Conde de Campanh찾 Balthazar de Almeida Pimentel
Conde de Campanh찾 Balthazar de Almeida Pimentel 1786-1876
Ajudante de Campo de D. Pedro IV, D. Augusto e D. Fernando II Her처i do CerCo do Porto
Augusto Moutinho Borges Ant처nio Pereira de Lacerda
BOOK
BY THE BOOK
© EDIÇÃO
By the Book, Edições Especiais TÍTULO
Conde de Campanhã. Balthazar de Almeida Pimentel (1786-1876) Ajudante de Campo de D. Pedro IV, D. Augusto e D. Fernando II Um Herói do Cerco do Porto © TEXTO
Augusto Moutinho Borges | António Pereira de Lacerda REVISÃO
Luís Cortez da Silva Lopes | Mafalda Pinto Basto de Lacerda FOTOGRAFIA
Adelaide Nabais [pp. 11, 44, 46 (doc.), 53, 57, 62, 76, 90, 91, 95 (doc.), 97, 98, 100 (doc.), 101, 102, 118] | António Pereira de Lacerda [pp. 44, 136] | Augusto Moutinho Borges [as restantes] | João Cordovil Cardoso [p. 66 (busto), 82, 94, 104, 105 (carruagem)] | Joaquim Simões [p. 86] | Leonor Andresen Guimarães [p. 77 (placa e caixa fechada)] | Luís Chaves [pp. 56, 70] | Manuel Alfredo Cortez da Silva Lopes [p. 77 (caixa aberta)] | Fotógrafo da Casa Real [pp. 93, 96, 103] DESENHOS DOS BRASÃO DE ARMAS
Reidarmas.com: Luís Camilo Alves desenhos a tinta da china
Marín Garcia [p. 6 Almeida, Edifício Principal (atual Paços do Concelho) (col. Garcia Agudo) | p. 8 Almeida, Quartel das Esquadras (col. Garcia Agudo) | p. 12 Almeida, Porta exterior de St.º António (col. Nabais Moutinho Borges) | p. 23 Almeida, Porta interior de St.º António (col. Garcia Agudo) | p. 28 Almeida, Trem de Artilharia, Picadeiro (col. Filipe Reis) | p. 30 Almeida, Vista geral da Porta interior de S. Francisco (col. Nabais Moutinho Borges) | p. 42 Almeida, Porta interior de S. Francisco, Guarita (col. Nabais Moutinho Borges) | p. 47 Almeida, Solar Almeida Pimentel (col. Garcia Agudo) | p. 48 Almeida, Cobertura da Porta interior de St.º António (col. Filipe Reis) | p. 106 Almeida, Porta exteriores de S. Francisco (col. Nabais Moutinho Borges)] EDIÇÃO DE IMAGEM
Maria João de Moraes Palmeiro DESIGN
Forma, design: Veronique Pipa | Margarida Oliveira Coordenação Editorial e Produção
Ana de Albuquerque | Maria João de Paiva Brandão Impressão
Gráfica Diário do Minho ISBN
978-989-8614-70-4 Depósito Legal
445973/18
Apoios
Conde de Campanhรฃ Balthazar de Almeida Pimentel 1786-1876
Ajudante de Campo de D. Pedro IV, D. Augusto e D. Fernando II Herรณi do Cerco do Porto
Augusto Moutinho Borges Antรณnio Pereira de Lacerda
Agradecimentos Academia Militar, Arquivo Histórico Militar, Biblioteca Palácio Galveias/ Câmara Municipal de Lisboa/ Direção Municipal da Cultura/ Divisão da Rede de Bibliotecas, Biblioteca Pública Municipal do Porto, Câmara Municipal de Almeida, Câmara Municipal de Lisboa, Câmara Municipal do Porto, Câmara Municipal de Valongo, Comissão Portuguesa de História Militar – Ministério da Defesa Nacional, Direção de História e Cultura Militar, Estado Maior do Exército, Grupo Fibeira SGPS, GRAMA – Almeida, Fundação Eng.º António de Almeida – Porto, Instituto Arquivos Nacionais-Torre do Tombo, Museu de Angra do Heroísmo, Museu Militar de Lisboa, Centro Português de Fotografia – Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis – Porto, Museu Romântico Quinta da Macieirinha – Porto, Museu de Santa Joana Princesa – Aveiro, Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa – Porto Adelaide Carvalho, Abílio Reis, Ana Bárbara Barros, António Andresen Guimarães, António Vicente Tavares Barreto, Armando Martins, Carlos Filipe Reis, Cremilde Pereira Reis, David Ferreira Novais, Diogo Jácome de Vasconcelos, Fátima Teresa de Abreu Coutinho, Graça Reis, Fernando de Castro e Solla, José António de Herédia, José António Rebocho, José António Rebocho Esperança Pina, José de Athaíde Banasol, José de Castro e Solla, Luís Pereira de Lacerda, Manuel Alfredo Cortez da Silva Lopes, Margarida Howorth Andresen Guimarães, Maria Adelaide Dias Coelho, Maria da Graça Pereira de Lacerda, Maria Antonieta Novais, Maria da Conceição de Herédia, Maria da Conceição Pereira de Lacerda, Maria João Bastos, Maria Joana de Lacerda Andresen Guimarães Leitão, Maria Leonor Lacerda Tavares Barreto, Maria Lobato Guimarães, Maria Luísa Cardoso de Menezes Lacerda, Maria Luísa Pereira de Lacerda, Miguel Esperança Pina, Paula Sousa, Vasco Jácome de Vasconcelos e muito especialmente a Luís Cortez da Silva Lopes
Apoios institucionais
Câmara Municipal de Almeida Câmara Municipal do Porto Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa (CLEPUL) Comissão Portuguesa de História Militar – Ministério da Defesa Nacional Fundação Eng.º António de Almeida Junta de Freguesia de Campanhã
Abreviaturas
AD : Arquivo Distrital de AHM : Arquivo Histórico Militar arq. : arquivo Cx. : caixa n.º CM : Câmara Municipal de c. : cerca de cf. : citação col. : coleção CPHM : Comissão Portuguesa de História Militar doc. : documento fl. : fólio / folha Fr. : Frei Hab. : Habilitação IAN-TT : Instituto Arquivos Nacionais-Torre do Tombo Liv. : livro Mç. : maço micr. : microfilme MRQM : Museu Romântico da Quinta da Macieirinha Pe. : padre SCM : Santa Casa da Misericórdia de v. : verso vol. : volume
7 Prefácio 9 Apresentação 13 Uma família de militares em Portugal, séculos XVII-XIX Das Guerras da Aclamação, 1640-1668, à Guerra Civil Liberal, 1832-1834
31 Balthazar de Almeida Pimentel Herói do Cerco do Porto
43 General Balthazar de Almeida Pimentel, Conde de Campanhã Ajudante de Campo de D. Pedro IV, D. Augusto e D. Fernando II
107 Representação dos Condes de Campanhã e Barões de Grimancelos
6
Prefácio s Autores pediram à Comissão Portuguesa de História Militar a que presido um patrocínio para esta sua obra e a mim próprio para que nela escrevesse umas palavras prefaciais.
O
A minha resposta só podia ser afirmativa, em primeiro lugar porque se trata de uma obra indiscutivelmente de História Militar. É um trabalho biográfico de características inéditas sobre um militar dos mais ilustres que viveram no século XIX, século militar por excelência com actividade primordial na Guerra Peninsular, na Guerra Civil e nas revoltas da Maria da Fonte e da Patuleia, mas que também desempenhou papel importante na História Política da época ao serviço de D. João VI, do Imperador Napoleão, do Duque de Bragança, D. Pedro, do Príncipe D. Augusto e do Rei D. Fernando II, respectivamente primeiro e segundo maridos da rainha D. Maria II, ou, mais tarde, como Par do Reino, em tempo dos reis D. Pedro V e D. Luís. O percurso do Conde de Campanhã é descrito cronologicamente com grande pormenor baseando-se em documentos inéditos na posse da Família e em documentação disponível nos vários arquivos nacionais consultados. O biografado fez parte de uma Família de militares também ela pouco vulgar, pois foi bisneto, neto, filho, sobrinho, primo e tio de outros militares ilustres que os Autores não deixaram de sinteticamente biografar, alargando consideravelmente o âmbito temporal e biográfico do trabalho, recuando ao século XVII e levando-o até ao século XX. Pode dizer-se que a obra, para além de um conjunto de interessantes e inéditas biografias, é também um trabalho de genealogia e, ainda, de falerística e uniformologia, pois nele se relacionam condecorações que podem ver-se em imagens fotográficas e na iconografia, com numerosos retratos de personagens fazendo uso das suas fardas com as respectivas condecorações. Considero que estamos perante uma obra biográfica muito diversa das que normalmente surgem nos escaparates não só por abranger um leque muito diversificado de temas mas também pela forma como o seu conteúdo é apresentado ao leitor.
Nestas circunstâncias, considero uma honra o convite para prefaciar a obra, e a CPHM limita-se a cumprir a sua obrigação dando-lhe o seu patrocínio. Alexandre de Sousa Pinto, TGen Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar 7
8
Apresentação o longo da vida todas as pessoas, pelas suas características pessoais, familiares, locais onde crescem e desenvolvem estruturas económico-sociais, contribuíram e contribuem para alicerçar a definição da História local, nacional e internacional. Dar a conhecer personagens e factos que marcaram, de uma maneira ou de outra, o rumo da nossa presença temporal na terra, ajuda a compreender mais e melhor os movimentos sociais do passado e também os do presente e aprender, de uma forma construtiva, com os erros cometidos.
A
Uma biografia é tanto mais rica quanto o autor conseguir familiarizar-se com o biografado, recuar à época em que viveu, percorrer e repisar os locais por onde passou e deixou a sua marca intemporal, movimentos que, como autores, tentámos realizar para, de forma objetiva e concreta, reavivarmos o passado diacrónico de Balthazar de Almeida Pimentel. O livro nasceu nas raízes familiares, que os autores têm em Almeida, e na vontade conjunta de dar a conhecer um almeidense, que se notabilizou pela sua carreira militar e personalidade liberal que tanto honrou a sua terra natal. A Praça de Almeida, em plena Riba Côa, desempenhou um papel importante na defesa militar da fronteira, desde os primeiros anos da consolidação de Portugal como reino independente, passando pelo Tratado de Alcañices, em 1297, rumo a 1927, ano em que o último Batalhão de Infantaria deixou a localidade. A sua atual estrutura muralhada, de cariz abaluartada, foi palco das Guerras da Restauração, 1640-1668, das Campanhas Peninsulares, 1807-1812, e do conflito que opôs Liberais e Miguelistas, 1832-1834, sendo considerada uma das fortalezas monumentais de Portugal, classificada como Monumento Nacional e em vias de ser reconhecida como Património UNESCO integrada na rede de fortificações abaluartadas da raia luso-espanhola. 9
Balthazar de Almeida Pimentel nasceu, em 1786, no seio de uma família fidalga de militares que se estabeleceu em Almeida. Seu pai foi Governador da Praça de Penamacor e do Regimento de Infantaria desta Praça, seu avô paterno foi Sargento-Mor em Viana do Castelo e seu bisavô Capitão na Guerra da Restauração. Os militares da família Almeida Pimentel combateram nos diversos conflitos armados e guerras ao longo de duzentos anos, desde o primeiro quartel do século XVII a meados do século XIX. Alguns deles notabilizaram-se na arte da guerra, tendo sido agraciados com as mais altas condecorações do estado e nobilitados pelos seus actos singulares, ações castrenses e participações militares ao serviço da causa pública e família real. A investigação desenvolveu-se nos arquivos familiares, quer documental, quer fotográfica, nos arquivos públicos, nas fontes escritas avulsas e bibliografia temática, tendo como objetivo da apresentação em continuar, com a visão integralista atual da historiografia da época, o diário que Balthazar iniciou, dando a conhecer com quem se cruzou e conviveu, enquadrando-o sempre nos principais factos temporais e, de uma forma cronológica e simples, proporcionar ao leitor uma leitura agradável enriquecida por vastas fontes gráficas. Balthazar de Almeida Pimentel, Conde de Campanhã, viveu 90 anos. Iniciou a sua carreira militar em 1799 na Praça de Almeida e atravessou, tanto a nível militar como político, os períodos conturbados do século XIX, salientando-se de modo particular a estreita proximidade que tinha com a família real. A obra conta com diversos apoios, quer para a impressão, quer em informações, cedência de fotografias e documentos, o que muito contribuiu para enriquecer a história do biografado e seus familiares. Uma palavra muito especial à editora By the Book, pelo seu empenho em congregar esforços para a publicação que reflete a investigação sobre o Conde de Campanhã. Muito haveria ainda por escrever e acrescentar à obra, convictos que após a publicação do livro irão surgir novos dados, complementos que ficam em arquivo para posteriores intervenções. Em preito de homenagem, os autores dedicam a obra ao Eng.º António Pereira de Meireles da Rocha Lacerda (1917-1975) e a D. Maria de Fátima d’Almeida Moutinho Borges (1928-2010), cultores da história familiar, que perdurou no tempo para memória futura. Augusto Moutinho Borges António Pereira de Lacerda entre Almeida e Ponte da Barca 10
11
30
Balthazar de Almeida Pimentel Herói do Cerco do Porto julho de 1832 a agosto de 1833 althazar de Almeida Pimentel deixou escrito um exclusivo testemunho, com informações presenciais sobre dois momentos militares fundamentais para a compreensão da História de Portugal no século XIX: a participação dos soldados portugueses ao serviço do Exército Imperial francês, nas campanhas da Legião Portuguesa no Centro europeu e na Rússia, e a Guerra Civil Liberal entre 1828 a 1834. Pena que não tenha escrito mais testemunhos para outros períodos na nossa história militar, onde foi interveniente, como a Revolta de Torres Vedras, em 1844, e a Guerra Civil da Patuleia, onde esteve preso na cidade do Porto 41.
B
Destacado Oficial em diversas ações militares foi reconhecido como excecional estratega no seio das operações, sendo muitas vezes responsável pela logística militar com a patente de Quartel Mestre General. As suas observações factuais e testemunha ocular de acontecimentos bélicos, transmitem-nos façanhas até agora desconhecidas, pois a ele se deve, tal como refere no Diário da importante decisão do desembarque do Exército libertador ao norte da cidade do Porto, contrariando as expectativas do Exército miguelista, que aguardava a frota perto de Lisboa e onde concentrou as suas forças para impedir o desem41. No jornal Diário de Notícias, de Lisboa, de 27-09-1947, o jornalista Eduardo Noronha (1859 ‑1948) escrevia, na sua página “Apontamentos de um Diário” com o título Buçaco – Moscovo, nas Comemorações do 136.º Aniversário da Batalha do Buçaco, um interessante artigo onde releva as qualidades do Conde de Campanhã, terminando com o parágrafo “Como seriam curiosas e elucidativas as suas memórias, se as tivesse escrito”. O autor não poderia saber da existência de uma parte dos manuscritos em forma de diário que chegaram até hoje, pois como já referimos estão em posse dos familiares e muito acautelados por pedido expresso da sua destruição. Felizmente que tal não se verificou para memória futura, servindo de base para a obra que apresentamos. 31
Placa de Oficial da Antiga e Mui Nobre Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Merito (estojo e placa) “A Balthazar de Almeida Pimentel – D. Pedro” (col. Pereira de Lacerda)
barque anunciado. Por sua convicção, o Imperador D. Pedro IV desembarcou perto do Porto para se resguardar na cidade Invicta, demonstrando que esta foi a medida mais correta e estrategicamente mais concertada para a luta armada, que depois a História reconhece como o Cerco do Porto. O autor faz uma breve contextualização das origens de seu nascimento em Almeida, da sua família, centrando o leitor para o momento em que assentou praça, como menor, no Regimento de Infantaria N.º 11, não podendo participar na Guerra das Laranjas, em 1801, pela pouca idade que tinha. O documento manuscrito chegou até nossos dias, contrariando a sua vontade, pois na pasta onde a família guarda diversa documentação, num pequeno papel enrolado, está escrito com sua letra Depois da minha morte quem tiver estes documentos deve-os queimar. Quis o destino que os mesmos se salvassem, fossem lidos e dados a conhecer, mantendo o respeito pela sua decisão mas que, como investigadores e descendentes de familiares que no passado conviveram, honrássemos o almeidense Balthazar de Almeida Pimentel com toda a plenitude historiográfica, contextualizado no seu tempo, mas também outras personalidades a quem esteve ligado profissionalmente e de quem se tornou amigo e fez parte do seu ciclo social. Este documento, com dezanove páginas, termina com a vitória liberal por parte das forças do Imperador D. Pedro IV, que acarinhou o seu autor e que sempre se mostrou fiel à Casa Real Portuguesa, recebendo grandes testemunhos de apreço por parte dos monarcas; da Imperatriz viúva e da Rainha D. Maria II de Portugal, assim como dos seus maridos, D. Augusto e D. Fernando II. Vamos, ao sabor do texto, vivenciar momentos da História nacional, entrar no âmago do período belicista da Guerra Civil de 1832 a 1834 e de alguns dos combates mais mortíferos deste conflito circunscrito ao arquipélago dos Açores e ao Cerco do Porto. Iremos percecionar o principal motivo pelo qual o Imperador o designou guardião do seu bem mais precioso, o coração, que doou à cidade do Porto, como símbolo da sua lealdade para com a causa liberal.
32
Balthazar de Almeida Pimentel De fisionomia esguia, bastante alto para a sua época, tinha cerca de 1,82m de altura, cabelo farto, olhos escuros, ostentando sempre grandes bigodes e mosca numa pele branca escurecida pelo tempo. Viveu durante sete reinados, D. Maria I, D. João VI, D. Pedro IV, D. Miguel, D. Maria II, D. Pedro V e D. Luís, cumprindo sempre as suas funções profissionais na área militar, atingindo as mais prestigiantes chefias castrenses, e políticas, como Deputado e Governador Geral da Índia. Participou em diversas ações militares, quer ao serviço de Napoleão, quer no corpo liberal contra o Exército miguelista, quer ainda no combate de revoltas e intentonas em Portugal, nomeadamente em Braga, em Almeida e Porto, na Patuleia e Maria da Fonte. Foi agraciado com diversos títulos aristocráticos, de Barão, Visconde e Conde de Campanhã, e foi agraciado com diversas condecorações nacionais e estrangeiras. Privou com Imperadores: Napoleão Bonaparte e D. Pedro; Rainhas: D. Maria II, D. Amélia e D. Maria Pia; com Reis e Príncipes consortes: D. Pedro V, D. Luís, D. Augusto e D. Fernando II; com aristocratas: Marqueses de Ficalho, Marquês de Santa Iria, Condessa de Edla; com políticos: Costa Cabral e Félix Pereira da Magalhães e os principais militares do século XIX: Duque da Terceira, Duque de Saldanha, Duque de Loulé, Marquês de Sá da Bandeira, Visconde de Francos e Barão de Monte Pedral. Familiarmente descende de uma linhagem de militares que, na sua geração, muito contribuíram para o alicerçar do liberalismo em Portugal.
33
Apontamentos da vida Militar de Balthazar / d´Almeida Pimentel, filho legítimo de Antonio / Marçal d´Almeida Pimentel, fidalgo da Casa / Real e Coronel Governador da Praça de Penammacor / e de D. Maria Euzebia Rebocho. Nasceu em Almeida, e é descendente de uma nobre e an-/tiga família Militar. /
[página 1] 42
Por aviso da Secretaria de Estado dos/ Negocios da Guerra, assentou praça sendo me-/ nor, no Regimento d’Infantaria N.º 11 em 13 d’Abril/ de 1799, e logo foi reconhecido Cadete. No anno de/ 1801 em consequência de não poder acompanhar/ o seu Regimento para a campanha que houve/ contra a Hespanha, por causa da sua mino-/ ridade, por ordem superior passou ao Regimento/ d’Infantaria N.º 23, aonde foi despachado Alferes/ por Decreto do 1.º d’Agosto de 1805. / Frequentou o 1º anno de Mathe-/ matica na aula do Regimento Nº 4 d’Artilharia, da/ qual era Lente o Capitão do mesmo Regimento Jo-/ sé Barreto Pedroza. Foi aprovado plenamente no/ fim do anno, como se vê dos atestados que possue/ passados pelo destinto e benemérito Lente./ Em Abril de 1808, depois da desgraça/ da entrada do exercito francez do Com-/ mando do General Junot, foi mandado para/ França no posto de Tenente do 2.º Regimento d’In-/ fantaria de que era Coronel o Marquez de Ponte de Lima, e Commandante de toda a Devisão o Mar-/ quez d’Alorna./ Tendo chegado a Bayonna em Ju-/ nho do mesmo anno de 1808, foi logo mandado pa-/ ra uma escola d’Instrução militar, de que era Di-/rector, e Inspector, o General de Devisão do exercito francez Muler, que observando, durante todo o tempo que/ [página 2] este jovem oficial o frequentou sobre a dita esta escola, o seu/ bom comportamento, assídua applicação, tanto na parte theorica como pratica, bem como em/ todos os mais ramos do serviço Militar que na/ mesma escola se ensinavão, o recomendou/ muito especialmente ao Ministro da Guerra./ Em Março de 1809, foi o Tenente Pi-/ mentel 42. Transcrito como no original. 34
mandado servir na 15.ª meia Brigada/ d’Elite, composta de trez magnificos batalhões/ de Granadeiros e Caçadores, todos portugueses, os/ quais attrahiam atenção de toda a gente – erão/estes batalhões comandados pelo Coronel/ Rego, e foram fazer parte do Corpo de Granadei-/ ros d’Oudinot, no grande exercito d’Alemanha/ contra a Austria. – Reunio ao exercito em 22/ de Maio do mesmo anno, no momento em que/ terminava a batalha d’Esling./ No mesmo dia 22 de Maio es-/ te Corpo de Granadeiros d’Oudinot, foi dissolvido,/ e as brigadas que lhe pertenciam passarão para/ o 2º Corpo d’exercito, de que era Commandante o Ma-/ rechal Lanes, que tendo sido morto na bata-/ lha d’Esling passou o Commando do dito 2.º Cor-/ po d’exercito ao General Oudinot./ [página 3] Dia 25 de Maio de 1809. Neste foi/ o Tenente Pimentel mandado com a sua/ companhia, de Caçadores, que Commandava, e junto a outra do 16.º Regimento d’Infantaria le-/ geira franceza, para um posto avançado na/ Ilha de Cerf. (?) – foi o seu primeiro serviço de campa-/ nha em presença do inimigo, e estavam as/ vedetas de um e outro lado, separadas por um/ pequeno braço do Danubio; que naquele/ ponto teria apenas 18 a 20 passos de largura! -/ Apesar de ninhuma pratica de guerra que/ tinha, da sua pouca edade e das muitas/ privações de todo o género; quando o General Ou-/ dinot foi rondar os postos avançados, não houve/ qualidade de elogio que lhe não fizessse pelo bem/ colocados que tinha os seus piquetes./ [página 4] Dia 4 de Julho de 1809 passagem do/ grande braço do Danubio na Ilha de Loban./ As 10 horas da noite d’este dia,/ principiou a passagem em quatro pontes./ As 2 horas depois da meia noite, todo o exercito/ o tinha passado pela maior obscuridade, e es-/ pantosa e violenta trovoada, chuva em tor-/ rentes, o que tudo fazia a noite tão horrorosa, co-/ mo propicia e gloriosa, para o exercito fran-/ cez. No dia 5 ao romper do dia, todos os mili-/ tares conheceram que o Imperador estava com/ o seu exercito em batalha, na extremidade da/ alla esquerda do exercito inimigo, tendo lhes flanquea-/ do os seus campos entrincheirados, e inutilizando/ por tão …. e sábio
movimento/ obras de campanha, que lhes levaram …/ meio a fazer! Obrigando assim a batalha a trez quar-/ to de légua de distancia, fora dos seus reductos./ Dia 5 batalha d’ Ensersdorf/ Terminou esta batalha, ordenando o General/ Oudinot, que uma brigada da devisão do General/ Granjant, de que fazia parte o batalhão de Caçado-/ res portuguez, do Commando do Tenente Coro-/ nel Candido Jose Xavier, - tomasse a todo o cus-/ to a Aldeea de Rutzendorf, que os Austriacos occu-/ pavão, e tencionavão defender emquanto houvesse/ um só soldado; por que era de todo o interesse pa-/ ra o exercito francez. Executou-se o ataque/ já do norte, marchando na frente da brigadas/ o Batalhão de Caçadores, e em guarda avança-/ da a companhia do Tenente Pimentel, que/ [página 5] proximo de Rutzendorf encontrou um pe-/ queno riacho, que atravessou com a sua compa-/ nhia, sem que para isso tivesse recebido ordem/ alguma, dando-lhes a água pelos peitos. Es-/ te pequeno rio, servia de fosso às obras de cam-/ panha que defendiam Rutzendorf – que sendo/ surpreendidos os seus defensores pelo ines-/ perado, e vivo fogo a queima roupa que os/ Caçadores lhes fizeram junto aos parapeitos -/ depois que passaram o rio, se viram obrigados/ a retirar precipitadamente; deixando na Aldea/ toda a sua Artilharia e os feridos, por julgarem/ que a força que tinha atravessado o rio seria to-/ da a devisão, e nunca uma só companhia!/ Quando a brigada que seguia a guarda avan-/ cada a distancia de 400 ou 500 passos chegou/ a Rutzenforf, já estava ocupado pelo batalhao/ de caçadores portuguez; o qual teve uma gran-/ de perda de mortos e feridos – Por esta occasião/ foi o comandante e praças de pret … companhia, e do/ batalhão condecurados com a Legião d’Honra./ Dia 6 de Julho batalha de Wagram/ O Corpo d’exercito do General Oudinot fazia o Cen-/ tro da linha da batalha, a alla direita o corpo d’ex-/ ercito do Marechal Davoust, e a alla esquerda a/ corpo d’exercito do Marechal Massena – Ao meio/ dia recebeu ordem o
Condecoração Legião de Honra, França, entregue a Balthazar pelo próprio Imperador Napoleão Bonaparte (col. Pereira de Lacerda)
General Oudinot de atacar/ a villa de Wagram – Centro do exercito Austriaco, e de/ ocupar aquella importante posição que tinhao/ guarnecido com as suas milhores tropas comman-/ dadas pelo princepe Hohenzolllern. – Fez-se o acta-/ que, e em menos de duas horas a linha Austriaca/ estava rompida, e o corpo d’exercito do General Oudinot/ sobre o plateau que dominava todo aquelle im-/ menso campo de batalha; estudado, medi-/ tado e fortificado pelo inimigo com antecipação de/ muitos meses! Tendo sido, ao mesmo/ tempo flanqueado, e atacado pela alla/ direita e esquerda se retiraram com/ muitíssima perda, em pessoal e ma-/ terial do exército. [página 6, pequena] Depois da paz geral em 1814/ logo que esta se publicou estando/ em Bourges – voltou …/ para Portugal aonde foi m.to bem rece-/ bido pelo Ministro da Guerra no/ 1º de Novembro de 1814 q-do se lhe apre-/ sentou, que o mandou para a Classe dos/ off.es sem emprego aonde se com-/ servou até ao dia 24 d’Ag.to de 1820/ que foi chamado pelo govº que se ensta-/ lou na Cid.e do Porto para aquella oc-/ casião, para ser enviado como effectiva-/ m.te com a participação do acon-/ tecido naquela Cid.e Porto, ao Bispo/ de Coimbra e d’alli juntar-se ao/ coronel ou general Sepúlveda às ordens de quem ficou/ até ao Mez de M.ço de 1821 que …reunio../ ao sei Batalhão de Caçadores Nº 12 …/ … Ten.e do m.mo. Em Maio do/ mesmo … anno foi este Ten.e [página 7] com o seu Batalhão para Ponte Lima, e alli se/ achava quando em 23 de Fevereiro do anno de/ 1823 o Conde d’Amarante (depois Marquez de Chaves)/ se revolucionou com os Corpos de linha e de/ Milicias da Provincia de Traz-os-Montes para/ botar a baixo a Constituiçao dos anos de 1822. Po-/ rem tendo noticia desta Revolução no dia 25 do/ dito Mez de Fevereiro de 1823 o General da Provincia/ do Minho, e querendo obstar a que ella appa-/ recesse na Cidade de Braga, onde os espíritos/ 35
42
General Balthazar de Almeida Pimentel, Conde de Campanhã Ajudante de Campo de D. Pedro IV, D. Augusto e D. Fernando II e forma cronológica, enriquecida com imagens e documentação complementar, apresentamos a biografia do General Balthazar de Almeida Pimentel, oficial distinto que atingiu elevada consideração da parte dos monarcas reinantes em Portugal ao longo de todo o século XIX. Estratega militar, a quem se deve a vitória e êxito de algumas das mais fulgurantes batalhas, quer ao serviço do Exército Imperial de Napoleão Bonaparte (1769-1821), quer na Revolução Liberal de 1820 (em Braga), nas Lutas Liberais (nas Campanhas do Açores, desembarque na Praia do Mindelo e no Porto, no Combate da Ponte de Ferreira), e na Revolta de Torres Vedras (Cerco de Almeida em 1844), serviu a pátria de forma exemplar e abnegada, tendo recebido vários testemunhos de apreço ao longo da sua vida militar, como político e fiel servidor da Casa Real Portuguesa.
D
Vamos entrar no âmago da sua vida, quer no tempo, quer no espaço, enquadramos, de forma objetiva, os locais que fizeram parte do seu quotidiano, as ligações familiares, onde e como viveu, rol de amigos com quem partilhava a vida militar e social, casamento e frustrações do dia-a-dia, reconstituindo, por esta via, a biografia deste almeidense vulto maior da historiografia militar nacional do século XIX.
43
Iniciamos o relato historiográfico com base nas fontes mais recuadas que nos chegaram, tendo como marco a ocupação das forças espanholas desde 1580, período em que se conhecem antepassados de Balthazar de Almeida Pimentel, a quem também foi dado o nome do seu ascendente: Balthazar de Almeida Pimentel. Apresentamos a biografia como se o próprio tivesse continuado a escrever o seu diário até ao dia da sua morte, depois completado pelos familiares, contextualizando a vivência social no seu tempo, interligando-o com acontecimentos nacionais e internacionais.
44
Século XVII 7 1606 : Construção do Palácio Real de Alcântara, em Lisboa, a mando do Rei D. Filipe I de Portugal (1527 ‑1598), com projeto do arquiteto régio Teodósio de Frias (1555-1634). Balthazar de Almeida Pimentel residiu neste Palácio desde 1834 até 1876. 1634 (31 janeiro) : Balthazar de Almeida Pimentel, antepassado do biografado, batizado na freguesia do Salvador, em Lisboa. Foram padrinhos o Licenciado Francisco Correia e Maria Roriça, mulher de Diogo Monteiro, filho de António João da Costa e Francisca Tavares Pimentel. 1640 (1 dezembro) : Revolta da nobreza portuguesa contra o monarca espanhol D. Filipe III de Portugal (1605-1665), aclamando Rei de Portugal o Duque de Bragança, como D. João IV (1604-1656). O reino preparou-se para a guerra contra Espanha. Invasões de Portugal pelo Exército espanhol. 1656 : O Rei D. João IV faleceu, subindo ao trono seu filho D. Afonso VI (1643-1683). Na menoridade foi regente a Rainha D. Luísa de Gusmão (1613-1666). 1662 (21 junho) : D. Afonso VI foi investido e tomou posse como Rei de Portugal no Palácio Real de Alcântara. 1668 (13 fevereiro) : Pelo Tratado de Lisboa foi assinado o Tratado de Paz com Espanha, reconhecendo-se autonomia do reino de Portugal. 1668 : O Rei D. Pedro II e D. Maria Francisca de Sabóia (1646-1683) casaram na capela do Palácio Real de Alcântara, ao Calvário. 1673 (4 setembro) : Por Carta, Manuel Pereira de Lacerda, foi nomeado Capitão-Mor da Capitania de Paraíba, no Brasil, Comendador de S. Miguel de
Manuel Pereira de Lacerda Óleo sobre tela, século XVII, s/d. (col. Fátima Teresa de Abreu Coutinho)
Arcoselo, por Alvará de 29-07-1645, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, por Alvará de 29-02-1688, Governador da Praça de Valença, serviu na Guerra da Aclamação e se achou em todas as batalhas e nas Linhas de Elvas foi o primeiro que subiu às muralhas. 1676 (18 outubro) : Luís de Almeida Pimentel foi batizado em Lisboa, Santos-o-Velho, filho de Balthazar de Almeida Pimentel e de sua mulher D. Mariana Ribeiro. Foi padrinho D. Álvaro de Castro e Sousa (1590‑1674), 1.º Marquês de Cascais e 6.º Conde de Monsanto. Casou com D. Maria de Ronne, natural de Bayonne, França. Entre 1715 a 1732 residiam em Viana do Castelo, na Rua de Santa Ana, freguesia de Santa Maria. 1693 : A Rainha D. Catarina de Bragança (1638-1705), viúva do Rei Carlos II de Inglaterra (1630-1685), no seu regresso a Portugal, pela Praça de Almeida, foi residir para o Palácio Real de Alcântara. 7 45