Fernão de Magalhães Um Agente Secreto ao serviço do Rei D. Manuel I de Portugal?
BY T H E
BOOK
José | António Mattos e Silva
© Edição By the Book, Edições Especiais Título Fernão de Magalhães: Um Agente Secreto ao serviço do Rei D. Manuel I de Portugal? © Texto José Mattos e Silva António Mattos e Silva Revisão Fernando Milheiro Impressão Real Base ISBN 978-989-8614-72-8 Depósito Legal 448511/18
BY THE
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Edições Especiais, lda Rua das Pedreiras, 16-4º 1400-271 Lisboa T. + F. (+351) 213 610 997 www.bythebook.pt
4 Prefácio 7
Introdução
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As origens dos Magalhães
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O enquadramento familiar do navegador
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Local provável do seu nascimento
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Os parentes que o acompanharam na viagem às Molucas
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O seu relacionamento com D. Manuel I
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A missão de que foi incumbido por D. Manuel I
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O seu casamento e a família da sua mulher
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A viagem até à sua morte
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A circum-navegação
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O Tratado de Saragoça
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Conclusões
119 Cronologia 125 Bibliografia
Prefácio
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enho em comum com os meus bons amigos José e António Mattos e Silva não ser um historiador de profissão e ter uma paixão pela História de Portugal, sobretudo pela História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa. A História dos Descobrimentos e da Expansão começa por ser a gesta dos nossos maiores – os navegadores, os diplomatas, os soldados, os cientistas, os poetas, os mercadores, os missionários e os aventureiros que inventaram, na fórmula de Arnold Toynbee, a unidade do Mundo. Entre os maiores dos maiores está Fernão de Magalhães, que projetou e comandou a expedição marítima que completou a primeira viagem de circum-navegação. Esse feito titânico é a demonstração empírica da tese de Pitágoras sobre a forma esférica do mundo – da Terra, das Estrelas e do Universo, como ensinou Aristóteles. A aventura marítima era uma expedição científica para fixar a rota de passagem entre o Atlântico e o grande oceano que Magalhães batizou como Pacífico e para estudar os ventos e as correntes dos mares nunca dantes navegados que separavam o Novo Mundo da Ásia. A esquadra do Rei de Espanha comandada pelo Grande Capitão português tinha também uma missão diplomática para, segundo Afonso Dornellas, auxiliar Castela a tomar posse da sua parte do globo | na Ásia | até exactamente onde terminava a posse de Portugal, nos termos do Tratado de Tordesilhas.
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Estamos nas vésperas dos quinhentos anos da viagem de Fernão de Magalhães, que se iniciou em 1519, a partir de Sevilha, e temos obrigação de a celebrar como Portugueses com o mesmo espírito cosmopolita que tornou possível as navegações portuguesas, castelhanas e europeias no início dos tempos modernos. O belo livro de José e António Mattos e Silva é uma forma de iniciar essas comemorações, com um estudo aturado das fontes genealógicas indispensáveis para conhecer quem era Fernão de Magalhães e com uma tese sobre o sentido diplomático da sua expedição marítima, que está resumida no título do seu ensaio: Um agente secreto ao serviço do Rei D. Manuel I de Portugal? Para José e António Mattos e Silva, o ponto de interrogação está a mais e não lhes resta dúvida de que o Rei de Portugal é o verdadeiro responsável pela viagem que Fernão de Magalhães quis propor ao Rei de Espanha. A sua tese é defendida com brilho e galhardia. Fernão de Magalhães deve ser reconhecido como um dos grandes navegadores, ao lado de Cristóvão Colombo/Colon, Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral. A sua viagem prodigiosa é um marco único na descoberta das rotas marítimas que tornaram possível a primeira globalização. Os historiadores têm a obrigação de decifrar o sentido diplomático da sua expedição, nós podemos homenagear, com Fernando Pessoa, | o titan | que até ausente soube cercar a terra inteira com o seu abraço. Carlos Monjardino * * Presidente da Fundação Oriente e ex-Presidente da Academia Internacional da Cultura Portuguesa
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Um dos retratos do navegador FernĂŁo de MagalhĂŁes
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Introdução –1–
N
o dia 20 de Setembro de 1519 partia, de Sanlúcar de Barrameda, a frota comandada por Fernão de Magalhães com destino às ilhas Molucas. Estamos, portanto, a entrar no período em que se comemoram os 500 anos do início da referida viagem a qual viria a realizar a primeira circum-navegação do nosso planeta, permitindo que este fosse integralmente conhecido, o que contribuiu para criar as condições iniciais do fenómeno atualmente designado por “globalização”. Fernão de Magalhães é, certamente, o português mais conhecido a nível mundial, o que é confirmado pelo facto do seu nome ter sido atribuído ao Estreito que descobriu aquando da sua viagem, bem como a elementos associados à astronomia, como é o caso das Nuvens de Magalhães (as duas galáxias mais próximas da Terra avistadas pela frota do navegador no Atlântico Sul), das Crateras Lunares de Magalhães e das Crateras Marcianas de Magalhães. Também uma sonda espacial da NASA, lançada em 4 de Maio de 1989 na direção de Vênus onde chegou a 10 de Agosto de 1990, foi batizada com o nome de Magalhães. Também foi aos microfones da Rádio Magallanes (Magalhães) que Salvador Allende, Presidente da República do Chile, fez o seu último discurso, em 11 de Setembro de 1973. Recentemente o apelido ‘Magalhães’ foi atribuído a um modelo de computador fabricado em Portugal e que, tendo sido distribuído pela população escolar em condições financeiramente vantajosas, permitiu homenagear o famoso navegador não só no nosso país mas também nos países estrangeiros para onde o citado computador foi exportado. Vários Chefes de Estado a quem as autoridades portuguesas ofereceram o referido “hardware” revelaram uma grande afinidade com o navegador, como foi o caso do Presidente da Venezuela Hugo Chávez que era adepto fervoroso duma equipa de “baseball” denominada “Navegantes de Magallanes”.
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É, por isso, importante apresentar quem foi, em termos familiares, o famoso navegador como, também, desmistificar alguns aspetos que pretendem menorizar a sua atuação, nomeadamente presumindo que teria sido um traidor a Portugal. Aliás esta suposta traição é plasmada por Luís Vaz de Camões nos versos que dedica a Fernão de Magalhães no canto X d’Os Lusíadas, nas estrofes 138 a 141: Eis aqui as novas partes do Oriente Que vós outros agora ao mundo dais Abrindo a porta ao vasto mar patente, Que com tão forte peito navegais. mas é também razão que, no Ponente, Dum Lusitano um feito inda vejais, Que de seu Rei mostrando-se agravado, Caminho há-de fazer nunca cuidado. Vedes a grande terra que contina vai de Calisto ao seu contrário Pólo, Que soberba a fará luzente mina Do metal que a cor tem do louro Apolo. Castela, vossa amiga será dina De lançar-lhe o colar ao rudo colo. várias províncias tem de várias gentes, Em ritos e costumes, diferentes. Mas cá onde mais se alarga, ali tereis parte também, co pau vermelho nota; De Santa Cruz o nome lhe poreis; Descobrila-á a primeira vossa frota. Ao longo desta costa, que tereis, Irá buscando a parte mais remota O Magalhães, no feito, com verdade, Português, porém não na lealdade
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Desque passar a via mais que meia Que ao Antárctico Pólo vai da Linha, Dhua estatura quase giganteia Homens verá, da terra ali vizinha; E mais avante o Estreito que se arreia Co nome dele agora, o qual caminha pera outro mar e terra que fica onde Com suas frias asas o Austro a esconde.
O principal objetivo deste livro é procurar, de forma devidamente fundamentada, esclarecer alguns aspetos nebulosos da sua vida e, também, reabilitar a sua memória, contrariando as teses que defendem, em nossa opinião erradamente, que ele teria entrado em conflito com D. Manuel I o que o teria levado a ir oferecer os seus préstimos ao Imperador Carlos V. Como escreveu Joseph de Maistre: As falsas opiniões assemelham-se à moeda falsa que, primeiro, é cunhada por grandes culpados e, depois, gasta por gente honesta que perpetua o crime sem saber o que está fazendo. Também disse Jules Michelet: O primeiro dever da História, que é o juiz do Mundo, é perder o respeito e, nas palavras de Arthur Schnitzler: Uma ideia nova é, a maior parte do tempo, uma banalidade velha como o Mundo cuja verdade, de repente, sentimos pessoalmente. A morte de Fernão de Magalhães é abordada por Fernando Pessoa, n’ A Mensagem: No valle clareia uma fogueira. Uma dança sacode a terra inteira. E sombras disformes e descompostas Em clarões negros do valle vão Subitamente pelas encostas, Indo perder-se na escuridão. De quem é a dança que a noite aterra? São os Titans, os filhos da Terra Que dançam da morte do marinheiro Que quiz cingir o materno vultoCingil-o, dos homens, o primeiroNa praia ao longe por fim sepulto. 9
Dançam, nem sabem que a alma ousada Do morto ainda commanda a armada, Pulso sem corpo ao leme a guiar As naus no resto do fim do espaço: Que até ausente soube cercar A terra inteira com seu abraço. Violou a Terra. Mas elles não O sabem, e dançam na solidão; E sombras disformes e descompostas, Indo perder-se nos horizontes, Galgam do valle pelas encostas Dos mudos montes.
No site www.inverso.pt/Mensagem/MarPortugues/magalhaes.htm apresenta-se um comentário a estes versos de Fernando Pessoa: Este poema refere-se à viagem de circum-navegação da Terra, iniciada por Fernão de Magalhães e terminada pelo basco Sebastián Elcano após Magalhães ter sido morto em combate por nativos de uma das ilhas do arquipélago filipino. Como solução estilística recorrente, Fernando Pessoa não se refere directamente aos feitos do visado mas aborda apenas um momento da sua vida, mais precisamente a morte. Fará o mesmo em relação a Bartolomeu Dias e a Vasco da Gama. Presumivelmente trata-se da materialização da sua ideia de que uma vida sem sonho não vale a pena e de que é no momento da morte que se podem contabilizar as valias de cada vida. Fernando Pessoa descreve uma dança de selvagens, presumivelmente dos guerreiros que o mataram (aliás em legítima defesa…) que compara aos titãs, antigos deuses da terra que, na mitologia grega, antecederam os deuses do céu. Simbolicamente, os seres da terra dançam da morte daquele que, concluindo o sonho do Infante, a rodeou tornando-a una e rasgando o último mistério (violando a Terra, como diz Pessoa). E doravante já ninguém, mesmo vivendo numa ilha remota, estará isolado. A Terra vingou-se da violação, através dos seus “filhos”, com a morte do navegador. Mas eles não sabem que aquele que mataram acabou com o seu isolamento geográfico e porque não o sabem mantêm-se na solidão da ignorância. E a Terra, enfim desvendada para o Ocidente, é muda para eles.
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Mas, apesar da sua morte física, Fernão de Magalhães viria a tornar-se “imortal”, ou seja, pelas suas “obras valerosas” foi-se “da lei da morte libertando” como indicado por Luís Vaz de Camões, no canto I d’Os Lusíadas: E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da morte libertando: Cantando espalharei por toda a parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte. Esperam os autores do presente livro contribuir, ainda que modestamente e se a tanto os “ajudar o engenho e arte”, para “espalhar por toda a parte” os feitos deste intrépido navegador e a sua total fidelidade a Portugal.
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As origens dos Magalhães –2–
S
egundo alguns nobiliários, quando o Conde de Bolonha, D. Afonso, futuro Rei de Portugal com a denominação de D. Afonso III, regressou a Portugal em 1245 para substituir no trono de Portugal o seu irmão D. Sancho II, trouxe no seu séquito um tal de Afonso Vaz sobre o qual não há concordância: uns dizem que era português, outros que era bolonhês e familiar da Condessa D. Matilde de Bolonha, mulher do futuro Rei D. Afonso III. Alguns indicam que o referido Afonso Vaz viria a casar com Sancha de Novais a qual era filha de Afonso de Novais, Senhor de Magalhães e racioneiro do Mosteiro de São Martinho de Tibães (localizado perto de Braga). O Senhorio de Magalhães estava localizado nas denominadas Terras da Nóbrega, situadas entre Ponte da Barca e a fronteira do Lindoso, sendo limitadas a Norte pelo rio Lima, a Leste pela Galiza, a Oeste pela Terra de Penela e, a Sul, pelas Terras de Regalados e do Bouro. Área muito montanhosa, incluía grande parte da Serra Amarela, cujos contrafortes se estendem quase até à região onde hoje se localiza Ponte da Barca. Era num pico destes contrafortes, sobranceiro ao vale do Lima, que se localizava o Castelo da Nóbrega, centro militar das Terras da Nóbrega e que defendia o vale do Lima. Um companheiro de Afonso Vaz, denominado Pedro Ourigues da Nóbrega, terá sido quem introduziu Afonso Vaz na região, o que viria a originar o seu casamento com Sancha de Novais. Do casamento de Afonso Vaz com Sancha de Novais viria a nascer Afonso Rodrigues que consta dos registos do Rei D. Dinis, nomeadamente no ano de 1312 com “ração no Mosteiro de Tibães”, situação que herdara de seu pai. Viria a casar, cerca de 1280, com Alda Martins de Castelões, filha de João Martins de Castelões, “o Moço” (oriundo da família galega “Castellans”), proprietária da Torre de Magalhães situada na freguesia de São Martinho de Paço Vedro. O citado Afonso Rodrigues passou a deno12
minar-se Afonso Rodrigues de Magalhães (cognominado “o Cavaleiro”), pelo que foi o primeiro elemento da sua família a incorporar, no seu apelido, o nome da Torre que pertencera à família da sua mulher. Deste casamento de Afonso Rodrigues de Magalhães nasceu, nomeadamente, Rodrigo Afonso de Magalhães, nascido por 1290, o qual viria a herdar o património do seu pai, e que casou com mulher desconhecida. Foram pais de outro Afonso Rodrigues de Magalhães, nascido cerca de 1340, o qual viria a ser nomeado, na época do Rei D. Fernando I, Alcaide-Mor do Castelo da Nóbrega. Viria a casar com D. Teresa Freire de Andrade, filha de D. Nuno Rodrigues Freire de Andrade, 6.º Grão-Mestre da Ordem de Cristo. Este casamento demonstra a notoriedade já então conseguida pela família Magalhães no seio da nobreza da época, embora não estando incluída na primeira nobreza do Reino onde pontificavam as famílias Castro, Manoel, Meneses, Sousa, Vasconcelos, etc. Do casamento de Afonso Rodrigues de Magalhães com D. Teresa Freire de Andrade nasceram, nomeadamente, os seguintes filhos: • Froile Afonso de Magalhães, nascida cerca de 1360, que casou por 1380 com Gonçalo Rodrigues de Araújo, Senhor de Lobios e Alcaide-Mor de Lindoso e Castro Laboreiro, o qual tomou o partido da Rainha D. Beatriz e faleceu em 1398; • Gil Afonso de Magalhães, vassalo de D. João I, Senhor de Juro e Herdade de Lindoso, com todos os seus direitos e rendas, como tivera Diogo Gil (16/05/1387), Senhor da Honra da Quintã da Torre de Paço Vedro de Magalhães e do Couto de Fontarcada (09/06/1387), nascido cerca de 1362 e falecido depois de 1404. Era o filho varão mais velho mas terá falecido solteiro, sem geração, tendo o seu irmão Diogo Afonso sucedido na Quintã, na Torre de Magalhães e no Couto de Fontarcada; • Diogo Afonso de Magalhães, Senhor da Honra da Quintã da Torre de Paço Vedro de Magalhães e do Couto de Fontarcada, em que sucedeu a seu irmão Gil Afonso. Nasceu cerca de 1366 e faleceu depois de 27/05/1436, data em que se documenta como Diogo Afonso de Magalhães, criado da Rainha D. Filipa de Lencastre.
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Casou cerca de 1397 com Inês Vasques. A 27/05/1436 D. Duarte confirmou a Inês Vasques, mulher de Diogo Afonso de Magalhães, criado da Rainha D. Filipa de Lencastre, o senhorio da Terra de Souto de Rebordães. Inês Vasques deve ter falecido em 1454 pois, a 13/05/1454, D. Afonso V confirma a doação a João de Magalhães, filho de Inês Vasques, da Terra de Souto de Rebordães. Os citados Diogo Afonso de Magalhães e Inês Vasques foram, nomeadamente, pais de João de Magalhães, 1.º Senhor de Ponte da Barca, o qual casou com D. Isabel de Sousa. Esta era filha de Rui Vasques Ribeiro, 2.º Senhor de Figueiró e Pedrógão, o qual era filho de Rui Mendes de Vasconcelos, um dos destacados combatentes na batalha de Aljubarrota. Rui Vasques Ribeiro casara com D. Violante de Sousa que era filha de Maria Ribeira e de D. Lopo Dias de Sousa, 7.º Grão-Mestre da Ordem de Cristo, neta de D. Álvaro de Sousa e de D. Maria Teles de Meneses (irmã da Rainha D. Leonor Teles) e trineta de D. Maria Pais Ribeira, 15.ª Senhora da Casa de Sousa e de D. Afonso Dinis (filho bastardo de D. Afonso III, Rei de Portugal, e de Maria Peres de Enxara). A citada D. Isabel de Sousa era irmã, nomeadamente, de João Rodrigues Ribeiro de Vasconcelos, 3.º Senhor de Figueiró e Pedrógão, casado com D. Branca da Silva, irmã de Santa Beatriz da Silva e do Beato Amadeu de Portugal, por ser filha de D. Rui Gomes da Silva, Alcaide-Mor de Campo Maior e Ouguela e de sua mulher D. Isabel de Meneses, a qual era filha bastarda de D. Pedro de Meneses, 1.º Conde de Vila Real e 1.º Capitão de Ceuta. Outro filho de Diogo Afonso de Magalhães e Inês Vasques foi Gil Afonso de Magalhães, o qual casou com D. Violante de Sousa. Esta era filha de Martim Álvares Cid e de D. Isabel de Sousa a qual era filha de Jorge de Sousa Idanha e de Violante de Andrade. O referido Jorge de Sousa Idanha era filho bastardo de D. Gonçalo Rodrigues de Sousa, Alcaide-Mor de Monsaraz e Marvão, que era filho de Constança Gil e de D. Rodrigo Afonso de Sousa, o qual era filho de Maria Pais Ribeira (15.ª Senhora da Casa de Sousa) e do Infante D. Afonso Dinis, filho bastardo de D. Afonso III, Rei de Portugal e de Maria Peres de Enxara. Assim, esta D. Violante de Sousa era prima, em quarto grau, da atrás referida D. Isabel de Sousa, mulher de João de Magalhães, 1.º Senhor de Ponte da Barca. D. Gonçalo Rodrigues de Sousa, Alcaide-Mor de Monsaraz e Marvão, que durante o cerco de Lisboa permaneceu fiel a D. João I, Rei de Portugal, viria a abandonar o país, após o dia 03/09/1384 (data do levantamento, pelos 14
Castelhanos, do referido cerco), acompanhando na retirada para Castela as tropas do Rei de Castela. Por esse motivo os seus bens e terras foram-lhe confiscados. É ainda de referir que o citado Gil Afonso de Magalhães, marido de D. Violante de Sousa, tinha a alcunha de “o Tremelicoso”, a qual viria a continuar-se num seu filho, Paio Afonso de Magalhães. Seria que tal alcunha estaria relacionada com alguma doença que ambos tinham, como epilepsia, Parkinson, ou outra que lhes afetasse o sistema nervoso? Estes dois casamentos de varões da família Magalhães com senhoras da família Sousa, da primeira nobreza do Reino, demonstra a continuação da ascensão social de alguns Magalhães. O filho primogénito de João de Magalhães, 1.º Senhor de Ponte da Barca, e de D. Isabel de Sousa, foi Gil de Magalhães o qual casou, primeiro, em 1461, com D. Maria de Meneses (irmã da atrás citada D. Branca da Silva, por ser também filha de D. Rui Gomes da Silva, Alcaide-Mor de Campo Maior e Ouguela, e de D. Isabel de Meneses), de quem teve o filho sucessor, João de Magalhães e Meneses. Casou, pela segunda vez, em 1472, com D. Isabel de Meneses, filha de Gonçalo Nunes Barreto, 2.º Morgado da Quarteira, Fronteiro-Mor do Reino do Algarve e Alcaide-Mor de Faro, de quem teve os restantes filhos. É curioso referir o histórico relativo à primeira mulher de Gil de Magalhães, D. Maria de Meneses. Acontece que, antes do seu casamento, D. Maria de Meneses teve uma relação amorosa, cerca de 1455, com D. Álvaro de Sousa, 19.º Senhor da Casa de Sousa, Mordomo-Mor de D. Afonso V e membro do seu Conselho, o qual estava viúvo da sua primeira mulher D. Maria de Castro, filha de D. Fernando de Castro, Governador da Casa do Infante D. Henrique. Não consta que tenha havido algum filho daquela ligação episódica vindo, posteriormente, a referida D. Maria de Meneses a casar-se com Gil de Magalhães e, D. Álvaro de Sousa, a consorciar-se com uma prima em segundo grau de D. Maria de Meneses, D. Isabel da Silva. O citado D. Álvaro de Sousa abandonou D. Isabel da Silva, incorrendo no crime de bigamia, ao casar-se com D. Guiomar de Meneses, irmã da referida D. Maria de Meneses com quem anteriormente estivera relacionado. O matrimónio era anterior a 09/04/1467, data em que o monarca doava, a D. Guiomar de Meneses (em caso do marido vir a falecer primeiro), as rendas e direitos do lugar de Vale de Flores, no termo de Portalegre, que ele trazia da Coroa. Já era falecido D. Álvaro de Sousa quando o rei atribuiu uma tença de 20 000 reais brancos a sua viúva, D. Guiomar de Meneses. 15
Entretanto, D. Isabel da Silva instaurou uma demanda contra o casal, levando o rei a reconhecer como válido o seu casamento com D. Álvaro de Sousa, que assim incorria no crime de bigamia. Quando a sentença de confiscação dos bens foi proferida, em 01/12/1472, contra ele e sua mulher, D. Guiomar de Meneses, já D. Álvaro havia falecido há um ano, sendo os referidos bens doados a D. Diogo Lopes de Sousa, filho primogénito do primeiro matrimónio de D. Álvaro de Sousa com a referida D. Maria de Castro. Estes dois casamentos de Gil de Magalhães com senhoras da família Meneses, da primeira nobreza do Reino, reforça a continuação da ascensão social de alguns elementos da família Magalhães, sobretudo dos Senhores de Ponte da Barca. Na árvore genealógica seguinte (Árvore Genealógica I) apresenta-se parte da descendência de Afonso Rodrigues de Magalhães e de D. Teresa Freire de Andrade. É de notar que os autores descendem de dois ramos da família Magalhães: o dos Senhores de Ponte da Barca (que era o morgadio da família) e do ramo dos Magalhães de Figueiró que teve origem em Lopo Rodrigues de Magalhães por este ter ido viver para Figueiró dos Vinhos para tratar da educação dos filhos menores do já citado João Rodrigues Ribeiro de Vasconcelos, 3.º Senhor de Figueiró e Pedrógão, aquando da morte deste. É de referir que entre os filhos de Lopo Rodrigues de Magalhães existia um Fernão de Magalhães que era primo em segundo grau do navegador e seu homónimo, o que levou vários genealogistas a confundi-lo com o descobridor do Estreito de Magalhães. Para aumentar a confusão aquele Fernão de Magalhães também tinha irmãos com os nomes de Diogo e Isabel, tal como acontecia com o navegador. É curioso referir que três figuras importantes da habitualmente designada por Época do Descobrimentos, Fernão de Magalhães, Lopo Soares de Albergaria e Pedro Álvares Cabral, têm uma ligação familiar comum. De facto, Fernão de Magalhães era quarto neto paterno de D. Nuno Rodrigues Freire de Andrade, 6.º Grão-Mestre da Ordem de Cristo, dado que uma filha deste, D. Teresa Freire de Andrade, foi casada com Afonso Rodrigues de Magalhães, Alcaide-Mor do Castelo da Nóbrega, sendo ambos trisavós do navegador. Por sua vez, Lopo Soares de Albergaria era neto materno de Estêvão Soares de Melo, 6.º Senhor de Melo e de uma outra D. Teresa Freire de Andrade, a qual era neta paterna do referido D. Nuno Rodrigues Freire de Andrade, 6.º Grão-Mestre da Ordem de Cristo, pelo que Lopo Soares de Albergaria era trineto do referido D. Nuno. 16
Árvore Genealógica I Afonso Rodrigues de Magalhães
Teresa Freire de Andrade
c. 1340
c. 1345
Diogo Afonso de Magalhães
Gil Afonso de Magalhães c. 1366-c.1404
Inês Vasques f. c.1454
c. 1370
Afonso Rodrigues de Magalhães
João de Magalhães 1.º SENHOR DA BARCA
c. 1401
c. 1400
15 NETOS
c.1402
Isabel de Sousa
Violante de Sousa
José Mattos e Silva
c.1405
António Mattos e Silva Isabel Sequeira
Paio Afonso de Magalhães
c.1425
Brites de Mesquita
Fernão de Magalhães O VELHO
c.1423
Diogo Magalhães c.1478
Lopo Rodrigues de Magalhães c. 1443
Fernão Magalhães Margarida Nunes
Francisca de Sousa c.1427
c.1480
João de Sá
Isabel Magalhães Branca Magalhães c. 1490
Rui Cotrim 13 NETOS
José Mattos e Silva 17
Gil Afonso de Magalhães
António Mattos e Silva