CA.MÍNko GUIA
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00 PATRI1l10nl0 InDUSTRIAL
CA.MiNHO DO ORiENTE GUIA 00 PATRI1l'10nl0 inDUSTRIAL TEXTOS DE DE0LlnOA FOLGAOO
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10RGE CUST6DIO
GUIAS 00 CAIl'11nH0 00 0RIEnTE C00RDEnAçÃ0 GERAL
R.,!;visÃo
José Sarmento de Matos
Fernando Milheiro PAGinAçÃO ELECTR0n1CA
GUIA HIST0RIC0 (2 volumes)
José Sarmento de Matos Jorge Ferreira Paulo
Fernanda Quendera
© DESTA EDIÇÃ0 Livros Horizonte, 1999 SELECÇÕES DE COR...
GUIA DO AlVLEjO
Luísa Arruda GUIA DO PAtlti.tnónio inDvstlti.AL
Deolinda Folgado Jorge Custódio
Policor ItnPR.,!;SSÃO
Printer ISBn 972-24-I056-3 DEPósito LEGAL
GUIA DO 0Li'lAR...
1312IO/99
Ricardo Martins Diane Gazeau Paulo Pascoal Dulce Fernandes
Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian
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c�Ditos FOtOG�Ficos
Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa
LEvAntAtnEnto FOtOGRBFiCO
António Sacchetti DiR.,!;cçÃo GRBFiCA
José Teófilo Duarte
Irene Buarque Maria de Fátima Jorge Rui Rasquilho
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partir do desenvolvimento manufactureiro do período pombalino, a Zona Oriental vai conhecer uma mutação no seu tecido urbano, económico e social. Essa viragem estrutural transformar-se-á em verdadeira revolução depois da implantação do caminho-de-ferro, seguido em breve pelo reordenamento das insta lações portuárias, criando as condições para que esta zona se transformasse no principal centro industrial de Lisboa, caracterizado sobretudo pelas grandes unidades de indústria pesada, como é o caso de refinarias e outros equipamentos. Assim, sobre um tecido rural composto essencialmente por conventos e quintas de recreio de vários estratos das classes dominantes do Antigo Regime, que a revolução liberal tinha esvaziado de gente e de sentido, instala-se uma nova realidade urbana, feita de fábricas, armazéns de comércio por grosso e pequenas empresas ligadas às actividades portuárias, a que naturalmente se juntaram os equipamentos para habitação - vilas e pátios - necessários para albergar uma mão-de-obra em constante crescimento. Essa nova realidade dominante nesta área de Lisboa merece uma atenção muito especial, já que o património se deve enten der na sua dimensão mais vasta, como retrato vivo de uma história real que se foi fazendo de rupturas e sobreposições, talvez nem sempre muito respeitadoras, mas reveladoras das preocupações dominantes em cada momento concreto. O património industrial é parte integrante de Lisboa, tanto como os testemunhos de qualquer outra época, pelo que merece um tratamen to idêntico, reforçado ainda pela facilidade com que por hábito se sacrifica o mais recente em prol de uma errada política de valorização exclusiva do mais antigo. Quintas e conventos, armazéns e fábricas são parte integrante de um universo coerente que Lisboa deve cultivar através de uma política dinâmica de preservação e reutilização criativa de espaços e edifícios. Esta consciência do relevo na Zona Oriental do património industrial, detentor de critérios específicos de abordagem glo bal, levou os responsáveis pelo Caminho do Oriente a autonomizar o seu tratamento no âmbito do projecto de investigação histórica da Zona Oriental. Jorge Custódio e Deolinda Folgado, cujos créditos no estudo deste património são por demais conhecidos, desenvolvendo de há muito um pioneirismo teimoso a quem a historiografia portuguesa tanto deve, impuse ram-se como a escolha natural para prosseguir e dar corpo a esse propósito do Caminho do Oriente, garantindo as condições técnicas e científicas de uma leitura segura e completa de um conjunto que urge conhecer. Estamos certos, assim, que este Guia do Património Industrial constituirá um marco importante no conhecimento aprofundado da evolução histórica da cidade de Lisboa no seu conjunto, abrindo caminho a novas metas que se impõem prosseguir. Esperamos, também, que ele possa ser um importante contributo para se dar corpo à proposta feita pelos autores da constituição em Lisboa de um museu vivo onde se trace o percurso da evolução industrial e sejam devidamente acauteladas as importantes peças dispersas de um património que se encontram, quantas vezes, em risco de desaparecer. Para isso, na Zona Oriental não faltam instalações abandonadas à espera de melhor sorte. Se este esforço de estudo e conhecimento constituir um contributo para a definitiva salvaguarda de uma parte essencial da memória contemporânea, tornando-a não um peso mas um elemento galvanizador no processo de auto-reconhecimento colectivo, o Caminho do Oriente julga ter dado o seu contributo para devolver à cidade uma parte substancial de si própria e da sua história. Lisbo a , Selem ro de 1998 José Sarmento de Matos
cAminl=to DO O�EntE:
FÁBRICA DE FIAÇÃ0 E TECID0S 0RIEnTAl
vmA lEitvR.f\ inDvst�Al DO tE,,-�tó�O . ..
9
I. LISB0A - UIl'1A .
InDUSTRIAL?
IllAnUTEnçÃ0 IllILlTAR .
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- nATU RElA E LIIl'1ITES
CEnTRAL ELEVAT0RIA A VAP0R DA PRAIA
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FÁBRICA DE P0lV0RA DE CHELAS VIlA FLAIllIAn0
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I B0nEnSE
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FÁBRICA DE TABAC0S DE XABREGAS
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C01llPAnHIA P0RTUGUESA DE F0SF0R0S .
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FÁBRICA DE C0RTIÇA DA QU inTA DA IllITRA .
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S0CIEDADE C01llERCIAl ABEL PEREIRA •
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FÁBRICA DE IllATERIAl DE GUERRA DE BRAÇ0 DE PRATA
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A TABAQUEIRA
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GÁS DA IllATInHA/PETR0QU íllllCA T0RRE DE DESTIlAÇÃ0 DA SAC0R
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BAIRR0 0PERÁRI0
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DE D01lllnG0S 10SÉ-"DE rtr0RAIs-Q IRIllÃ0
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FÁBRICA DE ADUB0S EIll SACAvÉIll .
.. 2°3
FÁBRICA DE 1ll0AGEIll
FÁBRICA DA C01llPAnHIA DE FIAÇÃ0 E TECI 00S
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FÁBRICA DE l01ÇA DE SACAvÉIll
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10sÉ D01lllnG0S BARREIR0 Er C�, lOA
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FÁBRICA DE B0RRACHA lUS0-BELGA
VIlA DIAS
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DE FRAnCISC0 ALVES G0UVEIA
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(VVlCO FÁB�CA DA SAmA�tAnA) . . . . . . . . . . .
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FÁBRICA DE FIAÇÃ0 E TECID0S DE XABREGAS
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VIlA PEREIRA .
FÁBRICA DE IllAlHAS DE InÁCI0 DE IllAGAlHÃES BAST0S Er C�
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S0CI EDADE nACI0nAl DE F0SF0R0S
ASIl0 D. Ill ARIA PIA E ESC0lA InDUSTRIAL AF0nS0 001lllnGUES
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DA F0nSECA, S.A.R.l .
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S0CIEDADE nACI0nAl DE SABÕES
ESTAÇÃ0 ELEVAT0RIA D0S BARBADlnH0S I E II
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FÁBRICA DA C01llPAnHIA llSB0nEnSE .
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DE TRAnSF0RIllAÇÃ0 DE CEREAIS, S. A
ESTAÇÃ0 DE CAIllInH0 DE FERR0 DE SAnTA AP0l0nlA
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13
FunOlçÃ0 E FÁBRICA D E ARIllAS .
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HA nAC10nAl" - C01llPAnHIA InDUSTRIAL
.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
00 ARSEnAL 00 EXÉRCIT0
.
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9
II. A InDUSTRIALIlAÇÃ0 DA LISB0A 0RIEnTAL
DE TABAC0S
(VVlCO, FÁB�CA DAS VAR.f\nOAS)
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2 13
CIDADE SEIl'1
Ao nossofilllO Vasco António, pelas horas que esperou...
C A I'h l n H 0 D 0 0 R I E n T E! U I'h A l E I T U RA I n D U S T R I A L D 0 T E R R I T 0 R I 0
I.
llSB0A - UIl1A CIDADE SEIl1
I. o
PATRI1l10nl0 InDUSTRIAL?
património industrial de Lisboa O riental encontrava-se numa situação de abandono e ruína, por altura do início das obras
da EXPO '98. As mutações urbanas ocorridas nos últimos dois anos, iniciaram um processo de transformação de toda a área orien tal da capital, desde as Alfândegas até ao rio Trancão . Essa metamorfose não vai estancar depois do encerramento da Exposição Mundial, prevendo-se uma completa alteração da organização do território , tal como aconteceu em 1940, quando se realizou a Exposição do Mundo Português, na zona industrial de Belém-Pedrouços. Toda essa série de fenómenos terá como consequên cia imediata o fim da vivência industrial dos últimos dois séculos, daquela que era uma das zonas mais industrializadas de Lisboa. A área oriental da cidade experimentou uma vocação industrial, cujas marcas ficaram traçadas na paisagem, desde a época da expan são . Oficinas, manufacturas, fábricas, chaminés, fornos, grandes conjuntos industriais, bairros operários, trabalho, greves , ideologias d a emancipação foram o leitmotiv de espaços urbanos e rurais, acumulando-se gradativamente no tecido periurbano . Os núcleos habitacionais preexistentes cresceram com a migração de gentes à procura de empregos no sector secundário . A insta lação de fábricas modernas decorrera desde os meados do século XIX e fora um processo crescente, pelo menos até aos anos 70 de Novecentos . O fenómeno da implantação industrial resultara de condições bem específicas, comuns à localização da cidade de Lisboa e outras, não menos importante s , próprias desse largo espaço aberto de povoamento disperso . Nas quintas de toda essa vasta área ergueram-se as primeiras fábricas, seguindo lógicas ligadas às acessibilidades e às transacções comerciais das matérias-primas. Essa ocupação de espaços com indústrias, vilas operárias e serviços correspondentes realizou-se por fases, mais dependentes de conjunturas e interesses, do que de uma evolução planificada. Ao longo de dois séculos, entre a fundação das importantes manufacturas pós-pombalinas dos tabacos, do açúcar e do sabão e a " revolução " da EXPO '98, somente se conhece um momento de planificação de características industriais - a decisão governamental de instalação fabril e desenvolvi mento do "parque industrial dos Olivais" . Duas consequências fundamentais resultaram do D ecreto-Lei de 19 de Outubro de 1942, que criara a Zona Industrial do Porto de Lisboa. Uma decisão desta envergadura, em pleno Estado Novo , quando na Europa corria uma bárbara Segunda Guerra Mundial, marcava um destino para a Zona Oriental de Lisboa. O decreto enquadra-se nas remodelações urbanísticas dos anos 40, nomeada mente no Plano de Urbanização de Lisboa de 1938-1948 de E. D e Groer. Solucionavam-se vários problemas relacionados com a requalificação da Zona Ocidental da cidade, de Alcântara até Pedrouços, exigências da sociedade burguesa do lazer. Também a ocidente se expandiram centenas de fábricas, ao longo do rio Tejo , a partir de pequenos núcleos urbanos, de cais acostáveis , de centros fabris primitivos . Com a escolha do Mosteiro dos]erónimos e-da Torre de Belém como expressão da "alma portuguesa " , acudia-se a um desafronto e resolvia-se uma polémica com décadas de discussões.
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Libertar toda essa área das fábricas e das indústrias, edificadas pelo tempo, era um dever de Portugal, numa hora de "identificação pátria". O móbil criou sinergias, transferindo-se para a Zona Oriental da cidade, a fábrica de gás de Belém, os depósitos de gasolina, algu mas fábricas poluentes, armazéns , umas tantas indústrias a precisar de espaço. Belém passou a ser entendida como uma zona de qualidade, para fruição de pú blicos diversificados, valorizada pelo seu património classificado e pelas grandes construções públicas que resultaram da Exposição do Mundo Português. Aproveitou-se a nova vocação da cidade Avenida Infante D. Henrique.
Peupectiva
oriental para instalar na Zona Industrial actual.
de Cabo Ruivo , entre Braço de Prata e
Moscavide, diversos empreendimentos, corno a Fábrica de Gás da Matinha, o Matadouro de Lisboa, a Moagem Lisbonense, a nova fábrica de material de guerra de Moscavide, os Depósitos de Beirolas, já perto de Sacavém. Uma segunda consequência, consistiu na organização modelar de uma espécie de Parque Industrial, nos Olivais , a partir de um conceito pouco habitual, entre nós, de urbanização fabril. Procedeu-se à implantação de fábricas e grandes unidades industriais ao longo de dois eixos viários estruturadores - a Avenida Marechal Gomes da C osta e a Avenida Infante D . Henrique. Nesses eixos implantaram-se entre outras a SACOR, a Petroquímica, a Tabaqueira de Cabo Ruivo , o Consórcio Laneiro , a Fábrica Barros, a UTIC , a Plessey Automática Portuguesa, a Diamang, entre outras. Várias empresas buscavam nesse território agrícola condenad o , espaços para construir novas fábricas, seguindo os padrões da arquitectura e da engenharia da época. O surto indus trializador dava novo sentido a um gradual envelhecimento pré-industrial dos Olivais , preenchendo espaços vazios rurais e quin tas. C onsolidava, por outro lado , a mancha industrial na Zona Oriental, alargando a densificação que Braço de Prata já atingia nos anos anteriores. Mas, se entre Braço de Prata e Sacavém o fenómeno da industrialização era recente e as indústrias novas, o mesmo não se passava entre Santa Apolónia e Braço de Prata. A partir da década de setenta muitas indústrias da Zona Oriental de Lisboa davam mostras de envelhecimento e acabaram por soçobrar perante o impacto económico e social do 25 de Abril. O mesmo fenómeno ocorreu nas indústrias dos Olivais , apesar da sua modernidade . 2.
O ra, o processo d e desindustrialização da Zona Oriental d a cidade , não foi acompanhado d e medidas d e conservação e salva
guarda de edifícios e de espólios, nem da sua recuperação e reconversão, evitando assim o desaparecimento da imagem industrial de Lisboa, tão importante numa concepção cultural da urbe, tal como o são os palácios, as igrejas, os conventos ou as quintas e alguns elementos do mobiliário urbano e rural.
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Esta situação foi igualmente vivida por outros bairros industriais da capital (Boavista, Belém, Alcântara, Campo Grande o u a Junqueira) , determinando uma transformação sem as contrapar tidas culturais que um planeamento coerente exigiria. Note-se que o Plano Director Municipal de Lisboa não contemplou importantes aspectos do património industrial da cidade, num contexto de política de prevenção da sua identidade, nem viabilizou vertentes in dispensáveis para a manutenção de uma memória técnica à altura das suas responsabilidades culturais, excepção feita à vertente dos bairros operários, onde se atendeu aos estudos de arquitectos portugueses que com a cidade trabalham.
Zona Industrial de Cabo Ruivo. Autor desconhecido (I950), in Lisboa Ribeirúlh,1,
1994.
foto
l.
A ausência de medidas cautelares em relação a todo o património industrial da cidade envolve, para além da negação da componente paisagística, a ocultação dos valores arquitectónicos e técnicos, que esse mesmo património pressupõe e transmite em termos de criatividade e de futuro. Os efeitos desta postura, na qual têm colaborado os responsáveis pela urbe, sejam políticos ou técni cos, urbanistas ou cidadãos , gera efeitos perversos na própria transmissão da identidade, fazendo a separação entre um passado (com valor cultural equivalente ao património arqueológico e ao edificado anterior à industrialização oitocentista) e um presente sem patrimónios de valor espiritual. Esta dicotomia é acompanhada pela desvalorização das realidades fabris , industriais e técni cas , algo estranhas à cultura , e sua negação por razões económicas, sociais ou ambientais. O alheamento público face ao património industrial e à sua valorização moderna, segundo critérios europeus e determinados pelo Conselho da Europa, faz com que Portugal seja o país onde os imóveis industriais são menos contemplados com medidas caute lares de protecção . Este alheamento tem motivações na mentalidade da população , no obscurantismo das instituições e nas condições económicas do país, onde os próprios empresários , só com raras excepções, se envolveram em acções de preservação e salvaguarda da sua identidade industrial. Em Lisboa, por exemplo , fogem à regra do anonimato a Central Tejo , a Estação Elevatória dos Barbadinhos (só homologada) e os edifícios da Escola Industrial Fonseca e B enevides (antiga Marquês de Pombal) . Outros bens foram acautelados pela Câmara Municipal, como o que resta da Fábrica das Gaivotas ou a Cordoaria Nacional. Algumas empresas souberam musealizar os seus edifícios fabris, como a EDP (Central Tejo) e a EPAL (Barbadinhos) e outras têm salvaguardado parcialmente o seu espólio , porque ainda laboram (como por exemplo a Fábrica de Sant 'Ana, os Armazéns Frigoríficos de Lisboa, a Portugal e Colónias, a Manutenção Militar) ou porque atendem a motivações familiares ou outras. A criação de-urn Museu da Indústria e da Técnica, Tojecto de enOTme significado, numa das mais importantes cidades maquinofactureiras do país, é omissão inadmissível que contribui quotidianamente
II
para a ocultação da história e da identidade industrial de Lisboa, com a qual todos os poderes têm compactuado . O património industrial da Zona Oriental da cidade mante ve-se, no entanto, fora de uma pressão económico -social tão vincada, pela sua localização numa área secundarizada face a outros espaços citadinos. As transformações urbanísticas dos Olivais e do Vale de Chelas, vieram contribuir para o despertar dos interesses imobiliários neste território da cidade . A escolha da Zona Oriental para a localização do parque da Exposição Mundial - Os Oceanos, Um Património para o Futuro e os seus efeitos no crescimento e transformação , deter
minaram que o património industrial ainda existente, aban donado à sua sorte, sej a objecto de desaparecimento , situação comum em países pouco desenvolvidos.
Moagem deJoão de Brito, Lda. Beato. Importância da Arquitectura Industrial.
Atendendo aos parâmetros de actuação do projecto Caminho do Oriente torna-se admissível minimizar estes factos, desde
que a acção sej a entendida numa perspectiva múltipla, onde conhecimento , valorização, recuperação e refuncionalização possam intervir de forma concertada a curto, médio e longo prazo . Assim, julgamos poder contribuir para o reconheci mento e salvaguarda dos valores industriais da cidade oriental, através de uma identificação da sua história industrial e dos seus edifícios notáveis', da caracterização do valor patrimonial, artístico -arquitectónico e técnico das unidades sobreviventes. Reconhece-se ser um objectivo possível - com o contributo de muitos (descendentes de empresários e trabalhadores, técnicos, historiadores, responsáveis pelo Património) - salvaguardar o espólio móvel ainda existente nos bairros industriais de Lisboa A Nacional. Uma obra
de arquitecto ao serviço da indústria.
Oriental e seu possível armazenamento em condições de segu
rança, de modo a viabilizar a sua musealização num edifício fabril a proteger, transformando-o no Museu do Património Industrial , onde a memória da industrialização da capital e das suas realizações materiais possa ser mantida e observada pelas gerações futuras. Se nenhuma destas iniciativas se concretizar, poderá acontecer, no próximo século , que a leitura do território de Lisboa seja viciada, encontrando-se omissa uma das fases mais importantes da sua história, a que desencadeou uma transformação sem parale lo, só comparável com a da sua fundação na Antiguidade.
I Ver a análise individuliazada das indústrias.
12
II. A InDUSTRIALIZAÇA0 DA LISB0A 0RIEnTAL - nATUREZA E L1rl'1ITES
r.
A LONGA TRANSFORMAÇÃO
DA LISBOA RIBEIRINHA, ENTRE
O TERREIRO DO PAÇO E O RIO TRANCÃo o
estudo integrado da cartografia, da iconografia e fotografia da
cidade, que nos últimos anos tem mostrado franco progresso , permite compreender os fenómenos modernos e contemporâ neos da Lisboa ribeirinha, correspondente à Zona Oriental. Do ponto de vista espacial reconhece-se uma grande homogenei dade geomorfológica entre o Terreiro do Paço e o rio Trancão, indispensável ao entendimento da evolução industrial da cidade, entre os meados do século XIX e a construção do Parque
Cais das fragatas da Abel Pereira da Fonseca. Anos 50. Acervo da Abel Pereira da Fonseca,
SARL.
da EXPO . Essa homogeneidade pode detectar-se na cartografia e sobretudo na fotografia aérea de toda a região. Em segundo lugar, a compreensão da expansão industrial deste espaço deve fazer-se a partir da descrição de uma realidade hoje desa parecida: a primitiva orla ribeirinha. O avanço das obras do Porto de Lisboa, a oriente da Praça do Comércio , foi a causa da sucessiva mutação dessa orla. A Ribeira entre o Terreiro do Paço e Santa Apolónia encontrava-se, no terceiro quartel do século XVI II, pejada de pequenos cais acostáveis . Em muitos lugares, obras públicas de relevo tinham criado um recorte nas margens que estabeleciam a relação entre a cidade e o rio . Nos cais acostáveis, a toponímia dava notícia ou era lugar de acontecimentos económicos e sociais ligados à actividade do rio. Na antiga Lisboa Oriental muitos desses lugares de acontecimento falavam da actividade fluvial e dos produtos que chegavam a Lisboa pelo Tej o , vindos de Abrantes, Santarém, Ribatejo ou da Outra Banda. Júlio de Castilho deixou-nos alguns relatos dessa vida da orla ribeirinha , continuados e aprofundados por Norberto de Araújo e outros olisipógrafos. Depois do Convento de Santa Apolónia seguiam-se margens irregulares, praias, onde de lugar em lugar havia pequenos cais correspon dentes a lugares - Xabregas, Poço do Bispo - ou pertencentes a antigas ou novas quintas, construídos em pedra ou em madeira. Nas praias ainda existentes nos anos 30, o ambiente fluvial predominava e as boas condições ecológicas e naturais convidavam ainda ao seu aproveitamento para banhos e lazer. Um primeiro problema radica na definição de Lisboa Oriental. O conceito urbano do Bairro da Ribeira, um dos doze bairros da divisão da cidade do tempo de D . João V, para o alvará de 1742 correspondia a três freguesias - S. João da Praça, S. Pedro e S. Miguel - e à fachada fluvial que ia até ao Cais do Carvão, situado na freguesia de Santa Engrácia. Por sua vez, Santa Engrácia, encontrava-se integra da no Bairro de Alfama, em cuja área se localizava uma extensa faixa ribeirinha até ao Convento de S. Bento de Xabregas. De acordo com a organização paroquial de 1 7 5 5 , esta última paróquia era a mais oriental das freguesias de Lisboa, atingindo Xabregas, os conventos dos Grilos e das Grilas, o Vale de Chelas, limite onde começava o seu termo na Zona Oriental, com loca lidades importantes como o Beato António e os Olivais . A planta da remodelação paroquial de 1770 mostra, no entanto, uma ligeira redução da área urbana e periurbana , pois para aqueles lados dominavam as quintas, os cerrados e as propriedades rústicas . A referida remodelação mostra-nos uma freguesia de Santo Estêvão , bastante consolidada, tanto no que se refere à densidade urbana,
'3
como à caracterização ribeirinha, onde diversas obras já executadas e outras em projecto conferiam unidade ao território. Mas, na orde nação de 1770, previa-se o restabelecimento da freguesia de S. Bartolomeu, cujos limites envolviam S. Bento de Xabregas, a partir do largo da mesma igreja, a margem do Tejo até ao Largo do Poço do Bispo, Marvila, Vale de Chelas'. Sobressaem na planta de Santo Estêvão, edifícios notáveis do ponto de vista industrial. O mais saliente era o da Fundição de Canhões, que ganhara na fachada ocidental, a frontaria que hoje o caracteriza . Não longe daquele espaço ficava a Real Fábrica de Tabacos, enquan to que em Santa Engrácia se encontrava a Fundição de Cima, junto ao Campo de Santa Clara. Estas importantes unidades fabris são, tal como a Real Fábrica do Sabão , situada em Marvila, mas já no termo de Lisboa, os primeiros testemunhos da presença manufactureira na Lisboa Oriental. Através da extensa documentação do Arquivo Histórico do Ministério de Obras Públicas há notícia de uma gradual mutação dos espaços rurais em empreendimentos manufactureiros e fabris, estamparias sobretudo, mas também curtumes, refinação de açúcar, cerâmica comum, manufactura de alfinetes e outras. Estas mutações ocorreram no ambiente político-institucional do Antigo Regime , encontrando-se associadas ao desenvolvimento do comércio atlântico e ao florescimento de UIna burguesia comercial ligada ao Brasil e às matérias-primas coloniais - tabaco, algodão , açúcar. Os interesses do tabaco , por sua vez, articulavam-se com os do sabão , para cujo fabrico era necessário azeite. Ora, em toda a área agrícola do termo de Lisboa, havia olivais e lagares de azeite em abundância que permitiram fixar algumas regras de exploração deste combustível, no tempo de Pina Manique, para a iluminação pública de Lisboa. Não existem mutações administrativas significativas nos bairros e freguesias da cidade até à legislação de 1852 - decreto da organização administrativa do concelho de Lisboa. A Zona Oriental da cidade continua a pertencer ao Bairro de Alfama e a sua expansão máxima atinge o Poço do Bispo . O ano de 1852 significou uma retracção da área de Lisboa a oriente, motivada por dois factos, um de natureza económica e fiscal - a circunvalação ou estrada fiscal, para controlar a entrada de produtos de consumo do interior, vindos por terra; o outro correspondeu à criação do concelho dos Olivais. Durante o período de 1852 e 1885, a área administrativa dos Olivais detinha algumas das mais importantes indústrias modernas, que lhe conferiam um lugar à parte na transformação industrial de Lisboa. Faziam parte deste concelho , as freguesias de S. Bartolomeu do Beato (restabelecida em 1770) , Charneca, Ameixoeira (fundação de 1541) , Lumiar (f. 1276) , Olivais (f. 1420) , Campo Grande (f. 1620) , Sacavém (f. anterior a II91) e Camarate (f. 15II) . A reforma administrativa de 18 de Julho de 1885, extingue e integra o concelho de Olivais numa Lisboa em expansão. Desde 1868, que os velhos bairros de Lisboa sofriam grandes alterações. O Bairro de Alfama, que fora até então sinómino de Lisboa Oriental ribeiri nha, extingue-se para nascer o Bairro Oriental, com quinze freguesias (1868) e o 1 . Bairro, com dezassete freguesias (r885) . o
Uma noção realista e aproximada da industrialização da área oriental poderá fazer-se, durante a segunda metade do século XIX, a partir dos inquéritos industriais de 1865, 1881 e 1890, tendo como pano de fundo a estrutura administ�'ativa correspondente da cidade. O território oriental da cidade alarga-se, um pouco mais, temporariamente, às freguesias de Sacavém e Camarate, entre 1 8 8 6 3 e 18954. A concepção d e unidade intrínseca d a Lisboa Oriental, entre a s Alfândegas e o rio Trancão atingira a sua máxima
�
Da freguesia de S. Bartolomeu se desanexou a Rua Direita de Manila. para a entregar a Santa Maria dos Olivais, com o Plano da Divisão de 1780. Cf. Lisboa na 2. a Metade do Séc. XVH! (Plantas e
Descrições das suas Freguesias), Recolha e índices por Francisco Santana, Lisboa. CML. s. d.. pp. 13, 110, 132.
3 Decreto de 22 de Julho de 1886. 4 Decreto de 26 de Setembro de 1895.
expressã o , numa territoralidade da capital resultante da expansão industrial oitocentista. Fenómeno semelhante acon tecera à Zona Ocidental de Lisboa, entre Belém, Pedrouços e Algés . Em r895, no entanto , uma parte de Sacavém e toda a fregue sia de Camarate serão integradas no concelho de Loures. Por essa altura, o fenómeno da industrialização das periferias urbanas de Lisboa fazia-se já por ciclos concêntricos aten dend o , sobretudo , na Zona Oriental, à implantação da linha de caminho-de-ferro, que partindo da Estação de Santa Apo lónia seguia para o Leste e para o Norte. Esse fenómeno carac terizará a expansão industrial entre o concelho de Loures e o de Vila Franca de Xira , hoje partes integrantes da Grande Lisboa. O conceito territorial de Lisboa O riental abrangia tanto a zona ribeirinha, como os aglomerados urbanos e uma exten sa área rural, cruzada por centenas de azinhagas. Convém, desde já entender que o fenómeno da instalação industrial
Ponte de Xabregas. in Archil'O Piltoresco. Ano 1. 1857. p. 33-
não se verificou apenas no Caminho do O riente - projecto
de valorização e revitalização urbana de Lisboa, centrado num eixo compreendido entre Santa Apolónia, Marvila e Doca dos Olivais. Muitas unidades fabris vieram a lo calizar-se no interior, seguindo determinadas lógicas particulares, não se reduzindo às que seguidamente trataremos . 2.
COMÉRCIO E A NAVEGAÇÃO
FLUVIAL
A longa história da Lisboa Oriental, da Antiguidade ao Antigo Regime, é a do comércio e navegação fluvial. O Tejo constituiu desde sempre uma importante acessibilidade, motivando o contacto entre as povoações a montante, como as que se situavam na Outra Banda. Embarcações do Ribatej o , de Santarém e seu termo, de Tancos e do Arripiado , de Abrantes e de Ródão desciam o Tej o até Lisboa. Traziam as importações da cidade e, depois no regresso , levavam as exportações de Lisboa, muitas vezes com produtos oriundos do Mediterrâneo , do Atlântico , do Índico , do Norte da Europa. Barcos da Outra Banda marcavam o quotidiano do Tej o , estabelecendo as trocas entre a Estremadura e o Alentej o . Para resolver e dignificar o comércio que vinha do Sul e atravessava o mar da Palha, construiu-se um importante cais junto à Fundição do Arsenal do Exército , chamado Praia dos Algarves. A observação dos modelos de embarcações do Tejo permite equacionar, a diversidade de barcos, de soluções e especializações de transporte . A quantidade de embarcações que aportavam a Lisboa pode ser um bom indicador do volume do comércio . Situavam-se na Lisboa Oriental os mais importantes cais acostáveis dos barcos fluviais, com seus pequenos portos de chegada, de carga e descarga, sob os olhos dos responsáveis alfandegários. Uma certa especialização urbana da Ribeira de Lisboa, fez com que a Ribeira Velha detivesse essa função de maior articulação com as embarcações e os produtos do comércio fluvial; sob o olhar vigi-
15
lante das Alfândegas. Na Ribeira Nova encontravam-se sobretudo os mercados de peixe, os cais dos pescadores, dos carregadores braçais e as tercenas de construçâo naval. Identificar os cais acostáveis de Lisboa Oriental é, em primeiro lugar, isolar diferentes situações concretas da vida económica, social e produtiva do comércio fluvial. Esta metodologia contribuirá para a determinação do efeito fluviocomercial na gestação das indústrias deste território . Outro tanto permitirá a identificação dos produtos postos em circulação nas rotas deste intenso comércio interno. Um balanço dos pequenos portos e cais da costa ribeirinha entre o Terreiro do Paço e Braço de Prata, antes das grandes modificações que o Porto de Lisboa introduziu, contribuirá para chegar a algumas conclusões. A introdução do barco a vapor no Tejo não alterou o fluxo fluvial de produtos transformados 5. 3 . CAIs AGRÍCOlAS E A FIXAÇÃO DAS INDÚSTRIAS Na coroa agrícola que envolvia Lisboa antiga salientavam-se os vales de Sete Rios / Alcântara e Chelas , bem como as celebérrimas quintas . Mamadas desde a Renascença, estendendiam-se desde Xabregas até Sacavém. Espaços agrícolas pertencentes a importantes famílias da nobreza e da burguesia da capital, nos quais sobressaía quase sempre uma importante casa solarenga, com todas as seus oficinas agrícolas. Não se encontram completamente averiguadas as razões principais que motivaram a vocação manufactureira e industrial de muitas dessas quintas , sobretudo a partir do reinado de D . João V. A presença desses interesses pode ser aferida em documentação da Junta do Comércio, orientando -se para diversos ramos industriais. Com a extinção das ordens religiosas e a nacionalização dos seus bens, várias propriedades que lhes pertenciam foram adquiridas por uma nóvel burguesia liberal que, não só renovou a exploração agrícola, como pôde articular-se com os rendosos negócios manufactureiros e industriais. Ainda nos meados do século XIX - já em pleno surto industrial - divulgam-se imagens dessas quintas paradisíacas da Lisboa Oriental, com seus palácios e ambiente natural e agrícola: Quinta da Mitra, Quinta das Rolas, Palácio de Valadares, Quinta da Matinha, etc. A toponímia que persistiu evidencia esse mundo que nós perdemos (Peter Laslett) , de leitura agrícola e paisagem natural : Rua de Vale Formoso de Baixo e de Cima, Azinhaga das Veigas. Ora, muitas destas quintas, dispunham de seus cais, onde acostavam embarcações para transporte dos produtos agrícolas, engrossando as correntes comerciais de bens para a alimentação de Lisboa. O desenvolvimento das actividades manufactureiras activou esses cais e obrigou os proprietários a mudar a lógica do seu funcionamento ancestral, integrando -os no universo das mudanças económicas da capital. Esta lenta transformação da paisagem agrícola de Lisboa em industrial, pelo efeito da propriedade,
4. PRAIAS
constitui uma outra lógica que não deve ser descurada na caracterização dos novos ambientes.
E ATERROS
Difícil é imaginar a Lisboa ribeirinha de outras eras, face à uniformização da linha da costa que o Porto de Lisboa lhe impôs, desde o último quartel do século XIX. Para além das pequenas docas ou caldeiras de protecção fluvial e dos cais acostáveis das quintas, muitas vezes erguidos sobre estacas de madeira, existiam praias, algumas de grande extensão , que ainda serviram para banhos dos habi tantes das localidades e dos bairros respectivos.
5 A frota d e três lanchas a vapor d a Companhia de Real Fiação delomar é disto exemplo. C . Jorge Custôdio , A Aftiquina
16
.1
Vapor de Soure, Porto. Fundação Belmiro deAzevedo. 1998.
A dado momento, essas praias contrariaram o desenvolvimento industrial e houve necessidade de fazê-las desaparecer. Os inte resses industrais e comerciais foram suficientemente claros para impulsionar medidas que, por um lado, vieram uniformizar essa linha homogénea e rectilínea de margem fluvial e, por outro lado, conquistar terrenos ao Tejo. O desaparecimento das praias da Lisboa Oriental é abordado inúmeras vezes, sem se dissecar a sua verdadeira intencionalidade. O método utilizado - quando se encontra documentado consistiu em aterros sucessivos que preencheram os recortes da linha de costa, fazendo desaparecer os antigos cais, docas e praias e empurraram o Tejo para novo leito, cada vez mais urbanizado. Essa estratégia é conhecida de outros tempos, mas durante o século XIX ganha novo incremento e maior alcance, por inter ,
Descarga mecânica de areia para o aterro da praia da Matinha. Foto de Eduardo Portugal Lisboa Ribeirinha. 1894. foto 4.
venção de meios mecânicos mais eficientes. Júlio de Castilho
(r938).
in
descreve os métodos de aterro utilizados na época de Pombal, entre o Cais de Santarém e o Cais dos Soldados, do qual nascerão as novas obras da margem do Tejo, junto ao moderno Arsenal (1760) . As iniciativas são de pequena extensão e enquadráveis em projectos de renovação da imagem da cidade, nas novas áreas urbanas . A construção da Estação de Santa Apolónia inaugura uma nova etapa nessa mudança - a da conquista das margens do Tejo em benefí cio dos interesses comerciais e marítimos. Para essas obras utilizaram-se dragas movidas por máquinas a vapor, que desde 1843 , se encon travam ao serviço da cidade. São dragas cada vez mais sofisticadas que farão as obras dos finais do século para o alargamento do Porto de Lisboa, na faixa oriental da cidade. Os mesmos aparelhos, com sistemas automáticos contribuirão para imprimir velocidade na trans formação da praia da Matinha, num terreno moderno para a edificação da nova Fábrica de Gás, entre I936-I940. Várias fotografias existentes no arquivo da Câmara Municipal de Lisboa documentam o método utilizado. As obras realizadas para a construção da Avenida Infante D. Henrique, nas décadas de trinta e quarenta, que abrirão os horizontes indus triais de toda a margem de Lisboa, entre a praia de Xabregas e a Doca dos Olivais, implicaram a remoção de quantidades astronómicas de terras para os aterros indispensáveis à fixação dos terrenos. Nesse processo megalómano de nivelamento e modernização , não foram poupadas sequer as recentes obras portuárias, como os paredões de Santa Apolónia. As cartas topográficas de Lisboa, a partir dos meados do século XIX mostram essa gradual conquista do Tej o , que fez desaparecer praias, ,
cais, docas, caldeiras de moinhos de maré, quintas e até fenómenos geográficos de significado fluvial, como o cabo Ruivo . O mote da mudança encontrava-se associado à construção da linha de caminho-de-ferro do Leste e do Norte, que precisou de se insta lar no território oriental de Lisboa, com perfil adequado , cortando a direito , sobre as depressões de terreno , procurando o fixe dos acidentes geográficos mais antigos. A construção da Estação de Santa Apolónia prova, com bastante rigor , o efeito do caminho-de-ferro na caracterização da Lisboa Oriental, tanto na perspectiva da conquista das margens para as instalações industriais modernas, como afir mando as mudanças das acessibilidades. A linha férrea, além de estimular a localização industrial, contribuiu para a mudança da pai sageUl de Lisboa Oriental. O estabeleciUlento da circunvalação-ferroviária-funcionou COlllO UUla cunha de ligação da cidade, entre o-todo e as diversas partes, Alcântara com Xabregas, o centro com a periferia, ajudando à circulação dos produtos e da população trabalhadora.
17
5. UM
NOVO CONCEITO DE LISBOA RlBEIRlNHA
A Carta Topográfica de Lisboa, publicada em 1871, representava uma linha de costa resultante da reconstrução da Lisboa na sequência do terramoto . Todavia, a partir da decisão da construção do Porto de Lisboa as novas ideias instalar-se-ão na modernização das margens do Tejo, quer através dos aterros da linha de caminho-de-ferro, quer na implantação de importantes melhoramentos de apoio às activi dades portuárias. Os projectos mais antigos, que vieram a ser executados, na Zona Oriental, datam de 1888. Nos finais da década de quarenta a linha marginal do Tejo era completamente diferente da que sobrevivera às mutações do fim de século. Inicia-se assim o efeito portuário na localização das indústrias orientais da cidade . A construção da Doca da Alfândega e da do Terreiro do Trigo implicaram mudanças nos antigos cais, impondo o seu gradual desa parecimento. A actividade fluvial era destruída pela oceânica, as populações começavam a aprender virar costas ao rio. Uma das conse quências mais directas da ampliação do Porto de Lisboa, para as bandas da Ribeira, foi a construção de desembarcadouros flutuantes. As actividades portuárias exigiam bastantes armazéns, população , novas profissões, transitários e o reforço alfandegário . O Porto de Lisboa afirma-se como o construtor do novo conceito de Lisboa ribeirinha, fazendo surgir novas docas (Poço do Bispo, Olivais) , autorizando novas pontes-cais, outras realidades para o crescimento do volume de negócios e mercadorias. O conceito de escala impõe-se na margem, exigindo obras que facilitem a acostagem de cargueiros de grande tonelagem. Esse modelo encontra-se projecta do no Plano de Melhoramentos de 1946 . Mas os efeitos da escala ainda tardam, pois a revolução da contentorização só se impõe no Porto de Lisboa, a partir de 1970. Esse é o momento da criação de uma autêntica barreira física na Lisboa ribeirinha, desde Cabo Ruivo à Alfândega. A nova realidade fora motivada pela industrialização , mas age constantemente sobre a própria densificação da implantação das indústrias no mesmo espaço. Exige acessibilidades próprias, já não as ferroviárias . Não se vivia na década de quarenta uma outra revolução - a rodoviária? Tudo contribuía para a moldação dos efeitos portuários, desde a produção de alcatrão na Matinha, à refinaria de petróleo em Cabo Ruivo , à localização de empresas de transporte nos Olivais, até às novas máquinas de asfaltar. Acompanhando o traçado rectilíneo das margens ribeirinhas - obra de engenheiros hidráulicos - rasgava-se a Avenida Marginal, a Infante D . Henrique - obra de engenheiros de estradas. Os espaços entre as antigas fábricas e oficinas (situadas na convergência dos seus factores de sucesso) , e a linha do novo porto, tornam-se propícios a uma certa planificação de localizações industriais. Veja-se a diferença entre as instalações fabris da João de Brito e a moderna moagem e os silos da Portugal e Colónias. 6. A INDÚSTRIA NA LISBOA ORlENTAL E
OS INQUÉRITOS INDUSTRWS
A actividade manufactureira encontra-se documentada na Lisboa Oriental desde o início da época moderna. A génese do Arsenal do Exército e da sua fábrica de armas articula-se com a fundição e tercenas de Artilharia das Portas da Cruz, fundada pelo rei D. Manuel, na parte oriental da cidade, entre 1515 e 1521. Não muito longe desta fundição fabricavam-se explosivos na Casa da Pólvora, referen ciada no desenho de Lisboa, atribuído a Duarte Darmas. Até aos' quéritos pOlnbalinos inventariaram-se diversas oficinas e actividades {abris através da literatura e da toponimia na Lisboa Oriental, como fornos de vidro , olarias (entre as quais a célebre Fábrica Real da Bica do Sapato) , fornos de cal e de carvão , curtumes.
18
As tendências oficinais e manufactureiras são perenes entre 1775 e 1 8 3 0 , sob o impulso da Junta do Comércio .
À medida que o tempo da industrialização se aproxima aumenta o número das unidades fabris instaladas na Lisboa Oriental. Essa propensão acentua-se a partir de 1 8 5 � , atingindo o auge em 1890, depois do duvidoso Inquérito de 1 8 8 1 .
I) D e facto , o Inquérito de 1890, revela existirem 1 5 6 ramos industriais em plena laboração no I. o Bairro da cidade, no qual se integravam as freguesias de Lisboa Oriental. A peque na indústria começava a ser ultrapassada pelas grandes fábri cas mecanizadas em diversos sectores, albergando centenas de operários do sexo masculino e feminino . O crescimento pode ser acompanhado através do Boletim do Trabalho Industrial, desde os princípios do século XX até à expansão do Porto de
Caminho-de-ferro de Le.ile. Corte de Xabregas, in Archim Piltoresco. Ano I,
Lisboa, para oriente de Xabregas. Todos os autores são unâ
1857. p.
265.
nimes. Na Lisboa Oriental encontravam-se os indicadores mais específicos da industrialização da capital.
2) Por volta de 1 9 1 5 , em plena I República, os trabalhadores do Oriente da cidade ultrapassavam os 15 0 0 0 , havendo muitas associações de classe e sindicatos organizados, uma prova de tradições sociais do bairro e das novas contendas com os senhores da indústria. Fenómeno semelhante ao de Alcântara é claro, mas talvez aqui com menor intensidade e menor duração . D epois de 194�, a realidade afirma-se e amplia-se e são considerações de ordem económica que impõem o inquérito industrial de 197�, executado pela empresa PLANOP, para a Divisão de Planeamento e Urbanização da Câmara Municipal. Procurava-se interpretar a estrutura industrial para determinar as consequências da execução do novo plano director da urbanização da zona.
3) As conclusões revelam a permanência e extensão do sector secundário,
-
4 3 , 7 % num universo de �70 empresas. Nas indús
trias transformadoras o pessoal operário ocupava ainda II 400 postos de trabalho . Com outras indústrias, comércio e pessoal administrativo atingia-se quase os �I 000 trabalhadores. As empresas continuavam a justificar a permanência por efeito do Porto de Lisboa.
4) A década de oitenta finaliza um ciclo de crescimento e inicia a época da desindustrialização . Agonizam e morrem as fábricas seculares e outras transferem-se para novos arrabaldes da Grande Lisboa. O propósito do presente trabalho não se identifica com um estudo de carácter económico . Pretendeu, antes, precisar e reco nhecer o valor e a importância de algumas das unidades industriais que marcaram e desenvolveram a história económico - social e cultural de Lisboa Oriental. Por outro lado , tentámos, tanto quanto possível, abordar as diferentes indústrias que ainda testemunham de alguma forma a sua presença na cidade - edifícios, arquitecturas, linguagens, cores, máquinas, memórias, gentes. Conhecer as principais realizações da industrialIzação tem uma finalidade . Entender e divulgar os cason nais emblemáticos d e uma época que chega ao fim, no momento da afirmação dos fenómenos da sociedade de consumo .
19
o • • O O O O :
CENTRAL ELEVATÓRIA A VAPOR DA PRAIA FUNDiÇÃO E FÁBRICA DE ARMAS DO ARSENAL DO EXÉRCITO ESTAÇÃO DE CAMINHOS DE FERRO DE SANTA APOLÓNIA FÁBRICA DA COMPANHIA LISBONENSE DE TABACOS ESTAÇÃO ELEVATÓRIA DOS BARBADINHOS I E II ASILO D. MARIA PIA E ESCOLA INDUSTRIAL AFONSO DOMINGUES FÁBRICA DE MALHAS DE INÁCIO DE MAGALHÃES BASTOS & C. FÁBRICA DE PÓLVORA DE CHELAS
O VILA FLAMIANO • FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS DE XABREGAS (VULGO FÁBRICA DA SAMARITANA) • VILA DIAS
48 CD O
O e
FÁBRICA DA COMPANHIA DE FIAÇÃO TECIDOS LISBONENSE FÁBRICA DE TABACOS DE XABREGAS FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS ORIENTAL (VULGO, FÁBRICA DAS VARANDAS) MANUTENÇÃO MILITAR "A NACIONAL" - COMPANHIA INDUSTRIAL DE TRANSFORMAÇÃO DE CEREAIS, S.A.
8 SOCIEDADE NACIONAL DE SABÕES o FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA •
COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS
G) FÁBRICA DE CORTiÇA DA QUINTA DA MITRA G VILA PEREIRA fi SOCIEDADE COMERCIAL ABEL PEREIRA DA FONSECA, S.A.R.L.
Do ponto de v i sta arquitect ó n i c o , a Estação e n c o n t r a - s e organ i z ada em três corpos. Ao centro, no corpo m a i s e l evado, l oc a l i z a v a - s e a C a s a d a s M á q u i nas e d a s B o m b a s , sob a q u a l res i d i a a i n d a o d e p ó s i t o do carvão. A s u a composi ção res u l tava de um grande pórt i c o de arco de vo l ta perfeita envi draçado , s ustentado por d u a s c o l unas de ferro , m ostrando à v i a p ú b l ica as m á q u i n as que d e t i n h am o poder de e l evar a água do reservatório d a Praia até ao da Veró n i ca. Essa fachada era marcada por u m a c i m a l h a decorativa sobre a q u a l se constr u i u uma p l at i b a n da m o d e l ada. D e cada lado desta construção, de organ i zação s i m é t r i c a , erguera m - se Planta Aerofotogramétrica 3/6. Escala 1: 2000. }'faio de 1963. Actualizada em ,
C E n T RA L E l E VAT0 R I A A VA P 0 R D A P RA I A
duas casas, u m a para as c a l deiras e
Ig87.
outra, l o c a l izada do l a do o r i e n t a l ,
Loca li zação - Largo da Chafariz
p ara servir de casa de h a b i tação
de Dentro.
do m a q u i n ista e do guarda do
período de Activi dade
-
1 8 6 8 - 1 8 80
F u n c i o n o u i n t e r m i tentemente d e s d e
escritório de apoio da e m presa. O e d i f í c i o foi e q u i p a d o com
então até D e z e m b r o de 1 9 3 1 , d a t a em
i n st a l ações de á g u a e gás.
que se i n sta l o u um m o t o r e l éctr i c o .
D e p o i s da a l teração da s u a f u n ç ã o ,
Laborou a t é 1 3 de J u l ho d e 1 9 3 8 .
a e s t a ç ã o d a s águas da Pra i a perdeu a
Fundadores
-
2 . a Com p a n h i a d a s Á g u a s
de Lisboa.
s ua m a q u i n a r i a - um grave efeito patr i m o n i a l - e esteve a l ugado a um
Activi dade Industrial
-
Abastec i m ento
part i d o p o l ít i c o .
de á g u a à ci dade de Lisboa,
Estado d e Conservação
Zona O r i e n ta l .
C l assifi cação
Valor Patrimon ial
-
H o j e só e x i s t e o
-
-
R eg u l ar.
Sem c l a s s i f i c a ç ã o .
V e m conte m p l ado n o I n ventário
e d i fí c i o da a n t i g a Estação E l evatória de
M u n i c i p a l do Patr i m ó n i o d o p l a n o
Á g u a s da Pra i a , c uj a fachada p r i n c i p a l
D i rector M u n i c i p a l ( P D M ) .
se encontra v i rada para o C h a f a r i z d e D entro n o B a i rro de A l f a m a .
23
Q
UANDO a 2 . a Companhia das
Águ as
de Lisboa (CAL) , consti
tuída em 2 de Abril de 1 8 6 8 , começou a pensar sobre as formas de moderniza ção do abastecimento público de águas à cidad e ,
de modo a garantir uma
distribuição domiciliária, o velho sis tema do aqueduto entrou numa fase de recessã o , pelos múltiplos incon venientes que manifestava. Uma das obras mais avançadas , que a CAL realizou no terceiro quartel do século XIX, foi a Estação Elevatória a Vapor da Praia. Um dos obj ectivos da sua construção consistiu no aproveitamento de águas inutilizadas ( 6 5 anéis de água) , re
I --
sultantes das nascentes orientais da cidade (chafarizes de EI-Rei, de Den tro , da Praia e Tanque das Lavadeiras) , vertidas directamente no Tejo . O pro j ecto foi estudado pelo engenheiro Joaquim Nunes de Aguiar (29 de Fe vereiro de 1868) e consistiu na cons trução de um reservatório na Praia e outro na Verónica, este a 69 metros
,
"
l-
'I Máquina a vapor. Alçado.
va-se à cidade à cota de 49 metros de
i! ]
elevava-se a água por meio de máquinas
I
!
acima do nível do mar. A água destina
L:
altitude. Para que tal fosse possível, a vapor desde o reservatório da Praia até ao da Verónica. O volume de água de
186B. Arquivo Histórico da EPAL.
2 207 8 2 0 litros era depois conduzido por tubagem de ferro aos bairros bene ficiados . .As
obras da Estação Elevatória inicia
ram-se em Julho de 1 8 6 8 . Foi celebra-
24
do um contrato com a empresa de
1ft
engenheiros construtores d e Ruão, E. Windsor & Fils para o fornecimento de duas máquinas a vapor elevatórias, as quais deveriam bombear 1 9 0 0 m3 d e água à altura d e 73 m (contrato de 1 6 de Junho de 1868) . As máquinas eram verticais, conforme os desenhos apresentados, de duplo efeito , com
.,
dois cilindros e de sistema Woolf, então o método mais usual para a elevação de água nas cidades. O balan ceiro tinha 6 , 1 0 m de comprimento . Produziam 2 3 c/v em água elevada
I"
ou 30 c/v sobre a árvore do volante .
, .'X '
A Windsor fornecia ainda o maqui nista que estaria em Lisb o a , por volta dos princípios do mês de Julho para a montagem da Estação a Vapor. Cada máquina encontrava-se munida de um
bliU;ào da Praia. Interior. Corle.
J868. Arquivo Histórico
da EPAL
reservatório em ferro fundido com
atraso em relação às suas congéneres
luções de expediente para concentrar
comunicação com a conduta ascen
londrinas e parisienses . O mo delo
na exiguidade das salas as diversas ofi
sional. Três caldeiras forneciam o
voltará a ser repetido uns anos depois
cinas e funções requeridas . Junto à casa
vap o r , situando -se à esquerda do
nos Barbadinhos. As duas máquinas
do maquinista colocaram-se depósitos
corpo central , perto do Reservatório das "Águas O rientais" .
n e ce ssitaram de uma plataforma à
para os óleos e para aparelhos de fabri
altura dos balanceiros e instalou-se
co de tubos de chumb o . O combustível
O corpo central dividia-se e m dois
uma ponte rolante no topo para os
armazenou-se por cima da cobertura
piso s . No piso térreo situavam-se dois
trabalhos de montagem e conserva
do reservatório .
grupos de duas bombas de simples
ção do sistema técnico . Uma chaminé
A Companhia das Águas pro curou estimular os empreiteiros a instalar
efeito, os c ondensa dores da s má
foi construída por detrás do e difí
quinas, as bombas alimentadoras das
cio , no ângulo formado pelo corpo
com urgência as máquinas a troco de
caldeiras e os reserva t órios de a r
central e lateral da direita (Borges de
um bónus de indemnização d e 2 0 0
nos tubos d e aspiração e d e refluxo
Souza) .
francos. N o Arquivo Histórico d a EPAL
(Borges d e Souza) .
Um dos p rincipais problemas da
Estação Elevatória das Águas O rientais
existem os desenhos desta Estação
No piso superior veio a instalar-se a
Elevatória , pioneira no território na
rimeira central a vap01: de elevação de
foi o pouco espaço para tão grande
cional , que marcou a históúa do abas
águas do nosso país, j á com algum
empreendimento. Recorreu-se a so-
tecimento de água em Portugal.
25
Segundo Bernardino António Gomes,
, .- :: . '::.1 -�-
as obras da Praia orçaram em 100 contos de réis, custando à Companhia três contos as despesas das máqui nas por ano . Leva nta m-se por dia I
9 0 0 0 0 0 litros de água, consumin
do-se por h ora I kilo de carvão e correspondendo isto a 75 kilogra ma s de água levantada . Com 100 contos de réis, pois, e mais 3 de despesa anual, conseguiu-se um acréscimo de abas tecimento, valendo quasi tanto ou mais como o que se chegou a ter na estiagem, à custa de milhares de c ontos, por meio de um gra nde a queduto, ainda aumentadas as água s livres com as da Mata e Carnaxide; tão
importante [ai o melhoramen�o po'r semelhante modo aumentado (Ber
nardino Gomes : 18 71) . A obra da Elevação a Vapor da Praia constava : I. da Casa de aproveitamento o
das nascentes do antigo Tanque das Lavadeiras (com 0 , 8 0 cm de altura) ; 2.
o
do encanamento das diversas nas
centes e do tanque para o Reservatório " da Praia; 3 . do Reservatório da Praia de 3 m de altura e capacidade de 969 m3 ; 4." da Casa das Máquinas; 5." do Reservatório da Verónica , com a capa cidade de 4764 m3. O reservatório assentou sobre estacas, consolidando -se o terreno e desviando dele outras nascentes com água lnenos própria para consumo . Quanto à Casa das Máquinas ...há um.a diferença entre Estação da Praia. Chaminê. Alçado e corte. 1868. Arquivo Histórico da EPAL
o primitivo proj ecto do engenheiro
Aguiar e aquele que foi executado pela firma de Ruão . Sabe-se que a casa se construiu à medida das máquinas,
Relicrve.torio da Praia - Casa cas !�ach!t'�s
como era habitual nesse tempo, divi dindo-se o corpo central de seis metros de altura em três pavimentos para o
.�
funcionamento vertical das máquinas e bombas . Os trabalhos das fundações e das canalizações para o Reservatório da Verónica foram da autoria do Eng. Martin da Windsor da cidade de Ruão. Para a montagem das máquinas foi necessário adquirir uma ponte rolante para a respectiva casa. As paredes do edifício cresceram à volta da instalação dos equipamentos . Os reservatórios foram arquitectados com pilares de tij olo revestidos a cimento e cobertos de abóbada de betão. Com a montagem e funcionamento da Elevação a Vapor da Praia concluída
E�taçào da Praia. Fachada. Alçado. 1868. Arquivo Histórico da EPAL.
nos finais de r 8 6 8 , a Companhia
BIBLIO GRAFIA;
1871, pp. 86-90; SOUZA, Frederico Borges de,
dava-se por satisfeita pelos resultados
Companhia das Águas de Lisboa, "Portugal ,
COlnpagllie des Eaux de Lisbonne,
alcançado s .
Distribution d'Eau, Ville de Lisbonne". n. os 16 a
Notice SUl' I 'Alimentatioll de la Vale de
O s e u funcionamento regular durou
19. in
Lisbonne en Eaux Potables.
Relatoria da Direcção e seus Documentos
I900, Lisboa,
desde r 8 6 9 até Outubro de r 8 8 0 ,
e Relatoria da Comissão Fiscal. Gerencia da
Typographia da Companhia Nacional
altura d a inauguração d a Estação Ele
Companhia desde a sua instalação, em
Editora, 1900 ; CUSTÓDIO, Jorge,
vatória dos Barbadinhos. Desde essa
Abril, até
altura até à desmontagem da central,
Imprensa Nacional, 1868, pp. 48-55;
in
os motores a vapor da Praia só funcio
Companhia das Ág uas de Lisboa,
Lisboa , Livros Horizonte, 1994.
naram esporadicamente, colmatando
Relatario da Direcção Balanço e os seus
pp. 99-104, 133, 135-139.
2 de
9 de Outubro de I868, Lisboa,
as deficiências no serviço da captação
desenvolvimentos e Relataria da Comissào
das águas do Alviela. Então , de novo,
Fiscal. Exercício de
as históricas águas da cidade oriental
Nacional, 1870, pp. 18-2 2 ;
entravam na distribuição domiciliária.
GOMES, Bernardino António, a Limpeza Lisboa,
1869. Lisboa, Imprensa
O Esgoto.
e- o AbasteciInento das Águas
enl
Lisboa, Academia Real das Ciências,
"As Infra-estruturas. Os Canais de Lisboa". Lisboa em MOI·imento.
I8SO-I920,
p ú b l i c o em 1 8 5 1 . A ideia f o i do genera l J osé B a p t i sta da S i lva Lopes, barão de Monte Pedra l . I n i c i a l m ente estabe l e c e Ll - s e n a Fábrica de Armas de Santa C l ara, mas f o i trans f e r i d o em 1 87 6 para a FLl n d i ção de B a i x o , o n d e h o j e se en con tra com a desi g n a ç ã o de MLlSeLl M i l itar. A S Lla p r i m i tiva concepção de local de rec o l h a de peças m i l itares e de m á q Ll i n a s acab o Ll por ser parc i a l m en t e a b a n d o n a d a , para s Ll r g i r Llm i n teressante m Lls e Ll modern izado e CLljO p l a n o se d e v e Ll ao c a p i t ã o de art i l h a r i a E d Llardo Ernesto de Caste l o Branc o . R e c o rd e - s e q Lle n o t e m p o de D . M a n Ll e l I e x i stira Llm aLltên t i co m Ll s e Ll de armas n o Arsen a l , j Llnto ao Paço R e a l da R i be i ra , cLlja e x i stên c i a e v a l or se Planta Aerofotogramétrica 3/6 e 3/7. Escala 1:2000. Maio de Ig63. Actualizada em Ig87.
p r o l o n go Ll até aos F i l i p e s .
F u n O l ç Ã 0 E F Á B R I C A D E A R f'h A S D e:> A R S E n A L 0 0 E X E R C I T e:> ,
O s m onarcas espa n h ó i s desmem brara m - n o , e n v i a n d o c o l ecções de p e ças para M a d r i d
e s p i n gardar i a , de projécte i s ,
e S e v i l h a , perdendo q Ll a n t i dades
Art i l h a r i a , R Ll a Te i x e i ra Lopes e
d e b a l a s , de e s p o l etas e e s corvas;
de armas no d esastre d a Armada
Largo dos C a m i n h o s de Ferro.
man LlfactLlra e conserto
I n ve n c íve l . O Lltros arsenais
período de Actividade
Local ização
-
Largo d o M Lls e Ll de
d e v i at Llras, fabrico d e arr e i o s ,
e x i s t i a m n o p a ís c o m boas
EnqLlanto M Ll s e Ll M i l itar d e s d e
correames e e q Ll i pamentos; fabrico
c o l e c ç õ e s c o m o a de Estremoz,
1927-1998>
de ferramentas para serral h eiros,
a de A l fângega da F é , a de E l v a s e
ferre i ros e carp inteiros.
a de S a n taré m , m a s desapareceram
FLlndadores
-
-
1 5 1 6 - 1927
D . Man Ll e l i .
R e c o n s t r Ll ç ã o : D . J oão V e D . J os é i .
Actividade IndLlstrial
-
FLl n d ições
Valor Patrimonial
-
O M Ll s e Ll
d Llrante a G Llerra Pen i n s Ll l a r e a
M i l it a r ( de s i gn a ç ã o de 1 9 2 6 ) tem as
G Llerra C i vi l . D e s p r o v i d o s das
de canhões e m bronze; fLln d i ção de
SLlas o r i g e n s n o M Ll s e Ll de Art i l h a r i a
m e l h o res arm as, os m i l i tares
s i n o s e d e estatLlár i a ; fabrico
d o Ars e n a l R e a l do E x é rc i t o ,
portLlgLleses d e O i to c e n t o s
de armas brancas e portát e i s , de
i n s t i t Llído em 1 8 4 2 e aberto ao
verifi caram e x i s t i r Llm das m e l h ores
29
c o l ecções m u n d i a i s de art i l h a r i a de
n o t á v e i s da H i s t ó r i a de Port u g a l ,
das A r m a s , cuja t i p o l o g i a l embra
brome e ferr o . F o i esse o p r i n c i p a l
a l é m de d i versas o b r a s a l egóri cas
a i nda um q uarte l .
m o t o r patrimon i a l do M u s e u d o
onde a portuga l i dade marcou de
Estado de conservação
A r s e n a l R e a l d o Exérc i t o , h o j e
forma n a c i o n a l i s t a a presença
Cl assificação
M u s e u M i l i tar. A n ova i n s ta l ação
un i v e r s a l da gesta l us ía d a .
P ú b l i c o , Decreto n.O 45 327, de 2 5
-
-
Bom.
I m óve l de I n teresse
requereu i mportantes obras nas
Por esta r a z ã o , o M u s e u M i l i t a r é
de O u t ubro d e 1 9 6 3 .
fachadas e espaços da F u n d i ção de
também uma i m po r t a n t e
A c l a s s i f i cação l i m i t a - s e ao e d i f í c i o
B a i x o , que foram acrescentadas às
e n c i c l op é d i a da a r t e p o r t u g u e s a ,
onde s e i n sta l o u o M u s e u M i l itar.
mel h o r e s obras do t e m p o do
desde o s é c u l o XV I I I a t é aos
Vem refere n c i ado no I nven tári o d o Patr i m ón i o M u n i c i p a l do P D M .
marquês de P o m b a l ( f a c h ada
meados do s é c u l o XX. N as d iversas
o c i d e n t a l ) . O p á t i o da f u n d i ção foi
salas do Museu e n c o n t ra m - s e obras
aprove i t a d o para g uardar, ao ar
de c o l u m b a n o , Carlos R e i s ,
l i vre, as c o l ec ç õ e s de c a n h õ e s de
J os é M a l h o a , A n t ó n i o Ram a l h o ,
várias é p o ca s , entre as quais a
L u c i a n o F r e i r e , V e l o s o Sa l g a d o ,
c é l ebre peça de D i u ( 1 5 3 3 ) .
T o m a z de M e l o , A l b erto de S o u s a ,
Manteve - s e a fach ada p o m ba l i n a ,
J oão Vaz, Antó n i o C a r n e i r o .
mas fec h o u - s e a n a s c e n t e com um
As s uas c o l ecções de c a n h õ e s v ã o
pórt i c o d e notab i l ís s i m o lavor de
d e s d e as p e ç a s do s é c u l o X I V até
Te i xe i ra Lopes ( 1 895 - 1 9 1 0 ) .
aos meados do século X X .
P o r o utro l ado i n tr o d uz i u - s e u m a
I n depen d e n t e m e n t e d o v a l o r
b e l a c o l u n ata e b a l a ustrada, e m
m us e o l ó g i c o , o a n t i g o A r s e n a l R e a l
i n íc i o s d o s éc u l o x x ( fachada s u l ) .
do Exérc i t o detém um r i q u ís s i m o
O Museu M i l itar i n i ciou, p o r volta
v a l o r a r t í s t i c o e arqu itectón i c o .
de 1 9 8 3 - 1 984, uma i m p ortante fase
S o b as fundações man u e l i n as
de renovação , i l u strando uma n ova
e r g u e u - s e um espaço
concepção m u s e o l ógica das
j oa n i n o - pomba l i n o de grande
c o l e c ç õ e s . Tod a v i a o período á ureo
i n t eresse no â m b i t o da
das grandes a q u i s i ções
a r q u i tectura c i v i l , o q u a l foi
m us e o l ó g i cas corresponde à s obras
en gran d e c i d o com obras
dos f i n a i s do s é c u l o , r e l aci onadas
nas d i versas fachadas,
com o s centenários q u e então
correspondentes aos gostos mais
se c e l ebra ram das Descobertas
m odern o s , c o m o refer i m o s a c i m a .
p o r t u g u e s a s . Vários art i stas
E s s a s o b r a s ret i raram ao c o n j u n t o
port u g u e s es e estrangeiros
as carac t e r í s t i c a s de u m e s p a ç o
part i c i param na decoração d o s
m a n uf a c t u re i ro - i n d u s t r i a I ,
espaços expo s i t i vos, verdadeiro
a s p e c t o q u e n ã o o corre t a n t o na
repos i t ó r i o dos factos m a i s
F u n d ição de Cima, a v e l h a F á b r i ca
3°
um oitavo monumento público - as tercenas e fundição de artilharia das Portas da Cruz, na Zona Oriental da cidade , obra que se iniciou em 1515 e que ainda continuava em 1 5 2 1 , no ano da morte do rei. A sua conclusão o correu durante o reinado de D . João III. A ambiciosa construção pressupôs a localização do novo armazém da artilharia muito perto da Casa da Pólvora, localiza da numa torre do recinto muralhado . O desenho de Lisb oa existente na Biblioteca da Universidade de Leyden,
�jJ:.�
-t:��,:: -
atribuído a Duarte Darmas , oferece - nos uma imagem deste grandioso
Fundição de Artilharia (século XVI). Panorâmica de Lisboa. Desenho. Universidade de leyden.
edifício impondo-se na paisagem lis
O
boeta , exterior ao recinto muralhado e
ARSENAL Real do Exército tem
armazéns para acorrer a mais de du
a sua origem numa das mais an
zentos navios de todas as categorias,
ocupando um cais conquistado ao rio .
tigas manufacturas portuguesas, man
permanentemente apetrechados e im
A planta da manufactura parece revelar
dada edificar pelo rei D. Manuel I.
pecavelmente municiados (Damião de
três alas, organizadas em U, havendo
descobertas marítimas e a expansão
Góis) . Nos referidos depósitos man
uma
•
&
quarta perpendicular às das
ultramarina ocorrida no seu reinado
tinham-se, para além de armaria de
nascente e poente, que fechava para
levaram-no a proceder a importantes
todas as qualidades e tipos, incluindo
um pátio interior . Junto ao edifício
modificações nas antigas tercenas reais.
arcabuzes e espingardas, diversas peças
encontra-se um forno de cal e vêem-se
Essas obras ficaram conhecidas por
de artilharia de toda a espécie.
diversos canhões no solo , podendo
tercenas novas - a futura Ribeira das
O crescimento e evolução das activi
admitir-se que uma extensa área não
Naus -, em construção desde 150I.
dades marítimas exigiu , no entanto,
coberta se integrava na fundição de
Simultaneamente edificou-se o sétimo
não só bastantes canhões, como sobre
canhões, tal como refere Sousa Viterbo.
grandioso monumento público do
tudo boas peças de bronze. & ferrarias
Foi nesta manufactura que veio fun
seu temp o , no dizer de Damião de Góis
de Barcarena e as terce nas da Ribeira
dir-se uma boa parte das peças de
- o Arsenal de Guerra.
de Lisboa trabalhavam para peças de
artilharia portuguesa , que são outras
Os Depósitos de Armas situavam-se
artilharia de ferro fOljado e a casa das
tantas obras de arte das naus e das
junto aos Paços da Ribeira, próximo
bombardas de Cataquefarás, fundadas
praças do país, de África , da Ásia e do
das tercenas novas de C ataquefarás
nos finais do séculos XV , trabalhavam
Brasil.
(r515) e eTan> , ness a altura , os mais
o bronze. Exigências de uma produção
A área deste edifício manufactureiro
importantes da Europa e da Ásia, com
em série obrigaram o rei à fundação de
era grande, estando delimitada pelo
31
Arsenal, in Uni.'erso Pittoresco. 1839. Desenho de C. Legrand. litografia de Manuel Luís.
ArRnal do Exército e Museu de ArtUharia, in Portugal Pútoresco, 1903.
No tempo dos Filipes, a sua actividade
perfeita" (1718) . Pensava-se fabricá-la
era tal, que ficou conhecida por "fun
na nova oficina .
dição dos castelhanos" .
A disposição do Arsenal d a Guerra
Após a Restauração de 1640, criou-se
só se renovará com a reestruturação
a Tenência (28 de Dezembro) , consti
moderna, posta em execução depois do
tuindo um autêntico renascimento do
seu incêndio em II de Junho de 1 7 2 6 .
Arsenal do Exército . Sob a gerência de
O novo plano foi mandado implemen
Ruy Correia Lucas competia-lhe a fun
tar por D. João V, sob a direcção do
dição de artilharia e o municiamento
engenheiro francês, Larre (a quem
de peças e armas das praças de guerra.
se deve o arranjo artístico do pórtico
Podia ainda adquirir armas e compe
ocidental) , ainda em início de cons
tia-lhe conservá-las e guardá-las em
trução em 1 7 5 0 . O terramoto de 1755
armazéns. Através da planta da cidade
demolirá a reconstrução . A obra só
de Lisbo a do século XVII, de João
se concluirá sob as orientações do
Nunes Tinoco, verifica-se a grandiosi
marquês de Pombal, depois de 1 7 6 0 ,
dade da Fundição de Artilharia (inte
pela m ã o d e Manuel Gomes d e Car
grando já a Fundição de Baixo e de
valho e Silva e do tenente Bartolomeu
Cima) , a qual ocupava uma zona que ia
da Costa.
do rio até ao Postigo do Arcebisp o ,
O novo Arsenal Real do Exército - com
separada apenas p e l o eixo viário da
esta designação e alteração de estrutura
Porta da Cruz. Durante a segunda
a partir do alvará de 24 de Março 1764
metade do século XVII, o seu plano
- compunha-se, então , de três edifi
sofre algumas modificações, ainda não
cios, que ao longo da sua actividade
totalmente esclarecidas, entre as quais a
anterior se tinham estabelecido em
introdução da fundição de artilharia
diferentes épocas : a Fundição de Baixo ,
de ferro , instalada nas Reais Ferrarias
a Fundição de Cima e a Fundição de
Pátio do Sequeira e Beco do Surra,
de Figueiró dos Vinhos (região de
Santa Clara. Apesar das designações
Largo da Fundição de Baixo , Largo dos
Tomar) .
oficiais não passavam de diversas re
Caminhos de Ferro e Calçada do Forte,
No reinado de D . João V, o tenente
partições do mesmo empreendimento ,
podendo ver-se nas plantas da cidade
-general de artilharia do reino , Fernan
umas com melhor arquitectura do que
dos séculos XVII, XVII I e XIX.
do Chegary - responsável da Tenência
outras, manifestando as dificuldades
A fundição do Arsenal da Guerra man
entre 1712 e 1732
encontradas para resolver as múltiplas
-
mandou cons
teve-se em plena actividade desde o
truir uma oficina de manufactura de
actividades a que se dedicavam, sobre
reinado de D . João III até ao reinado de
armas. Foi nessa época que dois mestres
tudo a partir da criação de um exército
D . João V. No século XVI exerceu uma
serralheiros Cesar Fiosconi e J ordam
permanente e regular em Portugal .
função de escola das novas -fundições de
Guserio entregam a D. João V, um
Depois da gerência de Bartolomeu da
canhões instaladas em Goa e em Macau.
tratado para o fabrico da " espingarda
Costa, o Arsenal do Exército sofreu
32
diversas remodelações, a primeira com
manufactura de espingardaria e uma
a publicação do decreto de Janeiro de
fábrica. A partir da obra pombalina
1 8 0 2 (n. r 2 ) . D epois da vitória liberal
readquirira a função antiga de Arsenal,
houve várias outras reformas e reestru-
espécie de museu das colecções de armas
turações. A primeira o correu em r 8 3 4 ,
do reino. A obra pombalina reafirmara
uma outra em r 8 5 1 . Esta última con
o papel do despotismo iluminado na
o
tribuiu para a modernização indus
reorganização da estrutura pilar do
trial do Arsenal , transformando - o
exército. O liberalismo , ao remodelar o
cada vez mais numa fábrica moderna,
Arsenal, em r834, assumira-o como es
ao serviço da renovação do sector.
tabelecimento indispensável na moder
Em ro de Dezembro de r 8 5 r , o Arse
nização das forças militares e como
nal passa a depender do Ministério
escola de ofícios mecânicos. Em r839
da Guerra, sendo chefiado por um
existiam cinco salas de armas : a de
inspector-geral. Com a regulamen
D. João V, a de D . José I, a da Rainha
cinas ficava a residência do inspector
tação de r853 ficou constituído com
(D . Maria II)
da fundição . Foi para esse local que se
sete dependências:
dos Heróis. Os melhores pintores de
deslocou a fundição de canhões de
Fundição de Cima;
arquitectura de ornato do tempo engra
bronze nos meados do século XVII.
Fábrica de Santa Clara ;
deceram essas salas (Baccarelli, Manini,
Em inícios de Setecentos alargara essa
O ficina de Pirotecnia da Cruz da
Pedro Alexandrino , Cyrillo Wolkmar
função . D . João V mandou instalar nas
Pedra;
Machado , Berardo Pereira Pegado ,
casas dos mestres fundidores, Nicolau
Bruno José do Valle e António Caetano
Lavache e os seus artífices , aos quais
l.
2. 3.
4. Fábrica de refino de salitre e enxofre
I,
a das Armaduras e a
Pormenor da fachada pombalina, risco de Larre.
da Silva) .
encarregou de fundirem os sinos para a
5. Fábrica de Pólvora de Barcarena;
À volta do pátio central encontravam
igrej a do Convento de Mafra.
6. Oficinas de Elvas (carpintaria, ferra-
-se diversas oficinas . Outras ficavam
N a Fundição de Cima trabalhou o
no edifício superior a este, virado a
engenheiro Bartolomeu da Costa, que
de Alcântara;
ria, serralharia) ;
nort e , onde se colocara um sino para
deixou o nome ligado à estátua do
A Fundição de Baixo reorganizou-se
marcar as horas de entrada e saída do
rei D . José, para a Praça do Comércio.
como oficina de fundição, de coronha
pessoal. Neste grande edifício , organi
O transporte da estátua do seu local
7. Carvoarias de Rilvas.
ria e de espingardaria, mantendo acti
zavam-se as dependências administra
de fabrico p ara a referida praça,
vidades laborais até à deslocação do
tivas (as secretarias, o arquivo e a casa
obrigou à abertura de uma rua nova
museu de artilharia da Fundição de
da inspecção) .
para passar a zorra com o bronze. Em
Santa Clara, para o local actual.
A Fundição de Cima situava-se no
r 8 8 8 , a fundição de artilharia encon
Todavia, a Fundição de Baixo não era
Campo de Santa Clara, defronte da
trava-se instalada no Campo de Santa
apenas um conjunto de oficinas, uma
Igreja de Santa Engrácia. Junto às ofi-
Clara, ocupando r80 operários. Duas
I
Chamara-se antes Sala do Príncipe.
33
Localização das Fundições do Arsenal do Exército (1857).
em
Plano de Lisboa com o diagrama da epidemia da Febre Amarella.
18 5 7.
Esc.
1 : )0 000.
máquinas a vapor moviam equipamen
Exército para alargamento dos espaços
Como escola de mecânica, no A.t'senal
das peças de artilharia, enquanto de
do Exército nasceram muitas invenções
corressem as obras de reconstituição da
e inovações, não só de fundição aplicá
Fundição de Baixo . Aqui encontra
veis nas suas oficinas, mas também na
vam-se as ferrarias, em 1839. Em 1 8 7 6 ,
indústria portuguesa, dos séculos XVIII
a fundição passou a ser a Fábrica
a XX.
de Armas e , em 1 9 2 7 , a sua oficina de
Junto à Fundição de Baixo , no cais
Equipamentos e A.t' reios, transformou
privativo existiu durante anos um
-se numa fábrica especializada. Foi na
guindaste muito conhecido , demolido
Fundição de Santa Clara que se consti
durante as obras de urbanização do
tuiu um colégio de aprendizes (r845-
espaço público . Em 1 8 3 9 , o labora
-1872) .
tório de fogos-de-artifício , perten
A Fábrica de A.t'mas, nos seus quatro
cente ao A.t'senal , encontrava-se ainda
departamentos, tinha 346 operários
em Santa Apolónia.
em 1890 e quatro engenhos a vapor
A primeira grande crise do Arsenal do
(dois fixos e dois locomóveis, num total
Exército ocorre em 1869, quando é
de 40 c/v) .
extinto , pela primeira vez, desdobran
Para além da fundição de artilharia e do
do-se na sequência em diversos esta
fabrico de armas brancas e de fogo , o
belecimentos fabris e criando -se o
A.t'senal Real do Exército realizou uma
Depósito Geral do Material de Guerra.
obra notável na história da indústria
Nos princípios do século XX decidiu-se
portuguesa. A partir do século XVI
construir uma nova fábrica militar que
ficou ligado à fundição de pesos e
respondesse às exigências do rearma
medidas , contribuindo para a sua
mento do exército português (1904-
padronização e uniformizaçã o . Em
-19°8) , pois tanto a Fundição de Ca
tos entretanto instalados, significando
1819 fundiu os pesos e as medidas da
nhões como a Fábrica de A.t'mas não
uma gradual mecanização das tarefas
reforma de D , João VI. Também são
acompanharam a modernização exigida
desde 1844 , data dos dois primeiros
conhecidos os estudos realizados no
pelo avanço das técnicas militares no
engenhos a vapor de origem inglesa de
A.t'senal a propósito do fabrico de má
estrangeiro . Todavia , a nova Fábrica de
8 c/v, cada um .
quinas a vapor, desde o tempo do enge
A.t'mas de Braço de Prata fez parte inte
Finalmente refira-se a terceira manu-
nheiro director Bartolomeu da Costa
grante do A.t'senal do Exércit o , desde
factura - a Fundição de Santa Clara,
(t 1 8 0 1 ) . Depois de 1 8 5 0 , chegaram-se
a fundação até 1 9 2 7 , altura em que a
situada nos espaços do extinto conven
a fabricar e a montar engenhos mo
manufactura pombalina foi finalmente
to das clarissas, a nascente do Campo de
trizes. Também ali se estabeleceu uma
extinta (ver , Fábrica de Material de
Santa Clara .
do
oficina de instrumentos matemáticos
Guerra de Braço de Pra ta) .
convento , depois de T755, permitiu a
que contribuiu para o desenvolviInento
ocupação por parte do Arsenal do
da mecânica de precisão em Portugal.
O e ncerramento
34
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U . - -;,.
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Planta Aerofotogramêlrica 3/7- Escala 1:2000. Maio de 1963- Actualizada em Ig87.
E S T A Ç Ã 0 D E C A I'h l n H 0 D E F E R R 0 D E S A n TA A P 0 u:) n I A Localização - Praça da Estação, Rua do Cais
A cobertura de ferro que a caracterizava
betão, facto que veio desvalorizar as suas
dos Soldados, Av. Infante D. Henrique.
in icialmente dispunha de uma
características de esti lo. Reconheça-se que
período de Actividade - 1865- 1998>
interessante portaria metálica encimada
as obras da estação revelam pouca ousadia
Fundadores - Real Companhia dos
pelas armas da casa real. Esta porta da gare
de projecto, sobretudo do ponto de vista
Caminhos de Ferro.
foi apeada, tal como a cobertura de vigas
arquitectónico, em comparação com outros
Actividade - Transportes ferroviários de
de ferro assentes sobre cachorros de pedra,
casos ferroviários europeus.
passageiros e mercadorias. Linhas do Norte
donde recebia iluminação natural através
As suas linhas são sóbrias, procurando
e do Leste.
de chapas de vidraça. Seguindo o padrão
esconder as ousadias dos engenheiros por
Valor Patrimonial - Grande edifício
mais funcional e comum de estações,
detrás de fachadas clássicas e materiais de
albergando cais ferroviário de três pisos,
Santa Apolónia dispunha de uma das obras
construção nobres, como a pedra dos
de planta em U , com três fachadas
de engenharia mais importantes e aquela
cunhais, das sacadas, dos entablamentos,
principais viradas a cada um dos lados
que lhe conferia um lugar na arquitectura
das ombreiras e l intéis, enfim das
de serventia públ ica. Todas as fachadas
do ferro em Portugal - a cobertura
pilastras divisórias dos diversos corpos
dispõem de um corpo central com frontão
da gare de passageiros.
dos edifícios.
classizante, onde se embebeu um óculo
A obra evidenciava algum valor
O vestíbulo, como noutras importantes
com seu mostrador de relógio.
artístico, mas antes de 1872, dezasseis asnas
estações portuguesas, não recebeu grande
As fachadas Norte e Sul têm 135 m de
de ferro da primeira estrutura caíram,
tratamento artístico.
comprimento e a Ocidental 50, 4 m.
tendo-se modificado o seu p l ano inicial.
Optou-se por sol uções construtivas práticas
A gare coberta tem 2 5 m de largo (1955 m'
Esta situação incomodará a Companhia Real
e funcionais, sem relevo decorativo.
de área, em 1872)
dos Cam inhos de Ferro Portugueses,
Estado de Conservação - Bom.
que no entanto, manteve essa estrutura,
Classificação - Sem classificação.
No que respeita à altura, o edifício subiu de 13 m, como foi concebido
apesar das preocupações de segurança.
nos meados do século XIX, para
Todavia, nos anos 50, toda a gare em ferro
aproximadamente mais 8 m.
foi removida e substituída por uma de
37
que atingira Vila Nova de Gaia, em 7 de Junho de 1864. O traçado pressupunha a passagem do vão do Douro , através da Ponte D . Maria Pia , para atingir o Porto , em 1 8 7 7 . A construção desse importante e m preendimento , próprio d e uma cidade que se modernizava, implicava trans formar toda a linha de costa, entre o Arsenal do Exército e a praia de Xabre gas . Escolheu-se o antigo Cais dos Sol dados, onde existia um quartel de artilharia . A grandiosidade do proj ecto determinou a destruição do Cais dos Algarves, do palácio da família Prego , do mercado do toj o , de várias pequenas caldeiras para resguardo de embar Santa Apolónia. in Diário lluStl".ldo, Ano I, n:
D
62,
3' de Agosto,
cações, dos armazéns do azeite de peixe
1872.
ESDE 2 9 de Outubro de 1856 -
portugueses, Thomaz Rumball pro
e da forca da cidade de Lisboa, que
data da inauguração do troço da
punha a localização junto à Fundição
j azem
linha de caminhos-de - ferro , entre
ou no Largo do Intendente ; Hardy
construções ferroviárias. A extensão das
por
debaixo
das mo dernas
Lisboa e o Carregado - até I de Maio
Hislop perto da Igreja dos Anj os, ou
obras obrigou ainda à demolição do
de 1 8 6 5 , houve uma pequena estação
em Xabregas ou ainda no Cais dos
Forte da Cruz de Pedra e do Palácio do
da Linha do Leste, situada junto ao
Soldados ; Harcourt White em Xabregas
Braço de Prata. No local dos armazéns
Convento de Santa Apolónia, a nascen
e J oão Crisóstomo de Abreu e Sousa no
veio a surgir a rotunda das locomotivas,
te da actual gare ferroviária, defronte
Cais dos Soldados. Aquela decisão
uma obra de enorme significado , aliás
da Calçada dos Barbadinhos. O Con
vinha de 1 8 5 3 , mas só se materializou
sacrificada durante as actuais mudanças
vento de Santa Apolónia (ver , Guia
mais tarde. Dois factos fundamentais,
da cidade (r997-1998).
Histórico) pertencia então à Empresa
fizeram crescer o tráfego de pessoas e
Conhece -se uma planta em papel-tela
Construtora dos Caminhos de Ferro
mercadorias, acelerando os projectos
da Estação de Santa Apolónia, com edi
Portugueses , por aquisição datada de
e as obras. Primeiro concluiu-se a
fício dos passageiros e nível da platafor
1 85 2 .
Linha do Leste, até Elvas (inaugurada a
ma, datada provavelmente de 1856, cuja
A localização d e 1865 resultou d e uma
24 de Setembro de 1863) . Vilhena Bar
distribuição de espaços foi parcial
decisãó governamental, que deu corpo a
bosa considerava o obj ectivo B adajoz
mente respeitada.
diversas hipóteses de traçado ferroviário
como o facto ferroviário mais significa
A obra de edificação seguiu os parâme
a partir de uma estação central. Entre os
tivo desta linha. Em segundo lugar, a
tros construtivos da arquitectura de
interlocutores dos caminhos-de-ferro
conclusão parcial da Linha do Norte ,
engenheiros . Em termos de planta era
um empreendimento de grande exten
correu pela serração mecânica "Ace
são , implicando o apetrechamento de
leração" , uma fábrica lisboeta. A obra
uma estação ferroviária similar a outras
pressupôs grandes aterros e construção
j á erguidas em capitais europ eias .
de uma grande muralha de cantaria,
Importava construir um edifício , cujo
que serviu de cais fluvial até ao rasga
mo delo fosse reconhecido pela sua
mento da avenida marginal , que hoje
funcionalidade , uma espécie de obra
liga a Praça do Comércio à EXPO ' 9 8 .
pública de uma empresa privada, na
O início das obras ocorreu e m 20 de
qual se utilizassem materiais baratos,
Outubro de 1 8 6 2 , lavrando-se docu-
entre os quais o ferro . A empreitada foi
mento oficial e terminou dois anos e
adjudicada ao engenheiro Oppermann,
meio depois. Veio a custar 255 164$000
que dirigia uma importante revista , os
réis.
Annales de la Construction, através do
Como obra de engenharia a Estação de
seu representante em Lisboa, o enge
Santa Apolónia caracteriza-se por duas
nheiro Agnes.
partes fundamentais . Uma, entre o
Todavia, antes da obra ter sido entregue
Arsenal e o fim dos edifícios principais,
ao construtor, o projecto foi gizado
é a estação propriamente dita. A outra,
pelo engenheiro João Evangelista Abreu
entre esse limite e Xabregas, constituiu
(engenheiro - chefe) . Este projecto era
a extensa área onde se lançaram todas as
muito harmonioso , mas as modifi
estruturas técnicas e armazéns de apoio
cações que recebeu nas diversas instân
a uma estação ferroviária central. A an
cias governativas e técnicas alteraram
tiga estação tinha já um vasto cais de
substancialmente o conjunto e o risco .
mercadorias, enquadrando as funções
A direcção das obras esteve a cargo de
correspo ndentes a duas linhas que
Angel Arribas y Ugart (director) , de
detinham uma única estação principal.
Nicolas Le Crenier (engenheiro divi
A estação procurava responder às fina
sionário) e do referido Oppermann.
lidades determinadas na experiência
Intervieram ainda D . Eugenio Page ,
ferroviária de então : dispor de gares
o director da Companhia. A sua gran
para viaj antes e mercadorias, oficinas
diosidade implicou subempreitadas.
de reparação , cocheiras para recolha
As
obras de alvenaria foram da respon
sabilidade de firma Charles Pezerat &
Estação Principal dos Caminhos de Ferro do Norte. Vista do lado sul. Foto de A. S. Fonseca.
Estação Principal dos Caminhos de Ferro do Norte. Gare de ferro. Foto de A. S. Fonseca.
de locomotivas e vagões e várias vias
Concebeu-se um importante vestíbulo
de serviço.
junto à porta central da estação , onde a
C . a , de Lisboa, a cantaria esteve a cargo
Do ponto de vista construtivo é um
Companhia construtora foi obrigada
da António Moreira Rato , com esta
edifício , três pisos sustentados por vigas
a criar um espaçoso largo . Equipou-se
belecimento na Boavista, a estrutura de
e colunas de ferro , em toda a extensão
a estação com serviço telegráfico e um
ferro da gare deveu-se a James Blair
das suas paredes de alvenaria, com mar
despacho alfandegário . Os espaços ex
de Glasgow e toda a obra de madeira
cação formal dos cunhais em cantaria.
teriores e interiores foram iluminados a
39
namento ferroviário , a estação conce beu -se para receber as diversas repar tições e departamentos da empresa e as habitações dos chefes das linhas e da estação, entre os quais se salientou o legendário Miguel Queirol (terceiro quartel do século XIX) . Desde o início teve um bufete, depois transformado em restaurante. Nos primeiros tempos a fachada virada ao Tejo serviu de cocheira das carrua gens reais, salões e reservados. Inicial mente tinha apenas quatro vias de serviço . Com a ampliação da estação passou a dispor de sete vias, para os di versos tipos de funções. Tornaram-se bastante conhecidas as Oficinas Gerais de Santa Apolónia. A 6 de Abril de 1908, uma portaria aprova um projecto de ampliação do edifício ferroviário , demonstrando -se finalmente a exiguidade do plano inicial Chegada da Princesa D. Maria Amélia de Qdiam à Gare do Caminho de Ferro do Norte e Leste - 19 de ?\hio de 1886, in 9: Ano, vaI. IX, n: 268, de 1 deJunho, Lisboa, 1886, pp. 122-123.
luz artificial, primeiro a gás (cento e
O Occidente,
ferroviária na cidade de Lisboa. Passou
perante o aumento de tráfego . As mu danças ocorridas corresponderam à in trodução de novos meios de locomoção
cinquenta e dois candeeiros do sistema
então a chamar-se Estação do Caminho
ferroviária, sobretudo. Antes da cele
Weygand, de Paris) , depois a electrici
de Ferro do Norte e do Leste.
bração do r.
dade.
o
centenário, houve pro
D o ponto de vista funcional a orgânica
fundas alterações na Estação de Santa
Estação
interna da Estação de Santa Apolónia
Apolónia marcando uma nova fase da
Central - muito embora o vulgo a ape
modificou-se ao longo das diferentes
sua existência. Se depois de 1890 houve
lidasse
etapas da história dos caminhos-de-ferro
um diminuição da importância da
Inicialmente por
denominada Estação
do
Cais
dos
Soldados -, essa proeminência na vida
em Portugal, sendo curioso observar as
estação, a partir de 1956 o seu significa
ferroviária portuguesa só durou até
mutações ocorridas na estrutura orga
do na vida da empresa afirma-se, com o
1 8 9 0 , p o r altura da construção da
nizativa da empresa responsável pela
alargamento da área da Grande Lisboa,
Estação C entral do Rossio , ligada desde
linha e modo de funcionamento da
sem as correspondentes mutações da
então à..linha de cintura interna, ser
estação . No entanto, para além elos ser
linha ele circulação interna, actualmente
vindo de espinha dorsal da distribuição
viços específicos respeitantes ao funcio -
com troços fechados ao trânsito.
40
, \
I
rl'� � Estação do Caminho de Ferro de Santa Apolónia no Cais dos Soldados, in O Caminho de Ferro Rc\'isitado.
I. �
11111
O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996,
Q íiii? 1 11 1
Lisboa, CP, 1996, p. 27·
A construção de mais um piso veio a
do ferroviário da Estação do Rossi o .
RAM O S , Paulo. IIOS caminhos de ferro e o cais
alterar a escala equilibrada da estação,
B I B LI O GRAFIA,
da Europa", in
contribuindo para a sua falta de graciosi
BARBOSA, Inácio Vilhena, " Caminho de Ferro
°
dade, apesar da linguagem funcional que
de Norte e Leste", in A..rchivo
I996, Lisboa, CP, 1996,
sempre apresentou.
9,° Ano, vol.,
A Estação de Santa Apolónia - tal como
Irmão & c . a , 1866, pp. 1 - 3 e 2 5 - 2 7 ; "A Estação
lIA Estação de Santa Apolónia e a Toponímia de
outros cais ferroviários - foi e é um local
de Caminho de Ferro de Norte e Leste" ,
Lisboa", in
de acontecimentos, espaço de partidas e
in Diario ll1ustrado, Ano t n . o 6 2 . Lisboa,
Lisboa, CML, 1997, pp. 39-44.
chegadas, de mudanças de vida e quoti
31 de Agosto de 1872 ; MESQUITA AIfredo,
IX,
Pittoresco,
n.os I e 4. Lisboa, Castro
diano , de momentos altos da vida do país,
Portugal Piltoresco e Illustrado,
de viagens e sucessos. Conhecer a Estação
p . 86; CÂNCIO, Francisco,
Lisboa, 1903,
Arquivo Alfacinha,
de Santa Apolónia é também acompa
vo1. II, caderno V, Lisboa, 1954, pp. 2 - 3 ;
nhar a história dessas efemérides ou então
ABRAGÃO, Frederico d e Quadros,
das normalidades estatísticas, que mar
Cem Anos de Caminho de Ferro na Literatura
cam a regra ou a excepção dos gráficos dos
Portuguesa,
movimentos económicos e sociais.
ABRAGÃO , Frederico de Quadros,
Nos últimos anos, S anta Apolónia
"16
readquiriu as funções de
ma estação
central, face à diminuição do significa-
-
Lisboa, CCFP, 1956;
A Estação de Santa Apolónia" in
Caminhos de Ferro Portugueses. Esboço de sua História,
Lisboa, CCFP, 1956, pp. 457-470;
O Caminho de Ferro Revisitado.
Caminho de Ferro em Portugal de I856 a pp.
26-28 [ver
também pp. 140 e 345] ; DIAS, João Barros,
Toponímia de Lisboa. IIJornadas,
FÁ B RI C A D A C 0 1'l1 PA n H I A L I S B 0 n E n S E D E TA B A C 0 S Localização - Rua da Cruz de Santa Apolónia, n.O 30.
período de Actividade - Com fabrico próprio desde 1865 a 1881. Integrada na Companhia Nacional de Tabacos e suas continuadoras, entre 1881 a 1961. A fábrica funcionou até 3 1 de Dezembro d e 1932. A partir desta data passam a ser apenas armazéns da fábrica de Xabregas.
Fundadores - José Maria Eugénio de Almeida e João Paulo Cordeiro.
Actividade Industrial - Fabrico de tabacos de fumo e cheiro (folha picada, tabaco em pó, rapé, cigarros, rolo, charutos, cigarilhas).
Valor Patrimonial - A fachada do edifício revela ainda as características de um palácio setecentista (ver Guia Histórico), no qual se instala a fábrica primitiva. Com a Fábrica de Tabacos o edifício solarengo adaptou-se às novas funções industriais, havendo notícia de algumas alterações, nomeadamente na fachada principal. Ali abriram-se várias janelas que mantiveram a riqueza da fach ada, sem modificar profundamente as características iniciais. O seu portal revela decoração da época de fundação. As oficinas fabris do interior do palácio desapareceram em simultâneo com a nova adaptação às funções parami l itares sofridas por este mesmo espaço. Conserva ainda no Planta Aerorotogramêtrica 3/7 e 4/7· Escala 1: 2000. Maio de 1963. Actualizada em 1987.
logradouro interior alguns edifícios das oficinas antigas.
Estado de conservação - Bom. Classificação - Não tem.
43
as coberturas. Os antigos tectos substi '.
.
tuíram-se por um telhado assente em vigas e asnas de madeira, ao mesmo tempo que se constrói uma espécie de
...... l.�•• ' - ,
.
r...
" "
mansarda. Todavia , os documentos per
.'
mitem detectar dois momentos distintos de modificações, um caracterizado por
_.. :. .
adaptação do palácio, nobilitado pela presença do portal e janela brasonada e o Projecto d'altc,'ação de fachada no pr�dio da Companhia Lisbonense dc Tabacos, 1879, Arquivo de Obras. CML.
A
outro , pela ampliação dos corpos regu
INSTAlAÇÃO da Companhia Lis
estatutos aprovaram-se em 29 de No
lares no prolongamento da fachada
bonense de Tabacos, na Rua da
vembro de r 8 6 5 .
anterior.
Cruz de Santa Apolónia, n . o 30, eviden
As
instalações d a fábrica correspondiam
Estes documentos provam as alterações
cia mais um caso de refuncionalização de
a quase um quarteirão, situado entre a
o corridas numa tentativa de adaptação
um espaço não construído para os fins
referida Rua da Cruz de Santa Apo
às novas funções industriais. No entan
industriais. De facto, o prédio pertenceu
lónia (onde se desenvolvia a fachada
t o , a exiguidade das instalações e de
a um importante negociante do tempo de
principal) e a Calçada dos Barbadinhos,
espaço obrigou a ampliações na área do
D. João V, nobilitado, e que veio a per
tendo acesso pela Afonso Domingues,
logradouro e da quinta do comer
der parte da sua fortuna no terramoto de
correspondente às traseiras do antigo
ciante, crescimento por justaposição de
Lisboa de r de Novembro de r755. Sobre
palácio e quinta do grande comerciante
oficinas, entre as quais se deverá referir
o portão principal do palacete ainda se
do período joanino . As características
a casa das máquinas. Os novos edifícios
encontra o brasão de armas de Veloso
do imóvel permitiam adaptações for
revelam uma arquitectura consonante
Rebelo . O prédio andou associado a
çadas às necessidades da indústria, mas
às funções tabaqueiras, com imóveis de
contendas judiciais até ser adquirido
os administradores sentiram que se
alvenarias de tijolo e ferro .
pelos negociantes de tabaco, que apro
impunham alterações indispensáveis.
Entretanto , em r88r, ano do Inquérito
veitando a liberdade de comércio e
Em r 8 7 9 , o administrador da fábri
Industrial, a Companhia Lisbonense de
fabrico, introduzida em r de Janeiro de
ca, Guilherme P. Sá Viana solicita à
Tabacos funde-se com a Companhia
r865, pelo conde Valbom, resolveram
Câmara de Lisbo a a alteração da facha
Nacional de Tabacos, de Xabregas . Dessa
fundar, sem grandes custos de edifi
da do prédio , introduzindo-lhe nova
fusão nasceu a Companhia Nacional de
cação, uma nova fábrica em Lisboa.
fenestração regular no piso inferior do
Tabacos de Lisboa, doravante adminis
A fundação deveu-se à iniciativa de
edifício , em toda a extensão do mesmo .
tradora das duas empresas, a de Xabregas
José Maria Eugénio de Almeida (I8II
O presidente do município Rosa Araújo
e a de Santa Apolónia. O seu destino
- r 8 72) e João Paulo Cordeiro, que
autorizou a obra, acabando por ser exe
industrial passará a andar associado à
constituíram uma sociedade anónima
cutada em conformidade com as exigên
história das companhias que adminis
de responsabilidade limitada com o
cias da Câmara. Por sua vez, o mesmo
trarão a fábrica de Xabregas, até r965.
capital de roo contos, passando para
administrado r , em r 8 8 3 , submete à
Com uma existência curta em termos
450 , pouco tempo depois. Os seus
aprovação um projecto para remodelar
de realização industrial autónoma
(1865-1881) a Fábrica de Tabacos Lis
lhadores . Mandou construir casas para
bonense dispunha de algumas caracte
cinquenta operários na Calçada dos
rísticas próprias detectáveis nas respostas
Barbadinhos, arrendadas entre 8 0 0 e
ao Inquérito de 1 8 8 1 .
1 5 0 0 réis . Abriu uma escola para a
A criação desta unidade obedeceu a al
instrução primária, num edifício que
guns princípios de renovação industrial
mandou reedificar e montou um
do sector , servindo uma fábrica em
"rancho" para operários, uma espécie
grande com 878 operários, quase mais
de cantina primitiva, onde se comia
cem do que a fábrica de Xabregas. Dis
carne uma vez por semana. As multas
punha de motores a vapor de origem
aplicadas pelos patrões destinavam-se a
inglesa (uma máquina de 25 c/v e outra
beneficiar o rancho . O trabalho era
de 8 c/v) , com carregador mecânico de
executado em toda a fábrica e também
carvão para as caldeiras. A resposta ao
numa oficina apetrechada na cidade do
Inquérito revela vários engenhos e um
Porto .
grau bastante elevado de mecanização
A integração da Fábrica de Tabacos
(onze máquinas para fazer cigarro s ,
Lisbonense na Companhia Nacional de
oitenta e uma máquinas d e fazer cigar
Tabacos de Lisboa e nas empresas que
rilhas, vinte e quatro para fazer charutos
lhe seguiram é detectável na documen
e catorze moinhos para rapé) , para além
tação posterior e em anúncios de várias
de muitas outras para as diferentes
épocas (ver, Fábrica de Tabacos de Xa
Projecto d e reconstrução e alteração n o madeiramento d e uma oficina da Fábrica Lisbonense de Tabacos. 1883. Arquivo de Obras. CML.
secções. Na Calçada dos Barbadinhos
bregas) . A concentração industrial que
dispunha de uma litografia bastante
se seguiu às aprovações governativas de
evoluída para a impressão das suas em
1 9 2 7 - na origem da fundação da
Edifícios das antigas oficinas. Estado actual.
balagens. D o ponto de vista tecnológico
Companhia Portuguesa de Tabacos -
B I B LI O GRAFIA,
a empresa era dirigida por um enge
contribuíram para o encerramento das
" Companhia Nacional de Tabacos, Fábrica
nheiro inglês (cigarros e cigarrilhas) ,
instalações da Lisbonense . Os edifícios
de Santa Apolónia. antiga Fábrica Lisbonense".
outro alemão (charutos) e um mestre
industriais e o espaço anexo passaram
in
português para o fabrico do rap é .
gradualmente para as mãos do Estado ,
Directo 2. a parte, Visita às Fábricas, Lisboa,
Segundo Raul Esteves dos Santos, a
ocorrendo a primeira cessão, em Mar
Imprensa Nacional, r881, pp. 339-246;
Companhia de Tabacos Lisbonense
ço de 1 9 3 8 , data em que o Comando
SANTOS, Raul Esteves dos,
tornou-se, por alguns métodos que
Geral e o Batalhão n.O I da Guarda
Sua Influência na Vida da Nação.
pôs em prática, a mais progressiva
Fiscal aí começaram a funcionar. No
Lisboa, Seara Nova, 1974, pp. 83-99;
das nossas fábricas de tabacos (cf. Os
entanto, só em 1 9 6 1 ocorreu a sua inte
CÂMARA, João de Sousa da,
Tabacos, I 974) .
gração total. Hoje encontra-se esta
Tabaqueira,
Entre I 8 6 5 e 1 8 8 1 , a Companhia de
belecida no seu espaço uma unidade
Tabacos Lisbonense desenvolvera uma
da Guarda Nacional Republicana (a
estratégia social de apoio aos traba-
Brigada Fiscal) .
45
Inquérito Industrial de
r88r, Inquérito
O s Tabacos.
2 vaIs . .
História d a
Lisboa, Tabaqueira, 1995.
M u s e u , com s e u s espaços de e x p o s i ções permanente e temporária e servi ços de gestão . A Casa das B o m bas é um e d i f í c i o bastante a l t o , construído de r a i z para a i n st a l a ç ã o das g i gantescas b o m b a s a s p i rantes p r e m e n t e s ( p i so t é r r e o ) a c c i on adas por quatro m á q u i nas a vapor vert i c a i s de b a l an c e i r o , do t i p o W o o l f . datadas de 1 8 7 6 - 1889 ( p i s o s up e r i o r ) , s obre as q u a i s s e c o n stru i u uma p l ataforma de a p o i o t é c n i c o ao f u n c i onam ento dos b a l a n c e i ro s . Aqui f u n c i ona uma p o n te - g u i n c h o que d e s l i za sobre d o i s carris colocados a todo o comprimento das suas p a r e d e s m urárias. D o ponto d e vista a r q u i tectón i c o , a c a s a nobre deste t i p o de centr a i s e l evatórias é o e d i f í c i o de m e l h o r q u a l i dade, i ntegrável na t i p o l o g i a d a a r q u i t e ctura d o ferro , aspecto só v i s ív e l n o interior d o s e u espaço. Planta Aerofotogramêtrica 4/7. Escala 1:2000. Maio de 1 963. Actualizada em 19B7· -
A n ível das fachadas as s o l uções
,
E S T A Ç A 0 E L E VA T 0 R I A D 0 S B A R B A D l n H 0 S I E I I localização
-
R ua do A l v i e l a n . · 1 2 .
Actividade Industrial
-
Abaste c i m e n t o
e n contradas reve l a m um m a i o r comed i m ento c o n s t r u t i v o . N a fachada p r i n ci p a l , as d uas
A entrada faz-se p e l a C a l çada
de á g u a à c idade de L i s b o a .
dos Barbad i n h o s .
Va lor Patrimonial
Pro x i m i dade d o a n t i g o Convento
dos Barbad i n h o s I , u m dos c o n j u n t o s
l a rgo portão de ferro, construído p e l a s
e Igreja dos Barb a d i n h o s .
m a i s c ur i osos d o s e u t i po ,
o f i c i n a s m e t a l ú r g i cas da Compan h i a
caract e r i z a - s e p o r u m reservatór i o d e
d a s Á g u a s , l a d e a d o d e d u a s j a n e las
recepção d a s á g u a s , u m a C a s a d a s
s i m étricas d e d e s e n h o o v ó i d e .
período de Actividade
-
Barbad i n h o s I:
1 8 8 0 - 1 9 2 9 . Barba d i n h os II: 1 929- 1 998>
-
A Estação E l evatória
f u n ç õ e s d o e d i f í c i o e n contram - s e bem m a rcadas. N o piso térreo ras g o u - se um
Bombas a Vapor ( o utrora em
Em correspondên c i a com o p i s o
Á g u a s de L i sboa, empresa fundada em
art i c u lação com o referi d o
superior, os engen h e i ro s -construtores
1 868, a n t e passada da Empres P ú b l i ca
reservatór i o ) e u m a ant i ga C a s a d a s
i n seriram três j an e l ões g e m i n a d o s ,
das Á g u a s Livres ( E PA L ) .
C a l d e i ra s , o n d e h o j e s e encontra o
q u a s e a toda a l a r g u r a da parede,
Fundadores
-
2.' C o m p an h i a das
47
e v i d e n c i ados p o r m o d e l aç õ e s
marcados pelo rev i v a l i s m o românt i co ,
e l em e ntos f u n c i o n a i s de protecção
espec í f i c a s . A e n c i m á - I a s , d entro de
q ue t a m b é m c a r a c t e r i z o u a
( p a r a p e i t o s ) e escadas ( obras de
u m a cart e l a d e reboco m o d e l a d o
a rq u i t e c t ura do ferro, n o m e a d a m e n te
f u n d i ções de ferro a r t ís t i c a s ) .
e n c o n t r a - s e a in s c r i ç ã o Á G UAS D E
n a s obras o n d e se notam u t i l izações
A o r d e m arq u i tectón i c a que marc a
L I S BO A , s i na l i za n d o a f u n ç ã o d o espaço
e x t e n s iv a s d a v i d ra ç a . A grande
todo o e s p a ç o i n t e r i o r é a t o s c a n a , com
da b o m b agem m e c â n i c a .
novidade é o u s o do t i j o l o b urro
s u as c o l u n a s de capitéis e b ases átitas
N o ta rdoz, também se r a s g o u u m
a parente no i n teri or, em t o d o s os
em a ç o e s e us fustes com c a n e l uras,
grande j an e l ã o , a o j e i t o d o q u e
p i s o s , mas com m a i o r r e l evo no p i so
p i n ta d o s a preto.
carac t e r i z ava a f a c h a d a p r i n c i p a l d o
térreo e n o n ív e l superior do piso das
Ordem q u e n ã o se r e s u m e à c o l u n a ,
P a l á c i o C r i s t a l d o Porto de 1 8 6 5 e u m
m á q u i n a s a vapor. N o p i so térreo o
o n d e n a sustentação das v i gas
portão s e m e l h a n te a o da entrada.
t i j o l o s e r v i u p a ra s up o rtar os m a c iços
s e reproduz a l ó g i ca d o e n t a b l a m e n t o
De m o do a aproveitar esta fachada os
das b o m b a s e conj u g o u - se com
c l áss i co . A a n t i ga Casa das C a l de i ras
responsáveis p e l o M u s e u fizeram a q u i ,
grandes b l o c o s de c a n t a r i a ( o n de as
oc upava o espaço marcado exterior
n o a n t i g o e s p a ç o de u m a grande
bombas foram a p a rafusa d a s ) e c o m u m
m en t e por três e d i f í c i o s d e arq u i t e c
c h a m i n é , um átr i o de l azer,
b o n i to l aj ea d o de p e d r a q u e a
t u r a s i m p l e s com s e u s t r ê s frontões
para os v i s i t a n t e s .
g a l e r i a cen tra l eviden c i a . N a s a l a
o c u l ados e s i m e t r i a de portas e j a n e l as ,
O s j an e l õ e s d a Estação E l evatória
das máquinas o tijolo encontra-se
e x c e p t u a n d o - s e a e n trada centra l .
p e r m i t e m a p enetração franca da luz
a rt i c u l a do com p aredes rebocadas
O i n te r i o r era a m p l o , antes da
n o i nt e r i o r d a Casa das M á q u i n a s ,
confer i n do u m a riqueza decorat i v a nas
d e s t r u i ç ã o das c i n c o boas c a l de i ras
d i gn i f i ca n do e s p a ç o e fac i l i t a n d o a
s ua s r e l a ç õ e s com os e n g e n h o s . No p i so
durante a década de c i nq u e n t a .
l e i tura de todo o c o n j u n t o estético,
da p l ataforma , o t i j o l o encontra - s e
As três coberturas, a s s e n t e s
o n d e ferro fundido, l a t ã o , v i dro , panos
a p l i c a d o em t o d a a extensão m ur á r i a e
sobre a s n a s de v i gas de ferro
m ur á r i o s de t i j o l o aparen t e , paredes
no recorte da l in h a de assentamento da
s u p ortav a m - s e por b e l a s c o l unas
reb o c a d a s e p i n t a d a s , m a d e i ra dos
p o n t e r o l an t e , onde f o r m a remate infe
de ferro f u n d i d o .
p a v i m e n t o s e das c a m i s a s exteri ores
r i o r de s e m i c ír c u l o s e decoração de
As o b r a s de a daptação que v i eram
dos c i l i n dros ut i l i zadores s e c o n j u g a m ,
p o n t a s de d i a ma n t e s i mé t r i c o s .
depo i s d a dem o l i ção d i v i d i ram o
conferi n d o v a l o r e s t é t i c o a t o d o
Mas o e l em e n t o d o m i n an t e do i n te r i o r
e s p a ç o em d o i s p i s o s . O p i s o i n fe r i o r
o espaço. Marcado por uma
é o f e r r o , m a t e r i a l de c on strução
f o i r e p art i d o p e l os d iversos serv iços e
d o m i n a n t e e st i l ís t i ca da época
de p r i m e iro p l a n o durante a
m a i s tarde o r g a n i z a d o em função do
v i t o r i a n a - o n de se destacam as suas
Revo l ução I n d u s t r i a l .
projecto m us e o l ó g i c o . O piso s u p e r i or
i n f l u ên c i as a n g l o - sa x ó n i cas - as
Para a l é m d o ferro estrutural que
f i c o u a m p l o , reve l a n d o a s
características artís t i c a s da Estação
o r g a n i z a o e s p a ç o (vigas l am in a d a s em
característ i c a s da a r q u i te c t ura fabr i l ,
E l evató r i a dos Barbad i n h o s n ã o se
I e c o l u n a s de ferro f u n d i d o , c h a pas
serv i n do m odernamente c o m o s a l a
esgotam n a d o m i n an t e e s t é t i c a do seu
estri a d a s ) , há o ferro e o aço u t i l i zado
de e x p o s i ç õ e s temporárias da E PAL.
i n t e r i o r . Tan t o a s f a c h a d a s
nas b o m ba s e nas m á q u i n as ( c i l i n dros,
M u i t o e m b o r a t i vesse desapare c i d o a
e x t e r i o r e s , c o m o os e l em e n t o s
ê m b o l o s , hastes, b a l an c e i ro s , v o l antes,
a n t i g a e s c a d a de c a r a c o l em ferro
decorati vos i nteri ores encontram-se
c o n d e n s a d o r e s , etc . ) e a i n d a os
f u n d i do (de l i n g u a g e m s e m e l h ante às
escadas do p i s o da S a l a das M á q u i n a s )
de 1987. Em 1990, obteve o P r é m i o do
patr i m ón i o i n d u s t r i a l da empresa
e a i m p o n e n t e C a s a das C a l d e i ras, a
Con s e l h o da Europa, p a ra o m e l h o r
a merecer maior c o n s i deração do ponto
Estação E l evatória a Vapor dos
m us e u , aspecto de grande orgu l h o
de v i s ta m us e o l ó g i c o .
Barba d i n h o s reve l a ainda a
d a empresa . E m Port u g a l o M u s e u dos
F i n a l m e n t e ref i r a - se a recuperação
a u t e n t i c i dade e o a m b i en t e de uma
Barbad i n h o s f o i até hoje o ú n i co a
da antiga casa do f i s c a l da Estação
i n st a l ação de bombagem d a era do
receber este ga l ardão. A expos i ç ã o
E l ev a t ó r i a , o n d e a E PA L integrou o seu
vapor, da segunda m et a d e do s éc u l o
permanente i ntegra aspectos v á r i o s
arquivo h i st ó r i c o , composto por
X I X , c o m para l e l o s preservados e m
do patr i m ó n i o m ó v e l d a empresa,
d i versos f u n dos documentai s ,
I n g l aterra e n o s Estados U n i d o s .
i l ustrando os d i versos m o m e n t o s e
fundament a i s p a r a o estudo
A n ív e l d a m a q u i n a r i a o aspecto
s i s t e m as do a b astec i m en t o de á g u a
d a h is t ó r i a do abaste c imento de á g u a
essen c i a l d a Estação E l evatória dos
a L i s b o a , afirmando - se t a m b é m c o m o
em Port u g a l (Arquivos da R e a l Fábrica
Barbad i n h o s é a preservação in situ de
expos i ção d o c u m e n t a l de o utros
das Sedas e Obra das Á g u a s Livres,
quatro m á q u i n as a vapor vert i c a i s de
n úcl eos do mesmo M u s e u ,
da Adm i n i stração das Á g u a s Livres,
b a l an c e i r o , datadas d e 1876 (três) e
nomeadamente do A q u e d uto d a s Á g u a s
da Compa n h i a das Á g u a s L ivres,
outra de 1 889. Todas e l a s são do
L i vres e da M ã e de Á g u a das A m o r e i r a s .
d a Com issão de F i sc a l ização das Á g u a s
sistema W o o l f , m a s a p e rfe i çoadas por
N o exter i o r l o c a l i z a - s e o Reservat ó r i o
de L i s b o a e do Con s e l h o dos
u m a f i r m a de engen h e i ro s
dos Barb a d i n h o s ( 7 5 , 2 m de
M e l horamentos S a n i t á r i o s ) .
- construtores de o r i g e m i n g l es a ,
comprimento po 37 m d e l argura
Estado de Conservação
-
Bom.
I m ó v e l de I n teresse
com f i r m a em R u ã o , W i ndsor 8 F i l s .
e 4 m de a l t ura e u m a capac i d a d e
Classificação
A s q uatro m á q u i n as s ã o d e d u p l a
de 1 0 280 m3) a i n d a u t i l i zado n a
P ú b l i c o h o m o l ogado em 25 de Agosto
e x p a n s ã o de a l t a e b a i x a pressão, com
e l evação de á g u a s do s i st e m a Tej o .
de 1 9 8 4 , m a s q u e espera p u b l i ca ção no
l i ga ç ã o d i recta das hastes do ê m b o l o a
A cobertura o n d u lada de abóbada d e
Diá rio da República. A Câm ara
-
um l a d o do ba l a n c e i r o , enquanto o
t i j o l o s , q u e s e observa do exter i o r ,
M u n i c i p a l de L i sboa determ i n o u
o u t r o se e n contra art i c u l a d o com a
a s s e n t a s o b r e arcadas s i métri cas
uma Z o n a de Protecção para
h a s t e q u e transforma o m o v i m ento
s ustentadas s obre p i l a r e s .
todo o conj un t o das Estações
a lt e r n a d o em c i rcular.
D i v id e - s e em d o i s compart i m e n t o s ,
E l evatóri as I e II dos Barba d i n h o s
A i n s t a l ação das bombas e máquinas in
recebend o a á g u a da casa das v á l v u las
( Z . E . P. n . o 238 de J a n e i ro de 1 9 8 5 ) .
situ, a e x p o s i ção permanente dos
por meio de d u a s c a n a l i zações
Barbad i n h o s e a criação da ga l er i a de
adequadas. J unto ao depós i to
exposições temporárias (esta
de água estabe l e c e r a m - s e o f i c i n a s
ú l t i m a recuperada em 1992) const i t u em
de a p o i o à estação.
um d o s m a i s i m portantes p ó l o s do
Embora a E PA L não con s i dere a Estação
patr i m ó n i o da E PA L e do M u s e u M a n u e l
E l evatória dos Barbad i n hos II c o m o um
d a M a i a ( i de i a de 1919, m a s s ó
espaço c u l t u r a l n o â m b i t o do M u s e u
concreti zada nos f i n a i s d a década
d a Á g ua , e s t a central m o v i da
de o i te n t a ) . A in auguração do espaço
a e lectri c i d a d e , não d e i xa
m us e o l ó g i o ocorreu em
de ser um in teressante e d i f í c i o do
I
de O ut u bro
49
para a bombagem da água do Sena para o Palácio do Rei Sol. As primeiras máquinas a vapor utilizadas na bom bagem da água para abastecimento público surgiram na primeira metade do século XVlI I . Os Barbadinhos não foram a primeira Estação Elevatória de
Águ a
de Lisboa,
nem de Portugal. A "fábrica" da Praia (ver, neste Guia) , constitui a primeira experiência do abastecimento moderno na cidade de Lisboa, utilizando bombas a vapor (1868) . Em Santarém, a Fives - Lille montou uma pequena bom bagem de água a vapor para a cidade, entre a Ribeira e a Alcáçova, em 1878 . A concepção da Fábrica de
Água
dos
Barbadinhos - como então eram co nhecidas as estações elevató rias de Inauguração da chegada das Âguas do Alviela a Lisboa, in
D
O Occiden te.
1880, p . 169.
Água
abastecimento - derivou de duas ideias
ESDE a preservação e musealiza
Livres e na Mãe de
das Amo
fundamentais. Por um lado, apetrechar
ção da antiga Estação Elevatória
reiras, e o moderno assente nos pres
a cidade de Lisboa de grandes quanti
supostos técnicos da elevação de água
dades de água, em todos os bairros, de
de Água dos Barbabinhos muito se tem escrito sobre este importante monu
de um nível inferior para um nível
modo a instalar o abastecimento do-
mento do abastecimento de água à
superior . No primeiro cas o , a água
miciliário , cobrando -se o seu consu
cidade de Lisb o a , cuja bibliografia não
era transportada a longas distâncias
mo por família, empresa ou serviço .
cessa de crescer. Pela sua importância
sempre de níveis superiores para ní
Por outro, introduzir um vector bas
técnica e museológica impõe-se um
veis inferiores, através, sobretud o , de
tante descurado , indispensável numa
estudo não apenas descritivo , mas so
meios baseados na gravidade . No
cidade moderna e em crescimento : o sa-
bretudo comp arativo e integrativo ,
segundo caso , apesar do seu transporte
neamento básico. Abastecimento do
tendo como base o conjunto das
pressupor também a gravidade , uti
miciliário , higiene pública , esgotos,
soluções modernas do abastecimento
lizaram - s e meios técnicos motores
combate aos incêndios reestruturaram
de água às grandes cidades .
para a elevar para pontos mais altos ,
-se a partir das novidades introduzidas
Convém desde já estabelecer a enorme
n ã o sempre necessariamente por meio
nos Barbadinh o s , que colo cavam a
diferença entre o abastecimento de
de b o mbas a vapo r . Recorde-se que
cidade de Lisboa a par de Paris, Bor
água tradicional , de monumental ma
em Versalhes utilizaram-se, no tempo
déus, Lião , Narbonne e Nantes.
terialização no Aqueduto das Águas
de Luís XIV, máquinas hidráulicas
A necessidade de grandes caudais de
50
água obrigou à sua captação a alguma
Windsor & Fils, d e I04 c/v e r o o c/v.
distância e à utilização de meios técni
A inauguração foi presidida pelo rei
cos potentes para a bombear. Assim,
D. Luís I e teve a bênção do arcebispo
a Companhia das Águas de Lisboa
de Mitilene . O contrato entre a Com
obteve autorização para a explorar nas
panhia das Águas e a firma francesa
nascentes do Alviela , no distrito de
realizara-se em r 8 7 6 . Uns anos depois
Santarém . Fê -las transportar p o r
da inauguração , em r 8 8 9 , a Windsor
m e i o de condutas superficiais e sub
&
terrâneas, aquedutos e sifões desde
quina do mesmo tipo , completando
as origens até a um reservatório si
- s e o aparato motriz que garantiu a
Fils ainda fornece mais uma má
tuado nos B arbadinhos (reservatório
completa remodelação do abasteci
receptor) e depois bomb eá-la daí para
mento de água à cidade . As máquinas
outros reservatórios superiores loca
podiam elevar 300 m3 de água à altura
lizados em diferentes partes da cidade,
de 70 metros e uma delas 500 m3 a
servindo diferentes co nsumidores ,
43 metros, servindo os reservatórios
em qualquer lugar onde estivessem,
do Monte e da Verónica resp ecti
desde que estabelecessem contrato
vamente .
com a Companhia.
Por altura d a inauguração , o s B arba
Numa distância de II4 050 metros
dinhos foram visitados por milhares
instalou-se uma primeira captação a
de curiosos interessados em conhecer
longa distância ,
c o m importantes
tão importante melhorament o . Um
des do abastecimento de Lisboa à
obras hidráulicas (aquedutos, sifões e
dos mais credenciados fotógrafos da
comunidade científica e técnica mun-
Directores e engenheiros da Companhia das Águas, in O Occidente, 1880, p. 92.
dade de dar a conhecer as novida
pontes) em todo o percurso e das quais
cidade , Rochinni registou em chapa
dial .
sobressai a ponte- sifão de Sacavém
todas as oficinas e fo ram publica
To davia, em r908 , o crescimento po
(inicialmente metálica) . Na seu termi
dos os retratos dos administradores
pulacional da cidade exigia já alte
no a captação do Alviela atravessa toda
da CAL, responsáveis p elo empreen
rações significativas no sistema de
a Lisboa Oriental, até ao Reservatório
dimento .
condução das águas . Manteve - s e ain
dos Barbadinhos, devendo -se as obras
D epois da elevação de água dos Barba
da, como era natural, o abastecimen-
aos engenheiros Jo aquim Pires da
dinhos assistiu-se ainda à criação do
to do Alviela mas, a partir de r9 3 2 -
Sousa Gomes e José J oaquim de Paiva
sistema de elevação de água do Arco
- 3 3 , montou-se uma nova captação
Cabral C ouceiro .
(bombas a vapor da Worthington , com
de águas a partir do rio Tej o (canal
As águas chegaram aos Barbadinhos
caldeiras da De Nayer) facto que
Tejo) .
em r 9 de S etembro de r 8 8 0 e a
permitiu completar todo o equipa
Estas águas eram conduzidas ao Reser
Estação foi inaugurada em 3 de Ou
mento moderno de abastecimento
vatório dos Barbadinhos, tal como as do
tubro , com três máquinas a vapor
da cidade . Em r 9 0 0 , aquando da Ex
Alviela. Aí as máquinas da Windsor & Fils
vertic.ais do sistema Woolf, fabrica
po sição Universal de Paris, Frederico
continuaraln a cUluprir as suas funções.
das em Ruão pela e mp resa E . W .
Borges de Souza teve a oportuni-
Mas, a bombagem a vapor foi posta em
51
servatório, enquanto a antiga Casa das
ficativo d o abastecimento d e água a
Máquinas ficava a poente.
grandes aglomerados urbanos por
A montagem da nova central data de
meio de máquinas a vapor. S e desde
1 9 2 8 . Construiu -se uma casa com
o primeiro quartel do século XIX,
vários grupos de bombas eléctricas,
o tipo de máquina a vapor se padroni
servida por uma porta central, n a qual
zou a partir do modelo de Woolf,
se mandou colocar um painel de
vertical de alta e baixa pressão e balan
azulejos referente à temática da água.
c e ir o , foi apenas n a sua segunda
O painel foi executado na Fábrica de
metade , que as estações se uniformi
Sacavém. A inauguração ocorreu em
zaram , adquirindo inclusive carac
6 d e S etembro de 1 9 2 8 ,
"Fábrica da Água". Foto Rochinni. Álbum da Companhia das Águas.
com a
terísticas técnicas e estéticas comuns .
presença do presidente da República e
Talvez se possam considerar as estações
Água
dos ministros da Guerra e da Justiça.
elevatórias de
A nova estação procurava dar resposta
Paris (r858) , o u a de Chaillot (r853-
de Austerlitz , em
ao agravamento das co ndiçõ es de
-54) os pontos de partida deste tipo
aprovisionamento de água à cidade.
padronizado de centrais elevatórias
Com o funcionamento da nova esta
a vap o r (ver quadro das Estações
ção , as velhas máquinas verticais e
Elevatórias a vapor) .
bombas de vapor entraram em re
Nos anos seguintes instalaram-se im
cessã o , só funcionando como alterna
portantes sistemas de reservatórios
tiva às falhas da nova central. Esta
- centrais a vapor, como o de Rhyope
situação manteve -se ainda cerca de
Pumping Station, Sunderland (1868-
três décadas , até que as cinco caldeiras
- 6 9 ) , com duas bombas da R. W. Haw
foram desmontadas . Entre 1 9 5 0 e
thorn de Newcastle) , para a Sunderland
1 9 8 0 houve indecisões quanto ao
and South Shields Water c . a (hoj e um
destino a dar às quatro máquinas
museu do mesmo tipo do da EPAL)
da Windsor . Algumas administrações
ou como o de Crescent Hill da Louis
quiseram preservá-las e outras viam
ville Water Pumping, em Louisville ,
nelas um empecilho . Nos princípios
Kentucky (EUA) . Esta última encon
da década de o itenta quase foram
tra-se datada de 1 8 7 6 - 7 9 , correspon
demolidas. Prevaleceu o bom senso e a
dendo no interior à obra que foi
EPAL soube retirar daí uma nova
executada pela C o mpanhia de
causa com a introdução das bombas eléc
filosofia para a conservação e a gestão
de Lisboa, em 1 8 8 0 . Na sequência
tricas, correspondente à Central dos
do seu património histórico .
desta série de monumentos ao abaste
Barbadinhos II, localizada no mesmo
D o po nto de vista tecnológico , a
cimento de água, referira-se ainda o
espaço da Companhia das
de
Estação dos B arbadinhos I corres
de .Papplewik, em Nottinghamshire,
Lisboa, mas posicionada a sul do re-
ponde a um período bastante signi-
onde se instalaram duas bombas da
Casa das Caldeiras. Área superior. Foto Rochinni. Álbum da Companhia das Águas.
Águas
52
Águas
ESTAÇ ÕES ELEVATÓRIAS DE ÁGUA A VAPOR
ESTAÇÕES
LOCALIZAÇAO
DATAÇAO
TECNOLOGIA
C ONSTRUTOR
Samaritanal
Pont-Neuf. Paris
1608 - 1813 1670/71 - 1856/58 1 6 8 � . Restaurada em 1860 1781/82 - 1851/53
máquinas hidráulicas
Jean Limlaer
Panl Notre Dame. Paris
Notre-Dame\!
Marly-Ia- Machine3
Versalhes
Chaillot If
Sena. Paris
Gros-Caillout 5 Bêziers6
Bievre Orb
Bêziers 7 Chaillo. I I '
1783-1858 1826/27 - 1 8 3 7 1844 - 193° 1853/54 19°2
La Plantade
Cais de Billy. Sena. Paris
Port -à-l 'Anglais [O
Sena
Auteuill2
Sena Sena
Maisons-Alfort II
1858
Sena
Saint - Que n 15
Sena
Saint Maurl6
London Bridge'7 Kew Bridgel8
com 14 rodas e 2 I I bombas aspirantes
e Rannequim Swalen
2 bombas a vapor sistema Watt 2 máquinas a vapor
Jean Corclier
2 bombas a vapor (Augustine e Constantine) de sistema Newcomen (aperfeiçoado por Watt)
Irmãos Périer
Comp. dos Irmãos Périer
Jean Cordier
máquinas hidráulicas turbinas Fourneyron 2 bombas a vapor ,Alma e lena) sistema
engenheiros do serviço muni
eipal. Máquinas encomendadas à
Ménilmontant
1865
Tamisa. Londres
1582 18?? - 1944
Brentford
Schneider & C. a de Creusot
2 bombas a vapor de Farcot (alta pressão de 130 c/v) 2 bombas a vapor 3 bombas a vapor 3 bombas a vapor 2 bombas a vapor I bomba a vapor 3 bombas a vapor 4 máquinas hidráulicas dos sistema de Giraud com 480 c/v; 3 turbinas Fourneyron de c/v; 2 máquinas a vapor de 300 c/v cada
Sena
Neuilly" Clichy"
máquina-hidráulica
das de Cornouailles
Cais e Ponte de Austerlitz. Sena
Austerlitz9
Daniel Jo�ly_e J a��es Deamnace Baron de Ville
máquinas hidráulicas
Farcot
Projecto Haussman
Peter Morice
máquina hidráulica
I bomba a vapor de balanceiro e 4- bombas com motor (Harveys)
Cresswell l9
2 máquinas verticais triplas de Hathorn Davey;
1932
motor de cilindro horizontal da Green & Son
Huntington '20 Lichfield21 Milford'2'2
Brindley Park23
Ru�eley
19°5-1968
Hereford
18951r906-
Papplewich 2 6 Basford '27
Bunter Nottinghamshire
Rhyope29
Sunderland
1883-85 1857 1883/85 1868/69
Tees Cottage water
Coniscliffe Road,
Swynnerton 24 Broomy Hi1l25
Bestwood '28
>
Darlington
Maryland (EUA)
I. 1849 - 1965 II. 1907; I I I . 1926/28 1837
Crescent Hill e
Louisville, Kentucky (EUA)
1876/79
East Boston Sewage
Mystic River
1895
Barbadinhos
Rua do Alviela, 12
1880/89-1929
_pumping I, II, III
Chesapeake e Delaware
Canal Pumping-
Louisville pumpingPumping Station30
Port03'2
de Stockton-on-Tees
'Vater 'Vorks Trust
2 bombas da R . W. Hawthorn (Newcastle) . 100 c/v
Thomas Hawksley Sunderland
2 bombas da James Watt Co
L 'archéologie Industrie/le en [rance,
Paris . 1980, pp. +01. .3 TIGUTER, ob. cit. , pp. � I dem , pp. 3°1-306. 5 Ide m , ibidem .
360-368.
6 DAU11AS, Maurice, pp. 402-404·
7
ob.
Companhia das Aguas de Lisboa
4 bombas a vapor
da E. \Vindsor & Fils de Ruào
(1868) Museu da EPAL
1868/69-??
2 bombas a vapor da E . \Vindsor & Fils tRuão)
Companhia das Aguas de Lisboa
1878 1887
I máquina 3 turbinas de 110 c/v (Mahler) e
Compagnie Française des Eaux
4
FIGUIER. Louis, Les Meneilles de .. ), vol. 1I1, Paris, s.d., pp. 291-299· 2 Idem, ibidem. DAU11AS, Maurice,
Arthur F. Gray
3 máquinas a vapor horizontais de
tríplice expansão do sistema Corliss (Allis Co)
Ribeira de Santarém Rio Sousa
I
and South Shields Water Co
sistemas a vapor, a gás e a electicidade
máquinas a vapor verticais
Bonton (EUA)
J'Industrie (.
Museu de Hereforshine
2 máquinas da 'Vorth Mackenzie,
sistema 'Voolf
Praia Santarém3]
máquina de Hathorn Davey
cit,
1980,
(r868) Fives-Lille
paUl' l'Etranger
máquinas a vapor horizontais de 84 c/v
16 FIGUIER, ob. dt., pp. 339-345. BUC HANAN. R . A., Industrial
']
'16
Idem. ibidem.
COSSONS, Neil.
The
BP Book o t Industrial Archaeology,
Middlesex, 1977, Londres, 1978. p. 204. IIp8 Idem, ibidem. 8 FIGUIER. Louis, ob. cit., pp. 313, 315p· 331. 18 BUrr. John e DONNACHIE, 119 Idem, ibidem. HUDS ON . Kenneth. 316; Maurice, oh. cit, 1980, archaeology, Iam, Industrial Archaeology lYorld industrial pp. 407-408. in the British files, ondres, Cambridge. 1979, pp. 191-197. 9 Tdem. ibidem, pp. 316-318. 10 pp. 213-216. )0 The East Boston Sell'age Pumping FIGUIER, ob. cit . , pp. 318, Il. 1 3 . 1 , . 1 5 , Idem, ibidem. 19, 'l.O.21. 2U).2'.�5. Idem, ibidem Station & the Steam Pumping Engines. A .
Idem, ibidem.
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53
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3'
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3 .0 Ano, vol. III, n .o 71, 1 de Dezembro ,
Documentos para a história d o abastecimento
1880, Lisboa Lallement Fréres, pp. 1 9 1 - 1 9 4 ;
de água ,
tação elavatória da Praia se pode in tegrar n este conj unto tecnológic o , pelo tipo d e máquinas instaladas , afas ta-se , no entanto , pelas características estéticas do e difício . A mo ntagem da bombagem eléctri ca insere-se num novo período da era e n e rgética . Na realidade, foi durante a década de vinte que ocor reram as mais significativas trans formações de estações elevatórias a vap o r , entre as quais se menciona a de Tees C ottage em C o niscliffe Road, D arlington, com bombagem eléctrica contemporânea de B arbadinhos II (I928) .
Estação
Águ a dos Bal'badinhos. Album
PllOtogl'aphico
da Estação dos Barbadinhos. Se a es
Água à Região de Lisboa
do Abastecimento de
Companhia de Águas" , in
Companhia d a s Águas de Lisboa.
James Watt C . a , quatro anos depois
Histól'ia
] . B . , "Os Directores e engenheiros da
Elevatória de
R�5�rvatório dos Barbadinhos I.
Lisboa, MOP,
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Lisboa, AAIRL, 1 9 8 1 ;
Elevatória de
Estação
Água dos Bal'badinhos (I880),
Visita Guiada, Coord. António Nabais, Jorge Custódio e Teixeira Rainha, Comissão
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Organizadora da Exposição de Arqueologia
D écouverte de la Route Maritime des Indes.
Industrial, Lisboa, Fórum das PME's, 1984 ;
ExcuI"sion industl'ielle de Lisboa à Thomal',
},{useu da
Ág ua de Manuel da Maia,
Lisboa,
Museu da Água de Manuel da
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Bal'badinhos,
Ville de Lisbonne en Eaux Potables
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Ág ua,
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Visitas Guiadas, Coord. d e Jorge Custódio,
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-139;
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Abastecimento d e
Ág ua à
Separata do Boletim n. o 16
da Comissão de Fiscalização das Obras de Abastecimento de Água à Cidade de Lisboa, 1940; ALVES, João Carlos, "Águas de Lisboa " , in
Quinze Anos de Obl'as Públicas.
54
I932 -194-7,
A
Catálogo de
Volante da mรกquina da Windsor & Fils (1875-1880).
Balanceiro da mรกquina a "apor.
Casa das Bombas. Bomba aspirante premente.
Barbadinhos II. Casa das Mรกquinas.
55
A S I l 0 D . Ill A R I A P I A E E S C 0 lA I n D U ST R I A L A F 0 n S 0 D 0 1ll l n C U E S Localização
-
Perímetro do Convento
da Madre de Deus.
período de Actividade
-
Casa Pia:
1867- 1 998> A última data refere-se à Escola edificada noutro espaço. Actualmente Escola Secundária. Escol a Industria l : 1884-1975.
Fundadores
-
Min istério d e Obras
Públicas.
Actividade
-
Ensino de desenho
industrial e ensino industr i a l . Oficinas técn ico-industriais.
Valor Patrimonial
-
Importante portão de
ferro dá acesso ao interior do ve l h o Asi lo. N um dos c l a ustros e cerca do Convento encontram -se as oficinas da esco l a assis tenc i a l . Estes edifícios reproduzem os modelos da arquitectura industria l Planta Aerofotogramétrica 4/7. Escala I:2000. Maio de 1963. Actualizada em I987.
da época, em pequena escala.
Estado de Conservação Classificação
-
-
Reg u lar.
Instalações inseridas na
área de protecção da Igreja e Convento da Madre de Deus. A I greja da Madre de Deus é Monumento N acion a l , Decreto de 1 6 de J unho de 1910.
57
Oficina da Escola Industrial Manso Domingues. in Álbum de Vieira da Silva. r.,ruseu da Cidade.
O
ASILO D . MARIA PIA foi obra
ocorrido em I9 de Julho, exigiu obras
Domingues, em memória ao importante
de reedificação . A morte da última
arquitecto quatrocentista do Convento
freira, em I869, permitiu anexar-se o
da Batalha, personalidade altamente esti
convento ao asilo .
mada entre a intelligentia romântica
Como casa de correcção , o asilo dirigiu
portuguesa, durante o século XIX .
-se à formação técnica de jovens aban
Depois da sua criação por iniciativa
donados e com cadastro, tendo como
do ministro de Obras Públicas, Antó
objectivo a promoção e a regeneração
nio Augusto de Aguiar, começou por
pelo trabalho . As dificuldades finan
ter apenas um professor - o artista João
ceiras determinaram a criação de salas
Vaz (1859-193I) - e localizou-se, até
de aula e oficinas adaptadas aos edifícios
I897, num edifício da Calçada do Grilo.
preexistentes, de modo a permitir res
A partir de I892 , começaram as obras
posta efectiva às exigências da accção
para a adaptação de alguns edifícios ane
assistencial e educativa.
xos ao Asilo D . Maria Pia, nas traseiras
Em 3 de Outubro de I927, o asilo passa a
do Convento da Madre de Deus. A inau
de assistência para inválidos e
designar-se Escola Profissional de D . Ma
guração das novas instalações, agora em
casa de correcção para menores, cuja
ria Pia, mais consentâneo com a evolução
edifício do Estado , ocorreu em 24 de
fundação data de I4 de Março de I 8 6 7 ,
dos conceitos sociais. Criaram-se dois
Dezembro de I897, passando a dispor
sendo u m a das instituições d o género,
cursos, um de natureza industrial e outro
de boas salas de aula e ficando perfeita
•
mais importantes da cidade de Lisboa .
relacionado com a produção , actividade
mente acomodada, embora sem as carac
A sua entrada destaca-se pelo portão de
prática modelar donde se extraiu o carác
terísticas da Escola Industrial Marquês de
ferro localizado no fim da Calçada da
ter correctivo anterior. Tinha capacidade
Pombal, em Alcântara.
Cruz de Pedra, um dos principais aces
para seiscentos alunos.
Foi pensando nesta mudança que o
sos de Lisboa antiga. O Asilo D . Maria
Tornaram-se célebres as suas oficinas de
primeiro responsável pedagógico da
Pia instalou-se inicialmente no Palácio
carpintaria e marcenaria, que serviram
escola, propôs, em I889, a admissão
do Marquês de Nisa, em Xabregas e
igualmente os alunos da Escola Afonso
de Tomaz Bordallo Pinheiro (I860-
depois os espaços cobertos e cerca do
Domingues, a de entalhador, para além
- I92I), então desenhador da fundição
Convento de Madre de Deus, quando
das oficinas de sapataria e alfaiataria.
de canhões, no Arsenal do Exército .
este passou às mãos do Estado (ver,
Diversas reestruturações administrati
Ambos irão reestruturar o programa das
Guia Histórico e Guia do Azulejo) .
vas abrangeram o Asilo D. Maria Pia.
aulas e das oficinas.
O último marquês de Nisa, D. Domin
A de I93I, ligou-o à I. a repartição da
Em I900, a Escola Afonso Domingues
gos da Gama, caído em desgraça apesar
Direcção - Geral de Assistência, onde se
encontrava-se perfeitamente estabeleci
da sua grande fortuna e casa de origem
englobavam os asilos de sexo masculino .
da, com relevo para o curso de desenho,
(Unhões, Vidigueira e Nisa) , vendera o
tanto elementar, como de arquitectura e
seu palácio, em I862, a um particular
A escola foi fundada em 2 4 d e No
de máquinas, com oficinas de pintura,
que cinco anos depois o cede ao Estado ,
vembro de 1B84, com a designação de
de fundição, carpintaria e serralharia ,
para ali se instalar o asilo . Um incêndio
���Qla de Desenho Industrial Afonso
transformando-se gradualmente num
importante centro de estudos dos filhos
director Avelino Marques Poole da
dos mestres e operários da região de
Costa. O pessoal docente crescera e aos
Xabregas.
cursos do passado somava-se o de Elec
Entre os seus primeiros directores desta
tricidade e de Condução de Máquinas.
ca-se o pintor João Vaz. Salientou-se
Mantinha um quadro de pessoal de
como professor de nomeada Tomaz Bor
origem portuguesa, como fora concebido
dallo Pinheiro , responsável pela edição
nos princípios do século.
da Biblioteca de Instrução Profissional e
O ensino industrial foi extinto em
dos Livros do Povo, personalidade que se
Portugal depois do 25 de Abril, passan
tornou um verdadeiro impulsionador da
do a escola industrial a secundária, com
qualificação técnica dos operários portu
a designação de Escola Afonso D omin
gueses. Professor efectivo desde 1915-16,
gues. As suas relações com o Convento
a sua acção permitiu estabelecer as prin
da Madre de Deus haviam-se esbatido
cipais oficinas desta escola - carpintaria
com as novas instalações escolares do
e serralharia, celebrizando-se como pro
Estado Novo , em Marvila. Mas o velho
Oficina actual de serralharia.
fessor de desenho de máquinas, com obra
Asilo D. Maria Pia, ligado à Casa Pia lá
publicada. Tomaz B ordallo Pinheiro '
permaneceu em Xabregas, mantendo-se
destacou-se também pelo desenvolvi
as oficinas mais importantes.
mento das artes gráficas e da gravura
Parte das instalações da escola foram
química. A escola foi para ele o filtro
aproveitadas para uma secção de artes
Pormenor de calçada fronteira à oficina de senalharia.
onde lançou os factos da vida do indus
decorativas do Museu Nacional de Arte
et de Dessin Industriel de la Circonscription du
trial, e donde saiu depurado de todos os
Antiga (1965) , que, por sua vez, corpo
Sud.
resíduos de interesses económicos e pre
rizava uma protecção ao acervo de cerâ
Ex/remadura Portuguesa, L a
juízos de classe, o seu lúcido julgamento
mica e azulejo, localizado no Convento
Lisboa,
sobre a psicologia do operário (Home
de Madre de D eus , dependente da
Vitorino,
Lisboa,
190 0 ;
1908,
pp.
PIMENTEL, Alberto, Parte - ° Ribatejo.
82-83; RIBEIRO,
Armando
Relatório de Visíta à Escola Afonso
nagem . . . : 1921).
D GEMN. O Museu Nacional do Azulejo
Domingos, Igreja Madre de Deus e Asilo Maria
Com o tempo fizeram-se acrescentos e
foi criado apenas em 1980 (ver, Guia
Pia,
pavilhões, sendo frequentado por cerca
Histórico e Guia do Azulejo) .
de oitocentos alunos, nos inícios da dé
Lisboa, lN,
1913.
Escola Industrial de
"Affonso Domingues".
Sessão do Conselho
Escolar em Homenagem do Falecido Professor
cada de trinta , altura em que foi seu
Thomaz Bordallo Pinheiro, 15
de Outubro
director Furtado Henriques.
BIBLIOGRAFIA ,
Em 1960, a Escola Industrial Afonso
LEITÃO , Carlos Adolpho Marques Exposition
de Lisboa,
Domingues encontrava-se instalada na
Unú'ersel1e de
Quinta das Veigas, a Marvila . Era seu
Industriel et Commercia1. Les Eco1es Industriel1es
Jorge, ·'Introdução". in FranciscD Barbosa, Manual . do ApJ'endiz de Relojoeiro, Lisboa, APAr, s. d .
de
1900. Enseignement Specia1
a 1 Bordallo Pinheiro, saliental"a-se também como desenhador d a Casa Baerlein & C. , entre 1880 e 1890, sendo director d a Escola Superior Técnico.
59
192 1 ;
ARAÚJO, Norberto de, Lisboa,
[1938-39] ;
Peregrinações
CUSTÓDIO,
Normal d e Ensino d e Desenho e professor do lnstituto
Localização - Antiga Estrada de Cheias n . 3. o
Rua G ualdim Pais.
período de Actividade - 1893-1973 Fundador - Inácio de Magal hães Bastos. Actividade Industrial - Fabrico de mal has. Valor Patrimonial - Os edifícios integram -se na tipologia construtiva dos anos 20. O uso do tijolo aparente, embora não se tenha instalado em todo o aparel h o m urário, como se tornou habitual nas fábricas de cerâmica, alcança a sua expressividade nos cunhais, ombreiras das portas, l intéis das j anelas e cimalha da Fábrica de Mal has de Magal hães Bastos. Na arquitectura fabri l sobressaem a inda duas chaminés, em tijol o . É interessante a portaria, actualmente preservada p e l a Câmara Municipal de Lisboa, com repetição de elementos decorativos. Entre os edifícios de arquitectura fabr i l destacam-se nove pavi l hões com
Planta Aerofotogramétrica 5/7- Escala 1,2000. Maio de 1963- Actualizada em 1987_
cobertura de duas águas e grandes
F Á B R I C A D E I'l1 A L H A S D E I n Á C I 0 D E I'l1 A GA L H A E S BAST0S
&-
janelões de i l um inação.
Estado de Conservação - Edifícios
C�
adaptados para serviços camarários. A refunciona l ização da antiga fábrica, para as de instalações do Departamento Municipal de Ambiente ( DMAGGRH - DAG ) e da Divisão de Imprensa Municipal não foi, todavia, extensiva a todo o conjunto. Excl u i u-se entre outros, a casa das máquinas.
Classificação - Sem classificação.
61
dia, Inácio de Magalhães Bastos, nego
para camisolas ínteriores. Esta unidade de
ciante de Lisboa , que procurava um
confecção de malhas teria surgido no local
técnico alemão para trabalhar com
de uma antiga estamparia que sofrera um
máquinas recentemente adquiridas. Ora,
incêndio em 1888 .
este equipamento era precisamente o que
Em 1 9 1 2 - 1 4 , segundo refere Albertina
Reinhart acabara de perder da fábrica de
Dias, quando empregava 2 2 0 operários
Alcântara .
constroem-se dois novos armazéns .
Esclarecida
a
situação ,
Magalhães Bastos convidou Reinhart para
Este aumento de pessoal talvez se possa
mestre da sua unidade fabril,
relacionar com o crescimento dos
que
precisava instalar no Vale de Cheias.
grandes armazéns de venda directa ao
Perspectiva geral da Magalhães Bastos. a partir da Estrada de CheIas.
Magalhães Bastos alojou o mestre na
consumidor, que se expandem nas
HISTÓRIA da Fábrica de Inácio de Magalhães Bastos & C . a de CheIas
proximidade da fábrica, em casa própria,
grandes cidades.
donde depois passou para a quinta anexa,
Entre 1893 e 1920 - as datas neste ponto
anda associada, nas origens, a traições
no mesmo lugar. Apesar de se viver numa
são imprecisas - a firma era propriedade
entre sócios desavindos e a vendas ilícitas,
época muito atribulada, sobretudo du
de Magalhães Bastos. Depois da I Guerra
A
que só a memória oral de familiares ainda
rante a I Guerra Mundial, Reinhart será
Mundial, Magalhães Bastos, envelhecido e
conserva.
um dos mais persistentes empresários da
sem continuador na vida industrial, vende
Um alemão da região da Turíngia, natural
Fábrica de Magalhães Bastos & C. a, desde
a unidade de Cheias a Reinhart, que
de Apolda, onde se desenvolveu a tece
1920 até à sua morte.
movido pelo interesse do seu projecto
lagem de malhas, recebeu uma avultada
A fundação da unidade têxtil de CheIas
inicial ascende a sócio de uma sociedade
herança (1888) . Resolveu então fixar-se
ocorreu assim sob o signo de uma aliança
composta por Euclides Maia e um tal
em Portugal, tendo comprado modernas
entre um negociante com capital e um
Machado . Esta nova sociedade não abju
máquinas de tecer malhas, na cidade
industrial sem máquinas, em 1893 (?).
rou o nome do fundador ficando com a
natal. Mandando-as para Lisboa intro
No fim de século existiam duas impor
duziu essas novidades industriais.
tantes unidades fabris de lãs e malhas em
designação de Fábrica de Lanifícios de
Inácio de Magalhães Bastos & C . a , de
Chamava-se Karl Friedrich Richard
Cheias, a de Francisco Garcia & Matos, de
preendendo-se continuidade do capital.
Reinhart (1861-1934) . Cerca de 1891,
José Pedro de Matos (124!I50 operários)
Na fase empresarial dos Reinhart, os três
instala-se em Alcântara fundando uma
e outra conhecida por João Lourenço
filhos de Friedrich continuaram a obra
empresa com outro sócio. Este empre
de Medely & Filhos (em funcionamento
do pai : Richard Reinhart, filho (tI966) ,
sário inviabilizou o projecto e vendeu as
em 1907) .
Hugo R. (tI966) e Jorge (1893- 1974) .
máquinas ' que Reinhart comprara, sem
As
primeiras referências (datadas de
Se até aos anos 30 os mestres da fábrica
sua autorização, fugindo para o Brasil.
1898) aludem a uma Fábrica de Tecidos
foram alemães, assiste-se, desde então, a
Quis o acaso - que por vezes é bom
em Ponto de Malha de lã e algodão movi
uma "nacionalização " dos cargos desem
conselheiro - que Reinhart (ultimando
da por teares mecânicos modernos, de
penhados na fábrica, regressando à
os preparativos de regresso ao seu país,
origem alemã, onde trabalhavam oitenta
Alemanha vários trabalhadores germâ
filhos) encontrasse no
operários. Ali funcionaram vários tipos
nicos . Nesta altura, a fábrica dispunha
consulado alemão em Lisboa, no mesmo
de teares Jacquard, Rachell e circulares
de alguns instituições sociais, como um
COln
a =ulher
e.
posto médico, uma creche e um refei
Após um período de relativa degra
tório . Aos sábados à tarde havia folga.
dação das velhas instalações fabris, como
A herança industrial deixada por Maga
a oficina de fiação e da tecelagem , em
lhães Bastos aos Reinhart - mas também
1989, a Câmara Municipal de Lisboa,
construída por esta família - era, por
inicia um projecto de recuperação dos
volta de 1920, uma fábrica em grande
imóveis adaptando-os aos serviços técni
para malhas, têxteis, fio e tinturaria, na
cos que ali estabelecera e respeitando a
qual trabalhavam entre 80 e 100 operá
sua linguagem arquitectónico-industrial
rios salientando António de Oliveira
(fachadas, interiores com asnas e colunas
Baptista, mestre de máquinas, deixando
de ferro) . Na antiga oficina de fiação
viva as memórias da sua existência fabril.
montou-se uma tipografia.
Eram conhecidas as roupas interiores,
A importância histórico-industrial desta
os xailes e camisolas, no espectro da sua
unidade radica na introdução da indús
produção .
tria de malhas e de vestuário no tecido
Entre 1 9 2 1 e 1924 deu-se uma nova fase
industrial português. No seu espaço for
de expansão, mas agora no número e
mar-se-ão futuros técnicos e industriais
tamanho das edificações, ganhando o
deste ramo, como o Simões de B enfica,
aspecto geral que hoje revela na sua
que uns anos depois fundou uma grande
arquitectura exterior. Os armazéns de
unidade naquele bairro lisboeta.
Trabalhadores da Magalhães Bastos. Cerca de 1930. Foto Esboço. Lisboa.
1914, foram então adaptados a oficinas, com boas asnas de ferro , ampliando-se também a capacidade energética da
B IBLIO GRAFIA,
fábrica, demonstrada pela existência de
"Fabrique à Chellas de Mrs. Ignacio de
duas casas de máquinas motoras, com
Magalhães Bastos & cal>, in IVe Centenaire de la
suas chaminés.
Découverte de la Route Maritime des Indes.
A fábrica da Magalhães Bastos reproduzia
Excursion industrielle de Lisboa
nos finais da década de sessenta o tipo
Lisboa, 1899. p. 33; CUSTÓDIO, Jorge,
característico de unidade industrial in
o Património Industrial
serida no espaço de uma quinta , como
° caso do Vale de Chelas. separata de
era vulgar em CheIas e, em geral, em toda
l. o Encontro Nacional do Património
a Lisboa Oriental. A quinta anexa foi
Industrial. Actas e Comunicações, Coimbra,
vendida à Câmara de Lisboa em 1968,
Coimbra E d . . 1990. sobreI. PP . 33-34 e 41-45;
e
à
Thomar,
os Trabalhadores:
para ampliação do Cemitério do Alto de
R.AM:OS, Albertina, " Inventário do Património
São João. O seu encerramento ocorreu
Industrial de Lisboa - Vale de Cheias". in I."
em 1 97 2 , depois de um processo de
Jornadas Ibericas de Patl'imonio Industrial y la
falêncilL
e.
integrando -se também no
património do município .
ObLa Publicao-Se.villa:.MoU:iL(L990). ---S e.vilha. Junta de Andalucia, 1994. pp. 176-177.
Trabalhadores da Magalhães Bastos. Identificação através da memória. I.
Fernando Ferreira; 2. Gabriel Marques; 3. Fernando Pinga; Luís Beça; 5. Valadas; 6. Belarmino; 7. :Manuel de Oliveira; 8 . João Henrique de Carvalho; 9 . Felix Pereira; 10. António Augusto; II Abel Cardoso; 12. João Marques; 13. Manuel.. . ; 14. Alberto Seabra; 15. Artur Marques; 16. Manuel Moreira; 17. Evangelino Adão Figueiredo; 18. Armando de Oliveira; 19. António de 01i�·eira. Baptista; 2 0 . Duarte Furtado; 21. Alberto Gomes; 22. O filho do guarda da fábrica ; 23.
j.>
�S · Planta Aerofotogramétrica 6/7. Maio de 1963. Actualizada em 1987. ,
,
F A B R I C A D E P 0 LV 0 RA D E C H E L A S Localização - Largo de cheias.
tel hado em shed em estrutura de ferro.
Actualmente a geradora Krupp pertence
período de Actividade - 1898 - 1 983 (±)
Ex iste também um pequeno n úcleo de
à EDP, estando prevista
Fundadores - O Estado Português, tendo
armazéns j unto à casa da máquina a
a s ua deslocação para o Museu
como base a inovação
d i ese l . O testemunho que apresenta
da E lectricidade, em Belém.
do coronel Barreto.
maior valor patrimonial é a central
Classificação - Os edifícios da
Actividade Industrial - Fabrico
geradora Krupp, de 1922.
arquitectura do ferro encontram-se
de pólvora sem fumo para m u n i ções
Trata-se da força motriz q u e a l i m entava
registados no Inventário do Património
e cartuchames.
toda a fábrica após a s ubstituição
Municipal do PDM de Lisboa.
Valor Patrimon ial - Do conjunto
da energia a vapor.
edificado que constituía a fábrica
N a casa da máquina encontra-se u m a
de pólvora sem fumo pouco subsiste.
panóp l i a de ferramentas da geradora,
Das d iversas oficinas restam os
o quadro de e l ectricidade e o utras
negativos no solo e um edifício em
infra-estruturas para a laboração do
ruínas, do qual se destaca o seu
motor, como o depósito de combustív e l .
o algodão-pólvora, de carácter eminen temente fracturante, não era ainda a pólvora de combustão progressiva, conveniente às armas de fogo . Paul Vieille, químico francês e engenheiro de pólvoras, deu um forte contributo para um explosivo de características pro gressivas. Mas, o cientista que maior im pulso deu à resolução do problema foi Nobel, em 1897 . Este químico sueco, provou a possibilidade de gelatinizar o algodão-colódio pela nitroglicerina . Com esta descoberta, abria-se um novo caminho para as pólvoras nitrocelulósi cas e nitroglicéricas. Em 1 8 8 9 , o então coronel Correia Barreto foi incumbido , pelo director Antônio Xavier Correia Barreto. inventor da pôlvora sem rumo. in Problemas e J\/anipula ções Chimicils, 1911, s/p.
de artilharia João Manuel Cordeiro, de
FÁBRICA de Pólvora sem fumo
A Fábrica da Pólvora de Cheias é dupla
estudar o fabrico de uma pólvora sem
instalou-se em finais do século
mente significativa para Portugal. Por
fumo , para as armas portáteis e bocas
na cerca e em algumas dependências
um lado , vai produzir uma pólvora quí
-de-fogo . Este objectivo prendia-se
do antigo Convento das Religiosas Donas
mica inovadora e por outro, esse avanço
com a autonomização do nosso país face
de Santo Agostinho (ver, Guia Histórico
técnico, ficar-se-á a dever ao fundador
ao trust de Nobel e a uma economia
e Guia do Azulejo) , mais conhecido pelo
da própria unidade fabril, o general
de meios que favorecesse o exército
A
XIX,
Convento de Cheias . A localização de
António Xavier Correia Barreto (1853-
português, numa época de corrida aos
uma fábrica de explosivos nas envolvên
- 1939) ·
armamentos .
cias de casario ou de estruturas religiosas
Só no final de Oitocentos, se deixa de
Correia Barreto veio a obter uma pólvo
não era uma opção comum, pois geral
utilizar a pólvora preta em armas por
ra de primeira qualidade, igual ou supe
mente eram escolhidos lugares ermos,
táteis de fogo , generalizando-se a partir
rior às congéneres alemãs e inglesas.
devido a exigências de segurança.
de então , o uso da pólvora "branca" .
As
suas investigações permitiram-lhe
O fabrico da pólvora para abastecer
Em 1846, descobriu-se o algodão-pól
descobrir, quase ao mesmo tempo de
o exército português fazia-se desde o
vora, por Schonbein e Bottger . No
Nobel, um novo tipo de pólvora química.
tempo de D. Manuel na grande fábrica
entanto , esta pólvora não convinha aos
O grande avanço tecnológico prendia-se
de Barcarena. A criação de uma outra
exércitos , pois quando se procedia ao
com a diminuição do explosivo na cons
estrutura industrial, por parte do Esta
disparo a posição do atirador era de
tituição da pólvora. Doravante, a sua per
do , para o fabrico da pólvora prende-se
nunciada. Várias explosões desastrosas e
centagem passava a ser de 30 %. Houve,
com a necessidade de inovação técnica.
acidentes múltiplos, demonstraram que
assim, a possibilidade de se desenvolver
66
um outro tipo de pólvora baseada na nitrocelulose. João Correia dos Santos salienta que a pólvora sem fum o cons
A
titui pois uma das descobertas que mais nos deve orgulhar a todos, os por tugueses (Problemas e Manip ulações Chimicas, 19II) . Em 1 8 g 8 , abria a fábrica de pólvora sem fumo , sob a direcção de Correia Barreto , estando em laboração até cerca dos anos 80 desta centúria. No
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kCbu-r,u,(k.
início , o espaço ocupado pelas ins
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talalações fabris era muito limitado ,
E..-r=,/u;� ·
não ultrapassando um hectare. Como é
r�C'av-attari.fa
as diferentes oficinas foram construí.
de segurança. As instalações que apre devido
manipulação de substâncias explosivas,
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O�Arro1ca.da,r»o .
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Os edifícios construídos prendiam -se com funções ligadas à secretaria, aos
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depósitos, ao laboratório , ao motor e à fabricação da pólvora propriamen
.�ll
te dita. Assim, as oficinas instituídas inicialmente para a produção da ni troglicerina, da pólvora e da junção destas duas substâncias, organizavam-se em: Oficinas do primeiro grupo , onde
se preparava o algo dão , nitrava- s e , desfilava - s e , lavava - s e , enxugava-se e desidratava - s e . Eram construídas em alvenaria , formando cinco casas contíguas .
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negativa , no subsolo .
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das separadamente devido a exigências maior perigo ,
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usual, em todas as fábricas de pólvora,
sentavam
J. fi,.. '
Planta da fâbrica de pô!vora sem fumo, in "A fabrica de polvora em Chellas",
Rel'úta de Artilharia,
Ano II, n. o 21,
1906.
5 - Existiam ainda as áreas de serra lharia e carpintaria, as casas da caldeira e da máquina a vapor. De início a for ça motriz de toda a fábrica era uma máquina a vapor de firma suíça, Sulzer, com go c/v de potência. A produção desta fábrica abastecia munições para as armas portáteis do exército português como , por exemplo , a s espingardas 8 m m K o u as carabi nas 6 , 5 mm. Após Ig04, com o desen volvimento do armament o , houve a necessidade de alargar gradualmente as instalações e de a equipar com nova fupecto exterior da fábrica de pólvora sem fumo, in
O Occidente,
maquinaria, de modo a responder ao
1901, p. 205·
volume das encomendas.
Mas , foi
durante a I Guerra Mundial, que a fábrica se firmou no municiamento de pólvoras de artilharia e cartuchos de espingarda, metralhado ra e pistola, para o exército português. A fábrica incorporou também oficinas onde se carregavam o s cartuchos das armas portáteis e se fabricavam balas e caixas de cartuchos para a espingarda de in fantaria . Estas últimas oficinas cons tituíram um dos mais interessantes exemplares da arquitectura portuguesa do ferro . Oficina de carhu:ame, in Exposição Internacional do Rio deJaneiro. Secção Portuguesa, Lúro d'Oiro e
�
- Oficinas de segundo grup o , onde
Em IgII , a fábrica de CheIas tinha uma Catálogo Oficial,
1922.
vertia-se a mistura de algodão -pólvora e
capacidjlde de produção de trinta toneladas de nitroglicerina e quarenta
se fazia a nitroglicerina. Aqui prepara
a nitroglicerina em lâminas translúcidas
de nitro celulose. Em relação aos car
va-se e purificava-se o explosivo , mis
e com espessura apropriada de acordo
tuchos, atingia- se o número de 60 mil
turando - o com o algodão -pólvora.
com o fim a que se destinava.
por dia.
3 - Oficinas de laminagem e de granu
4
lação . Nestes espaços de laboração , con-
tufas para a dessecação do algo dã o .
-
Oficinas onde se instalaram as es
68
D o conjunto das diversas infra- estru turas, subsiste um magnífico edifício
de telhado em shed e de colunas em ferro , inserido no que resta do ver dej ante Vale de CheIas, lembrando tempos idos . Numa simbiose entre a oficina e a natureza, a hera começa a cobrir o edifício . A destacar a central geradora Krupp, instalada numa casa própria. A casa da máquina é feita em alvenaria , sendo o seu interior revestido a estuque e com lambris de azulej o . A cobertura é em madeira, sustentada por vigas de ferro , apresentando já algumas infil trações. A máquina Krupp, da central termo eléctrica de I9 2 2 , simboliza a im portância que esta fábrica alcançou na produção da pólvora, pois foi neces
Oficina de pulverização c lavagem do algodão-pólvora, in O Decideme. 1901, p. 205.
sário recorrer a um motor muito potente para fornecer energia- electri cidade a todas as oficinas. Trata-se de um momento de viragem em termos energéticos, quando ainda a distribui ção de electricidade não alcançara todo o território da cidade. Acompanhava -se assim a evolução que Lisbo a vinha sentindo com a inauguração da C entral Tej o , desde I9II. Entre os finais da década de vinte e a de cinquent a , a fábrica de CheIas continuou as duas linhas essenciais de fabrico , acentuando a produção de munições para infantaria. Neste ponto de vista, era uma unidade tecnicamente completa (Filipe Themudo Barata) .
A dado momento passou a designar - se por Fábrica Nacional de Munições
Oficina de carregamento de cartuxo! de infantaria, in Problemas e Manip uJa fdes Chimicas, 19B, p. 395·
69
in
Ano II,
Revista de Artilharia,
n O
2 1 , Lisboa,
Ferreira & Oliveira, Editores, Março, 1906, pp. 478-486; X., "A polvora sem fumo Barreto" , in Revista de Artilharia, Ano III, n.·' 25-26, Lisboa, Ferreira & Oliveira, Editores, Julho -Agosto de 1906, pp. 3 2 -39 e 89-93; SANTOS, J. Correia dos, "Fabrica de Polvora sem fumo" , in
Problemas e
Manipulações Chimicas,
vol. III, Lisboa, 19II,
pp. 387-398 ; "Fabrica de Polvora de Chelas", in Exposição Internacional do Rio de Janeiro. Secção Portuguesa, Oficial,
Livro d'Oiro e Catálogo
Lisboa, 192 2 ; Caixa de Crédito e
Cantina de Víveres do Pessoal da Fábrica de Pólvora em Cheias (SCRL), da Gerência de
Relatório e Contas
[94-0, Lisboa, Imprensa Lucas &
c.a, 1941; "Fábrica de Cartuchame e Pólvoras Químicas (CheIas) " , in
Notícia Histórica
Sobre os Estabelecimentos Fabris do Ministério da Guerra,
Lisboa, Bertrand,
1947, pp. 15-17; BARATA, Filipe Themudo, "Indústria Militar Nacional Como e Para Quê? " , in
Aspecto actual de oficina com telhado em shed.
Nação e Defesa,
pp. IIo-IJ6;
MATOS, Ana Maria de, e TINOCO, Alfredo,
de Armas Ligeiras (FNMAL) . Um novo
B I B L I O GRAFIA,
incremento deu-se durante a II Guer
A. , " Polvora sem Fumo "Barreto" ,
ra Mundial , desenvolvendo -se uma
in
estreita colaboração entre Chelas e a
1 9 0 1 , p p . 2 0 3 e 205 ; PELLEN, Eduardo,
Fábrica de Material de Guerra de
UAssumptos Militares. Polvora sem fumo.
Braço de Prata (ver, neste Guia) .
A Fabrica da Polvora em Chelas",
Foi durante o decorrer dos anos 5 0 ,
in
que as instalações das munições das
SIMÕES, José Maria de Oliveira,
O Occidente,
Indústria da Pólvora e Fundição de Armas.
Ano XXIV, 2 0 d e Setembro d e
Brasil-Portugal,
Roteiro de Visita Guiada, Lisboa, APAI , 1986 ; CUSTÓDIO, Jorge, "As Infra-estruturas. Os Canais de Lisboa" I in Lisboa em
[850-[920, Lisboa, Livros Horizonte, 1994, pp. 121- 12 2 .
1904, pp. 1 2 - 1 3 ; Curso
armas l igeiras se t ransferem para
Elelnentar sobre Substâncias explosivas,
Moscavide. Todavia , o sector químico
Lisboa, Typographia do Arsenal do Exército,
ainda se manteve no mesmo espaço até finais da sua laboração , apesar do
SIMAS, Frederico António Ferreira de,
crescimento urbano de CheIas.
"A fabrica de polvora em Chenas",
val. r.
Movimento.
Central geradora Krupp.
(Ç) r, . .
I
�c •
"j
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7'
. l '; . I
'
V I LA F L A rtl l A n e Localização
-
Com serve n t i a para o
Largo Marquês de N i s a .
Data de Construção
-
1 8 8 r l 888
Proprietários Fundadores
-
Compan h i a
de F a b r i c o d e A l godões de Xabregas.
Valor Patrimonial
-
A s u a l o c a l i zação
j un t o da un i d a d e i n dustri a l , a sua organ ização em duas correntezas formando um p á t i o i n t e r i o r e a sua i m p l antação afastada das vias de c o m u n i c a ç ã o p e r m i tem i d e n t i f i c a r u m d o s paradi gmas da construção h a b i ta c i o n a l para operários de f i n a i s d o s é c u l o X I X . O utros e l ementos q u e i n tegram e s t a construção, no u n i verso d a s h ab i tações operárias, é, p o r exemplo, a sua
Planta Aerofotogramétrica 4/7- Escala 1:2000_ Maio de 1963- Actualizada em 1987-
c o n f i g uração un i forme. C a d a correnteza de d o i s a ndares é c o m p o sta por m ó d u l os repet i t i vos em q u e o r i t m o da fenestração e d a s portas podem ser m u l t i p l icados até a o i n f i n i t o , perm i t i nd o sempre u m a organização r a c i o n a l e e qu i l ibrada, s e m m u itos gasto s . U m outro f a c t o r a c o n s i derar é a dependên c i a e n tre a h a b itação e o local de traba l h o . A construção da V i l a F l a m i a n o p e l a C o m p an h i a de Fabrico de A l g odões de Xabregas é exem p l o d a d i gn i f i cação e da mora l i zação d a h a b itação para os traba l h adores .
Estado de Conserva�ão C lassificação
73
-
-
Reg u l a r.
Sem c l assi f i c a ç ã o .
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na freguesia do Beato com a condição de que as pias e latrinas sejam collocadas pelo lado externo das propriedades, que o solo sobre que hade levantar-se a construção se torne impermeável pelo asfalto ou beton e que sob o pavimento do andar terreo se faça uma caixa d 'ar. A nova área residencial da unidade industrial têxtil o cupava um total de 4040 m" sendo 1 0 8 0 m' p ara as contruções e 2 9 6 0 m' para logradouros e ruas. O espaço central entre as duas correntezas apresentava 14 m de lar gura, estando prevista implantação de árvores . O projecto do bairro é da autoria do
Planta. alçado e corte da Vila Flamiano. 1887. Arquivo de Obras. CML.
engenheiro António Teixeira ]údice,
C OMPANHIA do Fabrico de Al
ponímia do pátio do Black, tratando-se
tendo a empreitada sido adjudicada ao
godões de Xabregas foi uma das
também de um conjunto de habitações
construtor António Machado de Faria e
primeiras empresas portuguesas a cons
para os trabalhadores da fábrica, mais
Maia.
truir casa para os seus operários, numa
concretamente para os fiscais . O nome
A área de instalação das novas habita
época em que era inexistente uma polí
atribuído a este pátio relaciona-se com
ções situava-se nos terrenos da fábrica e
tica governamental de habitação social.
um dos engenheiros fundadores da
próxima desta. O novo bairro operário
A Vil a Flamiano constitui um dos exem
empresa, o inglês Alexandre Black.
compunha-se de dois conjuntos de
pIares da habitação operária mais co
Data de 1887, o proj ecto da Vil a Fla
prédios, com dois andares, identifica
nhecido de Lisboa e é automaticamente
miano entregue à Câmara Municipal,
dos na planta por tipo n.o I e tipo n . O 2 .
associada à empresa fundadora. No
a pedido da Companhia do Fabrico
As diferenças entre estas tipologias resi
entanto, esta construção de 1887-88
de Algodões de Xabregas . Este plano
dem no seu interior, compondo-se o
pertence a um último período das
foi inovador para a época devido aos
tipo n . O 2 de um maior número de
edificação para operários, fomentada
cuidados apresentados com as infra
assoalhadas, variando de acordo com o
pela Fábrica da Samaritana.
-estruturas de saneamento , aspecto ge
agregado familiar. O número de quar
O Inquérito Industrial de 1 8 8 1 , refe
ralmente descurado em outras vílas e
tos oscilava entre dois, três e quatro .
rencia a existência de três prédios para
bairros. Assim, um requerimento de 2 7
Exteriormente as soluções encontradas
habitações dos operários com cinquenta
d e Outubro, submetido a o Conselho de
para a uniformização das diferentes
e um q uartos, sendo o último prédio
Saúde e Higiene Pública, pede para
assoalhadas prendem-se com a utilização
mandado construir expressamente para
construir dois typos de propriedades
repetida de elementos funcionais como as
esse fim. Na tradição oral persistiu a to-
nos terrenos annexos à fábrica situada
janelas e as portas. O edifício tipo n. o I ,
A
74
no rés-do-chão , alterna uma janela com uma porta e o tipo n. o 2 , duas janelas com uma porta. Em relação ao piso supe rior a fenestração marca o ritmo da cons trução. A solução encontrada poderia ser multiplicada infinitamente sem muitos custos, visto que a repetição é feita através de elementos funcionais e não p ela aplicação de motivos decorativos, como o
-=-i-'- U
tijolo , o ferro fOljado ou apontamentos azulejados. Os materiais utilizados na
J
construção da vila limitaram-se à cal, à areia, ao cimento , aos tubos de grés, à casquinha e à telha de marselha. Esta vila reúne duas características da habitação operária que , na maioria das vezes, se encontram individualizadas.
Planta, alçado e corte da Vila Flamiano. 1887. Arquivo de Obras.
Por um lado , organiza-se fora da circu
gural, desta vila de cariz particular, refe
C �,fL.
in
Estudos Económicos e Financeiros.
lação viária. Quando, em 1931, a vila era
re-se que o modesto bairro operário
n. o 3, Coimbra, Imprensa da Universidade,
já propriedade da Sociedade Têxtil do
(. . .) foi construído não só com o fim
1909, p. 104; PEREIRA, Nuno Teotónio,
Sul reconstruiu-se o muro da delimita
de satisfazer a uma necessidade da
E!'olução das Formas de Habitação Plurifamiliar
ção do bairro de acordo com as seguintes
Companhia que administramos, como
na Cidade de Lisboa,
características: a parte da Vila Flamiano
também, e talvez muito principalmente,
autor, 1979; RODRIGUES, Maeia João,
com uma cortina de pouca altura e
para satisfazer a não menos imperiosa
Tradição, Transição e Mudança. A produção do
gradeamento de ferro, ficando nesta um
necessidade de fornecer h a bitação
espaço urbano na Lisboa oitocentista,
portão de ferro em pilares de tijolo, para
barata, confortável e higiénica aos que
nO especial do Boletim Cultural da Assembleia Lisboa, 1979, pp. 45; PEREIRA, Luísa
serventia da vila, mais amplo do que o
tem por única fortuna o produ to do
Distrital,
existente. Por outro lado , a organização
seu trabalho quotidiano ( Catálogo da
Teotónio,
interna das habitações desenvolvia um
Exposição . . . , 1889) .
Uma Perspecti,'a sobre a Questão das
- I88I-I9IO, Lisboa,
"Casas Baratas e Salubres"
sistema de pátio e de comunicação que
1981; C USTÓDIO, Jorge,
permitia a vizinhança e a coabitação social, características inerentes a alguns
3 vols. , Lisboa, ed. do
O Pa trimónio
Industrial e os Trabalhadores: O caso do
BIBLIO GRAFIA,
Vale de Chelas,
separata do
I.
o Encontro
dos bairros para operários.
HInauguração do Bairro Operário em 2 2 de
Nacional do Património Industrial. Actas e
A inauguração do conjunto habitacional
Outubro de 1888", in
Comunicações,
Catalogo da Exposição
Coimbra, Coimbra Ed.,1990;
ocorreu no dia 22 de Outubro de 1888,
Nacional das Industrias Fabris,
e o seu nome deveu-se a um dos funda
Imprensa Nacional, 1889, pp. 93 -91: ;
Prédios e Vilas de Lisboa,
dores da Companhia. No discurso inau-
MATA, José Caeiro da, "Habitações Populares "
Horizonte, 1995, p. 338.
75
vol. II, Lisboa,
PEREIRA, Nuno Teotónio, e BUARQUE, I"ene, Lisboa, Livros
A o r g a n i zação obedece a uma r a c i o n a l i z a ç ã o horizontal e vert i ca l . O e d i f í c i o era bem i l um i n ado pela luz n a t u ra l , face ao r i t m o de fenestrações q u e e v i d e n c i a . A cobertura e r a de q uatro águas p o r vão. Cada vão correspo n d i a a um a l i n h am e n t o vert i c a l de j a n e l as . A l g u m a s das cobert uras apresentam também vestígios de a n t i g o s l a n tern i n s , característ icas q u e a i n d a s e p o d e m observar no l o c a l . A n e x a s ao e d i f í c i o p r i n c i p a l e n c o n t ra m - s e d u a s casas das m á q u i n a s , t e s t e m u n h a n d o dois m o m entos da energia a vapor. N o entanto, a e l e c t r i c i dade foi i n t r o d u z i d a posteriorm e n t e . Envo l vendo a f á b r i c a ant i ga c o n s t r u íra m - s e e d i fícios de a p o i o às a c t i v i d a d e s f a b r i s e s o c i a i s . O i m ó v e l e as c a s a s das m á q u i n a s
Planta Aerofotogramétrica 4/7. Escala 1:2000. �Iaio de 1963· Actualizada em 1987. ,
deveriam ser objecto
-
FA B R I C A D E F I A ÇA0 E T E C I D 0 S D E XA B R E GAS ( V V L G O F Á B � C A D A S A rrt A �tA n A ) Local ização n.O
I,
-
Beco dos Tou c i n h e i ros
em Xabregas, formando u m p á t i o
F i aç ã o e t e c e l agem de panos d e a lgodão ( 1877- 194y). Im portante
de p r o j e c t o s de rec uperação e v a l o r i zação, v i ab i l i zando uma m e m ó r i a c o n d i g n a da p a i s agem i n d ustri a l e urbana d a q u e l e espaço.
Estado de Conservação
-
A l g umas á r e a s encontram - s e oc upadas
i n d ustri a l , encontrand o - se ao c e n t r o o
Valor Patrimon ial
e d i f í c i o fabr i l p r i n c i p a l .
marca i n d u s t r i a l da c i dade, com uma
p o r o f i c i n a s e arm a z é n s .
h i s t ó r i a de re l ev o . Destaca - s e p e l a
C lassificação
período de Actividade Fundadores
-
-
1857-1951
J oão Scott Howort h ,
-
s u a v o l u m e t r i a e p e l a presença
G u i l h e r m e J o ã o H oworth
das d u a s c h am i nés de t i j o l o
e A l e xandre B l a c k .
e o r g a n i z a ç ã o espac i a l .
Actividade I ndustrial
-
Fi ação de
O e d i f í c i o p r i n c i p a l caracteri z a - s e
a l g odão para fabricos manuais
p e l a s ua arq u i tectura i n dustri a l c o m
( e n t r e 1 8 5 8- 1 8 7 7 ) .
para l e l o s n a I n g l aterra e França.
77
Em r u í n a s .
-
Sem c l a s s i f i cação.
1 8 5 7 , altura em que o edifício rectan gular, construído de raiz e com todos os apetrechos para a mecanização da fiação de algodão se concluiu. O seu plano inicial obedecia aos modelos mais avançados das fábricas inglesas . O edifício , descrito por Pinho Leal , tinha então 36 m de comprimento e 21 m de largura , com 108 janelas nas quatro fachadas. Os fundadores de origem britânica co nstituíram uma
companhia
por
acções para a sua administração , com o capital de 150 contos de réis , a 200$000 réis por cada acção . Alexan dre Black notabilizara-se nas obras de engenharia da Fábrica de Santo Amaro , da Companhia de Fiação de Tecidos Lisbonense, entre 1847-49, depois das quais se juntou aos Scott. Inicialmente era apenas uma unidade Fábrica da Samaritaoa. Gravura publicada io Diário /JJuslrado, 1864. p. 182).
0.°
1617, Ano VI, Lisboa, 1877, p. 1 (baseada na gravura do Al"chú'o
Pillol"esco.
F
mecanizada de fiação , apesar dos seus primeiros estatutos, datados de 1 8 5 7 ,
OI uma das mais antigas unidades
Situa-se à entrada do Vale de CheIas,
preverem também a tecelagem, a tintu
maquinofactureiras de Lisboa da se
junto às linhas férreas do Leste e Norte
raria e calandragem do algodão.
gunda metade do século XIX. Instalou-se
e da Circunvalação de Lisboa (desacti
As condições de mercado facilitaram
seis anos depois da Regeneração de 1851,
vada) . Encontrava-se também junto à
a instalação da energia a vapor, até
no tempo do ministro de Obras Públicas,
antiga circunvalação fiscal, da parte
porque Xabregas conhecia desde a dé
Carlos Bento da Silva. Era igualmente
oriental da cidade de Lisboa. A edifi
cada de quarenta as primeiras máqui
conhecida por "Fábrica da Samaritana"
cação desta unidade fabril é contem
nas motoras . A localização da máquina
(em virtude de se encontrar nas proximi
porânea da construção do troço de
a vapor fez-se em casa própria, exte
dades da Fonte da Samaritana) e por
caminho-de-ferro, entre Lisboa e o
rior ao edifício , virada a sul. Com a
" Fábrica do Black" , em referência ao
Carregado , acessibilidade a que se ligou
máquina moviam-se os 4 6 0 0 fusos
engenheiro fundador - Alexandre Black
desde então .
iniciais.
-, a quem se deve a arquitectura indus
As obras começaram em 1 8 5 4 , em
D o ponto de vista empresarial a Fábrica
trial e a montagem dos seus primeiros
terrenos arrendados ao Hospital de
de Algodões de Xabregas foi pertença
equipamentos e máquinas.
S. José. A laboração inaugurou-se em
de duas entidades, a companhia acima
Outro pavoroso incêndio , datado de 1 94 8 , consumiu grande parte do edifí cio , quando já pertencia à Sociedade Têxtil do Sul. Actualmente persistem vestígios desse acidente, nas fachadas, nas coberturas e nas janelas que não foram obj ecto de qualquer recupe ração. O auge desta têxtil, atendendo à infor mação recolhida nos Inquéritos In dustriais de 1881 e 1890, ocorreu no final do século. Nessa altura, laboravam 513 operários, funcionavam 213 teares, dispondo de uma potência de 120 c/v, distribuída pelas duas máquinas. Data deste período a construção de u m bair ro social para os seus trabalhadores , a Casa da Máquina a Vapor L Aspecto actuaL
referida (entre 1854 e 1936) , e a So
Vila Flamiano (inaugurado em Outu bro de 1888) ' .
Casa da Máquina a Vapor II. Aspecto actuaL
Dispôs d e um internato para aprendizes
1862) . Todos estes factos e outros que
ciedade Têxtil do Sul (1934 - 1951) .
no seu interior, sistema utilizado para
envolveram os pais dos menores e as
Durante o período da companhia teve
suprir a falta de qualificação de mão
diversas movimentações grevistas ligadas
diferentes direcções fabris, que mar
-de- obra, aspecto laboral criticado pela
aos seus trabalhadores foram matéria
caram a sua evolução técnica, industrial
opinião pública contrária à utilização
aproveitada pelo romancista Abel B o
e s o cial . Uma mudança qualitativa
de crianças como operários (2/3 do
telh o , n a sua obra Anlanhã, cuj o s
correspondeu ao incêndio de 3 de
total dos trabalhadores) . A cada criança
cenários fabris parecem coincidir com
Agosto de 1 8 7 7 , que criou as condições
do internato abriu-se uma conta
a " Fábrica do Black" , por um lado e
de completa renovação , apetrechando
corrente referente ao respectivo salário ,
com a Fábrica de Tecidos Oriental
-se com a tecelagem mecânica e nova
sendo -lhe entregue quando acabasse
(fundação de 1888) , situada nas pro
potência a vapor. D eve datar desta
o aprendizado , facto que também
ximidades.
altura a nova casa das máquinas e a nova
levantou alguma celeuma na capital.
chaminé da fábrica que , com a pri
Criticava-se ainda o excessivo tempo
Foi integrada na Sociedade Têxtil do Sul, Ld. a , entre 1932 e 1934, manten
meira, marca ainda a paisagem daquele
de trabalh o , contrário ao desenvolvi
do a fiação e a tecelagem j untas , funcio
local .
m ento psíquico das crianças (Caldeira,
nando até à data do último incêndio ,
J
Ver Vila Flamiano.
79
em 1948. Fornecia então, como outras fábricas daquela sociedade, os Grandes Armazéns do Chiado . O seu espaço foi depois aproveitado para pequenos negócios e firmas . Apesar da degradação deste cadáver , o monumento industrial teima em con tinuar.
B I B LI O GRAFIA,
Estatutos da Companhia de Fabrico d 'Algodões de Xabregas,
Lisboa, Imprensa
União- Typographica, 1857 ( BN
-
SC 7056II
V) ; CALDEIRA, C . ] . , "Fábrica de Fiação de Xabregas", in A.rchivo Illustrado, Gravura em Ag�nda dos Grandes Armazéns do Chiado.
Pittoresco . Semanário
vol. IV, Lisboa, Typ . de Castro &
Irmão, 1 8 6 2 , pp. 182 ; Fábrica de Fiação de
1945. p. 36.
Xabregas" , i n de
Inquérito Industrial
1865, Lisboa, l N , 1 8 6 5 , pp. 2 3 3 -236 ;
"Fábrica da Samaritana" , n . o 1 6 1 7 , Ano
VI,
Diário ll1ustrado,
Lisboa, 1 8 7 7 , p. I ; "Fábrica
da Companhia de Fabrico de Algodões de Xabregas", in Inquérito Industrial
de
1881,
Inquérito Directo, 2 . a Parte. Visita às Fábricas, Lisboa, l . N . , 1 8 8 1 , pp. II7-129 e 3 . a Parte, Respostas ao Questionário, idem, pp. 7 1 - 7 2 ; "Companhia do Fabrico de Algodão de Xabregas", in
Catalogo da Exposição
Nacional das Industrias Fabris,
vol. II, Lisboa,
Imprensa Nacional. 1 8 8 9 . pp. 9 0 - 9 3 ; LEAL, Augusto Soares Barbosa de Pinho. e FERREIRA, Pedro Augusto. " Grande Incendio". em
Portugal Antigo e Modern o .
vaI. XII . Lisboa. 1890. pp. 2 0 5 3 - 2054; " Companhia do Fabrico de Algodões de Xabregas", in lVê. Centenaire de la Découverte
Perspectiva actual da cobertura.
80
Tardoz e envolvências.
de la Route Maritime des Indes.
Excursion
industrielle de Lisboa à Th omar,
Lisboa,
I 8 9 9 , pp. 4 � - 4 4 ; ROD RIGUES, Maria João Madeira,
Tradição, Transição e Mudança.
A produção do espaço urbano na Lisboa oitocentista,
n. o
84, especial do
Boletim
Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa,
Pa trimónio In dustrial. Actas e Comunicações,
Coimbra, C o imbra
E d . , I 9 9 0 , sobret . PP · 3 3 - 3 4 e 4 I - 4 5 ; RAMOS, Albertina, " I nventário d o Património Industrial de Lisboa - Val e d e Cheias " , i n
I . " Jornadas Ibericas de
Patrim onio Industrial y la Obra Publica.
Lisboa, I 9 7 9 , pp. 4 5 - 4 6 ; CUSTÓ D I O ,
Sevilla -Mo tril
Jorge,
Andalucia, I994, pp. I 7 4 - I 7 5 ; CUSTÓ D I O ,
O Pa trim ónio Industrial e o s
Tra balhadores, O caso d o Vale d
separata de
Cbelas,
l. o Encontro Nacional do
( r 9 9 0 ) , Sevilha, Junta de
J oAge , ::.E'ãbúc.a da Co.m.panhia d.e ..Eab..Lico d e Algodões d e Xabregas" , i n
81
Dicionário da
História de Lisboa,
coord. de Francisco
Santana e Eduardo Sucena, Lisboa, I994, pp. 37I-37�·
o b a i rro topon i m i camente c o n h e c i d o
p o r V i l a D ias organ i z a - se ao l o n go de um e i x o v i á r i o , que é s i m u l t a n e a m en t e acesso das casas e do p ú b l i c o em gera l . N o e n t a n t o , a V i l a D ias n ã o pre c i s o u d e n e n h u m a d e l i m itação art i f i c i a l d o espaço. A s u a l oc a l ização p o r s i só - fora de todos os e i xos p r i n c i p a i s d e c i r c u l a ç ã o , enta l ad a e n t r e as tras e i ras de variadíssi mas fábr icas e das l i n h a s ferroviárias do N orte e de c i r c u l a ç ã o i nterna - são c o n d i ções preexistentes que c o n t r i b uem e d e f i n e m o i s o l am e n t o e o afastamento destes operários d e o utros n ú c l eos h a b i ta c i o n a i s e de o utras c l asses s o c i a i s .
É p r i n c i p a l m e n te e s t a característica q ue d i s t i n g u e esta v i l a de L i sboa O r i e n ta l , confer i n do - l h e um cunho e x c e p ci o n a l dentro da esfera da
Planta Aerofotogramétrica 3/7. Escala 1:2000. 1laio de 1963. Actualizada em 1987.
construção operár i a .
V I LA D I AS
Local ização
-
A l t o dos To u c i n h e i ro s .
Data de Construção
-
1 8 8 8 , com
a m p l i ações posteriores.
Valor Patrimonial
-
É um conjunto
A s u a arquitect ura é extremamente p o b r e , n ã o tendo n en h um e l emento o u ornamento que a d i st i n g a o u a valorize.
h a b i t a c i o n a l construído para
D e n t r o d a s u a organização
operários n um a zona de forte
i n terna desenvolve u m s i stema
i m p l antação fabri l .
de auto - s uf i c i ên c i a , d i spondo
A V i l a D i a s n ã o reúne a l g umas das
de a l g u m as lojas, cafés, um chafariz,
c aracterí s t i c a s in erentes à m a i o r i a
q u e a n t i gamente abastecia os seus
destas c o n s t r u ç õ e s , t a l c0 ':'1 0 m uros
h a b i tantes e a c t u a l m ente tem uma
d e l i m i ta n d o as h a b itações, uma
ofícina de automóveis ( a n t i ga casa
l ocal ização dentro do perím etro d a
d a cobrança das rend a s ) .
u n i d ade fabr i l o u , e n t ã o , uma
Estado de Conservação
p rox i m i dade do patrona t o .
C l assificação
-
-
R e g u l ar.
Sem c l a s s i f i cação.
é uma referência cons
dos Toucinheiros (Maria João Rodri
tante no romance de Abel Botelho
gues) . A planta apresenta-se correcta em
PEREIRA, Nuno Teotónio,
Amanhã (1901) , local onde habitava um
Nuno Teotónio Pereira.
Formas de Habitação Pluri{amiJiar na Cidade de
grande número de operários da zona de
A sua construção não se deve a nenhum
Lisboa,
Xabregas. Infelizmente o autor não nos
industrial em especial. O projecto visa
RODRIGUES, Maria João,
descreveu com particularidade o exterior
va responder ao alojamento de maior
e Mudança. A produção do espaço urbano na
ou interior das habitações, como o fez
número de famílias concentrando-as
Lisboa oitocentista,
em relação à Ilha do Grilo , entretanto
em espaços exíguos, através do paga
CuJtural da Assembleia Distrital,
p . 5 0 ; PEREIRA, Luísa Teotónio,
A
VILA DIAS
B I BLIO GRAFIA, Evolução das
3 vols . , Lisboa, ed. do autor, 1979 ; Tradição, Transição
n. o especial
do Boletim
Lisboa, 1979,
desaparecida, aquando da construção do
mento de rendas baratas. A Vila Dias
Bairro da Madre de Deus.
organiza-se ao longo do caminho-de
Uma Perspectiva sobre a Questão das "Casas
Situada no Alto dos Toucinheiros, local
-ferro do Norte e adquiriu a sua es
Baratas e Salubres "
de forte concentração de bairros ope
trutura longitudinal . Compondo-se de
CUSTÓDIO, Jorge,
rários, este conjunto de habitações teve
uma única rua, as duas correntezas
e os Trabalhadore" O caso do Vale de CheIas,
como obj ectivo albergar os operários das
de dois andares distribuem-se em todo
separata de
Património Industrial. Actas e Comunicações,
- 1881-1910, Lisboa, 1981, O Património Industrial
1. o Encontro Nacional do
fábricas de tecidos e de tabacos. Na reali
o seu comprimento. Estas habitações
dade, a Vila Dias insere-se num univer
não revelam nenhum cuidado estético.
Coimbra, Coimbra Ed. , 1990, LEITE, Ana
so mais vasto de povoamento operário,
São blocos compostos de j anelas e
Cristina.
situado num enclave do Vale de Chelas.
portas, com um ritmo repetido exausti
muros,
A concentração de pátios (do Barbacena,
vamente . A nível cromático revelam
PEREIRA, Nuno Teotónio, e BUARQUE,
do Firmino, do Inglês, de José Mariano
actualmente uma opção pelo ocre ver
Irene,
Rego e particular da Rua Alves Paiva
melho, mas no início do século encontra
Livros Horizonte, 1995, p. 328 .
Fragoso) e das vilas (Amélia Gomes,
vam-se caiadas, com barra de outra cor.
Moreno , Cristina, Dias) conferem a
Um aspecto curioso na estrutura desta
todo este espaço um fácies peculiar de
Vila é a presença de uma casa de andar
habitação atomizada, de urbanização não
térreo , localizada mais ou menos a meio
expressamente planificada.
da rua, fronteira a um beco transversal,
Em estudos anteriores, a Vila Dias não se
na qual se cobravam as rendas em dias
encontra correctamente estudada, por
fixos de cada mês, por um representante
que houve, por vezes, confusão com
do senhorio. Nos princípios do século
outras situações habitacionais do Alto
XX j á usufruía de iluminação a gás .
Pátios de Lisboa. Aldeias entre
Lisboa, Gradiva, 1991, p. 115;
Prédios e Vilas d e Lisboa,
Lisboa,
Vila Dias. Início do século XX. Arquivo FOlografico da CML.
Vila Dias. Aspectos actuais.
Localização - Rua de xabregas, no extinto Convento de Santa Maria de Jesus da Ordem de S. Francisco.
período de Actividade
-
1840- 1844
Fundadores - José J oaquim Soares de Faria, Francisco Rodrigues Batalha, António José Pereira Guimarães, José António Machado, fundadores da Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense.
Actividade Industrial - Fiação e tecidos de algodão.
Valor Patrimonial - A fábrica transferiu-se para Santo Amaro, onde hoje persistem os edifícios principais, com proposta de classificação no IPPAR.
Estado de Conservação - Ver, neste a Fábrica da Companhia de Tabacos de Xabregas.
Planta Aerofotogramétrica 4/7. Escala 1:2000. Maio de 1963. Actualizada em 1987.
F Á B R I C A D A C 0 rl'1 P A n H I A D E F I A Ç Ã 0 E T E C I D 0 S LISB0nEnSE
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fo ram vendidas a 40$000 réis cada. A criação da Companhia facilitou, em primeiro lugar a correlação e posterior concentração da fiação e da tecelage m , a partir d e oficinas fabris d o s proprie tários , localizadas noutras partes da cidad e . Entre as primeiras iniciativas consta a compra do filatório de algo dão de António José Pereira Guima rães, situado no Palácio do Malheiro , Travessa de S . Francisco Xavier, em S . Sebastião da Pedreira. Diversas dificuldades financeiras da cardação a energia animal e da fiação mecânica que aquele fabricante po ssuía em laboração , há j á alguns anos, deter minaram a incorporação deste capital de origem manufactureira na nova Companhia, em 1 3 de Agosto de 1 8 3 8 .
Incéndio da Fábrica de Fiação e Tecidos da Companhia Lisbonense [veja-se a sua chaminé] . in
O Pantólogo, 184-4-,
Entre o s mecanismos utilizados cons
C O MPANHIA de Fiação e Te
capital de 40 000$000 réis , no in
tava " um motor a sangue de força de
cidos Lisbonense é um marco
tuito de explorar o negócio da fiação
seis bois " , talvez a máquina de cardar
fundamental na história industrial de
e tecidos de algodão . O contexto eco
ou mesmo o filatório . Trata-se, pelo
Lisboa oitocentista . Nasceu em Julho
nómico e o b eneplácito político do se
menos de um engenh o , referido na
de 1 8 3 8 , sendo uma das muitas so
tembrismo aconselhavam a associação
listagem de maquinismos da Com
ciedades e empresas que surgiram
de interesses , tanto de fabricantes
panhia , a leiloar em 1 8 5 1 .
à sombra e sobre o impulso das Pau
manufactureiros, como de negociantes
A história d a oficina d e tecelagem é
tas Alfa ndegárias de Passos Manuel .
de algodão, conhecedores da evolução
um pouco mais complexa. Dos primi
A iniciativa devera-se a alguns pe
da indústria têxtil nos países europeus
tivos documentos sobressaem duas
queno s empresários e capitalistas ,
mais avançados . A autorização o ficial
situações complementares: o aluguer
como José Joaquim Soares de Faria,
que marcou o início da Companhia
do Palácio dos Condes de Camaride,
Francisco Rodrigues Batalha, António
foi conferida pela Carta de Lei de 2 9
na Calçada de Santa Ana e a compra de
José Pereira Guimarães, José António
de Julho d e 1 8 3 9 .
Os primeiros
teares e outras máquinas pertencentes
Machado que , desejando ampliar as
estatutos foram publicados em 1 8 3 8 ,
à firma Pomé & C. a , com fábrica no
perspectivas dos seus negócios , deci
pela "Typographia Patriotica" , de Lis
C ampo Pequeno , postos em liqui
diram criar uma Sociedade Anónima
b o a , prevendo -se uma organização
dação , entre 1 8 3 8 e 1840 . Os maqui
de Respo nsabilidade Limitada, com o
similar às da época. As mil acções
nismos foram transaccionados por
A
88
Luís Sauvinet, um negociante francês
ao Estado , pelo valor de 7 5 0 $ 0 0 0
operadoras fabricadas em Paris, mas
ao serviço de Pomé & c a . AB exigên
réis, por u m período d e quinze anos .
segundo o sistema inglês . D esde o
cias burocráticas de uma sociedade por
N aquele espaço inaugur o u - s e um
início da laboração foi introduzida
acções determinou , ainda , um con
estabelecimento modelar, atendendo
uma máquina a vapor vertical de 2 0
trato com o accionista ] osé Elias dos
às características da indústria p o rtu
c/v, d e origem francesa, que suscitou
Santos Miranda , para aquisição de um
guesa contemporânea.
um enorme entusiasmo na Lisboa de
escritório e armazém.
Esses quinze anos não chegaram a
1840 : Produzem maravilhosos resulta
Entre as tentativas de concentração da
cumprir-se, p o is em 12 de ] aneiro de
dos as machinas movidas por vapor, e é
fiação e tecelagem , anteriores a Xabre
1 8 4 4 , um gigantesco incêndio defla
bastante prasenteiro o ver que m uitas
gas , consta a da aquisição da Fábrica
grado n a ala p o ente do convento,
pessoas curiosas de examinarem de
do Campo Pequeno . D iversas dificul
conduzirá a uma alteração significativa
perto o que têem o uvido preconisar,
dades e a constituição de uma outra
na história desta Companhia.
ficam a dmiradas quando contemplam
companhia concorrente - Companhia
Pelo facto de estar profundamente
que no país já existe o que apenas lhe
Nacional de Fiação e Tecidos (fundada
ligada aos destinos industriais de
constava haver entre os mais civilizados
em 1 8 3 9 ) 1 - impediram a persecução
Xabregas e pela sua importância na
povos (Relatório de 1840) .
dos obj e ctivo s .
cidade de Lisboa (muito emb o ra o
O novo engenho motriz foi montado
N os inícios d e 1 8 4 0 , a Fiação e Teci
edifício do c o nvento seja referen
p elo engenheiro Cauchoix . Esta ino
dos Lisb onense requereu o edifício do
ciado , mais tarde, como fábrica dos
vação , não sendo original na cidade,
Convento de S. Francisco de Xabregas
tabacos) ,
com
criara o efeito de espanto na popu
Guia Histórico) , na posse do
algum pormenor , o momento inspi
lação mais urbanizada . A máquina
Estado desde a extinção das ordens
rador do surto industrial de Lisboa
a vapor (alimentada por três caldei
religiosas, de modo a viabilizar a jun
O riental , no curto período de seis
ras) movia a fiação e a tecelagem.
ção da fiação à tecelagem. O convento
anos (1840 e 1 8 4 6 ) , em que ali esteve .
A fiação estabelecera-se no piso supe
for a quartel e ntre 1 8 34 e 1 8 4 0 ,
A Companhia não ocupou de imediato
rior, onde se instalaram oito enge
(ver,
importa conhe c e r ,
proj ectando-se a instalação d e uma
todo o edifício . Inicialmente esta
nhos com 2 4 0 0 fusos. No piso térreo
penitenciária. D urante as primeiras
beleceu-se na parte nascent e , o nde
encontrava-se a tecelagem, com cento
décadas do século XIX, era rara a
integrou os 3 0 0 operários que vieram
e setenta teares, em 1844 . Para apoiar
construção de fábricas de raiz, pelo
do filatório da Pedreira e dos teares
a produção estabeleceram-se oficinas
que , em geral, as respectivas empresas
da Calçada de Santa Ana . O novo pro
de carpintaria, serralharia , abegoaria
arrendavam ou alugavam edifícios
jecto fabril definiu-se tendo , como
e tinturaria. Em 1843 , expandiam-se
devolutos ao Estado ou a particulares.
paralelo a mecanização a vapor da fia
para a ala poente do convento .
A C o mpanhia de Fiação e Tecidos Lis
ção , seguida na Inglaterra e na França.
Os textos conhecidos referem os di
b o nense fez então um arrendamento
Adquiriram-se máquinas motoras e
ferentes tipos de produtos de fiação e
a no Campo Pequeno. Ali existia jâ uma interessante unidade industrial fundada em 1801, para servir de apoio ao I Esta Companhia instala-se na Quinta de Santo António e na Fábrica de Pomé & C. fabrico de cardações e fiações mecânicas, na qual trabalhou Francis 'Vhee1house. um dos técnicos principais da Real Fiação de Tomar, no tempo de Jãcome Ratton e Thimóteo Lecussan Verdier. Os principais administradores da Companhia do Campo Pequeno foram FeIL...: da Costa Pinto, Theotonio de Sousa Paulino e Manuel Teixeira Bastos. Em 1846, esta firma encontrava-se em crise, sendo convidada a assumir a sua gerência, a antiga sociedade, Pomé & C a .
89
tecelagem ali fabricados, denomina
da Companhia enviam à Inglaterra , o
dos panos grossos, entre o s quais
arquitecto e o engenheiro Alexandre
Primeiros Esta tutos da Companhia de Fia ção
sobressaem cobertores , mantas , cami
Black, para estudarem as modernas
e Tecidos Lisbonense.
sas de malha, baetilhas, cotins de linho
fábricas inglesas.
J. E . , "Companhia de Fiação e Tecidos
e algodão , grosserias, etc.
No entant o , em r 8 4 6 , a Companhia
Lisbonense " , in
Na altura d o incêndio, trabalhavam
arrendou o edifício e comprou o
n. 0 7 , 24 de Fevereiro de 184 2 , p. 7 6 ;
no edifício quatrocentos operário s .
maquinismo de uma Fábrica de Pano
C OSTA, J . E . Rodrigues, "Fabrica de Fiação
O s directores criaram u m a escola para
de Feltro , em Olho de Boi, na mar
e Tecidos Lisbonense". in
B I B LI O GRAFIA,
Typ. Patriotica, 1838 ;
Rel'ista Universal,
Ano I I ,
O Pantó}ogo,
aprendizes, provenientes da infância
gem esquerda do Tej o , junto a Alma
n O I, Lisboa, 1844, pp. 6 - 7 e 11-12.
desvalida , conservaram a igrej a para a
da, adaptada a fiação e tinturaria .
MARRECA, Oliveira,
Obra Económica
educação religiosa e estabeleceram
Oliveira Marreca ( 3 0 d e Novembro de
(1849), Lisboa, CEHCP/IPED , 1983,
um asil o .
r 8 4 8) refere ainda a existência d e um
pp. 55-165 ;
A fábrica manteve -se e m Xabregas de
filatório movido a energia humana ,
e Tecidos Lisbonense,
r840 a 1 8 4 6 , apesar do sinistro. Nos
em Alcântara, nas antigas tercenas,
Typ. da Revista Universal, 1855;
últimos
dois anos funcionou no
em vésperas da inauguração da má
Relatórios d a Direcção d a Companhia de
Palácio d o Marquês de Nisa, próximo
quina a vapor do edifício de Santo
Fiação e Tecidos Lisbonense,
Estatutos d a Companhia d e Fiação
Lisboa,
C . .) ,
do convento . Mas j á nesta altura, os
Amaro .
Anos 1846-1873 (na BN, com algumas
directores e accionistas criticavam o
Na realidade , a tecelagem da Com
falhas, cota pp - 139 V) ; "397 - Companhia
capital fixo , acumulado em edifícios
panhia estabeleceu -se, entre r 8 4 6 e
de Fiação e Tecidos Lisbonense. Breve Notícia
impróprios, na perspectiva de aumen
r 8 5 5 , no C aneiro de Alcântar a , nas
do primeiro período d' existencia " , in
to da produtividade , nascendo a ideia
Tercenas da Casa de Pombal , numa
da Exposição Nacional das Industrias Fabris,
da construção de um estabelecimen
zona contígua aos terrenos de Santo
l'ealisada na Avenida da Liberdade em
to de raiz, adequado à natureza da
Amaro . Nela se praticava um método
vaI. II, Lisboa,
indústria.
de tecer "ao antigo " , por contraponto
CUSTÓ D I O , Jorge, "Fábrica de Fiação e
r.
Catálogo
1888,
N . , 1889, pp. 97-II5;
A partir de r846-47, inicia-se o pro
com a tecelagem mecânica introduzida
Tecidos de Algodões de Santo Amaro" ,
j ecto d a nova fábrica a instalar em
na nova fábrica.
in
Santo Amaro , nos terrenos adquiri
A Fábrica Grande de Santo Amaro foi
direcção de Francisco Santana e Eduardo
dos ao conde da Ponte. O projecto do
inaugurada em r 8 49 .
Sucena, Lisboa, 1994, pp. 376-378.
edifício deveu -se ao arquitecto por tuguês João Pires da Fonte ( r 7 9 6 - r 873) , que irá introduzir e m Lisboa o modelo inglês das fábricas incom bustíveis , d e espaços racionalizados e o rganizados segundo uma lógica pro dutiva ,
adaptada à engenharia
têxtil. N a perspectiva de um empreen dimento deste género , os directores
9°
Dicionário d a História d e Lisboa,
após a saída da Fábrica de Algodão da Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense, em 1844. Perpetuou-se assim uma situação existente em edifício construído para outros fins. Os industriais pouparam os custos de construção de imóvel de raiz para as suas actividades económicas. A história da fábrica de tabacos revela, no entanto, a construção de novos espaços, tanto nos claustros do convento setecentista, como na áreas livres da sua cerca, alguns dos quais chegaram até nós. A fachada da igre ja e do convento manteve-se sensivelmente a mesma, desde a primeira metade do século XIX. Os armazéns da Fábrica de Tabaco de Xabregas situados na Rua de Xabregas e na Rua da Manutenção Mil itar foram restaurados recentemente, pela DGEMN, para neles instalar o CAT Centro de Apoio à Toxicodependência
I; . ' /;j
/ .' Planta Aerofologramétrica 4/7. Escala
1:2000.
Maio de 1963_ Actualizada em
/�
1987.
de Xabregas, mantendo as suas características arquitectónicas . Estes edifícios evidenciam construção primo-novecentista, apresentando módulos regulares repetidos de hangares-tipo, com cobertura de duas
F Á B R I C A D E TA B A C 0 S D E X A B R E G A S
águas assente sobre asnas de madeira e
Localização - Rua de Xabregas, 44-62;
Joaquim Ferreira dos Santos (visconde
col unas de ferro fundido.
Beco dos Toucinheiros, n. 2
Ferreira), José Maria Eugén io de Almeida,
Estado de Conservação
Antigo portão de acesso ao cam inho
Manuel Cardoso dos Santos, Manuel
Classificação - O edifício religioso
de ferro, n. o 72
Cardoso da Costa de São Romão e Franc isco
(convento e igreja) não se encontra
Armazéns na Rua de Xabregas, Armazéns
José da Costa Lobo.
classificado, muito embora seja uma
do Bravo, Rua da Manutenção M i l itar.
Actividade Industrial - Fabrico de tabacos,
presença importante na paisagem de
o
período de Actividade - 1844-1965
-
Bom.
sabão e pólvora.
Xabregas, pela volumetria da sua fachada
Valor Patrimonial - A concessão do
principal . Contemplado no Inventário
e Pólvora de Lisboa: José Isidoro Guedes,
Convento de Santa Maria de Jesus de
do Património Municipal,
Manuel J osé Gomes da Costa J únior,
Xabregas para fábrica de tabacos sucedeu
do PDM de Lisboa.
Fundadores
-
Compan hia de Tabaco, Sabão
9'
industrial e empresarial da mais antiga sociedade industrial do tabaco criada em Portugal - a Companhia do Tabaco , Sabão e Pólvora de Lisboa (1844 -185°). Nas suas origens esta Companhia pre tendeu incluir-se nas tradições dos contratadores do tabaco - fazer um empréstimo ao Estado e segurar o novo contrato do tabaco . O anterior con trat o , entregue à gerência do conde de Farro b o , vinha do início da época liberal, mas só terminava em 1 8 4 6 . O r a , a nova empresa iniciara a sua acti vidade em 1844 , estabelecendo-se na Fábrica do Jardim do Tabaco , na Zona Oriental de Lisboa. Também obtivera capitais consideráveis na Fábrica do Caneiro de Alcântara. Da junção destas duas unidades e procurando rentabi A Fábrica de
O
Tabaco no antigo Convento de S. Francisco de Xabregas. João Pedrozo, óleo sobre tela, 1859. Museu da Cidade.
NASCIMENTO da indústria ta
o tabaco fora, até à independência do
lizar as aquisições em maquinaria, os accionistas pretenderam instalar-se em
baqueira em Portugal, fora do
Brasil, uma das principais fontes da
melhores condições de êxito numa
contexto manufactureiro seiscentista,
riqueza pública, cabendo ao Estado
fábrica regular.
setecentista e primo- oitocentista, ins
o seu arrendamento . Assim, em 1844,
Diversas circunstâncias facilitaram a
creve-se numa importante conjuntura
D. Maria II nomeia uma Comissão ,
montagem da fábrica no edifício do
•
económica e política do cabralismo .
presidida pelo conde de Porto Covo
C o nvento de S . Francisco de Xabregas,
A publicação das Pautas Alfandegárias
com a finalidade de estudar as melhores
a partir do ano de 184 5 , conforme
de Passos Manuel (14. de Janeiro de
formas de rentabilidade do tabaco em
ordenação do governo . Vivia-se um
1 8 3 7) criara condições propícias ao
benefício da fazenda ' .
período de euforia capitalista. Os taba
proteccionismo industrial em Portugal ,
A conjuntura política d o país, entre
cos vicejavam desde 1674 num clima
mas dificultara os grossos negócios do
1842 e 1850, favoreceu os negócios do
de protecção estatal, que garantia o
tabaco , dependentes do mercado bra
tabaco , pelo menos até à revolução da
monopólio , com efeitos significativos
sileiro, cuj a independência se reflectia
Maria da Fonte e à Patuleia, mas de
na compra da matéria-prima, no estan
na antiga metrópole, desde 1 8 2 2 . Ora,
pois reflectiu-se negativamente na vida
co do tabaco e até na sua manufactura,
I
Os restantes membros da Comissão eram o visconde da Oliveira, par do Reino. Florido Rodrigues Pereira Ferraz, Feliz: Pereira de Magalhães e Francisco António Fernandes .da Silva Ferrão,
conselheü·os. O D ecreto da Secretaria deEstado dos Negócios da Fazenda vem referendado pelo respectivo ministro de D . Maria n, barão do Tojal (Diário do Governo, Lisboa.
92
1844,
n. o
89).
quando se pensou produzi-lo num
que o fabrico de tabacos continuasse no
regime fabril. A criação da Companhia
Convento de Xabregas, local que se tor
Confiança Nacional e do Banco de
nou uma espécie de catedral da sua
Lisboa estabeleceu elos fortes entre ca
produção em Portugal, entre r846 e
pitalistas e banqueiros , aliança fomen
r 9 6 5 . Todavia, se ali se manteve mais do
tada por Costa Cabral. A r de Maio de
que uma centúria, não significa que
r 8 4 6 , o contrato de tabaco era assim
a empresa administradora fosse sempre
entregue à nova Companhia, represen
a mesma, em termos de designação e
tando a parte fabril, Francisco da Costa
de grupos económicos. Independente
Lobo , enquanto José Maria Eugénio de
mente da persistência de capitais dos
Almeida e José Isidoro Guedes ficavam
mesmos grupos monop olistas ,
responsáveis pelo sector comercial.
rificaram-se significativas mudanças
ve
O contributo empresarial de Francisco
relacionadas com os sistemas de explo
da Costa Lobo é geralmente reconhe
ração e contratos do tabaco e ainda de
cido e encontra-se documentado nas
objectivos empresariais. Acrescente-se
mais importantes referências biblio
que o estudo dos tabacos e da Fábrica de
gráficas da indústria dos tabacos. Os
Xabregas não é muito fácil, pela diver
métodos de produção de rapé e de
sidade de aspectos políticos, económi
manipulação dos charutos tinham evo
cos, sociais e financeiros que envolve ,
luído . O sistema manufactureiro , de
sobretudo se se pensa numa pequena
tradição espanhola, encontrava -se em
síntese.
Lisboa a Thomar.
decadência pela introdução de tecnolo
Entre r 8 5 0 e r 8 5 7 , a Fábrica de
a Companhia Nacional de Tabacos
gias fabris oriundas da Inglaterra, da
Xabregas esteve entregue à Comp anhia
( r 8 5 7 - r 8 6 0 ) , dando posteriormente
Fâbrica de Tabacos de Xabregas, i n ExcursioJl industridle de Lisboa, 1899, p. 34.
França e da Alemanha.
do Tabaco e Sabão de Lisbo a , demons
forma à Companhia da Fábrica de Xa
A nova Companhia pensou de imediato
trando - s e , mais uma vez, a relação
bregas (r8 6 0 -r8 65) . Com esta última
na mecanização dos fabricos. Em r846, a
intrínseca ancestral entre o estanco do
termina uma etapa do monopólio da
Fábrica de Xabregas dispunha de duas
tabaco e o do sabão, adjudicada a gran
indústria em Portugal, começando um
máquinas a vapor, de origem inglesa,
des famílias da capital, as quais força
novo regime de liberdade fabril e
para picar as folhas de tabaco e fazer rapé,
vam a perpetuação do monopólio. Foi
comercial, permitindo a fundação de
cada uma com 25 c/v. A montagem dos
neste período que Francisco da Costa
inúmeras fábricas no território conti-
motores determina o início da produção
Lobo leva os produtos de Xabregas às
no referido Convento , pois houve entre
exposições de Londres de r85r e de
nental e nas ilhas adjacentes (legislação de Joaquim Thomaz de Lobo d 'Âvila).
r845 e r846 , de fazer as adaptações e
Paris de r 8 5 5 . Mas o curto tempo de
A importância adquirida pelos tabacos
instalar os equipamentos, numa situação
sete anos não teve grandes reflexos na
de Xabregas, desde r 8 4 6 , viabilizou a
algo confusa de mudança de inquilinos.
vida da fábrica.
sua continuidade na nova fase de li-
O desaparecimento da Companhia do
Uma nova empresa monopolista vai
berdade comercial, entre r865 e r888 .
Tabaco , Sabão e Pólvora não impediu
nascer sobre as bases das anteriores,
Mais do que viabilização tratou-se de
93
renovada Companhia da Fábrica de
formada por Fonseca Santos & Viana,
Tabaco , em Xabregas, a nova compra
Azevedo & Irmão , Francisco Ribeiro da
dora do edifício , das máquinas e dos
Cunha e j oão Henrique Ulrich júnior,
seus utensílios ao Estado , pelo valor de
sendo seu presidente António Augusto
r 4IO 500$000 réis. Na passagem do
de Aguiar.
regime de monopólio para o livre , os
Entre r865 e r 8 8 0 , a vida da Fábrica de
operários tabaqueiros desempenharam
Xabregas prende-se a uma etapa muito
junto do governo um papel fulcral,
complexa de lutas laborais, que vão
solicitando a liberdade de indústria,
desde o despedimento de centenas de
situação que contribuiu para ultrapassar
operários até à contratação de mulheres
os esquemas organizativos manufac
e crianças para as actividades fabris
tureiros ainda persistentes. A represen
(cerca de r879) , vários ciclos de greves,
tação operária determinou a publicação
participação nos movimentos da Inter
da Carta de Privilégios da Companhia
nacional Socialista, fases sem laboração
da Fábrica do Tabaco em Xabregas
e surgimento de associações dinâmicas,
(r864) , através da qual o rei D . Luís e o
como a Associação de Socorros Mútuos
ministro joaquim Thomaz Lobo d 'Ávila
Fraternal dos Operários dos Tabacos,
fazem saber a todas as autoridades, quais
que publica a I I de Outubro de r 8 7 9 , o
as isenções, privilégios e liberdades que
jornal A Voz do Operário.
conferem aos caixas gerais da fábrica de
O estabelecimento do exclusivo dos ta
tabacos de Xabregas - isto é, um regime
bacos em Portugal continental, ini
de privilégio em plena liberdade comer
ciativa do Estado liberal, entre r888 e
cial e fabril.
r89r, determinou que a Fábrica de Xa
Um ano depois, processa-se a fusão
bregas funcionasse sob a tutela da admi
Aspecto actual do extinto Convento de Xabregas.
da Companhia da Fábrica de Tabaco ,
nistração central durante três anos . É o
construção do seu lugar proeminente
em Xabregas com a Companhia de
período da " Régie" , obra económica de
no universo da indústria tabaqueira
Tabaco e Sabão da Boa Vista, nascendo
Oliveira Martins, através da Adminis
portuguesa, pois mesmo em regime de
a Companhia Nacional de Tabacos em
tração- Geral dos Tabacos. Nessa época
liberdade, alcançou o monopólio efec
Xabregas, cuj a existência se prolonga
manufactura o tabaco de rapé, o tabaco
tivo do tabaco até à emergência da
até r 8 8 I . A concentração acelera-se,
fino de tipo havanês, os havaneses, La
Tabaqueira de Braço de Prata (r927) .
envolvendo agora a Companhia Lisbo
Palomita e as cigarrilhas Exploradores
Para Raul Esteves dos Santos, Xabre
nense de Tabacos (Fábrica da Cruz
Portugueses e Suissas.
gas constituiu o fulcro à volta do qual
de Santa Apolónia - ver este Guia) ,
No entanto , a partir de 23 de Março de
viria a girar a indústria tabaqueira no
dando origem à Companhia Nacional
r 8 9 r , o Estado concedeu o exclusivo
nosso País ( Os Tabacos, r974) . A nova
de Tabacos de Lisboa. Em r 8 8 r , a
do fabrico no continente a empresas
etapa inicia-se eTn r 8 65 . A unidade
fábrica ficou entregue
uma Sociedade
que concorressem para o efeito . Assim,
industrial passa a ser administrada pela
Anónima de Responsabilidade Limitada
entre r89r e r927, a Fábrica de Xabregas
94
a
esteve sob a égide da Companhia dos
sas , na sequência dos acontecimentos
Tabacos de Portugal, empresa com sede
políticos do �5 de Abril, determinaram
em Lisboa. Foi a oportunidade para a
a integração da Intar com a Tabaqueira,
entrada do grupo económico e ban
SARL, dando origem à Tabaqueira
cário liderado por Henry Burnay no
- Empresa Industrial de Tabaco s , EP
monopólio do tabaco, tanto em Xabre
(I9 7 6 - I99I), desde I 9 9 I , uma Socie
gas como nas suas filiais. O capitalista
dade Anónima.
era rival do Banco Santos & Viana,
A alteração de sociedades ao longo
de Francisco Isidoro Viana. Nunca até
destes cento e cinquenta anos, se bem
então , as relações entre a indústria do
que muito útil , não explica cabalmente
tabaco e a história económica do país se
o movimento industrial da Fábrica de
mostraram tão fortes. De facto , a en
Xabregas , as suas particularidades e
trega do novo contrato representara
resultados. Nos primeiros anos, a di
a realização de um empréstimo com a
minuição do número de operários de
finalidade de consolidar a dívida flu
I�35 (I85�) para 800 (r88I) , para 5I8
tuante e a despesa extraordinária do
(I890) reflecte a progressiva intro
Estado nesse período de crise política e
dução de máquinas operadoras e a
económica, que fez vibrar os portugue
gradual mecanização e a diminuição do
Cigarreiras d e Xabregas. fotografia d a aguarela d e Roque Carneiro. in Francisco Câncio. Arrabaldes de Outro,.a, \'01. II. cad. 5, pp. 33·
ses depois do Ultimatum inglês e do 3I
trabalho braçal, característica essen
cigarros aumentavam também (de dez
de ] aneiro do Porto.
cial da indústria na sua fase manu
para dezasseis), mas dominava a panó
Terminada a administração monopo
factureira. A estrutura tradicional do
plia de maquinismos para picar, cortar
lista ocasionada pela Régie de I890-9I,
trabalho dará lugar à especializa
o tabaco , moer o rapé e engenhos de
a Companhia de Tabacos de Portugal
ção profissional (charuteiros/as, hava
pique. Aliás, a produção reflectia ainda
dissolve-se e restabelece-se uma outra
neiros, cigarreiras, empacotadeiras) .
as utilizações dos tabacos no universo
com nova designação , a Companhia
A produção sinaliza também as capaci
cultural oitocentista. Em I88I, fabri
Portuguesa de Tabacos, SARL (r9�7-
dades técnicas do fabrico nas diferentes
cavam-se lIOO charutos/dia por dois
-I965). Foi esta última, que virá a cons
etapas.
operários e 400 havaneiros/dia/ope
tituir a Intar - Empresa Industrial de
Os Inquéritos de I 8 8 I e I 8 9 0 são
rário, produziam-se também cigarrilhas
Tabacos, SARL (I9 6 5 - I976) . Duran
fundamentais para um entendimento
(� kg/dia/operário) e cigarros (idem) ,
te o último período da Companhia
mais adequado da Fábrica de Xabregas,
mas a dominante era o tabaco picado , o
Portuguesa de Tabacos, SARL (I957-
numa altura que se iniciam novas
de pó e o rapé.
-I965) o fabrico de tabacos sai do
mudanças empresariais. A crescente
O diagrama de fabrico pressupunha a
C onvento de Xabregas para um novo
complexificação das tarefas obrigava à
existência de um directo r , um sub
edifício construído de raiz situado em
utilização de força motriz a vapor: duas
-director, um engenheiro , um mestre de
Cabo Ruivo , implicando uma mudan
máquinas fixas em I88I (55 c/v) e três
rapé, um mestre da folha picada e dois
ça radical na história deste sector em
em I890 (I50 c/v) , para além de uma
mestres de charutos. O pessoal mais
Portugal. A nacionalização das empre-
locomóvel (8 c/v) . As máquinas de fazer
habilitado era estrangeiro. A unidade
95
que ainda hoj e se conhece à direira do convento . Trata-se de um novo edifício construído de raiz, com organização industrial em três pisos e uma fenes tração regular, destinado à mecanização dos fabricos dos tabacos enrolados. Em 1898, a sua produção atingira um renome nacional, com os seus cigarros finos e ordinários e com as suas capas de tabaco (mimosos, elegantes, coquettes e chie) e as suas capas de papel (Santa Justa, Negritas, Emir, High-Life, Oran, Antoninos, Lusos, Gamas, Elegantes e Egypcias) . Houve também que melhorar a rede comercial e iniciar a exportação para o mercado ultramarino . Um importante incêndio na Fábrica Ampliação da Fâbrica de Xabregas. 1892.
de Xabregas (1904) , suscitou apreen
fabril possuía, em 1 8 8 1 , oficinas de
de largas tradições : Banco Fonseca,
sões . Mas o acidente não afectou os
litografia, pregaria, carpintaria e serra
fabricos nem o comércio , salvando-se
lharia, tornando -se auto-suficiente.
Santos & Viana, conde Daupias, Henry Burnay & C. a , Carlos Maria Eugénio
os arquivos da administração. A reno
A concessão de 1891 à Companhia de
de Almeida, entre outros.
vação do contrato em 1906, permitiu à
Tabacos de Portugal, do exclusivo do
As novas relações da Companhia de
Companhia dos Tabacos de Portugal,
fabrico , aumentou a força dos indus
Tabacos de Portugal com o capital
independentemente dos ataques da
triais de Xabregas, então a fábrica-mãe
(70 % do total) e técnicos estrangeiros,
comunicação social e do conflito de
de quatro unidades industriais, duas em
geraram algumas novidades nas fábricas
interesses com a Companhia Portu
Lisboa e duas no Porto (Lealdade e
portuguesas após 1891, nomeadamente
guesa dos Fósforos, continuar a gerir
Portuense) . Os seus capitais ascendiam a
na fábrica-mãe de Xabregas . A insta
com qualidade as unidades fabris de
nove mil contos. Todas produziam uma
lação de novas máquinas para enrolar
que dispunha.
média de 2 500 000 kg por ano , la
cigarros e cigarrilhas, permitiu a pro
A história da administração desta
borando com um universo de seis mil
dução de uma média de 100 mil uni
Companhia, entre 1891 e 1 9 2 7 , per
operári o s . Nas novas circunstâncias
dades/dia,
o nde primavam marcas
mitiu a afirmação da industrialização
sociais foi possível criar uma caixa de
diversificadas e produtos de qualidade
dos tabacos, mas nas condições acima
socorros para os operários, instituída
superior para exportação .
apreciadas. Este período corresponde
por João Paulo Cordeiro. Grandes ca
Data de 1 8 9 2 , uma importante alteração
também ao alargamento dos espaços
pitalistas portugueses ou naturalizados
da presença da fábrica na paisagem de
fabris na zona cle .Xabl'egas . O aumento
encontravam-se ligados a uma indústria
Xabregas. É desse período a ampliação
da produção pressupunha a existência
96
de largos e vastos armazéns, áreas que contribuíram para o enxamear dos negócios e da paisagem social tabaquei ra da Zona Oriental da cidade. Em 1 8 9 6 - 9 7 , adquirem-se os armazéns do Bravo e, por volta de 1902 , cons troem-se os da Rua de Xabregas e da Manutenção Militar. Por outro lado , o facto da Companhia pagar uma renda fixa ao Estado , não impediu que o país saísse deste negócio prejudicado . As próprias relações entre o Estado repu blicano não foram as melhores, con tribuindo a questão dos tabacos para a instabilidade política anterior à instau ração do regime ditatorial do 28 de Maio. Em 1 9 2 7 , os edifícios de Xabregas são integrados nos bens da C ompanhia Portuguesa de Tabacos (capital de 2 000 002$50 escudos/ouro) . Duran te esta gerência a Fábrica de Xabregas receberá bastantes b eneficiações
e
adaptar-se-á aos novos tempos. Uma das mais importantes obras deste pe ríodo foi a instalação de uma Cen tral Eléctrica (1929) . A montagem da Central Eléctrica, da qual se conhecem os alçados, determinou a demolição de uma Casa das Caldeiras e outras obras do século XIX. A arquitectura da Central Eléctrica obedeceu à lógica da implantação da fábrica, erguendo-se num dos pátios da fachada norte do convento . O edifício constava de dois corpos gémeos com cobertura de lanternins , sobre asnas de madeira à
Fabrica de Tabacos de Xabregas, Alçado. I8g2. Arquivo de Obras. CML
97
[CDMPRNH/R
.PDR TU5UEZA
= r.A E1R/C.A
DE
TFiBFiCDS
DE X.AE1.RE5A .5
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Fábrica de Xabregas. Central Eléctrica. Casa das Caldeiras. Óleos.
1927.
Arquivo de Obras. CML.
francesa , servido por cinco portas e
Equipou-se ainda uma maternidade e
Neste período, assistiu-se a uma alteração
quatro j anelas, todas com bandeiras de
serviços médicos. A organização e finan
na estratégia das produções da Compa
volta inteira e vidraças. No interior a
ciamento dos serviços de assistência
nhia, na qual colaborou a Fábrica de
central ocupava o espaço de um dos
da Companhia Portuguesa de Tabacos
Xabregas. O fabrico de cigarros de carac
corpos, enquanto no outro se encon
dirigia-se a todo o pessoal da firma,
terísticas populares e de grande consumo
trava dividido entre a Casa das Caldei
envolvendo o acompanhamento clínico
crescia perante o impacto introduzido
ras e um depósito para óleos.
completo, para além da maternidade e
pela empresa concorrente, a Tabaqueira.
Na sequência da sua política social para
creche. O modelo assistencial integrava as
Assiste-se ao reforço da mecanização do
os operários, em 1936, a Companhia
caixas de reforma (10 % sobre o salário) ,
sector cigarreiro e à introdução de
Portuguesa de Tabacos solicita autoriza
reformando por sua própria conta a cate
marcas de relevo no mercado , tabaco fino
ção da Câmara Municipal para demolir
goria mais antiga do pessoal (Indústria
e aromático (marcas Aviz, Sporting,
uns pardieiros sitos na Rua de Xabregas,
Portuguesa) , atingindo a quantia de
Sagres, entre outras) .
n. o 6 0 , para ali construir o edifício da
2046 contos, em 1936. Ainda em 1945,
Nos anos 5 0 , esta Companhia era pro
creche para os filhos dos seus operários,
é ampliado o refeitório, a partir de obras
prietária de um grande empório taba
bem como das instalações da Direcção
executadas no espaço de = dos claustros
queiro na Lisboa Oriental. Para além,
-Geral dos Serviços Fabris e Técnicos.
do convento, à direita da igreja.
das duas fábricas, a do Convento de
Xabregas e dos armazéns da Cruz
do Cabo Ruivo , o cigarro com filtro
B I BLIO GRAFIA,
de Santa Apolónia, dispunha de uma
(195 8) , o cigarro de filtro extralongo
Companhia de Tabaco, Sabão e Pólvora. Lisboa.
litografia na Calçada dos Barbadinhos , n . o 2 5 , d o s armazéns na Rua d e Xabre
(1959) e os cigarros de lote ultramarino
1853;
exclusivo .
Fábrica do Tabaco em Xabregas, durante o
gas e do Bravo , na Rua da Manutenção
A mudança das instalações fabris de
Semestre do Ano de
Militar (estes armazéns vieram a situar
Xabregas para Cabo Ruivo o c o rreu
Nacional, 1864; " Companhia Nacional de
-se nos terrenos adquiridos à fazenda
durante o ano de 1962 , mas manteve-se
Tabacos. Fábrica de Xabregas" ,
nacional e a D. José da Costa Men
ainda em 1 9 6 3 , altura em que a Fábrica
Industrial de
donça de Menezes, em 1902) .
de Xabregas conclui a sua longa história
Visita às Fábricas, Lisboa, L N . , 1881, pp. 333-
A renovação do contrato de tabaco com
relacionada com a manipulação e o
-337; "Fábrica de Tabacos de Xabregas,
a Companhia Portuguesa de Tabacos,
fabrico de tabacos.
in
Carta dos Privilégios da Companhia da
Inquérito
1881, Inquérito Directo,
O Réc1ame,
2. o
1864-, Lisboa, Imprensa
� a
Parte.
n. o � 4 , Lisboa, Agosto de 1885.
depois do triénio de 1 9 2 7 - 1 9 5 7 , fez
Quando a empresa muda de razão
RODRIGUES, Guilherme, "O Edifício
voltar a sua administração à Fábrica de
social, em 1965, a indústria de tabacos
da Fábrica de Tabacos em Xabregas" ,
Xabregas, pela última vez. As circuns
estava completamente estabelecida em
em
tâncias históricas desta renovação são
C ab o Ruivo, integrando as fábricas
N ationale de Tabacs", in IVê Centenaire de la D écouverte de la Route Maritime des Indes.
O Recreio,
pp. � 1 2 - 2 1 3 ; "Compagnie
acompanhadas pela morte dos seus
Lisbonense e as do Porto , para além da
principais administradores , uns anos
fábrica-mãe . Uma nova fase da indús
Excursion industrielle de Lisboa à Thomar,
Lisboa, 1899, pp. 34-38 ; "Companhia
antes. Manuel António Moreira Jú
tria do tabaco inicia-se em Portugal.
nior (tI953) e João Henrique Ulrich
Até então a Companhia exercia a sua
Portuguesa de Tabacos. Assistência Particular
(tI956) tinham sido os continuadores
actividade nas fábricas do Estado , por
ao Pessoal" , in
da obra da Companhia de Tabacos de
arrendamento . Com a criação da fábri
CASTRO, Armando, "Tabaco, Indústria de",
Portugal e da administração das suas
ca de Cabo Ruivo , a empresa dispunha
in
quatro empresas. Os novos adminis
de unidade fabril própria mediante
Livraria Figueirinhas, 1967; SANTOS, Raul
tradores pensaram em outros voos.
licença, pondo ponto final nas carac
Esteves dos,
Mantiveram as estratégias de concor
terísticas fabris emergentes das práticas
da Nação,
rência com a sua émula de Braço de
da contratação de tabaco, que eram a
MORAlS, Maria Paula Paiva de Oliveira Serém
Prata, introduziram melhores métodos
norma antecedente.
de;
Indústria Portuguesa,
1937;
Dicionário d e História d e POl'tugal,
Porto,
Os Tabacos. Sua Influência na Vida
2 volumes, Lisboa, Seara Nova, 1974;
A Companhia Nacional dos Tabacos
de fabrico e pensaram, nos finais da
Depois da saída do fabrico de tabacos de
- 184-4--1927, Lisboa, 1990 (manuscrito) ;
década de cinquenta, na construção de
Xabregas ocorreram diversas utilizações
RAMOS, Albertina, UInventário do Património
uma nova fábrica que encerrasse o esta
do espaço conventual. O Instituto de
Industrial de Lisboa - Vale de Cheias",
belecimento de Xabregas . Essa fábrica
Formação Profissional encontra-se ali
in I .a sJornadas lbericas d e Patrimonio
inovador a será montada em Cab o
instalado, desde 1976. O Teatro Ibérico
Industrial y la Obra Publica. Sevilla-Motri1
Ruivo , perto d o s Olivais . A ideia estava
ocupa a antiga capela do convento. Mais
(990), Sevilha, Junta de Andalucia, 1994, pp.
já no papel em 1958, prevendo-se a sua
recentemente, os armazéns da fábrica
179-180 ; CÂMARA, João de Sousa da,
abertura no ano de 19 6 2 .
da Rua da Manutenção Militar, após a
da Tabaqueira,
Entretanto , a empresa ainda lançou
sua recuperação
no mercado, antes da unidade fabril
entregues à CAT.
ela D GEMN , foram
99
História
Lisboa, Tabaqueira, 199 5 .
Loca l ização
-
Rua de Xabregas,
período de Activi dade - 1 8 88 - 1 9 8 5 Fundadores
-
Ernesto D r i e s e l S c h roeter,
Manuel J osé da S i lva e A ug u s t o V i cente R i be i r o .
Actividade Industrial
-
Fiação
e t e c i dos de a l g o d ã o .
Valor Patrimonial
-
Sem v a l o r .
Estado de Conservação
-
Só existe o
a n t i g o j a n e l ã o s up e r i o r , em ferr o , com a data de fundação. A l g un s e d i f í c i os foram adaptados a h a b i ta ç õ e s , n o proj ecto de urb a n i zação q u e decorreu após a e x t i n ção d a fábri c a .
Classificação
Planta Aerofotogramitrica 5/7. Escala
1:2000.
Maio de
1963. Actualizada em 1987.
,
F A B R I CA D E F I A Ç A 0 E T E C I D 0 S 0 R I E nTA L ( V V L C O , F Á B Rj C A D A S V A RJ\ n D A S )
101
-
N ã o tem .
E
M XABREGAS, a Fábrica Oriental de Fiação e Tecidos foi uma das
mais emblemáticas e importantes uni dades têxteis, deixando uma auréola na vida social e na história do bairro .
Abel Botelho refere-se -Ihe no seu romance AInanhã, no tempo em que j á era conhecida p o r "Fábrica das Varan das " , designação popular que se man teve até ao encerrament o . Na história do operariado português é um marco indispensável, porque anda intrinseca mente associada a dirigentes operários, greves e lutas sociais, que motivaram frequentes despedimentos e outros acontecimentos de relevo na sua exis tência de cerca de cem anos. A fábrica foi fundada pela Companhia Oriental de Fiação e Tecidos, um sociedade anónima criada em 2 de Abril de l888. Nos primeiros anos foi dirigi da por Ernesto Driesel Schroeter (l8501942) e Manuel José da Silva . O capital inicial era de 400 contos. Em l4 de Agosto de l 8 8 8 , a referida compa nhia estabeleceu um contrato com Fran cisco Baerlein, representante da firma Baerlein & C . a de Manchester, para a construção de uma fábrica de primeira classe, nos seus terrenos de Xabregas . Francisco Baerlein concretiza o projec to entre essa data e 3l de Agosto de l89l , fornecendo o maquinismo mais aperfeiçoado para a indústria de fia ção e tecelagem de algodão, incluindo uma máquina a vapor. Esta máquina foi Fachada da Oriental.
18g8, in Excursion indus/ridle de Lisboa à Thomar, p.
adquirida à metalúrgica de Oldham,
4-1.
102
Buckley & Taylor, um credenciado fa bricante da região de Manchester que também equipou a Fábrica de Fiação e Tecidos de Soure. Baerlein instalou ainda uma central de energia eléctrica para iluminação das oficinas. É conheci do o maquinismo completo da fiação e da tecelagem adquirido para Xabregas. A nova fábrica, muito embora fosse equipada com o melhor que existia nessa altura para indústria têxtil , não ficou desde logo perfeita, devido a um pro blema grave ocorrido na máquina a vapor. Por essa razão, entre Dezembro de 1891 (altura da inauguração) e 189 3 , houve u m contencioso judicial entre os empreiteiros e a Companhia. O estabelecimento fabril encontrava-se pro tegido da via pública por uma
Aspecto da Oficina de Tecelagem. in Carlos Bastos,
correnteza de um piso , onde ficavam as
de vista arquitectónico construíram-se
decorreu até 1 9 2 0 . Nessa altura pro
O
Algodão ... extratexto 48-49.
oficinas , sobre as quais se situavam as
edifícios semelhantes aos da Fábrica de
cedeu -se à alteração dos estatutos e ao
varandas . Atrás encontravam-se as duas
Fiação e Tecidos de Soure, em tij olo e
aumento do capital (550 contos) . As
oficinas principais, a fiação e a tecela
ferro , com coberturas em shed viradas a
diversas crises fabris, entre a I Guerra
gem, em edifícios separados, construí
norte.
Mundial e a crise da Bolsa de Nova
dos com dois pisos cada um. A fiação
Após as dificuldades iniciais a têxtil
Iorque 1 9 2 9 , reflectiram-se na vida da
organizava-se longitudinalmente à via
passou a funcionar regularmente, desde
empresa.
pública e a tecelagem transversalmente ,
1893, com o capital inicial. Entre os
A partir de 1 9 3 0 , a liderança da admi
logo a seguir à portaria e à escada que
principais produtos refiram-se diversos
nistração coube a um empresário ca
subia até aos escritórios .
números de fios, tecidos e estofos (panos
talão, Lorenzo Cisa y Tay. A planta
Junto a essa escadaria encontrava-se um
crus e enfestados, lonas, sarj ões) . Ocu
fabril sofre alterações, ocupando agora
grande j anelão em ferro fOljado e fun
pava 425 operários (189 8 ) .
uma área de 15 000 m2• Segundo Carlos
dido , com a data da fundação : 1888.
A ausência d e documentos inviabiliza o
Bastos compreendia cinco secções: fia
Esse janelão iluminava a casa das má
estudo mais pormenorizado da empre
ção, com doze mil cento e sessenta
quinas, onde foi instalado um motor
sa, entre os princípios do século XX e o
fusos; tecelagem, com trezentos e qua
a vapor coumpond, de alta e baixa
início da década de quarenta. No en
renta e sete teares; branqueio e acaba
pressão da marca Buckley y Taylor, com
tanto , apurou-se que a sua laboIação ,
.1llento; produtos .hidl'ól'ilos; e fios para
válvulas Corliss e com 320 c/v. Do ponto
nas condiçõ es técnicas de o rige m ,
embalagem e fita vegetal (1947) . A nível
1° 3
não se implementou o reequipamento da oficina de tecelagem, tal como a concorrência o exigia . A gerência d e Ciza y Tay prolongar-se -á até 1950. Após a sua morte ascende a gerente Elysário Gomes Xavier. A déca da de cinquenta caracterizar-se-á por uma grande queda dos lucros da em presa que se reflectirão nas opções industriais dos anos seguintes. Assim, em I962 , encerra-se a secção de tecela gem, que é transferida para o Porto, para uma empresa do grupo económico a que pertencia. A Empresa Oriental de Fiação e Tecidos manter-se-á em funciona mento até aos inícios da década de oiten ta, apenas com a secção de fiação . Aspecto da Secção de Fiação. in Carlos Bastos,
O Algodão
..
A política social da empresa registou extratexto 48-49.
uma mudança significativa entre os
de produção enveredou-se para teci
Em 1941, eram administradores João
finais de 40 e a década seguint e .
dos mais finos (cassas, bretanhas, es
A história laboral d a Fábrica O riental
tamparias, etc. ) e algodão e gazes para
da Rocha Leão , Lorenzo Cisa y Tay e Armando Chaves d ' Oliveira, demons
farmácias. Especializara-se também no
trando a existência de u m p eríodo
múltiplos
de Xabregas encontra-se recheada de acontecimentos
laborais
ramo das fitas e fios vegetais, organi
liderado por directores luso -espanhóis.
(greves , despedimentos) . A mudança
zando-se em oficina especializada.
Uns anos depois, em 1947, entrou para
de atitude apoiada pelo Estado Novo
Quando ocorreu a Exposição do Mun
a administração o Eng. Tomás da Rocha
permitiu suprir parcialmente as críticas
do Português, em 1940, os terrenos e
Leão de Sousa Eiró . Esta mudança
dos operários, em relação à assistência
suas construções valiam 2II contos e as
parece relacionar-se com novo aumen
social. Constrói-se um edifício apro
máquinas e utensílios 3 3 8 conto s ,
to de capital (5500 contos) e o reforço
priado para os diversos serviços, como
podendo afirmar-se ter chegado a um
do Fundo de Reserva. As autorizações
uma creche , um refeitório , cozinhas e
ponto alto da sua história, apesar das
do Condicionamento Industrial per
um posto de socorros.
crises políticas e sociais e das mudanças
mitiram uma profunda alteração do
Em 1 9 7 6 , reflectia-se na Fábrica de
conjunturais dos últimos quarenta anos.
equipamento fabril, nos últimos anos
Tecidos Oriental os problemas econó
A antiga unidade fabril dos finais do
da década, adquirindo-se à Inglaterra
micos e sociais criados após o 25 de
século XIX era então conhecida por
máquinas para as o ficinas de preparação
Abril . Pertencia então a Manuel F. A.
Empresa da Fábrica de Eiação e Tecidos
e de fiação (abridores, batedores , car
Coimbra e encontrava-se em laboração
Oriental.
dação , penteação e torcedura). Todavía,
intermitente por falta de matéria-
1 04
Aspecto actual dos edifícios fabris apôs reconversào do espaço.
-prima, baixa de produção e dificulda
B IBLIOGRAFIA,
anos I938-I940, Lisboa, I940 e I94I ;
de de obtenção de acessórios para as
Questão da Companhia Oriental de Fiação e
BASTOS, Carlos, "Empresa da Fábrica
máquinas. Os edifícios encontravam-se
Tecidos com F. Baerlein, relativamente ao
de Fiação de Tecidos Oriental", in
em mau estado , laborando ainda 254
Fornecimento e asentamento do m a chinísmo
no Comércio e na Indústria Portuguesa,
operários, a maioria mulheres.
n a mesma Companhia de Xabregas,
Finalmente, em 1 9 8 3 , o seu encerra
Typographia de Augusto Vieira, I893;
Lisboa,
mento estava iminente. O conjunto
" Compagnie Orientale de Filature et Tissus" ,
fabril foi depois objecto de uma urba
in IVê: Centenaire d e l a Découverte d e la Route
nização , mantendo-se a volumetria e
Maritime des Indes.
morfologia industriais, preservando -se
de Lisboa à Thomar,
apenas o jan.elão de
Relatório
agora no piso térre o .
en:.o , localiz.ado
Excursion industrielle
Lisboa, I899, p. 4 2 ;
Contas da Empresa da Fábrica
de Fiação e Tecidos Oriental,
'°5
SARL,
O Algodão
Porto, Grémio dos Importadores de Algodão em Rama, I947, pp. 37-38.
ocupada. Trata-se também de u m a implantação carismática, pois esta unidade da indústria a l i mentar ocupou um dos edifícios rel i g iosos desfuncional izados p e las reformas l ibera i s , o Convento das Carm e l itas, m a i s conhecido p o r Grilas. Destaca-se na paisagem e i dentifica o sector industrial, o conj unto de s i l os, j unto à R u a da Manutenção. O edifício principal, e x - l íbris da fábrica da Manutenção M i l i tar apresenta uma vol umetria e uma organ ização arquitectónica semel hante aos edifíc i os industriais ingl eses dos meados de Oitocentos. Um edifíc i o que apenas mantém as características funcionais l i gadas à arquitectura é a antiga central e l éctrica. Recon hecível pelos seus janelões em vidro, de arco de volta perfeita, d istribuídos por toda a superfície. Tem frente para a Rua do Grilo. Aquando da comemoração dos cem anos de existência ( 1997), a Manutenção M i l itar inaugurou u m pequeno núcleo museológico, onde retrata a evol ução e a h i stória desta instituição, apresentando também bons
Planta Aerofotogramétrica 5/7- Maio de 1963_ Actualiz.ada em 1987_
exem p l ares de a lgumas das máqu inas
Ill A n U T E n ç Ã 0 Ill I L I T A R Localização - Rua do G r i l o . período de Actividade
-
1897- 1998 >
Fundadores - O Estado Português.
do percurso fabri l .
Valor Patrimonial - O conj unto edificado
Estado d e Conservação - Bom.
é dos mais significativos da
Classificação - Sem c l assificação.
industrial i zação da Zona Oriental
Actividade Industrial - Indústria alimen
de Lisboa, pelo seu grande n úmero de
tar (fabrico de pão, bolachas, massas).
instalações fabris e pela vasta área
107
Visita de D. Carlos a uma das fases de construção da Manutençào Militar. C. de 19°3-19°7. Foto António Novais. Arquivo Fotográfico da CML.
n UANDO O conde de Lichtnovsky '+' vfsitou Portugal em 1 8 4 2 , o
estatal relaciona-se com o fornecimen-
enquanto regente do reino (ver, Guia
to de pão ao exércit o . Ainda que o esta
Histórico) e, como tantos outros da
belecimento desta padaria tivesse um
Zona Oriental de Lisboa, refuncionali
carácter experimental, em breve o seu
zou-se após a extinção das ordens reli
crescimento excedia o espaço funcional
giosas.
disponível.
Só no último quartel do século XIX, se
AI;sim, a necessidade de escolher uma
constroem os edifícios modernos que
outra localização tornou-se imperiosa.
constituirão as bases da industrialização
Uma das principais preocupações na
de sector alimentar do exército por
selecção de um novo local prendia-se
tuguês . De modo a acelerar a instalação
com as acessibilidades. O estabeleci
da Manutenção por conta do Estado ,
mento dos edifícios que abasteceriam
houve a necessidade da criação de uma
os géneros alimentares ao exército devia
nova comissão instaladora, com base na
localizar-se próximo de boas vias de
Carta de Lei de 19 deJulho de 1888, e de
comunicação , quer terrestres, quer
uma portaria do ministro da Fazenda.
abastecimento do exército português em
marítimas. Em 1 8 8 6 , o então ministro
O relatório apresentado , a 5 de De
géneros alimentares, nomeadamente
da Guerra, visconde de S. Januário
zembro desse mesmo ano , o rçava o
em farinhas e pão , ainda se encontrava
escolheu - após apresentação de projec
custo total das obras em 900 000$000
bastante atrasado. Ainda se utilizava
to elaborado por uma comissão forma
réis. Simultaneamente elaborou-se um
a tecnologia da era manufactureira.
da propositadamente -, o Convento das
plano , cujo resumo pode ser apreciado
O fornecimento de pão processava-se a
Carmelitas (vulgo Grilas) , no Beat o ,
na memória descritiva elaborada por
partir dos fornos de Vale do Zebro ,
para o alargamento d a padaria militar.
Joaquim Renato Baptista Santos .
remodelados na época pombalina.
Esta construção conventual reunia con
Em 1 3 d e Janeiro d e 1 8 9 6 , o governo
AI; grandes mudanças na manutenção
dições excelentes para a implantação de
determinou que o Ministério da Guer
militar deveram-se à obra legislativa
unidades industriais. Uma delas era a
ra tomasse posse do estabelecimento, j á
militar do marquês de Sá da Bandeira,
existência de espaço amplo e abun
e m adaptação e construção, no antigo
discutida e aprovada entre os finais da
dante, tanto em relação ao edifício ,
convento e nos terrenos anexos. Em
década de cinquenta e os meados da de
como aos terrenos envolvente s , que
Março desse mesmo ano , abriu-se um
sessenta do século passado .
compunham a cerca conventual . Por
concurso público para adjudicação dos
Os antecedentes da Manutenção inicia
outro lado , a sua localização preenchia
aparelhos a instalar, compreendendo
ram-se precisamente, em 1 8 6 2 , aquan
os requisitos das boas vias de comuni
todas as operações de moagem, cal
do da inauguração da primeira padaria
cação, devido à proximidade do rio e do
deiras e máquinas a vapor. A empresa
militar. A sua localização prende-se
caminho -de-ferro do Norte (em 1951
vencedora foi a casa alemã G. Luther.
com a proximidade do rio , embora
irá construir-se um transpo rtador
No mês de Agosto, a moagem da Pa
situada na Zona O cidental de Lisboa,
aéreo ligando a zona fabril à linha
daria Militar começava a trabalhar.
na actual Rocha de Conde de Ó bidos.
férrea) . O Convento das Carmelitas
Sete meses mais tarde, em 6 de Março
O objectivo subjacente a esta iniciativa
fora fundado por D . Luísa de Gusmão ,
de 1897, solicitou -se a apresentação
108
de um plano geral de obras, de modo
como o dever de fornecer às padarias
de alimentação às tropas (rancho e
a concluírem-se os trabalhos em curso .
municipais as farinhas necessárias para
conservas) ; a instrução na parte fabril,
A Secretaria da Guerra ordenou a ela
o fabrico do pão e o abaster directa
dos oficiais e praças da Companhia de
boração de um plano acompanhado de
mente o público em geral, em época de
Subsistências no serviço de campanha ;
orçamento, com o objectivo da maxi
crise . Esta nova indústria alimentar
a apresentação de propostas para a
mização do produto , aproveitando as
ficava dependente do Ministério da
aquisição de matérias-primas, géneros e
potencialidades dos edifícios preexis
Guerra e subordinada à D irecção da
forragens; a organização de reservas de
tentes.
Administração Militar.
todos os produtos fabricados de acordo
A Manutenção Militar foi fundada por
Em termos funcionais e industriais a
com os índices de consumo indicados
decreto do rei D. Carlos. Pois, em
II
de
Junho de 1897, a Secretaria de Estado
MM compunha-se de :
pelo Ministério da Guerra. A autono
- uma fábrica de moagem de cereais;
mia administrativa é alcançada pelo
dos Negócios da Guerra submetia a
- uma padaria;
regulamento de I9II, libertando-se de
aprovação régia um proj ecto de decreto :
- uma oficina para o fabrico de massas
um papel meramente executivo .
Tomando em consideração o que me representaram os ministros e secretários d 'Estado dos negócios de guerra e das obras publicas, commercio e industria, e em conformidade com o disposto no artigo 4. o da Carta de Lei de 19 deJulho
alimentares;
Estas mudanças coincidiram com a
- uma oficina para bolacha ria e produ
dos homens mais enérgicos que passa
tos similares; - um depósito de material de padarias de campanha ; - armazéns
entrada para o cargo directivo de um ram pelas chefias da MM, o coronel Luís António Vasconcelos Dias (9 de Junho
para
trigos ,
farinhas,
de I9II a 18 de D ezembro de 1920) .
de 1888, hei por bem approvar o plano
massas e outros produtos ou géneros
Até cerca de meados dos anos 3 0 , um
de organização da manutenção militar
destinados à alimentação das tropas ;
dos períodos cronológicos mais impor
que faz parte do presente decreto e baixa
- oficinas de reparação de material;
tantes para o crescimento e afirmação
assinado pelos mesmos ministros e se
- um laboratório químico e tecnológi-
da MM, concretizam-se e desenvol
cretários d 'Estado, que assim o tenham
co para estu� os de cereais, farinhas,
vem -se as suas estruturas industriais
entendiddo e façam executar. Paço, em II
fermentos, assim como pão e outros
e alarga-se o seu dispositivo a todo o
produtos ;
território , de norte a sul.
deJunho de 1897 (Da Padaria Militar. . . , Maria de Lourdes Filipe Nunes) .
- secretaria e suas dependências, aloja
Pertence também a esta fase a implantação
De acordo com o referido decreto , o
mentos de pessoal, enfermaria, co
da maioria das infra-estruturas indus
principal obj ectivo da MM residia na
cheiras e cavalarias .
triais, caracterizando esta unidade fabril
fabricação de farinhas, pão e outros
Nos proj ectos iniciais encontra-se
como uma das mais importantes no
produtos alimentares, abastecendo o
concebida uma das primeiras estruturas
domínio dos produtos alimentares . Ainda
exército , a armada e os vários corpos e
de ensilagem moderna do país .
mais tardiamente, do que a maioria dos
estabelecimentos dependentes dos mi
Até 19°7, a MM conservou a organiza
exércitos estrangeiros, o Estado por
nistérios do Reino (Justiça , Guerra e
ção inicial. Só então , através de novo
tuguês teve oportunidade de contribuir
Marinha) , bem como fornecer forra
regulamento , redimensio n o u a sua
para a modernização e para a produção
gens aos solípedes do exército . Outras
estrutura e produção . Doravante, cabia
em larga escala de uma das indústrias
funções foram-lhe ainda atribuídas,
-lhe o fornecimento de todos os géneros
mais complexas e mais resistentes à
r 09
maquinofactura. A MM não se dedicou apenas a uma área de produção, como se pode constatar no decreto da sua fundação. Assim, muito sinteticamente, podem enumerar-se para este período: a) Fábrica de moagem - ocupava uma superfície muito extensa, distribuindo -se por três andares. O trigo deitava-se num teigão, sendo conduzido por meio
Amassadora eléctrica" Sala dos fornos da Manutenção Militar.
Fábrica e fomos de pão" Cerca de 1917" Álbum da Manutenção Militar.
Bateria de sds fornos. re\"estidos a temática do ciclo "do pão.
a
azulejos da lados de 1954-. com
Prensa para moldar bolacha por processo continuo. Encontra-se actualmente exposta no Museu.
de um elevador para os silos. O cereal
d) Fábrica de torrefacção e moagem de
passava por diversas fases (limpeza, moa
café
- funcionava com dois torradores
gem, farinação, panificação) . O con
mecânicos (capacidade diária de 2 8 0 0
junto destas operações necessitava de
kg) , dois moinhos 2 8 0 0 kg/dia) , um
equipamento mecanizado. Por exemplo,
desintegrador e um misturador ;
na moagem utilizavam-se vinte e dois
e) Fábrica d e bolachas - possuía dois
moinhos, dispostos em duas séries, de treze e nove moendas, todos de sistema
fornos contínuos, sistema David Thom pson, Ld. a (2000 kg/dia) , um amas
Luther (com dois pares de cilindros) e na
sador mecânico ( 2 8 0 0 kg/dia) , dois
peneiração já se utilizavam os plansisters
laminadores, uma máquina de cortar e
(ver, A Nacional, neste Guia) ;
de moldar bolacha, do mesmo sistema,
b) Fábrica de pão - laborava, em 1922 ,
cinco prensas manuais para moldar
com oito amassadores eléctricos do
bolacha, etc ;
sistema Baker, dezasseis fornos metá
f) Fábrica de conservas - esta indústria
licos duplos de bases móveis, de vários
específica de conservação de alimentos
tipos, três máquinas de cortar massa, um
encontrava-se já muito desenvolvida,
laminador mecânico, etc. A sua pro
pois funcionava como uma mais-valia
dução diária ultrapassava os 50 000 kg
para os militares que se encontravam
de pão .
em campanha. Nesta fábrica tratava-se
c) Fábrica de massas - compunha-se de
uma vasta gama de alimentos, como a
três galgas que alimentavam duas prensas
carne, o peixe e os legumes . Os equipa
horizontais, para macarrão (com uma
mentos compunham-se de largas me
produção média por hora de 250 kg) ,
sas de mármore, cinco caldeiras, três
uma para massinhas (100 kg por hora) ,
auto claves , sete máquinas para fechar
três prensas verticais (média de 100 kg de
latas, um fogão , uma máquina de cortar
macarrão) . A secagem das massas fazia -se
carne, duas máquinas de picar e uma
através de doze enxugantes mecânicos
máquina para fabricar massa de toma
(com a capacidade de IO 000 kg/dia) ;
te. Na dieta alimentar de campo inte-
110
i) Leitaria e fábrica de manteiga dispunha de uma batedeira , de uma desnatadeira e de em malaxador. Podia produzir a manteiga necessária para o fabrico da bolacha e para abastecer os armazéns e as diversas sucursais do país ( Coimbra, por exemplo) ; j) Tratamento de vinhos
junto da
estação de caminho -de-ferro, na Rua José Patrocínio , tinha a MM o seu depósito de vinhos , com uma capaci dade total de 606 600 litros. Para
Secção de dactilografia. Cerca de 1 9 1 7 . Álbum da Manutenção Militar.
filtragem do vinho possuíam dois filtros e um pasteurizador. Como procediam ao engarrafamento , dispunham de três máquinas de engarrafar, de lavagem , de rolhamento e capsulagem. Mâquina para cristalizar os frutos. Cerca dos anos 50. Encontra se actualmente exposta no �[useu.
O conjunto destas fábricas tinham como apoio técnico e funcional um
gravam-se também frutos cristalizados,
sem- número de oficinas também situa
fabricados integralmente na MM;
das na área produtiva, como : a latoaria,
g) RefInaria de açúcar - compunha-se
a serração , a lavandaria, a canastraria, a
de uma caldeira, dez tinas de cobre ,
tipografia, etc . , etc . (cf. Livro d 'Oiro
duas caldeiras pequenas , dois cilindros,
Ca tálogo Oficial, Lisbo a , 192 2 ) .
um peneiro eléctrico com seis redes,
Para a laboração deste enorme conjun
quarenta tachos pequenos e trinta e
to de equipamentos instalaram -se in
dois grandes (produção média 4500
fra -estruturas energéticas condizentes
e
kg/dia) ;
em termos de potência . Antes de 19II,
h) Matadouro e salsicharia - tinha
existia uma máquina a vapor horizontal
como principal função produzir ração
- Sulzer - que accionava a moagem, e
para o gado , denominado bolo ali
duas verticais - Labordiere - com
mentar . A salsicharia dispunha de
força individual de 50 c/v. As máquinas
maquinismos que permitiam o fabrico
verticais labo ravam alternadamente,
simultâneo de 75 kg de chouriço de
fornecendo energia eléctrica aos res
sangue, 150 kg de chouriço de carn e ,
tantes serviço s . Mais tard e , após a
9 0 k g de farinheiras, 1 5 0 kg de banha
ampliação constante das diversas uni
(24 horas) ;
dades produtivas, tornou-se imperiosa
111
Refeitório dos praças. Cerca de 1917. Álbum da �lanutençào Militar.
Secçlo de bolacharia. Foto Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
casas inglesas mais famosas da especiali dade a Babcock & Wilcox. Detinham ' ainda, para qualquer eventualidade, urna locomóvel semifixa Ruston -Proctor , com capacidade d e 60 c/v. Da era do vapor passava- se aos poucos para a época da electricidade. Pelo meio ficou a fase da produção termoeléctri ca, em que a energia obtida resultava da força do vapor aplicada a dínamos. Mais tarde , instalam- s e turbinas a diesel que autonomamente produzirão a energia para as diferentes empresas fabris. Relativamente à M M , insta laram-se em 1 9 2 1 , urna central a diesel eléctrica de dois grupos, compostos
Sala do forno contínuo para o fabrico do pão.
cada um de um motor de óleos pesados Polar de 100 c/v e alternador Asea de 850 kva e outro grupo com motor Polar de 550 c/v e alternador Asea de 450 kva . Mas apesar da alteração significativa registada, outras se veri ficaram de seguida. Após seis anos implantou-se um novo grupo Polar Asea (250 cv/2IO kva) e, em 1931 , outro grupo da mesma marca (80 cv/ 8 0 kva) . Simultaneamente
com
os moto res
instalaram o quadro respectivo de distribuição e manobra dez painéis, com urna bancada de manobra e cem motores eléctricos com potência de 2 3 8 5 c/v. A casa fornecedora todo este Máquina a vapor Sulzer. Cerca de 1917. Á1burn da 1bnutenção �Hlitar.
a ampliação da força motriz . A ini
equipamento foi a Jayme da Costa , ram lugar a mais duas Labordiere , com
Ld. a , de Lisboa e Porto .
cial Sulzer foi substituída por outra
potência de 750 c/v. O conjunto das
Outro período muito importante para
máquina da mesma casa, só que com
máquinas a vapor era alimentado por
a expansão da MM e para a confirmação
3 0 0 c/v e as anteriores verticais cede-
três caldeiras pertencentes a urna das
da função abastecedora desta unidade,
112
Pe:que:no grupo te:rmodéctrico. Ce:rca de: Manute:n�ão Militar.
1917.
Álbum da
Casa das máquinas. Ce:ntral déctrica. Foto Mário Novais. Arquivo de: Arte: da Fundação Calouste: Gulbenkian.
relaciona-se com o final dos anos 50
lhagem de corte destinado ao fabrico
e inícios dos anos 6o. A cronologia
de bolacha wafer;
prende-se com o decorrer da guerra
- apetrechamento da oficina de car
colonial e a urgência de uma resposta
pintaria, com maquinaria u tilizada
- aqulslçao e montagem de uma nova central eléctrica, a fim de assegurar a energia em casos de falha; - remodelação das fábricas de massas
constante às necessidades do abaste
para executar trabalhos inerentes ao
e de bolachas (cf. Rebelo et alli, s . d . ,
cimento militar (apesar da instalação
acondicionamento de pro d utos e
p . 49) ·
de algumas delegações no ultramar)
consequente expedição para os terri
N a década de setenta, instalaram -se
e a toda a população civil, que cada
tórios ultramarinos;
ainda alguns sectores da indústria ali
vez, em maior número, laborava nas
- ampliação do espaço físico das fá
mentar. Um destes exemplos pertence à
diversas fábricas e oficinas da Manu-
bricas de bolacha e de comprimi
fábrica de pastelaria e co nfeitaria.
dos;
A primeira abastecia principalmente os
tençã o . Dos novos equipamentos e instalações podem referir-se: - equipamento e montagem de um sector de embalagem específico para rações de campanha ; - aquisição d e maquinaria e d e apare-
- beneficiação das instalações do mata
supermercados e as messes e a segunda tinha como objectivo complementar a
douro; - adaptação dos armazéns do Bravo;
fábrica de pão . Criou-se ainda uma
- conclusão das obras e inauguração
fábrica de fritos, proj e ctada para o
dos supermercados de Campolide e
fabrico de salgados (fritos e c ongela
do Beato;
dos) . Esta última foi recentemente
113
remodelada de modo a incrementar o
do Norte . Parte dos terrenos localiza
milhares de produtos alimentares.
fabrico dos ultracongelados.
dos nesta área utilizaram -se para a
Actualmente continuam em laboração
De uma construção religiosa e conven
construção de algumas habitações so
alguns dos sectores mais importantes na
tual passou-se assim a um conjunto
ciais. A MM, a par da implementação
história da MM, como a fábrica de pão ,
fabril monumental e profano , marca
da indústria alimentar preocupou-se
a de massas, a confeitaria e a unidade de
dos pelo ritmo industrial. A fachada
também com os trabalhadores, tanto
salgados.
que actualmente identifica a MM e
civis como militares. Ainda que estas
que exibe o relógio (comprado , e ins
preocupações tenham começado prin
talado posteriormente, provavelmente
cipalmente a partir dos anos 2 0 , foi
BIBLIO GRAFIA,
nos anos 50) , caracteriza-se por uma
durante a década de quarenta que
SANTOS, Joaquim Renato Baptista,
simetria de formas e de volumes marca
sofreu um forte impuls o , inserindo-se
A Man utenção Militar de Lisbo a ,
vaI. I
dos por um corpo central com frontão .
na política social desenvolvida pelo
- Texto , vaI. II - Plantas, Edifícios e
Este edifício reflecte uma arquitectura
Estado Novo . Alguns dos s e rviços
Maquinarias, s. 1 . , s. d [1890 ) ;
industrial de influência inglesa típica e
criados relacionam-se com o apoio
GUIMARÃES , J. M. Teixeira, e SANTOS ,
muito aplicada às indústrias do Estado ,
materno-infantil (creche, escola pré
F. Maltoso,
muito embora corresponda às funda
-primária e primária) , a assis tência
Relataria,
ções do antigo convento (ver o edifício
médica e medicamentosa, com a caixa
PROSTES, Pedro,
A Man u tenção do Estado e m
1893.
Lisboa, Imprensa Nacional, 1893, Indústl"ia Alimentar,
da Rua Fernando Palha, da Fábrica de
de previdência para o pessoal e outras
Lisboa, Biblioteca de instrução profissional,
Material de Guerra de Braço de Prata,
iniciativas recreativas e culturais.
s . d , SANTO S , J. Correia dos, "Farinhas,
neste Guia) .
Com a revolução do 25 de Abril houve
Pão, Cacau e Leite" I in
A construção dos diversos edifícios
uma certa retracção. Os anos que se
Manipulações Chimicas,
alargou-se, ocupando o espaço até ao
seguiram foram de adaptação a uma
pp. 327-332, PINTO, Joaquim Gomes,
aterro , revestindo-se de uma feição
nova realidade, publicando-se, inclu
Relatório da Visita à Afan utençào lvfilítar,
Problemas e
vol. I I I , Lisboa, 1911,
mais industrial e onde se concentraram
sive , novas orientações legislativas .
Lisboa, Imprensa Nacional, 1914; Manutenção
a maioria das actividades produtivas.
Assim, no decurso de 1 9 9 2 , iniciou-se
Militar,
A Rua d o Grilo demarca uma área Sul
um processo de reestruturação orgâ
económico de
e uma Norte . Assim, a norte encon
nica e funcional , sendo suprimidos
Manutenção Militar, I917; Manutenção
tram-se instalações com uma complei
a maioria dos supermercados. Com
Militar,
ção racionalista e cuj a s funções se
estas alterações funcionais parte dos
económico de
relacionam mais com os serviços admi
trabalhadores do activo tornaram-se
Tip. da Manutenção Militar, 1 9 2 0 ,
nistrativos . O espaço inicial alargou-se
excedentários, diminuindo também o
DIAS, Luís António d e Vasconcelos,
através da conquista de terrenos en
pessoal operacional.
A Manutenção Militar
volvent e s . A aquisição d e parte da
Durante os anos 9 0 , a MM desem
Tip. da Manutenção Militar, 1 9 2 1 ,
Relatório de Gerência do ano
1916-17, Lisboa, Tip. da
Relatório de Gerência do a110
1918-19. Lisboa,
(1911 -1920), Lisboa,
Quinta de Lafões é disso exemplo (ver ,
penhou um novo tipo de funções. Em
"Manutenção Militar" , in Exposição
Guia Histórico e Guia d o Azulejo) .
várias situações de apoio humanitário ,
Internacional do Rio de Janeiro. Secção
O acesso a esta zona teve de ser rasgado
responsabilizou -se pela recepção , arma
Portuguesa,
através de um túnel sob a linha férrea
zenamento ' distribuição e transporte de
Lisboa, 1 9 2 2 , Manutenção Militar,
Livro d 'Oiro e Ca tálogo Oficial,
Manutenção �lililar. Perspectiva vista dos silos.
Regulamento,
1929;
Lisboa, Imprensa Nacional,
A Manutenção Afilitar,
Lisboa,
Tip. da Manutenção Militar, 1932 ; "Manutenção Militar" , in
Notícia Histórica
Sobre os Estabelecim entos Fabris do A{inistério da Guerra,
Lisboa, Bertrand, 1947,
pp. SI-53; PINTO , Armando , Manutenção Militar,
História da
3 vols . , Lisboa, 1966;
Ano III,n o 1 8 , Março -Abril de 1 9 7 2 ; Manutenção Militar, II
Ano IV , n . o 1 9 ,
d e Junho d e 197 2 ;
NUNES, Maria d e Lourdes Filipe, Militar à Manutenção Militar
policopiado, s . d . ; REBELO, Ana Maria, et a11i, Manutenção Afilitar, Uma organização centenária,
policopiado, s . d . ;
I Centenário
BARATA, Filipe Themudo, " Indústria Militar
da Manutenção Militar
Nacional Como e Para Quê? " , in
Gráfica da Manutenção Militar,
Defesa,
pp. 95-96;
Naçiio e
Da Padaria
(1862-1897),
(1897-1997), Lisb oa,
Man u tenção Militar,
II5
97.
Local ização - A l a m e d a e R u a do B e a t o . período de Act ividade - 1 8 4 3 - 1998 > Fundador - J oão de B r i t o . Actividade Industrial - I n d ú s t r i a a l im entar, fab r i c o de m a l t e , far i n h a s , de b o l ac h a s e m a s s a s , r a ç õ e s .
Valor Patrimon ial - O conj u n t o da a n t i ga moagem de J oão de B r i t o , da moagem a ustro - h ún g a r a , d a fáb r i c a d e m a l te r i a ( c o m s e u s fornos i n st a l a d o s n a cape l a - m o r da i gr e j a d o Convento do Beato) e os edifícios m o d e r n i stas d a n o v a m o a g e m , da a u t o r i a de Pard a l Monteiro, q u e asseguram h o j e a produção de n A N a c i on a l " , constituem u m a refer ê n c i a o b r i g a t ó r i a n a h i st ó r i a da i n d u str i a l i za ç ã o de L i s b o a e do percurso de todos os patri m on i a l i s t a s , m a i s p a rt i c u l armente d o s espec i a l istas da época i n d ustr i a l . Destac a - s e p e l o s e u v a l o r h i st ó r i c o - a r q u itectón i c o e técn i co - fabr i l . O s e d i f ícios q u e c o m p õ e m a m o a g e m apresentam di versas s o l uções
II�
Planta Aerofotogramétrica 5/8. Escala 1 : 2000. Maio de 1963. Actualizada em 1987.
a r q u i tectón i c a s , tanto a n ív e l dos mater i a i s ut i l izados ( t i j o l o s í l i co - c a l cá r i o , t i j o l o b u r r o , ferro , c a n t a r i a , a lv e n a r i a s ) , v a r i a d í s s i m o s tipos de cobert ura e m o d e l os t í p i c o s da a r q u i tectura i n d u s t r i a l i n g l es a , b e l ga e centro - e ur o p e i a
�� A n A C i O n A L "
( n este ú l t i m o caso a m o a g e m
- C O Ol P A n H I A I n D U S T R I A L D E T RA n S F O R Ol A Ç Ã O DE C E REAI S , S. A.
austro - h ún g a r a ) . O e d i f í c i o da a c t u a l adm i n i stração caracter i z a - s e p e l o s e u a l çado de v á r i o s p i s os , frontão, fen estração regu l ar, e m o l durada
1 17
por t i j o l o e p o rta p r i n c i p a l e n c i m ada
p o d e m refer i r - s e a z o n a da i g r e j a
caracter í s t i c o p e l o s s e u s t i j o l o s
por v á r i a s m e d a l has o b t i das em
e do c l a ustro com a l g un s v e s t í g i o s
s í l i co - ca l c á r i o s , e n c o n t r a - s e t a m b é m
e x p o s i ções internac i o n a i s .
da act i v i dade i n d u str i a l , o n d e s e
em m a u estado. Esse n c i a lm e n t e a
A moagem de Pardal Mon t e i ro
associ aram l i n g ua g e n s d e r i v a d a s da
cobert ura e estrutura em m a d e i r a
ut i l i z o u uma l i ngu a ge m in terna tio n a /
h i stória de arte c o m o utras da h i st ó r i a
d e casqu i n h a e s t á em r u ín a .
s ty/e, com decoração déco, ao serv i ç o
t é c n i c a , que dever i a m c o e x i s t i r n um
A moagem a u s t ro - h úngara, b e m c o m o
da i n d ús t r i a , d i gn i f i c a n d o - a . Para
projecto g l o b a l de s a l va g u a r d a .
o utras c o n s t r u ç õ e s de f i n a i s d o séc u l o
a l é m d a moagem m o d e r n i sta a i n d a em
S i t uação diferente i m p õ e - s e
X I X , encontram - s e e m estado r e g u l ar.
f u n c i o n a m e n t o , poucas m á q u i n a s
aos e d i fí c i o s em t i j o l o s í l i c o - c a l c á ri o
Assi m , a s a l vaguarda de uma das m a i s
p e r s i stem de todo o c o n j u n t o ,
e em t i j o l o b u r r o , ao e d i f íc i o c o m
anti gas fábricas d o s e c t o r a l i m entar a
exceptuando as q u e s e l o ca l i zam n a
fachada c l a s s i zante e à c o n s t r u ç ã o
n ível n a c i o n a l , d e v i a s e r a c a u t e l ada d e
e x t i n t a fábrica de rações, i m p o n d o - s e
m a i s r e c e n t e datada dos anos 40,
um p o n t o de v i s t a l e g a l através d a
a s u a s a l vaguarda.
da a u t o r i a do arq u i t e ct o Pard a l
r e c l a s s i f i cação q u e v i a b i l izasse
H á ainda a referir o pequeno m us e u
Monteiro, q u e reflectem as l i n g uagens
possíveis reuti l i zações d i gn i f i c antes do
de em presa, i nstal ado n o ú l t i m o andar
da arquitectura i n d u s tr i a l , sendo
conjunto e s u a s e n v o l ve n t e s .
da m o ag em J oão de Brito Lda . , centro
pacífica a s u a recupera ç ã o .
Classificação
d o i mp é r i o fabr i l e a d m i n i strativo
A cobertura d a igreja e dos d o i s f o r n o s
P ú b l ico, D e creto n .
da C o m pan h i a I n d us t r i a l de Portugal
da antiga m a l te r i a , c o n s t r u ídos n a á r ea
de 2 5 de J un h o .
-
I m ó v e l de I n teresse o
29/84,
e C o l ón i a s .
da cape l a - m or, ameaçam r u í n a , s e n d o
A c l as s i f icação abrange a igrej a ,
A í p o d e m s e r observados m o d e l o s d e
i mprovável s obreviverem a m a i s u m
o c l a ustro, o refe i t ó r i o e a escada
a l g u m a s m á q u i nas uti l i zadas na
I n v e r n o . Devia pensar - s e , com
de acesso ao p i s o s u p e r i o r com os
moagem, m a quetas, u t en s í l i o s
urg ê n c i a , n u m a s o l u ç ã o e c o n ó m i c a
e l e m entos q u e lhe e s t ã o a d j a c e n t e s .
de m e d i ção, s i stemas de p o n t o , m o l des
q u e v i ab i l i z a s s e o rest a u ro e u m a
Não é c l a r i f i cada a i n c l usão dos
de f u n d i ção, bem c o m o uma
acção de salvaguarda para a i g r e j a
e l ementos d e i xados pela a c t i v i d a d e
e x c e l ente c o l ecção de emba l a g e n s e
e seus vest í g i os de refun c i ona l i z a ç ã o
industrial no espaço religioso.
rót u l os ut i l izados ao l o n g o dos v á r i o s
in situ, r e s p e i t a n d o a s s i m
A Compan h i a I n d us t r i a l d e P o r t u g a l
anos de a c t i v i d a d e . Um a r q u i v o
os d o i s m o m e n t o s de u t i l i z aç ã o
e C o l ó n ias vem c o n t e m p l ada
h i s t ó r i c o da fábrica e n contra - s e n o
do e s p a ç o sacra l i zado p e l a o r a ç ã o ,
no I n v e n t á r i o M u n i c i p a l d o Patri m ó n i o
m e s m o espaço.
a n t e s e d e p o i s da e x t i n ç ã o
do P D M de L i s b o a .
Estado de Conservação
-
A c o nservação
d a s ordens re l i g i o s a s .
de "A N a c i o n a l " n e c e s s i t a de ser
Não const i t u i um caso i s o l ad o
e n q uadrada nas p o l ít i cas de d e fesa d o
mas trat a - s e , sem d ú v i d a , de u m
patri m ó n i o i n d ustri a l , l e g a d o à c i dade
testem u n h o í m p a r da i n dustr i a l i zação
de L i s b o a , t a n t o como c o n j u n t o de
de Lisboa O r i ent a l , n ã o só pelo l egado
carácter excepc i on a l , c o m o em r e l a ção
interior da i g r e j a , mas p o r t o d o o
às m e t o d o l o g i as da s u a recuperação e
conjunto das e d i f i c a ç õ e s envo l v e n tes .
r e ut i l i zação f u t u r a . S u ma r i a m e n t e ,
O e d i f í c i o dos l i m p a d o r e s ,
JI8
Os edifícios conventuais localizavam-
- em 17 de Dezembro de I g I g , consti
-se nas imediações dos primitivos ar
tui-se a Companhia Industrial de
mazéns e assim, o industrial pôde iniciar
Portugal e Colónias , S .A. R . L . , atra
um processo de crescimento e concen
vés da fusão da Nova Companhia
tração, na zona do Beato . Em I 8 g 8 ,
Nacional de Moagem e da Compa
descrevia-se a indústria de João de Brito , da seguinte forma: Se tl'ouve SUl' le bol'd du Tage, a u lieu dit Beato An tónio a
formada em S ociedade Anónima ,
5 k de Lisboa, constituant un vél'ita
mantendo a mesma designação in
ble village, composé des nombl'eux
João de Brito. Retrato a óleo do fundador de A Nadonal com a seguinte inscrição: Foi inaugurado elte retracto de 1855.
O
nhia Nacional de Alimentação ; - no início dos anos 8 0 é trans
confundível de C IP C ;
bâtiments qui donne une impl'ession
- e m 2 3 d e D ezembro d e I g 8 6 , a sua
grandieuse (Excul'sion Industrielle de
designação passa a ser, A NAC I O
Lisbonne a Thomar, I8g8) .
NAL - Companhia Industrial de
A data apontada para a instalação fabril no antigo convento é a de 1 8 3 6 . Ini
Transformação de Cereais , S .A. Segundo Norberto de Araúj o as insta
PRIMITNO estabelecimento de
cialmente e até à morte do seu fun
lações conventuais foram inicialmente
João de Brito ( r 7 9 6 - I 8 6 3 ) , na
dador , a casa industrial e comercial
utilizadas como armazém de vinho s .
zona do Beato é anterior a 1 8 2 5 . O em
designava-se apenas por João de Brito .
Ou sej a , J o ã o de Brito prolongou para
presário liberal possuía um conjunto de
Após a sua morte foram os herdeiros
o novo espaço a actividade comercial
armazéns, situados na margem do Tej o ,
que assumiram os destinos de uma
que desenvolvia nos edifícios junto ao
onde desenvolvia a s actividades d e ta-
das indústrias alimentares mais flo
Tej o . No comércio de vinhos este
noaria, armazenagem, tratamento e co
rescentes d o país , sob a designação
empresário desempenhava um papel
mércio de vinhos e azeites.
social de João de Brito , Lda. Em I 8 g 8 ,
fundamental na região d e Lisb o a .
Aquando da extinção das ordens re
a empresa era dirigida pelo seu genro ,
Os depósitos d e vinho tinham uma
ligiosas (1833 - 34) , as instalações do
Carlos Duarte Luz e pelos seus neto s ,
capacidade variável entre os 10 000 e
C onvento do Beato António foram
António , Eduardo e Artur Macieira.
os 40 000 litros, os reservatórios de
vendidas em hasta pública. Se o destino
Em termos organizacionais, referentes
álcool recebiam 30 000 litros e a
de então , para muitos conventos foi
à alteração do capital social, ao cres
trasfega fazia-se através da utilização
o de servirem o novo Estado liberal,
cimento da produção , à fusão com
de bombas a vapor. Para além das
através da sua refuncionalização (ins
outras firmas do mesmo ramo (para
infra- estruturas de armazenagem e
talando-se quartéis, hospitais, bibliote
um melhor controlo de mercado) e às
tratamento dispunha, também, de um
cas , etc . ) , para outros, coube-lhes ser
novas designações comerciais, podem
laboratório , onde era controlada a
adquiridos p elo capital privado. O
referir-se os seguintes moment o s :
qualidade dos principais produtos co
Convento do Beato António integra- se
- em 2 7 de Agosto de I g I 7 , a empresa
mercializados, a saber: vinhos de mesa
na última situação , sendo parcialmente
João de Brito , Lda. foi integrada no
brancos e tintos e vinhos de Coupage.
adquirido pelo industrial e comer
bloco da Nova Companhia Nacional
As principais regiões vinícolas do país
ciante João de Brito.
de Moagem ;
que abasteciam a casa João de Brito ,
"9
Em finais de Oitocentos , a empresa João de Brito afirmava-se no mercado como um depósito de vinhos e cereais . N o entanto , a vertente da indústria de transformação de cereais era cada vez mais visível e important e . A laborar encontrava -se já uma moagem de cereais pelo sistema austro-húngaro e uma fábrica de moagem movida a vapor. A qualidade dos seus produtos era evidente . Em todas as exposições que participaram obtiveram medalhas de ouro - Industrial Portuense de 1 8 6 1 , Agricultura em Lisboa d e 1 8 6 1 , I nternacional do Porto em 1 8 6 5 , Universal d e Paris em 1 8 6 7 , Universal de Viena em 1 8 7 3 , Internacional de Filadélfia em 1 8 7 6 , Universal de Paris em 1 8 7 8 , Internacional de Bordéus em 1882 e na de Antuérpia em 1 8 9 4 .
Cais privativo de embarque dos armazêns deJoão de Brito. Arquivo de A Nacional.
A colocação d e medalhas n o edifício
eram Torres Vedras, Lavradio , Alen
Mas as actividades económicas deste
nobre do conjunto industrial é apela
tej o e Bucelas .
industrial rapidamente ultrapassaram a
tiva e afirma a qualidade dos produtos
Os armazéns primitivos encontravam-se
esfera dos produtos vinícolas e oleíco
aí fabricados, funcionando como uma
instalados numa zona mais lata de
las , sendo u m d o s nomes portugueses
publicidade empresarial. Esta constru
tanoarias e depósitos de vinhos, que se
mais importantes na introdução de
ção é das mais significativas do ponto
estendia até ao Poço do Bispo . O rio
novas tecnologias aplicadas ao sector da
d e vista da arquitectura industrial.
Tejo funcionava como uma via de cir
moagem e seus derivados .
Caracteriza-se pela sua racionaliade,
culação fundamental para esta activi
Em 1843, o industrial João de Brito
marcada pelo ritmo da fenestração e
dade , função mais tarde repartida pela
instala no Convento do Beato uma
pela mansarda (acrescentada em 19°8),
circulação ferroviária. Todas as insta
moenda de cereais. A utilização da
na qual se instalara uma estrutura
lações fabris que irão aglutinar-se aos
marca
funcional de transporte de cereal em
primeiros armazéns beneficiaram desta
pela rainha D. Maria II, no ano de
parafusos sem-fim.
proximidade, até à época da construção
1 8 4 9 , devido à relevância dos serviços
A arquitectura da moagem é importada
do aterro , data em que o conjunto dos
prestados à nação pelo empresário ,
dos modelos centro - europeus , onde a
armazéns ribeirinhos ficaram secun
através dos produtos comercializados à
indústI:ia moageira tinha já sofrido um
darizados face à nova avenida marginal.
época .
grande desenvolviment o . A organiza-
-
Nacional
-
120
foi-lhe concedida
Sala dos parafusos sem-fim. Arquivo de A NacionaL
Central termoeléetrica. com máquina a vapor Sulzer. Anos 20. Arquivo de A Nacional.
Perspectiva interior d o pátio onde se instalaram as casas das caldeiras e das máquinas a vapor. Arquivo de A Nacional.
ção em altura dos espaços fabris é
tipo de operação através da concen
Só após 1 8 8 1 , é introduzido o sistema
extremamente importante na organi
tração de um grande número de má
austro-húngaro. O Inquérito Indus trial de 1 8 g o aponta para a coexistên
zação interna da produçã o . De uma
quinas
forma muito simples podemos referir
a mesma tarefa , como os sassores, os
operadoras
que
realizavam
cia de tecnologias
que cada andar correspondia a uma fase
plansichters, os ensacadores para a parte
fabrico é aquelle a que os francezes
da cadeia de produção , obtendo-se o
final das operações, por exemplo .
chamam mixto, isto é, empregamos as
produto desej ado nos andares térreos.
O inicial sistema moageiro desenvolvi
m ós e cylindros. Ou sej a , a inovação
Todos os pisos encontravam-se ligados
do na fábrica de João de Brito baseava
técnica introduzida pela moagem de
através de correias e sistemas de trans
-se na utilização de mós de pedra (a
tipo austro-húngara prende -se com a
missão , para a parte energética, e de
partir das inovações de Oliver Evans,
utilização de cilindros de aço , onde o
-
o systema do nosso
condutas ou canais que permitiam a
dos finais do século XVIII) . O Inqué
cereal era comprimido entre eles,
circulação do ceral. Algumas operações
rito de 1865 remete-nos para as duas
unidos pelas suas geratrizes (em 1 8 g 8
que se verificavam no interior da
diferentes tecnologias da moagem, onde
tinham vinte cinco moinhos d e cilin-
moagem, prendem-se com a limpeza
se nota uma evolução do sector, a partir
dro) . O diagrama de fabrico pressu
do cereal/farinha, a trituração e a pe
dos moinhos do tipo Macauslay (france
punha ainda catorze plansichters e três
neiraçã o . Cada piso comportava um
ses) e ingleses (Westrups) .
jogos completos de moagem.
121
Uma mais-valia desta fábrica residia na produção da bolacha, do biscoito e do pão , detendo j á fo rnos contínuos (tinha doze fornos em 1898) . Todos os maquinismos utilizados eram consi derados os mais avançados para a al tura . O conjunto moageiro do Beato , afirmava-se como um dos mais impor tantes e desenvolvidas do país , riva lizando com a maior empresa - a Fábrica do Caramuj o . Edifício dos Limpadort!s.
Um dos elementos técnicos mais signi ficativos para a sua afirmação no pa norama nacional foi a utilização da energia a vapor. Na realidade, foi das primeiras moagens de Portugal a utilizar o vapor. Em 1 8 6 5 , os dois moinhos e as nove mós eram movidos
Edifício dos Limpadores.
Edifício dos Ensacadores.
por uma potência de 43 c/v. Cerca de
Ftibrica d e malte. Cuvas d e têmpera e tanques de germinação. ln i\ lndlístrii1 Portuguesa, Ano I I , n.o 2 2 . 1929, p . 38.
trinta anos mais tard e ,
-las com o u tras mais inferiores para
a fábrica
possuía uma máquina a vapor d e tripla
assim lhe dar saída .
expansão , de marca Sulzer, c o m a
Com o advento do século XX , a em
capacidade de 3 0 0 c/v. Tinha j á há
presa encontrava-se numa fase de cres
altura um dínamo eléctrico , de marca
cimento , firmando-se pela construção
Orliken, de 20 kw.
de vários edifícios no interior do
Esta moderna e inovadora instalação
pátio , situados entre o convento e a
industrial fez a passagem da moagem
moagem. Datam de 1908 , duas das
de ramas para a moagem de farinhas
mais significativas construções de tij o
espoadas. Em 1 8 9 0 , a produção de
lo sílico- calcário , testemunhando uma
farinhas correspondia a 15 2 0 0 0 0 0
arquitectura industrial de qualidade .
kg/ano . A qualidade das farinhas pro
Caracterizam-se por serem estruturas
duzidas inseria-se na escala média e
em nave e em altura, destacando -se
inferior . O Inquérito Industrial qua
também pela sua fenestração ritmada e
lifica o produto
pela utilização de botaréus escalona
-
de qualidades finas
poucas se consomem, e não poucas
dos, a lembrar contrafortes, princi
vezes, para lhes facilitar a venda sem
palmente no edifício dos limpadores.
maior prejuÍzo, somos forçados a lotá-
Um símbolo carismático da moagem e
122
do lugar é a ponte metálica estabele cendo a ligação entre o que hoje se designa por Beato Sul e Beato Norte. Esta construção data de 1 9 0 7 , e tinha como principal função o transporte de cereal entre a zona portuária e a moageln . Nesta época o iniciou-se o fabrico de malte . Numa visita efectuada às várias fábricas da CIP C , aquando da realização do certame da Estoril,
Feira
d 'Am ostras do
pelos jornalistas da
Portuguesa,
o
sentou-lhes a
Indústria
Sr. Ermete Pires
Perspectiva actual dos vestígios das cm'as de têmpera e dos tanques de germinação.
apre
{ábrica de malte, instalada
no edifício da an tiga igreja do Beato António da Conceição, completamente trans{ormada numa moderna instalação Forno da fábrica de malte. Primeira sala.
industrial.
De facto , ainda hoje subsis
tem vestígios da utilização da igreja com fins industriais. Mantendo pratica mente a fachada inicial, o seu interior foi dividido em vários andares, cons truídos em betão , onde se instalaram as diversas operações do fabrico do malte, bem como os vários maquinism o s .
Andar intermédio. onde se \'isualizam as capelas laterais numeradas.
Todo o pé- direito d a igreja seiscentista foi o cupado , nos pisos superiores. Próximo do tecto abobadado , locali zaraln-se as cuvas de têmpera e os tanques de germinação . Em toda a área do altar-mor e, em ameno convívio com os enterramentos aí existentes, instalou-se o forno da torrageln do malte . Este forno ocupa toda a zona da capela-moI', tanto em área , como em altura . Meslllo no exterior , a presença Chaminé da fábrica de malte.
da estrutura de combustão, é visível
123
Abside da igreja com chaminés.
redaram e numeraram no fecho da
o estudo pormenorizado de ca da
abóbada .
edifício, como a sua construção por
As matérias-primas utilizadas eram
escalões, apresen ta a requ eren te o
de primeira qualidade. O malte obti
plano do conjunto industrial, bem
nha -se através de cevadas exóticas ou
como o projecto completo para o
nacionais, mas seleccionadas . A pro
edifício da fábrica de moagem e secção
dução diária atingia o s 6 0 0 0 kg,
de limpeza de trigo, para o q ua l
abastecendo o mercado nacio nal e
requer a u torização corresp o n den t e
internacional. A fábrica encerrou em
(. . ) . .
1976.
Na década de cinquenta , edifícios de
Já n o tempo d a CIPC renovou-se a
várias épocas coabitavam lado a lado ,
imagem da empresa e da produção de
constituindo um dos testemunhos
farinhas através da construção da nova
mais importantes da indústria alimen
moagem projectada pelo arquitecto
tar. Mas a Portugal e Colónias não se
Pardal Monteiro . Chegava, assim, à
confinava , nessa altura , apenas a o
indústria alimentar, mais uma vez, os
conjunto d a s fábricas do Beato .
ecos de modernidade arquitectónica,
Nos anos 3 0 , a CIPC era a maio r or
substituindo primitivos armazéns de
ganização industrial da Península ,
vinhos, de cereais e de azeites.
com uma concentração horizontal .
Em 14 de Abril de 194 8 , a empresa
A juntar às fábricas da Zona Oriental
pede à Câmara Municipal de Lisboa
(Aliança de Xabregas e Beato) soma
autorização para edificar o novo con
vam-se mais catorz e , todas da in
junto laboral. No processo de obras
dústria alimentar - moagens , massas
encontra-se o pedido de licenciamen
alimentícias , bolachas e biscoitos ,
to : A Companhia Industrial de Portu
produtos congénere s , malt e , rações
gal e Colónias de responsabilidade
e gelo . As principais marcas comer
Limitada, (. . .) e proprietária dos ter
cializadas eram a Nacional e a Na
renos com frentes para a fu tura Av.
politana. Vendiam ainda através do
Infante D. Henrique e Rua Direita do
comércio a grosso cereais , legumes e
Da construção da nova moagem. Arquivo
Beato, (. . .) pretendendo construir um
fermentos seleccionados. A força mo
através da implantação de duas cha
novo conjunto industrial destinado a
triz instalada no conjunto das quinze
minés d e tij olo no topo da abóbada ,
substituir, segundo determinação s u
fábricas encontrava -se na ordem dos
perpetuando -se o diálogo monumen
perior e m prazo fixado, o q u e possuía
5 5 0 0 c/v.
Construção
do Edificio de Pardal Monteiro. Álbum de A Nacional.
tal entre o sagrado e o profano .
em Xabregas e foi destruído por um
Com sede na Rua Jardim do Tabaco ,
As antigas capelas laterais foram re
incêndio em 28 de fevereiro de I947
n . OS 66 a 8 2 , a CIPC foi uma empresa
funcionalizadas , servindo como silos
(. . ) Atendendo a que a importância
sempre em crescimento , ultrapassan
de malte . Todas as capelas se empa-
excepcional do conjunto exige não só
do o limite geográfico de Lisbo a :
.
.
124
- I 9 2 0 , adquire todos os bens da Com panhia de Moagem e Panificação Victória do Porto ; - I 9 2 3 , iniciava-se a laboração de uma nova fábrica de bolachas e biscoito no Porto ; - I 9 3 7 - 3 8 , adquire a fábrica de des casque de arroz de Santiago de Ca cém à firma de Caio de Loureiro , Lda . ; - I982, construção da fábrica de corn-l1akes na Trofa. U ma empresa desta natureza teve sempre um elevado número de ope rários . Em finais do século passado , empregavam-se na fábrica João de Brito trezentos trabalhadores, chegan do por vezes, a atingir o número de
Edifício de Pardal Monteiro, ainda sem a construção da semolaria. Arquivo de A Nacional.
quinhentos. Em I 9 7 9 , o conj unto das fábricas da CIPC empregava mil e oitenta e dois trabalhadores, sendo setecentos e sessenta e cinco b omens e trezentos e dezassete mulberes. Os apoios sociais aos operários não foram esquecidos. O fundador João de Brito e os seus descendentes tiveram p resente na sua política empresarial preocupações sociais, talvez imbuídos da filosofia praticada pelos industriais utópicos. Construíram-se casas para os empre gados e dirigia -se a escola primária Casal Ribeir o . Os operários criaram uma Associação Humanitária e uma Filarmónica , mais tarde tiveram tam bém um grupo de teatro e um clube de foo tball.
Conjunto monumental fabril da Companhia Industrial de Portugal
12 5
e
Colónias. Anos 50. Arquivo de A Nacional.
PLANTA
GERAL
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Planta lopogrâfica das fábricas do fiealo. 1972. Actualizada cm 1991. Arquivo de A Nacional.
126
Chefes e trabalhadores da secção de expedição e ensacamento de farinhas e sêmeas. Anos 30. Arquivo de A Nacional.
Trabalhadoras d a lavandaria e sacaria. Anos 30. Arquivo de A Nacional.
HFábrica de João de Brito", in Industrial de
Inquérito
I86S. Acta das Sessões da
Comissão de Inq u érito,
1865, pp. 243;
Lisboa, lN,
Catalogue Spécial
de la Section Portugaise à l 'Exposition Universelle de Paris,
en 1867, Paris, Librairie
Escritório central da Companhia lndmtrial de Portugal
oe
"Maison João de Britt o " , in IVê. Centenaire de
Brito". i n
la Découverte de la Route Maritime des Indes.
abordagem às suas Realizações,
Excursion industrielle de Lisboa à Tholnar,
Portuense, ' 9 9 4 ,
"Reflexos da Industrialização na Fisionomia e
in A
Indústria Portuguesa, Ano
Lisboa, ' 9 2 9 , pp. 33-41 ;
II, n. o 2 2 ,
Companhia
Lisbo a ,
Industrial de Portugal e Colónias,
vol. I, Lisboa, 1976, pp.
Norberto d e , "Fábrica d e João d e Brit o " e " Companhia de Portugal e Colónias" I Livro XV, Lisboa,
de, "Fábrica de João de Brito no Beato
in
António " , i n
Parceria António Maria Pereira, (1938-1939) ,
Inquérito às Fábricas de Moagem,
ordenada por portaria do ministério da fazenda de
20 de fevereiro de I89 0 , Lisboa,
Peregrinações eln Lisboa,
pp. 7 2 - 7 3 ; MO ITA, !risalva, "Convento de Beato António de Enxobregas", in brochura do
lN, 1890, p . 6 ; "Fábrica de João de Brito -
Centre Internationale de créations théâtrales
Beato António " , in
do espectáculo de Peter Brook, Outubro 1980,
Inquérito Illdustrül de
I890, vol. III, Lisboa, lN, 1 8 9 1 , pp. 3 2 7 - 3 2 8 ;
Porto, A . I .
9 5 ; CUSTÓDIO , Jorge,
Vida da Cidade", in
Anuário Comercial, Cc. 1 9 2 9] ; ARAÚJ O ,
352-354; MAGALHÃES, João de Sousa Calvet
p.
Lisboa, 1899 , pp. 46-49; "A Companhia
LEAL, Pinho, "Beato-Anton io " , in Antigo e Moderno,
Empresariado Português. Ulna
Industrial de Portugal e Colónias",
Administrative de Paul Dupont, 1867, p. 1 8 4 ; Portugal
Colónias. Anos 2 0 . Arq\Ii\'o de A Nacional.
p p . 21-27; CUSTÓDI O , Jorge, "João d e
127
Livro de Lisboa,
Lisboa,
Livros Horizonte, '994, pp. 470 e 473; Nacional,
Folhetos Prolnocionais, 1997 .
maquinaria resultante de uma produção vocacionada para o tratamento de óleos uti lizados na fabricação do sabão e de outros detergentes. Por exemplo, sistema de depósitos e silos, muitas vezes organizados em altura, com um funcionamento de transmissões e apuramento do produto, localizado in situ é importante pela sua componente técnica e didáctica. Todo o conjunto representa diferentes momentos e fases de produção de uma das indústrias mais importantes tanto da Zona Oriental da cidade de Lisboa, como do país. A diversidade de modelos técnicos e de soluções arquitectónicas, exprime uma cronologia da actividade industrial, conferindo a todo o espaço uma variedade de momentos tecnológicos, a exigir estudos Planta Aerofotogramélrica 6/7. Maio de 1963. Actualizada em 1987.
de pormenor. A localização da indústria de
S0 C I E DA D E nAC I 0 nA L D E SA B 0 ES
sabões no mesmo espaço de uma velha
Localização - Rua de Marvi la, n. 182- 190.
conjunto edificado como um modelo global
Sociedade Nacional de Sabões herdasse uma
período de Actividade - 1919- 1996
os
quinta - Quinta do Brito -, fez com que a
de p lanificação industrial. Este exemplo
torre-mirante dos meados do século X IX,
Fundadores - Sociedade Nacional
caracteriza-se antes por uma construção
sobre a linha férrea, de interesse patrimonial
de Sabões.
justaposta. A sua expansão fez-se de acordo
e histórico, ex- Iíbris da fábrica.
Actividade Industrial - Fabrico de sabões,
com as necessidades de crescimento
Nesta quinta encontram-se ainda os edifícios
detergentes, manteigas, óleos al imentares e
e diversificação da produção. Assim,
românticos que passaram a ser a sede
apl icáveis na saponificação.
verificam-se edifícios de qualidade
administrativa da empresa.
Valor patrimonial - As construções
arquitectónica e outros com soluções menos
Estado de Conservação - Regular.
valorativas e materiais de construção mais
Classificação - Sem classificação.
que integram o parque industrial da Sociedade Nacional de Sabões representam
económicos, constituindo, na maioria das
diferentes momentos de crescimento e
vezes, acrescentos ou prolongamentos de
expansão empresarial. Por isso,
estruturas já existentes. Alguns edifícios,
no seu interior encontram-se diversas
como os fronteiros à Rua de Marvi la,
sol uções da arquitectura industrial, sendo o
testemunham soluções modern istas
betão o material utilizado na maior parte
dos anos 50.
das vezes. Não se pode entender este grande
Outro aspecto pertinente relaciona-se com a
I29
aludem na sua globalidade à constru ção de barracões, de telheiros ou de depósitos. Os materiais de construção utilizados para a cobertura são , na maioria das vezes, em chapa zincada. N o entant o , o edifício principal desta unidade e o que anunciava o nome da fábrica - SABOARIA NACIONAL D O BEATO -, caracterizava-se por s e r u m espaço amplo inserido n a lógica das construções de grandes naves indus triais ou de armazéns. A Sociedade Nacional de Sabões Lda . , sociedade por quotas de responsabili dade limitada, foi fundada em 1919, herdando simultaneamente toda a acti vidade da anterior empresa, bem como todo o edificado , que à época se resu mia a seteloito construções localizadas entre a Rua de Marvila e a Azinhaga das Árca ocupada pela Sociedade
N ..cional
de Sabões � Fâbric.. Nova. Anos 70.
Veigas. A nova empresa desenvolveu
INDÚSTRIA do sabão é uma acti-
mais significativas indústrias químicas
uma atitude manifestamente diferente
vidade económica muito antiga
criadas em meados do século XIX, a
em relação ao entendimento do con
e com grande tradição tecnológica .
Companhia União Fabril. A localização
ceito de fábrica. Esta mudança pode
A partir d o período manufactureiro foi
d a SNS na Lisboa Oriental, integra-se
ser visível tanto nos edifícios que
uma actividade abrangida por políticas
numa zona de tradição do seu fabrico ,
p assaram a ser construídos como na
proteccionistas, a par do fabrico do
tanto por processos manufactureiros,
modernização das diversas tecnologias
tabaco. O contrato das saboarias esteve
como industriais.
utilizadas . A fusão envolveu ainda
vinculado aos contratadores do tabaco,
Aliás, a fixação da SNS na Quinta de
outros proprietários do sector de sa
Joaquim Pedro Quintela e a Anselmo
Marvila teve como herança uma antiga
boarias (Sousa & C. a e João Rocha) ,
José da Cruz do Sobral, nos inícios do
fábrica de sabão que aí laborara ante
que se uniram para gerir uma fábrica
século XIX.
riormente. Os primeiros dados exis
actualizada. De 1 9 2 0 , existe um exce
A Sociedade Nacional de Sabões (SNS)
tentes no processo de obras sobre a
lente desenho que testemunha o cresci
pode ser considerada como uma das
Sabo aria Nacional do Beat o , Lda . ,
mento fabril alcançado .
fábricas mais importantes dentro do seu
referem-se a 1 9 1 2 . A saboaria pertencia
Ainda que a SNS tenha feito muitos
ramo de activcidade, mesmo no âmbito
à firma Cruz & Ferreira. ÂJ; petições
a=escentos e alterações às diversas
nacional, contracenando
referentes aos anos de 1 9 1 2 , 1913
construções existentes, todos os múlti-
COln
uma das
e
1916
pIos planos apresentados que proj ectalll
ocupada pelo espaço fabril no últilllo
Ulll edifício de raiz, têlll a presença de
período de vida rondava os 90 000 lll2 .
Ulll arquitecto ou de Ulll engenheiro
Durante as três prillleiras décadas cons
civil . Assilll, a partir de 1 9 2 3 , o proces
truíralll-se edifícios para a instalação
so de obras regista Ulll aUlllento do
de gasogénios, de centrais eléctricas, de
volullle de petições à Câlllara e Ullla
caldeiras para derreter sabão, de depósi
diversificação de soluções arquitectóni
tos ou silos COlll avultadas capacidades
cas , de acordo COlll as particularidades
de contentorização . Exelllplo da enorllle
funcionais , sendo o betão , o lllaterial
apetência de arlllazenagelll ou de labo
utilizado e lll larga escala. Ulll exelllplo
ração é o projecto de 1942 , para a cons
data de 24 de Fevereiro de 1 9 2 3 . Este
trução de cinco depósitos ou caldeiras,
plano visava construir Ullla torre para
COlll Ullla capacidade individual de
lllontagelll das caldeiras destinadas
27 000 kg. Outras edificações ins
ao fabrico do sabão por llleio do vapor.
taladas relacionalll-se COlll arlllazéns ou
O projecto é da autoria do engenheiro
telheiros para acondicionalllento de
DOlllingos Mesquita, sendo a lllon
p rodutos oleaginosos ou de o utras
tagelll das caldeiras executada elll cinco
lllatérias-prilllas indispensáveis . Elll
pisos, nos quais se lllanipulava, apurava
1 9 3 8 , constrói-se Ullla das evidências
e acabava a lllassa do sabão .
de call1po que lllelhor identificalll o
O período de lllaior expansão desta
conjunto fabril - SNS - , pois as ini
unidade fabril verifica -se durante toda
ciais da firllla inscrevelll a Ullla altura
a década de vinte, lllantendo a llleSllla
considerável, visíveis a longa distância.
intensidade de crescilllento até aos
Referimo-nos ao depósito de águ a .
anos 50. Esta fase representa o lll O
Construído elll betão arlllado é forllla
lllento d e afirlllação econólllica da
do por Ulll vaso cilíndrico de fundo
elllpresa, havendo a necessidade de Ulll
tronco - cónico e e lll calote esférica,
alargalllento espacial através da aquisi
sendo apoiado por oito pilares de vinte
ção de novos terrenos para a instalação
metros de altura acillla do nível do solo .
de Ulll novo conjunto de equipalllentos
A 23 de Maio de 1 94 5 , a empresa pre
considera velm ente
Dois momentos de crescimento, destacando-se a transportadora metálica de 1951. Foto Mário Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste. Gulbenkian.
Pretende agora a requerente ampliar essas
instalações
industriais . Através de negociações
tende fazer Ullla profunda remo
com o fim de aperfeiçoar ainda mais as
COlll a Câlll ara e COlll os próprios call1i
delação, apresentando à Câmara uma
suas actuais indústrias complem entares
nhos-de-ferro foi possível adquirir a
illlportante petição .
das mesmas.
denolllinada Quinta do Brito e ficar
Possui esta sociedade em Marvila, há
Para tais melhoramentos necessita a
COIU acesso directo a Ulll apeadeiro ,
longos anos
infra - estrutura fundalllental para a
instalações fabris, cujo valor, em e difí
montar muitos maquinismos. (. . . )
entrada de lllatérias-prilllas na fábrica e
cios e máquinas, ascende já a lTIuitas
As novas instalações não puderam ser
para a saída de lllercadorias. A área total
dezenas de milhar de contos.
montadas num local distante do aglo -
- diz o pedido -
as suas
requerente de construir vários edifícios e
a) na refinaria IV, os óleos crus o u bru
5) Fábrica de adubos
6) Fábrica de H. de óleos (. .)
tos eram sujeitos a processos contín uos
7) Alteração da fábrica de refinaria
e às operações adequadas, de modo a
.
Silos e serviços ane.xos. Foto Mário Novais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
8) Alteração à fábrica de extracção
obterem -se óleos refinados, destinados
9) Caldeiras de vapor, central eléctrica
inclusive ao consumo alimentar;
Ia) Oficina de tanoaria
b) na refinação cáustica, procedia -se à
II) Fábrica de óleos
recepção e armazenagem dos óleos crus
12) Parqu e para vasilbame
e consequentemente: à desgomagem / à
13) Armazém par reserva geral de óleos.
neutralização cáustica e separação dos
À semelhança de muitas fábricas con
sabões em centrífugas herméticas / à
géneres a SNS evoluiu para uma
lavagem e separação dos sabões residuais
concentração de múltiplas actividades e
/ ao arrefecimento / à winterização ou
de vários ramos que permitiam um
desceragem em centrífugas / à secagem
domínio do mercado na esfera dos
por centrifugação e vácuo / ao bran
sabões , detergentes, óleos industriais
queamento por terras descorantes e
e alimentares, margarinas, rações e
filtração em filtros verticais herméticos /
fertilizantes. Iniciando a sua activida
à desodorização (destilação por arrasto
de pelo fabrico do sabão , através da
de vapor sob vácuo) / à armazenagem
combinação de ácidos gordos com
de óleos;
bases alcalinas e pela saponificação
c) na refinação fisica, iniciavam-se as
(utilizando, essencialmente, gorduras
operações com a recepção e a armaze
vegetais, gorduras animais, resinas,
nagem de óleos crus, passando seguida
álcalis, cloreto de sódio e água, como
mente: à desgomagem em centrífuga /
matérias-primas) , gradualmente esta
ao branqueamento por terras desco
sociedade aproveitou o mesmo univer
rantes e filtração em filtros verticais
so dos produtos primários para a fabri
h erméticos / ao arrefecimento / à des
cação de derivados.
ceragem / à refinação física e deso
merado fabril da requerente, visto a sua
Em I g 8 I , a SNS compreendia fábri
dorização / à armazenagem de óleos
interligação ser feita por intermédio de
cas de óleos para fins alimentares e
refinados.
canos e transportadores e não existir
industriais e indústrias para fabrico de
As matérias-primas utilizadas eram
outro processo prático de a efectuar. (. . .)
sabões e sabonetes, mistura de deter
previamente analisadas em laborató
Discriminação das novas instalações a
gente s , ceras para soalhos, móveis ,
rio da empresa. Os óleos a refinar obti
montar:
preparação de insecticidas, etc. , etc.
nham-se a partir das sementes olea
I) Refeitório, biblioteca e serviços sociais
De forma sucinta, podem referir-se
ginosas laboradas nas instalações de
2) Parqu e para recreio do pessoal
alguns sectores e vários métodos de
extracção da sociedade ou recebidas
3) Labo�·a tório e serviços técnicos
fabrico contemplados no processo de
do exterior. Os óleos crus classificados
4) Silos para oleaginosas
obras :
como alimentares (girassol, amendoim,
'32
cártamo , soja, grainha de uva, gérmen de milh o , tomate, bolota, etc. ) refi
E M P R E SA S
A S S O CIA DA S
-
I Ni c I O
DA
D É CA D A
D E
O I T E NTA
navam-se em quantidades variáveis, atingindo os valores máximos de 2 00 toneladas/24 horas. A
soda cáustica, o ácido fosfórico , as
terras descorantes ou de branqueamen t o , e outras matérias subsidiárias dos diversos processos eram empregues em
P RO D UÇÃO
E MP R E SA SO CIEDADE C O MERCIAL ULTRAMARINA
Óleos alimentares e lubrificantes
PREVINIL .
Compostos vinílicos
SOVENA
Glicerina e óleos vegetais
INDUVE .
Óleos vegetais para a indústria
quantidades dependentes da qualidade dos óleos crus a refinar. D o s aparelh o s , das máquinas e do
S O NADEL
D etergentes
.
restante equipamento podemos enun ciar apenas alguns exemplos retira dos do gigantesco universo existente: cinco depósitos para óleos em processo , três depósitos para soda cáustica, um
MARINTAR
Fretes marítimos e aéreos
PSICOFO RMA
Testes psico técnicos
SO]ORNAL
Jornal Expresso e Tempo Económico
. .
depósito para ácido fosfórico , dois tanques de água quente, um tanque de recolha de descargas, um tanque de
I NT E G R A D A S
E M P R E S A S
N O
PA R Q U E
I N D U S T R I A L
recolha d e óleos dos filtr o s , uma caldeira de fluido térmico e respectivo tanque de recolha de fluido , dois seca
E M P R E SA
P R O D U ÇÃO
VITAMEALO PORTUGUESA, SARL
Rações para animais
dores de óleo , um reactor de contacto, três desodorizadores, dois branquea
FÁBRICA NACIONAL
dores , entre outros.
D E MARGARINA
Margarina de uso doméstico e industrial
SOVENDAL
Produtos de alimentação e higiene
MENSOR
Estudos económicos
Paulatinamente, a SNS adaptou-se à nova era de organização empresarial. Se na sua história interna a fábrica de sabão já tinha aderido à concen
.
INTERMARCA
Produtos de higiene e beleza
CIESA
Publicidade
SYRNES P O RTUGUESA
Resinas sintéticas
D ' ORO VONDER
Batatas fritas
traçã o , no mesmo espaço de labora ção , mais tarde transformar-se-á num parque industrial integrando variadís simas empresas, associando-se a outras tantas, também ligadas ao mesmo. Com este método organizativo , tudo o
PENTA
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Publicidade
que para outras empresas se incluiria na
133
esfera do desperdício ou do lixo , para a SNS era o emergir de novas fábricas (onde ponderavam já conceitos ambi entais ) , alargando a escala produtiva e subsidiando outros vectores económi cos relacionados
COIU
o ramo alimentar
ou com a pecuária. Desta década desta cam-s e , também, os óleos de amen doim, de soj a , de girassol e de coco ; os produtos de higiene e limpeza (a marca Sonasol,
outros detergentes, sabões e
sabonetes) e rações para animais.
Produtos da SNS. Folos �lãrio Novais. Arquivo de Arte da Fundação Calo mie Culbenkian.
'3 4
A manutenção e alimentação destas
Ao longo das diversas actividades docu
linhas de produção impunha uma
mentam-se vários incidentes de trabalh o .
estrutura alargada, tanto a nível dos
No processo d e obras , j á no período
mercados ab astecedores das maté
final da actividade da empresa, surgem
rias-primas (caso das ex-colónias , da
preocupações relacionadas com p o
Nigéria ou dos EUA) ,
luição e c o m a segurança no trabalho .
como dos
mercados consumidores. A produção
Em 1 9 8 7 , existe um anexo a uma
da SNS ultrapassava as fronteiras
memória descritiva , na qual se expres
nacionais , tendo nas ex- colónias um
sam as condições de segurança para a
mercado excepcio nal . A circulação
viabilização e aprovação do próprio
constante de toneladas de matérias
pedido de obras . Podem-se a título
-primas ou de milhares de produtos
de exemplo explicitar algumas das
exigia uma organização exemplar na
condições :
Deve ser apresen tado um
distribuição e transportes. A linha de
inventário
completo
caminho- de-ferro do Norte, a frota de
emissão para a a tmosfera, incluindo
B IBLIO GRAFIA,
camiões- cisternas e as embarcaçõ es
emissões justificativas (tendo em aten
RIO DE JANEIRO, António,
marítimas eram os meios utilizado s .
ção os dispositivos de ventilação, linhas
sabões e sabonetes,
A S N S empregou sempre um número
de vácu o ,
Profissional, Lisboa, Livraria Bertrand, s.d. ;
dos pontos da
transporta dores pneumá
Linha de engarrafamento e de empacotamento de detergentes. Foto Mário Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
Indústria de
Nova Biblioteca de Instrução
muito elevado de operários. No final
ticos,
dos anos 7 0 , a mão-de-obra utilizada
considerando e m particular as emis
et alij, A aplicação do Método Regressivo
rondava o meio milhar de trabalha
sões
da
dores, sendo 15 % composto de mu
circuito d e transporte e armazenagem
lheres e 85 % de homens. Na história
das terras
social da empresa não se registam mui
o dores
silos de armazenagem,
de p o eiras
de
(p or
exemplo
branqueamen to)
(ao longo
de
etc.),
toda
e
no
os
a linha
FROTA , Magda Maria da Purificação de Sousa
Zona Industrial de Marvila,
CUSTÓD I O , Jorge, "Reflexos da Industrialização na Fisionomia e Vida da
tas contestações laborais. No parque
de refinação de óleos, disp ositivos de
Cidade " . i n Livro
industrial criaram-se algumas infra
redução). Os operários devem u tilizar
Livros Horizonte, 1994, pp. 470-471 e 480-481.
- estruturas sociais como o refeitório e
as protecções adequadas de forma a
o posto médico .
evitar acidentes.
Esta empresa começou muito cedo a
Apesar das diversas remodelações de
lidar com fortes problemas de p o
equip amento , das actualizações dos
luição , n ã o só para a área geográfica
sistemas de fabrico e das recentes me
e habitacional envolvente, mas tam
didas protectoras do ambiente, a em
b é m em relação aos operários que
presa , que ainda nos anos 8 0 laborava
e nfrentavam quotidianamente c o m
sem preocupações aparentes, encon
situações d e risco ao manusearem
tra-se actualmente encerrada, lidando
p .r o dutos e- operações químicas
co.m. � p.resençlL de- uma. co.m.issão liqui:
co
perigosas .
datária.
135
(trabalho
dactilografado), Lisboa, F. L. , 1978, pp. 68-74;
de Lisboa,
Lisboa,
,
F A B R I C A D E B 0 R RA C H A L U S 0 - B E LGA Localização
-
R u a d o Açúcar, Beato.
período de Actividade Fundadores
-
-
1 9 2 6 - 1 9 8 0 (±)
V i ctor Constant Cordier.
Activi dade Industrial - F a b r i c o de produtos e a c e s s ó r i os em borra c h a . M a n ufactura gera l d e borracha f l e x ív e l , e b o n i t e , g u t a - p e r c h a e am i an t o .
Valor Patrimon i a l - O e d i f í c i o c o m frente p a r a a R u a do A ç ú c a r , datado dos anos 40, é um e x e m p l o da arq u it e ctura m o d e r n i s t a ao serv i ç o da i n dú s t r i a , confer i n do - l he u m a l in g u a g e m de p o d e r e de act u a l i zação para a época. A f a c h a da revela uma p ureza de l i n h as e s o b r i edade dos e l ementos déco, r e s s a l ta n d o a fun ci o n a l i dade d a s j a n e l a s . O conj unto dos o n z e armazéns é u m a constru ção Planta Aerofotogramétrica 6/8. Escala 1:2000. 1{aio de 1963. Actualizada em 1987.
anter i or a 1 9 1 5 e d e s t a c a - s e p e l os seus t e l h a d o s em s h e d e pela c o l o cação ritmada dos respiradouros. Todo o conjunto é i mportante do ponto de v i st a d a arq u i te c t ura i n d ustri a l .
Estado d e Conservação - O s e d i f í c i o s foram rec uperados p a r a i n s t a l a ção de e s c r i t ó r i o s n o s p i sos superiores, u m a l o j a n o rés - do - c h ã o e arm a z é n s autónomos n a s n a v e s fabr i s . E s t a i ntervenção i ns e r e - s e n o prógrama de reabi l itação urbana desenvolv i do p e l o Cam i n h o do O r i e n t e com a c o l aboração da A m b e l i s .
Classificação
-
A c l a s s i f i car como
Imóvel de Interesse P ú b l i c o .
1 37
Anúncio da Companhia de Borracha. Exposição do Rio de s/p.
Janeiro. 1922.
Edifício da Fábrica d e Borracha Luso-Belga, com frente para a Rua d o Açúcar. Foto ?>.lário Navais. Arquivo d e Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
FÁBRICA Luso-Belga de Victor
acordo com os alçados de finais do século
inovador , tratando-se de uma indústria
Cordier Lda. não pode ser disso
passado a fábrica era composta por um
pouco desenvolvida em Portugal. A sua
ciada da primeira indústria de borracha
único piso, terminando em platibanda,
instalação deveu -se essencialmente a
instalada no mesmo espaço produtivo .
onde se inscrevia
Compagnie du Caout
capitais estrangeiros de origem belga.
A
Em Setembro de 1 8 9 8 , Jules David
chou. Monopole de Portugal.
Este edi
Esta indústria não gozara de nenhum
pede autorização à Câmara para instalar
fício era interrompido pelo portão de
proteccionismo por parte do Estado,
a sua indústria de " cautchu" . O proces
entrada e encontrava-se associado ao
embora fosse autorizado um monopólio
so de obras informa sobre o pedido do
prédio de habitação do proprietário.
ao empresário Jules David.
empresário de origem belga,
repre
A área coberta, como se pode observar
A passagem da Companhia para as mãos
sentante da Companhia da Borracha
pelo anúncio apresentado em 1 9 2 2 , é
do industrial Victor Cordier não é
desejando
presumivelmente a mesma da fábrica do
muito clara . A última data com refe
construir uma fábrica para laboração de
período de Victor Cordier, encontran
rência à Companhia é a de 1 9 2 2 e o
borracha e uma casa de habitação, a o
do-se já instalados os edifícios de telhado
primeiro elemento informativo do
O início d a laboração data de
em shed e a zona da casa das caldeiras e das
novo proprietário é de 192 6 , sob a
7 de Janeiro de 1 8 9 9 , ficando sujeita à
máquinas, junto à chaminé e com ligação
denominação de Victor C . Cordier
produção anual de 50 toneladas.
para a Rua José Domingos Barreiro .
Lda . Os capitais continuam a ser maio
Monopólio
Beato.
de
Portugal,
O edifício da Companhia da Borracha
Para a época, o estabelecimento da
ritariamente belgas . A presença de
tinha frente para a Rua do Açúcar . D e
Companhia Nacional de Borracha era
accionistas portugueses na empresa
origina mais tarde a denominação de Fábrica de Borracha Luso - Belga, no me que se perpetuou até à actualidade, inscrevendo-se na fachada principal. C o m este novo p roprietário , alte rações sucessivas vão sendo realizadas nos edifícios construídos. N o proces so de obras registam-se p edidos de alteração de telheiros, para a insta lação de novas áreas de apoio aos trabalhadores, como o vestiário , o re feitório , o s balneário s . Na década de quarenta, para além do grande espaço d e fabrico de o rige m , existiam as secções de aquecimento (para a vul canização) , do pó de sapato e ainda o armazém de confecções, o depósito de matérias - prima s , a serralharia, um
Oficina de acabamento d e galochas. Foto 1.fário Novais. Arquivo d e Arte d a Fundação Calouste Gulbenkian.
posto médico e uma garage m .
r.
era submetido ao aque
forte laminador, a calandra . Da má
Em relação a o edifício modernista, d a
cimento em caldeiras com água quente
quina saíam umas folhas com a con
década de quarenta - aquele que carac
para ser cortado de imediat o ;
sistência e espessura desejada para se
teriza a actual tipologia virada à via
2 . após o corte , seguia - s e a lavagem
utilizarem na obtenção dos diversos
pública -, desconhece-se o arquitecto
em água fria de modo a perder as im-
produto s .
que o projectou.
purezas;
D e todas a s operações a m a i s i m
O
c a u tchu
Aquando da fundação da Companhia, a
3. o
matéria-prima mais importante consis
minadores ;
tia no
4 . a operação posterior intitulava -se
cautchu
em brut o , proveniente
cautcnu
passava por cilindros la
portante e r a a vulcanização p orque p ermitia conservar as propriedades
tendo como obj ectivo a li
mais importantes do
c a u tcn u .
de Angola, Benguela , São Tomé, Brasil,
malaxage,
Pará, Peru e México . O
gação dos diversos fragmentos , para
conjunto mais vasto de um trabalho
obtenção de folhas de borracha;
de Mário Novais realizado na Fábrica de
para os depósitos, com a forma de tor
5. após a secagem, as folhas sofriam
Borracha Luso -Belga. Estes magníficos
cidas o u de pães cor de tij olo escuro .
uma operação de mistura com as di
registos, praticamente desconhecidos
Utilizavam-se cerca de 60 0 0 0 kg por
ferentes substâncias que entravam na
do grande público , mostram a evolução
ano .
sua composição , antes do
técnica existente na unidade industrial,
Até à obtenção dos diversos produ
vulcanizado ;
a relação que o Homem detinha com o
tos registavam-se uma série de ope
6. por fim, as folhas sofriam uma acção
Trabalho e com a Máquina.
raçõe s :
compressora dos cilindros e de um
N o período de Cordier, apesar de se
cautcnu
chega
va até à fábrica em embarcações e seguia
1 39
cau tcnu
ser
As
presentes fotografias integram um
terem registado várias alterações, em termos de edifício e de interiores, a laboração não era totalmente maqui nofactureira . As primeiras fases de tratamento da matéria-prima depen diam de algumas máquinas-ferramen tas importantes, como a calandra. Para a obtenção de alguns produtos, como a mangueira, a máquina era também fundamental, mas noutras fases de acabamento a mão - de - obra tinha um papel determinante . E m 194 3 , ainda aparece em planta a casa da caldeira e a máquina a vapor, indiciando a força motriz utilizada na Fábrica de Borracha Luso-Belga. A energia a vapor já se encontra insta Fabrico de mangueira. Foto Mârio Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
lada em 1 9 0 8 , com uma máquina de 15 c/v, mas nos anos 40 impunha-se a sua substituição pela energia eléctrica. A Fábrica de Borracha Luso-Belga era a concessionária em Portugal e ilhas adja centes da patente internacional, Standard Super-moulding Coo Ltd, para a super moldação de pneus das marcas Englebert
e
Dunlop.
Micbelin,
Mas a gama de
produtos fabricados era variadíssima, desde acessórios para bicicletas, motas, automóveis, mangueiras para diversas funções, sacos de água fria e quente, etc. , etc. Um sector muito importante da produção era o calçado, fabricando-se desde galochas a sapatos. Em 1940 , a fábrica imprime um catálogo de calçado para a época de Inverno com os res pectivos preços, destacando nessa publici Fase do trabalho manual. Foto Mário Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
dade a marca registada
Cruz de Cristo.
C(i)MPANHIA D'J\ B(i)RRA,CHA
BORRAOHA- GUTTA PEROH.� -.A.:iUJ:A:NTO INDUSTRIA NACIONÁ\L
DEPOSlrros
I
Em LISBOA -275,
Rua da Prata, 277
No PORTO - 186, Rua das Flores,
138
Produtos fabricados pela Companhia de Borracha. in Problemas e J\fanip uJações Chimicas. slp.
Note-se que em 1 9 7 8 , a Fábrica de Borracha Luso-Belga era ainda uma empresa em franco funcionament o , ocorrendo o seu encerramento durante a década de oitenta. A actual proprietária é a Sociedade Agrícola da Quinta da Freiria, S .A.
B I B L I O GRAFIA,
SANTOS , J. Correia dos, "Borracha (cautchu) " , Cllimicas,
in Problemas e Manip ulações
vol. III, Lisboa, 1 9 I I , p p . 3 1 6 - 3 2 2 ;
Fábrica d a Borracha Luso-Belga. 1640 - 19 4 ° , Calçado - Época d e 1m'erno ,
Lisboa, 1 9 3 9 .
Produtos fabricados pela Fábrica de Borracha Luso-Belga. Foto Mário Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
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l i derada p o r c a p i t a l ista de L i s b o a e P o rt o , c o m o o v i sc o n d e de Carn a x i d e , c a r l o s R e i n c k e , l o rge O ' Ne i l , I . W . H . B l e c k e Man u e l de Castro G u i m arães .
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Planta ACTofotogramêtrica 6/8. Escala 1:2000
.
de fósforos.
Valor Patrimonial - As d i versas áreas f u n c i o n a i s d a f á b r i c a de fósforos compõem - s e p o r edífícios a u t ó n o m o s , con str u í d o s j ustaposta m e n t e . Este conjunto organizava-se para o i n t e r i or, com p e q u e n o s p á t i o s e a l as c o m u n icantes, d e l i m i t a d o s p o r um m uro a l t o , à v o l t a do q u a l s e
As j a n e l as para o e x t e r i o r têm v e r g a -,... -
....
---
uaue
Act ivi dade I ndustrial - Produção
desen v o l v i a m o utras o f i c in a s .
-\-
:t.
período de Act ividade - 1 8 9 5 - 1 9 8 5 ( ±) Fundadores - compan h i a p o r acções
:í
P.n.do
An.s
'---
Local i zação - R u a do Açúcar, a o Beato.
I---
r�
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S·
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I
Afo nso
H I--
I'
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A veNIDA
lXL-��
R
j>.,faio de 1963- Actualizada cm Ig87-
,
F 0 S F <D R 0 S C 0 1l1 P A n H I A P 0 RT U G U E S A D E, S F 0 R0 S S 0 C I EDADE nAC I 0 nAL D E F0
fjj �
o g i va l . Exceptuando esta f o r m a de organ i z a ç ã o interna o e d i f í c i o n ã o rev e l a n e n h u m a característ i ca s ig n i f i ca t i v a .
Estado de conservação - R e g u l a r . Classificação - Sem c l as s i f i c a ç ã o .
Anúncio.
Exposição Internacional do Rio deJaneiro.
1922.
OS finais do século XIX , o fabri
O Inquérito Industrial de I890 teste
Os obj ectivos eram claros. Tratava-se
munha este facto , pois menciona, em
de explorar o
Lisbo a , diversas pequenas unidades
a ccendalhas e p a vios ph osphoricos,
exclusivo de fa brico de
fosforeiras, onde o carácter mecaniza-
qualquer que seja a sua denominação e
do da produção é exíguo . O Estado
processos, e a exploração da isca, no
pretendeu
continente e ilhas a dja centes
inverter
esta
situaçã o ,
(Estatu
alargando à produção fosforeira a s
tos, I 9 0 9 ) . A sede social ficou em
tendências d e centralização e mono
Lisboa, na Rua de S. Julião , n. o I 3 9 .
pólio ou exclusivo , estratégia aplicada,
A Companhia Portuguesa de Fós
na maior parte das vezes, aos sectores
foros teve um
dos tabacos e dos sabões. Assim, a partir
2 400 0 0 0 $ 0 0 0 réis , através de acções
capital inicial
de
de I89I, lançou-se um concurso com o
e obrigações . A maioria dos accio
objectivo de desenvolver uma indústria
nistas eram portugueses , aos quais se
exclusiva de fósforos. Mas dificuldades
associaram algumas casas estrangeiras,
diversas e a renda elevada da oferta da
principalmente o Banco de Paris e o
concessão , situada em 2 8 0 500$000
dos Países Baixos .
réis anuais, afastava o candidato a
O capital social cresceu significativa
empresário.
mente, acompanhando o desenvolvimen
Todavia, em I 8 9 5 , surge a Companhia
to da empresa, por exemplo em I909-
co de fósforos ou acendalhas
Portuguesa de Fósforos, através de
-I9I5, o valor era de 4 500 000$00, em
passou da fase oficinal e manufacture ira
uma proposta do po lítico H intze
I922 de 9 000 000$00 e em I978, de
para a industrial. Este progresso tec
Rib eiro .
O Estado viabilizou um
2 5 000 000$00 escudos. A adminis
nológico deveu -se às significativas des
contrato que acabou por ser assinado
tração da sociedade foi confiada a um
cobertas dos processos químicos para o
com os accionistas dos fósforos , em
conselho composto por um número
aperfeiçoamento da acendalha, regista
25 de Abril desse ano . O obj ectivo
variável, entre cinco ou nove elemen
dos na primeira metade de Oitocentos.
consistia na exploração exclusiva do
tos, com preferência para a nacionali
Um dos avanços mais significativos ficou
fabrico e venda de fósforos em Por
dade portuguesa, segundo os Estatutos
a dever-se a E. Kopp e a Schrotter que
tugal. Assim, a Companhia liquidou
de I 9 0 9 . Alguns empresários que
introduziram uma modificação alotró
todas as fábricas que existiam no país
integravam a administração , em I 8 9 5
pica do fósforo ordinário , ou seja, a
instalando as novas unidades fabris em
eram, o visconde d e Carnaxide, Car
combustão deixou de ser tóxica ou
Lisboa (Rua do Açúcar, ao B eato) e
los Reincke , Jorge O ' Neil, Manuel de
inflamável. Em I 8 5 5 , industriais suecos
no Porto (Lordelo) . A exclusivida
Castro Guimarães e J .W. H . Bleck.
começaram a aplicar estas propriedades
de da produção prolongava- s e por
Em I 8 9 8 , na
ao fósforo ordinário , passando dora
um período de trinta anos, durante o
de Lisbonne a
vante a ser denominado este produto
qual se procedia ao pagamento da ren
que a produção das duas fábricas por
por
fósforo vermelllO, fósforo sueco
fósforo de segurança.
ou
Exc ursion In dustrielle Th omar,
referia -se
da anual ao Estado , estabelecida em
ano equivalia a 6 000 000 000 de
contrato .
fósforos, quantidade absorvida pelo
consumo do p aís . A tendência cami nhava para um aumento da produção e para um alargamento dos mercados às ilhas e colónias portuguesas. O certo , é que em 1 9 2 2 , publicita-se a filial de África, localizada em Luanda e denominada por Sociedade Colonial de Fósforos, Limitada. D o is momen tos importantes de crescimento desta indústria relacionam-se com as guer ras mundiais. Num período de actividade de cerca de no anos, a Fábrica do Beato , que
inicialmente empregava mil operários, tinha em 1978 setenta e nove emprega dos, compostos por 50 % de homens e de mulheres. Os indicadores numéricos revelam o crescimento e a sua decadência. No entanto , não se pode Fábrica dt: Fósforos.
Rua do Açucar. Ezcursion indusldeJJe de Lisboa li Thomar, p. 39.
esquecer a remodelação tecnológica e
Fachada da
a automatização que alguns sectores
reger- se pela resposta constante à
tos identificativos ou de ostentação ,
da produção foram tendo ao longo
concorrência de outras grandes uni
mais parecendo uma fortaleza que
do período de actividade, diminuindo
dades, como a Companhia Lusitana
encerra em si toda a produção.
naturalmente a presença do opera
de Fósforos do Porto e a Fosforeira
O interior deste massame em betão
riado .
Portuguesa de Espinho .
é composto por vários edifício s , uns
A actividade da fábrica da Rua do
À semelhança de outras indústrias
localizando-se no interior do pátio e
Açúcar foi , nos seus primeiros trinta
europeias, como a metalúrgica Grand
outros encostando -se aos muros da
anos , marcada pela fase da exclusivi
Hornu, na Bélgica, os edifícios que
delimitação , muitos deles de dois
dade de mercado , em virtude da acção
integram o conjunto da unidade in
pisos. A planta de 1 9 2 0 , revela - nos a
protectora do Estado. Mas em 1 9 2 5 ,
dustrial organizam-se internamente,
lo calização interna das áreas fun
finda a concessão estatal, a Match and
sendo pouco perceptível para o ex
cionais e d e todos os restantes serviços
Tabacco Timber Supply Coo adquiriu
terior os ambientes de laboração . De
de apoio . Das várias oficinas iden
todo o activo e o passsivo da Compa
facto , a Companhia Portuguesa de
tificadas podemos destacar as estufas
nhia Portuguesa de Fósforos , transi
Fósforos é uma das poucas indústrias
para fósforos amorfo s , a secção de
tando praticamente todo o capital para
da Zona O riental de Lisboa que desen
massas químicas, de molha de fós
a Sociedade Nacional de Fósforos.
volve esta filosofia organizacional, não
foros, d o enchido de fósforos e do
A actividade desta nova Empresa irá
mostrando para a via pública elemen-
empacotamento , entre outras . Este
1 45
&TTt.I.t,ClTl-liia.. .:/orá.L9.L-LeJeL
de
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J
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.L P/rlR/".
Alçados e planta da casa das caldeiras. Arquivo de Obras. CML.
[
,� Planta da Companhia Portuguesa de Fósforos. Arquivo de Obras. CML.
documento permite simultaneamente
construção dos diversos sectores se
para posteriormente ser aplicada nas
realizou na maioria das vezes, isola
cabeças dos palitos de cera (fósforo
damente .
branco) ou na lixa das caixas dos fós
A Companhia Portuguesa de Fósforos
foros suecos (fósforo vermelh o ) .
produzia o s fósforos suecos e os
Para a fabricação d o s fósforos eram
de cera . Em I9II, a fábrica do Beato,
necessárias várias e numerosas ope
impressionava
pela variedade de m a
rações, que podem resumir-se a qua
chinism os q u e s e encontram em n u
tro , no caso concreto das acendalhas
merosas e amplas officinas, tendo em
vermelha s :
vista
L
os mais delicados pormen ores
compreender a organização da uni
da divisão do tra balh o . Em todas as
dade fabril , a identificação das várias
installa ções se n o ta o mais apurado
secções existentes e o desenvolvimento
m e th o do e uma excelen te organização
tecnológico , num dos períodos mais
de serviços technicos
(in
Pro blemas e
divisão d a madeira em p equenas hastes ou palitos ;
2 . preparação da pasta o u massa inflamável; 3. a quimicage m ;
significativos da história da empresa.
Manipulações Chimicas) .
4 . a excicação e embalage m .
O projecto da casa das caldeiras, data
A matéria-prima mineral importava
Durante a década de trinta, a S o
do da mesma época , é um exemplo do
- se de França , sendo guardada em latas
ciedade Nacional de Fósforos , desen
crescimento da fábrica e de como a
e colocada em tanques cheios de água,
volveu um forte plano de apoio social
aos operários. Apesar de não ter cons truído casas para os empregados , a sociedade criou um serviço médico , um posto de socorros, um balneári o , um refeitório , u m a crech e , u m a coo perativa ' u m grupo desportivo , tudo no interior dos altos muros da fábrica do Beato . Por outro lado , desenvolveu uma política de subsídios, para o caso de doença e invalidez.
B I B L I O GRAFIA,
SILVA, António Joaquim Ferreira da, "Acendalhas Phosphoricas", in
Relatorios
da Exposição Industrial Portugueza em
I89I no Palacio Crystal Portuense,
Lisboa, lN, 1 8 9 3 , pp. 1 9 0 -2 0 2 ; "Compagnie Portugaise d'Allumettes" I in IVê
Oficina d e fabrico d e pavios para o s fósforos d e cera,
i n Problemas e Manipula ções ClJimicils,
Centenaire de la Découverte de la Route
CUSTÓ D I O , Jorge, "Re flexos da
Maritime des Indes.
Industrialização na Fisionomia e Vida da
Lisboa à Th omar,
Excursion industriel1e de
Lisboa, 1 8 9 9 , pp. 3 8 - 42 ;
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Cidade " , in
Livro de Lisboa,
Livros Horizonte , 1 9 9 4 , p . 4 7 9 ·
Lisboa, Typographia de A. M.
Pereira, 1 9 0 9 ; "Fabricas de Phosphoros " , in pJ'oblemas e Manipulações Chimicas,
vol. III ,
Lisboa, 1 9 I I , pp. 3 8 4 - 3 8 7 ; Exposição Internacional do Rio de Janeiro, e Catálogo Oficial,
Livro d ' Q uro
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Nacional de Fósforos. Assistência ao Pessoal" , in
Indústria Portuguesa. Revista da Associação
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n. o especial,
Lisboa, 1 9 3 7 , pp. 3 0 - 3 1 ; "Sociedade Nacional de Fósforos. Assistência ao Pessoal" I in
Lisboa,
Indústria Portuguesa.
Revista da Associação Industrial POl·t uguesa ,
Ano 1 0 , n . o I I 7 , Lisboa, 1 9 3 7 , p. 2 9 ;
1 47
p.
385.
recente, com l argas j a n e l a s r e p e t i das e u m a p l a t i b a n d a a todo o c o m p r i m e n t o . As j a n e l a s e os p o r t a i s d o p i s o t é rreo reve l a m a mesma l i n g uagem construt i v a . Este último edifício encontra-se c o n f i n a d o a n orte com t e r r e n o s do cam i n h o - d e - ferro . U m o utro arruamento formando l ar g o , à d i re i t a d o t é r m i n o d a r u a c e n t r a l , d e f i n e um e s p a ç o fabr i l , no q u a l se constru i u um e d i fí c i o c e n t ra l i z a d o , prováve l a n t i g a casa das m á q u i n a s . Em todos os prédios notam-se obras de a l g u m a q u a l i dade de i ntervenção dos en gen h e i ros i n d us t r i a i s , que não q u i seram deixar u m a fábr i c a atamancada, m a s s i m u m a obra de acordo com as m odernas normas construtivas d a s fábr i c a s Planta Aerofotogramétrica 6/8. Escala 1:2000. Maio
de 1963. Actualizada em 1987.
de cort i ça . E s t e aspecto f o i t i do e m
F Á B R I C A D E C 0 RT I Ç A D A Q U i n TA D A Il'1 I T RA Loca l ização
-
A l b e r g u e d i t o da M i tra,
j un t o a o Palá c i o da M i t r a .
c o n s i deração q u a n d o s e reconverteu o espaço para a l berg u e .
a rmazéns a d j a c e n t e s u n s a o s o u t r o s .
E s s a q u a l i dade p o d e d e t e c t a r - s e
A sua refunc i o n a l ização e a d a p t a ç ã o
também n o i nterior, embora
perm i t i u perpet u a r a a n t i g a construção
a í h a j a necessidade de destri n ç a r
Desde 1 9 2 4 pertence à S e g urança
fabri l , c u j a memória se e s v a n e c e u
o q u e f o i obra dos e m p r e s á r i o s
Soc i a l .
nas n ovas funções s o c i a i s .
da cortiça e o q u e res u l t o u
período d e Actividade
Fundadores
-
-
1898- 1 9 1 9
O s i n d ustri a i s c a t a l ã e s
da f a m í l i a Fuertes.
Actividade Industrial
-
Transformação
e fabrico de produtos e m c o r t i ç a .
Valor Patrimonial
-
O conj unto da
a n t i g a F á b r i c a de Cort i ç a , construído com a lv e n ar i a de t i j o l o aparente,
U m a a l a m e d a centra l l adeada de c i n c o
da adaptação para f i n s s o c i a i s .
e d i f í c i o s de d u as á g uas e n c i m a d o s por
Do p o n t o de v i s t a a r q u i t e c tó n i c o esta
u m ó c u l o , com portão e j a n e l a s
mos n a presença de u m a construção
l atera i s , de u m l a d o e u m a correnteza
em t i j o l o , s up o rtada p o r v i ga s d e ferro,
de d o i s pisos, d o o utro, são os
m a s rebocada a c a l .
aspectos mais s a l i e n t e s d o que subs i s t i u . O referido arruamento
"Museu dos Bombeiros"
-
N a s p ro x i m i
dades e n c o n t r a - s e u m e d i f í c i o q u e
reve s t e - s e de a l g u m i n t eresse p e l a
e n testa com u m grande e d i f í c i o
o utrora perte n c e u à F á b r i c a da C o r t i ç a
organ i z ação dos e d i f í c i o s i n d u s t r i a i s e
transvers a l de q uatro p i s o s , m a i s
e onde e s t á i n s t a l a d o , provi s o r i a m en t e ,
1 49
m at e r i a l p ara um i m portante M u s e u do
n o q u a l a s bombas m a n u a i s , a vapor
B o m b e i r o , do Bat a l h ã o de Sapadores.
ou mecân i c as c o n s t i t uem e x em p l ares
Cons i derações de o utra n a t ureza não
d e que n o s p o d e m o s org u l h a r e x i s t i rem
seriam n e c essárias s e n ã o e x i s t i sse a
em Portug a l . A á rea
noção da i mportâ n c i a da a c t i v i d a d e
Estado d e Conservação
dos b o m b e iros n a c i d a d e i nd ustr i a l ,
o c upada pelo ant i g o a lb e r g u e está em
desde os m ea dos d o s éc u l o XV I I I .
b o m e s t a d o , o edifício mais moderno,
Com o c r e s c i m e n t o f a b r i l a s s i st i u - s e a
l o c a l i za d o a o f u n d o da a l a m e da d a
-
u m a responsa b i l i za ç ã o p ú b l i ca e
entrada, encontra - s e em r u í n a .
privada n o ataque aos i nc ê n d i os ,
C l assificação
facto q u e m o t i v o u a m a i or m o b i l idade e m e c a n i z ação desta a c t i v i d a d e . As p r ó p r i a s empresas i n d ustri a i s desenvol veram um esforço p ara d i sporem d o seu corpo privado de b o m b e i ro s , c u j o recrutamento era f e i t o entre os operá r i o s , pess o a l interessado em deb e l ar os s i n istros n o s l o c a i s o n d e l a borav a m . E s t e a u t ê n t ico M u s e u dos B o m be i ros reve l a um im portante acervo, em g e r a l p o u c o c o n h e c i d o da p o p u l aç ã o l isb o e t a , q u e t e s t e m u n h a u m a das m a i s interessantes c o l ecções m un d i a i s , tanto p e l a série de bombas, pelas v i a t uras automóveis, c o m o p e l os t i po s de escadas. R e f i ram - s e a i n da as m á q u i n as e ferram entas q u e testem u n h am a a c t i v i dade n a Z o n a O r i e n t a l d e L i s b o a , patentes portuguesas registadas n o M i n ist é r io de O b r a s P ú b l icas e u m a i nt eressante c o l ecção d e p l acas de c o m p an h i a s de s e g u r o s , reun ida a p a r t i r dos destroços dos i n c ê n d i o s . R e g i stámos a t ít u l o de c u r i o s i dade , as p e ç a s m a i s características deste " m u s e u " ,
-
S e m c l as s i f i c a ç ã o .
L
O CALIZADA na Quinta da Mitra, junto ao Palácio do mesmo nome,
fundado por D. Thomaz de Almeida, esta fábrica de cortiça, dos finais do século XIX,
insere-se no universo das corti-
ceiras de Lisboa Oriental que caracteri zavam o ambiente fabril e operário do Poço de Bispo e Braço de Prata. Das diversas fábricas subsistem as ruínas da Sociedade Nacional de Cortiças (situada na Quinta dos Quatro Olhos) e os edifí cios descritos da empresa catalã Fuertes y Comandita. Entre as mais célebres corti ceiras da Zona Oriental de Lisboa refi ram-se a de Narciso ViIlallonga, na Rua do Açúcar, 10-13 ; a de Quintella & c . a , n a Rua da Bica d o Sapato, 46 ; a de Hen rique Augusto Correia, na Rua da Veró nica, 6 2 ; a de Romão da Serra Lopes, no Beato e a de António Bonneville , na Estrada de Braço de Prata (Olivais) , todas referidas no Inquérito Industrial de 1890 , algumas atestando a presença de fabricantes e capital catalão e espanhol neste sector industrial. Com a venda da Quinta da Mitra para a construção da linha de caminho-de -ferro , aquisição do empresário D . José Salamanca , os terrenos agrícolas - ou pelo menos o que ainda deles restava - man tiveram-se abandonados até 1898, altura da construção da unidade corticeira. Fundada em 1889, pertenceu à firma Fuertes y Comandita a dado momento (1898), passando em 1917 para a empresa pOIluguesa Seixas, que- a explorou até 1919. A dissolução desta ocorreu em 1924.
iUpccto actual.
151
V I L A P E R E I RA Local ização
-
R u a do Açúcar,
n . os 2 4 - 3 8 - 5 0 . R u a Pereira H e n r i q u e s , n . O 4·
Data de construção
-
1 887
Proprietários Fundadores
-
Santos Lima
C. C . ' .
Valor Patrimonial
-
Const i t u i u m a
t i p o l o g i a m u i t o p e c u l i ar d e n tro das h a b itações operárias. Destac a - se por ser u m e d i f í c i o i m p l an t a d o ao l on g o da R u a d o A ç ú c a r e p e l o f a c t o das h a b i tações s e l o c a l i zarem s o b r e os própri os armazéns '\./ j\
de actividade. N este caso c o n c r e t o , o próprio l oc a l de traba l h o a g r e g a as h a b i tações dos s e u s operár i o s . A p a r desta caract e r í s t i c a , a V i l a P e r e i ra faz parte i n tegrante da f i s i o n o m i a da zona d o Poço do Bispo, sendo u m e d i f í c i o q u e se
Planta Aerofotogramétrica 6/8. Escala 1:2000. Maio de 1963· Actualizada em 1987.
destaca pela d i st r i b u i ção r i t m a d a das gran des portas n o rés - d o - c h ã o , d a s j a n e l a s d o p r i m e i ro a n d a r e p e l as suas i mpon entes c h a m i n é s , q u e m arcam todo o c o m p r i m e n t o h a b i ta c i o n a l , c o n fe r i n do - l h e u m a l e i t u r a caden c i a d a .
Estado de Conservação Classificação
1 53
-
-
R e g u l ar.
S e m c l as s i f i c a ç ã o .
os empregados administrativos , cons
VIL..
PERnR"
PLANrA DO
truído pela empresa de José Domingos
1 4A NDAII
Barreiro . Em relação à Vila Pereira, a ostentação arquitectónica não é tão sumptuosa como no exemplo anterior da Praça David Leandro da Silva , destacando -se antes pela conjugação de alguns dos seus elementos funcionais. Assim , a fachada principal deste prédio , de dois pisos, organiza-se por módulos com postos: I. o) no piso térre o , por três
; 1I: ) i LJ 1I T ' �
.J
vãos com uma porta e duas j anelas da
Vila Pereira. Rua do Açucar .
� III
loo
arco de volta inteira, com bandeira
Planta do
andar. Arquivo de Obras. CML.
preenchida por gradeamento de ferro
os lados, criando um curioso sistema
fundido , onde se inseriram as siglas
de relações de vizinhança , no seu pró
do proprietário e datação do imó
prio âmago. As dimensões e área de
vel ; 2. o) no primeiro andar, por qua
cada divisão são exíguas.
tro janelas, dispostas simetricamente.
ANDAD O construir pela socie
O prédio compõe-se ainda por man
dade Santos Lima & C . a , este
sardas discretamente implantadas e
BIBLIOGRAFIA:
edifício reúne duas funções - o trabalho
disfarçadas pelas chaminés, distribuin
PEREIRA, Nuno Teotónio,
e a habitação . O arquitecto Teotónio
do-se duas por cada módulo . Este
Formas de Habitação Plurifamiliar na Cidade
Pereira no seu estudo Lisboa
Prédios e Vilas de
efeito repete-se integralmente cinco
de Lisboa,
definiu um grupo específico
vezes e podia ser acrescentado até ao
RODRIGUES, MariaJoão,
Evolução das
3 vols . , Lisboa, ed. do autor, 1979: Tradição,
de vilas directamente ligadas à produção,
infinito, mantendo a mesma harmonia
Transição e Mudança. A produção do espaço
no qual insere a Vila Pereira. Trata-se de
e equilíbrio .
urbano na Lisboa oitocentista,
uma modalidade
n. o especial do
associada a empresas
O andar térreo necessitava de áreas
Boletim Cultural da Assembleia Distrital,
de menor dimensão, em sectores especí
muito amplas para o desenrolar das
Lisboa, 1979: PEREIRA, Luísa Teotónio,
ficos da a ctividade industrial: as habi
actividades da firma. Ali se instalaram
Ulna Perspectiva sobre a Questão das
tações integra das no próprio edifício das
oficinas de tanoaria ou espaços de
"Casas Baratas e Salubres"
- 1881-1910,
instalações Fabris.
armazenagem. Entre o primeiro andar
Lisboa, 1981: PEREIRA, Nuno Teotónio,
Aliás, a área do Poço do Bispo, mar
e o sótão desenvolviam-se as habita
BUARQUE, Irene,
cada pela abundante actividade das
ções, comportando um elevado índice
Lisboa, Livros Horizonte, 1 9 9 5 , pp. 340-341.
tanoarias, reúne algumas destas tipolo
populacional , para um espaço tão
gias, como por exemplo o complexo de
pequen o . As habitações distribuem-se
armazéns, escritórios e habitação para
ao longo de um corredor, para ambos
1 54
Prédios e Vilas de Lisboa,
Pormenor das chaminĂŞs.
'55
da Fonseca. Só assim, se compreendem as várias actividades desenvolvidas, desde a contentorização de m i lhares de l itros de vinho até aos últimos vestígios das máquinas uti l izadas para o respectivo tratamento. Se o edifício de Norte J únior é o que apresenta maior valor arquitectónico, os restantes destacam -se pela sua importância funcional e por alguns elementos da arquitectura dos grandes hangares, tão significativos para a h istória da toda a ribeirinha Zona Oriental. No interior do espaço de armazenamento não se pode deixar de destacar o conjunto monumental das cento e setenta cubas em betão, com o respectivo painel de controle Ddubron caracterizado pelos seus m últiplos
mostradores e os respectivos fi ltros de tratamento. Todas estas infra-estruturas in
Planta Aerofotogrametrica 6/8. Escala 1:2000. Maio de 1963. Actualizada em 1987.
S 0 C I E D A D E C 0 1'l1 E R C I A L A B E L P E R E I RA DA F0 n S E CA � S . A . R. L.
situ são uma evidência da importância da
casa Abel Pereira da Fonseca dentro do universo do tratamento e armazenamento
Localização - Praça David Leandro da Silva
É um projecto do arquitecto Norte J ún ior
de vinhos, bem como um testemun h o ímpar
tornejando para a Rua Amorim.
( 1 878- 1962), datado de 1917. Este préd io de
das tecnologias aplicadas à vinicultura.
período de Actividade - 190y- 1993
grandes janelões em vidro e de motivos
Dentro dos armazéns existem ainda outras
Fundadores - Abel Pereira da Fonseca e o
a lusivos ao labor da firma (como os cachos
máquinas operadoras pertencentes às
sócio Francisco de Assis.
de uva, as folhas de parra, a fragata e o
secções de enchimento de vinagre, à
Actividade Industrial - Grande entreposto e
rio), distingue-se, também, por ser uma
"A Licorista" ou à carpintaria e
indústria de tratamento e transformação
construção em betão e em altura,
serral haria. Ao património industrial móvel
de vinhos, l icores e azeites.
características extensíveis ao armazém que
j unta-se o espólio arquivístico resultante
Início da indústria al imentar.
ladeia a Rua Amorim e com frente para o
dos últimos anos de actividade da empresa.
Valor Patrimonial - Todo o conjunto
Tejo. Ao conjunto descrito agl utinam-se,
Estado de conservação - Regular. Com
edificado reveste-se de valor patrimonial.
lateralmente e no prolongamento do
problemas graves nas coberturas. Grandes
Compõe-se de duas linguagens
aterro, dez armazéns compostos por
infi Itrações de água.
arquitectónicas diferentes. O edifício de
grandes vãos e tel hados de duas águas.
Classificação - A propor como imóvel de
maior qualidade estética tem frente para
É com uma visão de conjunto que se devem
interesse público. Integra o Inventário
a Praça David Leandro da Si lva.
entender os Armazéns Abel Pereira
Municipal do Património, do PDM de Lisboa.
157
A primeira designação rapidamente se alterou , situação intimamente rela cionada com o aumento do capital social e com a nova entrada de sócios . Assim : - 1917, passa para uma sociedade por IIBEL PEREIRII DII FONSECII, lo'"
cotas, designando -se Abel Pereira da Fonseca & Cia. Lda . ; - 1918, com a entrada do sócio Marce lino Nunes Correia, o nome altera-se
Sócios gerentes. Álbum comercial de 1928.
para Abel Pereira da Fonseca, Lda . ;
Marca registada da Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca. Pormenor do edifício de NorteJúnior.
CASA Abel Pereira da Fonseca
- 1 9 3 0 , de sociedade anónima passa
insere-se no universo das grandes
para Sociedade Comercial Abel Pe
A maioria das mercadorias e dos pro
áreas de comércio de início do sécu-
reira da Fonseca , S .A.R.L. , desig
dutos que abasteciam a cidade de Lisboa
lo XX, devendo ser interpretada como
nação mantida até ao encerramento
chegavam pelo rio .
da casa, em 199 3 .
A firma comercial Abel Pereira da
A
um reduto da sociedade de consumo .
À semelhança dos grandes armazéns de
Dentro do processo evolutivo da socie
Fonseca (APF) não ficou indiferente a
retalho , que inicialmente escoavam os
dade é importante destacar o momen
esta preexistência, alicerçando no Tejo a
produtos da indústria têxtil, insta
to (anos 3 0) em que Abel Pereira da
estrutura de circulação para a entrada e
laram-se também grandes hangares
Fonseca se retira do grup o , passando
escoamento dos seus produtos. Um
para armazenamento racional dos pro
a famíla de Nunes Correia a controlar e
elemento revelador da importância da via
dutos alimentares e seus derivados.
a explorar toda a actividade económica.
fluvial foi a opção tomada por um logo
A personalidade que muito contribuiu
Os armazéns vão localizar-se numa área
tipo com uma emblemática ligada a uma
para a inovação na área do armazena
marcada por forte implantação indus
embarcação - a fragata - e às águas do
mento , tratamento e transformação de
trial e pela tradição das tanoarias e pela
rio. Muitas vezes associavam-se elemen-
vinhos foi Abel Pereira da Fonseca '.
contentorização de vinhos. D urante
tos como cachos de uvas e folhas de parra.
A primeira forma de organização comer
muitos anos, em toda a zona do Beato
A actual área ocupada pelos armazéns
cial designava-se Abel Pereira da Fonseca e
e do Poço do Bisp o , utilizou-se um
(quase todo um quarteirão) não corres
C. a Os primitivos armazéns situavam-se
provérbio que caracterizava esta activi
ponde à primitiva construção na Rua
na Rua da Manutenção do Estado , a Xa
dade -Já
cheira a carvalho das aduelas
Amorim. O edifício onde se instalou a
bregas, em 1907. Com igual capital social
e a vinhos de armazém
(Norberto de
firma APF, em 1 9 1 0 , tinha a fachada
(9° 0 0 $ 0 0) associou-se Francisco de
Araúj o , p. 7 6) . O rio Tejo constituiu
principal sobranceira ao Tejo e assenta
Assis. E em 1910, transferem-se e insta
um elemento natural muito importante
va numa infra-estrutura em arco na qual
lam-se os armazéns na Rua do Amorim.
para a fixação deste tipo de actividades.
entrava a água. Junto ao edifício desen-
I Abel Pereira da Fonseca nasceu em Almeida , a 16 de Abril de 1876 e moneu em 1956, com 8r anos de idade. Filho de pequenos pro pdetádos agrícolas . Abel fel. a instrução primária e "cio para Lisboa com cerca de 14 anos. O seu primeiro emprego foi no sector comercial . Aos 18 anos encontrava-se a trabalhar no Poço do Bispo. nos armazéns da casa deJas!! Domingos Barreiro.
volvia-se o cais privativo da APF, onde se acostava a frota particular. O primeiro crescimento dos armazéns faz-se ao longo da Rua Amorim, e, em 1 9 1 7 , um novo edifício constrói-se com frente p ara o actual Largo D avid Leandro da Silva . Norte Júnior (1878-1962) , autor do proj ecto , utilizou soluções arquitectónicas peculiares , reunindo no mesmo edifício preocu pação estética e funcionalidade. fu formas e a volumetria utilizadas na fachada principal aludem às actividades de transporte, armazenamento e co
Galeria em betào. Foto �.fário Novais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
Edifício da firma APF. 1910. Foto �.fário Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
Mais tarde, a área de armazenamento
trasfega e filtragem. O painel de con
rior comercialização no mercado inter
alargou -se através de construções hori
trole é Daubron (Bordéus) , bem como o
no e externo a granel.
zontais. Sem tanto valor arquitectó
filtro primitivo de placas. Posterior
A inovação do tratamento e engarrafa
mércio, principalmente do vinho .
nico , estes grandes vãos, destinados às
mente instalaram-se dois conjuntos
mento especializou este sector, crian
actividades oficinais e industriais, com
de dois filtros holandeses, de marca
do-se paulatinamente um vasto número
põem-se por telhados de empenas múl
Niagaran Filters Europe .
de marcas e de vinhos, como por exem
tiplas sustentados por colunas em ferro
Após a realização das operações d e trata
plo o
Sanguinhal
eo
Menagem.
Outros
ou em betão. A iluminação é natural, o
mento e filtragem, necessárias a uma boa
produtos que desde o início estiveram
telhado caracteriza-se por grandes áreas
conservação do vinho , seguem-se as fases
ligados à imagem da casa, foram o azeite e
envidraçadas.
de engarrafamento . A firma APF ins
o vinagre. Inicialmente foram comercia
Do interior dos armazéns destaca-se a
talou diversas linhas de enchimento
lizados a granel, enquanto numa segunda
galeria em betão , espaço onde inicial
e de lavagem para garrafas e garrafões ,
fase, são embalados pela casa, tal como os
mente se depositavam pipas e garrafões,
linha de estabilização e filtragem, gasei
cereais e as leguminosas secas. Para o
convertendo-se, mais tarde, em área
ficação , além de dispor de uma grande
armazenamento de todos os produtos
da administração , dos escritórios e do
produção de pipas e tonéis nas suas ofi
instalou-se uma rede de depósitos de
Em termos funcionais
cinas de tanoaria. Esta grande casa de
distribuição , principalmente para o
a estrutura mais monumental e impor
armazenamento ultrapassava a lógica dos
vinho. Os diversos armazéns localizavam-
laboratório.
tante, que subsiste das actividades de
depósitos, criando mecanismos indus
-se próximos das áreas produtivas, como
armazenamento e tratamento dos vi
triais de tratamento e embalagem.
Torres Vedras, Dois Portos, Runa, Vila
nhos, é o conjunto das cento e setenta
A actividade inicial da APF relacionava
Nova de Gaia, Cartaxo , Bombarral, etc.
cubas (capacidade superior a vint mi
-se. com a compra do vinho e do azeite
O ar.mazém central de toda esta Lede,
lhões de litros) e dos mecanismos de
directamente ao agricultor, para poste-
de onde se fazia a distribuição dos
'59
de licores seguia uma metodologia clás sica, misturando -se proporcionalmente os diversos componentes de acordo com o produto a obter (álcool, açúcar, óleos essenciais, fruta, hipericão e corantes legalmente autorizados) . O conjunto de todas estas mercadorias foi inicialmente comercializado nas lojas de venda directa ao público , que a casa Abel desde logo estabeleceu. Consolidando esta estratégia de mer cado , em que os produtos armazenados entram directamente nos circuitos
Interior dos Armazéns. Aspecto actual.
comerciais sem perda de lucro , adqui riu-se uma rede de vinte e cinco loj as denominadas "VaI do Rio " . Simultaneamente, comprou-se um nome e uma experiência nas vendas a granel de Filtro holandês - Niagaran Filters EUTope.
vinhos , de azeites e vinagres.
apresentada. Já depois de 1915 , vários
Na década de setenta, as lojas atingiram o
empresários reuniram-se, criando a
número de 104 (noventa e sete esta
Companhia Portuguesa de Licores ,
belecimentos de comércio e sete snacks) .
cujo principal obj ectivo consistia no
A rede de lojas "VaI do Rio " vai ser, de
desenvolvimento da mais importante
certo modo , pioneira em Portugal.
fábrica do sector no país.
Por um lado , as casas comerciais inse
Localizada nas imediações dos ar
riam-se num espaço geográfico muito
Painel de controle DaubTon e galerias de depósitos.
mazéns do Poço do Bisp o , esta indús
restrito - Lisboa e arredores -, por
produtos para o comércio interno e
tria é adquirida pela empresa APF e
outro , introduziram a lógica do selE
externo , situava-se no Poço do Bispo.
transferida para as suas instalações . Os
-sel'vice no universo alimentar através
Uma outra bebida que firmou a ima
licores passam a constituir um dos
da circulação dos clientes em contacto
gem da casa Abel, foi o licor, através
produtos mais importantes p ara a
directo com os produtos dispostos em
da marca "A Licorista" . Grande parte
expansão dos respectivos horizontes
corredores.
dos vinhos que se destilavam aplica
industriais e comerciais . Na década
A sociedade comercial APF incor
vam-se seguidamente na indústria de
de vinte, a organização das instalações
porou o princípio muito claro do
licores. Em 1 8 9 6 , fundou-se em Lisboa
de licores assemelhava-se a uma linha
lucro e da venda das mercadorias a
"A Licorista" , casa que conquistou
de fabrico , essencialmente na secção
preços particularmente
o mercado nacional pela qualidade
de refrigerantes e xarope s . O fabrico
assegurando a difusão e o consumo.
160
reduzido s ,
Publicidade: da "A Licorista". 1922.
Exposição do Rio deJaneiro.
Aze:ite:s come:rcializados pe:la APF.
Álbum comercial de 1928.
Licor comercializado pela casa APF.
Secção d e Xaropes. Foto Mário Novais. Arquivo d e Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
A rede de minimercados "VaI do Rio "
Norberto,
constituiu em Portugal um exemplo da
Lisboa, [1938-39] , p. 7 6 ; "Sociedade Comercial
nova época de consumo , em paralelo
Abel Pereira da Fonseca, S.A.R.L. Breve nota
com os grandes depósitos e armazéns .
informativa", in Diário
A publicidade apoiava a divulgação
1 9 8 2 ; PAIXÃo , Maria da Conceição Bravo
desta estrutura comercial e industrial,
Ludovice,
primeiro através da imprensa escrita e
Tese de Mestrado de História
de periódicos da própria empresa,
de Arte, 2 vols. , Universidade Nova de Lisboa,
Peregrinações em Lisboa,
de Notícias,
Livro XV,
Lisboa,
NorteJúnior, Obra Arquitectónica.
Álbum comercial de 1928.
utilizando posteriormente os meios
1989, pp. 78-82 ; FOLGADO , Deolinda, Abel
A concretização destes obj ectivos obti
radiofónicos e televisivos .
Pereira da Fonseca, S.A . R . L . , Um exemplo
nha-se através de mecanismos da pró
da indústria alimentar na sociedade de
pria empresa, que detinha o controle
consumo,
dos produtos j unto do agricultor , sen
B IBLIOGRAFIA,
do seguidamente tratados, embalados e
Album Illustrado. Abel Pereira da Fonseca,
comercializados pela sua rede de lojas
Ld a. , Lisboa,
el
revenda. a outros cOInerciantes e ela
venda directa no estrangeiro .
[Lisboa] , [ 1928 ] ; "A indústria dos
licores em Port.ugal" , in
IndLÍstria -Portuguesa,
Ano I, n O 9, 1928, pp. 31-32; ARAÚJ O ,
161
1998, [no prelo] .
parece destacar- s e para a n o b i l i t a ção d o edifício - a l us i v o a o s v in hos. A f a c h a d a c o m p l e t a - s e c o m d o i s corpos s i m étricos l atera i s , d e remate arredondado e demarcados p o r i m itações de p i l astra s . Destaca-se a i m p l an t a ç ã o d a s c o l u n a s e dos janelões. A d ecoração é p r o f u s a representando m o t ivos veget a l i stas e s i m b ó l i c o s , entre os q u a i s a representação de cabeças d o deus M e r c ú r i o - símbo l o d o comérc i o . N o topo d o e d i fí c i o i ns e re - se o r e l ó g i o e a Planta Anofotogramêtrica 6/8. Escala 1:2000. Maio de 1963. Actualizada em 1987·
1 0 S É D 0 (l1 l n G 0 S B A R R E I R e::> 6- C � , L D A .
Local ização
d e s i g n ação da empresa -
R u a Fern a n d o Pa l h a
n.O 3-23,
- J os é D o m i ngos Barr e i r o , Lda . O c upando q u ase um q u a r t e i r ã o , a s
R u a z ó f i m o Pedro s o , Praça D a v i d
i n s t a l ações v i radas à R u a z ó f i m o
L e a n d r o da S i l v a , n . O 28.
P e d r o s o corres p o n d i a m à s e d e
período de Actividade - 1 8 8 7 - 1998 >
a d m i n i strati v a e a s d a R u a F e r n a n d o
Fundador - J osé D o m i n g o s Barre i r o .
Pa l h a , a armazéns , t a n o a r i a s e
Actividade Industrial - A r m a z e n a g e m
h a b i tações, r e l evan d o - s e p e l as
e c o m é rc i o de v i n h o s . Tan o a r i a s .
s o l uções encontradas de c o n centração
Valor Patrimonial - B l o c o
de serv i ços ( c o m e rc i a i s e o f i c i n a i s )
adm i n i stra t i v o , c o m e rc i a l e de
e h ab i tação s o c i a l , c o m grande
armazenamento de q u a l i d a d e
q u a l i dade estética e f i l os o f i a
arquitectó n i c a e decorat i v a .
e m presari a l .
A fachada p a r a a Praça D a v i d L e a n d r o
Estado d e Conservação - B o m .
da S i lv a , confere a todo o e s p a ç o um
Classificação
-
Contemplado no
v a l o r cén i c o .
I n ventário d o Pat r i m ó n i o M u n i c i p a l d o
O e d if í c i o p r i n c i p a l rev e l a u m a p r o f u s a
P D M de L i s b o a , como h a b i t ação
decoração a r t í s t i c a n a l i n h agem d o
e prédios de J os é D o m i n g o s Barre i ro .
e c l e c t i s m o r o m â n t i c o , com i m i t a c � o de frontão r e d o n d o e n c i m a d o p o r e l ementos decorativos de caracter ísticas barrocas e l ad e a d o por p i n á c u l os . U m b r a s ã o coroado
um ramal de caminhos - d e - ferro e cerca de duas dezenas de vagões em uso exclusivo . Tinham trasfega mecânica bastante evoluída e tanoarias . Além dos armazéns do Poço do Bispo e Bra ço de Prata dispunham também de armazéns no Cartaxo , sobretudo pró ximo à Estação de Santana. O s méto dos comerciais do negócio de vinhos foram depois adquiridos pela concor rência, em especial pela Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca, sua vizinha. A sede da empresa encontrava-se na Rua Zófimo Pedroso, lugar onde se controlavam todas as operações de ar mazenagem e de mobilidade dos pro dutos . Os armazéns estavam essencialmente estabelecidos na Rua Fernando Palha, onde ainda hoje se podem observar vários portões com bandeiras em ferro Perspectiva da Rua Zôfimo Pedroso. onde se encontrava a sede administrativa.
e o monograma do empresário fun
HISTÓ RIA desta firma ligada
Suécia , etc . ) , no Brasil e ultramar.
dador - JDB & C. a
inicialmente à vitivinicultura
Entre os fins do século XIX (1896) e as
respectivas, provavelmente correspon
inicia- s e em 1 8 8 7 . Implantada numa
primeiras décadas do século XX , os seus
dentes à sua construção e estabeleci
área de Lisboa O riental com largas
armazéns multiplicam-se a partir do
mento .
tradições fluviais relacionadas com o
pólo inicial, aumentando de capaci
José Domingos Barreiro & C . a Ld. a
sector , a firma encontrava-se articu-
dade retentora e de área (14. 000 m2) ,
afirmou-se em certames internacio-
lada com os mercados abastecedo
ocupando parte dos terrenos da antiga
nais, geralmente ligados às suas agências
res do Ribatej o , Estremadura e Outra
firma Cunha Porto .
ou mercados consumidores, como a
Banda.
A concentração no mesmo espaço ,
Exposição Internacional do Rio de Ja
O crescimento da actividade fez pros
permitiu à firma José D omingos Bar
neiro de 192 2 , com a mostra de vinhos
A
-
com as datações
perar esta empresa de grandes ne
reiro & C . a (como era conhecida em
tinto e branco, claretes e rosés . Esteve
gociantes e exportadores de vinhos ,
1917) , dotar-se de meios mecânicos
representado na Feira de Amostras de
aguardentes e vinagres, com interesses
para a nwbilidade dos seus produtos
Produtos Portugueses de Angola e
na Europa (Inglaterra, França, Bélgica ,
na vasta área de armazenage m , com
Moçambique, em 1 9 3 2 .
A relação e a comercialização determi nou a aquisição de diversas quintas, en tre as quais a Quinta das Varandas, na região do Cartaxo , interessantemente representada nos painéis de azulejos do átrio do edifício de escritórios. Estes azulejos, representando a faina vinícola, foram encomendados a A. Moutinho , da Fábrica de Loiça de Sacavém. A importância do conjunto é reco nhecida também pelos estudiosos dos bairros operários , pois na mole edifi cada da Praça D avid Leandro da Silva, coexistem as instalações comerciais e oficinais (nível do solo) com espaços destinados à habitação social (pisos superiores) . Nuno Teotónio Pereira refere que estas
habitações têm acesso
Perspectiva d a Rua Fernando Palha - armazéns e tanoarias.
directo da rua, com escadas indep en dentes; n o u tros, a s escadas partem do interior dos armazéns,
fazendo pres
supor aloj amento dos empregados da firma. A José Domingos Barreiro evoluiu de uma sociedade limitada para uma sociedade anónima, situação social existente em I 9 8 2 .
BIBLIOGRAFIA:
ARAÚJ O , Norberto de, 'José D omingos Barreiro " . in
Peregrinações em Lisboa,
Livro XV, Lisboa, Parceria António Maria Pereira, (r938-1939), p. 78; PEREIRA, Nuno Teotónio, e BUARQUE, Irene, de Lisboa,
Prédios e Vilas
Lisboa, Livros Horizonte
1995 , p . 342.
Bandeira em ferro forjado de um armazém no mesmo arruamento.
Fundadores
-
Estado P o r t u g u ê s .
M i n i st é r i o da G uerra. A c t u a i s proprietári o s : I N D E P, S . A .
Activi dade I ndustrial
-
Fabr i c o d e
proj é c t e i s de art i l h a r i a , f u n d i ção de canhões, espol etas, c a i x a s de cart u c h o s , viaturas. Fab r i c o de armas portá t e i s , morteiros, m u n i ções de art i l h a r i a , escorvas. F u n d i ções art íst i c a s .
Valor Patrimon ial
-
A mon tagem da
Fábrica de Material de G uerra de Braço de Prataobedeceu a u m a i m p l antação ret i c u l ada o u ortogona l , a p a r t i r de um n úc l e o i n i c i a l j unto à R u a Fernando Pa l ha . O cre s c i m e n t o das o f i c i n a s , s e g u i n d o o m e s m o p l a n o , determ i n o u a r a c i o n a l i dade de todo o espaço, n o qual se podem observar q uatro Planta Aerofotogramétrica 6/8
e
arrua m e n t o s para l e l os ao rio 7/8. Maio de 1963. Actualizada em 1987.
(ruas n . O 4 , n . O 1 4 , n . o 22 e n . o 28
F Á B R I C A D E Il1 AT E R I A L D E G U E R RA D E B RA Ç 0 D E P RA T A
- esta m a i s irre g u l ar, mais estre i ta e c urta ) . S ã o , p o i s , estes arruamentos p r i n c i p a i s que d i st r i b u e m a c i rc u l aç ã o
A v i a b i l i d ade de m a n u t e n ç ã o
para as d i versas o f i c i nas e armaz é n s ,
gran d e q uart e i rão m u r a l h a d o
da F á b r i c a de M a t e r i a l d e G uerra
serv i d o s por r u a s transvers a i s ao r i o ,
em B r a ç o de Pra t a .
em Braço de Prata f o i p o s t a
t a m b é m e s c a l onadas entre a n . o 1 e a
T e m e n trada p r i n c i p a l p e l a R u a
r e c e n t e m e n t e em c a u s a e a próp r i a
n . O 4 7 . Res u l ta deste facto um
Local ização
-
A Fábr i ca o c u p a um
F e r n a n d o Pa l h a e e n c on tr a - s e
i m p l an t açâo da área o c i d e n t a l
i n e gável valor urba n ís t i c o .
c o n f i n a d a e n t re e s t a v i a ,
da un i d a d e fab r i l da I N D E P, S . A .
As o f i c inas da Fábr i c a de Braço
d e s a p a r e c e u com a r e m o d e l ação d a
de Prata, por s u a vez de p l anta
Ave n i d a I n fante D . H e n r i q u e e a
geral reg u l ar (recta n g u l ares ou
( esta n o Largo dos Tabac o s ) ,
c o n s t r u ç ã o de u m a r o t u n da
quad ra n g u I are s ) , estabe l ecera m - s e
a Ave n i d a I n fante D . H e n r i q u e e a
e da v i a transvers a l q u e atravessará a
de acordo com as d i ferentes fases
a R u a D r . Estêvão de Vasco n c e l o s , a R u a do Te l h a i , as ruas n . OS
2,
3 e 4
R u a d a F á b r i c a de Mater i a l de G u erra ,
R u a F e r n a n d o P a l h a , através de
h i s tó r i cas de i m p l a n t ação
t o p ó n i m o a t r i b u í d o por a l t u ra da s u a
passagem desn i ve l a d a .
e cre s c i m e n t o i n d u s t r i a l d a empresa,
a b e r t u ra a o t r â n s i t o , n o s a n o s 5 0 .
período de Actividade
-
1908- 1998 >
r e f l e c t i n d o a l g umas opções
conj unturais de fabricos c o n cretos.
e x i s t ê n c i a na a c t u a l l o c a l i za ç ã o , a F B P
i n au g urado , em 28 de Dezembro de
D o p o n t o de v i sta arqu itectón i c o
d ispõe de i nteressantes e q u i p a m e n tos
1 9 5 7 , pelo s ubsecretário de Estado
i mp o rta c o n s i derar a d i vers i d a d e das
e m á q u i nas de valor c u l t ur a l a i n s e r i r
d o Exérci t o , coron e l Afonso M a g a l h ã es
s uas t i po l og i a s , com c orrespo n d ê n c i a
nos acervos d o patri m ó n i o i n d us t r i a l
de A l m e i d a Fern a n d e s .
à s d i ferentes é p o c a s de construção e à
m ó v e l a preservar. Entre as m a i s
O m us e u org a n i z a - s e de u m a f o r m a
natureza das c o n f i gurações
i m p ortantes p e l o s e u porte, s i g n i f i cado
crono l ó g i c a , e v i d e n c i a n d o a s
técn i c o - i n dustria is.
fabr i l , e m o c i o n a l e característ i c as
p r i n c i p a i s f a s e s h i st ó r i c a s
O interesse patri m o n i a l destes
técnicas ref i r a - s e a prensa da Tay l or g
de fabrico da empresa, com as s uas
e d i f í c i os s i t u a - s e , não apenas d o lado
C h a l l e n , Lte / E n g i n eers B i rm i n g h a m ,
características tecno l ó g i ca s , através
d o patr i m ó n i o i n d us tr i a l , mas d a
datada de 1 9 1 7 , de 1700 t o n e l a d a s .
de e l u c i dativos quadros, fotograf i a s
p r ó p r i a arquitectura e d a e n g e n h a r i a ,
Encontra-se actua l m en t e n a o f i c i n a
e d iagramas. N o e d i f í c i o d o m us e u
d i s p o n d o - s e a q u i de s u f i c i e n t e s
de forjamento e prensagem e esteve
encontra m - se várias maquetas
acervos c onstruídos q u e p e r m i t e m
várias vezes para ser p a r t i d a para a
das principais o f i c i nas da fábri c a ,
c o n h e cer, em s ín t e s e , a evo l uç ã o da
s ucata. I n tegra um c o n j u n t o de c i n c o
reconst i tu i n d o as u n i dades fabr i s
arquitect ura i n d ustri a l em Portuga l ,
prensas d o m e s m o t i p o para
c orrespondentes à época d o seu a u g e .
entre o s p r i n c í p i o s d o s é c u l o
o faseamento da produção de c a i x a s
Estas maquetas e s t i veram expostas na
e os a n o s 80.
m e t á l icas p a r a granadas.
e x p o s i ç ã o da A b e l Pereira da Fonseca
Por esta razão, o e s t u d o da Fábrica de
Também são bastante i n teres s a n t e s os
-
Material de G uerra de B raço de Prata
mart e l o s - p i l ã o da o f i c i n a m e t a l úrg i ca
A entrada do m us e u f a z - s e por porta
( F B P ) , apesar de c o m p l e x o , urge
( Bê c h é de George Merc k , H a n n o v e r ,
ladeada de dois c a n h ões de b r o n z e ,
Memória . Tempo Indus trial.
fazer-se de forma s i st e m á t i c a ,
A l e m a n h a ) , os mart e l o s - p i l ã o d e
de 1940,
em nada c o m p a t í v e l com e s t e Guia do
prancheta d o s a n o s 20 e os fornos
a l i fabricados.
Pa tri m ó n io Indus trial. C o m o se prevê o
eléctricos da fundição datados d e 1 9 47
Estado de conservação
c o m p l et o desaparec i m ento da fábr i c a ,
e de 1 9 5 7 , agora desact i va d o s .
construtivo os e d i f í c i o s e n contram - s e
a o m i ss ã o d e s s e e s t u d o p o d erá
O arquivo de m o l des d a F B P
entre o b o m e o razoáve l .
corresponder a uma perda
c o n s t i t u i um a cervo de interesse
E x i stem o f i c i n as c o m p letamente
de c o n h ec i m e nto i n egáve l , no â m b i to
h i stóri c o - te cn o l ó g i c o , e I ucida t i v o
abandonadas, apesar do s e u
do patr i m ó n i o i n d ustri a l p o r t u g u ê s .
d a s etapas percorr i da s ,
i nteresse tecn o l ó g i c o , c o m o a
A l i ás , as d iversas e s p e c i a l i d ad e s e
c u j a preservação s e i mp õ e .
o f i c i n a de f u n d i ç ã o , c o m os s e u s
temas i n d u s t r i a i s encontra m - s e na F B P
Biblioteca
-
A Fábrica d e Braço d e
representados e arq u i va d o s , a t a l
Prata, c o m o u n i da d e f a b r i l de p o n t a ,
p o n t o q u e a a u s ê n c i a d e m e d i das
f o i d e s d e o i n í c i o e q u ipada c o m uma
c a u t e l ares do ponto de v i st a
b i b l ioteca técn i c a para a p o i o a o s
patri m o n i a l c o n s t i t u i rã o uma grave
fabricantes de materi a l de g u erra e
perda c u l tura l para o n o s s o p a í s .
engen h e i ros m i l itares.
M a quina ria
-
Como u n i dade i n d us t r i a l
que s e e n con tra em fase f i n a l d e
M useu
-
A F B P criou um museu d a
u n i dade industr i a l d o Estado,
168
-
A n ív e l
fornos e l éc t r i c o s .
Classificação
-
Sem c l as s i fi ca ç ã o .
Fábrica de Material de Guerra inserida no Bairro Industrial de do Ministério da Guerra, Lisboa, Bertrand, 1947. p. 7.
Braço de Prata.
1947. ln Notícia
Histórica Sobre os Estabelecim entos Fabris
Fábrica d e Material d e Guerra d e Braço d e Prata. Vista aérea. Anos 50. Arquh"o Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa.
ONHECER a FBP exige o estudo
Infante D . Henrique, novas possibili
importância adquirida pelos seus por
das plantas e das fotografias aéreas.
dades de expansão foram materializadas,
tões. Antes da intervenção motivada pela
Entre finais de 1950 e 1986, a implan
sacrificando o cais fluvial acostável de 282
EXPO ' 9 8 , existiam quatro portões.
tação fabril não registou profundas alte
metros de compriment o . Esta nova
O último surgiu depois da construção da
rações, mas entre os inícios da fábrica e os
unidade foi concebida numa estreita
Avenida Infante D . Henrique, obras
anos 5 0 , a organização territorial sofreu
relação com as acessibilidades da área,
coevas da conquista de terrenos ao rio,
profundas transformações e ampliações,
como a linha férrea. O desaparecimento
que outrora ali chegava, confinado por
sinal dos momentos mais significativos da
do cais foi compensado com o rasgamen
um enorme paredão em toda a extensão
sua história. A partir do salto industria
to de acessibilidades rodoviárias, integra
da unidade fabril. A principal rua da
lizador de 1927 , dá-se a passagem de uma
das na modernização de Braço de Prata,
fábrica foi, durante os primeiros anos, a
unidade presa às suas origens tardo
Cabo Ruivo e Olivais.
n. o I, eixo virado à Rua Fernando Palha,
-maquinofactureiras para uma completa
A planta de 1986 revela-nos as caracterís
junto à sede administrativa da unidade
mecanização . Terrenos disponíveis ga
ticas urbanas e a organização fabril da
fabril do Estado . Existem fotografias que
rantem as mudanças. A ocupação do solo
FBP, no momento terminal das capaci
mostram a sua importância como acesso
nos momentos seguintes correspondeu
dades territoriais do lugar. As oficinas
principal, por onde entravam e saíam os
ao aumento da área coberta e à di
encontram-se aí numeradas, tal como os
operários.
minuição da disponível. A unidade fabril
arruamentos.
Mais tarde, adquire significativo relevo o
confinava, nos anos 40, com o rio Tej o .
Do ponto de vista sociofabril, a organiza
portão de entrada pela Rua da Fábrica de
Mas depois d a construção da Avenida
ção da FBP andou sempre associada à
Material de Guerra, correspondente ao
169
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PA L H A
F E RN A N D O
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Planta da Fábl"ica de Braço de Prata. Esc: 1:1500. D�s�nho WNDS870. de 6-6-1986, INDEP, S.A.
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Saída da fábrica. Foto r-...fário Navais. Arquivo d� Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
operários. Apetrechou-se com um ser
quase os mil, na seguinte atinge os
viço de formação profissional.
1 2 0 0 . Entre 1955 e 1 9 8 5 , a média são
Algumas oficinas têm importância tam
os dois mil trabalhadores, alcançando o
bém pelos seus símbolos, tal como a uni
ponto alto durante a guerra colonial,
dade de tratamento térmico de aço em
com a laboração simultânea de 2384
fornos de sais (estes da marca Degussa
operários.
Durferrit) , onde existe uma chaminé
Dispondo de duas centrais eléctricas
não muito usual nas construções fabris portuguesas (sextavada e cantos boleados) .
e uma ligação à rede geral de electri cidade , a FBP revela um aumento de
Entre os edifícios de maior nobreza esti-
consumo de energia, entre 1955 e 1985
lística conta-se a sede administrativa, que
de 3 239 710 kwh para 1 2 488 640 kwh.
permanecerá na Lisboa Oriental, datado
No que respeita ao valor de equipa
de 1929. Inserido no frontão classizante,
mentos instalados , passa-se de 37 633
modelado em cantaria, foi colocado um
milhares de escudos, em 1955, para
eixo central distribuidor do pessoal pe
brasão do exército português. Debaixo
379 897, em 1985 . Os cuidados postos
las oficinas e paralelo à linha férrea
encontra-se a designação da fábrica, uma
na parte eléctrica, foram, aliás, intensifi
Decauville (Rua n. o 14) . Esta nova entra
varanda e o portão de entrada com o
cados desde a década de quarenta, insta
da e saída ganha relevo nas décadas de
átrio . De notar ainda, instalações mais
lando -se uma comutatriz, um mutador e
cinquenta e sessenta, face ao crescimento
modernas construídas em betão armado
um rectificador de vapor de mercúrio .
da unidade fabril. Finalmente refira-se
de desenho audacioso , com
sheds inte
As origens históricas do empreendi
que a actual entrada e saída da fábrica é o
grados para iluminação do processo de
menta fabril dos princípios do sécul o ,
portão oriental, correspondente ao mes
trabalho.
encontram-se em parte de terrenos
mo eixo , com acesso pelo antigo Largo
A dimensão industrial da Fábrica de
pertencentes ao Arsenal do Exército ,
dos Tabacos, junto à Tabaqueira do Poço
Braço de Prata pode medir-se através da
desde os finais do século XVIII. Em 1 4
do Bispo .
área coberta correspondente às suas ofi
d e Agosto d e 1 7 9 8 , a rainha D . Maria I
Para um conhecimento mais profundo
cinas, da população empregue e outros
comprou propriedades pelo valor de
da conjunto industrial importa identi
vectores. Entre 1912 e 1986 aumentou
997 950 réis onde se instalou a Real
ficar as oficinas, a partir do desenho
para seis vezes mais, a área coberta inicial,
Nitreira de Braço de Prata. Esta oficina
datado de 6 de Junho de 1986.
como se pode observar no quadro :
tinha como finalidade apoiar o fabrico
Como se pode observar, para além das oficinas fabris, desenvolveram-se inicia tivas de âmbito social semelhantes às de outras indústrias da Zona Oriental de Lisboa, nomeadamente à instalação de cantina, refeitório , vestiários e balneá
da pólvora, cuja produção se fazia em Á REA C O B ERTA
Alcântara e Barcarena.
1 9 1 2 - 1 0 766 m'
1947 - 44 560
1 929 - 27 459
1957 - 52 948
1941 - 32 846
1986 - 62 5 1 6
O fabrico de salitre exigia uma porção de terreno afastado da cidade, por razões ambientais, apesar dos processos artesanais. Nas descrições que se co
rios. O Estado não descurou essa obra, a
S e nas décadas de vinte e trinta a média
nhecem, o material para fabrico cons
partir de 1947, servindo em média 1200
do número de trabalhadores atinge
tava de duas caldeiras, cujo combustível
era o tabaco podre que a Zona Oriental
com ampliações sucessivas (I914, I9I6,
dispunha em quantidade . Um conjunto
I926-27, 1940-50, década de oitenta) .
de tinas servia para a lixiviação das terras.
Razões de ordem urbana e militar justi
O salitre era posto a cristalizar nas tinas,
ficaram o aparecimento da Fábrica de
mas havia necessidade de impedir a sa
Proj écteis de Artilharia de Braço de
turação das terras, fabricando -se então
Prata, construída entre I904 e 1908.
480 arrobas/ano . Também ali se prepa
Nessa altura e até I92 7 , era apenas
rava o enxofre e o carvão para a pólvora,
uma ampliação do Arsenal do Exército, a
conhecendo -se um mestre na Real
instituição-mãe que lhe deu origem.
Nitreira de nome Regnault.
A reorganização militar de I899, obra
No espaço da antiga Real Nitreira, fun
do general Sebastião Teles , permitiu
cionou no século XIX (1888) , uma Ofi
reestruturar o velho Arsenal do Exército,
cina de Pirotecnia onde se fabricavam
prevendo -se no seu Regulamento de
Oficina de telhados em shed. Anos 60.
archotes, cartuchos para peças, cartões
1902, a criação da FBP. O documento
Janeiro. Doze anos depois da implan
com os elementos da escorva, fachos e
tação da República, caracterizava-se
foguetes para sinais, petardos , invólucros
fundador data de 12 de Outubro de I907 ( Ordem do Exército n: 2 0 , 2 . a série) .
pelas suas seis principais secções (pro
para balas de esclarecer, além de outras
N o início do seu funcionamento verifi-
jécteis de artilharia, fundições, espole
pirotecnias. A fundação desta Oficina
cou-se a transferência para o novo espa
tas , caixas de cartuchos, material de
data de 1876 e dispunha de uma máquina
ço, tanto da Fundição de Canhões, como
artilharia e viaturas e armas portáteis) e
a vapor, mas há notícia de nesse espaço
da Fábrica de Armas que estavam em
pelas suas variadas oficinas de apoio, que
ter estado um quartel (I873) . Tanto a
Santa Clara, em Lisboa, facto ocorrido
tanto serviam o Estado, como as enti
Real Nitreira como a Oficina de Piro-
entre I909 e I9II.
dades públicas e privadas. Entre as prin
tecnia encontravam-se ainda relativa-
Em I912 , construiu-se uma importante
cipais unidades fabris encontravam-se a
mente distantes do local onde veio a
oficina de espingardas com maquinaria
dos coronheiros, a dos cutileiros (para
surgiu o primeiro embrião da fábrica
necessária para o produção da espingrada
fabrico de sabres e espadas) , a de flore
adquirindo o nome de Braço de Prata,
Mauser Vergueiro
de 65 mm, para uso
tes e de instrumentos cirúrgicos, a de
em função da quinta que lhes dera
do exército português indispensável, na
galvanoplastia, as de cinzeladores, grava
origem, a partir dos finais do século XIX.
perspectiva da intervenção portuguesa na
dores e latoeiros (fabrico de cunhos,
As primeiras decisões para a fundação da
I Guerra Mundial. Todavia, o conflito
prensas , carimbos, selos, emblemas,
maior fábrica portuguesa de material de
mundial demonstrou que a unidade fa
monogramas, números) , a de correei
guerra datam de 1896, altura da compra
bril do exército português não se encon
ros, a de equipamentos em tela (ban
dos terrenos ao visconde da Mata, que
trava ainda operacional. A renovação de
deiras de
irão completar o espaço necessário para a
equipamentos ocorre, por essa razão, a
de seda bordados) , a de reparação de
fileli
e estandartes-bandeiras
instalação das fábricas que se projectava
partir de I9I8, beneficiando da derrota
camiões, a de tipografia e a de latão , a
retirar de Santa Clara (a fundição de
da Alemanha na guerra.
de cuproníquel. Existiam também labo
canhões e a fábrica de armas) . A partir
Uns anos depois (r922) a FBP participou
ratórios de química, de fotografia, um
de então, a FBP não parou de crescer,
na Exposição Internacional do Rio de
gabinete de desenho.
17 3
Prata adquiriu bastante autonomia e
Prensa de 17 toneladas. Foto Mário Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
mover o crescimento da empresa come
liderança como principal estabeleci
çando em 1945 o fabrico de aparelha
mento do exército.
gens de precisão difíceis de obter, no
Com a instalação das prensas em 1918
quadro da destruição europeia. A ra
e com o novo espírito industrial de
cionalidade da produção permitia
base taylorizada foi possível iniciar o
-lhe cumprir os prazos estipulados pe
fabrico , em 1931, do obus de 1 0 5 mm,
los beligerantes. Transformou também
facto que exigiu cerca de 2 1 0 0 ope
a espingarda 6 , 5 m/904 para o calibre
rários.
7 , 9 (1940) .
Com o encerramento de outras oficinas
O nível de qualidade atingido na déca
em Santa Clara, vários fabricos passam
da de quarenta, acelerou-se com a for
para Braço de Prata. De notar que a
mação d e engenheiros n o estrangeiro .
produção de morteiros e metralhadoras
Esta situação impulsiona os requisitos
pelo volume e condição do seu fabrico,
de normalização , futuramente com
pouco mais foi que uma apreciável
pensados com a homologação dos seus
demonstração da perícia do pessoal que
fabricos pela NATO , sobretudo refe
n ele interveio (Notícia Histórica Sobre
rentes às produçõ es da Fábrica de
os Estabelecimentos Fabris do Minis
Moscavide .
tério da Guerra, 1947) . Neste ambiente
O ano de 1955 marca um ponto alto na
de euforia, que a imprensa periódica
vida industrial de Braço de Prata, com o
registou, a fábrica participa na Grande
fabrico de munições de artilharia de
Exposição da Indústria Portuguesa,
componentes metálicas, a que é dada
realizada no Parque Eduardo VI I , em
primazia. Desde 1953, fabricavam-se
193 2 .
munições de calibre 1 0 5 mm para
E m pleno Estado Novo e n o período da
os Estados Unidos. Já no início da guer
corrida aos armamentos (r937) assis
ra colonial, a fábrica é chamada a pro
te-se a uma ampliação das instalações,
duzir a espingarda automática 7 , 62 mm
com modernização e racionalização dos
x 51, a famosa G3, numa lógica de
Após diversas medidas que vão garan
processos de fabrico , sobretudo na
produção em série para municiamento
tindo um ascendente da nova fábrica,
secção de armas portáteis. Embora não
das tropas portuguesas em campanha .
em 12 de Julho de 1 9 2 6 , o regime saído
se conheça com rigor suficiente o seu
Em 3 1 d e Outubro de I980 (decretos
do 28 de Maio resolve "industrializar"
comportamento industrial durante a
-leis n . O' 515/80 e 5I7/8 0 ) , tanto a Fá
os estabelecimentos que formavam o
II Guerra Mundial (no entanto obj ecto
brica de Braço de Prata, como a Fábri
corpo geral do Arsenal. Todavia, pelo
de louvor de António de O liveira
ca Nacional de Munições de Armas
de decreto de 1 9 2 7 , extingue-se o
Salazar e do subsecretário de Estado
Ligeiras de Moscavide (instalações da
Arsenal do Exército , talvez por motivos
da Guerra , Santos Costa , em 1 943) ,
década de cinquenta) foram integra
políticos . A unidade fabril de Braço de
beneficiou-se da paz interna para pro -
dos numa empresa pública a INDEP
(Indústrias de D efesa de Portugal) ,
Outra área importante de fabrico era
facto que se materializou efectivamente
a coronharia, que implicou o funcio
em 1981. A actual empresa detentora de
namento de um boa carpintaria . As
Braço de Prata, evoluiu recentemente
várias oficinas exigiam também a pro
para uma sociedade anónima.
dução
O papel desempenhado pela Fábrica de
limas, por exemplo. Chegaram a fa
in
loco de ferramentaria, como
Braço de Prata na vida industrial por
bricar, recentemente, capacetes para o
tuguesa não se resume à produção bélica
exército.
(armas ligeiras, munições, morteiros ,
Embora a FBP se encontre numa fase
espoletas e escorvas, granadas, minas,
de recessão industrial, com transferên
etc . ) . Conhecem-se-lhe alguns traba
cia das suas oficinas para a Fábrica
lhos artísticos de grande mérito (como as
Militar de Moscavide (FNMAL) , ainda
fundições para os grupos escultóricos da
dispõe de tecnologia de ponta em algu
estátua à Guerra Peninsular, em Entre
mas secções (tornos mecânicos auto
campos, a estátua de Carvalho Araújo e
máticos da Gildemeister - Bielefeld) ,
de Ourique) e encomendas privadas.
fabricando actualmente a metralhadora
Salientou-se também pela reparação
HK 2I, de 7 , 62 mm x 5 1 , para o
de viaturas automóveis militares, com
equipamento das tropas da NATO .
transformação e montagem de algumas
Oficina de fundição. Sangria do cubiloL Foto Mârio Navais. Arquivo de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
séries, reparação de motores. As suas fundições foram célebres, tanto
B IBLIO GRAFIA,
as de bronze e latão , como as de ferro e
"Real Nitreira de Braço de Prata", Usboa,
aço, atingindo uma performance de
1801,
grande relevo as têmperas do aço por
tomo, XIN, Usboa, 1892; "Fabrica de Material
in Miscelânea, vaI. XVII;
Revista Militar,
processos químicos . A fundição de la
de Guerra", in Exposição Internacional
tão fazia-se em fornos eléctricos de in-
do Rio deJaneiro. Secção Portuguesa,
dução , anterior a 1947 .
Livro d 'Oiro e Catálogo Oficial,
A produção de peças de alta qualidade
AGOSCO, Armando, "Material de Guerra",
Lisboa, 1 9 2 2 ;
exigia processos industriais de ponta ,
in Notícias mustrado, suplemento do Diário
tanto a nível da selecção das matérias
Notícias,
n. o 62, série II, 19-7-1931;
-primas, como das análises laborato
"Fábrica de Munições de Artilharia, Armamento
riais químicas e de ensaios mecânicos
e Viaturas (Braço de Prata) , 1904-1907" ,
e metalográficos . Usavam a radiografia
in Notícia Histórica Sobre os Estabelecimentos
e a metrologia de precisão . Faziam veri
Fabris do Ministério da Guerra.
Lisboa. Bertrand,
ficações sistemáticas com aparelhos so
1947,
fisticados e provas balísticas, nos suas
" Indústria Militar Nacional Como e. Para Quê.?",
próprias instalações.
in Nação e Defesa, pp. IIo-II6.
pp. 7-12; BARATA, Fílipe Themudo,
I 75
Fundição. Vasamento em lingotcira. Foto }.fãrio N avais. Arquivo de Arte da Fundação Calomte Gulbenkian.
estetizantes, num universo industrial adverso à introdução de l inguagens arquitectónico -artísticas, como aquele que caracterizava o nosso país, provém de factores ocasionais. Alfredo da Si lva e os responsáveis pela Tabaqueira encontravam-se envolvidos na
-. .... ., '" III .....
vida da Empresa Industrial Portuguesa, uma
[
unidade metalúrgica de Santo Amaro, em Lisboa, como capitalistas herdeiros dos Burnay. Tendo encontrado a fachada de 1888 ou os seus moldes nos estaleiros da antiga
Ruo
empresa metalúrgica, resolveram aplicá- Ia em Braço de Prata na unidade tabaqueira.
Planta Aerofotogramétrica 7/8. Escala I, � OOO _ Maio de 1963- Actualizada em Ig87.
Este aspecto não invalida a qualidade da
A T A B A Q U E I RA
intervenção, algo paradigmática na arqui
Localização - Poço de Bispo / Braço de
pública é uma apl icação da fachada da
tectura industrial portuguesa. Alfredo da
Prata, Largo do Tabaco (antigo espaço do
Empresa Industrial Portuguesa construída
Silva ao mandar colocar esta fachada na
Cais do Tota).
para a Exposição Nacional das Indústrias
nova fábrica de tabacos de Lisboa, afirmava
período de Actividade - 1927- 1963
Fabris, na Avenida da Liberdade, em 1888.
o seu poderio e o seu ascendente sobre o
em Albarraque de 1962 a 1976.
A segunda, seguindo a l inguagem estética
império do conde de Burnay, com quem
Fundadores - Alfredo da Si lva.
da primeira, foi montada no pátio interior,
tivera conflitos no interior da Companhia
Actividade Industrial Fabrico de tabacos
rematando a ala central. Ambas construídas
União Fabril , da qual aliás fora o accionista
embalados, marcas populares e de luxo,
em estrutura de vigas de ferro laminado,
maioritário entre 1906-1909. A Tabaqueira
tabaco a fio, cigarril has e charutos.
colunas de ferro fundido e serralharia
desempenhou também um papel fundamen
Valor Patrimonial - O edifício da fábrica
artística, permitem caracterizar a Tabaqueira
tai na organização espacial de Braço de Prata,
Tabaqueira do Poço do Bispo é um dos mais
de Alfredo da Si lva como um exemplar da
porque ocupando um área não urbanizada,
emblemáticos da arquitectura industrial
arquitectura do ferro tardia, envolvendo um
modelou os novos eixos urbanos e o largo
portuguesa do segundo quartel do século
notório revivalismo oitocentista em plena
fronteiro, facto que se reflectiu na própria
xx. Prédio construído de raiz, com alvenaria
afirmação de uma arquitectura em
toponímia da freguesia do Beato: Largo do
de tijolo aparente, com panos inseridos em
transformação, como já o era a experiência
Tabaco, Rua dos Cigarros, Rua dos Charutos.
estrutura de ferro, igualmente visível e de
modernista dos finais da década de vinte.
Estado de Conservação Muito degradado.
planta centralizada com pátio interior.
Há, no entanto, que atender a aspectos
Classificação Pende proposta de
O aspecto mais interessante desta unidade,
particulares que motivaram essa opção.
classificação no I PPAR, depois de uma
e, que a individualiza dos armazéns
Por um lado, toda a estrutura do edifício é
polémica muito significativa na
portuários do Porto de Lisboa é a existência
marcada por um rigoroso uncionalismo,
comunicação social da cidade, nos anos
de duas interessantes fachadas de chapa e
aproveitando integralmente o espa.Ço fabril .
1992- 1997. Referida no Inventário Municipal
ferro fundido. A primeira virada à via
A j unção d e uma fachada d e valores
do Património do PDM de Lisboa.
1 77
A
TABAQUEIRA do POÇO do Bisp o , como e r a designada na época da
sua fundação , ou de Braço de Prata como geralmente hoje é conhecida,
surgiu numa conjuntura assaz favorá vel da história da indústria do tabaco em Portugal. Entre 1 8 9 1 e 1 9 2 6 , vigorou o mono pólio legal estatal do contrato de taba c o , que esteve entregue à Companhia dos Tabacos de Portugal. Os proble mas políticos , financeiros e sociais relacionados com o encerramento das fábricas desta Companhia, em 3 0 de Abril de 1 9 2 6
-
curiosamente rela
cionados com o movimento militar do 28 de Maio desse ano - motivaram uma mudança de atitude do Estado face a tão importante negócio finan ceir o . A II de Maio de 1 9 2 7 , a publi cação do D e creto - Lei n. o 1 3 5 8 7 estabelecia a s bases para o regime dos tabacos, que determinava a liberdade de fabric o , importação e venda. Sob o signo desta conjuntura nascerá a Tabaqueira do Poço do Bisp o . As condições estavam criadas, mas faltou algum tempo para o arroj o da inicia tiva. Em primeiro lugar, a Companhia União Fabril do industrial Alfredo da Silva ( 1 8 7 1 - 1942) envolveu-se numa p olémica ministerial com a recém C ompanhia Portuguesa de Tabaco s , fundada em 1 9 2 7 , ou sej a , uma m o derna versão da antiga Companhia dos Tabacos de Portugal e principal subs Inauguração da fábrica. Cartaz publicitário. I9:i!7.
critora das acções da nova. Apesar de
não evitar as concessões do Estado , Alfredo da Silva ufanava-se de ter contribuído para a término do mo nopólio do tabaco (2I de Junho de I 9 2 7) . A derrota da proposta da CUF levou o industrial, no entanto , a criar uma empresa nova
-
A Tabaqueira,
com capitais da Sociedade Geral de Comércio , Indústria e Transporte s , Lda. e d a Casa BancáriaJosé Henriques Totta,
Lda. ,
ambas integradas no
Grupo CUF. A nova empresa registou a marca com a sigla "Para Bem Servir" e organizou o negócio tendo como ponto de partida a unidade industrial do Poço do Bisp o . Durante anos estabeleceu um plafond de dividendos aos accionistas de 7 % ao ano , como forma de garantir uma homogeneidade empresarial, indepen dentemente das circunstâncias. Im p rimiu conceitos mo dernizados de concorrência com a Companhia rival, muito ligada aos interesses do Estado .
Pormenor da fachada.
O crescimento da empresa e as opções
custo do tabaco nos estancos . Este
embalagens chegaram a todo o terri
económicas vieram orientar o futuro
aspecto vai popularizar o tabaco em
tório e a todas as casas? A estratégia de
da Tabaqueira, durante a II Guerra
Portugal, envolvendo um largo espectro
produção acompanhava a evolução so
Mundial. O empresário Manuel de
de consumidores potenciais, para os
cial, marcando a sua presença no quoti
Mello , continuador de Alfredo da Sil
quais os cigarros passaram a ser um bem
diano , assumindo -se até entre grupos
va, integrava o Grupo da Companhia
de consumo generalizado e não um
étnicos.
União Fabril (CUF) , depois de I942 .
luxo das classes mais altas. Assim os seus
Unidade movida por central termo
Do ponto de vista fabril, os empre
produtos tornaram-se famosos tanto
eléctrica própria, nos primeiros anos
sários de A Tabaqueira, cônscios da
em termos de normalização industrial,
assistiu-se à introdução de um novo
evolução do sector a nível interna
como de marca. Quem não se recor
sistema de empacotamento à máqui
cional, investem numa completa e total
da dos maços de tabaco Definitivos,
na, com embalagens modernas e pa
mecanização da produção , cujos efeitos
Severas, Três Vintes, Paris, High -Life,
dro nizadas , segundo a experiência
se materializaram na diminuição do
Português Suave, SG Gigante, cuj as
europeia. A organização empresarial
17 9
da Tabaqueira foi modelar numa épo
mais 25 anos (Decreto-Lei n . o 4 1 3 8 6 ,
rados . Nessa época labo ravam na
ca em que o monopólio legal quase foi
d e 2 2 de Novembro d e 1 9 5 7) . Data
fábrica do Poço do Bispo para cima
substituído pelo monopólio
dessa altura a ideia de construção de
de 600 trabalhadore s . Data também desta fase o tipo de mistura de lotes na
real,
usando toda essa estratégia para im
uma nova unidade fabril, que simul
por-se à concorrência desleal. A CUF
taneamente permitisse o aumento da
composição dos tabacos da Tabaqueira
foi revendedora e distribuidora dos
produção (na escala que vinha sendo
-
produtos da empresa tabaqueira. Uma
verificada no período anterior e viabi
O lote acabou por se uniformizar
lizasse as dificuldades legais impostas
depois do 2 5 de Abril , na Tabaqueira,
boa exploração comercial garantia os
25 % ultramarino e 75 % portuguê s .
resultados p ositivos da explo ração
pelo Estado ) , o aumento de capital
EP.
industrial. Assim impôs-se em Por
verificado (40 0 0 0 contos) e o preço
A inauguração da Tabaqueira de Al
tugal como empresa reguladora do
das ramas no mercado . Ao mesmo
barraque , em fins de 1 96 2 , determi
preço do tabaco , oposta às tendências
tempo não se pagaria a renda ao Esta
nou o encerramento da laboração em
monopolistas, contribuindo para o
do pelo usufruto da fábrica que , aliás
Braço de Prata um ano depois. A nova
aumento das receitas públicas. Essa
fora montada pela empresa, mas que
fábrica encontrava-se equipada com o
estratégia manteve -se nos períodos
de acordo com as normas vigentes
melhor maquinismo alemão da espe
de crise e enquanto perduraram as
reverteria para o património público
cialidade, para produzir cerca de 6000
restrições impostas nas vendas dos
acabada a concessão de trinta ano s .
toneladas/ano, com pessoal operário
seus produtos, por parte do Estado .
N o entanto , a s dificuldades foram
bastante reduzido . Junto à nova uni
Mas em 1 94 6 , findas essas restrições,
enormes nesses últimos anos da déca-
dade de Albarraque, a empresa veio a
o salto foi enorme, atingindo -se o
da de cinquenta, mantendo -se a labo
instalar moderníssimos serviços sociais
máximo da capacidade produtiva da
ração em Poço do Bispo e iniciando-se
e culturais, para além de um bairro
fábrica de Poço do Bisp o : 1 8 3 3 to
lentamente a construção da unidade
residencíal destinado ao pessoal da
neladas, em 1 9 4 8 .
de Albarraqu e , no concelho de Sin
firma .
U m outro aspecto d e grande interesse
tra. É nessa altura que a Tabaqueira
Entretanto , a fábrica do Poço do Bis
na história da Tabaqueira foi o da qua
lança o seu primeiro cigarro com
po , ao passar para as mãos do Estado ,
lidade da matéria-prima, composta por
filtro - o SG Gigante, a preços popu
é reivindicada pelos vizinhos , a Fá
ramas de tabaco das marcas Virgínia,
lares -, além das marcas Benfica e
brica de Material de Guerra de Braço
Kentucky, Colonial e Maryland, entre
Porto, que rivalizavam com a marca
de Prata, com o objectivo de ali se
outras igualmente afamadas. A produ
Sporting da Companhia de Xabregas.
instalarem os seus serviços sociais e
ção dirigia-se ao mercado português e
Aliás, a necessidade de mudança para
desportivos, situação que se manteve
ultramarino (I %) .
novas instalações industriais , muito
até aos inícios da década de noventa.
Em 1 9 5 7 , terminou o primeiro perío
onerosas de acordo com o plano ini
Neste momento , a velha Tabaqueira de
do do regime de 3 0 anos concedido
cial, fez dos últimos anos da unidade
Braço de Prata, como depois passou
pelo Estado para a exploração da fá
do Poço do Bisp o , o período áureo
a ser conhecida, pela vinculação à
brica. O Estado , no entanto , motiva
dessa fábrica. A qualidade aumentou ,
unidade bélica, pertence à EDP.
do pelos exercícios positivos dos anos
o número d e marcas também, baseadas
Não se deve fazeT confusão entre a
anteriores, renovou a concessão por
em loteamentos de tabaco mais esme-
Tabaqueira de Albarraque e a Taba-
180
queira de Cabo Ruivo , na Avenida Marechal Gomes da Costa. A primeira filia-se na empresa do Poço do Bispo e a segunda na Intar - Empresa Indus trial de Tabacos , SARL , nova desig nação da Companhia Portuguesa de Tabacos, a partir de 1 9 6 5 . Com a na cionalização das empresas de Albarra que e da ex-Xabregas, em 1976, surge a Tabaqueira - Empresa Industrial de Tabacos, EP (desde 1991, Sociedade Anónima - S .A. ) . Assim, à fábrica de Cabo Ruivo foi dado o nome de Taba queira, correlativo à nova empresa do sector, no quadro da fusão e das conse quências da nacionalização de 1 9 7 5 .
BI BLIO GRAFIA,
SANTO S , Raul Esteves dos,
Os Tabacos.
Sua Influência na Vida da Nação,
2 vols . ,
Lisboa, Seara Nova, 1974, vol. I , p . 153; "Tobacco", i n
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s . I. [1970] ;
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Empresariado Português.
Uma a bordagem às suas Realizações,
Porto,
A.1. Portuense, 1 9 9 4 , pp. 2 04 - 2 0 5 ; CÂMARA, João de Sousa da, Tabaqueira,
História da
Lisboa, Tabaqueira, 1 9 9 5 .
Nave interior d o edifício d a Tabaqueira. Foto Irene Buarque. 1983.
181
h i s t ó r i a da produção de gás: a produção a part i r do carvão e a partir do petró l e o , c uriosamente correspondentes à Gás da Mat i n h a
( 1 9 4 4 - 1 96 7 ) e à petro q u ím i ca ( d e s d e 1 9 5 7 até à p r i m e i ra década do s é c u l o X X I , quando o gás natural s ub s t i t u i r d e f i n i t i vamente o gás químico). A s u a l o ca l i zação na Z o n a O r i e n t a l de Lisboa, mais afectada p e l a s obras d a E X P O ' 98, terá profun das c o n s e q u ê n c i as na s u a h i st ó r i a futura ,
G Á s D A I'11 A T l n H A / P E T R 0 Q u í I'11 I C A
c o m o v a l o r arq u i t e c t ó n i c o ,
Local ização
v i sta urbano e com as suas v a l i a s
a t e n d e n d o à s e s c u l t uras espaci a i s
Rua d o Va l e Formoso de B a i x o ,
a r q u i t e c tó n i cas e patri m o n i a i s .
d a a r q u i tectura de e n g e n h e iros, esses
Ave n i d a I n fante D . H e n r i q u e ,
O t e r r i t ó r i o foi pensado com t o d a s as
" paraísos art i f i c i a i s " q u e m o l daram as
Ave n i da Mare c h a l G o m e s da Costa
s uas n e c e s s i dades in fraestrutura is,
p a i sagens recentes dos fenómenos de
período de Actividade
organizando-se com um p l ano
i n d us t r i a l ização da s o c i edade de
1 9 4 4 - 1998 >
i nteri or, com arruam entos, un i d a d e s
c o n s u m o de massas.
Fundadores
p r o d u t i vas, j a r d i n s e arvoredo s ,
As obras mais i m p ortantes do ponto
C o m p a n h i as R e u n i d a s de Gás e
gasóm etros, armazéns e e d i f í c i o s
de v i sta a r q u i t e ctó n i c o foram as
E l ectri c i dade ( C R G E ) ,
a d m i n i strativos e s o c i a i s , q u e formam
referentes à p r i m i t i va Fábrica de Gás
S o c i e d a d e Port uguesa de Petro q u í m i c a
u m c o n j u n t o complexo com as s uas
d a M a t i n h a , entre as quais sobressai
(SPP).
áreas respectivas, a n orte e a s u l .
a torre de dest i l ação de 3 4 metros
G D P - G á s d e P ort'uga l / G D L - G á s d e
A construção d a s fábricas d e fta l ato e
de comprimento e 2 2 metros
Lisboa.
a n i dr i d o ftá l i co , s i tuadas a s u l , v i e ram
a l t ura, obra em betão armado.
Actividade Industrial
o c u l tar uma organ i zação r a c i on a l de
Mas estas i n st a lações foram destruídas
P r o d u ç ã o e d i stri b u i ção de g á s através
todo esse vasto território, q u e por sua
para a construção de u n i dades fabris
de vários processos ( desde a desti lação
vez, p erm i t i a a l e i t ura das suas fases
q u í m i cas m a i s recentes.
do carvão à petroquímica até à uti l ização
d e c r e s c i m e n t o n um c urto espaço de
Deste p r i m i t ivo conj unto fazia parte a
do Gás N a t ura l como matéri a - pr i m a ) .
t e m p o . As sucessivas a m p l i a ç õ e s
casa do engen h e i r o - c h efe, um proj ecto
Valor Patrimonial
i m p useram - s e p e l o aumento
d o a r q u i t e ct o Parda l M o n t e i ro
As a c t u a i s i n s t a l ações da Gás de L i s b o a
e x p o n en c i a l d o c o n s u m o de gás e p e l o
( 1 89 7 - 1 9 5 7 ) .
com v á r i a s u n i dades f a b r i s em u s o ,
r i t m o d e renovação tecn o l ó g i ca d a
N ã o e x i stem espaços i n d u s t r i a is tão
c o n s t i t u e m um v a s t o território
i n d ú s t r i a q u í m i c a . O espaço terr i t o r i a l
e l u c i dativos e q u e reproduzam os
i nd u s t r i a l organ i z a d o d o ponto de
r e v e l a d o i s m o m entos fundamenta i s da
e f e i t o s t é c n i cos e funcionais da
183
m a q u i n a r i a u t i l i z a d a , c o m o estas
quer por m e d i ção de i nterpretações
a u t ê n t i c a s e s c u l t uras arquitectón i cas
descr i t i vas acentuadas.
das fábricas de gás e das
I n dependentemente destes aspectos,
petro q u ím i c a s . Os e d i f í c i os v i vem
h á n o c o n j u n t o m o n um e n t a l ,
da l i n g uagem dos forn o s , das
e d i f í c i o s e n q uadráve i s no u n i verso
c h am i n é s e das torres de d e st i l a ç ã o ,
do patr i m ó n i o i n d u s tr i a l , c o m o
das retortas e da organização
os da produção d o gás através d o
cromá t i c a dos espaços por onde
carv ã o , ú n i c a s e v i d ê n cias d e s t e t i p o
passam os produtos, q u e s e g u i n d o
de m é t o d o q u e s u b s i stem a i n d a
l ó g i c as d e fabri c o e s e g urança
n a c i da d e de Lisboa.
tran s m i t e m - s e à paisagem
A l i á s , o G á s da Mat i n h a é um e x e m p l o
i m p r i m i n d o as s uas característ i ca s .
de s ítio industrial em evo l uç ã o , c o m
Q u a n to a o s e d i f í c i o s , e l e s
e v i d ê n c i a s das m o d i f icações q u e s e
reprod u z e m as tecno l og i a s de
operaram n o decurso d e c i n q u e n t a
c o n s t r u ç ã o económ icas e f u n c i o n a i s .
e po ucos a n o s , na produção
São d e d e s e n h o rac i o n a l d e acordo c o m
e abast e c i m en t o de gás com e c o no m i a
as t é c n i c a s d a época.
de s ubprodutos.
As construções são em betão armado
Estado de Conservação
aparente e a l venarias de t i j o l o , com
Dependente dos d iversos t i pos d e
uso s i st e m á t i co de v i gas de ferro , com
i n s t a l ações e e d i f í c i o s .
e l e m e n t o s prefabr ica do s, t u d o para
C I ass ifi cação
fac i l itar a construção.
Sem c l ass i f i ca ç ã o .
S a l i e n t a m - se p e l o seu in teresse, os e d i f í c i o s estudados do gás carburatado, cujo desen h o , m a t e r i a i s d e c o n s t r u ç ã o e f u n ç õ e s con trib uíram este tica m e n t e para a composição geral
( M a r i a F á t i m a J o rg e ) . O i m pa c t o v i s u a l da arq u i tectura dos g a s ó m etros ( q ue em p a íses europeus têm sido objecto de reconversão f u n c i on a l quando acabam as s uas f u n ções i n dustri a i s ) e das construções da petroq u í m i c a i m p õ e m c o n s i derações de v a l o r i zação estét i c a , q u e artistas e c r í t i c o s de arte têm ress a l ta d o , q u e r através das suas l i nguagens p l á s t i c a s ,
monopólio da produção e comércio exercido pela histórica C ompanhia Lis bonense de Iluminação a Gás. A Câmara Municipal da capital dera o seu apoio político -administrativo à empresa de Belém, por razões de contencioso com a Companhia da Boavista. A localização da Fábrica de Gás em Belém, deveu-se à cedência de terrenos por parte da Câmara, desencadeando fortes reacções nos círculos do patri mónio cultural da capital, contrários àquele negócio , tão nefasto para a imagem da Torre de Belém, um dos símbolos quinhentistas dos Descobri mentos portugueses. Uma vasta área entre a linha de caminho-de-ferro de Portão da antiga quinta.
A
HISTÓ RIA da produção de gás em Lisboa anda associada a três
Cascais e o Tej o enegreceu-se, desde produtos da SACOR e decorreu desde
então até 1944, devido aos depósitos de
1 9 5 7 até à actualidade.
carvão , matéria-prima necessária para
importantes momentos fabris e técni
A primeira fábrica para a produção de
o fabrico do gás.
cas, aos quais se deverá acrescentar
gás de cidade foi fundada pela Com
A fusão das duas empresas nas Compa
um quarto correspondente à actual
panhia Lisbonense de Iluminação a
nhias Reunidas de Gás e Electricidade
introdução do gás natural, etapa que se
Gás , no bairro industrial da Boavista ,
( CRGE) , em 1891, que veio a solu
iniciou há pouco mais de um ano .
em 1847. Nesta fábrica, com fachada
cionar o conflito entre a Câmara Muni-
Entre 1847 e 194 7 , o gás produziu
para a Avenida 24 de Julho, fazia-se a
cipal e a Companhia da Boavista, não
-se por meio da destilação da hulha,
destilação da hulha, segundo os pro
teve reflexos na localização da Fábrica
através de vários processos e diferentes
cessos oriundos da Revolução Indus
de Belém, contra a qual se ergueu a voz
instalações que foram mudando de lu
trial (inovações de William Mardoch e
esclarecida de Ramalho Ortigão. Pelo
gar , entre a Boavista, Belém e Matinha.
correlativas) .
contrário , a Companhia do Gás de
Uma segunda tecnologia veio a nascer
A fundação da Companhia do Gás de
Lisboa passou a representar na vida das
com o processo da água carburatada,
Lisboa, em 1 8 8 7 , esteve na origem
CRGE um papel fundamental, pela
entre 1947 e 1 9 6 7 , apenas vinte anos
d e uma nova fábrica de gás, situada em
concentração da produção e armazena
de vigência. Um terceiro momento
Belém , junto à Torre quinhentista.
mento de gás nos seus terrenos de
técnico , ainda em curso deveu-se ao
Encontrava-se construída com os seus
Belém. Ainda assim, em 19°1, alterou
aparecimento da Petroquímica , com o
gasómetros, em 1 8 8 8 . A Companhia do
-se a localização do primitivo gasómetro
seu sistema de refinaria associada aos
Gás de Lisboa surgira como resposta ao
da fábrica para outro local, mais longe
encontrar um terreno disponível, com
instalação da alta pressão para ligar a
prometendo-se a custear metade das
fábrica à rede de distribuição e uma
despesas da transferência das instala
nova canalização de 14 quilómetros de
ções . Assim, em 1935, um novo espaço
comprimento . Competiria , por sua
era considerado como passível de res
vez , às CRGE a edificação da nova fá
ponder a todos os quesitos de modo a
brica com todos os preceitos de arqui
contentar as CRGE e a Câmara, sob o
tectura e tecnologia, servindo o fabrico
beneplácito do Estado . A escolha recaiu
do gás pelo método da destilação do
sobre a histórica Quinta da Matinha, na
carvão , com beneficiação dos sub
margem do Tej o , pertencente à fregue
produtos.
sia dos Olivais.
A Quinta da Matinha, da qual exis
Demorou ainda dez anos entre a esco -
tem uma planta de 1 9 2 0 (cópia de
lha do local e a inauguração da nova
J. P. Barroso) e uma gravura datada
Fábrica do Gás, em 1944 . Durante este
de cerca de 1 8 6 0 , era um dos velhos
período interferiu o governo (19 3 8 ) , na
espaços rurais da Lisb oa O riental
perspectiva da celebração dos Cen
transformado gradualmente em lugar
tenários Nacionais, que determinaram a
industrial. Sobre as ruínas das insta
realização da Exposição do Mundo
lações agrícolas surgiu , por volta de
Português , em 1940 , na área de Belém.
1 8 8 7 , um fábrica de cortiça com as
Ao mesmo tempo começava a vingar
instalações de armazenagem viradas
uma tese diferente da ideia da simples
para o grande comércio . Há notícias
C.is da
remoção da fábrica de Belém para a
de obras de alargamento e renovação
da Torre , reconhecendo -se a necessi
Matinha, uma iniciativa da equipa do
desta fábrica , entre 1892 e 1 9 2 9 , sa
dade de uma resolução futura do pro
Eng. Duarte Pacheco. Propunha-se a
bendo -se que pertenceu à Companhia
Inauguração da Fábrica da Matinha. J944. A NOWJ F.ibrica de Matinha. Lisboa, J944.
blema .
montagem de uma fábrica de carac
Geral de Cortiça, encerrando a sua
Um longo contencioso entre a Câmara
terísticas especiais envolvendo novas
laboração após um contencioso com a
de Lisboa e as CRGE, a respeito da
tecnologias, para o abastecimento de
Câmara de Lisb o a . Nos in:ícios da
localização da Fábrica do Gás de Belém
gás à cidade e não apenas para a ilumi
década de trinta, houve outros pro
(1910) , de nada serviu, pois os tribunais
nação pública. Assumindo -se estes no
j e ctos industriais para o espaço da
deram razão às Companhias, em 1912,
vos princípios , as entidades envolvidas
Quinta da Matinha, mas a partir de
impedindo a concretização da transfe
reviram as condições do contrato ante
1936 encontrava-se a sua futura fun
rência. A solução passou, mais tarde,
rior. Por protocolo de 1939 deter
ção. As obras começaram em Agosto
durante a Ditadura Militar (1928) , por
minou-se que competiria ao Estado
de 1 9 3 8 , com a conquista de terre
um contrato entre a vereação e as
construir um aterro e uma ponte -cais,
nos ao ri'o Tej o , através de dragagem
CRGE , prevendo-se a mudança da
de modo a constituir espaço indispen
e bombagem de areias da margem
FábTica de Belém num prazo de três
sável para a instalação da nova fábrica.
esquerda para enchimento total da
anos (art. 1 1 . 0 ) . À Câmara competiria
Quanto à CML, teria de financiar a
praia da Matinha e construção de um
186
muro de suporte e protecção em pedra.
Electricidade de Portugal (EDP) , sepa
Em I939 , iniciava-se a montagem dos
raram - s e , ficando as instalações da
fornos de destilação, da aparelhagem
Matinha na posse da Petroquímica e
de depuração e do primeiro gas ó
Gás de Portugal , E . P. (r979) . Em I989
metro , seguindo -se a s estruturas d a
nasce a empresa GD P - Gás de
nova fábrica e m betão armado . E m
Portugal, S .A. A partir de I 9 9 5 ,
I940, a fábrica encontrava-se pratica
reestrutura-se n a GDL (Sociedade
mente construída, com a participação
D istribuidora
de empre sas portuguesas e estran
Lisboa , S .A. oU Gás de Lisboa) , cum
geiras. D iversos imperativos relacio
prindo a sua função de abastecimento
nados com o eclodir da II Guerra
de gás à capital. Assim, iremos tentar
Mundial impediram a sua inauguração
seguir as diversas fases por que passaram
em I 9 4 0
as obras e as instalações da Quinta da
e
em I942 , como esteve
de
Gás Natural de
previsto , situação que só ocorreu um
Matinha, desde I944 até I998, se bem
pouco antes do fim do conflito mun
que com maior pormenor em relação
Aspecto geral da Fábrica da Matinha. A NO�'a Fábrica de Gis da Matinha, Lisboa, 1944.
dial . Entretanto , com a criação da
às instalações iniciais sobre as quais
iluminação, teria necessariamente um
Zona Industrial do Porto de Lisboa,
existem estudos mais completos e
novo esquema de fabrico e dirigir-se-ia
em I 94 2 , a unidade de gás foi de
globais.
para outras funções do mésticas e
imediato integrada nessa nova área,
Quando a Fábrica da Matinha foi inau
industriais . A opção tecnológica foi a
passando a ser conhecida por Fábrica
gurada, em 8 de Janeiro de I944 , era
da montagem de uma fábrica de tra
da Matinha.
presidente das CRGE, o "decano da elec
balho contínuo e automático . Se a es
O estudo de Maria de Fátima Jorge
tricidade em Portugal" , Dr. António
colha da tecnologia reverteu para a
esclarece muitos aspectos, tanto refe
Centeno (I86I-I947) . A nova fase da
belga SOFINA, a construção dos fornos
rentes à tecnologia da primeira uni
produção de gás ocorre no contexto do
de destilação foram entregues à Société
dade, como da segunda, pelo processo
co ntrato de I 9 3 3 , entre as C RGE
Générale de Construction de Fours ,
de água carburatada, como ainda, em
e a S OFINA, S .A. , uma sociedade
de Montrouge , na França. Edifica
relação à arquitectura dos edifícios
franco -belga. O projecto implicava a
ram-se cinco fornos verticais do tipo
destas duas fases de produção e dis
realização de obras que colocassem o
de "Woodall Duckham" , com vinte
tribuição de gás a Lisboa. Todavia, o
país a par das realizações industriais de
câmaras de combustão , para uma ca
estudo referido é omisso em relação
gás da Inglaterra, Bélgica, França e
pacidade de produção 70 000 m3 I dia.
às ampliaçõ e s , proj ectos e funções
Estados Unidos da América. O custo
Nas instalações da primitiva Fábrica
correspo ndentes a novos períodos
geral da transferência da Fábrica de
de Gás observavam-se cinco fases
tecnológicos, ocorridos após I 9 6 0 ,
Gás de Belém para a Matinha e a
fundamentais de fabric o : a destilação
que ultrapassam a s áreas das instalações
construção da nova fábrica ficaram em
contínua após a ensilagem do carvã o ,
primitivas . Por outro lado , após o 2 5
43 500 contos.
p e l o processo de câmaras verticais ; o
d e Abril, o gás e a electricidad e , que
A nova unidade de gás, na época em
tratamento e a depuração do alcatrão
constituíam uma Empresa Pública , a
que a electricidade substituíra o gás de
contido no gás - processo bastante
187
complexo ainda - através de vários tipos de condensadores, lavagem em amoníaco e depuração por processos químicos; a desbenzolage m ; o arma zenamento em gasómetros ; o trans porte a longa distância a alta pressão , com o auxílio de compressores até aos postos de depressão ( em que o gás passava à baixa pressão ) , para poder ser consumido na rede urbana. O custo desta obra ficou em 3 6 000 contos. O carvão - matéria-prima indispensá vel nesta primeira fase da Fábrica de Gás da Matinha - era descarregado na ponte-cais construída pela unidade fabril e transportado num sistema de ferrovia até aos depósitos do carvâo . A necessidade constante de carvão para alimentação do processo contínuo de destilação , traduziu-se na mudança da paisagem fluvial daquele espaço , com a presença de carregueiros ma rítimos desde 1943 , j unto à ponte - cais . Dali passavam mecanicamente para os silos que se encontravam no edifício da destilação , onde nos fornos providos de mecanismos automático s , o carvão era destilado com o concurso de vapor de água, com mistura de dois tipos de gás ( o . gás da água e o gás oriundo do carvão) produzido em baterias de gasogénios. A purificação do gás consistia em retirar-lhe as subs tâncias nocivas que continha, tais como o alcatrão, o amónio , a naftalina, o ácido sulfídrico e o benzol. Essas ope rações realizavam-se em condensado-
Instalações do gás carburatado. Foto Maria de FátimaJorge.
188
res aprop riados . O gás benzol era extraído através de um processo novo (Benzorb o n) , numa instalação alemã denominada Lurgi .
CORT[ POR
A 8
Depois da purificação química, o gás guardava-se num gasómetro do tipo de Baume-Marpent (fábrica em Maine St. Pierre) e fabricado com o concurso da metalúrgica portuguesa L. Cardoso Dargent. O primeiro gasómetro tinha 3 6 m de altura e uma capacidade de 3 0 000 m3 • A distribuição fazia-se através de canalizações de 500 e 6 0 0 m m , quer pela compressão , quer pela depress ã o . Antes de chegar ao consu midor dirigia-se a três postos de gás da cidad e , situados no Terreiro do Paç o , Praça do Chile e na Rua Filipe Folqu e . As
CRGE instalaram c o m a sua nova
A1çado e corte do edifido principal do gás carburatado. Desenho de Maria de FátimaJorgc.
estações para o seu abastecimento à
um gasómetro com maior capacidade
unidade industrial, caldeiras para a
do que o primeir o , para além de outras
Fábrica da Matinha, um interessante
produção de vapo r da Babcock &
obras , como o refrigerador Hamon.
sistema de economia dos subprodu
Wilcox. D o ponto de vista técnico , as
Mas, em 1947, j á se pensava construir
tos resultantes da destilação contínua ,
casas das máquinas (casa dos extrac
uma segunda instalação de produção de
tais como o coque, o alcatrão, a amó
tores, dos compressores, dos depres
gás pelo método da água carburatada,
nia e o benzol . Eram produtos de
sores, etc . ) eram das mais perfeitas do
com capacidade de 60 000 m3/dia .
consumo na nova época industrial,
país. O primeiro engenheiro - chefe
Neste mesmo ano foram autorizadas as
tais como os fogões a gás de cozinha.
desta instalação de gás foi Pompeu
obras. Estas pressupunham uma nova
A pavimentação das estradas com alca-
Nolasco da Silva , que veio a ocupar, a
unidade de produção de gás , com
trão
revolução
partir de Novembro de 1 944 , a casa
tratamento adequado e um reser
rodoviária e a aceleração automóvel
da gerência das CRGE existente no
vatório ( � o o o m3) . As construções
acompanhava
a
tornando-se cada vez mais necessário
espaço fabril .
concluíam-se em 1 9 4 8 . No ano se
uma auto -suficiência nacio - nal e m
No ano de 1945 , pensou-se apetrechar
guint e , uma segunda extensão destas
alcatrão , para os pavimentos e outros
as instalações, acabadas de inaugurar
unidades respondiam ao boom do
subprodutos.
com uma capacidade de 100 0 0 0 m3
consumo . Trabalhava sem paragens,
A nova Fábrica de Gás dispunha
de gás /dia. Assim, aumentou-se a des
tal era o incremento do consumo de
também de uma subestação eléctri
tilaria com mais dois fornos do mesmo
gás per capita. Uma primeira linha de
ca (1940) , tanques de água e duas
tipo e foi construído , em 1948, mais
abastecimento de gás carburata do foi
189
inaugurada em Novembro de 1 948 .
propano, pelo processo de craclcing (o
da Matinha e a Petroquímica - um
Atendendo a esse crescimento , a s
petróleo é convertido em óleo volátil e
vasto território que ultrapassa o s l i
CRGE p ensavam, em 1949 , incremen
gás ) . Estas instalações exigiam novos
mites estreitos d a velha quinta, para
tar a sua produção de 160 000 m3 para
gasómetros (100 000 m3) .
se assumir como um complexo in
210 000 m3 através de uma terceira
As novas instalações começaram a fun
dustrial , cujo estudo exige uma abor
extensão completa de gás carburatado .
cionar em 1 9 5 7 , ano em que as CRGE
dagem de maior pormenor.
Novas construções surgiram em 1950-
e a SAOO R fundam a Sociedade Por
À medida que se processam as alte
- 5 1 , que começaram a dar ao espaço da
tuguesa d e Petroquímica (SPP) . Seria
rações, as antigas unidades fabris vão
antiga Fábrica de Gás da Matinha as
possível a partir de então , fabricar o
encerrando e os seus espaços são obj ecto
características que hoje ainda observa
gás de cidade com base nos subpro
de novos projectos industriais comple
mos, mas numa escala muito maior.
dutos da refinaria de Cabo Ruivo .
mentares das áreas em laboração, ou
Construíram-se novos fornos, uma
O mesmo processo viabilizou a con
então ficam ao abandono, como o caso
torre de extinção , mais uma vez sob
dução de amoníaco na Matinha.
das instalações modernistas da produção
a direcção técnica da SOFINA e de
As infra-estruturas para o tratamento
de gás pelo método da água carburatada.
uma empresa das CRGE, a SET (So
e a refinação do gás inauguraram-se
Na realidade , quando a destilação pas
ciedade de Estudos Técnicos) . As
em Fevereiro de 1958, ainda locali
sou a ser obtida a partir dos produtos
obras da terceira extensão construí
zadas no antigo edifício de água carbu
petrolíferos, inicia-se uma nova fase da
ram-se por fases. A segunda previa o
ratada. Todavia, como a implantação
indústria do gás, para a qual a Fábrica da
aumento da produção para 260 000
de u m novo complexo para a p rodu
Matinha não tinha solução. A evolução
m3/dia e exigiu a construção de uma
ção do gás de cidade , do amoníaco e o
gera uma nova unidade em Cabo Ruivo ,
terceira bateria de fornos de desti
hidrogéni o , relacionado com o s in
com características técnicas muito dife-
lação, um gasogénio e outros serviços
teresses das C GRE e da SAC OR, a pri
rentes e cuja imagem artificial se organi
(em funcionamento a partir de No
meira empresa dá por terminada a
zou como uma autêntica escultura na
vembro de 1 954) . Mais um gasómetro
produção de gás a partir do carvão .
paisagem, com as suas torres de desti
foi instalado para guardar 100 000 m3
Estas importantes alterações determi
lação , com os seus grandes reservatórios
de gás (r954- 55) .
nam o encerramento dos fornos de
e as suas diferentes áreas industriais.
Mas, nos meados da década de cin
destilação do carvão (1964) e das ins
A GDL funciona actualmente a gás natu
quenta, outras perspectivas começavam
talações de gás carburatado (r967) ,
ral, uma lógica de características ambien
a surgir na produção de gás, baseadas
seis anos depois do início da produção
tais para o novo milénio . Em 1998,
em métodos de destilação do petróleo,
de gás por via petrolífera (a partir da
assiste-se a outra alteração, criando-se a
ou pelo menos que atendessem aos
gasolina, do butano e do fue1- oil) im
marca Lisboagás.
avanços técnicos da petroquímica .
plementada pela Sociedade Petroquí
D e acordo com recentes estudos, prevê
Assim, em 1955, as necessidades de
mica de Portugal.
-se a recuperação da Fábrica da Matinha,
crescimento para 2 9 0 0 0 0 m3/dia
Estes acontecimentos e as diversas
no enquadramento das remodelações de
implicaram uma terceira linha de pro
modificações empresariais ocorridas
Lisboa Oriental e da criação do parque
dução contínua de gás carburatado ,
desde 1 9 6 1 alteraram a planta de toda a
da EXPO '98, prevendo-se um futuro
com o apoio de uma refinaria de gás
área onde se estabeleceram a Fábrica
local de investigação científica.
190
Gasómr:tros. Foto Maria de FátímaJorge. da Matinha ,
BIBLIO GRAFIA,
liA Fábrica da Matinha", in Indústria Portuguesa,
Lisboa, 1944; CUSTÓ DIO, Jorge,
"Fábrica de Gás da Matinha", in Dicionário
XIII ano, n. o 151, Setembro de
História de Lisboa,
da
coord. de Francisco Santana
Matinha GaslYork - Carburatted Water Gas Building,
dissertação de mestrado em
Conservação em Cidades Históricas e Edifícios,
1940; OOM, Frederico, "A nova fábrica
e Eduardo Sucena, Lisboa, Carlos Quintas &
Lovaina, 1995 (com ilustrações dos Álbuns
de gás da Matinha" , in Boletim
Associados, 1994, pp. 378-379; "Breve história
das CRGE, sobre a Fábrica da Matinha,
da distribuição de gás combustível canalizado
fotos de Kurt Pinto).
dos Engenheiros,
da Ordem
4. o Ano, n. o 48, Dezembro
de 1940, p. 583-588; "A Nova Fábrica de Gás
em Lisboa da Companhia Lisbonense de
na Matinha deve funcionar ainda este ano",
Iluminação a Gás à Gás Portugal", in
in Indústria Portuguesa, XV Ano ,
Notícias, Boletim Interno,
Outubro de 1942 , p. IO;
n.o
170,
A Nova Fábrica de Gás
GDP
II Ano , n. o 3 ,
Setembro, 1994; JORGE, Maria d e Fátima,
'9 '
localização
-
Parq ue d a E X P O ' 9 8 .
período d e Actividade Fundadores
-
-
1940-1995
SACOR.
Actividade Industri al
-
Dest i l ação da
ref i na r i a de petró l eo .
Valor Patrimonial
-
O valor patrimon i a l
da torre d a desti l a r i a da Sacor f o i desde l og o rec o n h e c i d o p o r artistas p l ás t i c o s , quando s e p e n s o u d e m o l i r a a n t i g a ref i n a r i a de Cabo R u i vo .
Estado de conservação Resta urada para servir os prop ó s i t o s da EXPO ' 9 8 , -
em m e m ó r i a da a n t i g a ref i n a r i a de Cabo R u i v o . A Torre G a l p , l o ca l i za - s e j unto à Porta S u l d o antigo recinto da E X P O ' 9 8 e f o i r e c u p erada p e l os arquitectos Graça D ias e Egas V i e ira.
Classificação
Planta Aerofotogramétrica 8/8. Escala 1 :2 000. Maio de
1963.
Actualizada em 1987 (aspeeto parcial da antiga Sacar, onde se localiza a torre).
T 0 R R E D E D E ST l L A Ç A 0 D A S A C 0 R
'9 3
-
N ã o tem.
P
Torre de Destilação. Maio de 1998.
ARA
compreender a instalação
De Groer determinava que a vocação e
de uma importante refinaria de
expansão industrial da capital se faria
p etróleo em Cabo Ruivo é necessário
na sua Z ona Oriental, aproveitando as
situarm o - no s nas directizes u rb a
amplas acessibilidades ferroviári a s ,
nísticas e económico -governativas de
marítimas, viárias e aéreas .
Lisboa, entre 1 9 3 0 e 1948 , data da
A escolha dos terrenos para a insta
publicação do Plano de Urbanização ,
lação da Refinaria de Cab o Ruivo , no
encomendado por Duarte Pachec o , ao
Casal das Rolas e Quinta dos Paios -
urbanista francês De Gro e r .
envolvendo inicialmente opções de
D esde 1 9 3 0 procurava-se desafectar o s
natureza ambiental - , foi determina
espaços industriais d e Lisboa O ciden
da pela existência de antigas fábricas
tal, entregando- o s a outras funções
p oluentes nos mesmos espaços, entre
mais nobres e de laze r . Estas medidas
as quais refiram-se a Tinoca Limited
visaram em primeiro lugar as insta
(indústria química) .
lações e depósitos de combustíveis e
A construção da refinaria e a sua inau
gasómetros situados em Alcântara, n a
guração o correu em 1 9 4 0 ,
Junqueira e em Belém. Depois, c o m
responsabilidade da SACOR - Socie
sob a
raras excepções, também as instalações
dade Anónima C o ncessionária
fabris, começaram a ser transferidas
Refinação de Petróleos em Portugal.
para Lisboa O riental.
As instalações criteriosamente segu
Do ponto de vista ribeirinho procu
radas em 1 9 4 � pelo valor de 5� 3 8 6
da
rava-se alargar o Porto de Lisb o a para
contos, envolviam amplos edifícios
novas áreas , situadas e m B raço de
fabris, centrais, quarenta e sete reser
Prata, Matinha e Cabo Ruivo .
vatórios e vários escritórios. A desti
As decisões de construção da nova
laria era , já à época, uma estrutura
Fábrica do Gás da Matinha ocorreram
completa de destilação de petróleo
entre 1934 e 1944, enquanto novas
bruto , que compreendia duas for
fábricas se começaram a instalar p erto
n a l h a s tubulares, duas colunas d e
de C abo Ruivo ou nos Olivais desde o s
rectificaçã o , rectificadoras auxiliares,
finais da década d e vinte , nomeada
p ermutadores de calor, bombas , refri
mente a fábrica e silos da Companhia
geradores, ejectores, formando uma
de Moagens Lisbonense. També m , em
complicada arquitectura comum a este
1 9 4 4 , ficava concluída a Doca dos
tipo de unidades fabris da indústria
Olivais.
química moderna. A torre da desti
Entretant o , em 194� , era criada a
lação , que sobreviveu às alterações de
Área Industrial do Porto de Lisbo a e
função de todo o espaço , tem a altura
em 1 9 4 8 , o Plano de Urbanização de
de mais de quarenta metros . A par da
194
chaminé da Gás Portugal, na Quinta
os quais as alvenarias d e tij olo e arga
B I BLI OGRAFIA,
da Matinha, constituiu um dos mais
massas hidráulicas, estruturas metálicas
Nota Descritiva e Estimativa dos Bens Seguros
míticos símbolos da industrialização
padronizadas e coberturas de fibroci
q u e constituem a instalação da ReFinaria
recente de Lisboa Oriental .
ment o . Do ponto de vista formal exis
de Petróleo pertencendo à Sociedade
O proj ecto original de I940 integrava :
tiam vários hangares, entre os quais os
Anónima Concessionária da Refinação
- a fábrica para o tratamento quí-
das áreas de expedição , com instalações
de Petróleos em Portugal,
mico e o enchimento do vasilhame
para o enchimento de vagões-cisternas,
Tip. Cristóvão A. Rodrigues, 1 9 4 3 : SACOR,
(r768 mO) ;
camiões-cisternas e navios-cisternas.
Álb u m , Lisboa, 1 9 5 7 : SACOR,
- a casa das b o mbas, com bombas para
Como unidade da indústria quími
Lisboa, 1940
a rede central e complementar de
ca, importantes laboratórios foram
petróleo brut o , óleos lubrificantes e
instalados na SAC O R , um dos quais
asfalto ;
com motores para a determinação do
- a central térmica, onde se encon
índice de octanas.
travam duas caldeiras da Babcock &
A refinaria implicou uma ligação es
Wilco x ;
treita com a rede geral de distribuição
- a central eléctrica, c o m dois grupos
eléctrica, determinando a construção
electrogénios a vap o r , com turbina
de um importante posto de transfor
e alternador cada um e diversos
mação de electricidade e uma instalação
compressores ; - uma instalação para captação e abas tecimento de água;
modelar contra incêndios , para a pre venção fabril e zonal. A história da SAC OR associa-se, a
- uma etilagem ;
partir de I 9 5 7 , à Fábrica de Gás da
- uma central térmica para aqueci-
M atinha . Em Agosto desse a n o , a
mento dos edifício s ; - outros edifícios secundários e d e apoio .
SACOR, as CRGE e outras firmas da indústria química fundaram a S o ciedade d e Petroquímica de Portugal
Como refinaria de petróleo , a SACOR
(SPP) . A finalidade principal residia
não deixaria de caracterizar-se pelos
n o aproveitamento dos subprodutos da
seus múltiplos reservatórios de diver
refinaria de Cabo Ruivo e a sua desti
sos diâmetros, variadas alturas e capa
lação na Matinha, onde se produziriam
cidades em metros cúbicos, moldando
o gás de cidade e o amoníaco .
a paisagem de Cabo Ruivo, antes da EXPO ' 9 8 . O s edifícios obedeciam ao diagrama funcional de uma refinaria de petró leo e tendiam para uma certa banaliza ção dos materiais de construção , entre
1 95
>:
SAC OR, Lisboa,
Relatórios,
SACO R Revista, 1962
>.
� · OLIVAIS
• "-..
C a s a s Novas, O l i v a i s Ve l h o .
�.� ��-.,
Local ização - R ua Franc i s c o A l ve s G o uv e i a , s i tuada na a n t i g a Q u inta d a s
I
Data d e Construção - 1 8 8 2 / 1 889/1 907 Proprietários fundadores - Francisco Alves Gouveia.
Val or Patrimonial - E s t e conjunto h a b i t a c i o n a l reves t e - s e de grande i n t e resse patri mon i a l , p o i s estabe l ece e c o n st i t u i a artéria p r i n c i p a l dos O l iv a i s Vel h o , com e i x o perpend i cu l ar à I g r e j a de Santa Mari a . O próprio adro da Igreja f o i d e l i m i tado por construções e d i f i c a d a s por A l ve s G o u v e i a , i m po n d o - s e na urb a n i zação pr i mo - n ovecerit i st a . J untamente c o m o Largo da V iscondessa Planta Aerofotogramétrica 9/7- Escala
1:2000.
dos o l i v a i s , as h a b itações para
Maio de 1963_ Actualizada em 1987.
os a n t i gos operários d a Fábrica de ,
B A I R R 0 0 P E RA R I 0 D E F RA n C I S C 0 A LV E S G 0 U V E I A
Estampar i a de A l ve s Gouv e i a são os ú lt i m o s testem u n h os que s u b s i stem às c o n struções desart i c u l a d a s e de má q u a l idade e s t é t i c a , q u e em seu redor foram s u rg i n d o . Destru i u - s e , ass i m , um n ú c l e o urbano o it o c e n t i s t a , que c h e go u a ser sede de conce l h o , c o m un i d a d e e v i da próp r i a .
Estado de Conservação - O s prédios a z u l ej ados estão em bom estado, mas os restantes apresentam s i n a i s de degradação.
Classificação - Sem c l as s i f i cação. Vem c o n t e m p lado nos conj untos e d i ficados do I n ve n t á r i o M u n i c i p a l do Patr i m ó n i o do P D M de L i sboa.
197
onmn· CIJ-
A
U
11\';'
&lrro O�r�rlu.
Fãbrica de estampa ria e bairro operário. em O Património Industrial e os Trabalhadores. O Caso do Vale de CheIas. p. 23.
Edifício da fábrica de estamparia. Foto Rui Rasquilho. 1978.
NTES de uma descrição mais
PrllW'l[a fmct>. Lus:,III r .undf" trobnlhuu .de.An\unlo RaptbLft.
actualizados, embora a secção de bran
mecanizadas da estamparia eram m o
cuidada das diferentes constru
queação fosse a mais modernizada, de
vidas por máquinas a vapor, encon
ções operárias é importante abordar
acordo com o Inquérito Industrial
trando-se instaladas uma máquina de
sucintamente a empresa que as criou,
de 1 8 8 1 . Todo o trabalho concentrava-
Lemoire (6 c/v) , uma caldeira france
ainda que , presentemente, não subsista
-se na fábrica e a maquinaria utilizada
sa (10 c/v) e outra máquina montada,
mais do que o portão de entrada da
na época consistia : uma tina de bran
cerca de 1 8 8 9 .
grande área ocupada pela fábrica de
queamento ; três engenhos de lava r ;
Inicialmente a fábrica era d e peque
Francisco Alves Gouveia.
d o i s moinhos para anil ; dois engenhos
nas dimensões. A área delimitada na
A actividade industrial remonta a 1874.
para preparar zuartes ; dois engenhos
planta revela uma expansão industrial
No espaço rural da freguesia instalou
para chitas azuis ; duas calandra s ; uma
gradual, ultrapassando os limites da
-se uma unidade fabril de estamparia,
enroladeira; uma bomba para tirar
primitiva quinta. Numa planta indus
tinturaria e branqueamento de algo
águ a ; quatro caldeiras para puxar
trial, datada de 1 9 4 7 , entregue na
dões, fundada por Francisco Alves
cores ; uma caixa para puxar zuartes e
CML, verifica-se a forma sucessiva e
Gouveia. Entre os primeiros produtos
campeche ; quarenta tinas para tingir
justaposta de implantação das diversas
salientam-se as chitas (azuis, ruivas e
fazenda e duas prensas. Os processos
oficinas , integrando-se no conjunto
pretas) , os zuartes, os lenços (azuis e de
manuais mantiveram-se por mais três
existente, algumas inovações tecnoló
cores) e os algodões branqueados .
décadas e evidenciavam-se pela co
gicas. Um exemplo , consiste no pedi
Os pro cessos técnicos aplicados n a
lecção de cunhos ou moldes de estam
do de autorização de Francisco Alves
fábrica não s e encontravam muito
par, mais de mil em 1 8 8 1 . As secções
Gouveia, em Janeiro de 1 9 ° 4 , para
�A . G O U V E I A , L �
\\ ...,'{r.
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•
"
• I
III � . � ·'1·
-l1J .......
Alçado da casa das caldeiras. Arquivo de Obras, CML.
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I
I ,
! I I
,-
I
!
1· 1 Alçado da chaminé. 1947. Arquivo de Obras, CML.
1947.
estamparia e tinturaria. Em meados
assim de se reconstruir oficinas , reser
tinturari a , um barracão de madeira
da década de quarenta, registam-se
vatórios de água, cabine eléctrica, ar
assente sobre alicerces de alvenaria ,
grandes alterações na organização de
mazéns e casa para caldeiras.
destinado às oficinas de tinturaria.
algumas das secções da unidade fabril.
Com o findar dos anos 40, diminui a
D ata de 1 9 2 3 , o p edido para a insta
O principal motivo prende-se com o
intensidade dos pedidos de alteração ou
edificar no interior da sua fábrica de
lação de uma cabine de alta tensão ,
novo traçado viário da futura urbaniza
construção suj eitos à Câmara Municipal
modificando -se desde então a força
São dos Olivais, dividindo em duas
de Lisboa. Esta fábrica laborou quase
motriz que iria alimentar a fábrica de
partes a unidade inicial da fábrica. Têm
cem anos. A 18 de Setembro de 1973,
1 99
biente urbano . No fim do século XIX e princípios do século XX, construí ram -se casas baixas para operários, rematadas, em I907, pela imposição de um bom edifício, virado para a igreja,
(. . ) foi transformada numa artéria bem lançada, dentro do enfiamento do velho templo, a testando imposição de alinha mentos, que o Rossio não teve de início (Ralph D elgado) . Documentos fotográficos da mesma época mostram-nos o aproveitamento da rua central repleta de árvores, para momentos de lazer e convívio entre os moradores, estendendo-se à via pú blica o conceito de fábrica-jardim tão caro aos industriais utopistas. Prédio fronteiro à igreja.
a Francisco Alves Gouveia Lda. faz um
Estas construções são muito peculiares, homens e vinte e cinco rapazes, mas
porque ao contrário das suas congéne
pedido à Câmara Municipal de Lisboa
com o crescimento da unidade o ope
res, não se escondem atrás de nenhum
para emitir uma licença de demolição
rariado aument o u . Em termos de
elemento natural ou construído , mas
dos edifícios que compunham a sua
apoios sociais para os trabalhadores,
antes assumem a artéria de circulação
fábrica de estamparia, na zona sul da
F. A. Gouveia estabeleceu uma escola
principal da localidade . As casas cons
Avenida de B erlim, visto ser uma zona
primária onde podiam estudar tanto
truídas na Rua Alves Gouveia são de
abrangida pelo plano de urbanização
os o p erários como os seus filhos ,
um só piso e não se revestem de cuida
dos Olivais Velho .
mandou construir um clube e o bairro
dos estéticos especiais.
A o rganização social e a designação da
operário alinhado por uma rua cen
O bairro organiza-se em duas corren
empresa alterou-se após a morte do
tral, que recebia o seu nome. De todo
tezas , ladeando a rua. As casas dos
seu fundador . Em 1935 , denomina-se
o conjunto industrial e social edifica
números pares foram construídas em
por União de Estamparia , Lda . e, em
do por este empresário só subsistiram
1 8 8 2 . Esta correnteza é simétrica ,
1944, surge com a designação de F. A.
as habitações operárias.
tendo a meio da rua um edifício com
Gouve i a , Lda. associada à conces
Mais uma vez se depara com a iniciativa
frontão classicizante , onde se inscre
sionária União de Estamparia, Lda .
de um particular, que contribui para
vem as iniciais F. A. G . , a data e alguns
O número de operários a laborar na
soluções de urbanização na sequência da
elementos cerâmicos encimando o
fábrica de Francisco Alves Gouveia,
sua actividade industrial, aproximando
ó culo , as janelas e a porta. D e cada
em 1 8 8 1 , rondava os oitenta , subdivi
os operários da localização fabril , con
lado deste edifício central o rganizam
dindo - s e e ntre cinquenta e cinco
ferindo-lhes a dignidade de um am-
- se quatro módulos de habitações.
200
Planta e alçado das casas ímpares do bairro operário. Arquivo de Obras. CML.
Em relação à correnteza dos números
materiais utilizados no exterior são
Património Industrial. Actas e Comunicações,
ímpares , a data do projecto é de r 8 8 9 .
mais cuidados. O piso térreo é revesti
vol. II, Coimbra, Coimbra Editora, Ld a . ,
Compondo-se d e cinco módulo s , o
do a azulejos de estampilha, o andar
1990. pp. 2 3 ; DIAS, Francisco da Silva e
seu interior tinha casas de quatro o u
superior é rematado com um friso
DIAS, Tiago da Silva,
cinco divisões, cozinha e u m a z o n a d e
azuiej ado de motivo vegetalista.
logradouro.
O edifício termina com uma plati
habitações da Rua Alves Gouveia
b anda abalaustrada e ncimada p o r
têm uma uniformidade e racionali
elementos em cerâmica vidrada, como
dade conferida pelo ritmo cadenciado
pinha s . As varandas são e m ferro
das j anelas e das portas. A linguagem
fundido .
Ai;
horizontal de todo o conjunto edifica do não se deve ao facto das habitações terem um só piso , mas devido aos
B I B L I O GRAFIA,
remates em platibanda modelada, que
"Fábrica de Francisco Alves Gouveia" ,
escondem os próprios telhados .
em
M a s Alves Gouveia não se limitou a
Directo 2 . a parte, Visita às Fábricas, Lisboa,
construir estas habitações. Como atrás
Imprensa Nacional, 1881, pp. 5 7 - 6 0 ;
se referiu, edificou um prédio no
DELGAD O , Ralph,
Inq uérito Industrial de
I88I, Inquérito
A antiga freguesia
Largo do Rossio da Igrej a , de maior
dos Olivais,
volumetria e qualidade estética, pro
CUSTÓD I O , Jorge,
vavelmente para os empregados supe
e os Trabalhadores. O Caso do Vale de Cheias,
riores (técnicos e administrativos) . Os
separata do I. o Encontro Nacional sobre o
Lisboa, 1 9 6 9 , p. 4 4 ; O Património Industrial
201
Olivais,
Lisboa, Freguesia dos
1993, pp. 2 3 , 34 e 35 ·
patrimon i a l , tanto em termos de instalações como de testemunhos tecnológicos, ten ha sido destruído, é de toda a pertinência integrar esta unidade industrial no presente estudo. A Fábrica de loiça de Sacavém, como todas as indústrias que se i nstalaram na sua envolvência, aproveitaram a lógica da proxi midade das vias de circulação, integrando-se na fixação ribeirinha verificada desde o Cais dos Soldados. Para a constituição do futuro m useu deixaram -se alguns vestígios materiais in situ, a saber: o forno número dezoito,
datado de i n ícios do século xx; parte de uma construção do século XIX, próximo da l inha férrea e o depósito de água com a denominação fabri l em azulejo. Da antiga fábrica persistem alguns produtos, como um baixo-relevo (meados dos anos 50) de Armando Mesquita, e um
Planta Aerofologramétrica 4-17/4 - 2/3. Escala 1:2000. Julho de 1977.
painel de azulejos considerado o seu
F Á B R I C A D E L G> I Ç A D E S A C AV É rll
e x - I íbris ( 1940-1950). Apesar destes materiais serem escassos face à
Localização
-
Na antiga Q uinta da
Valor Patrimonial
-
Da vasta área
Aranha, j unto à estação do caminho-de
ocupada pela Fábrica de loiça de
-ferro de Sacavém, concelho de loures.
Sacavém, localizada entre a linha férrea
período de Actividade
do Norte e a Estrada Nacional , subsi stem
Fundadores
-
-
1856' - 1979
Manuel Joaquim Afonso.
Actividade Industrial
-
Fabrico de
a lguns vestígios destinados a integrar o futuro Museu de Cerâmica e do Trabalho,
produtos em faiança doméstica, san itária,
da responsab i l i dade da Câmara Municipal
decorativa e azulejos.
de loures. Ainda que, o vasto conj unto
I
quantidade de testemunhos deixados por cerca de cento e vinte anos de actividade, é importante que no seio de um novo projecto imobil iário s ubsista condignamente a memória económica, social e c u l t ural da antiga vila de Sacavém, através da carismática fábrica de loiça.
Sobre a data de fundação d a Fábrica de loiça de Sacavém existem informações controversas, q u e levam a apontar anos diferentes para o seu momento d e arranque. Em todos o s anúncios publicitários, n o livro de
1940, e a datação existente no antigo pórtico principal da unidade industrial, aludia-se a uma mesma data - 1850. Esta era a data assumida e divulgada pela própria 1881, respondido pelo administrador John Stott Howorth, indica o ano de 1856, como sendo o da fundação da fábrica. Um estudo recente de Ana Paula Assunção intHulad_o Fábrica de Louça de Sacavém, revela nova documentação. relacionada com a aquisição da Quinta da Aranha (1851) e com a autorização para a instalação da fábrica por um período de cinco anos, dada pelo Ministério das Obras Públ icas, em 14 de Maio de 1856. Parece-nos, assim, que a data mais verosímel para a implantação de uma fábrica de porcelanas artificiais, de cimento e de cal hidráulica, é o ano de 1856. comemoração dos cinquenta anos da fábrica, de
empresa como o marco inicial da indústria de cerâmica, em Sacavém. No entanto, o Inquérito Industrial de
2° 3
não pode ser entendida isoladamente.
Forno dezoito a integrar no futuro museu.
pertencem à Viúva Lamego, a António
Tanto em Portugal como no estrangeiro ,
Costa, das Devezas, à Cerâmica Cons
assistiu-se a um boom de fábricas de
tância, à Lopes & c . a de Alcântara , à de
faiança. Abandonavam-se definitiva
Sacavém, etc.
mente os processos técnicos de cozedura
A expansão da indústria de cerâmica
com origem na tradição clássica. Com a
doméstica, essencialmente faiança co
presença dos muçulmanos na Península
mum tipo fino , insere-se no forte de
Ibérica, muitas inovações se verificaram
senvolvimento verificado na Inglaterra.
na morfologia dos fornos e na técnica da
Algumas das cidades de referência para
vidragem. Doravante, pelo menos para o
esta indústria são Tunstall, Longton ,
território português, passavam-se a obter
Burslem, Fenton, Hanley, entre outras.
produtos marcados pelas novas influên
Não é por isso, de estranhar, que muitas
cias técnicas, ainda que sob o domínio
das técnicas e dos modelos produzidos na
cristão. A oficina de oleiro pouco evoluiu
Europa tivessem, como base, o conheci
até à época das manufacturas, apesar da
mento técnico inglês. Um dos modelos
FÁBRICA de Loiça de Sacavém
produção se complexificar, principal
mais divulgados e apátridas é a loiça de
pertence a uma geração técnica im
mente nos centros urbanos , onde se
cavalinho, produzida nos primeiros tem
portante, que contribuiu decisivamente
começou desde o século XVI, de um
pos numa só cor.
A
para a divulgação de produtos em faiança
modo lato, uma produção em grande
D eve- se ao empresário inglês J osiah
destinados a um leque de consumidores
escala de azulejaria e de faianças (muitas
Wedgwood (tr795) a inovação do novo
muito vasto. As classes mais baixas passa
vezes na tentativa de imitação da porce
tipo de faianças finas, de pasta branca, em
ram a ter possibilidade de adquirir loiça
lana) . Foi, sem dúvida, a introdução da
cuja composição entrava pó de seixo ou
doméstica e mais tarde materiais de
escala industrial dentro do universo das
de quartzo. A argila branca misturada
construção, como azulejos de revesti
olarias que rompeu com os limites
com seixo pisado e por vezes cal permitia
mento exterior e interior, mosaicos e
de produçã o , aperfeiçoando técnicas
alcançar uma pasta muito plástica. A sua
mobiliário sanitário, à semelhança das
de pastas , de vidragem, de cozedura, de
tonalidade era muito branca e opaca, a
classes mais abastadas dos séculos XVII e
decoração e da própria organização em
sua textura era dura e suportava a elevada
XVIII. A cerâmica comum, caracterizada
fábrica.
temperatura da porcelana. O vidrado
pelo barro vermelho e pelos vidrados
O século XIX assistiu a uma proliferação
tinha como base o cristal de chumbo e a
verdes e amarelos, continuou a ser pro
da indústria cerâmica no território na-
sílica de quartzo ou de feldspato. Este
duzida pelos oleiros tradicionais. Mas
cional, especialmente nas cidades de
receituário afastava-se de uma produção
nas feiras e nas lojas do interior come
Lisboa e Porto . Expandiu-se a produção
baseada no barro branco esmaltado ,
çaram a coexistir produtos ditos tradi
em série da faiança esmaltada, da cerâmi
denominada por Charles Lepierre como
cionais e os fabricados em série, trazendo
ca comum e de construção e da faiança
cerâmica esmaltada.
o progresso a quem podia deles desfrutar.
fina. Algumas das marcas que ainda hoje
A Espanha foi um dos países onde esta
Assim, o nascimento da Fábrica de Loiça
permanecem na memória e nos produ
influência inglesa esteve muito presente .
de Sacavém, em meados de Oitocentos,
tos dispersos pelas casas ou antiquários,
A maioria das fábricas foram inclusive
2 04
instaladas por ingleses. A zona andaluza
afunilada para a saída de fumos, é
de 1856, traz consigo o know-how das
é disso exemplo . Podemo-nos reportar à
inconfundível . Também a Fábrica de
indústrias vidreiras. Pode falar-se de um
fábrica de loiça da Cartuxa, em Sevilha,
Loiça de Sacavém era caracterizada no
industrial com experiência no campo da
instalada pelo inglês Carlos Piclanam,
imaginário e na paisagem por estas
produção de vidros, devido às ligações
por ordem real de 1 8 3 9 , no antigo
"garrafas" . Vej a-se a descrição feita no
com fábricas da Marinha Grande e das
Mosteiro de Santa Maria de las Cuevas.
livro de comemoração do primeiro
Gaivotas, em Lisboa. No entanto , a ins
Nos primeiros tempos produziram-se
centenário da empresa: Em breve che
talação em Sacavém, trouxe alguns pro
exclusivamente modelos ingleses.
garam homens com pás e martelos,
blemas de rentabilidade e de produções
Como se sab e , a área da fábrica da Car
carradas de tijolo, areia, cal (. . ) foram
reduzidas (devido à ausência de conheci
tuxa foi incorporada na Exposição de
elevando na cerca dois estranhos cor-
mentos técnicos na obtenção de produtos
Sevilha, de 1 9 9 2 . Os vestígios materiais
pos, J'edondos, afunilando para o alto,
de qualidade) . Assim, se a fundação da
conservados in situ são suficientemente
q u e vistos de longe pareciam duas
fábrica se deve a um industrial e a capitais
eloquentes para perpetuar a presença
enormes garrafas. Eram dois fornos, os
portugueses, rapidamente os directores e
dessa memória industrial. De facto , o
dois primeiros fornos, um para chaco
os técnicos de produção passaram a ser de
.
conjunto de fornos intermitentes de
ta, um para o vidro.
origem inglesa. Através de um quadro
chacota, caracterizados por barrigas
Manuel Joaquim Monso ao instalar a
sinóptico podem verificar-se os vários
bojudas junto ao solo e por uma forma
sua Fábrica de Loiça em Sacavém, no ano
períodos administrativos :
DATA
NOME C O MERCIAL
1856-1861 1861-1893 1872 1881 1885
Fábrica de Loiça de Sacavém
PROPRIETÁRI O
ADMINISTRAD OR
Manuel Joaquim Afonso
Manuel Joaquim Monso
CAPITAL S O C IAL
John Slott Howorlh John Slott Howorlh
80 000 000 O rei D.
Fernando
ré is
II.
autoriza a comercialização da designação Real Fábrica de Loiça
1894-1902
Baronesa Howorlh de Sacavém & C. a
Viúva de John Howorth e o antigo secretário
James Gilman
James Gilman
1902-1904 1904-1917 1918- 1919
Sociedade Gilman & C. a. em Comandita
James Gilman, Alice Howorth. Baronesa Howorth
Gilman & C. a
James Gilman James Gilman
Gilman Ld a, Sociedade
Raul Gilman encontra-se na gerência
1919-1921
Gilman Gilbert, Sociedade
James Gilman e Herbert Gilbert
Herbert Gilbert substitui Raul Gilman por questões de doença
1921-1929 1929-1979 1932 1942 1960
Fábrica de Loiça de Sacavém, S.A.R.L.
James Gilman. Raul Gilruan e Herbert Gilbert
Fábrica de Loiça de Sacavém, Ld a
Raul Gilman e Herbert Gilbert Herbert Gilbert
Clive Gilberl entra nos assuntos da fábrica, já ajudava seu pai desde as anos
1962 1979
50
Leland Gilberl compra as acções e a fábrica Clive Gilbert, Evelyn Sellers (cunhada) , a fábrica de loiça, Beatrice Gilbert (viúva)
2 05
Leland Gilbert
(?)
2 000 000 2 000 000 3 000 000
de escudos contos contos
. - · "�. ·3��l�
.",
mostraram o contínuo aperfeiçoamen
de casas para o pessoal principal. Tam
to das suas produções .
bém, seria muito difícil albergar em
Não se pode falar de uma arquitectura
habitações operárias, construídas de base,
industrial construída de raiz , com
uma população que chegou a ser supe
uma grandeza adequada ao desenvolvi
rior a mil trabalhadores. Equivalia a uma
mento alcançado por esta empresa.
percentagem apreciável de população de
Como o crescimento foi gradual, as
toda a vila de Sacavém.
diversas oficinas, sectores e os múltiplos
D evido à importância económica alcan
fornos reproduziram-se horizontal
çada, desenvolveram-se também várias
mente ocupando uma área vastíssima .
formas de publicidade, como catálogos,
D esenvolveu-se a lógica da justapo
exposições e anúncios artísticos. A sua
sição . A delimitar toda a área da insta
produção era frequentemente divulgada
lação fabril construiu-se um mur o ,
em exposições de carácter nacional (Ex
cujo principal portão s e localizava junto
posição da Cerâmica do Porto
A fábrica inicial compunha-se de dois
à Estrada Nacional. Por volta de 1 9 3 0 ,
Exposição Industrial Portuguesa
fornos à volta dos quais se desenvolveram
o espaço fabril caracterizava-se p o r ruas
1 8 9 3 , por exemplo) e internacional
as diferentes oficinas que integravam as
Interior do espaço do futuro museu, onde se localizam duas estruras de combustào jn situ.
-
1883, -
inteiras de chaminés dos seus fornos
(Exposição Universal de Paris
actividades de preparação da pasta, os
circulares; altíssimas fugas de o utros e,
1889) , obtendo variadíssimas distin
tornos de oleiro (vinte em 1881) , as estu
por Fim o chamado forno contín uo ou
ções, para além de dispor de três lojas de
de túnel, cujo comprimento ultrapassa
venda directa ao público , no Porto, em
fas , os enxugadores, as galgas para a pre
-
1878 e
paração do vidrado , as áreas relacionadas
os sessenta metros (Fábrica de Loiça de
Coimbra e em Lisboa.
com os acabamentos, etc. Para o cresci
Sacavém, Ld. a. Primeiro Centenário.
Admite-se que Manuel Joaquim Afonso
mento continuo desta indústria, muito
I850 -1950, Sacavém, 1950) .
dominasse os conhecimentos para o
contribuiu o desempenho e o entusiasmo
Herbert Gilbert ficou no imaginário
fabrico da loiça em pó de pedra (Indús
de John Howorth, de James Gilman e de
da história da fábrica como um empresá
tria Portuguesa, n. o 105, P.38), embora
Herbert Gilbert.
rio preocupado com as questões sociais,
já se fabricasse em Portugal desde os
Em 1 9 ° 7 , na gerência de J. Gilman, a
para além de continuar e actualizar os
inícios do século XIX, em pequena
fábrica laborava com dezassete fornos
aspectos técnicos e produtivos . A Fábrica
escala. Mas foi com John Howorth que se
circulares , seis muflas, um motor a
de Loiça de Sacavém tinha em, 1950 , um
aperfeiçou esta técnica, instalando na
vapor de 100 c/v, um motor a gás de
posto médico, uma caixa de socorros,
direcção de produção o mestre inglês, de
200 c/v e quatrocentos operários. Em
uma creche, um campo de férias (criado
nome Stoke. Esta tradição de empregar
1912 inaugura-se uma das mais impor
em 1932) , uma cantina (r941) , um grupo
nos cargos de chefia técnicos de forma
tantes inovações tecnológicas para a
desportivo (com o respectivo campo de
ção inglesa manteve-se no tempo de
época - o forno contínuo ou em túnel.
jogos e balneários) , uma secção cultural e
H. Gilbert, época em que os principais
Mas, nos inícios da décade de vinte
um corpo de bombeiros. No que respei
serviços ficaram a cargo do inglês Barlow.
novos tipos de fornos , entre os quais o
ta à construção de habitação para ope
John Howorth importou então de Ingla
desenhado pelo Eng. Vieira da Silva,
rários a empresa limitou-se à edificação
terra os conhecimentos industriais, os
206
técnicos e as matérias-primas. Conferiu à
B I B LI O GRAFIA,
loiça de Sacavém o cunho de qualidade
H OWORTH , John Scott (depoente),
necessário para rivalizar com as suas
"Fabrica de Louça de Sacavem", in Inquérito
congéneres nacionais e internacionais.
Industrial de
188I, Inquérit o Direct o
2."
parte,
O Inquérito Industrial de 188I, identifi
Visita às Fábricas, Lisboa, Imprensa Nacional,
ca as matérias-primas utilizadas - barro
1881, pp. 285-29 2 ; "Real Fabrica de Louça
de Leiria, barros ingleses das seguintes
em Sacavem", in
espécies - blue ballclay (barro azul), de
Nacional das Industrias Fabris,
Newtonabbot (Devonshire), chinaclay
Lisboa, lN, 1 8 8 8 , p p . 3 1 9 - 3 2 0 ; "Real Fábrica
catalogo da Exposição
vol. I ,
(barro branco), da mesma localidade,
de Louça em Sacavem", in Nê Centenaire
cormvall stone (pó de pedra), ground
de la Découverte de la Route Maritime des
Bint (pederneira), bórax, baryta, alvaia
Indes.
de, tintas, papel de estampar, óleo de
Thomar,
Excursion industrielle de Lisboa à
Lisboa, 1899, pp. 55-56; QUEIRÓZ,
linhaça e carvão de pedra de Newcastle.
José, "Real Fábdca de Louça in Sacavém
A produção começou então a espe
- 1850 " . in
Cerâmica Portuguesa e o u tros
cializar-se transformando a fábrica de
estudos
Sacavém numa das mais importantes
-93, 2 7 5 ; RAMOS, Accursio, 'James Reynold
(r907), Lisboa, Presença, 1987, pp. 90-
do país. Para Charles Lepierre, esta
Gilman" , in
indústria era, em 1912 , a segunda de Por
(XXVIII), n. o 208, Lisboa, 1908, pp. 2 - 3 ;
tugal, logo a seguir à Vista Alegre ,
LEPIERRE, Charles, "Real fabrica de louça de
utilizando os mesmos processos das fá
Sacavem", in
bricas de faiança fina de França , de Ingla
sobre a Cerâmica Portuguesa J...foderna,
terra ou da Alemanha. Inicialmente,
Boletim de Trabalho Industrial,
produziam-se
basicamente
modelos
Perspectiva d a Real Fábrica d e Louça em 1898. IV e Cenlenaire de la D�c.ouverte de la Route Maritime des Indes. Exc.ursion induslrielle de Lisboa â Thomar.
Commercio e Industria,
Ano XIX
Estudo Chimico e Thecnologico
Lisboa,
1912,
pp. 146-149; "Fab!'ica de Loiça de Sacavem.
exportados de Inglaterra, mas gradual
&
mente criaram-se linhas e motivos pró
da Liberdade", in
suas novas e luxuosas instalações na Avenida Industria Portuguesa,
prios, contratando ceramistas e mais
9.° Ano, Novembro de 1929, n.·· 37-39;
tarde desenhadores de origem portugue
Inquérito Alimentar entre o s operários de
sa. A sua produção também se diversifi
Louça de Sacavém,
cou, ultrapassando o âmbito da loiça
Saúde, 1949 ; SALVADOR, M . , OLIVEIRA, R.
doméstica. Produtos importantes para a
e GILBERT, Leland,
afirmação da fábrica no mercado foram
Sacavém, Ld a. Primeiro Centenário.
os múltiplos padrões de azulejos (de larga
1850-1950, Sacavém, 1950, Fábrica de Loiça
difusão no país, nas estações de caminho
de Sacavém, Ld. a ,
Lisboa, Direcção- Geral de
Fábrica de Loiça de
Tabela de Faianças
s. l . , 1951; ASSUN ÇÃO ,
-de-ferro e nos mercados municipais) ,
Decorativas,
os JUosai<:os , as �oiças sanitárias e as peças
Ana Paula,
decorativas.
Lisboa, Edições Inapa, 1997.
Fábrica de Louça d e Sacavém,
207
Oficinas de oleiro.
1929.
in Industria Portugue!a. n. o 18.
Local ização
-
Margem d i r e i ta
do r i o Tran c ã o , em Sacavé m , c o n c e l h o de L o u r e s .
período de Actividade
-
1884- 1979
( d e p o i s , de)
Fundadores
-
I r m ã o s Mora i s .
Actividade Industrial
-
Moagem d e
c e r e a i s e descas q u e de arroz.
Valor Patrimonial
-
É um forte
teste m u n h o da a r q u i tectura i nd u s t r i a l de f i n a i s de O i to c e n t o s . Trata - s e de um e d i f í c i o construído d e r a i z para receber u m a i n d ú s t r i a de m o a g e m . A sua fachada i n i c i a l de três p i s o s , caract e r i z a - s e p o r s i m et r i a e raci ona l i da d e . O e d i f í c i o in d u s t r i a l é const i t u ído por três c o r p o s , s e n d o o central de m a i o r d i m en s ã o e o q u e dá acesso ao i n t e r i o r da fábri c a . A t e n d e r a i n da ao r i t m o d a fen estração e dos portões de gran des d im e n s õ e s ,
Planta Aerofotogramétrica 417/4 - 2/3. Escala I:2000_ ]ulho de 1977·
F Á B R I C A D E 1'l1 0 A G E I'l1 D E 0 0 1'l1 1 n G 0 S 1 0 S É O E 1'l1 0 R A I S &- I R l'l1 Ã 0
em arco de v o l t a perfeita e ao remate s u p e r i or em b a l a ustrada reve l a n do s i m et r i a . Apesar de t e r s o f ri d o r e m o d e l ações n a s u a f a c h a d a , o m ó d u l o m o dern i s t a dos anos 5 0 , c o n s t r u í d o j unto às g i gantescas c h a m i n é s , integra-se n a v o l u metria p r i m i t iva n ã o desv a l o r i za n d o o i móve l .
Estado d e conservação
-
Começa a
reve l a r s i n a i s de d e gradação .
Classificação
-
S e m c l as s i fi ca ç ã o .
P r o p o r c l as s i f i cação c o m o I m ó v e l de I nteresse Púb l i c o .
2°9
Na sua instalação utilizaram - s e o s
Pormenar da fachada modernista.
semelhante de farinha, mas de dife
mecanismos mais modernos para a
rentes características, verificando-se,
épo ca , estando os seus empresários
por vezes , um volume de produção
atentos aos avanços tecnológicos e
superior na moagem de mós de pedra .
a ctualizando - a face às conj u nturas
Sobre o descasque de arroz não persis
industriais. Em 1898 , os maquinismos
tem muitas informações . Em Sacavém
moíam 1 5 0 000 kg de trigo por dia e
o sistema utilizado era o americano ,
descascavam 2 0 0 0 0 kg de arroz.
que aliás se universalizou durante o
Nesta unidade existiam dois tipos ou
século XIX.
sistemas de moagem. O primeiro a ser
A força motriz posta em actividade, de
instalado foi a moagem francesa , com
modo a mover todas as máquinas ope
os respectivos maquinismos de penei
radoras da moagem e do descasque,
ração e limpeza. Seguidament e , os em
instaladas nos três pisos da fábrica ,
presários adquiriram o sistema austro
tinha de ser considerável. Entre os
-húngaro , também com os aparelhos
equipamentos iniciais (1898) constam
correspondentes . Este último sistema
dois motores franceses , do sistema
revolucionou a moagem em toda a
Farcot, com potência total de 500 c/v;
das indústrias que mais se
Europa, chegando a Portugal nos fi
três caldeiras, uma nacional e duas
desenvolveu no nosso país, em
nais do século XIX (ver, neste Guia
construídas por Perez e Dumora; dois
finais do século passado , fo i a de
A Nacional e a Manutenção Militar) .
dínamos eléctricos , belga s , para o
moagem, passando a abastecer os cen
A moagem passava a ser executada por
fornecimento de luz eléctrica às insta
tros urbanos , ao mesmo tempo que
meio de cilindros metálicos estriados,
lações fabris, com uma capacidade de
agonizavam os moinhos tradicionais,
permitindo a obtenção de uma farinha
alimentação de cerca de quinhentas
alimentados a energia hidráulica ou
muito mais alva e fina , considerada de
lâmpadas.
eólica .
grande interesse para a panificação .
No período em que a fábrica passou a
MA
A fábrica d e D omingos José & Irmão,
Não é de admirar que durante muitos
integrar o império da Companhia
fundada em 1884, foi uma das uni
ano s , a noção de um bom pão fosse
Industrial de Portugal e Colónias (anos
dades
mais
equivalente ao de aspecto muito bran
20) , houve actualização , mais uma vez,
significativas da industrialização da
co e limpo de farelos . A industrializa
dos seus maquinismo s . Assim, cerca de
industriais
mo ageiras
zona de Lisboa e de Sacavém. A área
ção conferiu esta noção de qualidade a
1 9 3 0 , tinha uma central termoeléctri
o cupada pelo edifício de três anda
um alimento , com uma aparência mais
ca a vapor, para a produção de energia
res era de 2400 m', empregando em
grosseira e escura, caso se obtivesse
eléctrica . Em termos de moage m ,
1 8 9 8 , duzentos e cinquenta operários.
através do método tradicional, mesmo
sabemos que n a fase de peneiração
A l ocalização desta unidade fabril era
se a farinha utilizada fosse o trigo .
utilizavam o sistema de plansichters
excelent e , pois beneficiava de duas
O inquérito realizado às indústrias
(palavra alemã que significa peneiro
acessibilidades - o rio e o caminho
moageiras em 1 8 9 0 , refere que os dois
plano) , podendo -se conjugar, como
-de-ferro .
sistemas produziam uma quantidade
era hábit o , com a utilização de sassores.
210
Moagem em 1898. Foto Marinho. Nê Centenain de la Décou�'erte de la Route A/aritime des Inde.s. Excursion industrid}e de Lisboa à Thomar, p. 58. \;
Para além, dos diversos sistemas em
D a sua história subsequente p ouco se
pregues e dos vários sectores da pro
sabe com rigor. E m 1 9 7 9 , a empresa
duçã o , a fábrica tinha ainda vastíssimos
exploradora do edifício designava-se
celeiros e armazéns.
por S O VEM. Recentemente serviu
Em 1 9 0 4 fo i redimensionada pela
para fins sociais.
Moagem, cerca dos anos 3 0 . Arquivo d a Nacional.
Sociedade Domingos José de Moraes & Companhia, sucessora da D omingos José de Moraes & Irmão . Produzia
B I B LI O GRAFIA,
farinha em rama, farinha especial para
MAGALHÃES, João de Sousa Calvet de,
exportaçã o , farinhas das marcas I, 2 e
"Fábrica de D omingos José de Moraes &
3 , farinha sem marca, cabecinh a ,
Irmão" I in
sêmeas superfina, fina e grossa, arroz
ordenada por portaria do m inistério da
Inquérito às Fábricas de Moagem.
em casca e descascad o , casca de arroz e
fazenda de
sêmea de arroz fina e grossa. Mantinha
Lisboa, lN, 1890, pp. 5 - 6 ; "Fábrica de
20
de fevereiro de
1890,
os negócios agríco l a - c omerciais de
DomingosJosé de Moraes & Irmão " .
legumes e de sal de Alhos Vedros. Os
in
seus produtos receberam medalhas em
Lisboa, l N , 1891. p p . 3 � 6 - 3 � 7 ;
algumas das exposições o nde partici
UUsine à vapeur pour l a mouture d u blé et
param, como em 1 8 8 8 , na Exposição
l ' écorçage du riz de D omingos José de Moraes
Nacional de Lisbo a e em 1 8 8 9 , na
& Irmão" I in IVê Centenaire de la Découverte
Inquérito Industrial d e
1890, vol . III.
Exposição Universal de Paris.
de la Route Maritime des Indes .
Durante a administração da Portugal
industrielle de Lisboa à Thomar,
e Colónias a sua actividade relacio
1898, pp. 5 7 - 5 9 ·
na-se com as fábricas de todo o grupo ,
Central termoeléctrica a vapor. Cerca dos anos 30. Arquivo da Nacional.
Excursion
Lisboa,
Sala dos plansichters. Cerca dos anos 30. Arquivo da Nacional.
sendo vendida pela empresa em 1939.
2II
Localização
-
Fron t e i ra ao r i o Trancão,
con c e l h o de Sacavém
período de Activi dade Fundadores
-
-
1929
-
(..,)
Fi rma R e i s C. J . Lopes, Lda.
Act ividade I ndustri a l
-
Produção de
far i n has para a l i m entação do g a d o , ó l eos de p e i x e e a d u b o s orgâ n i c o s .
Valor Patrimonial
-
O conj unto
e d i ficado f o i p o s t e r i o r m e n t e des i n t egrado e absorv i d o por o u t r a s u n i dades i n d ustri a i s q u e m a i s tarde s e l o ca l i z aram n a s i m ed i aç õ e s da fábrica d e a d u b o s .
Planta Aerofotogramétrica 417/4 - �/3. Escala I:�OOO. Julho de 1977.
F Á B R I C A D E A D U B 0 S E I11 S A C AV É I11
2 13
c
O NSTRUÍDA com frente para o
uma larga R ua de acesso. Os edifícios
B I BLIOGRAFIA:
rio , a nova fábrica de adubos
01'-
tinham uma cobertura elevada e uma
"Uma nova Fábrica de Adubos em Sacavém",
gânicos vai ocupar cerca de 3000 m',
grande cubagem de ar. A iluminação
in
beneficiando desta importante via de
era feita por grandes panos envidra
Industrial Portuguesa. 2 . o Ano, n. 0 15,
circulaçã o . No rio Trancã o , os pro
çados existen tes nas paredes e por
Maio de 1 9 2 9 . pp. 2 3 - 2 9 .
prietários constroem um cais , fun
clarabóias de grandes superfícies. A par
cionando simultaneamente como um
das oficinas ergueram- se os armazéns e
eixo de chegada das matérias-primas e
os escritórios. Para além deste con
de escoamento dos produtos, apesar da
junto funcional, construiu - s e uma
proximidade com a linha férrea do
outra área os serviço s , de apoio social,
Norte. O rio era também essencial
o nde se instalaram a cozinha, o refei
para a actividade produtiva e para o
tório , os sanitários e um pequeno
esgoto dos resíduos, constituindo um
dormitório . Garantiram assim, ini
dos elementos impo rtantes para o
cialmente, algumas regalias aos vinte
processo de produção .
operários que constituíram o primeiro
Apesar desta relação ambivalente e de
grupo laboral, estando previsto um
dependência com o Trancão , esta fá
alargamento para sessenta trabalha
brica será inovadora pelo tipo de pro
dores (192 9 ) .
duto disponibilizado para o mercado .
A fábrica d e adubos orgânicos d e Sa
Numa época em que os adubos eram
cavém dispunha de secções de moagem,
fabricados cada vez mais com base em
ensacamento e doseamento . Po dem re
fosfatos e nitrato s , estes industriais
ferir-se algumas das máquinas que inte
apostam na produção de adubos orgâ
gravam as referidas secções : moinho
nicos , constituídos essencialmente por
desintegrado r, alimentado por uma nora
resíduos secos de peixe. Quase se pode
de alcatruzes ; aparelho de enchimento
falar de um produto antecipadamente
dos sacos; moinho de galgas de carrega
biológico , retomando uma tradição
mento e descarga intermitentes, etc.
fabril manufactureira . Este proj ecto
Os dois j ogos de moagem existentes
fica a dever-se aos sócios e empresários
na fábrica moviam-se através de um
fundadores, Viúva Reis Lda . , Artur
motor eléctrico individualizado . Toda
Francisco Reis e J . Lopes Rocha.
a força motriz consumida provinha das
A traça dos edifícios é da autoria do
Companhias Reunidas de Gás e Elec
arquitecto Joaquim Moreira de Lemos.
tricidade. Recebia-se a corrente em
Esta unidade industrial compunha-se
alta tensão
de q u a tro corpos paralelos, justa
mada numa cabine em corrente trifási-
postos em dois grupos separados por
ca para IIolr9 0 volts .
-
1 0 000 volts -, transfor
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Revista da Associação
Perspectiva de uma das oficinas, in IndĂşstria Portuguesa,
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1 0 8 ; 6661) ;
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� 0 5 5 ; �149; �150)
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Toda a bibliografia apresentada obedece a u m critério cronológico. Cada unidade industrial tem referência bibliográfica individualizada.
217
1977-78
A
G
R
A
D
E
c
M
E
N
T
o
S
Os autores querem deixar registado os agradecimentos a todas as pessoas e instituições que de alguma forma contribuíram para a concretização desta obra.
Instituições/Pesso a s :
Ab e l Pereira da Fonseca (família d e Abe l Pereira da Fonseca; S r . Júlio , empregado da APF) Associação Industrial Portuguesa Arquivo d e Arte da Fundação Calouste Gulb enkian ( D r . Manuel da Costa Cabral e Dra. Rosário Ricardo) Arquivo de Obras da Câmara Municipal d e Lisboa (Dr . Vasco Brito) Câmara Municipal d e Lisboa (Arq. Elias Rodrigues) Guarda Nacional Republicana (coronel Jorge Manarte) I N D E P , S .A . (Eng. Francisco Baião e S r . Almeida) Instituto Português d e Património Arquit e ctónico - I P PAR (Dr. Luís Calado) Manutenção Militar (general Jaime Neve s ; tenen t e - coro n e l Ávila ; D r a . Ana Maria Rebelo) Museu dos Barbadinhos (Dr. Raul Vital, EPAL) A Nacional ( D r a . Ana Correia)
e ainda a
D r . Elísio Summavielle D r . Manuel Veiga Arq . a Maria d e Fátima Jorge
C,llM INHO D O O�iENTE
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