Aventuras de Pedro, o grão de pólen

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Aventuras de

Pedro

Pedro é um grão de pólen, produzido numa pequena flor, que vai iniciar uma grande aventura.

o grão de pólen José Salvado & Rui Malhó

ISBN 978-989-8614-41-4

9 789898 614414

José Salvado Formou-se em Biologia Celular e Biotecnologia, pela FCUL, e aqui despertou para o fascinante mundo das plantas. Actualmente, como aluno de doutoramento em Biologia no Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier (Oeiras), dedica-se à investigação do desenvolvimento da semente de feijão. Em jovem começou a rabiscar em cadernos e folhas soltas, mas foi durante a faculdade que a sua paixão pela ilustração despoletou. Desde sempre utiliza motivos orgânicos e plantas nas suas ilustrações. Tem vários trabalhos publicados, tais como ilustrações para a indústria alimentar ou o livro de arte Eight Arms of Inspiration: The Octopus Art Project, e simultaneamente um curso de ilustração ciêntifica. Rui Malhó Professor Catedrático no Departamento de Biologia Vegetal da FCUL onde se doutorou e defendeu provas de Agregação. É membro da Academia das Ciências de Lisboa. Desde 1992 que integra a Universidade de Lisboa como Docente, exercendo funções no BioISI no qual coordena a linha temática “Biotechnology & Bioresources” e é líder do grupo “Plant Functional Genomics”. É membro colaborador do CFCUL. É autor e co-autor de inúmeros artigos em revistas internacionais. Participou em várias palestras, conferências internacionais e seminários. É coordenador dos livros The Pollen tube - A Cellular and Molecular Perspective (Springer-Verlag, 2006) e O Bosão do João – 88 poemas com Ciências (Bythebook, 2014).


Pedro era um grão de pólen. Nasceu na primavera, numa flor de “Arabidopsis thaliana”, uma pequena couve muito apreciada pelos homens, não para a cozinharem mas para a estudarem. A esta couve tudo lhe foi analisado *1 , como cresce, onde cresce, que genes transporta, como evoluiu. Mas isso não importa a Pedro que ignora tanto conhecimento sobre a sua planta-mãe e pensa apenas em cumprir o destino que lhe foi traçado à nascença. Pedro tinha milhares de irmãos, todos produzidos nas anteras, autênticas fábricas de montagem onde algumas células se dividem uma e outra vez *2 . Quando a antera de Pedro ficou cheia de grãos e sem mais espaço para os acomodar, as suas paredes rasgaram-se libertando todo o pólen que estava no seu interior.



O mundo que Pedro encontrou cá fora era hostil: vento, calor, insectos, ufff! Felizmente Pedro estava bem protegido, tinha à sua volta uma autêntica armadura, a exina *3 . Rodeado por esta capa impenetrável, Pedro não teve medo de ir à aventura e deixou-se levar por uma suave brisa primaveril que o elevou nos ares. O seu voo foi breve *4 , aterrou numa flor vizinha da sua, numa zona macia e envolvente no alto de uma torre. Ninguém tinha ensinado Pedro dos nomes que damos às coisas por isso ele não podia saber que estava agora no estigma de uma outra flor da mesma espécie.



Queres saber mais? *1

Arabidopsis thaliana é uma planta da

família das Brassicaceae (à qual pertencem também as vulgares couves). É provavelmente a planta mais estudada por cientis-

Plantas de

tas de todo o mundo e daí ser designada

“Arabidops is thaliana”

como um organismo modelo. Foi a primeira planta cujo genoma – o que está codificado no seu DNA – foi completamente conhecido (sequenciado). Actualmente conhecemos quase todas as suas proteínas bem como as suas funções, como se desenvolve, o que produz, como responde às variações no meio ambiente, etc. Conhecer detalhadamente um organismo é muito importante pois daí podemos tirar ilações que nos ajudam a fazer novas experiências para obtermos outras plantas, de outras espécies, que resistam melhor a doenças, que cresçam melhor e produzam mais, que consumam menos recursos.

*2

A esta divisão dá-se o nome de meiose. Nes-

te processo uma célula divide-se em duas e estas, por sua vez, dividem-se noutras duas. Na segunda divisão, a quantidade de DNA de cada célula é reduzida a metade originando-se os gâmetas (tal como os espermatozóides no ser humano). Assim, quando dois gâmetas se fundem (reprodução), a célula resultante volta a ter a quantid o as ostran o psis m os Arabid u l - co m z a e Flor de d as – corad erior. t s in ra u e e t an n no s de póle grãos

*3

dade de DNA normal. E é por isso que nós temos metade da informação genética proveniente de cada progenitor (pai e mãe).

A exina é a parede que rodeia os grãos de pólen e é ultra-resis-

tente. Por isso se encontram tantos grãos de pólen fossilizados. E cada espécie tem um desenho específico para esta armadura o que permite utilizá-los para identificar plantas, mesmo as que se extinguiram há milhares de anos.


*4

Os grãos de pólen podem ser disseminados pelo vento ou por

insectos. Como são muito resistentes podem ser levados por grandes distâncias e permanecerem viáveis durante longos períodos de tempo.

*5

Entre os grãos de pólen e as células do estigma (papilas) de flores

da mesma espécie existe uma troca de sinais químicos específicos que permite um auto-reconhecimento. Este reconhecimento assegura que o pólen de uma outra espécie não se desenvolva naquela flor. Nalgumas espécies esta troca de sinais pode também assegurar que, numa flor, não se desenvolvam os grãos de pólen que foram produzidos por essa mesma flor. Este processo chama-se auto-incompatibilidade e permite aumentar a diversidade do património genético. Algumas das moléculas utilizadas nesta troca de sinais são as responsáveis pelas alergias que muitas pessoas tem ao pólen.

*6

Nesta fase os grãos de pólen, além de absorve-

rem água, activam o seu metabolismo e desenvolvem o que se chama de tubo polínico. O tubo polínico cresce e penetra para o interior da flor, aproveitando espaços livres entre as células do estigma.

*7

Os grãos de pólen têm reservas de gorduras

(lípidos) que convertem em açúcar quando se desenvolvem. Estas reservas esgotam-se ao fim de algum tempo e as células têm então de passar a absorver os nutrientes disponíveis no exterior.

Grão de pó len

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