Guaritas : Arte e Engenho

Page 1

Augusto Moutinho Borges | Marín Garcia

O livro Guaritas: Arte e Engenho é o resultado de dois anos de investigação sobre a arquitectura militar abaluartada e da sua componente artística nas Praças, Fortalezas e Fortes entre Portugal e Espanha, para além do património edificado na linha costeira dos dois países.

Guaritas, Arte e Engenho

No contexto artístico, o que mais se realça das fortalezas e fortes são as Portas Magistrais, encimadas pela heráldica régia, imediatamente precedidas pelas guaritas, as quais personalizam o complexo defensivo. Esta obra divide-se em três partes: a primeira é uma abordagem histórica sobre as Guaritas, a sua evolução ao longo dos tempos, formas de construção e modelos existentes; a segunda debruça-se sobre a Arte, com desenhos a nanquim das Guaritas da raia seca entre Portugal e Espanha; e a terceira consiste no registo fotográfico das Guaritas que vão desde a Torre de Belém até ao Guincho, ou seja na linha do Tejo até Cascais.

Guaritas Arte e Engenho

Bartizans Art and Ingenuity Guérites Art et Génie Garitas Arte y Ingenio

APOIO INSTITUCIONAL

Augusto Moutinho Borges Marín Garcia

AUGUSTO JOSÉ MOUTINHO BORGES Conservador de Museu. Doutor em História das Ciências da Saúde, pela Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade Nova de Lisboa. Investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, da Universidade de Coimbra. Vice-Presidente da Secção de História da Medicina da Sociedade de Geografia de Lisboa. Membro do Concelho Científico da Comissão Portuguesa de História Militar. Autor de 9 livros e 117 artigos na área das Ciências da Saúde, do Património e da História da Arte. Proferiu cerca de 140 Conferências, Comunicações e Palestras. MARÍN CAETANO GARCIA AGUDO Professor do Ensino Primário em Ávila, Espanha. Realizou numerosas exposições em Espanha e Portugal. Nos últimos 20 anos, tem-se dedicado a desenhar o património histórico mais desconhecido do mundo rural da fronteira luso-espanhola. Entre outras exposições destacam-se “Almeida” (1994), “Distrito da Guarda” (1995), “Aldeias Históricas de Portugal” (1996), “El Tratado de Alcañices” (1997), “Conjuntos Históricos Salmantinos” (1998), “Salamanca inédita” (1999), “Guaritas de Almeida” (2001), “Símbolos lapidários da Guarda” (2001), “Patrimonio de la zona oeste salmantina” (2005), “Reais Hospitais Militares de S. João de Deus” (2006-2008), “Ávila extramuros” (2008), “Fortificações abaluartadas de fronteira” (2008/2009).


Edições Especiais, lda Rua das Pedreiras, 16-4º 1400-271 Lisboa T. + F. +351 213 610 997 bythebook@sapo.pt www.bythebook.pt

Título • Title • Titre • Título Guaritas: Arte e Engenho © Editor • Publisher • Éditeur • Editor By the Book, edições especiais, lda. © Texto • Text • Texte • Texto Augusto Moutinho Borges © Desenhos • Drawings • Dessins • Dibujos Marín Garcia © Fotografia • Photography • Photographie • Fotografía Augusto Moutinho Borges Tratamento de imagem • Photo Edition Photo Édition • Procesamiento de imágenes Valter Correia | Maria João Moraes Palmeiro Design Forma, design: Margarida Oliveira | Veronique Pipa

Comissão Portuguesa de História Militar

Direcção de História e Cultura Militar

Produção • Production • Production • Producción Ana de Albuquerque | Maria João Paiva Brandão Tradução • Translation • Traduction • Traducción David Michael Greer (English) Margarida Reffóios (Français) Marín Garcia (Castellano) Impressão • Printing • Impression • Impresión Peres-Soctip, SA ISBN 978-989-96409-6-2 Depósito Legal 312 703/10

Agradecimentos Acknowledgments • Remerciements • Agradecimientos Câmara Municipal de Cascais Casa da Ínsua, Castendo (Penalva do Castelo) Comissão Portuguesa de História Militar Direcção de História e Cultura Militar (Arquivo Histórico Militar) Direcção de Infra-Estruturas do Exército (Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar) Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico Maria Fernanda Costa


07

Prefácio

Foreword

Préface

Prefacio

11

Guaritas: Arte e Engenho

Bartizans: Art and Ingenuity

Guérites: Art et Génie

Garitas: Arte y Ingenio

45

Guaritas: Arte

Bartizans: Art

Guérites: Art

Garitas: Arte

71

Guaritas: Engenho

Bartizans: Ingenuity

Guérites: Génie

Garitas: Ingenio

86

Bibliografia

Bibliography

Bibliographie

Bibliografia


Prefácio

Pede-me o Doutor Augusto Moutinho Borges que escreva umas linhas sobre a obra Guaritas - Arte e Engenho que ele entendeu, com o apoio da Câmara Municipal de Cascais, publicar. Faço-o com o maior gosto porque se trata de uma obra inédita quanto ao seu objecto de estudo que é, ainda por cima, valorizada pelos desenhos de um artista de grande qualidade – Marín Garcia Agudo – de quem, aliás, já conhecemos outros trabalhos publicados e/ou expostos. As guaritas são, como todos sabemos, “pequenos cobertos que se destacam dos ângulos das cortinas e baluartes, de forma cilíndrica ou prismática, para abrigo e defesa das sentinelas”, podendo, pois, também elas e por si só, constituir-se como verdadeiras obras de arte da arquitectura militar. Marín Garcia é um artista cuja obra pictórica largamente difundida em Espanha é também conhecida em Portugal através dos seus trabalhos sobre Aldeias Históricas de Portugal mas, sobretudo, sobre os Hospitais Militares de S. João de Deus na fronteira Luso Espanhola, séculos XVII-XVIII que constituiram uma exposição itinerante que, em 2006-2008, esteve presente em Montemor-o-Novo, Penamacor, Guarda, Ponte de Lima, Almeida, Bragança, Lisboa, Porto, Elvas e Moura, percorrendo o País aquando das celebrações do IV Centenário da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus em Portugal.

6


O Doutor Moutinho Borges habituou-nos à profundidade das investigações a que se dedica, sendo hoje um reputado perito na arquitectura militar relacionada com os hospitais militares. No decorrer dos seus trabalhos não pôde deixar de se debruçar sobre as fortificações abaluartadas, ao abrigo das quais se situavam muitos desses hospitais. Teve, assim, a oportunidade de conhecer e estudar a grande variedade artística das respectivas guaritas, tendo reunido uma diversificada quantidade de exemplares que agora, graficamente ilustrados pelos desenhos de Marín Garcia e por excelentes fotografias da sua própria autoria, dá a conhecer publicamente, acompanhados de interessantes comentários, situando-as no espaço e no tempo e chamando a atenção do leitor para determinadas características arquitectónicas. Não pode por isso a Comissão Portuguesa de História Militar (CPHM) e o seu Presidente senão congratular-se com mais esta obra de indiscutível interesse para a história militar de Portugal, cumprimentando os seus autores e o Presidente da Câmara Municipal de Cascais pelo facto de se terem abalançado à sua edição.

Alexandre de Sousa Pinto Tenente-General, Presidente da CPHM

7


8


O presente livro, subordinado ao tema Guaritas: Arte e Engenho, é o resultado de dois anos de investigação sobre a arquitectura militar abaluartada* e da sua componente artística nas Praças-fortes, Fortalezas e Fortes entre Portugal e Espanha. No contexto artístico, o que mais se realça nas Fortalezas e Fortes são as Portas Magistrais**, encimadas pela heráldica régia, imediatamente precedidas pelas guaritas, as quais caracterizam o complexo defensivo. A obra que apresentamos divide-se em três partes: a primeira é uma abordagem histórica sobre as Guaritas, a sua evolução ao longo dos tempos, formas de construção e modelos existentes, a segunda é constituída pelo capítulo Arte, com desenhos a nanquim das Guaritas da raia seca, entre Portugal e Espanha, e a terceira consiste no registo fotográfico das Guaritas que vão desde a Torre de Belém até ao Guincho, ou seja na linha defensiva do Tejo até Cascais.

* Termo que caracteriza um estilo de fortificação projectada para a guerra defensiva, colocando-se as peças de artilharia nos baluartes. ** Portas principais das Fortalezas sempre decoradas e com brasões reais.

9


10


Guaritas Arte e Engenho

Uma das expressões artísticas na arquitectura militar abaluartada é constituí­ da pelas Guaritas 1 que, a par das Portas Magistrais e da Heráldica (imagens 30 e 31), caracterizam o sistema defensivo, nas Fortalezas e nos Fortes, quer na raia seca, quer no litoral.

Foi com as Guerras da Aclamação, 2 entre 1640 e 1668, que Portugal viu edificar, ao longo do seu território nacional, um vasto conjunto de construções defensivas à moderna. 3 As muralhas estruturaram-se no sistema abaluartado, seguindo-se, para tal prática construtiva, os projectos e ensinamentos dos Engenheiros Militares. 4 As cidades e vilas portuguesas foram protegidas com novas muralhas, em oposição às velhas cercas medievais. Nalguns casos, como em Marvão, e porque o esforço de guerra não permitia um desenvolvimento ­defensivo uniforme em todo o território, as Praças de guerra foram dotadas com ­alguns elementos constitutivos da denominada arquitectura militar abaluartada, como os baluartes, os revelins e as guaritas.

11


3 • Lisboa, Torre de São Vicente (Torre de Belém)

1 • Castelo de Chaves, in Duarte de Armas, c. 1510

Noutros casos, as cidades e vilas protegeram-se com nova cintura granítica, preparada para receber artilharia, mas também para dela se proteger, colocando-se as guaritas nos pontos estratégicos para observação e protecção da soldadesca. 5 No entanto, estas formas de defesa já vinham da arquitectura militar medieval. Em Lisboa, as guaritas da Torre de S. Vicente 6 (imagens 3 e 4) constituem um exemplo notável da arte ao ­serviço da guerra. 7

4 • Lisboa, Torre de São Vicente (Torre de Belém)

2 • Castelo de Bragança, in Duarte de Armas, c. 1510


Luís Serrão Pimentel 8 define na sua obra, em 1680, o conceito de guarita, qual a sua função e localização e onde deve ser edificada nas fortalezas e fortes: “Parte I. Secção I. Cap. XXV. N.º 5 Das Guaritas. As guaritas chamadas em Latim «Speculae», em Francês «Eschauguetes» ou «Guarites», em Italiano «Guarite», em Espanhol «Guaritas» ou «Sentinelas» representam, na fortificação, o que os olhos vêem no corpo humano. São necessárias para as vigias, para não estarem às inclemências do tempo. O sítio em que se acomodam é no ângulo flanqueado, nos dois espaldares e no meio da cortina, porque destes lugares fica a vista mais livre e desembaraçada, assim para descobrir os lugares distantes como também o fosso e pé da muralha e ficam aqui acomodadas assim para perceberem os sinais que de fora lhe forem feitos, como para os dar. Que se fabriquem nos ditos lugares concordam todos os autores que tenho visto e aprova o seu uso comum. Quando as fortificações são revestidas de muralha de pedra e cal, se costuma fazer as guaritas da mesma matéria nas quais, por adorno, se acomodam algumas faixas e frisos de pedraria com outras galanterias e artifícios de arquitectura civil, como se vê nos das muralhas de Elvas, nos baluartes à roda desta cidade e em outras partes. Porém isto é durável enquanto não há inimigo que ataque algum, ou alguns baluartes, pois com artilharia (se quiser) dará logo com as guaritas fora, perdendo-se o custo de sua fábrica e muitas vezes fazendo os pedaços dano na gente. Por estas razão outros as fazem de tijolo para que o custo e perda seja menor, pois tanto servem para o intento umas, como outras.

Assentam-se ordinariamente sobre umas pedras que saem incorporadas de dentro da muralha nos ângulos do baluarte e meio da cortina, as quais são de forma da guarita, pondo-se umas sobre as outras em crescimento por melhor se sustentarem. A forma das guaritas é redonda, quadrada, pentagônica e hexagônica, segundo o gosto dos que as fabricam, cobertas por cima com suas meias laranjas, ou tectos que seguem os lados com seus remates em cima e galanterias, que cada um capricha, variando nesta ou naquela forma. Abrem-se nas guaritas três frestas, uma que olha direita para a campanha e duas para as ilhargas para por ali se vigiar. Da parte interior se lhe faz a porta, para cuja serventia se abre ou deixa na grossura do parapeito um caminho de 2,5 ou 3 pés de largo. Fazem-se, segundo Dilichio, de 8 pés de altura interior e o diâmetro de sua largura de 5 ou 6. A mesma largura de 5 pés (lhe determina Goldman) sem falar na altura que sempre se deve entender haver de ser a que caiba um homem bem folgadamente e o que mais sobe ao tecto. Dilichio acrescenta-lhe um sino para que os soldados vigiando façam, de vez em quando, sinal de que estão despertos. Medina Barba as faz de 9 pés geométricas de alto, 4 de largo e quer que sejam de madeira, por se não perder o custo das de pedra e cal com os frisos de pedraria, se o inimigo as derrubar ou evitar o risco das lascas. Deste modo se fazem quando há, somente, terraplenos sem muralhas.” 13


5 • Lisboa, Forte do Bom Sucesso

Seguindo o conceito de Pires Nunes (Nunes 2005), do Dicionário de Língua Portuguesa, 9 e da nossa autoria, as guaritas definem-se por serem um espaço protegido por todos os lados, coberto, com vigias e uma porta. É neste espaço que se instala um sentinela para ­observar o que o rodeia para, em caso de necessidade, dar o alerta a toda a guarnição da proximidade de um exército invasor, ou qualquer situação anómala à segurança da Fortaleza, quer em tempo de paz como de guerra. Os seus modelos são diversos e muito variados, podendo ser observados nas obras publicadas no séc. XVII e XVIII, pelos tratadistas militares europeus, como Sébastien Le Preste, 10 e dos portugueses Luís Serrão Pimentel, 11 Manuel Azevedo Fortes 12 e Miguel Luís ­Jacob, 13 entre muitos outros.

14

Na linha do horizonte, as guaritas sobressaem de toda a massa edificada, não só pela sua verticalidade na ­linha horizontal das muralhas, mas também pelas suas particularidades decorativas, realçando-se, entre todas, as galanterias no topo da cobertura. A sua localização é variável, sendo a mais comum na esquina das torres (imagens 1 e 2), no vértice dos baluartes e dos revelins (imagem 6). Por vezes também são instaladas à entrada dos equipamentos militares, como nos governos militares, nos quartéis, nos trens, nos picadeiros, nos paióis, nas fábricas de pão e nas portas. Nas Portas Magistrais, as guaritas surgem integradas na decoração interrompendo, muitas vezes, um frontão ou equilibrando os elementos artísticos existentes, como em Almeida e em Estremoz (imagens 30 e 31). 14


6 • Almeida, Fortaleza

Todas as guaritas são diferentes de Fortaleza para Fortaleza e de Forte para Forte, 15 mas seguem, normalmente, o mesmo esquema e elementos artísticos em cada complexo defensivo. A sua forma mais tradicional é a redonda, havendo em Portugal outros desenhos geométricos: quadradas, rectangulares, poligonais, ­hexagonais e octogonais. Geralmente, a matéria-prima é o granito, surgindo ­noutros casos em tijolo burro. Por vezes, a técnica de fabrico é mista, usando-se os dois materiais referidos que, posteriormente, se revestem com a ­rgamassa. ­Referimos o exemplo da Praça de Marvão (imagem 7), onde as guaritas em tijolo burro foram enxertadas nas muralhas medievais do seu castelo.

15


Num ou noutro caso podem ser pintadas de branco ou numa variante de ocre. No presente, e nalguns exemplares, os pigmentos de cal foram substituídos por tintas plastificadas. 16 Nas coberturas colocam-se, geralmente, os mesmos materiais da sua construção base. 17 Em território nacional não detectámos nenhum caso de utilização de material azulejar. 18

7 • Marvão, Castelo

8 • Elvas, Fortaleza

16

9 • Estoril, Forte de São Pedro

10 • Oeiras, Forte de Nossa Senhora de Porto Salvo


11 • Monção, Fortaleza

12 • Almeida, Fortaleza

13 • Castelo de Vide, Fortaleza

Os sistemas de cobertura definem, muitas vezes, o cunho pessoal do Mestre e do Engenheiro Militar que projectou as Fortalezas, os Fortes e as guaritas, ­levando para outras regiões esse mesmo modelo, quer no Continente, no Espaço Atlântico, em África, Oriente e Brasil. 19 Quando a guarita é construída nas muralhas medievais, para onde não foram concebidas, esta obedece mais aos princípios utilitários do que à componente estética. Tal exemplo é evidente na guarita que se introduziu na muralha medieval em Monsanto da Beira (imagem 14), havendo um meticuloso cuidado, como podemos ­observar, com a segurança da estrutura e protecção da sentinela.

14 • Monsanto da Beira, Fortaleza

17


Bartizans Art and Ingenuity

Guérites Art et Génie

One of the clearest examples of art and ingenuity in military bastion architecture is provided by bartizans which, together with the Magistral and Heraldic Gates (images 30 and 31), characterise the defensive system of both fortresses and forts, whether along the harsh borderland or on the coast.

L’une des expressions artistiques de l’architecture militaire bastionnée est représentée par les guérites qui personnifient la structure défensive – avec les Portes Magistrales et l’Héraldique (images 30 et 31) – dans les Forteresses ou dans les Châteaux-forts nationaux à l’intérieur ou dans le littoral du pays.

It was during the Portuguese Restoration War, between 1640 and 1668, that the country saw a vast spread of modern, defensive fortifications spring up along its borders. The walls were built, in line with the designs and teachings of the foremost military engineers, on the bastion system.

Grâce aux Guerres de l’Acclamation, entre 1640 et 1668, le Portugal assista à l’édification, tout au long de son territoire national, d’un vaste ensemble de constructions défensives dites modernes. La typologie muraillée s’est organisée autour du concept architectonique bastionné. Pour ce fait, les projets et l’expérience des Ingénieurs Militaires.

Portuguese towns and cities were protected by new walls, contrasting with the old medieval enclosures. In some cases, at Marvão for example, and because the war effort did not allow for a standard defence system throughout the country, the fortifications had the characteristic features of military bastion architecture, such as bastions themselves, ravelins and bartizans. There are also, however, examples of towns and cities protecting themselves with a new granite ring, ready to house but also protected from artillery, by setting bartizans at strategic observation points which also provided excellent protection for the defending troops. Such defensive measures date back to medieval military architecture.

30

Les villes et les villages portugais furent protégés par de nouvelles ceintures muraillées, par opposition aux vieilles enceintes médiévales. Dans certains cas (comme à Marvão) et parce que l’effort de guerre ne permettait point un développement défensif uniforme dans tout le territoire, les forteresses furent à peine pourvues de quelques éléments constitutifs de la dite architecture militaire bastionnée, comme les bastions, les ravelins et les guérites. Dans d’autres cas, les villes et les villages se protégèrent avec une nouvelle ceinture granitique, préparée pour recevoir artillerie et pour s’en défendre. Les guérites étaient, donc, placés dans les points stratégiques pour observer et protéger les soldats, ces formes de protection existant déjà dans l’architecture militaire médiévale.


Garitas Arte y Ingenio

Una de las expresiones artísticas existentes en la arquitectura militar abaluartada está constituida por las garitas que, además de las “Portas Magistrais” y de la Heráldica (imágenes 30 y 31), identifican la estructura defensiva en las Fortalezas y en los Fuertes tanto en la “raia seca” como en el litoral o allende los mares. Fue en las Guerras de Aclamação entre 1640 y 1668 que Portugal edificó, a lo largo de su territorio nacional, un vasto conjunto de construcciones defensivas abaluartadas. El nuevo diseño amurallado se desarrolló con un concepto arquitectónico abaluartado, fijándose para esta práctica constructiva, en proyectos y enseñanzas de Ingenieros Militares que prestaron sus servicios en La Península Ibérica. Las ciudades y villas portuguesas fueron protegidas con nuevos lienzos, en oposición a las viejas cercas medievales. En algunos casos, debido al dispendio de la guerra que no permitía un desarrollo defensivo uniforme en todo el territorio, las plazas fueron apenas dotadas de algunos elementos constructivos característicos de la denominada arquitectura militar abaluartada, como los baluartes, los revellines y las garitas. Las garitas forman parte de las innovaciones técnicas al colocarlas en puntos estratégicos para la vigilancia, defensa y protección de los soldados que ejercían las funciones de centinelas en las fortalezas y fuertes. No obstante, estas formas de protección de la guardia que prestaba servicio de vigilancias y observación en los castillos y plazas, tienen su origen en la arquitectura militar medieval. 31


In Portugal, the bartizans in the Tower of S. Vicente, in Lisbon (images 3 and 4) are a remarkable example of art put to the service of war. According to Pires Nunes (NUNES 2005), the Dicionário de Língua Portuguesa, and my own work, bartizans are a covered space protected on all sides, with sentry boxes and a gate. A sentry stands guard here, with a good view of all around him, and is able to sound the alarm in the event of an approaching enemy force or any other circumstance threatening the security of the fortress, whether in time of peace or war. Its many and highly distinctive types can be seen in 17th and 18th century treatises by numerous European military engineers, such as Sébastien Le Preste, as well as the Portuguese specialists, Luís Serrão Pimental, Manuel Azevedo Fortes and Miguel Luís Jacob. Bartizans stand out, on the horizon, from the rest of the fortification; not simply due to the contrast of their verticality with the horizontal line of the walls, but also because of their decorative details, with the roof ornamentation being a particular highlight. Their locations vary but they were most commonly built at the corners of towers (images 1 and 2), at the vertex of the bastions and ravelins (image 6). They were also sometimes set at the entrance to military facilities, such as command posts, barracks, artillery barracks, riding arenas, magazines, bakeries and gates. On Magistral Gates, the bartizans blend in with the uninterrupted decoration, often, as a fronton or balancing the existing artistic features, as at Almeida and Estremoz (images 30 and 31).

32


À Lisbonne, les guérites de la Tour de S. Vicente (images 3 et 4) sont un exemple remarquable de l’art au service de la guerre. D’après Pires Nunes (NUNES 2005), le Dictionnaire de Langue Portugaise, et nous-même, les guérites se définissent comme étant un espace protégé de tout côté, couvert, ayant des tours de guet et une porte, où s’installe un guetteur pour observer ce qui se passe aux alentours et prévenir la garnison de l’approche d’une armée ennemie ou de n’importe quel danger. Leurs modèles sont divers et variés, ce que nous pouvons observer dans les ouvrages publiés, pendant le XVIIe et le XVIIIe siècles, par les militaires européens comme Sébastien Le Preste et des portugais Luis Serrão Pimentel, Manuel Azevedo Fortes et Miguel Luis Jacob, entre autres. De la ligne de l’horizon, les guérites ressortent de tout l’ensemble bâti, non seulement par leur verticalité mais aussi par leurs particularités esthétiques et décoratives comme les galanteries au sommet de la couverture. Leur emplacement est variable, le plus commun étant celui qui est installé au coin des tours (images 1 et 2), au sommet des bastions et des ravelins (image 6), mais aussi à l’entrée des équipages militaires: dans les gouvernements militaires, dans les casernes, dans les trains d’artillerie, dans les manèges, dans les dépôts d’explosifs, dans les usines de pain et dans les portes. Dans les Portes Magistrales, elles sont intégrées dans la décoration, interrompant souvent un fronton ou équilibrant les éléments artistiques existants, comme à Almeida et à Estremoz (images 30 et 31).

En Lisboa, las garitas de la Torre de San Vicente (imágenes 3 y 4) son el exponente decorativo más importante en la evolución de la arquitectura militar medieval hacia la abaluartada. Aceptando las ideas de Pires Nunes (Nunes 2005), en el Diccionario de Lingua Portuguesa y de nuestras apreciaciones, las garitas se definen como un espacio protegido por todos los lados, cubierto, con ventanas y una puerta. Es el habitáculo donde se instala un centinela para observar todo lo que le rodea y también, en caso de necesidad, alertar a la guarnición de la proximidad de de un ejercito invasor o de cualquier otra situación anómala a la seguridad de la población, tanto en tiempos de paz como de guerra. Los modelos son diversos, y muy variados, y las podemos contemplar en textos e ilustraciones de escritos publicados en los siglos XVII y XVIII, por tratadistas militares europeos, como Sébastien Le Preste, y los portugueses Luis Serrão Pimentel, Manuel Azevedo Fortes y Miguel Luis Jacob, entre otros. En la línea del horizonte las garitas sobresalen de los perfiles de la masa edificada, no solo por su verticalidad sino por sus particularidades estéticas y decorativas. Su localización es variable, siendo lo más común verla construida en la esquina de las torres (imágenes 1 y 2), en el vértice de los baluartes y revellines (imagen 6) y también en la entrada de los equipamientos militares: en los cuarteles, picaderos, fábricas de pan, en las portadas, trens y paiois. En las “Portas Magistrais” aparecen integradas en la decoración, interrumpiendo, muchas veces, un frontispicio o equilibrando los elementos artísticos como en Almeida y Estremoz (imágenes 30 y 31).

33


Bartizans vary from fortress to fortress and from fort to fort, but normally each defensive complex follows the same scheme and artistic features. Its most traditional form is round; although in Portugal other geometrical designs can be found: square, rectangular, polygonal, hexagonal and octagonal. Generally, the raw material is granite; although there are also brick examples. The production technique is sometimes mixed, with the two above-mentioned types of material being used and later lined with mortar. A good example of this is the Marvão Fort (image 7), where the brick bartizans were grafted onto the medieval walls of the castle. Occasionally, they might be painted white or in a shade of ochre. Some examples have now had the original whitewash replaced by plastic-based paint. The same materials are generally used for the roofing as in the rest of the construction; and no example using azulejos, the traditional Portuguese painted tiles, has been found in Portugal. The roofing systems often bore the personal stamp of the Master of Works and the military engineer who designed the forts, fortresses and bartizans, spreading the same model to other regions, whether on the Continent, the Atlantic islands, Africa, the Far East or Brazil. When bartizans were added to medieval walls, which they were not conceived for, utilitarian principles were adhered to more closely than aesthetics. A clear example is the bartizan set in the medieval wall in Monsanto da Beira (image 14), where great pains have been ­taken over the security of the structure and protection of the sentry.

34

Toutes les guérites sont différentes de Forteresse en Forteresse et de Château-fort en Château-fort, mais elles suivent normalement le même schéma et les mêmes éléments artistiques dans chaque complexe défensif. La forme ronde est la plus traditionnelle mais d’autres dessins géométriques figurent au Portugal: carrés, rectangulaires, polygonaux, hexagonaux et octogonaux. En général, la matière première est le granite mais, dans certains cas, il est remplacé par la brique. Parfois, la technique de fabrication est double et nous avons constaté que ces deux matériaux sont souvent revêtus de mortier. Voyons l’exemple de la Forteresse de Marvão (image 7) dans lequel les guérites en brique furent insérées dans les murailles médiévales du château. Dans les deux cas, elles peuvent être peintes en blanc ou ocre. De nos jours, dans certains exemplaires, les pigments de chaux ont été remplacés par des peintures plastiques. Ces mêmes matériaux de construction sont appliqués sur les surfaces. Cependant, dans certains cas, le mortier et la brique les remplacent. Dans le territoire national, nous n’avons pas observé l’utilisation de matériel céramique. Les systèmes de revêtement définissent, souvent, l’empreinte personnelle du maître et de l’ingénieur Militaire qui projecta les Forts, les Forteresses ainsi que les guérites, exportant ce même modèle dans d’autres régions (en Europe, dans l’espace atlantique, en Afrique, en Orient et au Brésil). Lorsque la guérite est édifiée dans les remparts médiévaux, sans la conceptualisation prévue, celle-ci obéit aux principes utilitaires plutôt qu’aux composants esthétiques. Ceci est visible dans la guérite qui fut introduite dans le rempart médiéval à Monsanto da Beira (image 14), en privilégiant la défense et la protection du guetteur.


Todas las garitas son diferentes pero cada Fuerte y Fortaleza siguen un mismo esquema y su construcción utiliza los mismos elementos artísticos en cada complejo defensivo. La forma más repetida es el cilindro pero en Portugal encontramos ejemplos con otros diseños geométricos: cubos, prismas rectangulares, hexagonales y octogonales. Generalmente, la materia prima constructiva es el granito, pero encontramos algunos casos en ladrillo y otros de construcción mixta, usándose los dos materiales referidos que posteriormente se revestían con argamasa. La plaza de Marvão (imagen 7) es un ejemplo donde las garitas de ladrillo fueron insertadas en las murallas medievales de su castillo. En ambos casos, pueden ser pintadas en tonos blancos o en tonos ocres. En la actualidad, en algunos ejemplares, los pigmentos de cal se han sustituido por pinturas plásticas. En las coberturas se utilizan, generalmente, los mismos materiales que en el resto del cuerpo de la garita. Hay ejemplos que difieren y en estos casos se utiliza argamasa o ladrillo. En el territorio nacional, no detectamos ningún material cerámico. Los sistemas de cobertura definen, muchas veces, el estilo personal del maestro o del Ingeniero Militar que proyectó los Fuertes, las Fortalezas y, naturalmente, las garitas llevando para otras regiones su estilo constructivo; en el continente, en el espacio Atlántico, en África, Oriente y Brasil.

30 • Almeida, Porta de São Francisco

31 • Estremoz, Porta de Santa Catarina

Cuando la garita se levanta sin la contextualización por la que las murallas fueron diseñadas, esta obedece más a principios utilitarios que a planteamientos estéticos. Este concepto es evidente en la garita que se introdujo en la muralla medieval de Monsanto da Beira (imagen 14).

35


44


Guaritas Arte

Art Art Arte

45


46

34 • Lisboa, Torre de S. Vicente (Torre de Belém)


35 e 36 • Caminha, Fortaleza

47


48

37 โ ข Valenรงa do Minho, Fortaleza


38 • Monção, Porta do Rosal

49


50

39 • Monção, Fortaleza


40 • Monção, Fortaleza

51


70


Guaritas Engenho

Ingenuity GĂŠnie Ingenio

71


65 • Lisboa, Torre de São Vicente (Torre de Belém)

72


66 • Oeiras, Forte de São Bruno

73


67 • Oeiras, Forte de São João das Maias

74


68 • Oeiras, Forte de Nossa Senhora do Porto Salvo

75


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.