilava entre dois, três e quatro .

rencia a existência de três prédios para

bairros. Assim, um requerimento de 2 7

Exteriormente as soluções encontradas

habitações dos operários com cinquenta

d e Outubro, submetido a o Conselho de

para a uniformização das diferentes

e um q uartos, sendo o último prédio

Saúde e Higiene Pública, pede para

assoalhadas prendem-se com a utilização

mandado construir expressamente para

construir dois typos de propriedades

repetida de elementos funcionais como as

esse fim. Na tradição oral persistiu a to-

nos terrenos annexos à fábrica situada

janelas e as portas. O edifício tipo n. o I ,

A

74


no rés-do-chão , alterna uma janela com uma porta e o tipo n. o 2 , duas janelas com uma porta. Em relação ao piso supe­ rior a fenestração marca o ritmo da cons­ trução. A solução encontrada poderia ser multiplicada infinitamente sem muitos custos, visto que a repetição é feita através de elementos funcionais e não p ela aplicação de motivos decorativos, como o

-=-i-'- U

tijolo , o ferro fOljado ou apontamentos azulejados. Os materiais utilizados na

J

construção da vila limitaram-se à cal, à areia, ao cimento , aos tubos de grés, à casquinha e à telha de marselha. Esta vila reúne duas características da habitação operária que , na maioria das vezes, se encontram individualizadas.

Planta, alçado e corte da Vila Flamiano. 1887. Arquivo de Obras.

Por um lado , organiza-se fora da circu­

gural, desta vila de cariz particular, refe­

C �,fL.

in

Estudos Económicos e Financeiros.

lação viária. Quando, em 1931, a vila era

re-se que o modesto bairro operário

n. o 3, Coimbra, Imprensa da Universidade,

já propriedade da Sociedade Têxtil do

(. . .) foi construído não só com o fim

1909, p. 104; PEREIRA, Nuno Teotónio,

Sul reconstruiu-se o muro da delimita­

de satisfazer a uma necessidade da

E!'olução das Formas de Habitação Plurifamiliar

ção do bairro de acordo com as seguintes

Companhia que administramos, como

na Cidade de Lisboa,

características: a parte da Vila Flamiano

também, e talvez muito principalmente,

autor, 1979; RODRIGUES, Maeia João,

com uma cortina de pouca altura e

para satisfazer a não menos imperiosa

Tradição, Transição e Mudança. A produção do

gradeamento de ferro, ficando nesta um

necessidade de fornecer h a bitação

espaço urbano na Lisboa oitocentista,

portão de ferro em pilares de tijolo, para

barata, confortável e higiénica aos que

nO especial do Boletim Cultural da Assembleia Lisboa, 1979, pp. 45; PEREIRA, Luísa

serventia da vila, mais amplo do que o

tem por única fortuna o produ to do

Distrital,

existente. Por outro lado , a organização

seu trabalho quotidiano ( Catálogo da

Teotónio,

interna das habitações desenvolvia um

Exposição . . . , 1889) .

Uma Perspecti,'a sobre a Questão das

- I88I-I9IO, Lisboa,

"Casas Baratas e Salubres"

sistema de pátio e de comunicação que

1981; C USTÓDIO, Jorge,

permitia a vizinhança e a coabitação social, características inerentes a alguns

3 vols. , Lisboa, ed. do

O Pa trimónio

Industrial e os Trabalhadores: O caso do

BIBLIO GRAFIA,

Vale de Chelas,

separata do

I.

o Encontro

dos bairros para operários.

HInauguração do Bairro Operário em 2 2 de

Nacional do Património Industrial. Actas e

A inauguração do conjunto habitacional

Outubro de 1888", in

Comunicações,

Catalogo da Exposição

Coimbra, Coimbra Ed.,1990;

ocorreu no dia 22 de Outubro de 1888,

Nacional das Industrias Fabris,

e o seu nome deveu-se a um dos funda­

Imprensa Nacional, 1889, pp. 93 -91: ;

Prédios e Vilas de Lisboa,

dores da Companhia. No discurso inau-

MATA, José Caeiro da, "Habitações Populares "

Horizonte, 1995, p. 338.

75

vol. II, Lisboa,

PEREIRA, Nuno Teotónio, e BUARQUE, I"ene, Lisboa, Livros



A o r g a n i zação obedece a uma r a c i o n a l i z a ç ã o horizontal e vert i ca l . O e d i f í c i o era bem i l um i n ado pela luz n a t u ra l , face ao r i t m o de fenestrações q u e e v i d e n c i a . A cobertura e r a de q uatro águas p o r vão. Cada vão correspo n d i a a um a l i n h am e n t o vert i c a l de j a n e l as . A l g u m a s das cobert uras apresentam também vestígios de a n t i g o s l a n tern i n s , característ icas q u e a i n d a s e p o d e m observar no l o c a l . A n e x a s ao e d i f í c i o p r i n c i p a l e n c o n t ra m - s e d u a s casas das m á q u i n a s , t e s t e m u n h a n d o dois m o m entos da energia a vapor. N o entanto, a e l e c t r i c i dade foi i n t r o d u z i d a posteriorm e n t e . Envo l vendo a f á b r i c a ant i ga c o n s t r u íra m - s e e d i fícios de a p o i o às a c t i v i d a d e s f a b r i s e s o c i a i s . O i m ó v e l e as c a s a s das m á q u i n a s

Planta Aerofotogramétrica 4/7. Escala 1:2000. �Iaio de 1963· Actualizada em 1987. ,

deveriam ser objecto

-

FA B R I C A D E F I A ÇA0 E T E C I D 0 S D E XA B R E GAS ( V V L G O F Á B � C A D A S A rrt A �tA n A ) Local ização n.O

I,

-

Beco dos Tou c i n h e i ros

em Xabregas, formando u m p á t i o

F i aç ã o e t e c e l agem de panos d e a lgodão ( 1877- 194y). Im portante

de p r o j e c t o s de rec uperação e v a l o r i zação, v i ab i l i zando uma m e m ó r i a c o n d i g n a da p a i s agem i n d ustri a l e urbana d a q u e l e espaço.

Estado de Conservação

-

A l g umas á r e a s encontram - s e oc upadas

i n d ustri a l , encontrand o - se ao c e n t r o o

Valor Patrimon ial

e d i f í c i o fabr i l p r i n c i p a l .

marca i n d u s t r i a l da c i dade, com uma

p o r o f i c i n a s e arm a z é n s .

h i s t ó r i a de re l ev o . Destaca - s e p e l a

C lassificação

período de Actividade Fundadores

-

-

1857-1951

J oão Scott Howort h ,

-

s u a v o l u m e t r i a e p e l a presença

G u i l h e r m e J o ã o H oworth

das d u a s c h am i nés de t i j o l o

e A l e xandre B l a c k .

e o r g a n i z a ç ã o espac i a l .

Actividade I ndustrial

-

Fi ação de

O e d i f í c i o p r i n c i p a l caracteri z a - s e

a l g odão para fabricos manuais

p e l a s ua arq u i tectura i n dustri a l c o m

( e n t r e 1 8 5 8- 1 8 7 7 ) .

para l e l o s n a I n g l aterra e França.

77

Em r u í n a s .

-

Sem c l a s s i f i cação.


1 8 5 7 , altura em que o edifício rectan­ gular, construído de raiz e com todos os apetrechos para a mecanização da fiação de algodão se concluiu. O seu plano inicial obedecia aos modelos mais avançados das fábricas inglesas . O edifício , descrito por Pinho Leal , tinha então 36 m de comprimento e 21 m de largura , com 108 janelas nas quatro fachadas. Os fundadores de origem britânica co nstituíram uma

companhia

por

acções para a sua administração , com o capital de 150 contos de réis , a 200$000 réis por cada acção . Alexan­ dre Black notabilizara-se nas obras de engenharia da Fábrica de Santo Amaro , da Companhia de Fiação de Tecidos Lisbonense, entre 1847-49, depois das quais se juntou aos Scott. Inicialmente era apenas uma unidade Fábrica da Samaritaoa. Gravura publicada io Diário /JJuslrado, 1864. p. 182).

0.°

1617, Ano VI, Lisboa, 1877, p. 1 (baseada na gravura do Al"chú'o

Pillol"esco.

F

mecanizada de fiação , apesar dos seus primeiros estatutos, datados de 1 8 5 7 ,

OI uma das mais antigas unidades

Situa-se à entrada do Vale de CheIas,

preverem também a tecelagem, a tintu­

maquinofactureiras de Lisboa da se­

junto às linhas férreas do Leste e Norte

raria e calandragem do algodão.

gunda metade do século XIX. Instalou-se

e da Circunvalação de Lisboa (desacti­

As condições de mercado facilitaram

seis anos depois da Regeneração de 1851,

vada) . Encontrava-se também junto à

a instalação da energia a vapor, até

no tempo do ministro de Obras Públicas,

antiga circunvalação fiscal, da parte

porque Xabregas conhecia desde a dé­

Carlos Bento da Silva. Era igualmente

oriental da cidade de Lisboa. A edifi­

cada de quarenta as primeiras máqui­

conhecida por "Fábrica da Samaritana"

cação desta unidade fabril é contem­

nas motoras . A localização da máquina

(em virtude de se encontrar nas proximi­

porânea da construção do troço de

a vapor fez-se em casa própria, exte­

dades da Fonte da Samaritana) e por

caminho-de-ferro, entre Lisboa e o

rior ao edifício , virada a sul. Com a

" Fábrica do Black" , em referência ao

Carregado , acessibilidade a que se ligou

máquina moviam-se os 4 6 0 0 fusos

engenheiro fundador - Alexandre Black

desde então .

iniciais.

-, a quem se deve a arquitectura indus­

As obras começaram em 1 8 5 4 , em

D o ponto de vista empresarial a Fábrica

trial e a montagem dos seus primeiros

terrenos arrendados ao Hospital de

de Algodões de Xabregas foi pertença

equipamentos e máquinas.

S. José. A laboração inaugurou-se em

de duas entidades, a companhia acima


Outro pavoroso incêndio , datado de 1 94 8 , consumiu grande parte do edifí­ cio , quando já pertencia à Sociedade Têxtil do Sul. Actualmente persistem vestígios desse acidente, nas fachadas, nas coberturas e nas janelas que não foram obj ecto de qualquer recupe­ ração. O auge desta têxtil, atendendo à infor­ mação recolhida nos Inquéritos In­ dustriais de 1881 e 1890, ocorreu no final do século. Nessa altura, laboravam 513 operários, funcionavam 213 teares, dispondo de uma potência de 120 c/v, distribuída pelas duas máquinas. Data deste período a construção de u m bair­ ro social para os seus trabalhadores , a Casa da Máquina a Vapor L Aspecto actuaL

referida (entre 1854 e 1936) , e a So­

Vila Flamiano (inaugurado em Outu­ bro de 1888) ' .

Casa da Máquina a Vapor II. Aspecto actuaL

Dispôs d e um internato para aprendizes

1862) . Todos estes factos e outros que

ciedade Têxtil do Sul (1934 - 1951) .

no seu interior, sistema utilizado para

envolveram os pais dos menores e as

Durante o período da companhia teve

suprir a falta de qualificação de mão ­

diversas movimentações grevistas ligadas

diferentes direcções fabris, que mar­

-de- obra, aspecto laboral criticado pela

aos seus trabalhadores foram matéria

caram a sua evolução técnica, industrial

opinião pública contrária à utilização

aproveitada pelo romancista Abel B o ­

e s o cial . Uma mudança qualitativa

de crianças como operários (2/3 do

telh o , n a sua obra Anlanhã, cuj o s

correspondeu ao incêndio de 3 de

total dos trabalhadores) . A cada criança

cenários fabris parecem coincidir com

Agosto de 1 8 7 7 , que criou as condições

do internato abriu-se uma conta

a " Fábrica do Black" , por um lado e

de completa renovação , apetrechando­

corrente referente ao respectivo salário ,

com a Fábrica de Tecidos Oriental

-se com a tecelagem mecânica e nova

sendo -lhe entregue quando acabasse

(fundação de 1888) , situada nas pro­

potência a vapor. D eve datar desta

o aprendizado , facto que também

ximidades.

altura a nova casa das máquinas e a nova

levantou alguma celeuma na capital.

chaminé da fábrica que , com a pri­

Criticava-se ainda o excessivo tempo

Foi integrada na Sociedade Têxtil do Sul, Ld. a , entre 1932 e 1934, manten­

meira, marca ainda a paisagem daquele

de trabalh o , contrário ao desenvolvi­

do a fiação e a tecelagem j untas , funcio­

local .

m ento psíquico das crianças (Caldeira,

nando até à data do último incêndio ,

J

Ver Vila Flamiano.

79


em 1948. Fornecia então, como outras fábricas daquela sociedade, os Grandes Armazéns do Chiado . O seu espaço foi depois aproveitado para pequenos negócios e firmas . Apesar da degradação deste cadáver , o monumento industrial teima em con­ tinuar.

B I B LI O GRAFIA,

Estatutos da Companhia de Fabrico d 'Algodões de Xabregas,

Lisboa, Imprensa

União- Typographica, 1857 ( BN

-

SC 7056II

V) ; CALDEIRA, C . ] . , "Fábrica de Fiação de Xabregas", in A.rchivo Illustrado, Gravura em Ag�nda dos Grandes Armazéns do Chiado.

Pittoresco . Semanário

vol. IV, Lisboa, Typ . de Castro &

Irmão, 1 8 6 2 , pp. 182 ; Fábrica de Fiação de

1945. p. 36.

Xabregas" , i n de

Inquérito Industrial

1865, Lisboa, l N , 1 8 6 5 , pp. 2 3 3 -236 ;

"Fábrica da Samaritana" , n . o 1 6 1 7 , Ano

VI,

Diário ll1ustrado,

Lisboa, 1 8 7 7 , p. I ; "Fábrica

da Companhia de Fabrico de Algodões de Xabregas", in Inquérito Industrial

de

1881,

Inquérito Directo, 2 . a Parte. Visita às Fábricas, Lisboa, l . N . , 1 8 8 1 , pp. II7-129 e 3 . a Parte, Respostas ao Questionário, idem, pp. 7 1 - 7 2 ; "Companhia do Fabrico de Algodão de Xabregas", in

Catalogo da Exposição

Nacional das Industrias Fabris,

vol. II, Lisboa,

Imprensa Nacional. 1 8 8 9 . pp. 9 0 - 9 3 ; LEAL, Augusto Soares Barbosa de Pinho. e FERREIRA, Pedro Augusto. " Grande Incendio". em

Portugal Antigo e Modern o .

vaI. XII . Lisboa. 1890. pp. 2 0 5 3 - 2054; " Companhia do Fabrico de Algodões de Xabregas", in lVê. Centenaire de la Découverte

Perspectiva actual da cobertura.

80


Tardoz e envolvências.

de la Route Maritime des Indes.

Excursion

industrielle de Lisboa à Th omar,

Lisboa,

I 8 9 9 , pp. 4 � - 4 4 ; ROD RIGUES, Maria João Madeira,

Tradição, Transição e Mudança.

A produção do espaço urbano na Lisboa oitocentista,

n. o

84, especial do

Boletim

Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa,

Pa trimónio In dustrial. Actas e Comunicações,

Coimbra, C o imbra

E d . , I 9 9 0 , sobret . PP · 3 3 - 3 4 e 4 I - 4 5 ; RAMOS, Albertina, " I nventário d o Património Industrial de Lisboa - Val e d e Cheias " , i n

I . " Jornadas Ibericas de

Patrim onio Industrial y la Obra Publica.

Lisboa, I 9 7 9 , pp. 4 5 - 4 6 ; CUSTÓ D I O ,

Sevilla -Mo tril

Jorge,

Andalucia, I994, pp. I 7 4 - I 7 5 ; CUSTÓ D I O ,

O Pa trim ónio Industrial e o s

Tra balhadores, O caso d o Vale d

separata de

Cbelas,

l. o Encontro Nacional do

( r 9 9 0 ) , Sevilha, Junta de

J oAge , ::.E'ãbúc.a da Co.m.panhia d.e ..Eab..Lico d e Algodões d e Xabregas" , i n

81

Dicionário da

História de Lisboa,

coord. de Francisco

Santana e Eduardo Sucena, Lisboa, I994, pp. 37I-37�·



o b a i rro topon i m i camente c o n h e c i d o

p o r V i l a D ias organ i z a - se ao l o n go de um e i x o v i á r i o , que é s i m u l t a n e a m en t e acesso das casas e do p ú b l i c o em gera l . N o e n t a n t o , a V i l a D ias n ã o pre c i s o u d e n e n h u m a d e l i m itação art i f i c i a l d o espaço. A s u a l oc a l ização p o r s i só - fora de todos os e i xos p r i n c i p a i s d e c i r c u l a ç ã o , enta l ad a e n t r e as tras e i ras de variadíssi mas fábr icas e das l i n h a s ferroviárias do N orte e de c i r c u l a ç ã o i nterna - são c o n d i ções preexistentes que c o n t r i b uem e d e f i n e m o i s o l am e n t o e o afastamento destes operários d e o utros n ú c l eos h a b i ta c i o n a i s e de o utras c l asses s o c i a i s .

É p r i n c i p a l m e n te e s t a característica q ue d i s t i n g u e esta v i l a de L i sboa O r i e n ta l , confer i n do - l h e um cunho e x c e p ci o n a l dentro da esfera da

Planta Aerofotogramétrica 3/7. Escala 1:2000. 1laio de 1963. Actualizada em 1987.

construção operár i a .

V I LA D I AS

Local ização

-

A l t o dos To u c i n h e i ro s .

Data de Construção

-

1 8 8 8 , com

a m p l i ações posteriores.

Valor Patrimonial

-

É um conjunto

A s u a arquitect ura é extremamente p o b r e , n ã o tendo n en h um e l emento o u ornamento que a d i st i n g a o u a valorize.

h a b i t a c i o n a l construído para

D e n t r o d a s u a organização

operários n um a zona de forte

i n terna desenvolve u m s i stema

i m p l antação fabri l .

de auto - s uf i c i ên c i a , d i spondo

A V i l a D i a s n ã o reúne a l g umas das

de a l g u m as lojas, cafés, um chafariz,

c aracterí s t i c a s in erentes à m a i o r i a

q u e a n t i gamente abastecia os seus

destas c o n s t r u ç õ e s , t a l c0 ':'1 0 m uros

h a b i tantes e a c t u a l m ente tem uma

d e l i m i ta n d o as h a b itações, uma

ofícina de automóveis ( a n t i ga casa

l ocal ização dentro do perím etro d a

d a cobrança das rend a s ) .

u n i d ade fabr i l o u , e n t ã o , uma

Estado de Conservação

p rox i m i dade do patrona t o .

C l assificação

-

-

R e g u l ar.

Sem c l a s s i f i cação.


é uma referência cons­

dos Toucinheiros (Maria João Rodri­

tante no romance de Abel Botelho

gues) . A planta apresenta-se correcta em

PEREIRA, Nuno Teotónio,

Amanhã (1901) , local onde habitava um

Nuno Teotónio Pereira.

Formas de Habitação Pluri{amiJiar na Cidade de

grande número de operários da zona de

A sua construção não se deve a nenhum

Lisboa,

Xabregas. Infelizmente o autor não nos

industrial em especial. O projecto visa­

RODRIGUES, Maria João,

descreveu com particularidade o exterior

va responder ao alojamento de maior

e Mudança. A produção do espaço urbano na

ou interior das habitações, como o fez

número de famílias concentrando-as

Lisboa oitocentista,

em relação à Ilha do Grilo , entretanto

em espaços exíguos, através do paga­

CuJtural da Assembleia Distrital,

p . 5 0 ; PEREIRA, Luísa Teotónio,

A

VILA DIAS

B I BLIO GRAFIA, Evolução das

3 vols . , Lisboa, ed. do autor, 1979 ; Tradição, Transição

n. o especial

do Boletim

Lisboa, 1979,

desaparecida, aquando da construção do

mento de rendas baratas. A Vila Dias

Bairro da Madre de Deus.

organiza-se ao longo do caminho-de­

Uma Perspectiva sobre a Questão das "Casas

Situada no Alto dos Toucinheiros, local

-ferro do Norte e adquiriu a sua es­

Baratas e Salubres "

de forte concentração de bairros ope­

trutura longitudinal . Compondo-se de

CUSTÓDIO, Jorge,

rários, este conjunto de habitações teve

uma única rua, as duas correntezas

e os Trabalhadore" O caso do Vale de CheIas,

como obj ectivo albergar os operários das

de dois andares distribuem-se em todo

separata de

Património Industrial. Actas e Comunicações,

- 1881-1910, Lisboa, 1981, O Património Industrial

1. o Encontro Nacional do

fábricas de tecidos e de tabacos. Na reali­

o seu comprimento. Estas habitações

dade, a Vila Dias insere-se num univer­

não revelam nenhum cuidado estético.

Coimbra, Coimbra Ed. , 1990, LEITE, Ana

so mais vasto de povoamento operário,

São blocos compostos de j anelas e

Cristina.

situado num enclave do Vale de Chelas.

portas, com um ritmo repetido exausti­

muros,

A concentração de pátios (do Barbacena,

vamente . A nível cromático revelam

PEREIRA, Nuno Teotónio, e BUARQUE,

do Firmino, do Inglês, de José Mariano

actualmente uma opção pelo ocre ver­

Irene,

Rego e particular da Rua Alves Paiva

melho, mas no início do século encontra­

Livros Horizonte, 1995, p. 328 .

Fragoso) e das vilas (Amélia Gomes,

vam-se caiadas, com barra de outra cor.

Moreno , Cristina, Dias) conferem a

Um aspecto curioso na estrutura desta

todo este espaço um fácies peculiar de

Vila é a presença de uma casa de andar

habitação atomizada, de urbanização não

térreo , localizada mais ou menos a meio

expressamente planificada.

da rua, fronteira a um beco transversal,

Em estudos anteriores, a Vila Dias não se

na qual se cobravam as rendas em dias

encontra correctamente estudada, por­

fixos de cada mês, por um representante

que houve, por vezes, confusão com

do senhorio. Nos princípios do século

outras situações habitacionais do Alto

XX j á usufruía de iluminação a gás .

Pátios de Lisboa. Aldeias entre

Lisboa, Gradiva, 1991, p. 115;

Prédios e Vilas d e Lisboa,

Lisboa,


Vila Dias. Início do século XX. Arquivo FOlografico da CML.

Vila Dias. Aspectos actuais.



Localização - Rua de xabregas, no extinto Convento de Santa Maria de Jesus da Ordem de S. Francisco.

período de Actividade

-

1840- 1844

Fundadores - José J oaquim Soares de Faria, Francisco Rodrigues Batalha, António José Pereira Guimarães, José António Machado, fundadores da Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense.

Actividade Industrial - Fiação e tecidos de algodão.

Valor Patrimonial - A fábrica transferiu-se para Santo Amaro, onde hoje persistem os edifícios principais, com proposta de classificação no IPPAR.

Estado de Conservação - Ver, neste a Fábrica da Companhia de Tabacos de Xabregas.

Planta Aerofotogramétrica 4/7. Escala 1:2000. Maio de 1963. Actualizada em 1987.

F Á B R I C A D A C 0 rl'1 P A n H I A D E F I A Ç Ã 0 E T E C I D 0 S LISB0nEnSE

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fo ram vendidas a 40$000 réis cada. A criação da Companhia facilitou, em primeiro lugar a correlação e posterior concentração da fiação e da tecelage m , a partir d e oficinas fabris d o s proprie­ tários , localizadas noutras partes da cidad e . Entre as primeiras iniciativas consta a compra do filatório de algo ­ dão de António José Pereira Guima­ rães, situado no Palácio do Malheiro , Travessa de S . Francisco Xavier, em S . Sebastião da Pedreira. Diversas dificuldades financeiras da cardação a energia animal e da fiação mecânica que aquele fabricante po ssuía em laboração , há j á alguns anos, deter­ minaram a incorporação deste capital de origem manufactureira na nova Companhia, em 1 3 de Agosto de 1 8 3 8 .

Incéndio da Fábrica de Fiação e Tecidos da Companhia Lisbonense [veja-se a sua chaminé] . in

O Pantólogo, 184-4-,

Entre o s mecanismos utilizados cons­

C O MPANHIA de Fiação e Te ­

capital de 40 000$000 réis , no in­

tava " um motor a sangue de força de

cidos Lisbonense é um marco

tuito de explorar o negócio da fiação

seis bois " , talvez a máquina de cardar

fundamental na história industrial de

e tecidos de algodão . O contexto eco ­

ou mesmo o filatório . Trata-se, pelo

Lisboa oitocentista . Nasceu em Julho

nómico e o b eneplácito político do se­

menos de um engenh o , referido na

de 1 8 3 8 , sendo uma das muitas so­

tembrismo aconselhavam a associação

listagem de maquinismos da Com­

ciedades e empresas que surgiram

de interesses , tanto de fabricantes

panhia , a leiloar em 1 8 5 1 .

à sombra e sobre o impulso das Pau­

manufactureiros, como de negociantes

A história d a oficina d e tecelagem é

tas Alfa ndegárias de Passos Manuel .

de algodão, conhecedores da evolução

um pouco mais complexa. Dos primi­

A iniciativa devera-se a alguns pe­

da indústria têxtil nos países europeus

tivos documentos sobressaem duas

queno s empresários e capitalistas ,

mais avançados . A autorização o ficial

situações complementares: o aluguer

como José Joaquim Soares de Faria,

que marcou o início da Companhia

do Palácio dos Condes de Camaride,

Francisco Rodrigues Batalha, António

foi conferida pela Carta de Lei de 2 9

na Calçada de Santa Ana e a compra de

José Pereira Guimarães, José António

de Julho d e 1 8 3 9 .

Os primeiros

teares e outras máquinas pertencentes

Machado que , desejando ampliar as

estatutos foram publicados em 1 8 3 8 ,

à firma Pomé & C. a , com fábrica no

perspectivas dos seus negócios , deci­

pela "Typographia Patriotica" , de Lis ­

C ampo Pequeno , postos em liqui­

diram criar uma Sociedade Anónima

b o a , prevendo -se uma organização

dação , entre 1 8 3 8 e 1840 . Os maqui­

de Respo nsabilidade Limitada, com o

similar às da época. As mil acções

nismos foram transaccionados por

A

88


Luís Sauvinet, um negociante francês

ao Estado , pelo valor de 7 5 0 $ 0 0 0

operadoras fabricadas em Paris, mas

ao serviço de Pomé & c a . AB exigên­

réis, por u m período d e quinze anos .

segundo o sistema inglês . D esde o

cias burocráticas de uma sociedade por

N aquele espaço inaugur o u - s e um

início da laboração foi introduzida

acções determinou , ainda , um con­

estabelecimento modelar, atendendo

uma máquina a vapor vertical de 2 0

trato com o accionista ] osé Elias dos

às características da indústria p o rtu­

c/v, d e origem francesa, que suscitou

Santos Miranda , para aquisição de um

guesa contemporânea.

um enorme entusiasmo na Lisboa de

escritório e armazém.

Esses quinze anos não chegaram a

1840 : Produzem maravilhosos resulta­

Entre as tentativas de concentração da

cumprir-se, p o is em 12 de ] aneiro de

dos as machinas movidas por vapor, e é

fiação e tecelagem , anteriores a Xabre­

1 8 4 4 , um gigantesco incêndio defla­

bastante prasenteiro o ver que m uitas

gas , consta a da aquisição da Fábrica

grado n a ala p o ente do convento,

pessoas curiosas de examinarem de

do Campo Pequeno . D iversas dificul­

conduzirá a uma alteração significativa

perto o que têem o uvido preconisar,

dades e a constituição de uma outra

na história desta Companhia.

ficam a dmiradas quando contemplam

companhia concorrente - Companhia

Pelo facto de estar profundamente

que no país já existe o que apenas lhe

Nacional de Fiação e Tecidos (fundada

ligada aos destinos industriais de

constava haver entre os mais civilizados

em 1 8 3 9 ) 1 - impediram a persecução

Xabregas e pela sua importância na

povos (Relatório de 1840) .

dos obj e ctivo s .

cidade de Lisboa (muito emb o ra o

O novo engenho motriz foi montado

N os inícios d e 1 8 4 0 , a Fiação e Teci­

edifício do c o nvento seja referen­

p elo engenheiro Cauchoix . Esta ino ­

dos Lisb onense requereu o edifício do

ciado , mais tarde, como fábrica dos

vação , não sendo original na cidade,

Convento de S. Francisco de Xabregas

tabacos) ,

com

criara o efeito de espanto na popu­

Guia Histórico) , na posse do

algum pormenor , o momento inspi­

lação mais urbanizada . A máquina

Estado desde a extinção das ordens

rador do surto industrial de Lisboa

a vapor (alimentada por três caldei­

religiosas, de modo a viabilizar a jun­

O riental , no curto período de seis

ras) movia a fiação e a tecelagem.

ção da fiação à tecelagem. O convento

anos (1840 e 1 8 4 6 ) , em que ali esteve .

A fiação estabelecera-se no piso supe­

for a quartel e ntre 1 8 34 e 1 8 4 0 ,

A Companhia não ocupou de imediato

rior, onde se instalaram oito enge­

(ver,

importa conhe c e r ,

proj ectando-se a instalação d e uma

todo o edifício . Inicialmente esta­

nhos com 2 4 0 0 fusos. No piso térreo

penitenciária. D urante as primeiras

beleceu-se na parte nascent e , o nde

encontrava-se a tecelagem, com cento

décadas do século XIX, era rara a

integrou os 3 0 0 operários que vieram

e setenta teares, em 1844 . Para apoiar

construção de fábricas de raiz, pelo

do filatório da Pedreira e dos teares

a produção estabeleceram-se oficinas

que , em geral, as respectivas empresas

da Calçada de Santa Ana . O novo pro­

de carpintaria, serralharia , abegoaria

arrendavam ou alugavam edifícios

jecto fabril definiu-se tendo , como

e tinturaria. Em 1843 , expandiam-se

devolutos ao Estado ou a particulares.

paralelo a mecanização a vapor da fia­

para a ala poente do convento .

A C o mpanhia de Fiação e Tecidos Lis ­

ção , seguida na Inglaterra e na França.

Os textos conhecidos referem os di­

b o nense fez então um arrendamento

Adquiriram-se máquinas motoras e

ferentes tipos de produtos de fiação e

a no Campo Pequeno. Ali existia jâ uma interessante unidade industrial fundada em 1801, para servir de apoio ao I Esta Companhia instala-se na Quinta de Santo António e na Fábrica de Pomé & C. fabrico de cardações e fiações mecânicas, na qual trabalhou Francis 'Vhee1house. um dos técnicos principais da Real Fiação de Tomar, no tempo de Jãcome Ratton e Thimóteo Lecussan Verdier. Os principais administradores da Companhia do Campo Pequeno foram FeIL...: da Costa Pinto, Theotonio de Sousa Paulino e Manuel Teixeira Bastos. Em 1846, esta firma encontrava-se em crise, sendo convidada a assumir a sua gerência, a antiga sociedade, Pomé & C a .

89


tecelagem ali fabricados, denomina­

da Companhia enviam à Inglaterra , o

dos panos grossos, entre o s quais

arquitecto e o engenheiro Alexandre

Primeiros Esta tutos da Companhia de Fia ção

sobressaem cobertores , mantas , cami­

Black, para estudarem as modernas

e Tecidos Lisbonense.

sas de malha, baetilhas, cotins de linho

fábricas inglesas.

J. E . , "Companhia de Fiação e Tecidos

e algodão , grosserias, etc.

No entant o , em r 8 4 6 , a Companhia

Lisbonense " , in

Na altura d o incêndio, trabalhavam

arrendou o edifício e comprou o

n. 0 7 , 24 de Fevereiro de 184 2 , p. 7 6 ;

no edifício quatrocentos operário s .

maquinismo de uma Fábrica de Pano

C OSTA, J . E . Rodrigues, "Fabrica de Fiação

O s directores criaram u m a escola para

de Feltro , em Olho de Boi, na mar­

e Tecidos Lisbonense". in

B I B LI O GRAFIA,

Typ. Patriotica, 1838 ;

Rel'ista Universal,

Ano I I ,

O Pantó}ogo,

aprendizes, provenientes da infância

gem esquerda do Tej o , junto a Alma­

n O I, Lisboa, 1844, pp. 6 - 7 e 11-12.

desvalida , conservaram a igrej a para a

da, adaptada a fiação e tinturaria .

MARRECA, Oliveira,

Obra Económica

educação religiosa e estabeleceram

Oliveira Marreca ( 3 0 d e Novembro de

(1849), Lisboa, CEHCP/IPED , 1983,

um asil o .

r 8 4 8) refere ainda a existência d e um

pp. 55-165 ;

A fábrica manteve -se e m Xabregas de

filatório movido a energia humana ,

e Tecidos Lisbonense,

r840 a 1 8 4 6 , apesar do sinistro. Nos

em Alcântara, nas antigas tercenas,

Typ. da Revista Universal, 1855;

últimos

dois anos funcionou no

em vésperas da inauguração da má­

Relatórios d a Direcção d a Companhia de

Palácio d o Marquês de Nisa, próximo

quina a vapor do edifício de Santo

Fiação e Tecidos Lisbonense,

Estatutos d a Companhia d e Fiação

Lisboa,

C . .) ,

do convento . Mas j á nesta altura, os

Amaro .

Anos 1846-1873 (na BN, com algumas

directores e accionistas criticavam o

Na realidade , a tecelagem da Com­

falhas, cota pp - 139 V) ; "397 - Companhia

capital fixo , acumulado em edifícios

panhia estabeleceu -se, entre r 8 4 6 e

de Fiação e Tecidos Lisbonense. Breve Notícia

impróprios, na perspectiva de aumen­

r 8 5 5 , no C aneiro de Alcântar a , nas

do primeiro período d' existencia " , in

to da produtividade , nascendo a ideia

Tercenas da Casa de Pombal , numa

da Exposição Nacional das Industrias Fabris,

da construção de um estabelecimen­

zona contígua aos terrenos de Santo

l'ealisada na Avenida da Liberdade em

to de raiz, adequado à natureza da

Amaro . Nela se praticava um método

vaI. II, Lisboa,

indústria.

de tecer "ao antigo " , por contraponto

CUSTÓ D I O , Jorge, "Fábrica de Fiação e

r.

Catálogo

1888,

N . , 1889, pp. 97-II5;

A partir de r846-47, inicia-se o pro­

com a tecelagem mecânica introduzida

Tecidos de Algodões de Santo Amaro" ,

j ecto d a nova fábrica a instalar em

na nova fábrica.

in

Santo Amaro , nos terrenos adquiri­

A Fábrica Grande de Santo Amaro foi

direcção de Francisco Santana e Eduardo

dos ao conde da Ponte. O projecto do

inaugurada em r 8 49 .

Sucena, Lisboa, 1994, pp. 376-378.

edifício deveu -se ao arquitecto por­ tuguês João Pires da Fonte ( r 7 9 6 - r 873) , que irá introduzir e m Lisboa o modelo inglês das fábricas incom­ bustíveis , d e espaços racionalizados e o rganizados segundo uma lógica pro dutiva ,

adaptada à engenharia

têxtil. N a perspectiva de um empreen­ dimento deste género , os directores

Dicionário d a História d e Lisboa,


após a saída da Fábrica de Algodão da Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense, em 1844. Perpetuou-se assim uma situação existente em edifício construído para outros fins. Os industriais pouparam os custos de construção de imóvel de raiz para as suas actividades económicas. A história da fábrica de tabacos revela, no entanto, a construção de novos espaços, tanto nos claustros do convento setecentista, como na áreas livres da sua cerca, alguns dos quais chegaram até nós. A fachada da igre­ ja e do convento manteve-se sensivelmente a mesma, desde a primeira metade do século XIX. Os armazéns da Fábrica de Tabaco de Xabregas situados na Rua de Xabregas e na Rua da Manutenção Mil itar foram restaurados recentemente, pela DGEMN, para neles instalar o CAT Centro de Apoio à Toxicodependência

I; . ' /;j

/ .' Planta Aerofologramétrica 4/7. Escala

1:2000.

Maio de 1963_ Actualizada em

/�

1987.

de Xabregas, mantendo as suas características arquitectónicas . Estes edifícios evidenciam construção primo-novecentista, apresentando módulos regulares repetidos de hangares-tipo, com cobertura de duas

F Á B R I C A D E TA B A C 0 S D E X A B R E G A S

águas assente sobre asnas de madeira e

Localização - Rua de Xabregas, 44-62;

Joaquim Ferreira dos Santos (visconde

col unas de ferro fundido.

Beco dos Toucinheiros, n. 2

Ferreira), José Maria Eugén io de Almeida,

Estado de Conservação

Antigo portão de acesso ao cam inho

Manuel Cardoso dos Santos, Manuel

Classificação - O edifício religioso

de ferro, n. o 72

Cardoso da Costa de São Romão e Franc isco

(convento e igreja) não se encontra

Armazéns na Rua de Xabregas, Armazéns

José da Costa Lobo.

classificado, muito embora seja uma

do Bravo, Rua da Manutenção M i l itar.

Actividade Industrial - Fabrico de tabacos,

presença importante na paisagem de

o

período de Actividade - 1844-1965

-

Bom.

sabão e pólvora.

Xabregas, pela volumetria da sua fachada

Valor Patrimonial - A concessão do

principal . Contemplado no Inventário

e Pólvora de Lisboa: José Isidoro Guedes,

Convento de Santa Maria de Jesus de

do Património Municipal,

Manuel J osé Gomes da Costa J únior,

Xabregas para fábrica de tabacos sucedeu

do PDM de Lisboa.

Fundadores

-

Compan hia de Tabaco, Sabão

9'


industrial e empresarial da mais antiga sociedade industrial do tabaco criada em Portugal - a Companhia do Tabaco , Sabão e Pólvora de Lisboa (1844 -185°). Nas suas origens esta Companhia pre­ tendeu incluir-se nas tradições dos contratadores do tabaco - fazer um empréstimo ao Estado e segurar o novo contrato do tabaco . O anterior con­ trat o , entregue à gerência do conde de Farro b o , vinha do início da época liberal, mas só terminava em 1 8 4 6 . O r a , a nova empresa iniciara a sua acti­ vidade em 1844 , estabelecendo-se na Fábrica do Jardim do Tabaco , na Zona Oriental de Lisboa. Também obtivera capitais consideráveis na Fábrica do Caneiro de Alcântara. Da junção destas duas unidades e procurando rentabi­ A Fábrica de

O

Tabaco no antigo Convento de S. Francisco de Xabregas. João Pedrozo, óleo sobre tela, 1859. Museu da Cidade.

NASCIMENTO da indústria ta­

o tabaco fora, até à independência do

lizar as aquisições em maquinaria, os accionistas pretenderam instalar-se em

baqueira em Portugal, fora do

Brasil, uma das principais fontes da

melhores condições de êxito numa

contexto manufactureiro seiscentista,

riqueza pública, cabendo ao Estado

fábrica regular.

setecentista e primo- oitocentista, ins­

o seu arrendamento . Assim, em 1844,

Diversas circunstâncias facilitaram a

creve-se numa importante conjuntura

D. Maria II nomeia uma Comissão ,

montagem da fábrica no edifício do

económica e política do cabralismo .

presidida pelo conde de Porto Covo

C o nvento de S . Francisco de Xabregas,

A publicação das Pautas Alfandegárias

com a finalidade de estudar as melhores

a partir do ano de 184 5 , conforme

de Passos Manuel (14. de Janeiro de

formas de rentabilidade do tabaco em

ordenação do governo . Vivia-se um

1 8 3 7) criara condições propícias ao

benefício da fazenda ' .

período de euforia capitalista. Os taba­

proteccionismo industrial em Portugal ,

A conjuntura política d o país, entre

cos vicejavam desde 1674 num clima

mas dificultara os grossos negócios do

1842 e 1850, favoreceu os negócios do

de protecção estatal, que garantia o

tabaco , dependentes do mercado bra­

tabaco , pelo menos até à revolução da

monopólio , com efeitos significativos

sileiro, cuj a independência se reflectia

Maria da Fonte e à Patuleia, mas de­

na compra da matéria-prima, no estan­

na antiga metrópole, desde 1 8 2 2 . Ora,

pois reflectiu-se negativamente na vida

co do tabaco e até na sua manufactura,

I

Os restantes membros da Comissão eram o visconde da Oliveira, par do Reino. Florido Rodrigues Pereira Ferraz, Feliz: Pereira de Magalhães e Francisco António Fernandes .da Silva Ferrão,

conselheü·os. O D ecreto da Secretaria deEstado dos Negócios da Fazenda vem referendado pelo respectivo ministro de D . Maria n, barão do Tojal (Diário do Governo, Lisboa.

92

1844,

n. o

89).


quando se pensou produzi-lo num

que o fabrico de tabacos continuasse no

regime fabril. A criação da Companhia

Convento de Xabregas, local que se tor­

Confiança Nacional e do Banco de

nou uma espécie de catedral da sua

Lisboa estabeleceu elos fortes entre ca­

produção em Portugal, entre r846 e

pitalistas e banqueiros , aliança fomen­

r 9 6 5 . Todavia, se ali se manteve mais do

tada por Costa Cabral. A r de Maio de

que uma centúria, não significa que

r 8 4 6 , o contrato de tabaco era assim

a empresa administradora fosse sempre

entregue à nova Companhia, represen­

a mesma, em termos de designação e

tando a parte fabril, Francisco da Costa

de grupos económicos. Independente­

Lobo , enquanto José Maria Eugénio de

mente da persistência de capitais dos

Almeida e José Isidoro Guedes ficavam

mesmos grupos monop olistas ,

responsáveis pelo sector comercial.

rificaram-se significativas mudanças

ve­

O contributo empresarial de Francisco

relacionadas com os sistemas de explo­

da Costa Lobo é geralmente reconhe­

ração e contratos do tabaco e ainda de

cido e encontra-se documentado nas

objectivos empresariais. Acrescente-se

mais importantes referências biblio­

que o estudo dos tabacos e da Fábrica de

gráficas da indústria dos tabacos. Os

Xabregas não é muito fácil, pela diver­

métodos de produção de rapé e de

sidade de aspectos políticos, económi­

manipulação dos charutos tinham evo­

cos, sociais e financeiros que envolve ,

luído . O sistema manufactureiro , de

sobretudo se se pensa numa pequena

tradição espanhola, encontrava -se em

síntese.

Lisboa a Thomar.

decadência pela introdução de tecnolo­

Entre r 8 5 0 e r 8 5 7 , a Fábrica de

a Companhia Nacional de Tabacos

gias fabris oriundas da Inglaterra, da

Xabregas esteve entregue à Comp anhia

( r 8 5 7 - r 8 6 0 ) , dando posteriormente

Fâbrica de Tabacos de Xabregas, i n ExcursioJl industridle de Lisboa, 1899, p. 34.

França e da Alemanha.

do Tabaco e Sabão de Lisbo a , demons­

forma à Companhia da Fábrica de Xa­

A nova Companhia pensou de imediato

trando - s e , mais uma vez, a relação

bregas (r8 6 0 -r8 65) . Com esta última

na mecanização dos fabricos. Em r846, a

intrínseca ancestral entre o estanco do

termina uma etapa do monopólio da

Fábrica de Xabregas dispunha de duas

tabaco e o do sabão, adjudicada a gran­

indústria em Portugal, começando um

máquinas a vapor, de origem inglesa,

des famílias da capital, as quais força­

novo regime de liberdade fabril e

para picar as folhas de tabaco e fazer rapé,

vam a perpetuação do monopólio. Foi

comercial, permitindo a fundação de

cada uma com 25 c/v. A montagem dos

neste período que Francisco da Costa

inúmeras fábricas no território conti-

motores determina o início da produção

Lobo leva os produtos de Xabregas às

no referido Convento , pois houve entre

exposições de Londres de r85r e de

nental e nas ilhas adjacentes (legislação de Joaquim Thomaz de Lobo d 'Âvila).

r845 e r846 , de fazer as adaptações e

Paris de r 8 5 5 . Mas o curto tempo de

A importância adquirida pelos tabacos

instalar os equipamentos, numa situação

sete anos não teve grandes reflexos na

de Xabregas, desde r 8 4 6 , viabilizou a

algo confusa de mudança de inquilinos.

vida da fábrica.

sua continuidade na nova fase de li-

O desaparecimento da Companhia do

Uma nova empresa monopolista vai

berdade comercial, entre r865 e r888 .

Tabaco , Sabão e Pólvora não impediu

nascer sobre as bases das anteriores,

Mais do que viabilização tratou-se de

93


renovada Companhia da Fábrica de

formada por Fonseca Santos & Viana,

Tabaco , em Xabregas, a nova compra­

Azevedo & Irmão , Francisco Ribeiro da

dora do edifício , das máquinas e dos

Cunha e j oão Henrique Ulrich júnior,

seus utensílios ao Estado , pelo valor de

sendo seu presidente António Augusto

r 4IO 500$000 réis. Na passagem do

de Aguiar.

regime de monopólio para o livre , os

Entre r865 e r 8 8 0 , a vida da Fábrica de

operários tabaqueiros desempenharam

Xabregas prende-se a uma etapa muito

junto do governo um papel fulcral,

complexa de lutas laborais, que vão

solicitando a liberdade de indústria,

desde o despedimento de centenas de

situação que contribuiu para ultrapassar

operários até à contratação de mulheres

os esquemas organizativos manufac­

e crianças para as actividades fabris

tureiros ainda persistentes. A represen­

(cerca de r879) , vários ciclos de greves,

tação operária determinou a publicação

participação nos movimentos da Inter­

da Carta de Privilégios da Companhia

nacional Socialista, fases sem laboração

da Fábrica do Tabaco em Xabregas

e surgimento de associações dinâmicas,

(r864) , através da qual o rei D . Luís e o

como a Associação de Socorros Mútuos

ministro joaquim Thomaz Lobo d 'Ávila

Fraternal dos Operários dos Tabacos,

fazem saber a todas as autoridades, quais

que publica a I I de Outubro de r 8 7 9 , o

as isenções, privilégios e liberdades que

jornal A Voz do Operário.

conferem aos caixas gerais da fábrica de

O estabelecimento do exclusivo dos ta­

tabacos de Xabregas - isto é, um regime

bacos em Portugal continental, ini­

de privilégio em plena liberdade comer­

ciativa do Estado liberal, entre r888 e

cial e fabril.

r89r, determinou que a Fábrica de Xa­

Um ano depois, processa-se a fusão

bregas funcionasse sob a tutela da admi­

Aspecto actual do extinto Convento de Xabregas.

da Companhia da Fábrica de Tabaco ,

nistração central durante três anos . É o

construção do seu lugar proeminente

em Xabregas com a Companhia de

período da " Régie" , obra económica de

no universo da indústria tabaqueira

Tabaco e Sabão da Boa Vista, nascendo

Oliveira Martins, através da Adminis­

portuguesa, pois mesmo em regime de

a Companhia Nacional de Tabacos em

tração- Geral dos Tabacos. Nessa época

liberdade, alcançou o monopólio efec­

Xabregas, cuj a existência se prolonga

manufactura o tabaco de rapé, o tabaco

tivo do tabaco até à emergência da

até r 8 8 I . A concentração acelera-se,

fino de tipo havanês, os havaneses, La

Tabaqueira de Braço de Prata (r927) .

envolvendo agora a Companhia Lisbo­

Palomita e as cigarrilhas Exploradores

Para Raul Esteves dos Santos, Xabre ­

nense de Tabacos (Fábrica da Cruz

Portugueses e Suissas.

gas constituiu o fulcro à volta do qual

de Santa Apolónia - ver este Guia) ,

No entanto , a partir de 23 de Março de

viria a girar a indústria tabaqueira no

dando origem à Companhia Nacional

r 8 9 r , o Estado concedeu o exclusivo

nosso País ( Os Tabacos, r974) . A nova

de Tabacos de Lisboa. Em r 8 8 r , a

do fabrico no continente a empresas

etapa inicia-se eTn r 8 65 . A unidade

fábrica ficou entregue

uma Sociedade

que concorressem para o efeito . Assim,

industrial passa a ser administrada pela

Anónima de Responsabilidade Limitada

entre r89r e r927, a Fábrica de Xabregas

94

a


esteve sob a égide da Companhia dos

sas , na sequência dos acontecimentos

Tabacos de Portugal, empresa com sede

políticos do �5 de Abril, determinaram

em Lisboa. Foi a oportunidade para a

a integração da Intar com a Tabaqueira,

entrada do grupo económico e ban­

SARL, dando origem à Tabaqueira

cário liderado por Henry Burnay no

- Empresa Industrial de Tabaco s , EP

monopólio do tabaco, tanto em Xabre­

(I9 7 6 - I99I), desde I 9 9 I , uma Socie­

gas como nas suas filiais. O capitalista

dade Anónima.

era rival do Banco Santos & Viana,

A alteração de sociedades ao longo

de Francisco Isidoro Viana. Nunca até

destes cento e cinquenta anos, se bem

então , as relações entre a indústria do

que muito útil , não explica cabalmente

tabaco e a história económica do país se

o movimento industrial da Fábrica de

mostraram tão fortes. De facto , a en­

Xabregas , as suas particularidades e

trega do novo contrato representara

resultados. Nos primeiros anos, a di­

a realização de um empréstimo com a

minuição do número de operários de

finalidade de consolidar a dívida flu­

I�35 (I85�) para 800 (r88I) , para 5I8

tuante e a despesa extraordinária do

(I890) reflecte a progressiva intro­

Estado nesse período de crise política e

dução de máquinas operadoras e a

económica, que fez vibrar os portugue­

gradual mecanização e a diminuição do

Cigarreiras d e Xabregas. fotografia d a aguarela d e Roque Carneiro. in Francisco Câncio. Arrabaldes de Outro,.a, \'01. II. cad. 5, pp. 33·

ses depois do Ultimatum inglês e do 3I

trabalho braçal, característica essen­

cigarros aumentavam também (de dez

de ] aneiro do Porto.

cial da indústria na sua fase manu­

para dezasseis), mas dominava a panó ­

Terminada a administração monopo­

factureira. A estrutura tradicional do

plia de maquinismos para picar, cortar

lista ocasionada pela Régie de I890-9I,

trabalho dará lugar à especializa­

o tabaco , moer o rapé e engenhos de

a Companhia de Tabacos de Portugal

ção profissional (charuteiros/as, hava­

pique. Aliás, a produção reflectia ainda

dissolve-se e restabelece-se uma outra

neiros, cigarreiras, empacotadeiras) .

as utilizações dos tabacos no universo

com nova designação , a Companhia

A produção sinaliza também as capaci­

cultural oitocentista. Em I88I, fabri­

Portuguesa de Tabacos, SARL (r9�7-

dades técnicas do fabrico nas diferentes

cavam-se lIOO charutos/dia por dois

-I965). Foi esta última, que virá a cons­

etapas.

operários e 400 havaneiros/dia/ope­

tituir a Intar - Empresa Industrial de

Os Inquéritos de I 8 8 I e I 8 9 0 são

rário, produziam-se também cigarrilhas

Tabacos, SARL (I9 6 5 - I976) . Duran­

fundamentais para um entendimento

(� kg/dia/operário) e cigarros (idem) ,

te o último período da Companhia

mais adequado da Fábrica de Xabregas,

mas a dominante era o tabaco picado , o

Portuguesa de Tabacos, SARL (I957-

numa altura que se iniciam novas

de pó e o rapé.

-I965) o fabrico de tabacos sai do

mudanças empresariais. A crescente

O diagrama de fabrico pressupunha a

C onvento de Xabregas para um novo

complexificação das tarefas obrigava à

existência de um directo r , um sub­

edifício construído de raiz situado em

utilização de força motriz a vapor: duas

-director, um engenheiro , um mestre de

Cabo Ruivo , implicando uma mudan­

máquinas fixas em I88I (55 c/v) e três

rapé, um mestre da folha picada e dois

ça radical na história deste sector em

em I890 (I50 c/v) , para além de uma

mestres de charutos. O pessoal mais

Portugal. A nacionalização das empre-

locomóvel (8 c/v) . As máquinas de fazer

habilitado era estrangeiro. A unidade

95


que ainda hoj e se conhece à direira do convento . Trata-se de um novo edifício construído de raiz, com organização industrial em três pisos e uma fenes­ tração regular, destinado à mecanização dos fabricos dos tabacos enrolados. Em 1898, a sua produção atingira um renome nacional, com os seus cigarros finos e ordinários e com as suas capas de tabaco (mimosos, elegantes, coquettes e chie) e as suas capas de papel (Santa Justa, Negritas, Emir, High-Life, Oran, Antoninos, Lusos, Gamas, Elegantes e Egypcias) . Houve também que melhorar a rede comercial e iniciar a exportação para o mercado ultramarino . Um importante incêndio na Fábrica Ampliação da Fâbrica de Xabregas. 1892.

de Xabregas (1904) , suscitou apreen­

fabril possuía, em 1 8 8 1 , oficinas de

de largas tradições : Banco Fonseca,

sões . Mas o acidente não afectou os

litografia, pregaria, carpintaria e serra­

fabricos nem o comércio , salvando-se

lharia, tornando -se auto-suficiente.

Santos & Viana, conde Daupias, Henry Burnay & C. a , Carlos Maria Eugénio

os arquivos da administração. A reno­

A concessão de 1891 à Companhia de

de Almeida, entre outros.

vação do contrato em 1906, permitiu à

Tabacos de Portugal, do exclusivo do

As novas relações da Companhia de

Companhia dos Tabacos de Portugal,

fabrico , aumentou a força dos indus­

Tabacos de Portugal com o capital

independentemente dos ataques da

triais de Xabregas, então a fábrica-mãe

(70 % do total) e técnicos estrangeiros,

comunicação social e do conflito de

de quatro unidades industriais, duas em

geraram algumas novidades nas fábricas

interesses com a Companhia Portu­

Lisboa e duas no Porto (Lealdade e

portuguesas após 1891, nomeadamente

guesa dos Fósforos, continuar a gerir

Portuense) . Os seus capitais ascendiam a

na fábrica-mãe de Xabregas . A insta­

com qualidade as unidades fabris de

nove mil contos. Todas produziam uma

lação de novas máquinas para enrolar

que dispunha.

média de 2 500 000 kg por ano , la­

cigarros e cigarrilhas, permitiu a pro­

A história da administração desta

borando com um universo de seis mil

dução de uma média de 100 mil uni­

Companhia, entre 1891 e 1 9 2 7 , per­

operári o s . Nas novas circunstâncias

dades/dia,

o nde primavam marcas

mitiu a afirmação da industrialização

sociais foi possível criar uma caixa de

diversificadas e produtos de qualidade

dos tabacos, mas nas condições acima

socorros para os operários, instituída

superior para exportação .

apreciadas. Este período corresponde

por João Paulo Cordeiro. Grandes ca­

Data de 1 8 9 2 , uma importante alteração

também ao alargamento dos espaços

pitalistas portugueses ou naturalizados

da presença da fábrica na paisagem de

fabris na zona cle .Xabl'egas . O aumento

encontravam-se ligados a uma indústria

Xabregas. É desse período a ampliação

da produção pressupunha a existência

96


de largos e vastos armazéns, áreas que contribuíram para o enxamear dos negócios e da paisagem social tabaquei­ ra da Zona Oriental da cidade. Em 1 8 9 6 - 9 7 , adquirem-se os armazéns do Bravo e, por volta de 1902 , cons­ troem-se os da Rua de Xabregas e da Manutenção Militar. Por outro lado , o facto da Companhia pagar uma renda fixa ao Estado , não impediu que o país saísse deste negócio prejudicado . As próprias relações entre o Estado repu­ blicano não foram as melhores, con­ tribuindo a questão dos tabacos para a instabilidade política anterior à instau­ ração do regime ditatorial do 28 de Maio. Em 1 9 2 7 , os edifícios de Xabregas são integrados nos bens da C ompanhia Portuguesa de Tabacos (capital de 2 000 002$50 escudos/ouro) . Duran­ te esta gerência a Fábrica de Xabregas receberá bastantes b eneficiações

e

adaptar-se-á aos novos tempos. Uma das mais importantes obras deste pe­ ríodo foi a instalação de uma Cen­ tral Eléctrica (1929) . A montagem da Central Eléctrica, da qual se conhecem os alçados, determinou a demolição de uma Casa das Caldeiras e outras obras do século XIX. A arquitectura da Central Eléctrica obedeceu à lógica da implantação da fábrica, erguendo-se num dos pátios da fachada norte do convento . O edifício constava de dois corpos gémeos com cobertura de lanternins , sobre asnas de madeira à

Fabrica de Tabacos de Xabregas, Alçado. I8g2. Arquivo de Obras. CML

97


[CDMPRNH/R

.PDR TU5UEZA

= r.A E1R/C.A

DE

TFiBFiCDS

DE X.AE1.RE5A .5

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....

Fábrica de Xabregas. Central Eléctrica. Casa das Caldeiras. Óleos.

1927.

Arquivo de Obras. CML.

francesa , servido por cinco portas e

Equipou-se ainda uma maternidade e

Neste período, assistiu-se a uma alteração

quatro j anelas, todas com bandeiras de

serviços médicos. A organização e finan­

na estratégia das produções da Compa­

volta inteira e vidraças. No interior a

ciamento dos serviços de assistência

nhia, na qual colaborou a Fábrica de

central ocupava o espaço de um dos

da Companhia Portuguesa de Tabacos

Xabregas. O fabrico de cigarros de carac­

corpos, enquanto no outro se encon­

dirigia-se a todo o pessoal da firma,

terísticas populares e de grande consumo

trava dividido entre a Casa das Caldei­

envolvendo o acompanhamento clínico

crescia perante o impacto introduzido

ras e um depósito para óleos.

completo, para além da maternidade e

pela empresa concorrente, a Tabaqueira.

Na sequência da sua política social para

creche. O modelo assistencial integrava as

Assiste-se ao reforço da mecanização do

os operários, em 1936, a Companhia

caixas de reforma (10 % sobre o salário) ,

sector cigarreiro e à introdução de

Portuguesa de Tabacos solicita autoriza­

reformando por sua própria conta a cate­

marcas de relevo no mercado , tabaco fino

ção da Câmara Municipal para demolir

goria mais antiga do pessoal (Indústria

e aromático (marcas Aviz, Sporting,

uns pardieiros sitos na Rua de Xabregas,

Portuguesa) , atingindo a quantia de

Sagres, entre outras) .

n. o 6 0 , para ali construir o edifício da

2046 contos, em 1936. Ainda em 1945,

Nos anos 5 0 , esta Companhia era pro­

creche para os filhos dos seus operários,

é ampliado o refeitório, a partir de obras

prietária de um grande empório taba­

bem como das instalações da Direcção­

executadas no espaço de = dos claustros

queiro na Lisboa Oriental. Para além,

-Geral dos Serviços Fabris e Técnicos.

do convento, à direita da igreja.

das duas fábricas, a do Convento de


Xabregas e dos armazéns da Cruz

do Cabo Ruivo , o cigarro com filtro

B I BLIO GRAFIA,

de Santa Apolónia, dispunha de uma

(195 8) , o cigarro de filtro extralongo

Companhia de Tabaco, Sabão e Pólvora. Lisboa.

litografia na Calçada dos Barbadinhos , n . o 2 5 , d o s armazéns na Rua d e Xabre­

(1959) e os cigarros de lote ultramarino

1853;

exclusivo .

Fábrica do Tabaco em Xabregas, durante o

gas e do Bravo , na Rua da Manutenção

A mudança das instalações fabris de

Semestre do Ano de

Militar (estes armazéns vieram a situar­

Xabregas para Cabo Ruivo o c o rreu

Nacional, 1864; " Companhia Nacional de

-se nos terrenos adquiridos à fazenda

durante o ano de 1962 , mas manteve-se

Tabacos. Fábrica de Xabregas" ,

nacional e a D. José da Costa Men­

ainda em 1 9 6 3 , altura em que a Fábrica

Industrial de

donça de Menezes, em 1902) .

de Xabregas conclui a sua longa história

Visita às Fábricas, Lisboa, L N . , 1881, pp. 333-

A renovação do contrato de tabaco com

relacionada com a manipulação e o

-337; "Fábrica de Tabacos de Xabregas,

a Companhia Portuguesa de Tabacos,

fabrico de tabacos.

in

Carta dos Privilégios da Companhia da

Inquérito

1881, Inquérito Directo,

O Réc1ame,

2. o

1864-, Lisboa, Imprensa

� a

Parte.

n. o � 4 , Lisboa, Agosto de 1885.

depois do triénio de 1 9 2 7 - 1 9 5 7 , fez

Quando a empresa muda de razão

RODRIGUES, Guilherme, "O Edifício

voltar a sua administração à Fábrica de

social, em 1965, a indústria de tabacos

da Fábrica de Tabacos em Xabregas" ,

Xabregas, pela última vez. As circuns­

estava completamente estabelecida em

em

tâncias históricas desta renovação são

C ab o Ruivo, integrando as fábricas

N ationale de Tabacs", in IVê Centenaire de la D écouverte de la Route Maritime des Indes.

O Recreio,

pp. � 1 2 - 2 1 3 ; "Compagnie

acompanhadas pela morte dos seus

Lisbonense e as do Porto , para além da

principais administradores , uns anos

fábrica-mãe . Uma nova fase da indús­

Excursion industrielle de Lisboa à Thomar,

Lisboa, 1899, pp. 34-38 ; "Companhia

antes. Manuel António Moreira Jú­

tria do tabaco inicia-se em Portugal.

nior (tI953) e João Henrique Ulrich

Até então a Companhia exercia a sua

Portuguesa de Tabacos. Assistência Particular

(tI956) tinham sido os continuadores

actividade nas fábricas do Estado , por

ao Pessoal" , in

da obra da Companhia de Tabacos de

arrendamento . Com a criação da fábri­

CASTRO, Armando, "Tabaco, Indústria de",

Portugal e da administração das suas

ca de Cabo Ruivo , a empresa dispunha

in

quatro empresas. Os novos adminis­

de unidade fabril própria mediante

Livraria Figueirinhas, 1967; SANTOS, Raul

tradores pensaram em outros voos.

licença, pondo ponto final nas carac­

Esteves dos,

Mantiveram as estratégias de concor­

terísticas fabris emergentes das práticas

da Nação,

rência com a sua émula de Braço de

da contratação de tabaco, que eram a

MORAlS, Maria Paula Paiva de Oliveira Serém

Prata, introduziram melhores métodos

norma antecedente.

de;

Indústria Portuguesa,

1937;

Dicionário d e História d e POl'tugal,

Porto,

Os Tabacos. Sua Influência na Vida

2 volumes, Lisboa, Seara Nova, 1974;

A Companhia Nacional dos Tabacos

de fabrico e pensaram, nos finais da

Depois da saída do fabrico de tabacos de

- 184-4--1927, Lisboa, 1990 (manuscrito) ;

década de cinquenta, na construção de

Xabregas ocorreram diversas utilizações

RAMOS, Albertina, UInventário do Património

uma nova fábrica que encerrasse o esta­

do espaço conventual. O Instituto de

Industrial de Lisboa - Vale de Cheias",

belecimento de Xabregas . Essa fábrica

Formação Profissional encontra-se ali

in I .a sJornadas lbericas d e Patrimonio

inovador a será montada em Cab o

instalado, desde 1976. O Teatro Ibérico

Industrial y la Obra Publica. Sevilla-Motri1

Ruivo , perto d o s Olivais . A ideia estava

ocupa a antiga capela do convento. Mais

(990), Sevilha, Junta de Andalucia, 1994, pp.

já no papel em 1958, prevendo-se a sua

recentemente, os armazéns da fábrica

179-180 ; CÂMARA, João de Sousa da,

abertura no ano de 19 6 2 .

da Rua da Manutenção Militar, após a

da Tabaqueira,

Entretanto , a empresa ainda lançou

sua recuperação

no mercado, antes da unidade fabril

entregues à CAT.

ela D GEMN , foram

99

História

Lisboa, Tabaqueira, 199 5 .



Loca l ização

-

Rua de Xabregas,

período de Activi dade - 1 8 88 - 1 9 8 5 Fundadores

-

Ernesto D r i e s e l S c h roeter,

Manuel J osé da S i lva e A ug u s t o V i cente R i be i r o .

Actividade Industrial

-

Fiação

e t e c i dos de a l g o d ã o .

Valor Patrimonial

-

Sem v a l o r .

Estado de Conservação

-

Só existe o

a n t i g o j a n e l ã o s up e r i o r , em ferr o , com a data de fundação. A l g un s e d i f í c i os foram adaptados a h a b i ta ç õ e s , n o proj ecto de urb a n i zação q u e decorreu após a e x t i n ção d a fábri c a .

Classificação

Planta Aerofotogramitrica 5/7. Escala

1:2000.

Maio de

1963. Actualizada em 1987.

,

F A B R I CA D E F I A Ç A 0 E T E C I D 0 S 0 R I E nTA L ( V V L C O , F Á B Rj C A D A S V A RJ\ n D A S )

101

-

N ã o tem .


E

M XABREGAS, a Fábrica Oriental de Fiação e Tecidos foi uma das

mais emblemáticas e importantes uni­ dades têxteis, deixando uma auréola na vida social e na história do bairro .

Abel Botelho refere-se -Ihe no seu romance AInanhã, no tempo em que j á era conhecida p o r "Fábrica das Varan­ das " , designação popular que se man­ teve até ao encerrament o . Na história do operariado português é um marco indispensável, porque anda intrinseca­ mente associada a dirigentes operários, greves e lutas sociais, que motivaram frequentes despedimentos e outros acontecimentos de relevo na sua exis­ tência de cerca de cem anos. A fábrica foi fundada pela Companhia Oriental de Fiação e Tecidos, um sociedade anónima criada em 2 de Abril de l888. Nos primeiros anos foi dirigi­ da por Ernesto Driesel Schroeter (l8501942) e Manuel José da Silva . O capital inicial era de 400 contos. Em l4 de Agosto de l 8 8 8 , a referida compa­ nhia estabeleceu um contrato com Fran­ cisco Baerlein, representante da firma Baerlein & C . a de Manchester, para a construção de uma fábrica de primeira classe, nos seus terrenos de Xabregas . Francisco Baerlein concretiza o projec­ to entre essa data e 3l de Agosto de l89l , fornecendo o maquinismo mais aperfeiçoado para a indústria de fia ­ ção e tecelagem de algodão, incluindo uma máquina a vapor. Esta máquina foi Fachada da Oriental.

18g8, in Excursion indus/ridle de Lisboa à Thomar, p.

adquirida à metalúrgica de Oldham,

4-1.

102


Buckley & Taylor, um credenciado fa­ bricante da região de Manchester que também equipou a Fábrica de Fiação e Tecidos de Soure. Baerlein instalou ainda uma central de energia eléctrica para iluminação das oficinas. É conheci­ do o maquinismo completo da fiação e da tecelagem adquirido para Xabregas. A nova fábrica, muito embora fosse equipada com o melhor que existia nessa altura para indústria têxtil , não ficou desde logo perfeita, devido a um pro ­ blema grave ocorrido na máquina a vapor. Por essa razão, entre Dezembro de 1891 (altura da inauguração) e 189 3 , houve u m contencioso judicial entre os empreiteiros e a Companhia. O estabelecimento fabril encontrava-se pro tegido da via pública por uma

Aspecto da Oficina de Tecelagem. in Carlos Bastos,

correnteza de um piso , onde ficavam as

de vista arquitectónico construíram-se

decorreu até 1 9 2 0 . Nessa altura pro ­

O

Algodão ... extratexto 48-49.

oficinas , sobre as quais se situavam as

edifícios semelhantes aos da Fábrica de

cedeu -se à alteração dos estatutos e ao

varandas . Atrás encontravam-se as duas

Fiação e Tecidos de Soure, em tij olo e

aumento do capital (550 contos) . As

oficinas principais, a fiação e a tecela­

ferro , com coberturas em shed viradas a

diversas crises fabris, entre a I Guerra

gem, em edifícios separados, construí­

norte.

Mundial e a crise da Bolsa de Nova

dos com dois pisos cada um. A fiação

Após as dificuldades iniciais a têxtil

Iorque 1 9 2 9 , reflectiram-se na vida da

organizava-se longitudinalmente à via

passou a funcionar regularmente, desde

empresa.

pública e a tecelagem transversalmente ,

1893, com o capital inicial. Entre os

A partir de 1 9 3 0 , a liderança da admi­

logo a seguir à portaria e à escada que

principais produtos refiram-se diversos

nistração coube a um empresário ca­

subia até aos escritórios .

números de fios, tecidos e estofos (panos

talão, Lorenzo Cisa y Tay. A planta

Junto a essa escadaria encontrava-se um

crus e enfestados, lonas, sarj ões) . Ocu­

fabril sofre alterações, ocupando agora

grande j anelão em ferro fOljado e fun­

pava 425 operários (189 8 ) .

uma área de 15 000 m2• Segundo Carlos

dido , com a data da fundação : 1888.

A ausência d e documentos inviabiliza o

Bastos compreendia cinco secções: fia ­

Esse janelão iluminava a casa das má­

estudo mais pormenorizado da empre­

ção, com doze mil cento e sessenta

quinas, onde foi instalado um motor

sa, entre os princípios do século XX e o

fusos; tecelagem, com trezentos e qua­

a vapor coumpond, de alta e baixa

início da década de quarenta. No en­

renta e sete teares; branqueio e acaba­

pressão da marca Buckley y Taylor, com

tanto , apurou-se que a sua laboIação ,

.1llento; produtos .hidl'ól'ilos; e fios para

válvulas Corliss e com 320 c/v. Do ponto

nas condiçõ es técnicas de o rige m ,

embalagem e fita vegetal (1947) . A nível

1° 3


não se implementou o reequipamento da oficina de tecelagem, tal como a concorrência o exigia . A gerência d e Ciza y Tay prolongar-se­ -á até 1950. Após a sua morte ascende a gerente Elysário Gomes Xavier. A déca­ da de cinquenta caracterizar-se-á por uma grande queda dos lucros da em­ presa que se reflectirão nas opções industriais dos anos seguintes. Assim, em I962 , encerra-se a secção de tecela­ gem, que é transferida para o Porto, para uma empresa do grupo económico a que pertencia. A Empresa Oriental de Fiação e Tecidos manter-se-á em funciona­ mento até aos inícios da década de oiten­ ta, apenas com a secção de fiação . Aspecto da Secção de Fiação. in Carlos Bastos,

O Algodão

..

A política social da empresa registou extratexto 48-49.

uma mudança significativa entre os

de produção enveredou-se para teci­

Em 1941, eram administradores João

finais de 40 e a década seguint e .

dos mais finos (cassas, bretanhas, es­

A história laboral d a Fábrica O riental

tamparias, etc. ) e algodão e gazes para

da Rocha Leão , Lorenzo Cisa y Tay e Armando Chaves d ' Oliveira, demons­

farmácias. Especializara-se também no

trando a existência de u m p eríodo

múltiplos

de Xabregas encontra-se recheada de acontecimentos

laborais

ramo das fitas e fios vegetais, organi­

liderado por directores luso -espanhóis.

(greves , despedimentos) . A mudança

zando-se em oficina especializada.

Uns anos depois, em 1947, entrou para

de atitude apoiada pelo Estado Novo

Quando ocorreu a Exposição do Mun­

a administração o Eng. Tomás da Rocha

permitiu suprir parcialmente as críticas

do Português, em 1940, os terrenos e

Leão de Sousa Eiró . Esta mudança

dos operários, em relação à assistência

suas construções valiam 2II contos e as

parece relacionar-se com novo aumen­

social. Constrói-se um edifício apro­

máquinas e utensílios 3 3 8 conto s ,

to de capital (5500 contos) e o reforço

priado para os diversos serviços, como

podendo afirmar-se ter chegado a um

do Fundo de Reserva. As autorizações

uma creche , um refeitório , cozinhas e

ponto alto da sua história, apesar das

do Condicionamento Industrial per­

um posto de socorros.

crises políticas e sociais e das mudanças

mitiram uma profunda alteração do

Em 1 9 7 6 , reflectia-se na Fábrica de

conjunturais dos últimos quarenta anos.

equipamento fabril, nos últimos anos

Tecidos Oriental os problemas econó ­

A antiga unidade fabril dos finais do

da década, adquirindo-se à Inglaterra

micos e sociais criados após o 25 de

século XIX era então conhecida por

máquinas para as o ficinas de preparação

Abril . Pertencia então a Manuel F. A.

Empresa da Fábrica de Eiação e Tecidos

e de fiação (abridores, batedores , car­

Coimbra e encontrava-se em laboração

Oriental.

dação , penteação e torcedura). Todavía,

intermitente por falta de matéria-

1 04


Aspecto actual dos edifícios fabris apôs reconversào do espaço.

-prima, baixa de produção e dificulda­

B IBLIOGRAFIA,

anos I938-I940, Lisboa, I940 e I94I ;

de de obtenção de acessórios para as

Questão da Companhia Oriental de Fiação e

BASTOS, Carlos, "Empresa da Fábrica

máquinas. Os edifícios encontravam-se

Tecidos com F. Baerlein, relativamente ao

de Fiação de Tecidos Oriental", in

em mau estado , laborando ainda 254

Fornecimento e asentamento do m a chinísmo

no Comércio e na Indústria Portuguesa,

operários, a maioria mulheres.

n a mesma Companhia de Xabregas,

Finalmente, em 1 9 8 3 , o seu encerra­

Typographia de Augusto Vieira, I893;

Lisboa,

mento estava iminente. O conjunto

" Compagnie Orientale de Filature et Tissus" ,

fabril foi depois objecto de uma urba­

in IVê: Centenaire d e l a Découverte d e la Route

nização , mantendo-se a volumetria e

Maritime des Indes.

morfologia industriais, preservando -se

de Lisboa à Thomar,

apenas o jan.elão de

Relatório

agora no piso térre o .

en:.o , localiz.ado

Excursion industrielle

Lisboa, I899, p. 4 2 ;

Contas da Empresa da Fábrica

de Fiação e Tecidos Oriental,

'°5

SARL,

O Algodão

Porto, Grémio dos Importadores de Algodão em Rama, I947, pp. 37-38.



ocupada. Trata-se também de u m a implantação carismática, pois esta unidade da indústria a l i mentar ocupou um dos edifícios rel i g iosos desfuncional izados p e las reformas l ibera i s , o Convento das Carm e l itas, m a i s conhecido p o r Grilas. Destaca-se na paisagem e i dentifica o sector industrial, o conj unto de s i l os, j unto à R u a da Manutenção. O edifício principal, e x - l íbris da fábrica da Manutenção M i l i tar apresenta uma vol umetria e uma organ ização arquitectónica semel hante aos edifíc i os industriais ingl eses dos meados de Oitocentos. Um edifíc i o que apenas mantém as características funcionais l i gadas à arquitectura é a antiga central e l éctrica. Recon hecível pelos seus janelões em vidro, de arco de volta perfeita, d istribuídos por toda a superfície. Tem frente para a Rua do Grilo. Aquando da comemoração dos cem anos de existência ( 1997), a Manutenção M i l itar inaugurou u m pequeno núcleo museológico, onde retrata a evol ução e a h i stória desta instituição, apresentando também bons

Planta Aerofotogramétrica 5/7- Maio de 1963_ Actualiz.ada em 1987_

exem p l ares de a lgumas das máqu inas

Ill A n U T E n ç Ã 0 Ill I L I T A R Localização - Rua do G r i l o . período de Actividade

-

1897- 1998 >

Fundadores - O Estado Português.

do percurso fabri l .

Valor Patrimonial - O conj unto edificado

Estado d e Conservação - Bom.

é dos mais significativos da

Classificação - Sem c l assificação.

industrial i zação da Zona Oriental

Actividade Industrial - Indústria alimen­

de Lisboa, pelo seu grande n úmero de

tar (fabrico de pão, bolachas, massas).

instalações fabris e pela vasta área

107


Visita de D. Carlos a uma das fases de construção da Manutençào Militar. C. de 19°3-19°7. Foto António Novais. Arquivo Fotográfico da CML.

n UANDO O conde de Lichtnovsky '+' vfsitou Portugal em 1 8 4 2 , o

estatal relaciona-se com o fornecimen-

enquanto regente do reino (ver, Guia

to de pão ao exércit o . Ainda que o esta­

Histórico) e, como tantos outros da

belecimento desta padaria tivesse um

Zona Oriental de Lisboa, refuncionali­

carácter experimental, em breve o seu

zou-se após a extinção das ordens reli­

crescimento excedia o espaço funcional

giosas.

disponível.

Só no último quartel do século XIX, se

AI;sim, a necessidade de escolher uma

constroem os edifícios modernos que

outra localização tornou-se imperiosa.

constituirão as bases da industrialização

Uma das principais preocupações na

de sector alimentar do exército por­

selecção de um novo local prendia-se

tuguês . De modo a acelerar a instalação

com as acessibilidades. O estabeleci­

da Manutenção por conta do Estado ,

mento dos edifícios que abasteceriam

houve a necessidade da criação de uma

os géneros alimentares ao exército devia

nova comissão instaladora, com base na

localizar-se próximo de boas vias de

Carta de Lei de 19 deJulho de 1888, e de

comunicação , quer terrestres, quer

uma portaria do ministro da Fazenda.

abastecimento do exército português em

marítimas. Em 1 8 8 6 , o então ministro

O relatório apresentado , a 5 de De­

géneros alimentares, nomeadamente

da Guerra, visconde de S. Januário

zembro desse mesmo ano , o rçava o

em farinhas e pão , ainda se encontrava

escolheu - após apresentação de projec­

custo total das obras em 900 000$000

bastante atrasado. Ainda se utilizava

to elaborado por uma comissão forma­

réis. Simultaneamente elaborou-se um

a tecnologia da era manufactureira.

da propositadamente -, o Convento das

plano , cujo resumo pode ser apreciado

O fornecimento de pão processava-se a

Carmelitas (vulgo Grilas) , no Beat o ,

na memória descritiva elaborada por

partir dos fornos de Vale do Zebro ,

para o alargamento d a padaria militar.

Joaquim Renato Baptista Santos .

remodelados na época pombalina.

Esta construção conventual reunia con­

Em 1 3 d e Janeiro d e 1 8 9 6 , o governo

AI; grandes mudanças na manutenção

dições excelentes para a implantação de

determinou que o Ministério da Guer­

militar deveram-se à obra legislativa

unidades industriais. Uma delas era a

ra tomasse posse do estabelecimento, j á

militar do marquês de Sá da Bandeira,

existência de espaço amplo e abun­

e m adaptação e construção, no antigo

discutida e aprovada entre os finais da

dante, tanto em relação ao edifício ,

convento e nos terrenos anexos. Em

década de cinquenta e os meados da de

como aos terrenos envolvente s , que

Março desse mesmo ano , abriu-se um

sessenta do século passado .

compunham a cerca conventual . Por

concurso público para adjudicação dos

Os antecedentes da Manutenção inicia­

outro lado , a sua localização preenchia

aparelhos a instalar, compreendendo

ram-se precisamente, em 1 8 6 2 , aquan­

os requisitos das boas vias de comuni­

todas as operações de moagem, cal­

do da inauguração da primeira padaria

cação, devido à proximidade do rio e do

deiras e máquinas a vapor. A empresa

militar. A sua localização prende-se

caminho -de-ferro do Norte (em 1951

vencedora foi a casa alemã G. Luther.

com a proximidade do rio , embora

irá construir-se um transpo rtador

No mês de Agosto, a moagem da Pa­

situada na Zona O cidental de Lisboa,

aéreo ligando a zona fabril à linha

daria Militar começava a trabalhar.

na actual Rocha de Conde de Ó bidos.

férrea) . O Convento das Carmelitas

Sete meses mais tarde, em 6 de Março

O objectivo subjacente a esta iniciativa

fora fundado por D . Luísa de Gusmão ,

de 1897, solicitou -se a apresentação

108


de um plano geral de obras, de modo

como o dever de fornecer às padarias

de alimentação às tropas (rancho e

a concluírem-se os trabalhos em curso .

municipais as farinhas necessárias para

conservas) ; a instrução na parte fabril,

A Secretaria da Guerra ordenou a ela­

o fabrico do pão e o abaster directa­

dos oficiais e praças da Companhia de

boração de um plano acompanhado de

mente o público em geral, em época de

Subsistências no serviço de campanha ;

orçamento, com o objectivo da maxi­

crise . Esta nova indústria alimentar

a apresentação de propostas para a

mização do produto , aproveitando as

ficava dependente do Ministério da

aquisição de matérias-primas, géneros e

potencialidades dos edifícios preexis­

Guerra e subordinada à D irecção da

forragens; a organização de reservas de

tentes.

Administração Militar.

todos os produtos fabricados de acordo

A Manutenção Militar foi fundada por

Em termos funcionais e industriais a

com os índices de consumo indicados

decreto do rei D. Carlos. Pois, em

II

de

Junho de 1897, a Secretaria de Estado

MM compunha-se de :

pelo Ministério da Guerra. A autono­

- uma fábrica de moagem de cereais;

mia administrativa é alcançada pelo

dos Negócios da Guerra submetia a

- uma padaria;

regulamento de I9II, libertando-se de

aprovação régia um proj ecto de decreto :

- uma oficina para o fabrico de massas

um papel meramente executivo .

Tomando em consideração o que me representaram os ministros e secretários d 'Estado dos negócios de guerra e das obras publicas, commercio e industria, e em conformidade com o disposto no artigo 4. o da Carta de Lei de 19 deJulho

alimentares;

Estas mudanças coincidiram com a

- uma oficina para bolacha ria e produ­

dos homens mais enérgicos que passa­

tos similares; - um depósito de material de padarias de campanha ; - armazéns

entrada para o cargo directivo de um ram pelas chefias da MM, o coronel Luís António Vasconcelos Dias (9 de Junho

para

trigos ,

farinhas,

de I9II a 18 de D ezembro de 1920) .

de 1888, hei por bem approvar o plano

massas e outros produtos ou géneros

Até cerca de meados dos anos 3 0 , um

de organização da manutenção militar

destinados à alimentação das tropas ;

dos períodos cronológicos mais impor­

que faz parte do presente decreto e baixa

- oficinas de reparação de material;

tantes para o crescimento e afirmação

assinado pelos mesmos ministros e se­

- um laboratório químico e tecnológi-

da MM, concretizam-se e desenvol­

cretários d 'Estado, que assim o tenham

co para estu� os de cereais, farinhas,

vem -se as suas estruturas industriais

entendiddo e façam executar. Paço, em II

fermentos, assim como pão e outros

e alarga-se o seu dispositivo a todo o

produtos ;

território , de norte a sul.

deJunho de 1897 (Da Padaria Militar. . . , Maria de Lourdes Filipe Nunes) .

- secretaria e suas dependências, aloja­

Pertence também a esta fase a implantação

De acordo com o referido decreto , o

mentos de pessoal, enfermaria, co­

da maioria das infra-estruturas indus­

principal obj ectivo da MM residia na

cheiras e cavalarias .

triais, caracterizando esta unidade fabril

fabricação de farinhas, pão e outros

Nos proj ectos iniciais encontra-se

como uma das mais importantes no

produtos alimentares, abastecendo o

concebida uma das primeiras estruturas

domínio dos produtos alimentares . Ainda

exército , a armada e os vários corpos e

de ensilagem moderna do país .

mais tardiamente, do que a maioria dos

estabelecimentos dependentes dos mi­

Até 19°7, a MM conservou a organiza­

exércitos estrangeiros, o Estado por­

nistérios do Reino (Justiça , Guerra e

ção inicial. Só então , através de novo

tuguês teve oportunidade de contribuir

Marinha) , bem como fornecer forra­

regulamento , redimensio n o u a sua

para a modernização e para a produção

gens aos solípedes do exército . Outras

estrutura e produção . Doravante, cabia­

em larga escala de uma das indústrias

funções foram-lhe ainda atribuídas,

-lhe o fornecimento de todos os géneros

mais complexas e mais resistentes à

r 09


maquinofactura. A MM não se dedicou apenas a uma área de produção, como se pode constatar no decreto da sua fundação. Assim, muito sinteticamente, podem enumerar-se para este período: a) Fábrica de moagem - ocupava uma superfície muito extensa, distribuindo­ -se por três andares. O trigo deitava-se num teigão, sendo conduzido por meio

Amassadora eléctrica" Sala dos fornos da Manutenção Militar.

Fábrica e fomos de pão" Cerca de 1917" Álbum da Manutenção Militar.

Bateria de sds fornos. re\"estidos a temática do ciclo "do pão.

a

azulejos da lados de 1954-. com

Prensa para moldar bolacha por processo continuo. Encontra-se actualmente exposta no Museu.

de um elevador para os silos. O cereal

d) Fábrica de torrefacção e moagem de

passava por diversas fases (limpeza, moa­

café

- funcionava com dois torradores

gem, farinação, panificação) . O con­

mecânicos (capacidade diária de 2 8 0 0

junto destas operações necessitava de

kg) , dois moinhos 2 8 0 0 kg/dia) , um

equipamento mecanizado. Por exemplo,

desintegrador e um misturador ;

na moagem utilizavam-se vinte e dois

e) Fábrica d e bolachas - possuía dois

moinhos, dispostos em duas séries, de treze e nove moendas, todos de sistema

fornos contínuos, sistema David Thom­ pson, Ld. a (2000 kg/dia) , um amas­

Luther (com dois pares de cilindros) e na

sador mecânico ( 2 8 0 0 kg/dia) , dois

peneiração já se utilizavam os plansisters

laminadores, uma máquina de cortar e

(ver, A Nacional, neste Guia) ;

de moldar bolacha, do mesmo sistema,

b) Fábrica de pão - laborava, em 1922 ,

cinco prensas manuais para moldar

com oito amassadores eléctricos do

bolacha, etc ;

sistema Baker, dezasseis fornos metá­

f) Fábrica de conservas - esta indústria

licos duplos de bases móveis, de vários

específica de conservação de alimentos

tipos, três máquinas de cortar massa, um

encontrava-se já muito desenvolvida,

laminador mecânico, etc. A sua pro­

pois funcionava como uma mais-valia

dução diária ultrapassava os 50 000 kg

para os militares que se encontravam

de pão .

em campanha. Nesta fábrica tratava-se

c) Fábrica de massas - compunha-se de

uma vasta gama de alimentos, como a

três galgas que alimentavam duas prensas

carne, o peixe e os legumes . Os equipa­

horizontais, para macarrão (com uma

mentos compunham-se de largas me­

produção média por hora de 250 kg) ,

sas de mármore, cinco caldeiras, três

uma para massinhas (100 kg por hora) ,

auto claves , sete máquinas para fechar

três prensas verticais (média de 100 kg de

latas, um fogão , uma máquina de cortar

macarrão) . A secagem das massas fazia -se

carne, duas máquinas de picar e uma

através de doze enxugantes mecânicos

máquina para fabricar massa de toma­

(com a capacidade de IO 000 kg/dia) ;

te. Na dieta alimentar de campo inte-

110


i) Leitaria e fábrica de manteiga dispunha de uma batedeira , de uma desnatadeira e de em malaxador. Podia produzir a manteiga necessária para o fabrico da bolacha e para abastecer os armazéns e as diversas sucursais do país ( Coimbra, por exemplo) ; j) Tratamento de vinhos

junto da

estação de caminho -de-ferro, na Rua José Patrocínio , tinha a MM o seu depósito de vinhos , com uma capaci­ dade total de 606 600 litros. Para

Secção de dactilografia. Cerca de 1 9 1 7 . Álbum da Manutenção Militar.

filtragem do vinho possuíam dois filtros e um pasteurizador. Como procediam ao engarrafamento , dispunham de três máquinas de engarrafar, de lavagem , de rolhamento e capsulagem. Mâquina para cristalizar os frutos. Cerca dos anos 50. Encontra­ se actualmente exposta no �[useu.

O conjunto destas fábricas tinham como apoio técnico e funcional um

gravam-se também frutos cristalizados,

sem- número de oficinas também situa­

fabricados integralmente na MM;

das na área produtiva, como : a latoaria,

g) RefInaria de açúcar - compunha-se

a serração , a lavandaria, a canastraria, a

de uma caldeira, dez tinas de cobre ,

tipografia, etc . , etc . (cf. Livro d 'Oiro

duas caldeiras pequenas , dois cilindros,

Ca tálogo Oficial, Lisbo a , 192 2 ) .

um peneiro eléctrico com seis redes,

Para a laboração deste enorme conjun­

quarenta tachos pequenos e trinta e

to de equipamentos instalaram -se in­

dois grandes (produção média 4500

fra -estruturas energéticas condizentes

e

kg/dia) ;

em termos de potência . Antes de 19II,

h) Matadouro e salsicharia - tinha

existia uma máquina a vapor horizontal

como principal função produzir ração

- Sulzer - que accionava a moagem, e

para o gado , denominado bolo ali­

duas verticais - Labordiere - com

mentar . A salsicharia dispunha de

força individual de 50 c/v. As máquinas

maquinismos que permitiam o fabrico

verticais labo ravam alternadamente,

simultâneo de 75 kg de chouriço de

fornecendo energia eléctrica aos res­

sangue, 150 kg de chouriço de carn e ,

tantes serviço s . Mais tard e , após a

9 0 k g de farinheiras, 1 5 0 kg de banha

ampliação constante das diversas uni­

(24 horas) ;

dades produtivas, tornou-se imperiosa

111

Refeitório dos praças. Cerca de 1917. Álbum da �lanutençào Militar.

Secçlo de bolacharia. Foto Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.


casas inglesas mais famosas da especiali­ dade a Babcock & Wilcox. Detinham ' ainda, para qualquer eventualidade, urna locomóvel semifixa Ruston -Proctor , com capacidade d e 60 c/v. Da era do vapor passava- se aos poucos para a época da electricidade. Pelo meio ficou a fase da produção termoeléctri­ ca, em que a energia obtida resultava da força do vapor aplicada a dínamos. Mais tarde , instalam- s e turbinas a diesel que autonomamente produzirão a energia para as diferentes empresas fabris. Relativamente à M M , insta­ laram-se em 1 9 2 1 , urna central a diesel eléctrica de dois grupos, compostos

Sala do forno contínuo para o fabrico do pão.

cada um de um motor de óleos pesados Polar de 100 c/v e alternador Asea de 850 kva e outro grupo com motor Polar de 550 c/v e alternador Asea de 450 kva . Mas apesar da alteração significativa registada, outras se veri­ ficaram de seguida. Após seis anos implantou-se um novo grupo Polar­ Asea (250 cv/2IO kva) e, em 1931 , outro grupo da mesma marca (80 cv/ 8 0 kva) . Simultaneamente

com

os moto res

instalaram o quadro respectivo de distribuição e manobra dez painéis, com urna bancada de manobra e cem motores eléctricos com potência de 2 3 8 5 c/v. A casa fornecedora todo este Máquina a vapor Sulzer. Cerca de 1917. Á1burn da 1bnutenção �Hlitar.

a ampliação da força motriz . A ini­

equipamento foi a Jayme da Costa , ram lugar a mais duas Labordiere , com

Ld. a , de Lisboa e Porto .

cial Sulzer foi substituída por outra

potência de 750 c/v. O conjunto das

Outro período muito importante para

máquina da mesma casa, só que com

máquinas a vapor era alimentado por

a expansão da MM e para a confirmação

3 0 0 c/v e as anteriores verticais cede-

três caldeiras pertencentes a urna das

da função abastecedora desta unidade,

112


Pe:que:no grupo te:rmodéctrico. Ce:rca de: Manute:n�ão Militar.

1917.

Álbum da

Casa das máquinas. Ce:ntral déctrica. Foto Mário Novais. Arquivo de: Arte: da Fundação Calouste: Gulbenkian.

relaciona-se com o final dos anos 50

lhagem de corte destinado ao fabrico

e inícios dos anos 6o. A cronologia

de bolacha wafer;

prende-se com o decorrer da guerra

- apetrechamento da oficina de car­

colonial e a urgência de uma resposta

pintaria, com maquinaria u tilizada

- aqulslçao e montagem de uma nova central eléctrica, a fim de assegurar a energia em casos de falha; - remodelação das fábricas de massas

constante às necessidades do abaste­

para executar trabalhos inerentes ao

e de bolachas (cf. Rebelo et alli, s . d . ,

cimento militar (apesar da instalação

acondicionamento de pro d utos e

p . 49) ·

de algumas delegações no ultramar)

consequente expedição para os terri­

N a década de setenta, instalaram -se

e a toda a população civil, que cada

tórios ultramarinos;

ainda alguns sectores da indústria ali­

vez, em maior número, laborava nas

- ampliação do espaço físico das fá­

mentar. Um destes exemplos pertence à

diversas fábricas e oficinas da Manu-

bricas de bolacha e de comprimi­

fábrica de pastelaria e co nfeitaria.

dos;

A primeira abastecia principalmente os

tençã o . Dos novos equipamentos e instalações podem referir-se: - equipamento e montagem de um sector de embalagem específico para rações de campanha ; - aquisição d e maquinaria e d e apare-

- beneficiação das instalações do mata ­

supermercados e as messes e a segunda tinha como objectivo complementar a

douro; - adaptação dos armazéns do Bravo;

fábrica de pão . Criou-se ainda uma

- conclusão das obras e inauguração

fábrica de fritos, proj e ctada para o

dos supermercados de Campolide e

fabrico de salgados (fritos e c ongela­

do Beato;

dos) . Esta última foi recentemente

113


remodelada de modo a incrementar o

do Norte . Parte dos terrenos localiza­

milhares de produtos alimentares.

fabrico dos ultracongelados.

dos nesta área utilizaram -se para a

Actualmente continuam em laboração

De uma construção religiosa e conven­

construção de algumas habitações so­

alguns dos sectores mais importantes na

tual passou-se assim a um conjunto

ciais. A MM, a par da implementação

história da MM, como a fábrica de pão ,

fabril monumental e profano , marca­

da indústria alimentar preocupou-se

a de massas, a confeitaria e a unidade de

dos pelo ritmo industrial. A fachada

também com os trabalhadores, tanto

salgados.

que actualmente identifica a MM e

civis como militares. Ainda que estas

que exibe o relógio (comprado , e ins­

preocupações tenham começado prin­

talado posteriormente, provavelmente

cipalmente a partir dos anos 2 0 , foi

BIBLIO GRAFIA,

nos anos 50) , caracteriza-se por uma

durante a década de quarenta que

SANTOS, Joaquim Renato Baptista,

simetria de formas e de volumes marca­

sofreu um forte impuls o , inserindo-se

A Man utenção Militar de Lisbo a ,

vaI. I

dos por um corpo central com frontão .

na política social desenvolvida pelo

- Texto , vaI. II - Plantas, Edifícios e

Este edifício reflecte uma arquitectura

Estado Novo . Alguns dos s e rviços

Maquinarias, s. 1 . , s. d [1890 ) ;

industrial de influência inglesa típica e

criados relacionam-se com o apoio

GUIMARÃES , J. M. Teixeira, e SANTOS ,

muito aplicada às indústrias do Estado ,

materno-infantil (creche, escola pré­

F. Maltoso,

muito embora corresponda às funda­

-primária e primária) , a assis tência

Relataria,

ções do antigo convento (ver o edifício

médica e medicamentosa, com a caixa

PROSTES, Pedro,

A Man u tenção do Estado e m

1893.

Lisboa, Imprensa Nacional, 1893, Indústl"ia Alimentar,

da Rua Fernando Palha, da Fábrica de

de previdência para o pessoal e outras

Lisboa, Biblioteca de instrução profissional,

Material de Guerra de Braço de Prata,

iniciativas recreativas e culturais.

s . d , SANTO S , J. Correia dos, "Farinhas,

neste Guia) .

Com a revolução do 25 de Abril houve

Pão, Cacau e Leite" I in

A construção dos diversos edifícios

uma certa retracção. Os anos que se

Manipulações Chimicas,

alargou-se, ocupando o espaço até ao

seguiram foram de adaptação a uma

pp. 327-332, PINTO, Joaquim Gomes,

aterro , revestindo-se de uma feição

nova realidade, publicando-se, inclu­

Relatório da Visita à Afan utençào lvfilítar,

Problemas e

vol. I I I , Lisboa, 1911,

mais industrial e onde se concentraram

sive , novas orientações legislativas .

Lisboa, Imprensa Nacional, 1914; Manutenção

a maioria das actividades produtivas.

Assim, no decurso de 1 9 9 2 , iniciou-se

Militar,

A Rua d o Grilo demarca uma área Sul

um processo de reestruturação orgâ­

económico de

e uma Norte . Assim, a norte encon­

nica e funcional , sendo suprimidos

Manutenção Militar, I917; Manutenção

tram-se instalações com uma complei­

a maioria dos supermercados. Com

Militar,

ção racionalista e cuj a s funções se

estas alterações funcionais parte dos

económico de

relacionam mais com os serviços admi­

trabalhadores do activo tornaram-se

Tip. da Manutenção Militar, 1 9 2 0 ,

nistrativos . O espaço inicial alargou-se

excedentários, diminuindo também o

DIAS, Luís António d e Vasconcelos,

através da conquista de terrenos en­

pessoal operacional.

A Manutenção Militar

volvent e s . A aquisição d e parte da

Durante os anos 9 0 , a MM desem­

Tip. da Manutenção Militar, 1 9 2 1 ,

Relatório de Gerência do ano

1916-17, Lisboa, Tip. da

Relatório de Gerência do a110

1918-19. Lisboa,

(1911 -1920), Lisboa,

Quinta de Lafões é disso exemplo (ver ,

penhou um novo tipo de funções. Em

"Manutenção Militar" , in Exposição

Guia Histórico e Guia d o Azulejo) .

várias situações de apoio humanitário ,

Internacional do Rio de Janeiro. Secção

O acesso a esta zona teve de ser rasgado

responsabilizou -se pela recepção , arma­

Portuguesa,

através de um túnel sob a linha férrea

zenamento ' distribuição e transporte de

Lisboa, 1 9 2 2 , Manutenção Militar,

Livro d 'Oiro e Ca tálogo Oficial,


Manutenção �lililar. Perspectiva vista dos silos.

Regulamento,

1929;

Lisboa, Imprensa Nacional,

A Manutenção Afilitar,

Lisboa,

Tip. da Manutenção Militar, 1932 ; "Manutenção Militar" , in

Notícia Histórica

Sobre os Estabelecim entos Fabris do A{inistério da Guerra,

Lisboa, Bertrand, 1947,

pp. SI-53; PINTO , Armando , Manutenção Militar,

História da

3 vols . , Lisboa, 1966;

Ano III,n o 1 8 , Março -Abril de 1 9 7 2 ; Manutenção Militar, II

Ano IV , n . o 1 9 ,

d e Junho d e 197 2 ;

NUNES, Maria d e Lourdes Filipe, Militar à Manutenção Militar

policopiado, s . d . ; REBELO, Ana Maria, et a11i, Manutenção Afilitar, Uma organização centenária,

policopiado, s . d . ;

I Centenário

BARATA, Filipe Themudo, " Indústria Militar

da Manutenção Militar

Nacional Como e Para Quê? " , in

Gráfica da Manutenção Militar,

Defesa,

pp. 95-96;

Naçiio e

Da Padaria

(1862-1897),

(1897-1997), Lisb oa,

Man u tenção Militar,

II5

97.



Local ização - A l a m e d a e R u a do B e a t o . período de Act ividade - 1 8 4 3 - 1998 > Fundador - J oão de B r i t o . Actividade Industrial - I n d ú s t r i a a l im entar, fab r i c o de m a l t e , far i n h a s , de b o l ac h a s e m a s s a s , r a ç õ e s .

Valor Patrimon ial - O conj u n t o da a n t i ga moagem de J oão de B r i t o , da moagem a ustro - h ún g a r a , d a fáb r i c a d e m a l te r i a ( c o m s e u s fornos i n st a l a d o s n a cape l a - m o r da i gr e j a d o Convento do Beato) e os edifícios m o d e r n i stas d a n o v a m o a g e m , da a u t o r i a de Pard a l Monteiro, q u e asseguram h o j e a produção de n A N a c i on a l " , constituem u m a refer ê n c i a o b r i g a t ó r i a n a h i st ó r i a da i n d u str i a l i za ç ã o de L i s b o a e do percurso de todos os patri m on i a l i s t a s , m a i s p a rt i c u l armente d o s espec i a l istas da época i n d ustr i a l . Destac a - s e p e l o s e u v a l o r h i st ó r i c o - a r q u itectón i c o e técn i co - fabr i l . O s e d i f ícios q u e c o m p õ e m a m o a g e m apresentam di versas s o l uções

II�

Planta Aerofotogramétrica 5/8. Escala 1 : 2000. Maio de 1963. Actualizada em 1987.

a r q u i tectón i c a s , tanto a n ív e l dos mater i a i s ut i l izados ( t i j o l o s í l i co - c a l cá r i o , t i j o l o b u r r o , ferro , c a n t a r i a , a lv e n a r i a s ) , v a r i a d í s s i m o s tipos de cobert ura e m o d e l os t í p i c o s da a r q u i tectura i n d u s t r i a l i n g l es a , b e l ga e centro - e ur o p e i a

�� A n A C i O n A L "

( n este ú l t i m o caso a m o a g e m

- C O Ol P A n H I A I n D U S T R I A L D E T RA n S F O R Ol A Ç Ã O DE C E REAI S , S. A.

austro - h ún g a r a ) . O e d i f í c i o da a c t u a l adm i n i stração caracter i z a - s e p e l o s e u a l çado de v á r i o s p i s os , frontão, fen estração regu l ar, e m o l durada

1 17


por t i j o l o e p o rta p r i n c i p a l e n c i m ada

p o d e m refer i r - s e a z o n a da i g r e j a

caracter í s t i c o p e l o s s e u s t i j o l o s

por v á r i a s m e d a l has o b t i das em

e do c l a ustro com a l g un s v e s t í g i o s

s í l i co - ca l c á r i o s , e n c o n t r a - s e t a m b é m

e x p o s i ções internac i o n a i s .

da act i v i dade i n d u str i a l , o n d e s e

em m a u estado. Esse n c i a lm e n t e a

A moagem de Pardal Mon t e i ro

associ aram l i n g ua g e n s d e r i v a d a s da

cobert ura e estrutura em m a d e i r a

ut i l i z o u uma l i ngu a ge m in terna tio n a /

h i stória de arte c o m o utras da h i st ó r i a

d e casqu i n h a e s t á em r u ín a .

s ty/e, com decoração déco, ao serv i ç o

t é c n i c a , que dever i a m c o e x i s t i r n um

A moagem a u s t ro - h úngara, b e m c o m o

da i n d ús t r i a , d i gn i f i c a n d o - a . Para

projecto g l o b a l de s a l va g u a r d a .

o utras c o n s t r u ç õ e s de f i n a i s d o séc u l o

a l é m d a moagem m o d e r n i sta a i n d a em

S i t uação diferente i m p õ e - s e

X I X , encontram - s e e m estado r e g u l ar.

f u n c i o n a m e n t o , poucas m á q u i n a s

aos e d i fí c i o s em t i j o l o s í l i c o - c a l c á ri o

Assi m , a s a l vaguarda de uma das m a i s

p e r s i stem de todo o c o n j u n t o ,

e em t i j o l o b u r r o , ao e d i f íc i o c o m

anti gas fábricas d o s e c t o r a l i m entar a

exceptuando as q u e s e l o ca l i zam n a

fachada c l a s s i zante e à c o n s t r u ç ã o

n ível n a c i o n a l , d e v i a s e r a c a u t e l ada d e

e x t i n t a fábrica de rações, i m p o n d o - s e

m a i s r e c e n t e datada dos anos 40,

um p o n t o de v i s t a l e g a l através d a

a s u a s a l vaguarda.

da a u t o r i a do arq u i t e ct o Pard a l

r e c l a s s i f i cação q u e v i a b i l izasse

H á ainda a referir o pequeno m us e u

Monteiro, q u e reflectem as l i n g uagens

possíveis reuti l i zações d i gn i f i c antes do

de em presa, i nstal ado n o ú l t i m o andar

da arquitectura i n d u s tr i a l , sendo

conjunto e s u a s e n v o l ve n t e s .

da m o ag em J oão de Brito Lda . , centro

pacífica a s u a recupera ç ã o .

Classificação

d o i mp é r i o fabr i l e a d m i n i strativo

A cobertura d a igreja e dos d o i s f o r n o s

P ú b l ico, D e creto n .

da C o m pan h i a I n d us t r i a l de Portugal

da antiga m a l te r i a , c o n s t r u ídos n a á r ea

de 2 5 de J un h o .

-

I m ó v e l de I n teresse o

29/84,

e C o l ón i a s .

da cape l a - m or, ameaçam r u í n a , s e n d o

A c l as s i f icação abrange a igrej a ,

A í p o d e m s e r observados m o d e l o s d e

i mprovável s obreviverem a m a i s u m

o c l a ustro, o refe i t ó r i o e a escada

a l g u m a s m á q u i nas uti l i zadas na

I n v e r n o . Devia pensar - s e , com

de acesso ao p i s o s u p e r i o r com os

moagem, m a quetas, u t en s í l i o s

urg ê n c i a , n u m a s o l u ç ã o e c o n ó m i c a

e l e m entos q u e lhe e s t ã o a d j a c e n t e s .

de m e d i ção, s i stemas de p o n t o , m o l des

q u e v i ab i l i z a s s e o rest a u ro e u m a

Não é c l a r i f i cada a i n c l usão dos

de f u n d i ção, bem c o m o uma

acção de salvaguarda para a i g r e j a

e l ementos d e i xados pela a c t i v i d a d e

e x c e l ente c o l ecção de emba l a g e n s e

e seus vest í g i os de refun c i ona l i z a ç ã o

industrial no espaço religioso.

rót u l os ut i l izados ao l o n g o dos v á r i o s

in situ, r e s p e i t a n d o a s s i m

A Compan h i a I n d us t r i a l d e P o r t u g a l

anos de a c t i v i d a d e . Um a r q u i v o

os d o i s m o m e n t o s de u t i l i z aç ã o

e C o l ó n ias vem c o n t e m p l ada

h i s t ó r i c o da fábrica e n contra - s e n o

do e s p a ç o sacra l i zado p e l a o r a ç ã o ,

no I n v e n t á r i o M u n i c i p a l d o Patri m ó n i o

m e s m o espaço.

a n t e s e d e p o i s da e x t i n ç ã o

do P D M de L i s b o a .

Estado de Conservação

-

A c o nservação

d a s ordens re l i g i o s a s .

de "A N a c i o n a l " n e c e s s i t a de ser

Não const i t u i um caso i s o l ad o

e n q uadrada nas p o l ít i cas de d e fesa d o

mas trat a - s e , sem d ú v i d a , de u m

patri m ó n i o i n d ustri a l , l e g a d o à c i dade

testem u n h o í m p a r da i n dustr i a l i zação

de L i s b o a , t a n t o como c o n j u n t o de

de Lisboa O r i ent a l , n ã o só pelo l egado

carácter excepc i on a l , c o m o em r e l a ção

interior da i g r e j a , mas p o r t o d o o

às m e t o d o l o g i as da s u a recuperação e

conjunto das e d i f i c a ç õ e s envo l v e n tes .

r e ut i l i zação f u t u r a . S u ma r i a m e n t e ,

O e d i f í c i o dos l i m p a d o r e s ,

JI8


Os edifícios conventuais localizavam-

- em 17 de Dezembro de I g I g , consti­

-se nas imediações dos primitivos ar­

tui-se a Companhia Industrial de

mazéns e assim, o industrial pôde iniciar

Portugal e Colónias , S .A. R . L . , atra­

um processo de crescimento e concen­

vés da fusão da Nova Companhia

tração, na zona do Beato . Em I 8 g 8 ,

Nacional de Moagem e da Compa­

descrevia-se a indústria de João de Brito , da seguinte forma: Se tl'ouve SUl' le bol'd du Tage, a u lieu dit Beato An tónio a

formada em S ociedade Anónima ,

5 k de Lisboa, constituant un vél'ita ­

mantendo a mesma designação in­

ble village, composé des nombl'eux

João de Brito. Retrato a óleo do fundador de A Nadonal com a seguinte inscrição: Foi inaugurado elte retracto de 1855.

O

nhia Nacional de Alimentação ; - no início dos anos 8 0 é trans ­

confundível de C IP C ;

bâtiments qui donne une impl'ession

- e m 2 3 d e D ezembro d e I g 8 6 , a sua

grandieuse (Excul'sion Industrielle de

designação passa a ser, A NAC I O ­

Lisbonne a Thomar, I8g8) .

NAL - Companhia Industrial de

A data apontada para a instalação fabril no antigo convento é a de 1 8 3 6 . Ini­

Transformação de Cereais , S .A. Segundo Norberto de Araúj o as insta­

PRIMITNO estabelecimento de

cialmente e até à morte do seu fun ­

lações conventuais foram inicialmente

João de Brito ( r 7 9 6 - I 8 6 3 ) , na

dador , a casa industrial e comercial

utilizadas como armazém de vinho s .

zona do Beato é anterior a 1 8 2 5 . O em­

designava-se apenas por João de Brito .

Ou sej a , J o ã o de Brito prolongou para

presário liberal possuía um conjunto de

Após a sua morte foram os herdeiros

o novo espaço a actividade comercial

armazéns, situados na margem do Tej o ,

que assumiram os destinos de uma

que desenvolvia nos edifícios junto ao

onde desenvolvia a s actividades d e ta-

das indústrias alimentares mais flo ­

Tej o . No comércio de vinhos este

noaria, armazenagem, tratamento e co­

rescentes d o país , sob a designação

empresário desempenhava um papel

mércio de vinhos e azeites.

social de João de Brito , Lda. Em I 8 g 8 ,

fundamental na região d e Lisb o a .

Aquando da extinção das ordens re­

a empresa era dirigida pelo seu genro ,

Os depósitos d e vinho tinham uma

ligiosas (1833 - 34) , as instalações do

Carlos Duarte Luz e pelos seus neto s ,

capacidade variável entre os 10 000 e

C onvento do Beato António foram

António , Eduardo e Artur Macieira.

os 40 000 litros, os reservatórios de

vendidas em hasta pública. Se o destino

Em termos organizacionais, referentes

álcool recebiam 30 000 litros e a

de então , para muitos conventos foi

à alteração do capital social, ao cres­

trasfega fazia-se através da utilização

o de servirem o novo Estado liberal,

cimento da produção , à fusão com

de bombas a vapor. Para além das

através da sua refuncionalização (ins­

outras firmas do mesmo ramo (para

infra- estruturas de armazenagem e

talando-se quartéis, hospitais, bibliote­

um melhor controlo de mercado) e às

tratamento dispunha, também, de um

cas , etc . ) , para outros, coube-lhes ser

novas designações comerciais, podem

laboratório , onde era controlada a

adquiridos p elo capital privado. O

referir-se os seguintes moment o s :

qualidade dos principais produtos co­

Convento do Beato António integra- se

- em 2 7 de Agosto de I g I 7 , a empresa

mercializados, a saber: vinhos de mesa

na última situação , sendo parcialmente

João de Brito , Lda. foi integrada no

brancos e tintos e vinhos de Coupage.

adquirido pelo industrial e comer­

bloco da Nova Companhia Nacional

As principais regiões vinícolas do país

ciante João de Brito.

de Moagem ;

que abasteciam a casa João de Brito ,

"9


Em finais de Oitocentos , a empresa João de Brito afirmava-se no mercado como um depósito de vinhos e cereais . N o entanto , a vertente da indústria de transformação de cereais era cada vez mais visível e important e . A laborar encontrava -se já uma moagem de cereais pelo sistema austro-húngaro e uma fábrica de moagem movida a vapor. A qualidade dos seus produtos era evidente . Em todas as exposições que participaram obtiveram medalhas de ouro - Industrial Portuense de 1 8 6 1 , Agricultura em Lisboa d e 1 8 6 1 , I nternacional do Porto em 1 8 6 5 , Universal d e Paris em 1 8 6 7 , Universal de Viena em 1 8 7 3 , Internacional de Filadélfia em 1 8 7 6 , Universal de Paris em 1 8 7 8 , Internacional de Bordéus em 1882 e na de Antuérpia em 1 8 9 4 .

Cais privativo de embarque dos armazêns deJoão de Brito. Arquivo de A Nacional.

A colocação d e medalhas n o edifício

eram Torres Vedras, Lavradio , Alen­

Mas as actividades económicas deste

nobre do conjunto industrial é apela­

tej o e Bucelas .

industrial rapidamente ultrapassaram a

tiva e afirma a qualidade dos produtos

Os armazéns primitivos encontravam-se

esfera dos produtos vinícolas e oleíco ­

aí fabricados, funcionando como uma

instalados numa zona mais lata de

las , sendo u m d o s nomes portugueses

publicidade empresarial. Esta constru­

tanoarias e depósitos de vinhos, que se

mais importantes na introdução de

ção é das mais significativas do ponto

estendia até ao Poço do Bispo . O rio

novas tecnologias aplicadas ao sector da

d e vista da arquitectura industrial.

Tejo funcionava como uma via de cir­

moagem e seus derivados .

Caracteriza-se pela sua racionaliade,

culação fundamental para esta activi­

Em 1843, o industrial João de Brito

marcada pelo ritmo da fenestração e

dade , função mais tarde repartida pela

instala no Convento do Beato uma

pela mansarda (acrescentada em 19°8),

circulação ferroviária. Todas as insta­

moenda de cereais. A utilização da

na qual se instalara uma estrutura

lações fabris que irão aglutinar-se aos

marca

funcional de transporte de cereal em

primeiros armazéns beneficiaram desta

pela rainha D. Maria II, no ano de

parafusos sem-fim.

proximidade, até à época da construção

1 8 4 9 , devido à relevância dos serviços

A arquitectura da moagem é importada

do aterro , data em que o conjunto dos

prestados à nação pelo empresário ,

dos modelos centro - europeus , onde a

armazéns ribeirinhos ficaram secun­

através dos produtos comercializados à

indústI:ia moageira tinha já sofrido um

darizados face à nova avenida marginal.

época .

grande desenvolviment o . A organiza-

-

Nacional

-

120

foi-lhe concedida


Sala dos parafusos sem-fim. Arquivo de A NacionaL

Central termoeléetrica. com máquina a vapor Sulzer. Anos 20. Arquivo de A Nacional.

Perspectiva interior d o pátio onde se instalaram as casas das caldeiras e das máquinas a vapor. Arquivo de A Nacional.

ção em altura dos espaços fabris é

tipo de operação através da concen­

Só após 1 8 8 1 , é introduzido o sistema

extremamente importante na organi­

tração de um grande número de má­

austro-húngaro. O Inquérito Indus­ trial de 1 8 g o aponta para a coexistên­

zação interna da produçã o . De uma

quinas

forma muito simples podemos referir

a mesma tarefa , como os sassores, os

operadoras

que

realizavam

cia de tecnologias

que cada andar correspondia a uma fase

plansichters, os ensacadores para a parte

fabrico é aquelle a que os francezes

da cadeia de produção , obtendo-se o

final das operações, por exemplo .

chamam mixto, isto é, empregamos as

produto desej ado nos andares térreos.

O inicial sistema moageiro desenvolvi­

m ós e cylindros. Ou sej a , a inovação

Todos os pisos encontravam-se ligados

do na fábrica de João de Brito baseava­

técnica introduzida pela moagem de

através de correias e sistemas de trans­

-se na utilização de mós de pedra (a

tipo austro-húngara prende -se com a

missão , para a parte energética, e de

partir das inovações de Oliver Evans,

utilização de cilindros de aço , onde o

-

o systema do nosso

condutas ou canais que permitiam a

dos finais do século XVIII) . O Inqué­

cereal era comprimido entre eles,

circulação do ceral. Algumas operações

rito de 1865 remete-nos para as duas

unidos pelas suas geratrizes (em 1 8 g 8

que se verificavam no interior da

diferentes tecnologias da moagem, onde

tinham vinte cinco moinhos d e cilin-

moagem, prendem-se com a limpeza

se nota uma evolução do sector, a partir

dro) . O diagrama de fabrico pressu­

do cereal/farinha, a trituração e a pe­

dos moinhos do tipo Macauslay (france­

punha ainda catorze plansichters e três

neiraçã o . Cada piso comportava um

ses) e ingleses (Westrups) .

jogos completos de moagem.

121


Uma mais-valia desta fábrica residia na produção da bolacha, do biscoito e do pão , detendo j á fo rnos contínuos (tinha doze fornos em 1898) . Todos os maquinismos utilizados eram consi­ derados os mais avançados para a al­ tura . O conjunto moageiro do Beato , afirmava-se como um dos mais impor­ tantes e desenvolvidas do país , riva­ lizando com a maior empresa - a Fábrica do Caramuj o . Edifício dos Limpadort!s.

Um dos elementos técnicos mais signi­ ficativos para a sua afirmação no pa­ norama nacional foi a utilização da energia a vapor. Na realidade, foi das primeiras moagens de Portugal a utilizar o vapor. Em 1 8 6 5 , os dois moinhos e as nove mós eram movidos

Edifício dos Limpadores.

Edifício dos Ensacadores.

por uma potência de 43 c/v. Cerca de

Ftibrica d e malte. Cuvas d e têmpera e tanques de germinação. ln i\ lndlístrii1 Portuguesa, Ano I I , n.o 2 2 . 1929, p . 38.

trinta anos mais tard e ,

-las com o u tras mais inferiores para

a fábrica

possuía uma máquina a vapor d e tripla

assim lhe dar saída .

expansão , de marca Sulzer, c o m a

Com o advento do século XX , a em­

capacidade de 3 0 0 c/v. Tinha j á há

presa encontrava-se numa fase de cres­

altura um dínamo eléctrico , de marca

cimento , firmando-se pela construção

Orliken, de 20 kw.

de vários edifícios no interior do

Esta moderna e inovadora instalação

pátio , situados entre o convento e a

industrial fez a passagem da moagem

moagem. Datam de 1908 , duas das

de ramas para a moagem de farinhas

mais significativas construções de tij o ­

espoadas. Em 1 8 9 0 , a produção de

lo sílico- calcário , testemunhando uma

farinhas correspondia a 15 2 0 0 0 0 0

arquitectura industrial de qualidade .

kg/ano . A qualidade das farinhas pro­

Caracterizam-se por serem estruturas

duzidas inseria-se na escala média e

em nave e em altura, destacando -se

inferior . O Inquérito Industrial qua­

também pela sua fenestração ritmada e

lifica o produto

pela utilização de botaréus escalona­

-

de qualidades finas

poucas se consomem, e não poucas

dos, a lembrar contrafortes, princi­

vezes, para lhes facilitar a venda sem

palmente no edifício dos limpadores.

maior prejuÍzo, somos forçados a lotá-

Um símbolo carismático da moagem e

122


do lugar é a ponte metálica estabele­ cendo a ligação entre o que hoje se designa por Beato Sul e Beato Norte. Esta construção data de 1 9 0 7 , e tinha como principal função o transporte de cereal entre a zona portuária e a moageln . Nesta época o iniciou-se o fabrico de malte . Numa visita efectuada às várias fábricas da CIP C , aquando da realização do certame da Estoril,

Feira

d 'Am ostras do

pelos jornalistas da

Portuguesa,

o

sentou-lhes a

Indústria

Sr. Ermete Pires

Perspectiva actual dos vestígios das cm'as de têmpera e dos tanques de germinação.

apre­

{ábrica de malte, instalada

no edifício da an tiga igreja do Beato António da Conceição, completamente trans{ormada numa moderna instalação Forno da fábrica de malte. Primeira sala.

industrial.

De facto , ainda hoje subsis­

tem vestígios da utilização da igreja com fins industriais. Mantendo pratica­ mente a fachada inicial, o seu interior foi dividido em vários andares, cons­ truídos em betão , onde se instalaram as diversas operações do fabrico do malte, bem como os vários maquinism o s .

Andar intermédio. onde se \'isualizam as capelas laterais numeradas.

Todo o pé- direito d a igreja seiscentista foi o cupado , nos pisos superiores. Próximo do tecto abobadado , locali­ zaraln-se as cuvas de têmpera e os tanques de germinação . Em toda a área do altar-mor e, em ameno convívio com os enterramentos aí existentes, instalou-se o forno da torrageln do malte . Este forno ocupa toda a zona da capela-moI', tanto em área , como em altura . Meslllo no exterior , a presença Chaminé da fábrica de malte.

da estrutura de combustão, é visível

123

Abside da igreja com chaminés.


redaram e numeraram no fecho da

o estudo pormenorizado de ca da

abóbada .

edifício, como a sua construção por

As matérias-primas utilizadas eram

escalões, apresen ta a requ eren te o

de primeira qualidade. O malte obti­

plano do conjunto industrial, bem

nha -se através de cevadas exóticas ou

como o projecto completo para o

nacionais, mas seleccionadas . A pro­

edifício da fábrica de moagem e secção

dução diária atingia o s 6 0 0 0 kg,

de limpeza de trigo, para o q ua l

abastecendo o mercado nacio nal e

requer a u torização corresp o n den t e

internacional. A fábrica encerrou em

(. . ) . .

1976.

Na década de cinquenta , edifícios de

Já n o tempo d a CIPC renovou-se a

várias épocas coabitavam lado a lado ,

imagem da empresa e da produção de

constituindo um dos testemunhos

farinhas através da construção da nova

mais importantes da indústria alimen­

moagem projectada pelo arquitecto

tar. Mas a Portugal e Colónias não se

Pardal Monteiro . Chegava, assim, à

confinava , nessa altura , apenas a o

indústria alimentar, mais uma vez, os

conjunto d a s fábricas do Beato .

ecos de modernidade arquitectónica,

Nos anos 3 0 , a CIPC era a maio r or­

substituindo primitivos armazéns de

ganização industrial da Península ,

vinhos, de cereais e de azeites.

com uma concentração horizontal .

Em 14 de Abril de 194 8 , a empresa

A juntar às fábricas da Zona Oriental

pede à Câmara Municipal de Lisboa

(Aliança de Xabregas e Beato) soma­

autorização para edificar o novo con­

vam-se mais catorz e , todas da in­

junto laboral. No processo de obras

dústria alimentar - moagens , massas

encontra-se o pedido de licenciamen­

alimentícias , bolachas e biscoitos ,

to : A Companhia Industrial de Portu ­

produtos congénere s , malt e , rações

gal e Colónias de responsabilidade

e gelo . As principais marcas comer­

Limitada, (. . .) e proprietária dos ter­

cializadas eram a Nacional e a Na ­

renos com frentes para a fu tura Av.

politana. Vendiam ainda através do

Infante D. Henrique e Rua Direita do

comércio a grosso cereais , legumes e

Da construção da nova moagem. Arquivo

Beato, (. . .) pretendendo construir um

fermentos seleccionados. A força mo­

através da implantação de duas cha­

novo conjunto industrial destinado a

triz instalada no conjunto das quinze

minés d e tij olo no topo da abóbada ,

substituir, segundo determinação s u ­

fábricas encontrava -se na ordem dos

perpetuando -se o diálogo monumen­

perior e m prazo fixado, o q u e possuía

5 5 0 0 c/v.

Construção

do Edificio de Pardal Monteiro. Álbum de A Nacional.

tal entre o sagrado e o profano .

em Xabregas e foi destruído por um

Com sede na Rua Jardim do Tabaco ,

As antigas capelas laterais foram re­

incêndio em 28 de fevereiro de I947

n . OS 66 a 8 2 , a CIPC foi uma empresa

funcionalizadas , servindo como silos

(. . ) Atendendo a que a importância

sempre em crescimento , ultrapassan­

de malte . Todas as capelas se empa-

excepcional do conjunto exige não só

do o limite geográfico de Lisbo a :

.

.

124


- I 9 2 0 , adquire todos os bens da Com­ panhia de Moagem e Panificação Victória do Porto ; - I 9 2 3 , iniciava-se a laboração de uma nova fábrica de bolachas e biscoito no Porto ; - I 9 3 7 - 3 8 , adquire a fábrica de des­ casque de arroz de Santiago de Ca­ cém à firma de Caio de Loureiro , Lda . ; - I982, construção da fábrica de corn-l1akes na Trofa. U ma empresa desta natureza teve sempre um elevado número de ope­ rários . Em finais do século passado , empregavam-se na fábrica João de Brito trezentos trabalhadores, chegan­ do por vezes, a atingir o número de

Edifício de Pardal Monteiro, ainda sem a construção da semolaria. Arquivo de A Nacional.

quinhentos. Em I 9 7 9 , o conj unto das fábricas da CIPC empregava mil e oitenta e dois trabalhadores, sendo setecentos e sessenta e cinco b omens e trezentos e dezassete mulberes. Os apoios sociais aos operários não foram esquecidos. O fundador João de Brito e os seus descendentes tiveram p resente na sua política empresarial preocupações sociais, talvez imbuídos da filosofia praticada pelos industriais utópicos. Construíram-se casas para os empre­ gados e dirigia -se a escola primária Casal Ribeir o . Os operários criaram uma Associação Humanitária e uma Filarmónica , mais tarde tiveram tam­ bém um grupo de teatro e um clube de foo tball.

Conjunto monumental fabril da Companhia Industrial de Portugal

12 5

e

Colónias. Anos 50. Arquivo de A Nacional.


PLANTA

GERAL

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Planta lopogrâfica das fábricas do fiealo. 1972. Actualizada cm 1991. Arquivo de A Nacional.

126


Chefes e trabalhadores da secção de expedição e ensacamento de farinhas e sêmeas. Anos 30. Arquivo de A Nacional.

Trabalhadoras d a lavandaria e sacaria. Anos 30. Arquivo de A Nacional.

HFábrica de João de Brito", in Industrial de

Inquérito

I86S. Acta das Sessões da

Comissão de Inq u érito,

1865, pp. 243;

Lisboa, lN,

Catalogue Spécial

de la Section Portugaise à l 'Exposition Universelle de Paris,

en 1867, Paris, Librairie

Escritório central da Companhia lndmtrial de Portugal

oe

"Maison João de Britt o " , in IVê. Centenaire de

Brito". i n

la Découverte de la Route Maritime des Indes.

abordagem às suas Realizações,

Excursion industrielle de Lisboa à Tholnar,

Portuense, ' 9 9 4 ,

"Reflexos da Industrialização na Fisionomia e

in A

Indústria Portuguesa, Ano

Lisboa, ' 9 2 9 , pp. 33-41 ;

II, n. o 2 2 ,

Companhia

Lisbo a ,

Industrial de Portugal e Colónias,

vol. I, Lisboa, 1976, pp.

Norberto d e , "Fábrica d e João d e Brit o " e " Companhia de Portugal e Colónias" I Livro XV, Lisboa,

de, "Fábrica de João de Brito no Beato

in

António " , i n

Parceria António Maria Pereira, (1938-1939) ,

Inquérito às Fábricas de Moagem,

ordenada por portaria do ministério da fazenda de

20 de fevereiro de I89 0 , Lisboa,

Peregrinações eln Lisboa,

pp. 7 2 - 7 3 ; MO ITA, !risalva, "Convento de Beato António de Enxobregas", in brochura do

lN, 1890, p . 6 ; "Fábrica de João de Brito -

Centre Internationale de créations théâtrales

Beato António " , in

do espectáculo de Peter Brook, Outubro 1980,

Inquérito Illdustrül de

I890, vol. III, Lisboa, lN, 1 8 9 1 , pp. 3 2 7 - 3 2 8 ;

Porto, A . I .

9 5 ; CUSTÓDIO , Jorge,

Vida da Cidade", in

Anuário Comercial, Cc. 1 9 2 9] ; ARAÚJ O ,

352-354; MAGALHÃES, João de Sousa Calvet

p.

Lisboa, 1899 , pp. 46-49; "A Companhia

LEAL, Pinho, "Beato-Anton io " , in Antigo e Moderno,

Empresariado Português. Ulna

Industrial de Portugal e Colónias",

Administrative de Paul Dupont, 1867, p. 1 8 4 ; Portugal

Colónias. Anos 2 0 . Arq\Ii\'o de A Nacional.

p p . 21-27; CUSTÓDI O , Jorge, "João d e

127

Livro de Lisboa,

Lisboa,

Livros Horizonte, '994, pp. 470 e 473; Nacional,

Folhetos Prolnocionais, 1997 .



maquinaria resultante de uma produção vocacionada para o tratamento de óleos uti lizados na fabricação do sabão e de outros detergentes. Por exemplo, sistema de depósitos e silos, muitas vezes organizados em altura, com um funcionamento de transmissões e apuramento do produto, localizado in situ é importante pela sua componente técnica e didáctica. Todo o conjunto representa diferentes momentos e fases de produção de uma das indústrias mais importantes tanto da Zona Oriental da cidade de Lisboa, como do país. A diversidade de modelos técnicos e de soluções arquitectónicas, exprime uma cronologia da actividade industrial, conferindo a todo o espaço uma variedade de momentos tecnológicos, a exigir estudos Planta Aerofotogramélrica 6/7. Maio de 1963. Actualizada em 1987.

de pormenor. A localização da indústria de

S0 C I E DA D E nAC I 0 nA L D E SA B 0 ES

sabões no mesmo espaço de uma velha

Localização - Rua de Marvi la, n. 182- 190.

conjunto edificado como um modelo global

Sociedade Nacional de Sabões herdasse uma

período de Actividade - 1919- 1996

os

quinta - Quinta do Brito -, fez com que a

de p lanificação industrial. Este exemplo

torre-mirante dos meados do século X IX,

Fundadores - Sociedade Nacional

caracteriza-se antes por uma construção

sobre a linha férrea, de interesse patrimonial

de Sabões.

justaposta. A sua expansão fez-se de acordo

e histórico, ex- Iíbris da fábrica.

Actividade Industrial - Fabrico de sabões,

com as necessidades de crescimento

Nesta quinta encontram-se ainda os edifícios

detergentes, manteigas, óleos al imentares e

e diversificação da produção. Assim,

românticos que passaram a ser a sede

apl icáveis na saponificação.

verificam-se edifícios de qualidade

administrativa da empresa.

Valor patrimonial - As construções

arquitectónica e outros com soluções menos

Estado de Conservação - Regular.

valorativas e materiais de construção mais

Classificação - Sem classificação.

que integram o parque industrial da Sociedade Nacional de Sabões representam

económicos, constituindo, na maioria das

diferentes momentos de crescimento e

vezes, acrescentos ou prolongamentos de

expansão empresarial. Por isso,

estruturas já existentes. Alguns edifícios,

no seu interior encontram-se diversas

como os fronteiros à Rua de Marvi la,

sol uções da arquitectura industrial, sendo o

testemunham soluções modern istas

betão o material utilizado na maior parte

dos anos 50.

das vezes. Não se pode entender este grande

Outro aspecto pertinente relaciona-se com a

I29


aludem na sua globalidade à constru­ ção de barracões, de telheiros ou de depósitos. Os materiais de construção utilizados para a cobertura são , na maioria das vezes, em chapa zincada. N o entant o , o edifício principal desta unidade e o que anunciava o nome da fábrica - SABOARIA NACIONAL D O BEATO -, caracterizava-se por s e r u m espaço amplo inserido n a lógica das construções de grandes naves indus­ triais ou de armazéns. A Sociedade Nacional de Sabões Lda . , sociedade por quotas de responsabili­ dade limitada, foi fundada em 1919, herdando simultaneamente toda a acti­ vidade da anterior empresa, bem como todo o edificado , que à época se resu­ mia a seteloito construções localizadas entre a Rua de Marvila e a Azinhaga das Árca ocupada pela Sociedade

N ..cional

de Sabões � Fâbric.. Nova. Anos 70.

Veigas. A nova empresa desenvolveu

INDÚSTRIA do sabão é uma acti-

mais significativas indústrias químicas

uma atitude manifestamente diferente

vidade económica muito antiga

criadas em meados do século XIX, a

em relação ao entendimento do con­

e com grande tradição tecnológica .

Companhia União Fabril. A localização

ceito de fábrica. Esta mudança pode

A partir d o período manufactureiro foi

d a SNS na Lisboa Oriental, integra-se

ser visível tanto nos edifícios que

uma actividade abrangida por políticas

numa zona de tradição do seu fabrico ,

p assaram a ser construídos como na

proteccionistas, a par do fabrico do

tanto por processos manufactureiros,

modernização das diversas tecnologias

tabaco. O contrato das saboarias esteve

como industriais.

utilizadas . A fusão envolveu ainda

vinculado aos contratadores do tabaco,

Aliás, a fixação da SNS na Quinta de

outros proprietários do sector de sa­

Joaquim Pedro Quintela e a Anselmo

Marvila teve como herança uma antiga

boarias (Sousa & C. a e João Rocha) ,

José da Cruz do Sobral, nos inícios do

fábrica de sabão que aí laborara ante­

que se uniram para gerir uma fábrica

século XIX.

riormente. Os primeiros dados exis­

actualizada. De 1 9 2 0 , existe um exce­

A Sociedade Nacional de Sabões (SNS)

tentes no processo de obras sobre a

lente desenho que testemunha o cresci­

pode ser considerada como uma das

Sabo aria Nacional do Beat o , Lda . ,

mento fabril alcançado .

fábricas mais importantes dentro do seu

referem-se a 1 9 1 2 . A saboaria pertencia

Ainda que a SNS tenha feito muitos

ramo de activcidade, mesmo no âmbito

à firma Cruz & Ferreira. ÂJ; petições

a=escentos e alterações às diversas

nacional, contracenando

referentes aos anos de 1 9 1 2 , 1913

construções existentes, todos os múlti-

COln

uma das

e

1916


pIos planos apresentados que proj ectalll

ocupada pelo espaço fabril no últilllo

Ulll edifício de raiz, têlll a presença de

período de vida rondava os 90 000 lll2 .

Ulll arquitecto ou de Ulll engenheiro

Durante as três prillleiras décadas cons­

civil . Assilll, a partir de 1 9 2 3 , o proces­

truíralll-se edifícios para a instalação

so de obras regista Ulll aUlllento do

de gasogénios, de centrais eléctricas, de

volullle de petições à Câlllara e Ullla

caldeiras para derreter sabão, de depósi­

diversificação de soluções arquitectóni­

tos ou silos COlll avultadas capacidades

cas , de acordo COlll as particularidades

de contentorização . Exelllplo da enorllle

funcionais , sendo o betão , o lllaterial

apetência de arlllazenagelll ou de labo­

utilizado e lll larga escala. Ulll exelllplo

ração é o projecto de 1942 , para a cons­

data de 24 de Fevereiro de 1 9 2 3 . Este

trução de cinco depósitos ou caldeiras,

plano visava construir Ullla torre para

COlll Ullla capacidade individual de

lllontagelll das caldeiras destinadas

27 000 kg. Outras edificações ins ­

ao fabrico do sabão por llleio do vapor.

taladas relacionalll-se COlll arlllazéns ou

O projecto é da autoria do engenheiro

telheiros para acondicionalllento de

DOlllingos Mesquita, sendo a lllon­

p rodutos oleaginosos ou de o utras

tagelll das caldeiras executada elll cinco

lllatérias-prilllas indispensáveis . Elll

pisos, nos quais se lllanipulava, apurava

1 9 3 8 , constrói-se Ullla das evidências

e acabava a lllassa do sabão .

de call1po que lllelhor identificalll o

O período de lllaior expansão desta

conjunto fabril - SNS - , pois as ini­

unidade fabril verifica -se durante toda

ciais da firllla inscrevelll a Ullla altura

a década de vinte, lllantendo a llleSllla

considerável, visíveis a longa distância.

intensidade de crescilllento até aos

Referimo-nos ao depósito de águ a .

anos 50. Esta fase representa o lll O ­

Construído elll betão arlllado é forllla­

lllento d e afirlllação econólllica da

do por Ulll vaso cilíndrico de fundo

elllpresa, havendo a necessidade de Ulll

tronco - cónico e e lll calote esférica,

alargalllento espacial através da aquisi­

sendo apoiado por oito pilares de vinte

ção de novos terrenos para a instalação

metros de altura acillla do nível do solo .

de Ulll novo conjunto de equipalllentos

A 23 de Maio de 1 94 5 , a empresa pre­

considera velm ente

Dois momentos de crescimento, destacando-se a transportadora metálica de 1951. Foto Mário Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste. Gulbenkian.

Pretende agora a requerente ampliar essas

instalações

industriais . Através de negociações

tende fazer Ullla profunda remo­

com o fim de aperfeiçoar ainda mais as

COlll a Câlll ara e COlll os próprios call1i­

delação, apresentando à Câmara uma

suas actuais indústrias complem entares

nhos-de-ferro foi possível adquirir a

illlportante petição .

das mesmas.

denolllinada Quinta do Brito e ficar

Possui esta sociedade em Marvila, há

Para tais melhoramentos necessita a

COIU acesso directo a Ulll apeadeiro ,

longos anos

infra - estrutura fundalllental para a

instalações fabris, cujo valor, em e difí­

montar muitos maquinismos. (. . . )

entrada de lllatérias-prilllas na fábrica e

cios e máquinas, ascende já a lTIuitas

As novas instalações não puderam ser

para a saída de lllercadorias. A área total

dezenas de milhar de contos.

montadas num local distante do aglo -

- diz o pedido -

as suas

requerente de construir vários edifícios e


a) na refinaria IV, os óleos crus o u bru ­

5) Fábrica de adubos

6) Fábrica de H. de óleos (. .)

tos eram sujeitos a processos contín uos

7) Alteração da fábrica de refinaria

e às operações adequadas, de modo a

.

Silos e serviços ane.xos. Foto Mário Novais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

8) Alteração à fábrica de extracção

obterem -se óleos refinados, destinados

9) Caldeiras de vapor, central eléctrica

inclusive ao consumo alimentar;

Ia) Oficina de tanoaria

b) na refinação cáustica, procedia -se à

II) Fábrica de óleos

recepção e armazenagem dos óleos crus

12) Parqu e para vasilbame

e consequentemente: à desgomagem / à

13) Armazém par reserva geral de óleos.

neutralização cáustica e separação dos

À semelhança de muitas fábricas con­

sabões em centrífugas herméticas / à

géneres a SNS evoluiu para uma

lavagem e separação dos sabões residuais

concentração de múltiplas actividades e

/ ao arrefecimento / à winterização ou

de vários ramos que permitiam um

desceragem em centrífugas / à secagem

domínio do mercado na esfera dos

por centrifugação e vácuo / ao bran­

sabões , detergentes, óleos industriais

queamento por terras descorantes e

e alimentares, margarinas, rações e

filtração em filtros verticais herméticos /

fertilizantes. Iniciando a sua activida­

à desodorização (destilação por arrasto

de pelo fabrico do sabão , através da

de vapor sob vácuo) / à armazenagem

combinação de ácidos gordos com

de óleos;

bases alcalinas e pela saponificação

c) na refinação fisica, iniciavam-se as

(utilizando, essencialmente, gorduras

operações com a recepção e a armaze­

vegetais, gorduras animais, resinas,

nagem de óleos crus, passando seguida­

álcalis, cloreto de sódio e água, como

mente: à desgomagem em centrífuga /

matérias-primas) , gradualmente esta

ao branqueamento por terras desco­

sociedade aproveitou o mesmo univer­

rantes e filtração em filtros verticais

so dos produtos primários para a fabri­

h erméticos / ao arrefecimento / à des­

cação de derivados.

ceragem / à refinação física e deso­

merado fabril da requerente, visto a sua

Em I g 8 I , a SNS compreendia fábri­

dorização / à armazenagem de óleos

interligação ser feita por intermédio de

cas de óleos para fins alimentares e

refinados.

canos e transportadores e não existir

industriais e indústrias para fabrico de

As matérias-primas utilizadas eram

outro processo prático de a efectuar. (. . .)

sabões e sabonetes, mistura de deter­

previamente analisadas em laborató­

Discriminação das novas instalações a

gente s , ceras para soalhos, móveis ,

rio da empresa. Os óleos a refinar obti­

montar:

preparação de insecticidas, etc. , etc.

nham-se a partir das sementes olea­

I) Refeitório, biblioteca e serviços sociais

De forma sucinta, podem referir-se

ginosas laboradas nas instalações de

2) Parqu e para recreio do pessoal

alguns sectores e vários métodos de

extracção da sociedade ou recebidas

3) Labo�·a tório e serviços técnicos

fabrico contemplados no processo de

do exterior. Os óleos crus classificados

4) Silos para oleaginosas

obras :

como alimentares (girassol, amendoim,

'32


cártamo , soja, grainha de uva, gérmen de milh o , tomate, bolota, etc. ) refi­

E M P R E SA S

A S S O CIA DA S

-

I Ni c I O

DA

D É CA D A

D E

O I T E NTA

navam-se em quantidades variáveis, atingindo os valores máximos de 2 00 toneladas/24 horas. A

soda cáustica, o ácido fosfórico , as

terras descorantes ou de branqueamen­ t o , e outras matérias subsidiárias dos diversos processos eram empregues em

P RO D UÇÃO

E MP R E SA SO CIEDADE C O MERCIAL ULTRAMARINA

Óleos alimentares e lubrificantes

PREVINIL .

Compostos vinílicos

SOVENA

Glicerina e óleos vegetais

INDUVE .

Óleos vegetais para a indústria

quantidades dependentes da qualidade dos óleos crus a refinar. D o s aparelh o s , das máquinas e do

S O NADEL

D etergentes

.

restante equipamento podemos enun­ ciar apenas alguns exemplos retira­ dos do gigantesco universo existente: cinco depósitos para óleos em processo , três depósitos para soda cáustica, um

MARINTAR

Fretes marítimos e aéreos

PSICOFO RMA

Testes psico técnicos

SO]ORNAL

Jornal Expresso e Tempo Económico

. .

depósito para ácido fosfórico , dois tanques de água quente, um tanque de recolha de descargas, um tanque de

I NT E G R A D A S

E M P R E S A S

N O

PA R Q U E

I N D U S T R I A L

recolha d e óleos dos filtr o s , uma caldeira de fluido térmico e respectivo tanque de recolha de fluido , dois seca­

E M P R E SA

P R O D U ÇÃO

VITAMEALO PORTUGUESA, SARL

Rações para animais

dores de óleo , um reactor de contacto, três desodorizadores, dois branquea­

FÁBRICA NACIONAL

dores , entre outros.

D E MARGARINA

Margarina de uso doméstico e industrial

SOVENDAL

Produtos de alimentação e higiene

MENSOR

Estudos económicos

Paulatinamente, a SNS adaptou-se à nova era de organização empresarial. Se na sua história interna a fábrica de sabão já tinha aderido à concen­

.

INTERMARCA

Produtos de higiene e beleza

CIESA

Publicidade

SYRNES P O RTUGUESA

Resinas sintéticas

D ' ORO VONDER

Batatas fritas

traçã o , no mesmo espaço de labora­ ção , mais tarde transformar-se-á num parque industrial integrando variadís­ simas empresas, associando-se a outras tantas, também ligadas ao mesmo. Com este método organizativo , tudo o

PENTA

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Publicidade

que para outras empresas se incluiria na

133


esfera do desperdício ou do lixo , para a SNS era o emergir de novas fábricas (onde ponderavam já conceitos ambi­ entais ) , alargando a escala produtiva e subsidiando outros vectores económi­ cos relacionados

COIU

o ramo alimentar

ou com a pecuária. Desta década desta­ cam-s e , também, os óleos de amen­ doim, de soj a , de girassol e de coco ; os produtos de higiene e limpeza (a marca Sonasol,

outros detergentes, sabões e

sabonetes) e rações para animais.

Produtos da SNS. Folos �lãrio Novais. Arquivo de Arte da Fundação Calo mie Culbenkian.

'3 4


A manutenção e alimentação destas

Ao longo das diversas actividades docu­

linhas de produção impunha uma

mentam-se vários incidentes de trabalh o .

estrutura alargada, tanto a nível dos

No processo d e obras , j á no período

mercados ab astecedores das maté­

final da actividade da empresa, surgem

rias-primas (caso das ex-colónias , da

preocupações relacionadas com p o ­

Nigéria ou dos EUA) ,

luição e c o m a segurança no trabalho .

como dos

mercados consumidores. A produção

Em 1 9 8 7 , existe um anexo a uma

da SNS ultrapassava as fronteiras

memória descritiva , na qual se expres­

nacionais , tendo nas ex- colónias um

sam as condições de segurança para a

mercado excepcio nal . A circulação

viabilização e aprovação do próprio

constante de toneladas de matérias­

pedido de obras . Podem-se a título

-primas ou de milhares de produtos

de exemplo explicitar algumas das

exigia uma organização exemplar na

condições :

Deve ser apresen tado um

distribuição e transportes. A linha de

inventário

completo

caminho- de-ferro do Norte, a frota de

emissão para a a tmosfera, incluindo

B IBLIO GRAFIA,

camiões- cisternas e as embarcaçõ es

emissões justificativas (tendo em aten­

RIO DE JANEIRO, António,

marítimas eram os meios utilizado s .

ção os dispositivos de ventilação, linhas

sabões e sabonetes,

A S N S empregou sempre um número

de vácu o ,

Profissional, Lisboa, Livraria Bertrand, s.d. ;

dos pontos da

transporta dores pneumá­

Linha de engarrafamento e de empacotamento de detergentes. Foto Mário Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

Indústria de

Nova Biblioteca de Instrução

muito elevado de operários. No final

ticos,

dos anos 7 0 , a mão-de-obra utilizada

considerando e m particular as emis­

et alij, A aplicação do Método Regressivo

rondava o meio milhar de trabalha­

sões

da

dores, sendo 15 % composto de mu­

circuito d e transporte e armazenagem

lheres e 85 % de homens. Na história

das terras

social da empresa não se registam mui­

o dores

silos de armazenagem,

de p o eiras

de

(p or

exemplo

branqueamen to)

(ao longo

de

etc.),

toda

e

no

os

a linha

FROTA , Magda Maria da Purificação de Sousa

Zona Industrial de Marvila,

CUSTÓD I O , Jorge, "Reflexos da Industrialização na Fisionomia e Vida da

tas contestações laborais. No parque

de refinação de óleos, disp ositivos de

Cidade " . i n Livro

industrial criaram-se algumas infra­

redução). Os operários devem u tilizar

Livros Horizonte, 1994, pp. 470-471 e 480-481.

- estruturas sociais como o refeitório e

as protecções adequadas de forma a

o posto médico .

evitar acidentes.

Esta empresa começou muito cedo a

Apesar das diversas remodelações de

lidar com fortes problemas de p o ­

equip amento , das actualizações dos

luição , n ã o só para a área geográfica

sistemas de fabrico e das recentes me­

e habitacional envolvente, mas tam­

didas protectoras do ambiente, a em­

b é m em relação aos operários que

presa , que ainda nos anos 8 0 laborava

e nfrentavam quotidianamente c o m

sem preocupações aparentes, encon­

situações d e risco ao manusearem

tra-se actualmente encerrada, lidando

p .r o dutos e- operações químicas

co.m. � p.resençlL de- uma. co.m.issão liqui:

co

perigosas .

datária.

135

(trabalho

dactilografado), Lisboa, F. L. , 1978, pp. 68-74;

de Lisboa,

Lisboa,



,

F A B R I C A D E B 0 R RA C H A L U S 0 - B E LGA Localização

-

R u a d o Açúcar, Beato.

período de Actividade Fundadores

-

-

1 9 2 6 - 1 9 8 0 (±)

V i ctor Constant Cordier.

Activi dade Industrial - F a b r i c o de produtos e a c e s s ó r i os em borra c h a . M a n ufactura gera l d e borracha f l e x ív e l , e b o n i t e , g u t a - p e r c h a e am i an t o .

Valor Patrimon i a l - O e d i f í c i o c o m frente p a r a a R u a do A ç ú c a r , datado dos anos 40, é um e x e m p l o da arq u it e ctura m o d e r n i s t a ao serv i ç o da i n dú s t r i a , confer i n do - l he u m a l in g u a g e m de p o d e r e de act u a l i zação para a época. A f a c h a da revela uma p ureza de l i n h as e s o b r i edade dos e l ementos déco, r e s s a l ta n d o a fun ci o n a l i dade d a s j a n e l a s . O conj unto dos o n z e armazéns é u m a constru ção Planta Aerofotogramétrica 6/8. Escala 1:2000. 1{aio de 1963. Actualizada em 1987.

anter i or a 1 9 1 5 e d e s t a c a - s e p e l os seus t e l h a d o s em s h e d e pela c o l o cação ritmada dos respiradouros. Todo o conjunto é i mportante do ponto de v i st a d a arq u i te c t ura i n d ustri a l .

Estado d e Conservação - O s e d i f í c i o s foram rec uperados p a r a i n s t a l a ção de e s c r i t ó r i o s n o s p i sos superiores, u m a l o j a n o rés - do - c h ã o e arm a z é n s autónomos n a s n a v e s fabr i s . E s t a i ntervenção i ns e r e - s e n o prógrama de reabi l itação urbana desenvolv i do p e l o Cam i n h o do O r i e n t e com a c o l aboração da A m b e l i s .

Classificação

-

A c l a s s i f i car como

Imóvel de Interesse P ú b l i c o .

1 37


Anúncio da Companhia de Borracha. Exposição do Rio de s/p.

Janeiro. 1922.

Edifício da Fábrica d e Borracha Luso-Belga, com frente para a Rua d o Açúcar. Foto ?>.lário Navais. Arquivo d e Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

FÁBRICA Luso-Belga de Victor

acordo com os alçados de finais do século

inovador , tratando-se de uma indústria

Cordier Lda. não pode ser disso ­

passado a fábrica era composta por um

pouco desenvolvida em Portugal. A sua

ciada da primeira indústria de borracha

único piso, terminando em platibanda,

instalação deveu -se essencialmente a

instalada no mesmo espaço produtivo .

onde se inscrevia

Compagnie du Caout­

capitais estrangeiros de origem belga.

A

Em Setembro de 1 8 9 8 , Jules David

chou. Monopole de Portugal.

Este edi­

Esta indústria não gozara de nenhum

pede autorização à Câmara para instalar

fício era interrompido pelo portão de

proteccionismo por parte do Estado,

a sua indústria de " cautchu" . O proces­

entrada e encontrava-se associado ao

embora fosse autorizado um monopólio

so de obras informa sobre o pedido do

prédio de habitação do proprietário.

ao empresário Jules David.

empresário de origem belga,

repre­

A área coberta, como se pode observar

A passagem da Companhia para as mãos

sentante da Companhia da Borracha

pelo anúncio apresentado em 1 9 2 2 , é

do industrial Victor Cordier não é

desejando

presumivelmente a mesma da fábrica do

muito clara . A última data com refe­

construir uma fábrica para laboração de

período de Victor Cordier, encontran­

rência à Companhia é a de 1 9 2 2 e o

borracha e uma casa de habitação, a o

do-se já instalados os edifícios de telhado

primeiro elemento informativo do

O início d a laboração data de

em shed e a zona da casa das caldeiras e das

novo proprietário é de 192 6 , sob a

7 de Janeiro de 1 8 9 9 , ficando sujeita à

máquinas, junto à chaminé e com ligação

denominação de Victor C . Cordier

produção anual de 50 toneladas.

para a Rua José Domingos Barreiro .

Lda . Os capitais continuam a ser maio­

Monopólio

Beato.

de

Portugal,

O edifício da Companhia da Borracha

Para a época, o estabelecimento da

ritariamente belgas . A presença de

tinha frente para a Rua do Açúcar . D e

Companhia Nacional de Borracha era

accionistas portugueses na empresa


origina mais tarde a denominação de Fábrica de Borracha Luso - Belga, no­ me que se perpetuou até à actualidade, inscrevendo-se na fachada principal. C o m este novo p roprietário , alte­ rações sucessivas vão sendo realizadas nos edifícios construídos. N o proces­ so de obras registam-se p edidos de alteração de telheiros, para a insta­ lação de novas áreas de apoio aos trabalhadores, como o vestiário , o re­ feitório , o s balneário s . Na década de quarenta, para além do grande espaço d e fabrico de o rige m , existiam as secções de aquecimento (para a vul­ canização) , do pó de sapato e ainda o armazém de confecções, o depósito de matérias - prima s , a serralharia, um

Oficina de acabamento d e galochas. Foto 1.fário Novais. Arquivo d e Arte d a Fundação Calouste Gulbenkian.

posto médico e uma garage m .

r.

era submetido ao aque­

forte laminador, a calandra . Da má­

Em relação a o edifício modernista, d a

cimento em caldeiras com água quente

quina saíam umas folhas com a con­

década de quarenta - aquele que carac­

para ser cortado de imediat o ;

sistência e espessura desejada para se

teriza a actual tipologia virada à via

2 . após o corte , seguia - s e a lavagem

utilizarem na obtenção dos diversos

pública -, desconhece-se o arquitecto

em água fria de modo a perder as im-

produto s .

que o projectou.

purezas;

D e todas a s operações a m a i s i m ­

O

c a u tchu

Aquando da fundação da Companhia, a

3. o

matéria-prima mais importante consis­

minadores ;

tia no

4 . a operação posterior intitulava -se

cautchu

em brut o , proveniente

cautcnu

passava por cilindros la­

portante e r a a vulcanização p orque p ermitia conservar as propriedades

tendo como obj ectivo a li­

mais importantes do

c a u tcn u .

de Angola, Benguela , São Tomé, Brasil,

malaxage,

Pará, Peru e México . O

gação dos diversos fragmentos , para

conjunto mais vasto de um trabalho

obtenção de folhas de borracha;

de Mário Novais realizado na Fábrica de

para os depósitos, com a forma de tor­

5. após a secagem, as folhas sofriam

Borracha Luso -Belga. Estes magníficos

cidas o u de pães cor de tij olo escuro .

uma operação de mistura com as di­

registos, praticamente desconhecidos

Utilizavam-se cerca de 60 0 0 0 kg por

ferentes substâncias que entravam na

do grande público , mostram a evolução

ano .

sua composição , antes do

técnica existente na unidade industrial,

Até à obtenção dos diversos produ­

vulcanizado ;

a relação que o Homem detinha com o

tos registavam-se uma série de ope­

6. por fim, as folhas sofriam uma acção

Trabalho e com a Máquina.

raçõe s :

compressora dos cilindros e de um

N o período de Cordier, apesar de se

cautcnu

chega­

va até à fábrica em embarcações e seguia

1 39

cau tcnu

ser

As

presentes fotografias integram um


terem registado várias alterações, em termos de edifício e de interiores, a laboração não era totalmente maqui­ nofactureira . As primeiras fases de tratamento da matéria-prima depen­ diam de algumas máquinas-ferramen­ tas importantes, como a calandra. Para a obtenção de alguns produtos, como a mangueira, a máquina era também fundamental, mas noutras fases de acabamento a mão - de - obra tinha um papel determinante . E m 194 3 , ainda aparece em planta a casa da caldeira e a máquina a vapor, indiciando a força motriz utilizada na Fábrica de Borracha Luso-Belga. A energia a vapor já se encontra insta­ Fabrico de mangueira. Foto Mârio Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

lada em 1 9 0 8 , com uma máquina de 15 c/v, mas nos anos 40 impunha-se a sua substituição pela energia eléctrica. A Fábrica de Borracha Luso-Belga era a concessionária em Portugal e ilhas adja­ centes da patente internacional, Standard Super-moulding Coo Ltd, para a super­ moldação de pneus das marcas Englebert

e

Dunlop.

Micbelin,

Mas a gama de

produtos fabricados era variadíssima, desde acessórios para bicicletas, motas, automóveis, mangueiras para diversas funções, sacos de água fria e quente, etc. , etc. Um sector muito importante da produção era o calçado, fabricando-se desde galochas a sapatos. Em 1940 , a fábrica imprime um catálogo de calçado para a época de Inverno com os res­ pectivos preços, destacando nessa publici­ Fase do trabalho manual. Foto Mário Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

dade a marca registada

Cruz de Cristo.


C(i)MPANHIA D'J\ B(i)RRA,CHA

BORRAOHA- GUTTA PEROH.� -.A.:iUJ:A:NTO INDUSTRIA NACIONÁ\L

DEPOSlrros

I

Em LISBOA -275,

Rua da Prata, 277

No PORTO - 186, Rua das Flores,

138

Produtos fabricados pela Companhia de Borracha. in Problemas e J\fanip uJações Chimicas. slp.

Note-se que em 1 9 7 8 , a Fábrica de Borracha Luso-Belga era ainda uma empresa em franco funcionament o , ocorrendo o seu encerramento durante a década de oitenta. A actual proprietária é a Sociedade Agrícola da Quinta da Freiria, S .A.

B I B L I O GRAFIA,

SANTOS , J. Correia dos, "Borracha (cautchu) " , Cllimicas,

in Problemas e Manip ulações

vol. III, Lisboa, 1 9 I I , p p . 3 1 6 - 3 2 2 ;

Fábrica d a Borracha Luso-Belga. 1640 - 19 4 ° , Calçado - Época d e 1m'erno ,

Lisboa, 1 9 3 9 .

Produtos fabricados pela Fábrica de Borracha Luso-Belga. Foto Mário Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.



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l i derada p o r c a p i t a l ista de L i s b o a e P o rt o , c o m o o v i sc o n d e de Carn a x i d e , c a r l o s R e i n c k e , l o rge O ' Ne i l , I . W . H . B l e c k e Man u e l de Castro G u i m arães .

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n

Planta ACTofotogramêtrica 6/8. Escala 1:2000

.

de fósforos.

Valor Patrimonial - As d i versas áreas f u n c i o n a i s d a f á b r i c a de fósforos compõem - s e p o r edífícios a u t ó n o m o s , con str u í d o s j ustaposta m e n t e . Este conjunto organizava-se para o i n t e r i or, com p e q u e n o s p á t i o s e a l as c o m u n icantes, d e l i m i t a d o s p o r um m uro a l t o , à v o l t a do q u a l s e

As j a n e l as para o e x t e r i o r têm v e r g a -,... -

....

---

uaue

Act ivi dade I ndustrial - Produção

desen v o l v i a m o utras o f i c in a s .

-\-

:t.

período de Act ividade - 1 8 9 5 - 1 9 8 5 ( ±) Fundadores - compan h i a p o r acções

P.n.do

An.s

'---

Local i zação - R u a do Açúcar, a o Beato.

I---

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Afo nso

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A veNIDA

lXL-��

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j>.,faio de 1963- Actualizada cm Ig87-

,

F 0 S F <D R 0 S C 0 1l1 P A n H I A P 0 RT U G U E S A D E, S F 0 R0 S S 0 C I EDADE nAC I 0 nAL D E F0

fjj �

o g i va l . Exceptuando esta f o r m a de organ i z a ç ã o interna o e d i f í c i o n ã o rev e l a n e n h u m a característ i ca s ig n i f i ca t i v a .

Estado de conservação - R e g u l a r . Classificação - Sem c l as s i f i c a ç ã o .


Anúncio.

Exposição Internacional do Rio deJaneiro.

1922.

OS finais do século XIX , o fabri­

O Inquérito Industrial de I890 teste­

Os obj ectivos eram claros. Tratava-se

munha este facto , pois menciona, em

de explorar o

Lisbo a , diversas pequenas unidades

a ccendalhas e p a vios ph osphoricos,

exclusivo de fa brico de

fosforeiras, onde o carácter mecaniza-

qualquer que seja a sua denominação e

do da produção é exíguo . O Estado

processos, e a exploração da isca, no

pretendeu

continente e ilhas a dja centes

inverter

esta

situaçã o ,

(Estatu­

alargando à produção fosforeira a s

tos, I 9 0 9 ) . A sede social ficou em

tendências d e centralização e mono ­

Lisboa, na Rua de S. Julião , n. o I 3 9 .

pólio ou exclusivo , estratégia aplicada,

A Companhia Portuguesa de Fós­

na maior parte das vezes, aos sectores

foros teve um

dos tabacos e dos sabões. Assim, a partir

2 400 0 0 0 $ 0 0 0 réis , através de acções

capital inicial

de

de I89I, lançou-se um concurso com o

e obrigações . A maioria dos accio ­

objectivo de desenvolver uma indústria

nistas eram portugueses , aos quais se

exclusiva de fósforos. Mas dificuldades

associaram algumas casas estrangeiras,

diversas e a renda elevada da oferta da

principalmente o Banco de Paris e o

concessão , situada em 2 8 0 500$000

dos Países Baixos .

réis anuais, afastava o candidato a

O capital social cresceu significativa­

empresário.

mente, acompanhando o desenvolvimen­

Todavia, em I 8 9 5 , surge a Companhia

to da empresa, por exemplo em I909-

co de fósforos ou acendalhas

Portuguesa de Fósforos, através de

-I9I5, o valor era de 4 500 000$00, em

passou da fase oficinal e manufacture ira

uma proposta do po lítico H intze

I922 de 9 000 000$00 e em I978, de

para a industrial. Este progresso tec­

Rib eiro .

O Estado viabilizou um

2 5 000 000$00 escudos. A adminis­

nológico deveu -se às significativas des­

contrato que acabou por ser assinado

tração da sociedade foi confiada a um

cobertas dos processos químicos para o

com os accionistas dos fósforos , em

conselho composto por um número

aperfeiçoamento da acendalha, regista­

25 de Abril desse ano . O obj ectivo

variável, entre cinco ou nove elemen­

dos na primeira metade de Oitocentos.

consistia na exploração exclusiva do

tos, com preferência para a nacionali­

Um dos avanços mais significativos ficou

fabrico e venda de fósforos em Por­

dade portuguesa, segundo os Estatutos

a dever-se a E. Kopp e a Schrotter que

tugal. Assim, a Companhia liquidou

de I 9 0 9 . Alguns empresários que

introduziram uma modificação alotró­

todas as fábricas que existiam no país

integravam a administração , em I 8 9 5

pica do fósforo ordinário , ou seja, a

instalando as novas unidades fabris em

eram, o visconde d e Carnaxide, Car­

combustão deixou de ser tóxica ou

Lisboa (Rua do Açúcar, ao B eato) e

los Reincke , Jorge O ' Neil, Manuel de

inflamável. Em I 8 5 5 , industriais suecos

no Porto (Lordelo) . A exclusivida­

Castro Guimarães e J .W. H . Bleck.

começaram a aplicar estas propriedades

de da produção prolongava- s e por

Em I 8 9 8 , na

ao fósforo ordinário , passando dora­

um período de trinta anos, durante o

de Lisbonne a

vante a ser denominado este produto

qual se procedia ao pagamento da ren­

que a produção das duas fábricas por

por

fósforo vermelllO, fósforo sueco

fósforo de segurança.

ou

Exc ursion In dustrielle Th omar,

referia -se

da anual ao Estado , estabelecida em

ano equivalia a 6 000 000 000 de

contrato .

fósforos, quantidade absorvida pelo


consumo do p aís . A tendência cami­ nhava para um aumento da produção e para um alargamento dos mercados às ilhas e colónias portuguesas. O certo , é que em 1 9 2 2 , publicita-se a filial de África, localizada em Luanda e denominada por Sociedade Colonial de Fósforos, Limitada. D o is momen­ tos importantes de crescimento desta indústria relacionam-se com as guer­ ras mundiais. Num período de actividade de cerca de no anos, a Fábrica do Beato , que

inicialmente empregava mil operários, tinha em 1978 setenta e nove emprega­ dos, compostos por 50 % de homens e de mulheres. Os indicadores numéricos revelam o crescimento e a sua decadência. No entanto , não se pode Fábrica dt: Fósforos.

Rua do Açucar. Ezcursion indusldeJJe de Lisboa li Thomar, p. 39.

esquecer a remodelação tecnológica e

Fachada da

a automatização que alguns sectores

reger- se pela resposta constante à

tos identificativos ou de ostentação ,

da produção foram tendo ao longo

concorrência de outras grandes uni­

mais parecendo uma fortaleza que

do período de actividade, diminuindo

dades, como a Companhia Lusitana

encerra em si toda a produção.

naturalmente a presença do opera­

de Fósforos do Porto e a Fosforeira

O interior deste massame em betão

riado .

Portuguesa de Espinho .

é composto por vários edifício s , uns

A actividade da fábrica da Rua do

À semelhança de outras indústrias

localizando-se no interior do pátio e

Açúcar foi , nos seus primeiros trinta

europeias, como a metalúrgica Grand

outros encostando -se aos muros da

anos , marcada pela fase da exclusivi­

Hornu, na Bélgica, os edifícios que

delimitação , muitos deles de dois

dade de mercado , em virtude da acção

integram o conjunto da unidade in­

pisos. A planta de 1 9 2 0 , revela - nos a

protectora do Estado. Mas em 1 9 2 5 ,

dustrial organizam-se internamente,

lo calização interna das áreas fun ­

finda a concessão estatal, a Match and

sendo pouco perceptível para o ex­

cionais e d e todos os restantes serviços

Tabacco Timber Supply Coo adquiriu

terior os ambientes de laboração . De

de apoio . Das várias oficinas iden­

todo o activo e o passsivo da Compa­

facto , a Companhia Portuguesa de

tificadas podemos destacar as estufas

nhia Portuguesa de Fósforos , transi­

Fósforos é uma das poucas indústrias

para fósforos amorfo s , a secção de

tando praticamente todo o capital para

da Zona O riental de Lisboa que desen­

massas químicas, de molha de fós ­

a Sociedade Nacional de Fósforos.

volve esta filosofia organizacional, não

foros, d o enchido de fósforos e do

A actividade desta nova Empresa irá

mostrando para a via pública elemen-

empacotamento , entre outras . Este

1 45


&TTt.I.t,ClTl-liia.. .:/orá.L9.L-LeJeL

de

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('}�a d<!llIcul" .;ruJ

.L P/rlR/".

Alçados e planta da casa das caldeiras. Arquivo de Obras. CML.

[

,� Planta da Companhia Portuguesa de Fósforos. Arquivo de Obras. CML.

documento permite simultaneamente

construção dos diversos sectores se

para posteriormente ser aplicada nas

realizou na maioria das vezes, isola­

cabeças dos palitos de cera (fósforo

damente .

branco) ou na lixa das caixas dos fós ­

A Companhia Portuguesa de Fósforos

foros suecos (fósforo vermelh o ) .

produzia o s fósforos suecos e os

Para a fabricação d o s fósforos eram

de cera . Em I9II, a fábrica do Beato,

necessárias várias e numerosas ope­

impressionava

pela variedade de m a ­

rações, que podem resumir-se a qua­

chinism os q u e s e encontram em n u ­

tro , no caso concreto das acendalhas

merosas e amplas officinas, tendo em

vermelha s :

vista

L

os mais delicados pormen ores

compreender a organização da uni­

da divisão do tra balh o . Em todas as

dade fabril , a identificação das várias

installa ções se n o ta o mais apurado

secções existentes e o desenvolvimento

m e th o do e uma excelen te organização

tecnológico , num dos períodos mais

de serviços technicos

(in

Pro blemas e

divisão d a madeira em p equenas hastes ou palitos ;

2 . preparação da pasta o u massa inflamável; 3. a quimicage m ;

significativos da história da empresa.

Manipulações Chimicas) .

4 . a excicação e embalage m .

O projecto da casa das caldeiras, data­

A matéria-prima mineral importava­

Durante a década de trinta, a S o ­

do da mesma época , é um exemplo do

- se de França , sendo guardada em latas

ciedade Nacional de Fósforos , desen­

crescimento da fábrica e de como a

e colocada em tanques cheios de água,

volveu um forte plano de apoio social


aos operários. Apesar de não ter cons­ truído casas para os empregados , a sociedade criou um serviço médico , um posto de socorros, um balneári o , um refeitório , u m a crech e , u m a coo ­ perativa ' u m grupo desportivo , tudo no interior dos altos muros da fábrica do Beato . Por outro lado , desenvolveu uma política de subsídios, para o caso de doença e invalidez.

B I B L I O GRAFIA,

SILVA, António Joaquim Ferreira da, "Acendalhas Phosphoricas", in

Relatorios

da Exposição Industrial Portugueza em

I89I no Palacio Crystal Portuense,

Lisboa, lN, 1 8 9 3 , pp. 1 9 0 -2 0 2 ; "Compagnie Portugaise d'Allumettes" I in IVê

Oficina d e fabrico d e pavios para o s fósforos d e cera,

i n Problemas e Manipula ções ClJimicils,

Centenaire de la Découverte de la Route

CUSTÓ D I O , Jorge, "Re flexos da

Maritime des Indes.

Industrialização na Fisionomia e Vida da

Lisboa à Th omar,

Excursion industriel1e de

Lisboa, 1 8 9 9 , pp. 3 8 - 42 ;

Estatutos da Companhia Portugueza de Phosphoros,

Cidade " , in

Livro de Lisboa,

Livros Horizonte , 1 9 9 4 , p . 4 7 9 ·

Lisboa, Typographia de A. M.

Pereira, 1 9 0 9 ; "Fabricas de Phosphoros " , in pJ'oblemas e Manipulações Chimicas,

vol. III ,

Lisboa, 1 9 I I , pp. 3 8 4 - 3 8 7 ; Exposição Internacional do Rio de Janeiro, e Catálogo Oficial,

Livro d ' Q uro

Lisboa, 1 9 2 2 ; "Sociedade

Nacional de Fósforos. Assistência ao Pessoal" , in

Indústria Portuguesa. Revista da Associação

Industrial Portuguesa,

n. o especial,

Lisboa, 1 9 3 7 , pp. 3 0 - 3 1 ; "Sociedade Nacional de Fósforos. Assistência ao Pessoal" I in

Lisboa,

Indústria Portuguesa.

Revista da Associação Industrial POl·t uguesa ,

Ano 1 0 , n . o I I 7 , Lisboa, 1 9 3 7 , p. 2 9 ;

1 47

p.

385.



recente, com l argas j a n e l a s r e p e t i das e u m a p l a t i b a n d a a todo o c o m p r i m e n t o . As j a n e l a s e os p o r t a i s d o p i s o t é rreo reve l a m a mesma l i n g uagem construt i v a . Este último edifício encontra-se c o n f i n a d o a n orte com t e r r e n o s do cam i n h o - d e - ferro . U m o utro arruamento formando l ar g o , à d i re i t a d o t é r m i n o d a r u a c e n t r a l , d e f i n e um e s p a ç o fabr i l , no q u a l se constru i u um e d i fí c i o c e n t ra l i z a d o , prováve l a n t i g a casa das m á q u i n a s . Em todos os prédios notam-se obras de a l g u m a q u a l i dade de i ntervenção dos en gen h e i ros i n d us t r i a i s , que não q u i seram deixar u m a fábr i c a atamancada, m a s s i m u m a obra de acordo com as m odernas normas construtivas d a s fábr i c a s Planta Aerofotogramétrica 6/8. Escala 1:2000. Maio

de 1963. Actualizada em 1987.

de cort i ça . E s t e aspecto f o i t i do e m

F Á B R I C A D E C 0 RT I Ç A D A Q U i n TA D A Il'1 I T RA Loca l ização

-

A l b e r g u e d i t o da M i tra,

j un t o a o Palá c i o da M i t r a .

c o n s i deração q u a n d o s e reconverteu o espaço para a l berg u e .

a rmazéns a d j a c e n t e s u n s a o s o u t r o s .

E s s a q u a l i dade p o d e d e t e c t a r - s e

A sua refunc i o n a l ização e a d a p t a ç ã o

também n o i nterior, embora

perm i t i u perpet u a r a a n t i g a construção

a í h a j a necessidade de destri n ç a r

Desde 1 9 2 4 pertence à S e g urança

fabri l , c u j a memória se e s v a n e c e u

o q u e f o i obra dos e m p r e s á r i o s

Soc i a l .

nas n ovas funções s o c i a i s .

da cortiça e o q u e res u l t o u

período d e Actividade

Fundadores

-

-

1898- 1 9 1 9

O s i n d ustri a i s c a t a l ã e s

da f a m í l i a Fuertes.

Actividade Industrial

-

Transformação

e fabrico de produtos e m c o r t i ç a .

Valor Patrimonial

-

O conj unto da

a n t i g a F á b r i c a de Cort i ç a , construído com a lv e n ar i a de t i j o l o aparente,

U m a a l a m e d a centra l l adeada de c i n c o

da adaptação para f i n s s o c i a i s .

e d i f í c i o s de d u as á g uas e n c i m a d o s por

Do p o n t o de v i s t a a r q u i t e c tó n i c o esta­

u m ó c u l o , com portão e j a n e l a s

mos n a presença de u m a construção

l atera i s , de u m l a d o e u m a correnteza

em t i j o l o , s up o rtada p o r v i ga s d e ferro,

de d o i s pisos, d o o utro, são os

m a s rebocada a c a l .

aspectos mais s a l i e n t e s d o que subs i s t i u . O referido arruamento

"Museu dos Bombeiros"

-

N a s p ro x i m i ­

dades e n c o n t r a - s e u m e d i f í c i o q u e

reve s t e - s e de a l g u m i n t eresse p e l a

e n testa com u m grande e d i f í c i o

o utrora perte n c e u à F á b r i c a da C o r t i ç a

organ i z ação dos e d i f í c i o s i n d u s t r i a i s e

transvers a l de q uatro p i s o s , m a i s

e onde e s t á i n s t a l a d o , provi s o r i a m en t e ,

1 49


m at e r i a l p ara um i m portante M u s e u do

n o q u a l a s bombas m a n u a i s , a vapor

B o m b e i r o , do Bat a l h ã o de Sapadores.

ou mecân i c as c o n s t i t uem e x em p l ares

Cons i derações de o utra n a t ureza não

d e que n o s p o d e m o s org u l h a r e x i s t i rem

seriam n e c essárias s e n ã o e x i s t i sse a

em Portug a l . A á rea

noção da i mportâ n c i a da a c t i v i d a d e

Estado d e Conservação

dos b o m b e iros n a c i d a d e i nd ustr i a l ,

o c upada pelo ant i g o a lb e r g u e está em

desde os m ea dos d o s éc u l o XV I I I .

b o m e s t a d o , o edifício mais moderno,

Com o c r e s c i m e n t o f a b r i l a s s i st i u - s e a

l o c a l i za d o a o f u n d o da a l a m e da d a

-

u m a responsa b i l i za ç ã o p ú b l i ca e

entrada, encontra - s e em r u í n a .

privada n o ataque aos i nc ê n d i os ,

C l assificação

facto q u e m o t i v o u a m a i or m o b i l idade e m e c a n i z ação desta a c t i v i d a d e . As p r ó p r i a s empresas i n d ustri a i s desenvol veram um esforço p ara d i sporem d o seu corpo privado de b o m b e i ro s , c u j o recrutamento era f e i t o entre os operá r i o s , pess o a l interessado em deb e l ar os s i n istros n o s l o c a i s o n d e l a borav a m . E s t e a u t ê n t ico M u s e u dos B o m be i ros reve l a um im portante acervo, em g e r a l p o u c o c o n h e c i d o da p o p u l aç ã o l isb o e t a , q u e t e s t e m u n h a u m a das m a i s interessantes c o l ecções m un d i a i s , tanto p e l a série de bombas, pelas v i a t uras automóveis, c o m o p e l os t i po s de escadas. R e f i ram - s e a i n da as m á q u i n as e ferram entas q u e testem u n h am a a c t i v i dade n a Z o n a O r i e n t a l d e L i s b o a , patentes portuguesas registadas n o M i n ist é r io de O b r a s P ú b l icas e u m a i nt eressante c o l ecção d e p l acas de c o m p an h i a s de s e g u r o s , reun ida a p a r t i r dos destroços dos i n c ê n d i o s . R e g i stámos a t ít u l o de c u r i o s i dade , as p e ç a s m a i s características deste " m u s e u " ,

-

S e m c l as s i f i c a ç ã o .


L

O CALIZADA na Quinta da Mitra, junto ao Palácio do mesmo nome,

fundado por D. Thomaz de Almeida, esta fábrica de cortiça, dos finais do século XIX,

insere-se no universo das corti-

ceiras de Lisboa Oriental que caracteri­ zavam o ambiente fabril e operário do Poço de Bispo e Braço de Prata. Das diversas fábricas subsistem as ruínas da Sociedade Nacional de Cortiças (situada na Quinta dos Quatro Olhos) e os edifí­ cios descritos da empresa catalã Fuertes y Comandita. Entre as mais célebres corti­ ceiras da Zona Oriental de Lisboa refi­ ram-se a de Narciso ViIlallonga, na Rua do Açúcar, 10-13 ; a de Quintella & c . a , n a Rua da Bica d o Sapato, 46 ; a de Hen­ rique Augusto Correia, na Rua da Veró­ nica, 6 2 ; a de Romão da Serra Lopes, no Beato e a de António Bonneville , na Estrada de Braço de Prata (Olivais) , todas referidas no Inquérito Industrial de 1890 , algumas atestando a presença de fabricantes e capital catalão e espanhol neste sector industrial. Com a venda da Quinta da Mitra para a construção da linha de caminho-de­ -ferro , aquisição do empresário D . José Salamanca , os terrenos agrícolas - ou pelo menos o que ainda deles restava - man­ tiveram-se abandonados até 1898, altura da construção da unidade corticeira. Fundada em 1889, pertenceu à firma Fuertes y Comandita a dado momento (1898), passando em 1917 para a empresa pOIluguesa Seixas, que- a explorou até 1919. A dissolução desta ocorreu em 1924.

iUpccto actual.

151



V I L A P E R E I RA Local ização

-

R u a do Açúcar,

n . os 2 4 - 3 8 - 5 0 . R u a Pereira H e n r i q u e s , n . O 4·

Data de construção

-

1 887

Proprietários Fundadores

-

Santos Lima

C. C . ' .

Valor Patrimonial

-

Const i t u i u m a

t i p o l o g i a m u i t o p e c u l i ar d e n tro das h a b itações operárias. Destac a - se por ser u m e d i f í c i o i m p l an t a d o ao l on g o da R u a d o A ç ú c a r e p e l o f a c t o das h a b i tações s e l o c a l i zarem s o b r e os própri os armazéns '\./ j\

de actividade. N este caso c o n c r e t o , o próprio l oc a l de traba l h o a g r e g a as h a b i tações dos s e u s operár i o s . A p a r desta caract e r í s t i c a , a V i l a P e r e i ra faz parte i n tegrante da f i s i o n o m i a da zona d o Poço do Bispo, sendo u m e d i f í c i o q u e se

Planta Aerofotogramétrica 6/8. Escala 1:2000. Maio de 1963· Actualizada em 1987.

destaca pela d i st r i b u i ção r i t m a d a das gran des portas n o rés - d o - c h ã o , d a s j a n e l a s d o p r i m e i ro a n d a r e p e l as suas i mpon entes c h a m i n é s , q u e m arcam todo o c o m p r i m e n t o h a b i ta c i o n a l , c o n fe r i n do - l h e u m a l e i t u ­ r a caden c i a d a .

Estado de Conservação Classificação

1 53

-

-

R e g u l ar.

S e m c l as s i f i c a ç ã o .


os empregados administrativos , cons­

VIL..

PERnR"

PLANrA DO

truído pela empresa de José Domingos

1 4A NDAII

Barreiro . Em relação à Vila Pereira, a ostentação arquitectónica não é tão sumptuosa como no exemplo anterior da Praça David Leandro da Silva , destacando -se antes pela conjugação de alguns dos seus elementos funcionais. Assim , a fachada principal deste prédio , de dois pisos, organiza-se por módulos com­ postos: I. o) no piso térre o , por três

; 1I: ) i LJ 1I T ' �

.J

vãos com uma porta e duas j anelas da

Vila Pereira. Rua do Açucar .

� III

loo

arco de volta inteira, com bandeira

Planta do

andar. Arquivo de Obras. CML.

preenchida por gradeamento de ferro

os lados, criando um curioso sistema

fundido , onde se inseriram as siglas

de relações de vizinhança , no seu pró­

do proprietário e datação do imó­

prio âmago. As dimensões e área de

vel ; 2. o) no primeiro andar, por qua­

cada divisão são exíguas.

tro janelas, dispostas simetricamente.

ANDAD O construir pela socie­

O prédio compõe-se ainda por man­

dade Santos Lima & C . a , este

sardas discretamente implantadas e

BIBLIOGRAFIA:

edifício reúne duas funções - o trabalho

disfarçadas pelas chaminés, distribuin­

PEREIRA, Nuno Teotónio,

e a habitação . O arquitecto Teotónio

do-se duas por cada módulo . Este

Formas de Habitação Plurifamiliar na Cidade

Pereira no seu estudo Lisboa

Prédios e Vilas de

efeito repete-se integralmente cinco

de Lisboa,

definiu um grupo específico

vezes e podia ser acrescentado até ao

RODRIGUES, MariaJoão,

Evolução das

3 vols . , Lisboa, ed. do autor, 1979: Tradição,

de vilas directamente ligadas à produção,

infinito, mantendo a mesma harmonia

Transição e Mudança. A produção do espaço

no qual insere a Vila Pereira. Trata-se de

e equilíbrio .

urbano na Lisboa oitocentista,

uma modalidade

n. o especial do

associada a empresas

O andar térreo necessitava de áreas

Boletim Cultural da Assembleia Distrital,

de menor dimensão, em sectores especí­

muito amplas para o desenrolar das

Lisboa, 1979: PEREIRA, Luísa Teotónio,

ficos da a ctividade industrial: as habi­

actividades da firma. Ali se instalaram

Ulna Perspectiva sobre a Questão das

tações integra das no próprio edifício das

oficinas de tanoaria ou espaços de

"Casas Baratas e Salubres"

- 1881-1910,

instalações Fabris.

armazenagem. Entre o primeiro andar

Lisboa, 1981: PEREIRA, Nuno Teotónio,

Aliás, a área do Poço do Bispo, mar­

e o sótão desenvolviam-se as habita­

BUARQUE, Irene,

cada pela abundante actividade das

ções, comportando um elevado índice

Lisboa, Livros Horizonte, 1 9 9 5 , pp. 340-341.

tanoarias, reúne algumas destas tipolo­

populacional , para um espaço tão

gias, como por exemplo o complexo de

pequen o . As habitações distribuem-se

armazéns, escritórios e habitação para

ao longo de um corredor, para ambos

1 54

Prédios e Vilas de Lisboa,


Pormenor das chaminĂŞs.

'55



da Fonseca. Só assim, se compreendem as várias actividades desenvolvidas, desde a contentorização de m i lhares de l itros de vinho até aos últimos vestígios das máquinas uti l izadas para o respectivo tratamento. Se o edifício de Norte J únior é o que apresenta maior valor arquitectónico, os restantes destacam -se pela sua importância funcional e por alguns elementos da arquitectura dos grandes hangares, tão significativos para a h istória da toda a ribeirinha Zona Oriental. No interior do espaço de armazenamento não se pode deixar de destacar o conjunto monumental das cento e setenta cubas em betão, com o respectivo painel de controle Ddubron caracterizado pelos seus m últiplos

mostradores e os respectivos fi ltros de tratamento. Todas estas infra-estruturas in

Planta Aerofotogrametrica 6/8. Escala 1:2000. Maio de 1963. Actualizada em 1987.

S 0 C I E D A D E C 0 1'l1 E R C I A L A B E L P E R E I RA DA F0 n S E CA � S . A . R. L.

situ são uma evidência da importância da

casa Abel Pereira da Fonseca dentro do universo do tratamento e armazenamento

Localização - Praça David Leandro da Silva

É um projecto do arquitecto Norte J ún ior

de vinhos, bem como um testemun h o ímpar

tornejando para a Rua Amorim.

( 1 878- 1962), datado de 1917. Este préd io de

das tecnologias aplicadas à vinicultura.

período de Actividade - 190y- 1993

grandes janelões em vidro e de motivos

Dentro dos armazéns existem ainda outras

Fundadores - Abel Pereira da Fonseca e o

a lusivos ao labor da firma (como os cachos

máquinas operadoras pertencentes às

sócio Francisco de Assis.

de uva, as folhas de parra, a fragata e o

secções de enchimento de vinagre, à

Actividade Industrial - Grande entreposto e

rio), distingue-se, também, por ser uma

"A Licorista" ou à carpintaria e

indústria de tratamento e transformação

construção em betão e em altura,

serral haria. Ao património industrial móvel

de vinhos, l icores e azeites.

características extensíveis ao armazém que

j unta-se o espólio arquivístico resultante

Início da indústria al imentar.

ladeia a Rua Amorim e com frente para o

dos últimos anos de actividade da empresa.

Valor Patrimonial - Todo o conjunto

Tejo. Ao conjunto descrito agl utinam-se,

Estado de conservação - Regular. Com

edificado reveste-se de valor patrimonial.

lateralmente e no prolongamento do

problemas graves nas coberturas. Grandes

Compõe-se de duas linguagens

aterro, dez armazéns compostos por

infi Itrações de água.

arquitectónicas diferentes. O edifício de

grandes vãos e tel hados de duas águas.

Classificação - A propor como imóvel de

maior qualidade estética tem frente para

É com uma visão de conjunto que se devem

interesse público. Integra o Inventário

a Praça David Leandro da Si lva.

entender os Armazéns Abel Pereira

Municipal do Património, do PDM de Lisboa.

157


A primeira designação rapidamente se alterou , situação intimamente rela­ cionada com o aumento do capital social e com a nova entrada de sócios . Assim : - 1917, passa para uma sociedade por IIBEL PEREIRII DII FONSECII, lo'"

cotas, designando -se Abel Pereira da Fonseca & Cia. Lda . ; - 1918, com a entrada do sócio Marce­ lino Nunes Correia, o nome altera-se

Sócios gerentes. Álbum comercial de 1928.

para Abel Pereira da Fonseca, Lda . ;

Marca registada da Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca. Pormenor do edifício de NorteJúnior.

CASA Abel Pereira da Fonseca

- 1 9 3 0 , de sociedade anónima passa

insere-se no universo das grandes

para Sociedade Comercial Abel Pe­

A maioria das mercadorias e dos pro­

áreas de comércio de início do sécu-

reira da Fonseca , S .A.R.L. , desig­

dutos que abasteciam a cidade de Lisboa

lo XX, devendo ser interpretada como

nação mantida até ao encerramento

chegavam pelo rio .

da casa, em 199 3 .

A firma comercial Abel Pereira da

A

um reduto da sociedade de consumo .

À semelhança dos grandes armazéns de

Dentro do processo evolutivo da socie­

Fonseca (APF) não ficou indiferente a

retalho , que inicialmente escoavam os

dade é importante destacar o momen­

esta preexistência, alicerçando no Tejo a

produtos da indústria têxtil, insta­

to (anos 3 0) em que Abel Pereira da

estrutura de circulação para a entrada e

laram-se também grandes hangares

Fonseca se retira do grup o , passando

escoamento dos seus produtos. Um

para armazenamento racional dos pro­

a famíla de Nunes Correia a controlar e

elemento revelador da importância da via

dutos alimentares e seus derivados.

a explorar toda a actividade económica.

fluvial foi a opção tomada por um logo­

A personalidade que muito contribuiu

Os armazéns vão localizar-se numa área

tipo com uma emblemática ligada a uma

para a inovação na área do armazena­

marcada por forte implantação indus­

embarcação - a fragata - e às águas do

mento , tratamento e transformação de

trial e pela tradição das tanoarias e pela

rio. Muitas vezes associavam-se elemen-

vinhos foi Abel Pereira da Fonseca '.

contentorização de vinhos. D urante

tos como cachos de uvas e folhas de parra.

A primeira forma de organização comer­

muitos anos, em toda a zona do Beato

A actual área ocupada pelos armazéns

cial designava-se Abel Pereira da Fonseca e

e do Poço do Bisp o , utilizou-se um

(quase todo um quarteirão) não corres­

C. a Os primitivos armazéns situavam-se

provérbio que caracterizava esta activi­

ponde à primitiva construção na Rua

na Rua da Manutenção do Estado , a Xa­

dade -Já

cheira a carvalho das aduelas

Amorim. O edifício onde se instalou a

bregas, em 1907. Com igual capital social

e a vinhos de armazém

(Norberto de

firma APF, em 1 9 1 0 , tinha a fachada

(9° 0 0 $ 0 0) associou-se Francisco de

Araúj o , p. 7 6) . O rio Tejo constituiu

principal sobranceira ao Tejo e assenta­

Assis. E em 1910, transferem-se e insta­

um elemento natural muito importante

va numa infra-estrutura em arco na qual

lam-se os armazéns na Rua do Amorim.

para a fixação deste tipo de actividades.

entrava a água. Junto ao edifício desen-

I Abel Pereira da Fonseca nasceu em Almeida , a 16 de Abril de 1876 e moneu em 1956, com 8r anos de idade. Filho de pequenos pro pdetádos agrícolas . Abel fel. a instrução primária e "cio para Lisboa com cerca de 14 anos. O seu primeiro emprego foi no sector comercial . Aos 18 anos encontrava-se a trabalhar no Poço do Bispo. nos armazéns da casa deJas!! Domingos Barreiro.


volvia-se o cais privativo da APF, onde se acostava a frota particular. O primeiro crescimento dos armazéns faz-se ao longo da Rua Amorim, e, em 1 9 1 7 , um novo edifício constrói-se com frente p ara o actual Largo D avid Leandro da Silva . Norte Júnior (1878-1962) , autor do proj ecto , utilizou soluções arquitectónicas peculiares , reunindo no mesmo edifício preocu­ pação estética e funcionalidade. fu formas e a volumetria utilizadas na fachada principal aludem às actividades de transporte, armazenamento e co­

Galeria em betào. Foto �.fário Novais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

Edifício da firma APF. 1910. Foto �.fário Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

Mais tarde, a área de armazenamento

trasfega e filtragem. O painel de con­

rior comercialização no mercado inter­

alargou -se através de construções hori­

trole é Daubron (Bordéus) , bem como o

no e externo a granel.

zontais. Sem tanto valor arquitectó­

filtro primitivo de placas. Posterior­

A inovação do tratamento e engarrafa­

mércio, principalmente do vinho .

nico , estes grandes vãos, destinados às

mente instalaram-se dois conjuntos

mento especializou este sector, crian­

actividades oficinais e industriais, com­

de dois filtros holandeses, de marca

do-se paulatinamente um vasto número

põem-se por telhados de empenas múl­

Niagaran Filters Europe .

de marcas e de vinhos, como por exem­

tiplas sustentados por colunas em ferro

Após a realização das operações d e trata­

plo o

Sanguinhal

eo

Menagem.

Outros

ou em betão. A iluminação é natural, o

mento e filtragem, necessárias a uma boa

produtos que desde o início estiveram

telhado caracteriza-se por grandes áreas

conservação do vinho , seguem-se as fases

ligados à imagem da casa, foram o azeite e

envidraçadas.

de engarrafamento . A firma APF ins­

o vinagre. Inicialmente foram comercia­

Do interior dos armazéns destaca-se a

talou diversas linhas de enchimento

lizados a granel, enquanto numa segunda

galeria em betão , espaço onde inicial­

e de lavagem para garrafas e garrafões ,

fase, são embalados pela casa, tal como os

mente se depositavam pipas e garrafões,

linha de estabilização e filtragem, gasei­

cereais e as leguminosas secas. Para o

convertendo-se, mais tarde, em área

ficação , além de dispor de uma grande

armazenamento de todos os produtos

da administração , dos escritórios e do

produção de pipas e tonéis nas suas ofi­

instalou-se uma rede de depósitos de

Em termos funcionais

cinas de tanoaria. Esta grande casa de

distribuição , principalmente para o

a estrutura mais monumental e impor­

armazenamento ultrapassava a lógica dos

vinho. Os diversos armazéns localizavam-

laboratório.

tante, que subsiste das actividades de

depósitos, criando mecanismos indus­

-se próximos das áreas produtivas, como

armazenamento e tratamento dos vi­

triais de tratamento e embalagem.

Torres Vedras, Dois Portos, Runa, Vila

nhos, é o conjunto das cento e setenta

A actividade inicial da APF relacionava­

Nova de Gaia, Cartaxo , Bombarral, etc.

cubas (capacidade superior a vint mi­

-se. com a compra do vinho e do azeite

O ar.mazém central de toda esta Lede,

lhões de litros) e dos mecanismos de

directamente ao agricultor, para poste-

de onde se fazia a distribuição dos

'59


de licores seguia uma metodologia clás­ sica, misturando -se proporcionalmente os diversos componentes de acordo com o produto a obter (álcool, açúcar, óleos essenciais, fruta, hipericão e corantes legalmente autorizados) . O conjunto de todas estas mercadorias foi inicialmente comercializado nas lojas de venda directa ao público , que a casa Abel desde logo estabeleceu. Consolidando esta estratégia de mer­ cado , em que os produtos armazenados entram directamente nos circuitos

Interior dos Armazéns. Aspecto actual.

comerciais sem perda de lucro , adqui­ riu-se uma rede de vinte e cinco loj as denominadas "VaI do Rio " . Simultaneamente, comprou-se um nome e uma experiência nas vendas a granel de Filtro holandês - Niagaran Filters EUTope.

vinhos , de azeites e vinagres.

apresentada. Já depois de 1915 , vários

Na década de setenta, as lojas atingiram o

empresários reuniram-se, criando a

número de 104 (noventa e sete esta­

Companhia Portuguesa de Licores ,

belecimentos de comércio e sete snacks) .

cujo principal obj ectivo consistia no

A rede de lojas "VaI do Rio " vai ser, de

desenvolvimento da mais importante

certo modo , pioneira em Portugal.

fábrica do sector no país.

Por um lado , as casas comerciais inse­

Localizada nas imediações dos ar­

riam-se num espaço geográfico muito

Painel de controle DaubTon e galerias de depósitos.

mazéns do Poço do Bisp o , esta indús­

restrito - Lisboa e arredores -, por

produtos para o comércio interno e

tria é adquirida pela empresa APF e

outro , introduziram a lógica do selE­

externo , situava-se no Poço do Bispo.

transferida para as suas instalações . Os

-sel'vice no universo alimentar através

Uma outra bebida que firmou a ima­

licores passam a constituir um dos

da circulação dos clientes em contacto

gem da casa Abel, foi o licor, através

produtos mais importantes p ara a

directo com os produtos dispostos em

da marca "A Licorista" . Grande parte

expansão dos respectivos horizontes

corredores.

dos vinhos que se destilavam aplica­

industriais e comerciais . Na década

A sociedade comercial APF incor­

vam-se seguidamente na indústria de

de vinte, a organização das instalações

porou o princípio muito claro do

licores. Em 1 8 9 6 , fundou-se em Lisboa

de licores assemelhava-se a uma linha

lucro e da venda das mercadorias a

"A Licorista" , casa que conquistou

de fabrico , essencialmente na secção

preços particularmente

o mercado nacional pela qualidade

de refrigerantes e xarope s . O fabrico

assegurando a difusão e o consumo.

160

reduzido s ,


Publicidade: da "A Licorista". 1922.

Exposição do Rio deJaneiro.

Aze:ite:s come:rcializados pe:la APF.

Álbum comercial de 1928.

Licor comercializado pela casa APF.

Secção d e Xaropes. Foto Mário Novais. Arquivo d e Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

A rede de minimercados "VaI do Rio "

Norberto,

constituiu em Portugal um exemplo da

Lisboa, [1938-39] , p. 7 6 ; "Sociedade Comercial

nova época de consumo , em paralelo

Abel Pereira da Fonseca, S.A.R.L. Breve nota

com os grandes depósitos e armazéns .

informativa", in Diário

A publicidade apoiava a divulgação

1 9 8 2 ; PAIXÃo , Maria da Conceição Bravo

desta estrutura comercial e industrial,

Ludovice,

primeiro através da imprensa escrita e

Tese de Mestrado de História

de periódicos da própria empresa,

de Arte, 2 vols. , Universidade Nova de Lisboa,

Peregrinações em Lisboa,

de Notícias,

Livro XV,

Lisboa,

NorteJúnior, Obra Arquitectónica.

Álbum comercial de 1928.

utilizando posteriormente os meios

1989, pp. 78-82 ; FOLGADO , Deolinda, Abel

A concretização destes obj ectivos obti­

radiofónicos e televisivos .

Pereira da Fonseca, S.A . R . L . , Um exemplo

nha-se através de mecanismos da pró­

da indústria alimentar na sociedade de

pria empresa, que detinha o controle

consumo,

dos produtos j unto do agricultor , sen­

B IBLIOGRAFIA,

do seguidamente tratados, embalados e

Album Illustrado. Abel Pereira da Fonseca,

comercializados pela sua rede de lojas

Ld a. , Lisboa,

el

revenda. a outros cOInerciantes e ela

venda directa no estrangeiro .

[Lisboa] , [ 1928 ] ; "A indústria dos

licores em Port.ugal" , in

IndLÍstria -Portuguesa,

Ano I, n O 9, 1928, pp. 31-32; ARAÚJ O ,

161

1998, [no prelo] .



parece destacar- s e para a n o b i l i t a ção d o edifício - a l us i v o a o s v in hos. A f a c h a d a c o m p l e t a - s e c o m d o i s corpos s i m étricos l atera i s , d e remate arredondado e demarcados p o r i m itações de p i l astra s . Destaca-se a i m p l an t a ç ã o d a s c o l u n a s e dos janelões. A d ecoração é p r o f u s a representando m o t ivos veget a l i stas e s i m b ó l i c o s , entre os q u a i s a representação de cabeças d o deus M e r c ú r i o - símbo l o d o comérc i o . N o topo d o e d i fí c i o i ns e re - se o r e l ó g i o e a Planta Anofotogramêtrica 6/8. Escala 1:2000. Maio de 1963. Actualizada em 1987·

1 0 S É D 0 (l1 l n G 0 S B A R R E I R e::> 6- C � , L D A .

Local ização

d e s i g n ação da empresa -

R u a Fern a n d o Pa l h a

n.O 3-23,

- J os é D o m i ngos Barr e i r o , Lda . O c upando q u ase um q u a r t e i r ã o , a s

R u a z ó f i m o Pedro s o , Praça D a v i d

i n s t a l ações v i radas à R u a z ó f i m o

L e a n d r o da S i l v a , n . O 28.

P e d r o s o corres p o n d i a m à s e d e

período de Actividade - 1 8 8 7 - 1998 >

a d m i n i strati v a e a s d a R u a F e r n a n d o

Fundador - J osé D o m i n g o s Barre i r o .

Pa l h a , a armazéns , t a n o a r i a s e

Actividade Industrial - A r m a z e n a g e m

h a b i tações, r e l evan d o - s e p e l as

e c o m é rc i o de v i n h o s . Tan o a r i a s .

s o l uções encontradas de c o n centração

Valor Patrimonial - B l o c o

de serv i ços ( c o m e rc i a i s e o f i c i n a i s )

adm i n i stra t i v o , c o m e rc i a l e de

e h ab i tação s o c i a l , c o m grande

armazenamento de q u a l i d a d e

q u a l i dade estética e f i l os o f i a

arquitectó n i c a e decorat i v a .

e m presari a l .

A fachada p a r a a Praça D a v i d L e a n d r o

Estado d e Conservação - B o m .

da S i lv a , confere a todo o e s p a ç o um

Classificação

-

Contemplado no

v a l o r cén i c o .

I n ventário d o Pat r i m ó n i o M u n i c i p a l d o

O e d if í c i o p r i n c i p a l rev e l a u m a p r o f u s a

P D M de L i s b o a , como h a b i t ação

decoração a r t í s t i c a n a l i n h agem d o

e prédios de J os é D o m i n g o s Barre i ro .

e c l e c t i s m o r o m â n t i c o , com i m i t a c � o de frontão r e d o n d o e n c i m a d o p o r e l ementos decorativos de caracter ísticas barrocas e l ad e a d o por p i n á c u l os . U m b r a s ã o coroado


um ramal de caminhos - d e - ferro e cerca de duas dezenas de vagões em uso exclusivo . Tinham trasfega mecânica bastante evoluída e tanoarias . Além dos armazéns do Poço do Bispo e Bra­ ço de Prata dispunham também de armazéns no Cartaxo , sobretudo pró­ ximo à Estação de Santana. O s méto­ dos comerciais do negócio de vinhos foram depois adquiridos pela concor­ rência, em especial pela Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca, sua vizinha. A sede da empresa encontrava-se na Rua Zófimo Pedroso, lugar onde se controlavam todas as operações de ar­ mazenagem e de mobilidade dos pro­ dutos . Os armazéns estavam essencialmente estabelecidos na Rua Fernando Palha, onde ainda hoje se podem observar vários portões com bandeiras em ferro Perspectiva da Rua Zôfimo Pedroso. onde se encontrava a sede administrativa.

e o monograma do empresário fun­

HISTÓ RIA desta firma ligada

Suécia , etc . ) , no Brasil e ultramar.

dador - JDB & C. a

inicialmente à vitivinicultura

Entre os fins do século XIX (1896) e as

respectivas, provavelmente correspon­

inicia- s e em 1 8 8 7 . Implantada numa

primeiras décadas do século XX , os seus

dentes à sua construção e estabeleci­

área de Lisboa O riental com largas

armazéns multiplicam-se a partir do

mento .

tradições fluviais relacionadas com o

pólo inicial, aumentando de capaci­

José Domingos Barreiro & C . a Ld. a

sector , a firma encontrava-se articu-

dade retentora e de área (14. 000 m2) ,

afirmou-se em certames internacio-

lada com os mercados abastecedo ­

ocupando parte dos terrenos da antiga

nais, geralmente ligados às suas agências

res do Ribatej o , Estremadura e Outra

firma Cunha Porto .

ou mercados consumidores, como a

Banda.

A concentração no mesmo espaço ,

Exposição Internacional do Rio de Ja­

O crescimento da actividade fez pros­

permitiu à firma José D omingos Bar­

neiro de 192 2 , com a mostra de vinhos

A

-

com as datações

perar esta empresa de grandes ne­

reiro & C . a (como era conhecida em

tinto e branco, claretes e rosés . Esteve

gociantes e exportadores de vinhos ,

1917) , dotar-se de meios mecânicos

representado na Feira de Amostras de

aguardentes e vinagres, com interesses

para a nwbilidade dos seus produtos

Produtos Portugueses de Angola e

na Europa (Inglaterra, França, Bélgica ,

na vasta área de armazenage m , com

Moçambique, em 1 9 3 2 .


A relação e a comercialização determi­ nou a aquisição de diversas quintas, en­ tre as quais a Quinta das Varandas, na região do Cartaxo , interessantemente representada nos painéis de azulejos do átrio do edifício de escritórios. Estes azulejos, representando a faina vinícola, foram encomendados a A. Moutinho , da Fábrica de Loiça de Sacavém. A importância do conjunto é reco ­ nhecida também pelos estudiosos dos bairros operários , pois na mole edifi­ cada da Praça D avid Leandro da Silva, coexistem as instalações comerciais e oficinais (nível do solo) com espaços destinados à habitação social (pisos superiores) . Nuno Teotónio Pereira refere que estas

habitações têm acesso

Perspectiva d a Rua Fernando Palha - armazéns e tanoarias.

directo da rua, com escadas indep en ­ dentes; n o u tros, a s escadas partem do interior dos armazéns,

fazendo pres­

supor aloj amento dos empregados da firma. A José Domingos Barreiro evoluiu de uma sociedade limitada para uma sociedade anónima, situação social existente em I 9 8 2 .

BIBLIOGRAFIA:

ARAÚJ O , Norberto de, 'José D omingos Barreiro " . in

Peregrinações em Lisboa,

Livro XV, Lisboa, Parceria António Maria Pereira, (r938-1939), p. 78; PEREIRA, Nuno Teotónio, e BUARQUE, Irene, de Lisboa,

Prédios e Vilas

Lisboa, Livros Horizonte

1995 , p . 342.

Bandeira em ferro forjado de um armazém no mesmo arruamento.



Fundadores

-

Estado P o r t u g u ê s .

M i n i st é r i o da G uerra. A c t u a i s proprietári o s : I N D E P, S . A .

Activi dade I ndustrial

-

Fabr i c o d e

proj é c t e i s de art i l h a r i a , f u n d i ção de canhões, espol etas, c a i x a s de cart u ­ c h o s , viaturas. Fab r i c o de armas portá t e i s , morteiros, m u n i ções de art i l h a r i a , escorvas. F u n d i ções art íst i c a s .

Valor Patrimon ial

-

A mon tagem da

Fábrica de Material de G uerra de Braço de Prataobedeceu a u m a i m p l antação ret i c u l ada o u ortogona l , a p a r t i r de um n úc l e o i n i c i a l j unto à R u a Fernando Pa l ha . O cre s c i m e n t o das o f i c i n a s , s e g u i n d o o m e s m o p l a n o , determ i n o u a r a c i o n a l i dade de todo o espaço, n o qual se podem observar q uatro Planta Aerofotogramétrica 6/8

e

arrua m e n t o s para l e l os ao rio 7/8. Maio de 1963. Actualizada em 1987.

(ruas n . O 4 , n . O 1 4 , n . o 22 e n . o 28

F Á B R I C A D E Il1 AT E R I A L D E G U E R RA D E B RA Ç 0 D E P RA T A

- esta m a i s irre g u l ar, mais estre i ta e c urta ) . S ã o , p o i s , estes arruamentos p r i n c i p a i s que d i st r i b u e m a c i rc u l aç ã o

A v i a b i l i d ade de m a n u t e n ç ã o

para as d i versas o f i c i nas e armaz é n s ,

gran d e q uart e i rão m u r a l h a d o

da F á b r i c a de M a t e r i a l d e G uerra

serv i d o s por r u a s transvers a i s ao r i o ,

em B r a ç o de Pra t a .

em Braço de Prata f o i p o s t a

t a m b é m e s c a l onadas entre a n . o 1 e a

T e m e n trada p r i n c i p a l p e l a R u a

r e c e n t e m e n t e em c a u s a e a próp r i a

n . O 4 7 . Res u l ta deste facto um

Local ização

-

A Fábr i ca o c u p a um

F e r n a n d o Pa l h a e e n c on tr a - s e

i m p l an t açâo da área o c i d e n t a l

i n e gável valor urba n ís t i c o .

c o n f i n a d a e n t re e s t a v i a ,

da un i d a d e fab r i l da I N D E P, S . A .

As o f i c inas da Fábr i c a de Braço

d e s a p a r e c e u com a r e m o d e l ação d a

de Prata, por s u a vez de p l anta

Ave n i d a I n fante D . H e n r i q u e e a

geral reg u l ar (recta n g u l ares ou

( esta n o Largo dos Tabac o s ) ,

c o n s t r u ç ã o de u m a r o t u n da

quad ra n g u I are s ) , estabe l ecera m - s e

a Ave n i d a I n fante D . H e n r i q u e e a

e da v i a transvers a l q u e atravessará a

de acordo com as d i ferentes fases

a R u a D r . Estêvão de Vasco n c e l o s , a R u a do Te l h a i , as ruas n . OS

2,

3 e 4

R u a d a F á b r i c a de Mater i a l de G u erra ,

R u a F e r n a n d o P a l h a , através de

h i s tó r i cas de i m p l a n t ação

t o p ó n i m o a t r i b u í d o por a l t u ra da s u a

passagem desn i ve l a d a .

e cre s c i m e n t o i n d u s t r i a l d a empresa,

a b e r t u ra a o t r â n s i t o , n o s a n o s 5 0 .

período de Actividade

-

1908- 1998 >

r e f l e c t i n d o a l g umas opções


conj unturais de fabricos c o n cretos.

e x i s t ê n c i a na a c t u a l l o c a l i za ç ã o , a F B P

i n au g urado , em 28 de Dezembro de

D o p o n t o de v i sta arqu itectón i c o

d ispõe de i nteressantes e q u i p a m e n tos

1 9 5 7 , pelo s ubsecretário de Estado

i mp o rta c o n s i derar a d i vers i d a d e das

e m á q u i nas de valor c u l t ur a l a i n s e r i r

d o Exérci t o , coron e l Afonso M a g a l h ã es

s uas t i po l og i a s , com c orrespo n d ê n c i a

nos acervos d o patri m ó n i o i n d us t r i a l

de A l m e i d a Fern a n d e s .

à s d i ferentes é p o c a s de construção e à

m ó v e l a preservar. Entre as m a i s

O m us e u org a n i z a - s e de u m a f o r m a

natureza das c o n f i gurações

i m p ortantes p e l o s e u porte, s i g n i f i cado

crono l ó g i c a , e v i d e n c i a n d o a s

técn i c o - i n dustria is.

fabr i l , e m o c i o n a l e característ i c as

p r i n c i p a i s f a s e s h i st ó r i c a s

O interesse patri m o n i a l destes

técnicas ref i r a - s e a prensa da Tay l or g

de fabrico da empresa, com as s uas

e d i f í c i os s i t u a - s e , não apenas d o lado

C h a l l e n , Lte / E n g i n eers B i rm i n g h a m ,

características tecno l ó g i ca s , através

d o patr i m ó n i o i n d us tr i a l , mas d a

datada de 1 9 1 7 , de 1700 t o n e l a d a s .

de e l u c i dativos quadros, fotograf i a s

p r ó p r i a arquitectura e d a e n g e n h a r i a ,

Encontra-se actua l m en t e n a o f i c i n a

e d iagramas. N o e d i f í c i o d o m us e u

d i s p o n d o - s e a q u i de s u f i c i e n t e s

de forjamento e prensagem e esteve

encontra m - se várias maquetas

acervos c onstruídos q u e p e r m i t e m

várias vezes para ser p a r t i d a para a

das principais o f i c i nas da fábri c a ,

c o n h e cer, em s ín t e s e , a evo l uç ã o da

s ucata. I n tegra um c o n j u n t o de c i n c o

reconst i tu i n d o as u n i dades fabr i s

arquitect ura i n d ustri a l em Portuga l ,

prensas d o m e s m o t i p o para

c orrespondentes à época d o seu a u g e .

entre o s p r i n c í p i o s d o s é c u l o

o faseamento da produção de c a i x a s

Estas maquetas e s t i veram expostas na

e os a n o s 80.

m e t á l icas p a r a granadas.

e x p o s i ç ã o da A b e l Pereira da Fonseca

Por esta razão, o e s t u d o da Fábrica de

Também são bastante i n teres s a n t e s os

-

Material de G uerra de B raço de Prata

mart e l o s - p i l ã o da o f i c i n a m e t a l úrg i ca

A entrada do m us e u f a z - s e por porta

( F B P ) , apesar de c o m p l e x o , urge

( Bê c h é de George Merc k , H a n n o v e r ,

ladeada de dois c a n h ões de b r o n z e ,

Memória . Tempo Indus trial.

fazer-se de forma s i st e m á t i c a ,

A l e m a n h a ) , os mart e l o s - p i l ã o d e

de 1940,

em nada c o m p a t í v e l com e s t e Guia do

prancheta d o s a n o s 20 e os fornos

a l i fabricados.

Pa tri m ó n io Indus trial. C o m o se prevê o

eléctricos da fundição datados d e 1 9 47

Estado de conservação

c o m p l et o desaparec i m ento da fábr i c a ,

e de 1 9 5 7 , agora desact i va d o s .

construtivo os e d i f í c i o s e n contram - s e

a o m i ss ã o d e s s e e s t u d o p o d erá

O arquivo de m o l des d a F B P

entre o b o m e o razoáve l .

corresponder a uma perda

c o n s t i t u i um a cervo de interesse

E x i stem o f i c i n as c o m p letamente

de c o n h ec i m e nto i n egáve l , no â m b i to

h i stóri c o - te cn o l ó g i c o , e I ucida t i v o

abandonadas, apesar do s e u

do patr i m ó n i o i n d ustri a l p o r t u g u ê s .

d a s etapas percorr i da s ,

i nteresse tecn o l ó g i c o , c o m o a

A l i ás , as d iversas e s p e c i a l i d ad e s e

c u j a preservação s e i mp õ e .

o f i c i n a de f u n d i ç ã o , c o m os s e u s

temas i n d u s t r i a i s encontra m - s e na F B P

Biblioteca

-

A Fábrica d e Braço d e

representados e arq u i va d o s , a t a l

Prata, c o m o u n i da d e f a b r i l de p o n t a ,

p o n t o q u e a a u s ê n c i a d e m e d i das

f o i d e s d e o i n í c i o e q u ipada c o m uma

c a u t e l ares do ponto de v i st a

b i b l ioteca técn i c a para a p o i o a o s

patri m o n i a l c o n s t i t u i rã o uma grave

fabricantes de materi a l de g u erra e

perda c u l tura l para o n o s s o p a í s .

engen h e i ros m i l itares.

M a quina ria

-

Como u n i dade i n d us t r i a l

que s e e n con tra em fase f i n a l d e

M useu

-

A F B P criou um museu d a

u n i dade industr i a l d o Estado,

168

-

A n ív e l

fornos e l éc t r i c o s .

Classificação

-

Sem c l as s i fi ca ç ã o .


Fábrica de Material de Guerra inserida no Bairro Industrial de do Ministério da Guerra, Lisboa, Bertrand, 1947. p. 7.

Braço de Prata.

1947. ln Notícia

Histórica Sobre os Estabelecim entos Fabris

Fábrica d e Material d e Guerra d e Braço d e Prata. Vista aérea. Anos 50. Arquh"o Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa.

ONHECER a FBP exige o estudo

Infante D . Henrique, novas possibili­

importância adquirida pelos seus por­

das plantas e das fotografias aéreas.

dades de expansão foram materializadas,

tões. Antes da intervenção motivada pela

Entre finais de 1950 e 1986, a implan­

sacrificando o cais fluvial acostável de 282

EXPO ' 9 8 , existiam quatro portões.

tação fabril não registou profundas alte­

metros de compriment o . Esta nova

O último surgiu depois da construção da

rações, mas entre os inícios da fábrica e os

unidade foi concebida numa estreita

Avenida Infante D . Henrique, obras

anos 5 0 , a organização territorial sofreu

relação com as acessibilidades da área,

coevas da conquista de terrenos ao rio,

profundas transformações e ampliações,

como a linha férrea. O desaparecimento

que outrora ali chegava, confinado por

sinal dos momentos mais significativos da

do cais foi compensado com o rasgamen­

um enorme paredão em toda a extensão

sua história. A partir do salto industria­

to de acessibilidades rodoviárias, integra­

da unidade fabril. A principal rua da

lizador de 1927 , dá-se a passagem de uma

das na modernização de Braço de Prata,

fábrica foi, durante os primeiros anos, a

unidade presa às suas origens tardo­

Cabo Ruivo e Olivais.

n. o I, eixo virado à Rua Fernando Palha,

-maquinofactureiras para uma completa

A planta de 1986 revela-nos as caracterís­

junto à sede administrativa da unidade

mecanização . Terrenos disponíveis ga­

ticas urbanas e a organização fabril da

fabril do Estado . Existem fotografias que

rantem as mudanças. A ocupação do solo

FBP, no momento terminal das capaci­

mostram a sua importância como acesso

nos momentos seguintes correspondeu

dades territoriais do lugar. As oficinas

principal, por onde entravam e saíam os

ao aumento da área coberta e à di­

encontram-se aí numeradas, tal como os

operários.

minuição da disponível. A unidade fabril

arruamentos.

Mais tarde, adquire significativo relevo o

confinava, nos anos 40, com o rio Tej o .

Do ponto de vista sociofabril, a organiza­

portão de entrada pela Rua da Fábrica de

Mas depois d a construção da Avenida

ção da FBP andou sempre associada à

Material de Guerra, correspondente ao

169


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PA L H A

F E RN A N D O

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Planta da Fábl"ica de Braço de Prata. Esc: 1:1500. D�s�nho WNDS870. de 6-6-1986, INDEP, S.A.

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Saída da fábrica. Foto r-...fário Navais. Arquivo d� Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

operários. Apetrechou-se com um ser­

quase os mil, na seguinte atinge os

viço de formação profissional.

1 2 0 0 . Entre 1955 e 1 9 8 5 , a média são

Algumas oficinas têm importância tam­

os dois mil trabalhadores, alcançando o

bém pelos seus símbolos, tal como a uni­

ponto alto durante a guerra colonial,

dade de tratamento térmico de aço em

com a laboração simultânea de 2384

fornos de sais (estes da marca Degussa

operários.

Durferrit) , onde existe uma chaminé

Dispondo de duas centrais eléctricas

não muito usual nas construções fabris portuguesas (sextavada e cantos boleados) .

e uma ligação à rede geral de electri­ cidade , a FBP revela um aumento de

Entre os edifícios de maior nobreza esti-

consumo de energia, entre 1955 e 1985

lística conta-se a sede administrativa, que

de 3 239 710 kwh para 1 2 488 640 kwh.

permanecerá na Lisboa Oriental, datado

No que respeita ao valor de equipa­

de 1929. Inserido no frontão classizante,

mentos instalados , passa-se de 37 633

modelado em cantaria, foi colocado um

milhares de escudos, em 1955, para

eixo central distribuidor do pessoal pe­

brasão do exército português. Debaixo

379 897, em 1985 . Os cuidados postos

las oficinas e paralelo à linha férrea

encontra-se a designação da fábrica, uma

na parte eléctrica, foram, aliás, intensifi­

Decauville (Rua n. o 14) . Esta nova entra­

varanda e o portão de entrada com o

cados desde a década de quarenta, insta­

da e saída ganha relevo nas décadas de

átrio . De notar ainda, instalações mais

lando -se uma comutatriz, um mutador e

cinquenta e sessenta, face ao crescimento

modernas construídas em betão armado

um rectificador de vapor de mercúrio .

da unidade fabril. Finalmente refira-se

de desenho audacioso , com

sheds inte­

As origens históricas do empreendi­

que a actual entrada e saída da fábrica é o

grados para iluminação do processo de

menta fabril dos princípios do sécul o ,

portão oriental, correspondente ao mes­

trabalho.

encontram-se em parte de terrenos

mo eixo , com acesso pelo antigo Largo

A dimensão industrial da Fábrica de

pertencentes ao Arsenal do Exército ,

dos Tabacos, junto à Tabaqueira do Poço

Braço de Prata pode medir-se através da

desde os finais do século XVIII. Em 1 4

do Bispo .

área coberta correspondente às suas ofi­

d e Agosto d e 1 7 9 8 , a rainha D . Maria I

Para um conhecimento mais profundo

cinas, da população empregue e outros

comprou propriedades pelo valor de

da conjunto industrial importa identi­

vectores. Entre 1912 e 1986 aumentou

997 950 réis onde se instalou a Real

ficar as oficinas, a partir do desenho

para seis vezes mais, a área coberta inicial,

Nitreira de Braço de Prata. Esta oficina

datado de 6 de Junho de 1986.

como se pode observar no quadro :

tinha como finalidade apoiar o fabrico

Como se pode observar, para além das oficinas fabris, desenvolveram-se inicia­ tivas de âmbito social semelhantes às de outras indústrias da Zona Oriental de Lisboa, nomeadamente à instalação de cantina, refeitório , vestiários e balneá­

da pólvora, cuja produção se fazia em Á REA C O B ERTA

Alcântara e Barcarena.

1 9 1 2 - 1 0 766 m'

1947 - 44 560

1 929 - 27 459

1957 - 52 948

1941 - 32 846

1986 - 62 5 1 6

O fabrico de salitre exigia uma porção de terreno afastado da cidade, por razões ambientais, apesar dos processos artesanais. Nas descrições que se co­

rios. O Estado não descurou essa obra, a

S e nas décadas de vinte e trinta a média

nhecem, o material para fabrico cons­

partir de 1947, servindo em média 1200

do número de trabalhadores atinge

tava de duas caldeiras, cujo combustível


era o tabaco podre que a Zona Oriental

com ampliações sucessivas (I914, I9I6,

dispunha em quantidade . Um conjunto

I926-27, 1940-50, década de oitenta) .

de tinas servia para a lixiviação das terras.

Razões de ordem urbana e militar justi­

O salitre era posto a cristalizar nas tinas,

ficaram o aparecimento da Fábrica de

mas havia necessidade de impedir a sa­

Proj écteis de Artilharia de Braço de

turação das terras, fabricando -se então

Prata, construída entre I904 e 1908.

480 arrobas/ano . Também ali se prepa­

Nessa altura e até I92 7 , era apenas

rava o enxofre e o carvão para a pólvora,

uma ampliação do Arsenal do Exército, a

conhecendo -se um mestre na Real

instituição-mãe que lhe deu origem.

Nitreira de nome Regnault.

A reorganização militar de I899, obra

No espaço da antiga Real Nitreira, fun­

do general Sebastião Teles , permitiu

cionou no século XIX (1888) , uma Ofi­

reestruturar o velho Arsenal do Exército,

cina de Pirotecnia onde se fabricavam

prevendo -se no seu Regulamento de

Oficina de telhados em shed. Anos 60.

archotes, cartuchos para peças, cartões

1902, a criação da FBP. O documento

Janeiro. Doze anos depois da implan­

com os elementos da escorva, fachos e

tação da República, caracterizava-se

foguetes para sinais, petardos , invólucros

fundador data de 12 de Outubro de I907 ( Ordem do Exército n: 2 0 , 2 . a série) .

pelas suas seis principais secções (pro­

para balas de esclarecer, além de outras

N o início do seu funcionamento verifi-

jécteis de artilharia, fundições, espole­

pirotecnias. A fundação desta Oficina

cou-se a transferência para o novo espa­

tas , caixas de cartuchos, material de

data de 1876 e dispunha de uma máquina

ço, tanto da Fundição de Canhões, como

artilharia e viaturas e armas portáteis) e

a vapor, mas há notícia de nesse espaço

da Fábrica de Armas que estavam em

pelas suas variadas oficinas de apoio, que

ter estado um quartel (I873) . Tanto a

Santa Clara, em Lisboa, facto ocorrido

tanto serviam o Estado, como as enti­

Real Nitreira como a Oficina de Piro-

entre I909 e I9II.

dades públicas e privadas. Entre as prin­

tecnia encontravam-se ainda relativa-

Em I912 , construiu-se uma importante

cipais unidades fabris encontravam-se a

mente distantes do local onde veio a

oficina de espingardas com maquinaria

dos coronheiros, a dos cutileiros (para

surgiu o primeiro embrião da fábrica

necessária para o produção da espingrada

fabrico de sabres e espadas) , a de flore­

adquirindo o nome de Braço de Prata,

Mauser Vergueiro

de 65 mm, para uso

tes e de instrumentos cirúrgicos, a de

em função da quinta que lhes dera

do exército português indispensável, na

galvanoplastia, as de cinzeladores, grava­

origem, a partir dos finais do século XIX.

perspectiva da intervenção portuguesa na

dores e latoeiros (fabrico de cunhos,

As primeiras decisões para a fundação da

I Guerra Mundial. Todavia, o conflito

prensas , carimbos, selos, emblemas,

maior fábrica portuguesa de material de

mundial demonstrou que a unidade fa­

monogramas, números) , a de correei­

guerra datam de 1896, altura da compra

bril do exército português não se encon­

ros, a de equipamentos em tela (ban­

dos terrenos ao visconde da Mata, que

trava ainda operacional. A renovação de

deiras de

irão completar o espaço necessário para a

equipamentos ocorre, por essa razão, a

de seda bordados) , a de reparação de

fileli

e estandartes-bandeiras

instalação das fábricas que se projectava

partir de I9I8, beneficiando da derrota

camiões, a de tipografia e a de latão , a

retirar de Santa Clara (a fundição de

da Alemanha na guerra.

de cuproníquel. Existiam também labo­

canhões e a fábrica de armas) . A partir

Uns anos depois (r922) a FBP participou

ratórios de química, de fotografia, um

de então, a FBP não parou de crescer,

na Exposição Internacional do Rio de

gabinete de desenho.

17 3


Prata adquiriu bastante autonomia e

Prensa de 17 toneladas. Foto Mário Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

mover o crescimento da empresa come­

liderança como principal estabeleci­

çando em 1945 o fabrico de aparelha­

mento do exército.

gens de precisão difíceis de obter, no

Com a instalação das prensas em 1918

quadro da destruição europeia. A ra­

e com o novo espírito industrial de

cionalidade da produção permitia­

base taylorizada foi possível iniciar o

-lhe cumprir os prazos estipulados pe­

fabrico , em 1931, do obus de 1 0 5 mm,

los beligerantes. Transformou também

facto que exigiu cerca de 2 1 0 0 ope­

a espingarda 6 , 5 m/904 para o calibre

rários.

7 , 9 (1940) .

Com o encerramento de outras oficinas

O nível de qualidade atingido na déca­

em Santa Clara, vários fabricos passam

da de quarenta, acelerou-se com a for ­

para Braço de Prata. De notar que a

mação d e engenheiros n o estrangeiro .

produção de morteiros e metralhadoras

Esta situação impulsiona os requisitos

pelo volume e condição do seu fabrico,

de normalização , futuramente com­

pouco mais foi que uma apreciável

pensados com a homologação dos seus

demonstração da perícia do pessoal que

fabricos pela NATO , sobretudo refe­

n ele interveio (Notícia Histórica Sobre

rentes às produçõ es da Fábrica de

os Estabelecimentos Fabris do Minis­

Moscavide .

tério da Guerra, 1947) . Neste ambiente

O ano de 1955 marca um ponto alto na

de euforia, que a imprensa periódica

vida industrial de Braço de Prata, com o

registou, a fábrica participa na Grande

fabrico de munições de artilharia de

Exposição da Indústria Portuguesa,

componentes metálicas, a que é dada

realizada no Parque Eduardo VI I , em

primazia. Desde 1953, fabricavam-se

193 2 .

munições de calibre 1 0 5 mm para

E m pleno Estado Novo e n o período da

os Estados Unidos. Já no início da guer­

corrida aos armamentos (r937) assis­

ra colonial, a fábrica é chamada a pro ­

te-se a uma ampliação das instalações,

duzir a espingarda automática 7 , 62 mm

com modernização e racionalização dos

x 51, a famosa G3, numa lógica de

Após diversas medidas que vão garan­

processos de fabrico , sobretudo na

produção em série para municiamento

tindo um ascendente da nova fábrica,

secção de armas portáteis. Embora não

das tropas portuguesas em campanha .

em 12 de Julho de 1 9 2 6 , o regime saído

se conheça com rigor suficiente o seu

Em 3 1 d e Outubro de I980 (decretos­

do 28 de Maio resolve "industrializar"

comportamento industrial durante a

-leis n . O' 515/80 e 5I7/8 0 ) , tanto a Fá­

os estabelecimentos que formavam o

II Guerra Mundial (no entanto obj ecto

brica de Braço de Prata, como a Fábri­

corpo geral do Arsenal. Todavia, pelo

de louvor de António de O liveira

ca Nacional de Munições de Armas

de decreto de 1 9 2 7 , extingue-se o

Salazar e do subsecretário de Estado

Ligeiras de Moscavide (instalações da

Arsenal do Exército , talvez por motivos

da Guerra , Santos Costa , em 1 943) ,

década de cinquenta) foram integra­

políticos . A unidade fabril de Braço de

beneficiou-se da paz interna para pro -

dos numa empresa pública a INDEP


(Indústrias de D efesa de Portugal) ,

Outra área importante de fabrico era

facto que se materializou efectivamente

a coronharia, que implicou o funcio ­

em 1981. A actual empresa detentora de

namento de um boa carpintaria . As

Braço de Prata, evoluiu recentemente

várias oficinas exigiam também a pro­

para uma sociedade anónima.

dução

O papel desempenhado pela Fábrica de

limas, por exemplo. Chegaram a fa­

in

loco de ferramentaria, como

Braço de Prata na vida industrial por­

bricar, recentemente, capacetes para o

tuguesa não se resume à produção bélica

exército.

(armas ligeiras, munições, morteiros ,

Embora a FBP se encontre numa fase

espoletas e escorvas, granadas, minas,

de recessão industrial, com transferên­

etc . ) . Conhecem-se-lhe alguns traba­

cia das suas oficinas para a Fábrica

lhos artísticos de grande mérito (como as

Militar de Moscavide (FNMAL) , ainda

fundições para os grupos escultóricos da

dispõe de tecnologia de ponta em algu­

estátua à Guerra Peninsular, em Entre­

mas secções (tornos mecânicos auto ­

campos, a estátua de Carvalho Araújo e

máticos da Gildemeister - Bielefeld) ,

de Ourique) e encomendas privadas.

fabricando actualmente a metralhadora

Salientou-se também pela reparação

HK 2I, de 7 , 62 mm x 5 1 , para o

de viaturas automóveis militares, com

equipamento das tropas da NATO .

transformação e montagem de algumas

Oficina de fundição. Sangria do cubiloL Foto Mârio Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

séries, reparação de motores. As suas fundições foram célebres, tanto

B IBLIO GRAFIA,

as de bronze e latão , como as de ferro e

"Real Nitreira de Braço de Prata", Usboa,

aço, atingindo uma performance de

1801,

grande relevo as têmperas do aço por

tomo, XIN, Usboa, 1892; "Fabrica de Material

in Miscelânea, vaI. XVII;

Revista Militar,

processos químicos . A fundição de la­

de Guerra", in Exposição Internacional

tão fazia-se em fornos eléctricos de in-

do Rio deJaneiro. Secção Portuguesa,

dução , anterior a 1947 .

Livro d 'Oiro e Catálogo Oficial,

A produção de peças de alta qualidade

AGOSCO, Armando, "Material de Guerra",

Lisboa, 1 9 2 2 ;

exigia processos industriais de ponta ,

in Notícias mustrado, suplemento do Diário

tanto a nível da selecção das matérias­

Notícias,

n. o 62, série II, 19-7-1931;

-primas, como das análises laborato­

"Fábrica de Munições de Artilharia, Armamento

riais químicas e de ensaios mecânicos

e Viaturas (Braço de Prata) , 1904-1907" ,

e metalográficos . Usavam a radiografia

in Notícia Histórica Sobre os Estabelecimentos

e a metrologia de precisão . Faziam veri­

Fabris do Ministério da Guerra.

Lisboa. Bertrand,

ficações sistemáticas com aparelhos so­

1947,

fisticados e provas balísticas, nos suas

" Indústria Militar Nacional Como e. Para Quê.?",

próprias instalações.

in Nação e Defesa, pp. IIo-II6.

pp. 7-12; BARATA, Fílipe Themudo,

I 75

Fundição. Vasamento em lingotcira. Foto }.fãrio N avais. Arquivo de Arte da Fundação Calomte Gulbenkian.



estetizantes, num universo industrial adverso à introdução de l inguagens arquitectónico­ -artísticas, como aquele que caracterizava o nosso país, provém de factores ocasionais. Alfredo da Si lva e os responsáveis pela Tabaqueira encontravam-se envolvidos na

-. .... ., '" III .....

vida da Empresa Industrial Portuguesa, uma

[

unidade metalúrgica de Santo Amaro, em Lisboa, como capitalistas herdeiros dos Burnay. Tendo encontrado a fachada de 1888 ou os seus moldes nos estaleiros da antiga

Ruo

empresa metalúrgica, resolveram aplicá- Ia em Braço de Prata na unidade tabaqueira.

Planta Aerofotogramétrica 7/8. Escala I, � OOO _ Maio de 1963- Actualizada em Ig87.

Este aspecto não invalida a qualidade da

A T A B A Q U E I RA

intervenção, algo paradigmática na arqui­

Localização - Poço de Bispo / Braço de

pública é uma apl icação da fachada da

tectura industrial portuguesa. Alfredo da

Prata, Largo do Tabaco (antigo espaço do

Empresa Industrial Portuguesa construída

Silva ao mandar colocar esta fachada na

Cais do Tota).

para a Exposição Nacional das Indústrias

nova fábrica de tabacos de Lisboa, afirmava

período de Actividade - 1927- 1963

Fabris, na Avenida da Liberdade, em 1888.

o seu poderio e o seu ascendente sobre o

em Albarraque de 1962 a 1976.

A segunda, seguindo a l inguagem estética

império do conde de Burnay, com quem

Fundadores - Alfredo da Si lva.

da primeira, foi montada no pátio interior,

tivera conflitos no interior da Companhia

Actividade Industrial Fabrico de tabacos

rematando a ala central. Ambas construídas

União Fabril , da qual aliás fora o accionista

embalados, marcas populares e de luxo,

em estrutura de vigas de ferro laminado,

maioritário entre 1906-1909. A Tabaqueira

tabaco a fio, cigarril has e charutos.

colunas de ferro fundido e serralharia

desempenhou também um papel fundamen­

Valor Patrimonial - O edifício da fábrica

artística, permitem caracterizar a Tabaqueira

tai na organização espacial de Braço de Prata,

Tabaqueira do Poço do Bispo é um dos mais

de Alfredo da Si lva como um exemplar da

porque ocupando um área não urbanizada,

emblemáticos da arquitectura industrial

arquitectura do ferro tardia, envolvendo um

modelou os novos eixos urbanos e o largo

portuguesa do segundo quartel do século

notório revivalismo oitocentista em plena

fronteiro, facto que se reflectiu na própria

xx. Prédio construído de raiz, com alvenaria

afirmação de uma arquitectura em

toponímia da freguesia do Beato: Largo do

de tijolo aparente, com panos inseridos em

transformação, como já o era a experiência

Tabaco, Rua dos Cigarros, Rua dos Charutos.

estrutura de ferro, igualmente visível e de

modernista dos finais da década de vinte.

Estado de Conservação Muito degradado.

planta centralizada com pátio interior.

Há, no entanto, que atender a aspectos

Classificação Pende proposta de

O aspecto mais interessante desta unidade,

particulares que motivaram essa opção.

classificação no I PPAR, depois de uma

e, que a individualiza dos armazéns

Por um lado, toda a estrutura do edifício é

polémica muito significativa na

portuários do Porto de Lisboa é a existência

marcada por um rigoroso uncionalismo,

comunicação social da cidade, nos anos

de duas interessantes fachadas de chapa e

aproveitando integralmente o espa.Ço fabril .

1992- 1997. Referida no Inventário Municipal

ferro fundido. A primeira virada à via

A j unção d e uma fachada d e valores

do Património do PDM de Lisboa.

1 77


A

TABAQUEIRA do POÇO do Bisp o , como e r a designada na época da

sua fundação , ou de Braço de Prata como geralmente hoje é conhecida,

surgiu numa conjuntura assaz favorá­ vel da história da indústria do tabaco em Portugal. Entre 1 8 9 1 e 1 9 2 6 , vigorou o mono­ pólio legal estatal do contrato de taba­ c o , que esteve entregue à Companhia dos Tabacos de Portugal. Os proble­ mas políticos , financeiros e sociais relacionados com o encerramento das fábricas desta Companhia, em 3 0 de Abril de 1 9 2 6

-

curiosamente rela­

cionados com o movimento militar do 28 de Maio desse ano - motivaram uma mudança de atitude do Estado face a tão importante negócio finan­ ceir o . A II de Maio de 1 9 2 7 , a publi­ cação do D e creto - Lei n. o 1 3 5 8 7 estabelecia a s bases para o regime dos tabacos, que determinava a liberdade de fabric o , importação e venda. Sob o signo desta conjuntura nascerá a Tabaqueira do Poço do Bisp o . As condições estavam criadas, mas faltou algum tempo para o arroj o da inicia­ tiva. Em primeiro lugar, a Companhia União Fabril do industrial Alfredo da Silva ( 1 8 7 1 - 1942) envolveu-se numa p olémica ministerial com a recém C ompanhia Portuguesa de Tabaco s , fundada em 1 9 2 7 , ou sej a , uma m o ­ derna versão da antiga Companhia dos Tabacos de Portugal e principal subs­ Inauguração da fábrica. Cartaz publicitário. I9:i!7.

critora das acções da nova. Apesar de


não evitar as concessões do Estado , Alfredo da Silva ufanava-se de ter contribuído para a término do mo­ nopólio do tabaco (2I de Junho de I 9 2 7) . A derrota da proposta da CUF levou o industrial, no entanto , a criar uma empresa nova

-

A Tabaqueira,

com capitais da Sociedade Geral de Comércio , Indústria e Transporte s , Lda. e d a Casa BancáriaJosé Henriques Totta,

Lda. ,

ambas integradas no

Grupo CUF. A nova empresa registou a marca com a sigla "Para Bem Servir" e organizou o negócio tendo como ponto de partida a unidade industrial do Poço do Bisp o . Durante anos estabeleceu um plafond de dividendos aos accionistas de 7 % ao ano , como forma de garantir uma homogeneidade empresarial, indepen­ dentemente das circunstâncias. Im­ p rimiu conceitos mo dernizados de concorrência com a Companhia rival, muito ligada aos interesses do Estado .

Pormenor da fachada.

O crescimento da empresa e as opções

custo do tabaco nos estancos . Este

embalagens chegaram a todo o terri­

económicas vieram orientar o futuro

aspecto vai popularizar o tabaco em

tório e a todas as casas? A estratégia de

da Tabaqueira, durante a II Guerra

Portugal, envolvendo um largo espectro

produção acompanhava a evolução so­

Mundial. O empresário Manuel de

de consumidores potenciais, para os

cial, marcando a sua presença no quoti­

Mello , continuador de Alfredo da Sil­

quais os cigarros passaram a ser um bem

diano , assumindo -se até entre grupos

va, integrava o Grupo da Companhia

de consumo generalizado e não um

étnicos.

União Fabril (CUF) , depois de I942 .

luxo das classes mais altas. Assim os seus

Unidade movida por central termo­

Do ponto de vista fabril, os empre­

produtos tornaram-se famosos tanto

eléctrica própria, nos primeiros anos

sários de A Tabaqueira, cônscios da

em termos de normalização industrial,

assistiu-se à introdução de um novo

evolução do sector a nível interna­

como de marca. Quem não se recor­

sistema de empacotamento à máqui­

cional, investem numa completa e total

da dos maços de tabaco Definitivos,

na, com embalagens modernas e pa­

mecanização da produção , cujos efeitos

Severas, Três Vintes, Paris, High -Life,

dro nizadas , segundo a experiência

se materializaram na diminuição do

Português Suave, SG Gigante, cuj as

europeia. A organização empresarial

17 9


da Tabaqueira foi modelar numa épo­

mais 25 anos (Decreto-Lei n . o 4 1 3 8 6 ,

rados . Nessa época labo ravam na

ca em que o monopólio legal quase foi

d e 2 2 de Novembro d e 1 9 5 7) . Data

fábrica do Poço do Bispo para cima

substituído pelo monopólio

dessa altura a ideia de construção de

de 600 trabalhadore s . Data também desta fase o tipo de mistura de lotes na

real,

usando toda essa estratégia para im­

uma nova unidade fabril, que simul­

por-se à concorrência desleal. A CUF

taneamente permitisse o aumento da

composição dos tabacos da Tabaqueira

foi revendedora e distribuidora dos

produção (na escala que vinha sendo

-

produtos da empresa tabaqueira. Uma

verificada no período anterior e viabi­

O lote acabou por se uniformizar

lizasse as dificuldades legais impostas

depois do 2 5 de Abril , na Tabaqueira,

boa exploração comercial garantia os

25 % ultramarino e 75 % portuguê s .

resultados p ositivos da explo ração

pelo Estado ) , o aumento de capital

EP.

industrial. Assim impôs-se em Por­

verificado (40 0 0 0 contos) e o preço

A inauguração da Tabaqueira de Al­

tugal como empresa reguladora do

das ramas no mercado . Ao mesmo

barraque , em fins de 1 96 2 , determi­

preço do tabaco , oposta às tendências

tempo não se pagaria a renda ao Esta­

nou o encerramento da laboração em

monopolistas, contribuindo para o

do pelo usufruto da fábrica que , aliás

Braço de Prata um ano depois. A nova

aumento das receitas públicas. Essa

fora montada pela empresa, mas que

fábrica encontrava-se equipada com o

estratégia manteve -se nos períodos

de acordo com as normas vigentes

melhor maquinismo alemão da espe­

de crise e enquanto perduraram as

reverteria para o património público

cialidade, para produzir cerca de 6000

restrições impostas nas vendas dos

acabada a concessão de trinta ano s .

toneladas/ano, com pessoal operário

seus produtos, por parte do Estado .

N o entanto , a s dificuldades foram

bastante reduzido . Junto à nova uni­

Mas em 1 94 6 , findas essas restrições,

enormes nesses últimos anos da déca-

dade de Albarraque, a empresa veio a

o salto foi enorme, atingindo -se o

da de cinquenta, mantendo -se a labo­

instalar moderníssimos serviços sociais

máximo da capacidade produtiva da

ração em Poço do Bispo e iniciando-se

e culturais, para além de um bairro

fábrica de Poço do Bisp o : 1 8 3 3 to­

lentamente a construção da unidade

residencíal destinado ao pessoal da

neladas, em 1 9 4 8 .

de Albarraqu e , no concelho de Sin­

firma .

U m outro aspecto d e grande interesse

tra. É nessa altura que a Tabaqueira

Entretanto , a fábrica do Poço do Bis­

na história da Tabaqueira foi o da qua­

lança o seu primeiro cigarro com

po , ao passar para as mãos do Estado ,

lidade da matéria-prima, composta por

filtro - o SG Gigante, a preços popu­

é reivindicada pelos vizinhos , a Fá­

ramas de tabaco das marcas Virgínia,

lares -, além das marcas Benfica e

brica de Material de Guerra de Braço

Kentucky, Colonial e Maryland, entre

Porto, que rivalizavam com a marca

de Prata, com o objectivo de ali se

outras igualmente afamadas. A produ­

Sporting da Companhia de Xabregas.

instalarem os seus serviços sociais e

ção dirigia-se ao mercado português e

Aliás, a necessidade de mudança para

desportivos, situação que se manteve

ultramarino (I %) .

novas instalações industriais , muito

até aos inícios da década de noventa.

Em 1 9 5 7 , terminou o primeiro perío­

onerosas de acordo com o plano ini­

Neste momento , a velha Tabaqueira de

do do regime de 3 0 anos concedido

cial, fez dos últimos anos da unidade

Braço de Prata, como depois passou

pelo Estado para a exploração da fá­

do Poço do Bisp o , o período áureo

a ser conhecida, pela vinculação à

brica. O Estado , no entanto , motiva­

dessa fábrica. A qualidade aumentou ,

unidade bélica, pertence à EDP.

do pelos exercícios positivos dos anos

o número d e marcas também, baseadas

Não se deve fazeT confusão entre a

anteriores, renovou a concessão por

em loteamentos de tabaco mais esme-

Tabaqueira de Albarraque e a Taba-

180


queira de Cabo Ruivo , na Avenida Marechal Gomes da Costa. A primeira filia-se na empresa do Poço do Bispo e a segunda na Intar - Empresa Indus­ trial de Tabacos , SARL , nova desig­ nação da Companhia Portuguesa de Tabacos, a partir de 1 9 6 5 . Com a na­ cionalização das empresas de Albarra­ que e da ex-Xabregas, em 1976, surge a Tabaqueira - Empresa Industrial de Tabacos, EP (desde 1991, Sociedade Anónima - S .A. ) . Assim, à fábrica de Cabo Ruivo foi dado o nome de Taba­ queira, correlativo à nova empresa do sector, no quadro da fusão e das conse­ quências da nacionalização de 1 9 7 5 .

BI BLIO GRAFIA,

SANTO S , Raul Esteves dos,

Os Tabacos.

Sua Influência na Vida da Nação,

2 vols . ,

Lisboa, Seara Nova, 1974, vol. I , p . 153; "Tobacco", i n

The CUF Group,

s . I. [1970] ;

AUGUSTO , José L . , " C ompanhia União Fabril" . in

Empresariado Português.

Uma a bordagem às suas Realizações,

Porto,

A.1. Portuense, 1 9 9 4 , pp. 2 04 - 2 0 5 ; CÂMARA, João de Sousa da, Tabaqueira,

História da

Lisboa, Tabaqueira, 1 9 9 5 .

Nave interior d o edifício d a Tabaqueira. Foto Irene Buarque. 1983.

181



h i s t ó r i a da produção de gás: a produção a part i r do carvão e a partir do petró l e o , c uriosamente correspondentes à Gás da Mat i n h a

( 1 9 4 4 - 1 96 7 ) e à petro q u ím i ca ( d e s d e 1 9 5 7 até à p r i m e i ra década do s é c u l o X X I , quando o gás natural s ub s t i t u i r d e f i n i t i vamente o gás químico). A s u a l o ca l i zação na Z o n a O r i e n t a l de Lisboa, mais afectada p e l a s obras d a E X P O ' 98, terá profun das c o n s e q u ê n c i as na s u a h i st ó r i a futura ,

G Á s D A I'11 A T l n H A / P E T R 0 Q u í I'11 I C A

c o m o v a l o r arq u i t e c t ó n i c o ,

Local ização

v i sta urbano e com as suas v a l i a s

a t e n d e n d o à s e s c u l t uras espaci a i s

Rua d o Va l e Formoso de B a i x o ,

a r q u i t e c tó n i cas e patri m o n i a i s .

d a a r q u i tectura de e n g e n h e iros, esses

Ave n i d a I n fante D . H e n r i q u e ,

O t e r r i t ó r i o foi pensado com t o d a s as

" paraísos art i f i c i a i s " q u e m o l daram as

Ave n i da Mare c h a l G o m e s da Costa

s uas n e c e s s i dades in fraestrutura is,

p a i sagens recentes dos fenómenos de

período de Actividade

organizando-se com um p l ano

i n d us t r i a l ização da s o c i edade de

1 9 4 4 - 1998 >

i nteri or, com arruam entos, un i d a d e s

c o n s u m o de massas.

Fundadores

p r o d u t i vas, j a r d i n s e arvoredo s ,

As obras mais i m p ortantes do ponto

C o m p a n h i as R e u n i d a s de Gás e

gasóm etros, armazéns e e d i f í c i o s

de v i sta a r q u i t e ctó n i c o foram as

E l ectri c i dade ( C R G E ) ,

a d m i n i strativos e s o c i a i s , q u e formam

referentes à p r i m i t i va Fábrica de Gás

S o c i e d a d e Port uguesa de Petro q u í m i c a

u m c o n j u n t o complexo com as s uas

d a M a t i n h a , entre as quais sobressai

(SPP).

áreas respectivas, a n orte e a s u l .

a torre de dest i l ação de 3 4 metros

G D P - G á s d e P ort'uga l / G D L - G á s d e

A construção d a s fábricas d e fta l ato e

de comprimento e 2 2 metros

Lisboa.

a n i dr i d o ftá l i co , s i tuadas a s u l , v i e ram

a l t ura, obra em betão armado.

Actividade Industrial

o c u l tar uma organ i zação r a c i on a l de

Mas estas i n st a lações foram destruídas

P r o d u ç ã o e d i stri b u i ção de g á s através

todo esse vasto território, q u e por sua

para a construção de u n i dades fabris

de vários processos ( desde a desti lação

vez, p erm i t i a a l e i t ura das suas fases

q u í m i cas m a i s recentes.

do carvão à petroquímica até à uti l ização

d e c r e s c i m e n t o n um c urto espaço de

Deste p r i m i t ivo conj unto fazia parte a

do Gás N a t ura l como matéri a - pr i m a ) .

t e m p o . As sucessivas a m p l i a ç õ e s

casa do engen h e i r o - c h efe, um proj ecto

Valor Patrimonial

i m p useram - s e p e l o aumento

d o a r q u i t e ct o Parda l M o n t e i ro

As a c t u a i s i n s t a l ações da Gás de L i s b o a

e x p o n en c i a l d o c o n s u m o de gás e p e l o

( 1 89 7 - 1 9 5 7 ) .

com v á r i a s u n i dades f a b r i s em u s o ,

r i t m o d e renovação tecn o l ó g i ca d a

N ã o e x i stem espaços i n d u s t r i a is tão

c o n s t i t u e m um v a s t o território

i n d ú s t r i a q u í m i c a . O espaço terr i t o r i a l

e l u c i dativos e q u e reproduzam os

i nd u s t r i a l organ i z a d o d o ponto de

r e v e l a d o i s m o m entos fundamenta i s da

e f e i t o s t é c n i cos e funcionais da

183


m a q u i n a r i a u t i l i z a d a , c o m o estas

quer por m e d i ção de i nterpretações

a u t ê n t i c a s e s c u l t uras arquitectón i cas

descr i t i vas acentuadas.

das fábricas de gás e das

I n dependentemente destes aspectos,

petro q u ím i c a s . Os e d i f í c i os v i vem

h á n o c o n j u n t o m o n um e n t a l ,

da l i n g uagem dos forn o s , das

e d i f í c i o s e n q uadráve i s no u n i verso

c h am i n é s e das torres de d e st i l a ç ã o ,

do patr i m ó n i o i n d u s tr i a l , c o m o

das retortas e da organização

os da produção d o gás através d o

cromá t i c a dos espaços por onde

carv ã o , ú n i c a s e v i d ê n cias d e s t e t i p o

passam os produtos, q u e s e g u i n d o

de m é t o d o q u e s u b s i stem a i n d a

l ó g i c as d e fabri c o e s e g urança

n a c i da d e de Lisboa.

tran s m i t e m - s e à paisagem

A l i á s , o G á s da Mat i n h a é um e x e m p l o

i m p r i m i n d o as s uas característ i ca s .

de s ítio industrial em evo l uç ã o , c o m

Q u a n to a o s e d i f í c i o s , e l e s

e v i d ê n c i a s das m o d i f icações q u e s e

reprod u z e m as tecno l og i a s de

operaram n o decurso d e c i n q u e n t a

c o n s t r u ç ã o económ icas e f u n c i o n a i s .

e po ucos a n o s , na produção

São d e d e s e n h o rac i o n a l d e acordo c o m

e abast e c i m en t o de gás com e c o no m i a

as t é c n i c a s d a época.

de s ubprodutos.

As construções são em betão armado

Estado de Conservação

aparente e a l venarias de t i j o l o , com

Dependente dos d iversos t i pos d e

uso s i st e m á t i co de v i gas de ferro , com

i n s t a l ações e e d i f í c i o s .

e l e m e n t o s prefabr ica do s, t u d o para

C I ass ifi cação

fac i l itar a construção.

Sem c l ass i f i ca ç ã o .

S a l i e n t a m - se p e l o seu in teresse, os e d i f í c i o s estudados do gás carburatado, cujo desen h o , m a t e r i a i s d e c o n s t r u ç ã o e f u n ç õ e s con trib uíram este tica m e n t e para a composição geral

( M a r i a F á t i m a J o rg e ) . O i m pa c t o v i s u a l da arq u i tectura dos g a s ó m etros ( q ue em p a íses europeus têm sido objecto de reconversão f u n c i on a l quando acabam as s uas f u n ções i n dustri a i s ) e das construções da petroq u í m i c a i m p õ e m c o n s i derações de v a l o r i zação estét i c a , q u e artistas e c r í t i c o s de arte têm ress a l ta d o , q u e r através das suas l i nguagens p l á s t i c a s ,


monopólio da produção e comércio exercido pela histórica C ompanhia Lis­ bonense de Iluminação a Gás. A Câmara Municipal da capital dera o seu apoio político -administrativo à empresa de Belém, por razões de contencioso com a Companhia da Boavista. A localização da Fábrica de Gás em Belém, deveu-se à cedência de terrenos por parte da Câmara, desencadeando fortes reacções nos círculos do patri­ mónio cultural da capital, contrários àquele negócio , tão nefasto para a imagem da Torre de Belém, um dos símbolos quinhentistas dos Descobri­ mentos portugueses. Uma vasta área entre a linha de caminho-de-ferro de Portão da antiga quinta.

A

HISTÓ RIA da produção de gás em Lisboa anda associada a três

Cascais e o Tej o enegreceu-se, desde produtos da SACOR e decorreu desde

então até 1944, devido aos depósitos de

1 9 5 7 até à actualidade.

carvão , matéria-prima necessária para

importantes momentos fabris e técni­

A primeira fábrica para a produção de

o fabrico do gás.

cas, aos quais se deverá acrescentar

gás de cidade foi fundada pela Com­

A fusão das duas empresas nas Compa­

um quarto correspondente à actual

panhia Lisbonense de Iluminação a

nhias Reunidas de Gás e Electricidade

introdução do gás natural, etapa que se

Gás , no bairro industrial da Boavista ,

( CRGE) , em 1891, que veio a solu­

iniciou há pouco mais de um ano .

em 1847. Nesta fábrica, com fachada

cionar o conflito entre a Câmara Muni-

Entre 1847 e 194 7 , o gás produziu­

para a Avenida 24 de Julho, fazia-se a

cipal e a Companhia da Boavista, não

-se por meio da destilação da hulha,

destilação da hulha, segundo os pro­

teve reflexos na localização da Fábrica

através de vários processos e diferentes

cessos oriundos da Revolução Indus­

de Belém, contra a qual se ergueu a voz

instalações que foram mudando de lu­

trial (inovações de William Mardoch e

esclarecida de Ramalho Ortigão. Pelo

gar , entre a Boavista, Belém e Matinha.

correlativas) .

contrário , a Companhia do Gás de

Uma segunda tecnologia veio a nascer

A fundação da Companhia do Gás de

Lisboa passou a representar na vida das

com o processo da água carburatada,

Lisboa, em 1 8 8 7 , esteve na origem

CRGE um papel fundamental, pela

entre 1947 e 1 9 6 7 , apenas vinte anos

d e uma nova fábrica de gás, situada em

concentração da produção e armazena­

de vigência. Um terceiro momento

Belém , junto à Torre quinhentista.

mento de gás nos seus terrenos de

técnico , ainda em curso deveu-se ao

Encontrava-se construída com os seus

Belém. Ainda assim, em 19°1, alterou­

aparecimento da Petroquímica , com o

gasómetros, em 1 8 8 8 . A Companhia do

-se a localização do primitivo gasómetro

seu sistema de refinaria associada aos

Gás de Lisboa surgira como resposta ao

da fábrica para outro local, mais longe


encontrar um terreno disponível, com­

instalação da alta pressão para ligar a

prometendo-se a custear metade das

fábrica à rede de distribuição e uma

despesas da transferência das instala­

nova canalização de 14 quilómetros de

ções . Assim, em 1935, um novo espaço

comprimento . Competiria , por sua

era considerado como passível de res­

vez , às CRGE a edificação da nova fá­

ponder a todos os quesitos de modo a

brica com todos os preceitos de arqui­

contentar as CRGE e a Câmara, sob o

tectura e tecnologia, servindo o fabrico

beneplácito do Estado . A escolha recaiu

do gás pelo método da destilação do

sobre a histórica Quinta da Matinha, na

carvão , com beneficiação dos sub ­

margem do Tej o , pertencente à fregue­

produtos.

sia dos Olivais.

A Quinta da Matinha, da qual exis­

Demorou ainda dez anos entre a esco -

tem uma planta de 1 9 2 0 (cópia de

lha do local e a inauguração da nova

J. P. Barroso) e uma gravura datada

Fábrica do Gás, em 1944 . Durante este

de cerca de 1 8 6 0 , era um dos velhos

período interferiu o governo (19 3 8 ) , na

espaços rurais da Lisb oa O riental

perspectiva da celebração dos Cen­

transformado gradualmente em lugar

tenários Nacionais, que determinaram a

industrial. Sobre as ruínas das insta­

realização da Exposição do Mundo

lações agrícolas surgiu , por volta de

Português , em 1940 , na área de Belém.

1 8 8 7 , um fábrica de cortiça com as

Ao mesmo tempo começava a vingar

instalações de armazenagem viradas

uma tese diferente da ideia da simples

para o grande comércio . Há notícias

C.is da

remoção da fábrica de Belém para a

de obras de alargamento e renovação

da Torre , reconhecendo -se a necessi­

Matinha, uma iniciativa da equipa do

desta fábrica , entre 1892 e 1 9 2 9 , sa­

dade de uma resolução futura do pro­

Eng. Duarte Pacheco. Propunha-se a

bendo -se que pertenceu à Companhia

Inauguração da Fábrica da Matinha. J944. A NOWJ F.ibrica de Matinha. Lisboa, J944.

blema .

montagem de uma fábrica de carac­

Geral de Cortiça, encerrando a sua

Um longo contencioso entre a Câmara

terísticas especiais envolvendo novas

laboração após um contencioso com a

de Lisboa e as CRGE, a respeito da

tecnologias, para o abastecimento de

Câmara de Lisb o a . Nos in:ícios da

localização da Fábrica do Gás de Belém

gás à cidade e não apenas para a ilumi­

década de trinta, houve outros pro­

(1910) , de nada serviu, pois os tribunais

nação pública. Assumindo -se estes no­

j e ctos industriais para o espaço da

deram razão às Companhias, em 1912,

vos princípios , as entidades envolvidas

Quinta da Matinha, mas a partir de

impedindo a concretização da transfe­

reviram as condições do contrato ante­

1936 encontrava-se a sua futura fun­

rência. A solução passou, mais tarde,

rior. Por protocolo de 1939 deter­

ção. As obras começaram em Agosto

durante a Ditadura Militar (1928) , por

minou-se que competiria ao Estado

de 1 9 3 8 , com a conquista de terre­

um contrato entre a vereação e as

construir um aterro e uma ponte -cais,

nos ao ri'o Tej o , através de dragagem

CRGE , prevendo-se a mudança da

de modo a constituir espaço indispen­

e bombagem de areias da margem

FábTica de Belém num prazo de três

sável para a instalação da nova fábrica.

esquerda para enchimento total da

anos (art. 1 1 . 0 ) . À Câmara competiria

Quanto à CML, teria de financiar a

praia da Matinha e construção de um

186


muro de suporte e protecção em pedra.

Electricidade de Portugal (EDP) , sepa­

Em I939 , iniciava-se a montagem dos

raram - s e , ficando as instalações da

fornos de destilação, da aparelhagem

Matinha na posse da Petroquímica e

de depuração e do primeiro gas ó ­

Gás de Portugal , E . P. (r979) . Em I989

metro , seguindo -se a s estruturas d a

nasce a empresa GD P - Gás de

nova fábrica e m betão armado . E m

Portugal, S .A. A partir de I 9 9 5 ,

I940, a fábrica encontrava-se pratica­

reestrutura-se n a GDL (Sociedade

mente construída, com a participação

D istribuidora

de empre sas portuguesas e estran­

Lisboa , S .A. oU Gás de Lisboa) , cum­

geiras. D iversos imperativos relacio­

prindo a sua função de abastecimento

nados com o eclodir da II Guerra

de gás à capital. Assim, iremos tentar

Mundial impediram a sua inauguração

seguir as diversas fases por que passaram

em I 9 4 0

as obras e as instalações da Quinta da

e

em I942 , como esteve

de

Gás Natural de

previsto , situação que só ocorreu um

Matinha, desde I944 até I998, se bem

pouco antes do fim do conflito mun­

que com maior pormenor em relação

Aspecto geral da Fábrica da Matinha. A NO�'a Fábrica de Gis da Matinha, Lisboa, 1944.

dial . Entretanto , com a criação da

às instalações iniciais sobre as quais

iluminação, teria necessariamente um

Zona Industrial do Porto de Lisboa,

existem estudos mais completos e

novo esquema de fabrico e dirigir-se-ia

em I 94 2 , a unidade de gás foi de

globais.

para outras funções do mésticas e

imediato integrada nessa nova área,

Quando a Fábrica da Matinha foi inau­

industriais . A opção tecnológica foi a

passando a ser conhecida por Fábrica

gurada, em 8 de Janeiro de I944 , era

da montagem de uma fábrica de tra­

da Matinha.

presidente das CRGE, o "decano da elec­

balho contínuo e automático . Se a es­

O estudo de Maria de Fátima Jorge

tricidade em Portugal" , Dr. António

colha da tecnologia reverteu para a

esclarece muitos aspectos, tanto refe­

Centeno (I86I-I947) . A nova fase da

belga SOFINA, a construção dos fornos

rentes à tecnologia da primeira uni­

produção de gás ocorre no contexto do

de destilação foram entregues à Société

dade, como da segunda, pelo processo

co ntrato de I 9 3 3 , entre as C RGE

Générale de Construction de Fours ,

de água carburatada, como ainda, em

e a S OFINA, S .A. , uma sociedade

de Montrouge , na França. Edifica­

relação à arquitectura dos edifícios

franco -belga. O projecto implicava a

ram-se cinco fornos verticais do tipo

destas duas fases de produção e dis­

realização de obras que colocassem o

de "Woodall Duckham" , com vinte

tribuição de gás a Lisboa. Todavia, o

país a par das realizações industriais de

câmaras de combustão , para uma ca­

estudo referido é omisso em relação

gás da Inglaterra, Bélgica, França e

pacidade de produção 70 000 m3 I dia.

às ampliaçõ e s , proj ectos e funções

Estados Unidos da América. O custo

Nas instalações da primitiva Fábrica

correspo ndentes a novos períodos

geral da transferência da Fábrica de

de Gás observavam-se cinco fases

tecnológicos, ocorridos após I 9 6 0 ,

Gás de Belém para a Matinha e a

fundamentais de fabric o : a destilação

que ultrapassam a s áreas das instalações

construção da nova fábrica ficaram em

contínua após a ensilagem do carvã o ,

primitivas . Por outro lado , após o 2 5

43 500 contos.

p e l o processo de câmaras verticais ; o

d e Abril, o gás e a electricidad e , que

A nova unidade de gás, na época em

tratamento e a depuração do alcatrão

constituíam uma Empresa Pública , a

que a electricidade substituíra o gás de

contido no gás - processo bastante

187


complexo ainda - através de vários tipos de condensadores, lavagem em amoníaco e depuração por processos químicos; a desbenzolage m ; o arma­ zenamento em gasómetros ; o trans­ porte a longa distância a alta pressão , com o auxílio de compressores até aos postos de depressão ( em que o gás passava à baixa pressão ) , para poder ser consumido na rede urbana. O custo desta obra ficou em 3 6 000 contos. O carvão - matéria-prima indispensá­ vel nesta primeira fase da Fábrica de Gás da Matinha - era descarregado na ponte-cais construída pela unidade fabril e transportado num sistema de ferrovia até aos depósitos do carvâo . A necessidade constante de carvão para alimentação do processo contínuo de destilação , traduziu-se na mudança da paisagem fluvial daquele espaço , com a presença de carregueiros ma­ rítimos desde 1943 , j unto à ponte­ - cais . Dali passavam mecanicamente para os silos que se encontravam no edifício da destilação , onde nos fornos providos de mecanismos automático s , o carvão era destilado com o concurso de vapor de água, com mistura de dois tipos de gás ( o . gás da água e o gás oriundo do carvão) produzido em baterias de gasogénios. A purificação do gás consistia em retirar-lhe as subs­ tâncias nocivas que continha, tais como o alcatrão, o amónio , a naftalina, o ácido sulfídrico e o benzol. Essas ope­ rações realizavam-se em condensado-

Instalações do gás carburatado. Foto Maria de FátimaJorge.

188


res aprop riados . O gás benzol era extraído através de um processo novo (Benzorb o n) , numa instalação alemã denominada Lurgi .

CORT[ POR

A 8

Depois da purificação química, o gás guardava-se num gasómetro do tipo de Baume-Marpent (fábrica em Maine St. Pierre) e fabricado com o concurso da metalúrgica portuguesa L. Cardoso Dargent. O primeiro gasómetro tinha 3 6 m de altura e uma capacidade de 3 0 000 m3 • A distribuição fazia-se através de canalizações de 500 e 6 0 0 m m , quer pela compressão , quer pela depress ã o . Antes de chegar ao consu­ midor dirigia-se a três postos de gás da cidad e , situados no Terreiro do Paç o , Praça do Chile e na Rua Filipe Folqu e . As

CRGE instalaram c o m a sua nova

A1çado e corte do edifido principal do gás carburatado. Desenho de Maria de FátimaJorgc.

estações para o seu abastecimento à

um gasómetro com maior capacidade

unidade industrial, caldeiras para a

do que o primeir o , para além de outras

Fábrica da Matinha, um interessante

produção de vapo r da Babcock &

obras , como o refrigerador Hamon.

sistema de economia dos subprodu­

Wilcox. D o ponto de vista técnico , as

Mas, em 1947, j á se pensava construir

tos resultantes da destilação contínua ,

casas das máquinas (casa dos extrac­

uma segunda instalação de produção de

tais como o coque, o alcatrão, a amó ­

tores, dos compressores, dos depres­

gás pelo método da água carburatada,

nia e o benzol . Eram produtos de

sores, etc . ) eram das mais perfeitas do

com capacidade de 60 000 m3/dia .

consumo na nova época industrial,

país. O primeiro engenheiro - chefe

Neste mesmo ano foram autorizadas as

tais como os fogões a gás de cozinha.

desta instalação de gás foi Pompeu

obras. Estas pressupunham uma nova

A pavimentação das estradas com alca-

Nolasco da Silva , que veio a ocupar, a

unidade de produção de gás , com

trão

revolução

partir de Novembro de 1 944 , a casa

tratamento adequado e um reser­

rodoviária e a aceleração automóvel

da gerência das CRGE existente no

vatório ( � o o o m3) . As construções

acompanhava

a

tornando-se cada vez mais necessário

espaço fabril .

concluíam-se em 1 9 4 8 . No ano se­

uma auto -suficiência nacio - nal e m

No ano de 1945 , pensou-se apetrechar

guint e , uma segunda extensão destas

alcatrão , para os pavimentos e outros

as instalações, acabadas de inaugurar

unidades respondiam ao boom do

subprodutos.

com uma capacidade de 100 0 0 0 m3

consumo . Trabalhava sem paragens,

A nova Fábrica de Gás dispunha

de gás /dia. Assim, aumentou-se a des­

tal era o incremento do consumo de

também de uma subestação eléctri­

tilaria com mais dois fornos do mesmo

gás per capita. Uma primeira linha de

ca (1940) , tanques de água e duas

tipo e foi construído , em 1948, mais

abastecimento de gás carburata do foi

189


inaugurada em Novembro de 1 948 .

propano, pelo processo de craclcing (o

da Matinha e a Petroquímica - um

Atendendo a esse crescimento , a s

petróleo é convertido em óleo volátil e

vasto território que ultrapassa o s l i ­

CRGE p ensavam, em 1949 , incremen­

gás ) . Estas instalações exigiam novos

mites estreitos d a velha quinta, para

tar a sua produção de 160 000 m3 para

gasómetros (100 000 m3) .

se assumir como um complexo in­

210 000 m3 através de uma terceira

As novas instalações começaram a fun­

dustrial , cujo estudo exige uma abor­

extensão completa de gás carburatado .

cionar em 1 9 5 7 , ano em que as CRGE

dagem de maior pormenor.

Novas construções surgiram em 1950-

e a SAOO R fundam a Sociedade Por ­

À medida que se processam as alte­

- 5 1 , que começaram a dar ao espaço da

tuguesa d e Petroquímica (SPP) . Seria

rações, as antigas unidades fabris vão

antiga Fábrica de Gás da Matinha as

possível a partir de então , fabricar o

encerrando e os seus espaços são obj ecto

características que hoje ainda observa­

gás de cidade com base nos subpro­

de novos projectos industriais comple­

mos, mas numa escala muito maior.

dutos da refinaria de Cabo Ruivo .

mentares das áreas em laboração, ou

Construíram-se novos fornos, uma

O mesmo processo viabilizou a con­

então ficam ao abandono, como o caso

torre de extinção , mais uma vez sob

dução de amoníaco na Matinha.

das instalações modernistas da produção

a direcção técnica da SOFINA e de

As infra-estruturas para o tratamento

de gás pelo método da água carburatada.

uma empresa das CRGE, a SET (So­

e a refinação do gás inauguraram-se

Na realidade , quando a destilação pas­

ciedade de Estudos Técnicos) . As

em Fevereiro de 1958, ainda locali­

sou a ser obtida a partir dos produtos

obras da terceira extensão construí­

zadas no antigo edifício de água carbu­

petrolíferos, inicia-se uma nova fase da

ram-se por fases. A segunda previa o

ratada. Todavia, como a implantação

indústria do gás, para a qual a Fábrica da

aumento da produção para 260 000

de u m novo complexo para a p rodu­

Matinha não tinha solução. A evolução

m3/dia e exigiu a construção de uma

ção do gás de cidade , do amoníaco e o

gera uma nova unidade em Cabo Ruivo ,

terceira bateria de fornos de desti­

hidrogéni o , relacionado com o s in­

com características técnicas muito dife-

lação, um gasogénio e outros serviços

teresses das C GRE e da SAC OR, a pri­

rentes e cuja imagem artificial se organi­

(em funcionamento a partir de No­

meira empresa dá por terminada a

zou como uma autêntica escultura na

vembro de 1 954) . Mais um gasómetro

produção de gás a partir do carvão .

paisagem, com as suas torres de desti­

foi instalado para guardar 100 000 m3

Estas importantes alterações determi­

lação , com os seus grandes reservatórios

de gás (r954- 55) .

nam o encerramento dos fornos de

e as suas diferentes áreas industriais.

Mas, nos meados da década de cin­

destilação do carvão (1964) e das ins­

A GDL funciona actualmente a gás natu­

quenta, outras perspectivas começavam

talações de gás carburatado (r967) ,

ral, uma lógica de características ambien­

a surgir na produção de gás, baseadas

seis anos depois do início da produção

tais para o novo milénio . Em 1998,

em métodos de destilação do petróleo,

de gás por via petrolífera (a partir da

assiste-se a outra alteração, criando-se a

ou pelo menos que atendessem aos

gasolina, do butano e do fue1- oil) im­

marca Lisboagás.

avanços técnicos da petroquímica .

plementada pela Sociedade Petroquí­

D e acordo com recentes estudos, prevê­

Assim, em 1955, as necessidades de

mica de Portugal.

-se a recuperação da Fábrica da Matinha,

crescimento para 2 9 0 0 0 0 m3/dia

Estes acontecimentos e as diversas

no enquadramento das remodelações de

implicaram uma terceira linha de pro­

modificações empresariais ocorridas

Lisboa Oriental e da criação do parque

dução contínua de gás carburatado ,

desde 1 9 6 1 alteraram a planta de toda a

da EXPO '98, prevendo-se um futuro

com o apoio de uma refinaria de gás

área onde se estabeleceram a Fábrica

local de investigação científica.

190


Gasómr:tros. Foto Maria de FátímaJorge. da Matinha ,

BIBLIO GRAFIA,

liA Fábrica da Matinha", in Indústria Portuguesa,

Lisboa, 1944; CUSTÓ DIO, Jorge,

"Fábrica de Gás da Matinha", in Dicionário

XIII ano, n. o 151, Setembro de

História de Lisboa,

da

coord. de Francisco Santana

Matinha GaslYork - Carburatted Water Gas Building,

dissertação de mestrado em

Conservação em Cidades Históricas e Edifícios,

1940; OOM, Frederico, "A nova fábrica

e Eduardo Sucena, Lisboa, Carlos Quintas &

Lovaina, 1995 (com ilustrações dos Álbuns

de gás da Matinha" , in Boletim

Associados, 1994, pp. 378-379; "Breve história

das CRGE, sobre a Fábrica da Matinha,

da distribuição de gás combustível canalizado

fotos de Kurt Pinto).

dos Engenheiros,

da Ordem

4. o Ano, n. o 48, Dezembro

de 1940, p. 583-588; "A Nova Fábrica de Gás

em Lisboa da Companhia Lisbonense de

na Matinha deve funcionar ainda este ano",

Iluminação a Gás à Gás Portugal", in

in Indústria Portuguesa, XV Ano ,

Notícias, Boletim Interno,

Outubro de 1942 , p. IO;

n.o

170,

A Nova Fábrica de Gás

GDP

II Ano , n. o 3 ,

Setembro, 1994; JORGE, Maria d e Fátima,

'9 '



localização

-

Parq ue d a E X P O ' 9 8 .

período d e Actividade Fundadores

-

-

1940-1995

SACOR.

Actividade Industri al

-

Dest i l ação da

ref i na r i a de petró l eo .

Valor Patrimonial

-

O valor patrimon i a l

da torre d a desti l a r i a da Sacor f o i desde l og o rec o n h e c i d o p o r artistas p l ás t i c o s , quando s e p e n s o u d e m o l i r a a n t i g a ref i n a r i a de Cabo R u i vo .

Estado de conservação Resta urada para servir os prop ó s i t o s da EXPO ' 9 8 , -

em m e m ó r i a da a n t i g a ref i n a r i a de Cabo R u i v o . A Torre G a l p , l o ca l i za - s e j unto à Porta S u l d o antigo recinto da E X P O ' 9 8 e f o i r e c u p erada p e l os arquitectos Graça D ias e Egas V i e ira.

Classificação

Planta Aerofotogramétrica 8/8. Escala 1 :2 000. Maio de

1963.

Actualizada em 1987 (aspeeto parcial da antiga Sacar, onde se localiza a torre).

T 0 R R E D E D E ST l L A Ç A 0 D A S A C 0 R

'9 3

-

N ã o tem.


P

Torre de Destilação. Maio de 1998.

ARA

compreender a instalação

De Groer determinava que a vocação e

de uma importante refinaria de

expansão industrial da capital se faria

p etróleo em Cabo Ruivo é necessário

na sua Z ona Oriental, aproveitando as

situarm o - no s nas directizes u rb a ­

amplas acessibilidades ferroviári a s ,

nísticas e económico -governativas de

marítimas, viárias e aéreas .

Lisboa, entre 1 9 3 0 e 1948 , data da

A escolha dos terrenos para a insta­

publicação do Plano de Urbanização ,

lação da Refinaria de Cab o Ruivo , no

encomendado por Duarte Pachec o , ao

Casal das Rolas e Quinta dos Paios -

urbanista francês De Gro e r .

envolvendo inicialmente opções de

D esde 1 9 3 0 procurava-se desafectar o s

natureza ambiental - , foi determina­

espaços industriais d e Lisboa O ciden­

da pela existência de antigas fábricas

tal, entregando- o s a outras funções

p oluentes nos mesmos espaços, entre

mais nobres e de laze r . Estas medidas

as quais refiram-se a Tinoca Limited

visaram em primeiro lugar as insta­

(indústria química) .

lações e depósitos de combustíveis e

A construção da refinaria e a sua inau­

gasómetros situados em Alcântara, n a

guração o correu em 1 9 4 0 ,

Junqueira e em Belém. Depois, c o m

responsabilidade da SACOR - Socie­

sob a

raras excepções, também as instalações

dade Anónima C o ncessionária

fabris, começaram a ser transferidas

Refinação de Petróleos em Portugal.

para Lisboa O riental.

As instalações criteriosamente segu­

Do ponto de vista ribeirinho procu­

radas em 1 9 4 � pelo valor de 5� 3 8 6

da

rava-se alargar o Porto de Lisb o a para

contos, envolviam amplos edifícios

novas áreas , situadas e m B raço de

fabris, centrais, quarenta e sete reser­

Prata, Matinha e Cabo Ruivo .

vatórios e vários escritórios. A desti­

As decisões de construção da nova

laria era , já à época, uma estrutura

Fábrica do Gás da Matinha ocorreram

completa de destilação de petróleo

entre 1934 e 1944, enquanto novas

bruto , que compreendia duas for ­

fábricas se começaram a instalar p erto

n a l h a s tubulares, duas colunas d e

de C abo Ruivo ou nos Olivais desde o s

rectificaçã o , rectificadoras auxiliares,

finais da década d e vinte , nomeada­

p ermutadores de calor, bombas , refri­

mente a fábrica e silos da Companhia

geradores, ejectores, formando uma

de Moagens Lisbonense. També m , em

complicada arquitectura comum a este

1 9 4 4 , ficava concluída a Doca dos

tipo de unidades fabris da indústria

Olivais.

química moderna. A torre da desti­

Entretant o , em 194� , era criada a

lação , que sobreviveu às alterações de

Área Industrial do Porto de Lisbo a e

função de todo o espaço , tem a altura

em 1 9 4 8 , o Plano de Urbanização de

de mais de quarenta metros . A par da

194


chaminé da Gás Portugal, na Quinta

os quais as alvenarias d e tij olo e arga­

B I BLI OGRAFIA,

da Matinha, constituiu um dos mais

massas hidráulicas, estruturas metálicas

Nota Descritiva e Estimativa dos Bens Seguros

míticos símbolos da industrialização

padronizadas e coberturas de fibroci­

q u e constituem a instalação da ReFinaria

recente de Lisboa Oriental .

ment o . Do ponto de vista formal exis­

de Petróleo pertencendo à Sociedade

O proj ecto original de I940 integrava :

tiam vários hangares, entre os quais os

Anónima Concessionária da Refinação

- a fábrica para o tratamento quí-

das áreas de expedição , com instalações

de Petróleos em Portugal,

mico e o enchimento do vasilhame

para o enchimento de vagões-cisternas,

Tip. Cristóvão A. Rodrigues, 1 9 4 3 : SACOR,

(r768 mO) ;

camiões-cisternas e navios-cisternas.

Álb u m , Lisboa, 1 9 5 7 : SACOR,

- a casa das b o mbas, com bombas para

Como unidade da indústria quími­

Lisboa, 1940

a rede central e complementar de

ca, importantes laboratórios foram

petróleo brut o , óleos lubrificantes e

instalados na SAC O R , um dos quais

asfalto ;

com motores para a determinação do

- a central térmica, onde se encon ­

índice de octanas.

travam duas caldeiras da Babcock &

A refinaria implicou uma ligação es­

Wilco x ;

treita com a rede geral de distribuição

- a central eléctrica, c o m dois grupos

eléctrica, determinando a construção

electrogénios a vap o r , com turbina

de um importante posto de transfor­

e alternador cada um e diversos

mação de electricidade e uma instalação

compressores ; - uma instalação para captação e abas­ tecimento de água;

modelar contra incêndios , para a pre­ venção fabril e zonal. A história da SAC OR associa-se, a

- uma etilagem ;

partir de I 9 5 7 , à Fábrica de Gás da

- uma central térmica para aqueci-

M atinha . Em Agosto desse a n o , a

mento dos edifício s ; - outros edifícios secundários e d e apoio .

SACOR, as CRGE e outras firmas da indústria química fundaram a S o ­ ciedade d e Petroquímica de Portugal

Como refinaria de petróleo , a SACOR

(SPP) . A finalidade principal residia

não deixaria de caracterizar-se pelos

n o aproveitamento dos subprodutos da

seus múltiplos reservatórios de diver­

refinaria de Cabo Ruivo e a sua desti­

sos diâmetros, variadas alturas e capa­

lação na Matinha, onde se produziriam

cidades em metros cúbicos, moldando

o gás de cidade e o amoníaco .

a paisagem de Cabo Ruivo, antes da EXPO ' 9 8 . O s edifícios obedeciam ao diagrama funcional de uma refinaria de petró­ leo e tendiam para uma certa banaliza­ ção dos materiais de construção , entre

1 95

>:

SAC OR, Lisboa,

Relatórios,

SACO R Revista, 1962

>.



� · OLIVAIS

• "-..

C a s a s Novas, O l i v a i s Ve l h o .

�.� ��-.,

Local ização - R ua Franc i s c o A l ve s G o uv e i a , s i tuada na a n t i g a Q u inta d a s

I

Data d e Construção - 1 8 8 2 / 1 889/1 907 Proprietários fundadores - Francisco Alves Gouveia.

Val or Patrimonial - E s t e conjunto h a b i t a c i o n a l reves t e - s e de grande i n t e resse patri mon i a l , p o i s estabe l ece e c o n st i t u i a artéria p r i n c i p a l dos O l iv a i s Vel h o , com e i x o perpend i cu l ar à I g r e j a de Santa Mari a . O próprio adro da Igreja f o i d e l i m i tado por construções e d i f i c a d a s por A l ve s G o u v e i a , i m po n d o - s e na urb a n i zação pr i mo - n ovecerit i st a . J untamente c o m o Largo da V iscondessa Planta Aerofotogramétrica 9/7- Escala

1:2000.

dos o l i v a i s , as h a b itações para

Maio de 1963_ Actualizada em 1987.

os a n t i gos operários d a Fábrica de ,

B A I R R 0 0 P E RA R I 0 D E F RA n C I S C 0 A LV E S G 0 U V E I A

Estampar i a de A l ve s Gouv e i a são os ú lt i m o s testem u n h os que s u b s i stem às c o n struções desart i c u l a d a s e de má q u a l idade e s t é t i c a , q u e em seu redor foram s u rg i n d o . Destru i u - s e , ass i m , um n ú c l e o urbano o it o c e n t i s t a , que c h e go u a ser sede de conce l h o , c o m un i d a d e e v i da próp r i a .

Estado de Conservação - O s prédios a z u l ej ados estão em bom estado, mas os restantes apresentam s i n a i s de degradação.

Classificação - Sem c l as s i f i cação. Vem c o n t e m p lado nos conj untos e d i ficados do I n ve n t á r i o M u n i c i p a l do Patr i m ó n i o do P D M de L i sboa.

197


onmn· CIJ-

A

U

11\';'

&lrro O�r�rlu.

Fãbrica de estampa ria e bairro operário. em O Património Industrial e os Trabalhadores. O Caso do Vale de CheIas. p. 23.

Edifício da fábrica de estamparia. Foto Rui Rasquilho. 1978.

NTES de uma descrição mais

PrllW'l[a fmct>. Lus:,III r .undf" trobnlhuu .de.An\unlo RaptbLft.

actualizados, embora a secção de bran­

mecanizadas da estamparia eram m o ­

cuidada das diferentes constru­

queação fosse a mais modernizada, de

vidas por máquinas a vapor, encon­

ções operárias é importante abordar

acordo com o Inquérito Industrial

trando-se instaladas uma máquina de

sucintamente a empresa que as criou,

de 1 8 8 1 . Todo o trabalho concentrava-

Lemoire (6 c/v) , uma caldeira france­

ainda que , presentemente, não subsista

-se na fábrica e a maquinaria utilizada

sa (10 c/v) e outra máquina montada,

mais do que o portão de entrada da

na época consistia : uma tina de bran­

cerca de 1 8 8 9 .

grande área ocupada pela fábrica de

queamento ; três engenhos de lava r ;

Inicialmente a fábrica era d e peque­

Francisco Alves Gouveia.

d o i s moinhos para anil ; dois engenhos

nas dimensões. A área delimitada na

A actividade industrial remonta a 1874.

para preparar zuartes ; dois engenhos

planta revela uma expansão industrial

No espaço rural da freguesia instalou­

para chitas azuis ; duas calandra s ; uma

gradual, ultrapassando os limites da

-se uma unidade fabril de estamparia,

enroladeira; uma bomba para tirar

primitiva quinta. Numa planta indus­

tinturaria e branqueamento de algo ­

águ a ; quatro caldeiras para puxar

trial, datada de 1 9 4 7 , entregue na

dões, fundada por Francisco Alves

cores ; uma caixa para puxar zuartes e

CML, verifica-se a forma sucessiva e

Gouveia. Entre os primeiros produtos

campeche ; quarenta tinas para tingir

justaposta de implantação das diversas

salientam-se as chitas (azuis, ruivas e

fazenda e duas prensas. Os processos

oficinas , integrando-se no conjunto

pretas) , os zuartes, os lenços (azuis e de

manuais mantiveram-se por mais três

existente, algumas inovações tecnoló­

cores) e os algodões branqueados .

décadas e evidenciavam-se pela co­

gicas. Um exemplo , consiste no pedi­

Os pro cessos técnicos aplicados n a

lecção de cunhos ou moldes de estam­

do de autorização de Francisco Alves

fábrica não s e encontravam muito

par, mais de mil em 1 8 8 1 . As secções

Gouveia, em Janeiro de 1 9 ° 4 , para


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\\ ...,'{r.

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III � . � ·'1·

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Alçado da casa das caldeiras. Arquivo de Obras, CML.

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1· 1 Alçado da chaminé. 1947. Arquivo de Obras, CML.

1947.

estamparia e tinturaria. Em meados

assim de se reconstruir oficinas , reser­

tinturari a , um barracão de madeira

da década de quarenta, registam-se

vatórios de água, cabine eléctrica, ar­

assente sobre alicerces de alvenaria ,

grandes alterações na organização de

mazéns e casa para caldeiras.

destinado às oficinas de tinturaria.

algumas das secções da unidade fabril.

Com o findar dos anos 40, diminui a

D ata de 1 9 2 3 , o p edido para a insta­

O principal motivo prende-se com o

intensidade dos pedidos de alteração ou

edificar no interior da sua fábrica de

lação de uma cabine de alta tensão ,

novo traçado viário da futura urbaniza­

construção suj eitos à Câmara Municipal

modificando -se desde então a força

São dos Olivais, dividindo em duas

de Lisboa. Esta fábrica laborou quase

motriz que iria alimentar a fábrica de

partes a unidade inicial da fábrica. Têm

cem anos. A 18 de Setembro de 1973,

1 99


biente urbano . No fim do século XIX e princípios do século XX, construí­ ram -se casas baixas para operários, rematadas, em I907, pela imposição de um bom edifício, virado para a igreja,

(. . ) foi transformada numa artéria bem lançada, dentro do enfiamento do velho templo, a testando imposição de alinha­ mentos, que o Rossio não teve de início (Ralph D elgado) . Documentos fotográficos da mesma época mostram-nos o aproveitamento da rua central repleta de árvores, para momentos de lazer e convívio entre os moradores, estendendo-se à via pú­ blica o conceito de fábrica-jardim tão caro aos industriais utopistas. Prédio fronteiro à igreja.

a Francisco Alves Gouveia Lda. faz um

Estas construções são muito peculiares, homens e vinte e cinco rapazes, mas

porque ao contrário das suas congéne­

pedido à Câmara Municipal de Lisboa

com o crescimento da unidade o ope­

res, não se escondem atrás de nenhum

para emitir uma licença de demolição

rariado aument o u . Em termos de

elemento natural ou construído , mas

dos edifícios que compunham a sua

apoios sociais para os trabalhadores,

antes assumem a artéria de circulação

fábrica de estamparia, na zona sul da

F. A. Gouveia estabeleceu uma escola

principal da localidade . As casas cons­

Avenida de B erlim, visto ser uma zona

primária onde podiam estudar tanto

truídas na Rua Alves Gouveia são de

abrangida pelo plano de urbanização

os o p erários como os seus filhos ,

um só piso e não se revestem de cuida­

dos Olivais Velho .

mandou construir um clube e o bairro

dos estéticos especiais.

A o rganização social e a designação da

operário alinhado por uma rua cen­

O bairro organiza-se em duas corren­

empresa alterou-se após a morte do

tral, que recebia o seu nome. De todo

tezas , ladeando a rua. As casas dos

seu fundador . Em 1935 , denomina-se

o conjunto industrial e social edifica­

números pares foram construídas em

por União de Estamparia , Lda . e, em

do por este empresário só subsistiram

1 8 8 2 . Esta correnteza é simétrica ,

1944, surge com a designação de F. A.

as habitações operárias.

tendo a meio da rua um edifício com

Gouve i a , Lda. associada à conces­

Mais uma vez se depara com a iniciativa

frontão classicizante , onde se inscre­

sionária União de Estamparia, Lda .

de um particular, que contribui para

vem as iniciais F. A. G . , a data e alguns

O número de operários a laborar na

soluções de urbanização na sequência da

elementos cerâmicos encimando o

fábrica de Francisco Alves Gouveia,

sua actividade industrial, aproximando

ó culo , as janelas e a porta. D e cada

em 1 8 8 1 , rondava os oitenta , subdivi­

os operários da localização fabril , con­

lado deste edifício central o rganizam­

dindo - s e e ntre cinquenta e cinco

ferindo-lhes a dignidade de um am-

- se quatro módulos de habitações.

200


Planta e alçado das casas ímpares do bairro operário. Arquivo de Obras. CML.

Em relação à correnteza dos números

materiais utilizados no exterior são

Património Industrial. Actas e Comunicações,

ímpares , a data do projecto é de r 8 8 9 .

mais cuidados. O piso térreo é revesti­

vol. II, Coimbra, Coimbra Editora, Ld a . ,

Compondo-se d e cinco módulo s , o

do a azulejos de estampilha, o andar

1990. pp. 2 3 ; DIAS, Francisco da Silva e

seu interior tinha casas de quatro o u

superior é rematado com um friso

DIAS, Tiago da Silva,

cinco divisões, cozinha e u m a z o n a d e

azuiej ado de motivo vegetalista.

logradouro.

O edifício termina com uma plati­

habitações da Rua Alves Gouveia

b anda abalaustrada e ncimada p o r

têm uma uniformidade e racionali­

elementos em cerâmica vidrada, como

dade conferida pelo ritmo cadenciado

pinha s . As varandas são e m ferro

das j anelas e das portas. A linguagem

fundido .

Ai;

horizontal de todo o conjunto edifica­ do não se deve ao facto das habitações terem um só piso , mas devido aos

B I B L I O GRAFIA,

remates em platibanda modelada, que

"Fábrica de Francisco Alves Gouveia" ,

escondem os próprios telhados .

em

M a s Alves Gouveia não se limitou a

Directo 2 . a parte, Visita às Fábricas, Lisboa,

construir estas habitações. Como atrás

Imprensa Nacional, 1881, pp. 5 7 - 6 0 ;

se referiu, edificou um prédio no

DELGAD O , Ralph,

Inq uérito Industrial de

I88I, Inquérito

A antiga freguesia

Largo do Rossio da Igrej a , de maior

dos Olivais,

volumetria e qualidade estética, pro­

CUSTÓD I O , Jorge,

vavelmente para os empregados supe­

e os Trabalhadores. O Caso do Vale de Cheias,

riores (técnicos e administrativos) . Os

separata do I. o Encontro Nacional sobre o

Lisboa, 1 9 6 9 , p. 4 4 ; O Património Industrial

201

Olivais,

Lisboa, Freguesia dos

1993, pp. 2 3 , 34 e 35 ·



patrimon i a l , tanto em termos de instalações como de testemunhos tecnológicos, ten ha sido destruído, é de toda a pertinência integrar esta unidade industrial no presente estudo. A Fábrica de loiça de Sacavém, como todas as indústrias que se i nstalaram na sua envolvência, aproveitaram a lógica da proxi midade das vias de circulação, integrando-se na fixação ribeirinha verificada desde o Cais dos Soldados. Para a constituição do futuro m useu deixaram -se alguns vestígios materiais in situ, a saber: o forno número dezoito,

datado de i n ícios do século xx; parte de uma construção do século XIX, próximo da l inha férrea e o depósito de água com a denominação fabri l em azulejo. Da antiga fábrica persistem alguns produtos, como um baixo-relevo (meados dos anos 50) de Armando Mesquita, e um

Planta Aerofologramétrica 4-17/4 - 2/3. Escala 1:2000. Julho de 1977.

painel de azulejos considerado o seu

F Á B R I C A D E L G> I Ç A D E S A C AV É rll

e x - I íbris ( 1940-1950). Apesar destes materiais serem escassos face à

Localização

-

Na antiga Q uinta da

Valor Patrimonial

-

Da vasta área

Aranha, j unto à estação do caminho-de­

ocupada pela Fábrica de loiça de

-ferro de Sacavém, concelho de loures.

Sacavém, localizada entre a linha férrea

período de Actividade

do Norte e a Estrada Nacional , subsi stem

Fundadores

-

-

1856' - 1979

Manuel Joaquim Afonso.

Actividade Industrial

-

Fabrico de

a lguns vestígios destinados a integrar o futuro Museu de Cerâmica e do Trabalho,

produtos em faiança doméstica, san itária,

da responsab i l i dade da Câmara Municipal

decorativa e azulejos.

de loures. Ainda que, o vasto conj unto

I

quantidade de testemunhos deixados por cerca de cento e vinte anos de actividade, é importante que no seio de um novo projecto imobil iário s ubsista condignamente a memória económica, social e c u l t ural da antiga vila de Sacavém, através da carismática fábrica de loiça.

Sobre a data de fundação d a Fábrica de loiça de Sacavém existem informações controversas, q u e levam a apontar anos diferentes para o seu momento d e arranque. Em todos o s anúncios publicitários, n o livro de

1940, e a datação existente no antigo pórtico principal da unidade industrial, aludia-se a uma mesma data - 1850. Esta era a data assumida e divulgada pela própria 1881, respondido pelo administrador John Stott Howorth, indica o ano de 1856, como sendo o da fundação da fábrica. Um estudo recente de Ana Paula Assunção intHulad_o Fábrica de Louça de Sacavém, revela nova documentação. relacionada com a aquisição da Quinta da Aranha (1851) e com a autorização para a instalação da fábrica por um período de cinco anos, dada pelo Ministério das Obras Públ icas, em 14 de Maio de 1856. Parece-nos, assim, que a data mais verosímel para a implantação de uma fábrica de porcelanas artificiais, de cimento e de cal hidráulica, é o ano de 1856. comemoração dos cinquenta anos da fábrica, de

empresa como o marco inicial da indústria de cerâmica, em Sacavém. No entanto, o Inquérito Industrial de

2° 3


não pode ser entendida isoladamente.

Forno dezoito a integrar no futuro museu.

pertencem à Viúva Lamego, a António

Tanto em Portugal como no estrangeiro ,

Costa, das Devezas, à Cerâmica Cons­

assistiu-se a um boom de fábricas de

tância, à Lopes & c . a de Alcântara , à de

faiança. Abandonavam-se definitiva­

Sacavém, etc.

mente os processos técnicos de cozedura

A expansão da indústria de cerâmica

com origem na tradição clássica. Com a

doméstica, essencialmente faiança co­

presença dos muçulmanos na Península

mum tipo fino , insere-se no forte de­

Ibérica, muitas inovações se verificaram

senvolvimento verificado na Inglaterra.

na morfologia dos fornos e na técnica da

Algumas das cidades de referência para

vidragem. Doravante, pelo menos para o

esta indústria são Tunstall, Longton ,

território português, passavam-se a obter

Burslem, Fenton, Hanley, entre outras.

produtos marcados pelas novas influên­

Não é por isso, de estranhar, que muitas

cias técnicas, ainda que sob o domínio

das técnicas e dos modelos produzidos na

cristão. A oficina de oleiro pouco evoluiu

Europa tivessem, como base, o conheci­

até à época das manufacturas, apesar da

mento técnico inglês. Um dos modelos

FÁBRICA de Loiça de Sacavém

produção se complexificar, principal­

mais divulgados e apátridas é a loiça de

pertence a uma geração técnica im­

mente nos centros urbanos , onde se

cavalinho, produzida nos primeiros tem­

portante, que contribuiu decisivamente

começou desde o século XVI, de um

pos numa só cor.

A

para a divulgação de produtos em faiança

modo lato, uma produção em grande

D eve- se ao empresário inglês J osiah

destinados a um leque de consumidores

escala de azulejaria e de faianças (muitas

Wedgwood (tr795) a inovação do novo

muito vasto. As classes mais baixas passa­

vezes na tentativa de imitação da porce­

tipo de faianças finas, de pasta branca, em

ram a ter possibilidade de adquirir loiça

lana) . Foi, sem dúvida, a introdução da

cuja composição entrava pó de seixo ou

doméstica e mais tarde materiais de

escala industrial dentro do universo das

de quartzo. A argila branca misturada

construção, como azulejos de revesti­

olarias que rompeu com os limites

com seixo pisado e por vezes cal permitia

mento exterior e interior, mosaicos e

de produçã o , aperfeiçoando técnicas

alcançar uma pasta muito plástica. A sua

mobiliário sanitário, à semelhança das

de pastas , de vidragem, de cozedura, de

tonalidade era muito branca e opaca, a

classes mais abastadas dos séculos XVII e

decoração e da própria organização em

sua textura era dura e suportava a elevada

XVIII. A cerâmica comum, caracterizada

fábrica.

temperatura da porcelana. O vidrado

pelo barro vermelho e pelos vidrados

O século XIX assistiu a uma proliferação

tinha como base o cristal de chumbo e a

verdes e amarelos, continuou a ser pro­

da indústria cerâmica no território na-

sílica de quartzo ou de feldspato. Este

duzida pelos oleiros tradicionais. Mas

cional, especialmente nas cidades de

receituário afastava-se de uma produção

nas feiras e nas lojas do interior come­

Lisboa e Porto . Expandiu-se a produção

baseada no barro branco esmaltado ,

çaram a coexistir produtos ditos tradi­

em série da faiança esmaltada, da cerâmi­

denominada por Charles Lepierre como

cionais e os fabricados em série, trazendo

ca comum e de construção e da faiança

cerâmica esmaltada.

o progresso a quem podia deles desfrutar.

fina. Algumas das marcas que ainda hoje

A Espanha foi um dos países onde esta

Assim, o nascimento da Fábrica de Loiça

permanecem na memória e nos produ­

influência inglesa esteve muito presente .

de Sacavém, em meados de Oitocentos,

tos dispersos pelas casas ou antiquários,

A maioria das fábricas foram inclusive

2 04


instaladas por ingleses. A zona andaluza

afunilada para a saída de fumos, é

de 1856, traz consigo o know-how das

é disso exemplo . Podemo-nos reportar à

inconfundível . Também a Fábrica de

indústrias vidreiras. Pode falar-se de um

fábrica de loiça da Cartuxa, em Sevilha,

Loiça de Sacavém era caracterizada no

industrial com experiência no campo da

instalada pelo inglês Carlos Piclanam,

imaginário e na paisagem por estas

produção de vidros, devido às ligações

por ordem real de 1 8 3 9 , no antigo

"garrafas" . Vej a-se a descrição feita no

com fábricas da Marinha Grande e das

Mosteiro de Santa Maria de las Cuevas.

livro de comemoração do primeiro

Gaivotas, em Lisboa. No entanto , a ins­

Nos primeiros tempos produziram-se

centenário da empresa: Em breve che­

talação em Sacavém, trouxe alguns pro­

exclusivamente modelos ingleses.

garam homens com pás e martelos,

blemas de rentabilidade e de produções

Como se sab e , a área da fábrica da Car­

carradas de tijolo, areia, cal (. . ) foram

reduzidas (devido à ausência de conheci­

tuxa foi incorporada na Exposição de

elevando na cerca dois estranhos cor-

mentos técnicos na obtenção de produtos

Sevilha, de 1 9 9 2 . Os vestígios materiais

pos, J'edondos, afunilando para o alto,

de qualidade) . Assim, se a fundação da

conservados in situ são suficientemente

q u e vistos de longe pareciam duas

fábrica se deve a um industrial e a capitais

eloquentes para perpetuar a presença

enormes garrafas. Eram dois fornos, os

portugueses, rapidamente os directores e

dessa memória industrial. De facto , o

dois primeiros fornos, um para chaco­

os técnicos de produção passaram a ser de

.

conjunto de fornos intermitentes de

ta, um para o vidro.

origem inglesa. Através de um quadro

chacota, caracterizados por barrigas

Manuel Joaquim Monso ao instalar a

sinóptico podem verificar-se os vários

bojudas junto ao solo e por uma forma

sua Fábrica de Loiça em Sacavém, no ano

períodos administrativos :

DATA

NOME C O MERCIAL

1856-1861 1861-1893 1872 1881 1885

Fábrica de Loiça de Sacavém

PROPRIETÁRI O

ADMINISTRAD OR

Manuel Joaquim Afonso

Manuel Joaquim Monso

CAPITAL S O C IAL

John Slott Howorlh John Slott Howorlh

80 000 000 O rei D.

Fernando

ré is

II.

autoriza a comercialização da designação Real Fábrica de Loiça

1894-1902

Baronesa Howorlh de Sacavém & C. a

Viúva de John Howorth e o antigo secretário

James Gilman

James Gilman

1902-1904 1904-1917 1918- 1919

Sociedade Gilman & C. a. em Comandita

James Gilman, Alice Howorth. Baronesa Howorth

Gilman & C. a

James Gilman James Gilman

Gilman Ld a, Sociedade

Raul Gilman encontra-se na gerência

1919-1921

Gilman Gilbert, Sociedade

James Gilman e Herbert Gilbert

Herbert Gilbert substitui Raul Gilman por questões de doença

1921-1929 1929-1979 1932 1942 1960

Fábrica de Loiça de Sacavém, S.A.R.L.

James Gilman. Raul Gilruan e Herbert Gilbert

Fábrica de Loiça de Sacavém, Ld a

Raul Gilman e Herbert Gilbert Herbert Gilbert

Clive Gilberl entra nos assuntos da fábrica, já ajudava seu pai desde as anos

1962 1979

50

Leland Gilberl compra as acções e a fábrica Clive Gilbert, Evelyn Sellers (cunhada) , a fábrica de loiça, Beatrice Gilbert (viúva)

2 05

Leland Gilbert

(?)

2 000 000 2 000 000 3 000 000

de escudos contos contos


. - · "�. ·3��l�

.",

mostraram o contínuo aperfeiçoamen­

de casas para o pessoal principal. Tam­

to das suas produções .

bém, seria muito difícil albergar em

Não se pode falar de uma arquitectura

habitações operárias, construídas de base,

industrial construída de raiz , com

uma população que chegou a ser supe­

uma grandeza adequada ao desenvolvi­

rior a mil trabalhadores. Equivalia a uma

mento alcançado por esta empresa.

percentagem apreciável de população de

Como o crescimento foi gradual, as

toda a vila de Sacavém.

diversas oficinas, sectores e os múltiplos

D evido à importância económica alcan­

fornos reproduziram-se horizontal­

çada, desenvolveram-se também várias

mente ocupando uma área vastíssima .

formas de publicidade, como catálogos,

D esenvolveu-se a lógica da justapo­

exposições e anúncios artísticos. A sua

sição . A delimitar toda a área da insta­

produção era frequentemente divulgada

lação fabril construiu-se um mur o ,

em exposições de carácter nacional (Ex­

cujo principal portão s e localizava junto

posição da Cerâmica do Porto

A fábrica inicial compunha-se de dois

à Estrada Nacional. Por volta de 1 9 3 0 ,

Exposição Industrial Portuguesa

fornos à volta dos quais se desenvolveram

o espaço fabril caracterizava-se p o r ruas

1 8 9 3 , por exemplo) e internacional

as diferentes oficinas que integravam as

Interior do espaço do futuro museu, onde se localizam duas estruras de combustào jn situ.

-

1883, -

inteiras de chaminés dos seus fornos

(Exposição Universal de Paris

actividades de preparação da pasta, os

circulares; altíssimas fugas de o utros e,

1889) , obtendo variadíssimas distin­

tornos de oleiro (vinte em 1881) , as estu­

por Fim o chamado forno contín uo ou

ções, para além de dispor de três lojas de

de túnel, cujo comprimento ultrapassa

venda directa ao público , no Porto, em

fas , os enxugadores, as galgas para a pre­

-

1878 e

paração do vidrado , as áreas relacionadas

os sessenta metros (Fábrica de Loiça de

Coimbra e em Lisboa.

com os acabamentos, etc. Para o cresci­

Sacavém, Ld. a. Primeiro Centenário.

Admite-se que Manuel Joaquim Afonso

mento continuo desta indústria, muito

I850 -1950, Sacavém, 1950) .

dominasse os conhecimentos para o

contribuiu o desempenho e o entusiasmo

Herbert Gilbert ficou no imaginário

fabrico da loiça em pó de pedra (Indús­

de John Howorth, de James Gilman e de

da história da fábrica como um empresá­

tria Portuguesa, n. o 105, P.38), embora

Herbert Gilbert.

rio preocupado com as questões sociais,

já se fabricasse em Portugal desde os

Em 1 9 ° 7 , na gerência de J. Gilman, a

para além de continuar e actualizar os

inícios do século XIX, em pequena

fábrica laborava com dezassete fornos

aspectos técnicos e produtivos . A Fábrica

escala. Mas foi com John Howorth que se

circulares , seis muflas, um motor a

de Loiça de Sacavém tinha em, 1950 , um

aperfeiçou esta técnica, instalando na

vapor de 100 c/v, um motor a gás de

posto médico, uma caixa de socorros,

direcção de produção o mestre inglês, de

200 c/v e quatrocentos operários. Em

uma creche, um campo de férias (criado

nome Stoke. Esta tradição de empregar

1912 inaugura-se uma das mais impor­

em 1932) , uma cantina (r941) , um grupo

nos cargos de chefia técnicos de forma­

tantes inovações tecnológicas para a

desportivo (com o respectivo campo de

ção inglesa manteve-se no tempo de

época - o forno contínuo ou em túnel.

jogos e balneários) , uma secção cultural e

H. Gilbert, época em que os principais

Mas, nos inícios da décade de vinte

um corpo de bombeiros. No que respei­

serviços ficaram a cargo do inglês Barlow.

novos tipos de fornos , entre os quais o

ta à construção de habitação para ope­

John Howorth importou então de Ingla­

desenhado pelo Eng. Vieira da Silva,

rários a empresa limitou-se à edificação

terra os conhecimentos industriais, os

206


técnicos e as matérias-primas. Conferiu à

B I B LI O GRAFIA,

loiça de Sacavém o cunho de qualidade

H OWORTH , John Scott (depoente),

necessário para rivalizar com as suas

"Fabrica de Louça de Sacavem", in Inquérito

congéneres nacionais e internacionais.

Industrial de

188I, Inquérit o Direct o

2."

parte,

O Inquérito Industrial de 188I, identifi­

Visita às Fábricas, Lisboa, Imprensa Nacional,

ca as matérias-primas utilizadas - barro

1881, pp. 285-29 2 ; "Real Fabrica de Louça

de Leiria, barros ingleses das seguintes

em Sacavem", in

espécies - blue ballclay (barro azul), de

Nacional das Industrias Fabris,

Newtonabbot (Devonshire), chinaclay

Lisboa, lN, 1 8 8 8 , p p . 3 1 9 - 3 2 0 ; "Real Fábrica

catalogo da Exposição

vol. I ,

(barro branco), da mesma localidade,

de Louça em Sacavem", in Nê Centenaire

cormvall stone (pó de pedra), ground

de la Découverte de la Route Maritime des

Bint (pederneira), bórax, baryta, alvaia­

Indes.

de, tintas, papel de estampar, óleo de

Thomar,

Excursion industrielle de Lisboa à

Lisboa, 1899, pp. 55-56; QUEIRÓZ,

linhaça e carvão de pedra de Newcastle.

José, "Real Fábdca de Louça in Sacavém

A produção começou então a espe­

- 1850 " . in

Cerâmica Portuguesa e o u tros

cializar-se transformando a fábrica de

estudos

Sacavém numa das mais importantes

-93, 2 7 5 ; RAMOS, Accursio, 'James Reynold

(r907), Lisboa, Presença, 1987, pp. 90-

do país. Para Charles Lepierre, esta

Gilman" , in

indústria era, em 1912 , a segunda de Por­

(XXVIII), n. o 208, Lisboa, 1908, pp. 2 - 3 ;

tugal, logo a seguir à Vista Alegre ,

LEPIERRE, Charles, "Real fabrica de louça de

utilizando os mesmos processos das fá­

Sacavem", in

bricas de faiança fina de França , de Ingla­

sobre a Cerâmica Portuguesa J...foderna,

terra ou da Alemanha. Inicialmente,

Boletim de Trabalho Industrial,

produziam-se

basicamente

modelos

Perspectiva d a Real Fábrica d e Louça em 1898. IV e Cenlenaire de la D�c.ouverte de la Route Maritime des Indes. Exc.ursion induslrielle de Lisboa â Thomar.

Commercio e Industria,

Ano XIX

Estudo Chimico e Thecnologico

Lisboa,

1912,

pp. 146-149; "Fab!'ica de Loiça de Sacavem.

exportados de Inglaterra, mas gradual­

&

mente criaram-se linhas e motivos pró­

da Liberdade", in

suas novas e luxuosas instalações na Avenida Industria Portuguesa,

prios, contratando ceramistas e mais

9.° Ano, Novembro de 1929, n.·· 37-39;

tarde desenhadores de origem portugue­

Inquérito Alimentar entre o s operários de

sa. A sua produção também se diversifi­

Louça de Sacavém,

cou, ultrapassando o âmbito da loiça

Saúde, 1949 ; SALVADOR, M . , OLIVEIRA, R.

doméstica. Produtos importantes para a

e GILBERT, Leland,

afirmação da fábrica no mercado foram

Sacavém, Ld a. Primeiro Centenário.

os múltiplos padrões de azulejos (de larga

1850-1950, Sacavém, 1950, Fábrica de Loiça

difusão no país, nas estações de caminho­

de Sacavém, Ld. a ,

Lisboa, Direcção- Geral de

Fábrica de Loiça de

Tabela de Faianças

s. l . , 1951; ASSUN ÇÃO ,

-de-ferro e nos mercados municipais) ,

Decorativas,

os JUosai<:os , as �oiças sanitárias e as peças

Ana Paula,

decorativas.

Lisboa, Edições Inapa, 1997.

Fábrica de Louça d e Sacavém,

207

Oficinas de oleiro.

1929.

in Industria Portugue!a. n. o 18.



Local ização

-

Margem d i r e i ta

do r i o Tran c ã o , em Sacavé m , c o n c e l h o de L o u r e s .

período de Actividade

-

1884- 1979

( d e p o i s , de)

Fundadores

-

I r m ã o s Mora i s .

Actividade Industrial

-

Moagem d e

c e r e a i s e descas q u e de arroz.

Valor Patrimonial

-

É um forte

teste m u n h o da a r q u i tectura i nd u s t r i a l de f i n a i s de O i to c e n t o s . Trata - s e de um e d i f í c i o construído d e r a i z para receber u m a i n d ú s t r i a de m o a g e m . A sua fachada i n i c i a l de três p i s o s , caract e r i z a - s e p o r s i m et r i a e raci ona l i da d e . O e d i f í c i o in d u s t r i a l é const i t u ído por três c o r p o s , s e n d o o central de m a i o r d i m en s ã o e o q u e dá acesso ao i n t e r i o r da fábri c a . A t e n d e r a i n da ao r i t m o d a fen estração e dos portões de gran des d im e n s õ e s ,

Planta Aerofotogramétrica 417/4 - 2/3. Escala I:2000_ ]ulho de 1977·

F Á B R I C A D E 1'l1 0 A G E I'l1 D E 0 0 1'l1 1 n G 0 S 1 0 S É O E 1'l1 0 R A I S &- I R l'l1 Ã 0

em arco de v o l t a perfeita e ao remate s u p e r i or em b a l a ustrada reve l a n do s i m et r i a . Apesar de t e r s o f ri d o r e m o d e l ações n a s u a f a c h a d a , o m ó d u l o m o dern i s t a dos anos 5 0 , c o n s t r u í d o j unto às g i gantescas c h a m i n é s , integra-se n a v o l u metria p r i m i t iva n ã o desv a l o r i za n d o o i móve l .

Estado d e conservação

-

Começa a

reve l a r s i n a i s de d e gradação .

Classificação

-

S e m c l as s i fi ca ç ã o .

P r o p o r c l as s i f i cação c o m o I m ó v e l de I nteresse Púb l i c o .

2°9


Na sua instalação utilizaram - s e o s

Pormenar da fachada modernista.

semelhante de farinha, mas de dife­

mecanismos mais modernos para a

rentes características, verificando-se,

épo ca , estando os seus empresários

por vezes , um volume de produção

atentos aos avanços tecnológicos e

superior na moagem de mós de pedra .

a ctualizando - a face às conj u nturas

Sobre o descasque de arroz não persis­

industriais. Em 1898 , os maquinismos

tem muitas informações . Em Sacavém

moíam 1 5 0 000 kg de trigo por dia e

o sistema utilizado era o americano ,

descascavam 2 0 0 0 0 kg de arroz.

que aliás se universalizou durante o

Nesta unidade existiam dois tipos ou

século XIX.

sistemas de moagem. O primeiro a ser

A força motriz posta em actividade, de

instalado foi a moagem francesa , com

modo a mover todas as máquinas ope­

os respectivos maquinismos de penei­

radoras da moagem e do descasque,

ração e limpeza. Seguidament e , os em­

instaladas nos três pisos da fábrica ,

presários adquiriram o sistema austro­

tinha de ser considerável. Entre os

-húngaro , também com os aparelhos

equipamentos iniciais (1898) constam

correspondentes . Este último sistema

dois motores franceses , do sistema

revolucionou a moagem em toda a

Farcot, com potência total de 500 c/v;

das indústrias que mais se

Europa, chegando a Portugal nos fi­

três caldeiras, uma nacional e duas

desenvolveu no nosso país, em

nais do século XIX (ver, neste Guia

construídas por Perez e Dumora; dois

finais do século passado , fo i a de

A Nacional e a Manutenção Militar) .

dínamos eléctricos , belga s , para o

moagem, passando a abastecer os cen­

A moagem passava a ser executada por

fornecimento de luz eléctrica às insta­

tros urbanos , ao mesmo tempo que

meio de cilindros metálicos estriados,

lações fabris, com uma capacidade de

agonizavam os moinhos tradicionais,

permitindo a obtenção de uma farinha

alimentação de cerca de quinhentas

alimentados a energia hidráulica ou

muito mais alva e fina , considerada de

lâmpadas.

eólica .

grande interesse para a panificação .

No período em que a fábrica passou a

MA

A fábrica d e D omingos José & Irmão,

Não é de admirar que durante muitos

integrar o império da Companhia

fundada em 1884, foi uma das uni­

ano s , a noção de um bom pão fosse

Industrial de Portugal e Colónias (anos

dades

mais

equivalente ao de aspecto muito bran­

20) , houve actualização , mais uma vez,

significativas da industrialização da

co e limpo de farelos . A industrializa­

dos seus maquinismo s . Assim, cerca de

industriais

mo ageiras

zona de Lisboa e de Sacavém. A área

ção conferiu esta noção de qualidade a

1 9 3 0 , tinha uma central termoeléctri­

o cupada pelo edifício de três anda­

um alimento , com uma aparência mais

ca a vapor, para a produção de energia

res era de 2400 m', empregando em

grosseira e escura, caso se obtivesse

eléctrica . Em termos de moage m ,

1 8 9 8 , duzentos e cinquenta operários.

através do método tradicional, mesmo

sabemos que n a fase de peneiração

A l ocalização desta unidade fabril era

se a farinha utilizada fosse o trigo .

utilizavam o sistema de plansichters

excelent e , pois beneficiava de duas

O inquérito realizado às indústrias

(palavra alemã que significa peneiro

acessibilidades - o rio e o caminho­

moageiras em 1 8 9 0 , refere que os dois

plano) , podendo -se conjugar, como

-de-ferro .

sistemas produziam uma quantidade

era hábit o , com a utilização de sassores.

210


Moagem em 1898. Foto Marinho. Nê Centenain de la Décou�'erte de la Route A/aritime des Inde.s. Excursion industrid}e de Lisboa à Thomar, p. 58. \;

Para além, dos diversos sistemas em­

D a sua história subsequente p ouco se

pregues e dos vários sectores da pro­

sabe com rigor. E m 1 9 7 9 , a empresa

duçã o , a fábrica tinha ainda vastíssimos

exploradora do edifício designava-se

celeiros e armazéns.

por S O VEM. Recentemente serviu

Em 1 9 0 4 fo i redimensionada pela

para fins sociais.

Moagem, cerca dos anos 3 0 . Arquivo d a Nacional.

Sociedade Domingos José de Moraes & Companhia, sucessora da D omingos José de Moraes & Irmão . Produzia

B I B LI O GRAFIA,

farinha em rama, farinha especial para

MAGALHÃES, João de Sousa Calvet de,

exportaçã o , farinhas das marcas I, 2 e

"Fábrica de D omingos José de Moraes &

3 , farinha sem marca, cabecinh a ,

Irmão" I in

sêmeas superfina, fina e grossa, arroz

ordenada por portaria do m inistério da

Inquérito às Fábricas de Moagem.

em casca e descascad o , casca de arroz e

fazenda de

sêmea de arroz fina e grossa. Mantinha

Lisboa, lN, 1890, pp. 5 - 6 ; "Fábrica de

20

de fevereiro de

1890,

os negócios agríco l a - c omerciais de

DomingosJosé de Moraes & Irmão " .

legumes e de sal de Alhos Vedros. Os

in

seus produtos receberam medalhas em

Lisboa, l N , 1891. p p . 3 � 6 - 3 � 7 ;

algumas das exposições o nde partici­

UUsine à vapeur pour l a mouture d u blé et

param, como em 1 8 8 8 , na Exposição

l ' écorçage du riz de D omingos José de Moraes

Nacional de Lisbo a e em 1 8 8 9 , na

& Irmão" I in IVê Centenaire de la Découverte

Inquérito Industrial d e

1890, vol . III.

Exposição Universal de Paris.

de la Route Maritime des Indes .

Durante a administração da Portugal

industrielle de Lisboa à Thomar,

e Colónias a sua actividade relacio­

1898, pp. 5 7 - 5 9 ·

na-se com as fábricas de todo o grupo ,

Central termoeléctrica a vapor. Cerca dos anos 30. Arquivo da Nacional.

Excursion

Lisboa,

Sala dos plansichters. Cerca dos anos 30. Arquivo da Nacional.

sendo vendida pela empresa em 1939.

2II



Localização

-

Fron t e i ra ao r i o Trancão,

con c e l h o de Sacavém

período de Activi dade Fundadores

-

-

1929

-

(..,)

Fi rma R e i s C. J . Lopes, Lda.

Act ividade I ndustri a l

-

Produção de

far i n has para a l i m entação do g a d o , ó l eos de p e i x e e a d u b o s orgâ n i c o s .

Valor Patrimonial

-

O conj unto

e d i ficado f o i p o s t e r i o r m e n t e des i n t egrado e absorv i d o por o u t r a s u n i dades i n d ustri a i s q u e m a i s tarde s e l o ca l i z aram n a s i m ed i aç õ e s da fábrica d e a d u b o s .

Planta Aerofotogramétrica 417/4 - �/3. Escala I:�OOO. Julho de 1977.

F Á B R I C A D E A D U B 0 S E I11 S A C AV É I11

2 13


c

O NSTRUÍDA com frente para o

uma larga R ua de acesso. Os edifícios

B I BLIOGRAFIA:

rio , a nova fábrica de adubos

01'-

tinham uma cobertura elevada e uma

"Uma nova Fábrica de Adubos em Sacavém",

gânicos vai ocupar cerca de 3000 m',

grande cubagem de ar. A iluminação

in

beneficiando desta importante via de

era feita por grandes panos envidra ­

Industrial Portuguesa. 2 . o Ano, n. 0 15,

circulaçã o . No rio Trancã o , os pro­

çados existen tes nas paredes e por

Maio de 1 9 2 9 . pp. 2 3 - 2 9 .

prietários constroem um cais , fun­

clarabóias de grandes superfícies. A par

cionando simultaneamente como um

das oficinas ergueram- se os armazéns e

eixo de chegada das matérias-primas e

os escritórios. Para além deste con­

de escoamento dos produtos, apesar da

junto funcional, construiu - s e uma

proximidade com a linha férrea do

outra área os serviço s , de apoio social,

Norte. O rio era também essencial

o nde se instalaram a cozinha, o refei­

para a actividade produtiva e para o

tório , os sanitários e um pequeno

esgoto dos resíduos, constituindo um

dormitório . Garantiram assim, ini­

dos elementos impo rtantes para o

cialmente, algumas regalias aos vinte

processo de produção .

operários que constituíram o primeiro

Apesar desta relação ambivalente e de

grupo laboral, estando previsto um

dependência com o Trancão , esta fá­

alargamento para sessenta trabalha­

brica será inovadora pelo tipo de pro­

dores (192 9 ) .

duto disponibilizado para o mercado .

A fábrica d e adubos orgânicos d e Sa­

Numa época em que os adubos eram

cavém dispunha de secções de moagem,

fabricados cada vez mais com base em

ensacamento e doseamento . Po dem re­

fosfatos e nitrato s , estes industriais

ferir-se algumas das máquinas que inte­

apostam na produção de adubos orgâ­

gravam as referidas secções : moinho

nicos , constituídos essencialmente por

desintegrado r, alimentado por uma nora

resíduos secos de peixe. Quase se pode

de alcatruzes ; aparelho de enchimento

falar de um produto antecipadamente

dos sacos; moinho de galgas de carrega­

biológico , retomando uma tradição

mento e descarga intermitentes, etc.

fabril manufactureira . Este proj ecto

Os dois j ogos de moagem existentes

fica a dever-se aos sócios e empresários

na fábrica moviam-se através de um

fundadores, Viúva Reis Lda . , Artur

motor eléctrico individualizado . Toda

Francisco Reis e J . Lopes Rocha.

a força motriz consumida provinha das

A traça dos edifícios é da autoria do

Companhias Reunidas de Gás e Elec­

arquitecto Joaquim Moreira de Lemos.

tricidade. Recebia-se a corrente em

Esta unidade industrial compunha-se

alta tensão

de q u a tro corpos paralelos, justa ­

mada numa cabine em corrente trifási-

postos em dois grupos separados por

ca para IIolr9 0 volts .

-

1 0 000 volts -, transfor­

Indústria Portuguesa,

Revista da Associação


Perspectiva de uma das oficinas, in IndĂşstria Portuguesa,

2.o

ano,

n. o

15, 1929. p. 28.

215


F

o

N

T

E

S

/

I

B

B

L

O

R

G

A

F

G

A

R

E

FONTES MANUSCRITAS

FONTES FOTOGRÁFICAS

Arquivo do Ministério de Obras Públicas

Arquivo de Arte da Fundação Caloute Gulbenkian

Junta do Comércio

Mário Novais

Ministério do Reino

- Fábrica de Borracha Luso- Belga (caixas n . O' - Fábrica de Loiça de Sacavém (caixa n. °

- Fábrica de Material de Guerra (caixas n . O'

Pombalina. Inquéritos.

- Fábrica de Santa Clara (caixas n . os

1 3 � 5 ; 1430) ;

II50; II78; �799) ;

1 0 8 ; 6661) ;

- Fábrica Nacional de Sabões (caixas n . os

� 0 5 5 ; �149; �150)

Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa

Câmara Municipal de Lisboa

Acervo Fotográfico de "A Nacional"

1 9 7�-73 - 3 vols.

Acervo Fotográfico da Manutenção Militar

EXP O ' 9 8 D . R. FONTES CARTO GRÁFICAS Lisboa artística e industrial. Luxuoso album de photographias Arquivo do Alto da Eira. CML

com um resumo historico da cidade, Lisboa, Typographia da

- Processo de obras n. o

� 850 (A Nacional)

Empresa d e Historia de Portugal,

- Processo de obras n. o

3339 (Vila Pereira)

- Processo de obras n. o

8517 (Fábrica de Fósforos)

- Processo de obras n. o

8518, 4 volumes (Fábrica de Borracha

- Processo de obras n. o

�6 096 (Fábrica de Tabacos Almanach Commercial de Lisboa para o ano de

Lisbonense) - Processo de obras n. o

�6 671, 13 volumes (Sociedade

1 . o Ano, Lisboa, 1880

�8 471 (Fábrica de Estamparia

6. o Ano , Lisboa, 1885

Almanach Commercial de Lisboa para o ano de

Nacional de Sabões) - Processo de obras n. o Alves Gouveia) - Processo de obras n. o

�9 �49 (Fábrica da Companhia

Portuguesa de Tabacos - Convento de S. Francisco) - Processo de obras n. o

Almanach Palhares, Lisboa,

1900

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1881,

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1986

I

Toda a bibliografia apresentada obedece a u m critério cronológico. Cada unidade industrial tem referência bibliográfica individualizada.

217

1977-78


A

G

R

A

D

E

c

M

E

N

T

o

S

Os autores querem deixar registado os agradecimentos a todas as pessoas e instituições que de alguma forma contribuíram para a concretização desta obra.

Instituições/Pesso a s :

Ab e l Pereira da Fonseca (família d e Abe l Pereira da Fonseca; S r . Júlio , empregado da APF) Associação Industrial Portuguesa Arquivo d e Arte da Fundação Calouste Gulb enkian ( D r . Manuel da Costa Cabral e Dra. Rosário Ricardo) Arquivo de Obras da Câmara Municipal d e Lisboa (Dr . Vasco Brito) Câmara Municipal d e Lisboa (Arq. Elias Rodrigues) Guarda Nacional Republicana (coronel Jorge Manarte) I N D E P , S .A . (Eng. Francisco Baião e S r . Almeida) Instituto Português d e Património Arquit e ctónico - I P PAR (Dr. Luís Calado) Manutenção Militar (general Jaime Neve s ; tenen t e - coro n e l Ávila ; D r a . Ana Maria Rebelo) Museu dos Barbadinhos (Dr. Raul Vital, EPAL) A Nacional ( D r a . Ana Correia)

e ainda a

D r . Elísio Summavielle D r . Manuel Veiga Arq . a Maria d e Fátima Jorge



C,llM INHO D O O�iENTE

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Li s boagás

G,upo I GOP

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