Saint Anthony and the Army
Santo António e o Exército
Santo António Tradição, História e Arquitetura Militares
Saint Anthony and the Army Tradition, History and Military Architecture AUGUSTO MOUTINHO BORGES PEDRO TEOTÓNIO PEREIRA
© EDIÇÃO: By the Book, Edições Especiais, para a Forma design e Exército Português TÍTULO: Santo António e o Exército. Tradição, História e Arquitetura Militares
APOIOS INSTITUCIONAIS
Câmara Municipal de Lisboa
Saint Anthony and the Army. Tradition, History and Military Architecture
© TEXTO: Augusto Moutinho Borges | Pedro Teotónio Pereira PREFÁCIO: General José Nunes da Fonseca REVISÃO: Margarida Oliveira TRADUÇÃO: Tania Gregg FOTOGRAFIA: Arquivo Histórico Militar | Associazioni Culturali Padova, Itália | Biblioteca Nacional de Portugal | Igreja de São Leonard de Noblac, Kotari | Museum of Arts and Crafts, Zagreb | Museum Ehingen | Royal Museum Greenwich | Verlag St. Peter Salzburg | Adelaide Nabais | André Oliverinha (CM Penamacor) | Pe. António Colimão | Augusto Moutinho Borges | Bruno Milhano (CM Lagos) | Carlos Rodrigues Marques | Cristiana Marina Silva (CM Braga) | Francisco Teotónio Pereira | Hugo Reis (CM Mirandela) | João Nascimento Ribeiro | José Avelar (ML) | José Vieira | Leonardo Inácio (CM Vimeiro) | Leonor Wagner Alvim (ML-SA) | Lenea Andrade (ADPHAA) | Lígia Russel Coelho (CM Vinhais) | Luís Chaves (CAVE) | Marta Miranda (CM Mafra) | Nuno Costa (CM Lagos) | Odete Barra (CM Monção) | Pedro Teotónio Pereira (ML-SA) | Fr. Róger Brunorio, OFM (Rio de Janeiro, Brasil) | Solange Bermúdez (DC-IC) APOIO TÉCNICO: Leonor Padinha | Leonor Wagner Alvim EDIÇÃO DE IMAGEM: Maria João de Moraes Palmeiro DESIGN: Margarida Oliveira | Forma, design COORDENAÇÃO EDITORIAL: Ana de Albuquerque | Maria João de Paiva Brandão IMPRESSÃO: Printer Portuguesa ISBN: 978-989-8614-90-2 DEPÓSITO LEGAL: 460 511/19 ABREVIATURAS AD • Arquivo Distrital ADPHAA • Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur AHM • Arquivo Histórico Militar
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PREFÁCIO
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PREFACE
APRESENTAÇÃO
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PRESENTATION
SANTO ANTÓNIO NA HISTÓRIA MILITAR
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SAINT ANTHONY IN MILITARY HISTORY
SANTO ANTÓNIO E O EXÉRCITO
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SAINT ANTHONY AND THE ARMY
IMAGENS DE SANTO ANTÓNIO MILITAR EM PORTUGAL
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IMAGES OF MILITARY SAINT ANTHONY IN PORTUGAL
IMAGENS DE SANTO ANTÓNIO MILITAR NO BRASIL
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MILITARY SAINT ANTHONY IN BRAZIL
SANTO ANTÓNIO MILITAR NO ORIENTE, EM ÁFRICA E NA EUROPA Índia, Macau, Angola e Moçambique, Europa (Espanha, Alemanha, Itália e Reino Unido)
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MILITARY SAINT ANTHONY IN THE ORIENT, AFRICA AND EUROPE India, Macao, Angola and Mozambique, Europe (Spain, Germany, Italy and United Kingdom)
CONDECORAÇÕES E SÍMBOLOS MILITARES 111 DECORATIONS AND MILITARY SYMBOLS OF SAINT ANTHONY DE SANTO ANTÓNIO SANTO ANTÓNIO NA ARQUITETURA MILITAR 117 SAINT ANTHONY IN MILITARY ARCHITECTURE Military Architecture in the Orient, Africa and Brazil Arquitetura Militar no Oriente, África e Brasil Gates and Doorways under the invocation of Saint Anthony Portas sob invocação a Santo António Place names of Saint Anthony in Military Architecture O nome de Santo António na Arquitetura Militar PROCISSÕES MILITARES DE SANTO ANTÓNIO 147 SAINT ANTHONY MILITARY PROCESSIONS SANTO ANTÓNIO MILITAR NO SÉCULO XXI 157 MILITARY SAINT ANTHONY IN THE 21ST CENTURY CRONOLOGIA GERAL | SANTO ANTÓNIO MILITAR 163 BIBLIOGRAFIA 167 BIOGRAFIA AUTORES 173
Este autor conta ainda o episódio passado com um corneteiro chamado António, condenado a seis dúzias de palmatoadas por ter ferido e espancado um camarada. “É possível que o rapaz, servindo-se do sistema de tatuagem, gravasse nas palmas das mãos a imagem de Santo António, pois chegada a hora de lhe ser aplicado o castigo, declara chamar-se António e ter o milagroso Santo António nas palmas das mãos. Dando-se conhecimento ao brigadeiro graduado, comandante do regimento, José Ricardo Peixoto, oficial de bastante rispidez, ordena que o referido corneteiro António não fosse castigado por palmatoadas por se chamar António e ter nas palmas das mãos a imagem do glorioso Santo que acompanhou o heróico Regimento de Infantaria N.º 19 durante a guerra peninsular” {ESCRIVANIS, 1914: 112}.
This author also tells of the episode with a bugler called Anthony, sen-
Mas para além destas tradições populares invocando devoções que se podem encontrar em qualquer ponto de Portugal, Santo António irá afirmar-se como o grande protetor do reino. Esta característica começa a evidenciar-se sobretudo durante o domínio filipino, sendo a sua devoção utilizada politicamente na parenética, como testemunham os diversos sermões dedicados ao padroeiro das coisas perdidas, numa alusão clara à independência perdida e que vem na tradição de inúmeros sermões dedicados a Santo António, da maior parte dos principais pregadores, que destacam a importância deste Santo nos momentos mais decisivos do reino. Assim é desde Fr. Paio de Coimbra [século XIII] a Diogo de Paiva de Andrade [1528-1575], Francisco Fernandes Galvão [1554-1610], João de Ceta [1578-1633], Cristóvão de Almeida [1620-1679], Luís da Ascensão [1638?-1693], Francisco Vieira [1649-1720], Diogo d’Anunciação Justiniano [1654-1713], até ao grande divulgador de Santo António, Pe. António Vieira [1608-1697], que lhe dedica nove sermões {SANTOS, 2006: 64 e segs.}.
However, in addition to these popular traditions invoking devotion,
tenced to six dozen strokes of the cane for wounding and beating a comrade. “It’s quite likely that the boy, having made use of the tattoo, had impressed the image of Saint Anthony onto the palms of his hands, for when the time for his punishment arrived, he pronounced himself to be Anthony and declared to have the miraculous Saint Anthony on the palms of his hands. Upon acquisition of such knowledge, senior Brigadier, José Ricardo Peixoto, Commander of the Regiment, known for his surliness, ordered that the afore-mentioned bugler, by name of Anthony, be pardoned of the punishment by caning, due to his name, Anthony, and the image on his hands of the glorious Saint, who had accompanied the heroic 19th Infantry Regiment during the peninsular war” {ESCRIVANIS, 1914: 112}.
which may be found anywhere in Portugal, St. Anthony asserted himself as the great protector of the kingdom. This characteristic began to emerge more prominently during the rule of King Philip, and his devotion was used politically in homiletics, as witnessed by the various sermons dedicated to the patron of lost things, clearly alluding to lost independence, and evident in the tradition of many sermons dedicated to St. Anthony by most of the leading preachers, who emphasized the importance of this saint in the most decisive moments of the kingdom. This may be observed in the sermons of Friar Paio de Coimbra [13th century], Diogo de Paiva de Andrade [1528-1575], Francisco Fernandes Galvão [1554-1610], João de Ceta [1578-1633], Cristóvão de Almeida [1620-1679], Luís da Ascensão [1638? -1693], Francisco Vieira [16491720], Diogo d’ Anunciação Justiniano [1654-1713], and the great promoter of St. Anthony, Friar António Vieira [1608-1697], who dedicated nine sermons to him {SANTOS, 2006: 64 et seq.}.
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Lisboa. Milagre do Sermão de Santo António aos Peixes. Painel de Azulejos, Séc. XVII. Museu de Lisboa (MC.AZU.0001) [JOSÉ AVELAR]
In his sermon at the Convento de Santo António dos Capuchos in 1641,
O franciscano Fr. João da Natividade, ao pregar no Convento de Santo António dos Capuchos em 1641, refere-se ao Santo como “o alferes-mor do exército espiritual formado pelos eclesiásticos para a defesa do reino, a quem Cristo crucificado convidara ao desprender o braço da cruz” (SANTOS, 2006: 64}, alusão a um episódio que mencionaremos no capítulo dedicado às procissões de Santo António.
Franciscan Friar, João da Natividade, refers to Saint Anthony as “the first ensign of the spiritual army formed by ecclesiastics to defend the kingdom, called to Christ on the Crucifix, who freed his arm from the cross to beckon him” {SANTOS, 2006: 64}, alluding to an episode that will be mentioned in the chapter on the processions of Saint Anthony. According to popular tradition, Saint Anthony was first enlisted under the rule of D. Afonso VI [1643-1683], in the terço da Câmara de Lisboa,
Segundo a tradição popular, Santo António foi alistado pela primeira vez no reinado de D. Afonso VI [1643-1683], no terço da Câmara de Lisboa, antes da Batalha de Montes Claros [1665], conforme referências que surgem em duas publicações de 1665, Decimas ao Sereníssimo D. Affonso VI quando mandou alistar por Soldado ao glorioso Santo António de Lisboa, feitas por Jeronymo Vahia na oficina de Henrique Valente de Oliveira, e Redondilhas a Santo António alistarse por soldado na occasiam da campanha do Alem-Tejo no anno de 1665, por Sebastiam da Fonseca, e Payva, na Officina de Henrique Valente de Oliveira, Impressor delRey nosso Senhor.
before the Battle of Montes Claros [1665], according to the references of two publications of 1665, Decimas ao Sereníssimo D. Affonso VI quan-
do mandou alistar por Soldado ao glorioso Santo António de Lisboa, feitas por Jeronymo Vahia na oficina de Henrique Valente de Oliveira, e Redondilhas a Santo António alistarse por soldado na occasiam da campanha do Alem-Tejo no anno de 1665, por Sebastiam da Fonseca, e Payva, na Officina de Henrique Valente de Oliveira, Impressor delRey nosso Senhor.
Frontispício do livro Decimas ao Serenissimo Rey D. Afonso VI quando mandou alistar por soldado ao glorioso Santo Antonio de Lisboa, feitas por Jeronymo Vahia. Lisboa, 1665.
Frontispício do livro Redondilhas a Santo Antonio alistarse por soldado na occasiam da campanha do Alem-Tejo no anno de 1665, por Sebastiam da Fonseca, e Payva. Lisboa, 1665.
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Almeida. Recriação das terceiras Invasões Francesas, 2017. [AUGUSTO MOUTINHO BORGES]
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Braga. Brasão de Armas da Ordem Terceira. [CRISTIANA MARINA SILVA]
As already mentioned, in military history, the intercession of Saint An-
Na história militar, Santo António é, como referimos, bastante procurado para interceder pelos exércitos no geral. Mas também no particular, onde cada soldado, desde o posto menos relevante até às patentes mais elevadas, procurava a sua intercessão para se salvar nos conflitos armados, quer em terra como no mar.
thony was hugely invoked by armies, in general, but also by individual soldiers, from the lowest position to the highest ranks. They called upon his intercession to save them in armed conflicts on land and at sea. The connection between Saint Anthony and the protection of cities, towns and villages has been spoken of since the 16th century, and there
Desde o século XVI são conhecidas, em Portugal, várias relações do Santo com a proteção de cidades, vilas e aldeias, havendo inúmeras referências a portas e partes de muralhas com o seu nome. Muitas vezes, eram colocadas nesses locais maquinetas para os transeuntes lhe orarem e reconhecidamente invocarem a sua proteção corporal, dos animais e sustento agrícola, mas também das inúmeras guerras que vinham de Castela e das razias praticadas por piratas e corsários ao longo da costa. A imagem do Santo podia ser armada isolada ou na companhia de outros (masculinos e femininos), como é o caso da Rua do Arco Escuro, em Lisboa, onde se vê um Registo de Azulejos do terceiro quartel do século XVIII com São Marçal, Nossa Senhora da Conceição e Santo António, testemunhado numa aguarela do artista Roque Gameiro, onde bem se atesta o culto espalhado por todo o território nacional.
are several references to doorways and parts of stone walls bearing his name. Monstrances were frequently placed in these locations so that the passers-by could pray and invoke his protection of their physical integrity, that of their animals and agricultural sustenance, but they also asked for his intercession in the looming wars with Castile, and the devastation ca≠used by pirates and corsairs along the coast. The mounted image of Saint Anthony could be found in isolation, or accompanied by other saints (male and female), such as the case of Rua do Arco Escuro, in Lisbon, where a display of tiles dating back to the third quarter of the 18th century with Saint Martial, Our Lady of the Conception and Saint Anthony may be observed, as is also evident in a watercolour by Roque Gameiro, in which the cult that had spread throughout the entire country is clearly evident.
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Rua do Arco Escuro em Lisboa, onde se vê o Registo de Azulejos do terceiro quartel do Séc. XVIII com São Marçal, Nossa Senhora da Conceição e Santo António. Alfredo Roque Gameiro, c. 1925. Aguarela s/ papel. [MUSEU DE LISBOA (MC.PIN.0143)] 29
S A NTO A NTÓ NIO E O EXÉRCITO SA I NT A NT HO NY A N D T H E A R M Y
Mesmo antes
das Campanhas da Aclamação [1640-1668]
Even before the Restoration Wars [1640-1668]
em território nacional, Santo António de Lisboa [Fernando Martim de Bulhões e Taveira Azevedo, Lisboa, 15 de agosto de 1191 – Pádua, 13 de junho de 1231] era invocado como protetor de inúmeras estruturas defensivas medievais {PINTO, 1895}, das quais damos como exemplo as Portas de Santo António em Bragança, Mirandela, Penamacor e Vinhais. Já referimos que, por vezes, era colocada a sua imagem num nicho, junto das principais entradas das cidades, como acontece em Lisboa, onde existiam nichos com a imagem de Santo António junto da Porta de Alfofa, da Porta da Mouraria, da Porta de Santa Catarina, na rua da Tanoaria, junto ao convento de Santa Marta, e junto ao Palácio da Bemposta {PEREIRA, 2015: 220}, convidando o transeunte à oração e invocação do frade franciscano, que era “medianeiro entre os homens e a divindade, advogado das Almas do Purgatório, dos objetos perdidos e dos bons casamentos, protetor dos animais, fazedor de muitos milagres” e, para o caso que nos interessa, “companheiro de armas no exército português” {AGUIAR, 1952}. Foi após a Aclamação de 1640, durante as Guerras da Restauração e a consequente proliferação da construção das muralhas abaluartadas1 para defesa do vasto Império de Portugal, que Santo António, entre outros santos, foi invocado para, através dos seus patronatos e designações, proteger as Praças-de-guerra. Nestas, incluem-se ainda as portas magistrais, os baluartes, os revelins e cavaleiros, os inúmeros panos de muralha, além de outros edifícios com funções militares, como o paiol, as capelas e mesmo alguns eixos viários.
in Portugal, Saint Anthony of Lisbon [Fernando Martim de Bulhões e Taveira Azevedo, Lisbon, 15 August, 1191 – Padua, 13 June 1231] was invoked as the protector of many medieval defensive structures {PINTO, 1895}, of which the Portas de Santo António in Bragança, Mirandela,
Penamacor and Vinhais are examples. As already mentioned, it was quite frequent to find the image of Saint Anthony placed in an alcove or recess of a wall, close to a city’s main points of entry, such as in Lisbon, where recesses with the image of Saint Anthony may be observed at the Porta de Alfofa, Porta da Mouraria, Porta de Santa Catarina, in Rua da Tanoaria, at the convent of Santa Marta, and Bemposta Palace {PEREIRA, 2015: 220}, inviting the passer-by to pray and invoke the Franciscan friar, who was “mediator between men and divinity, advocate of the Souls in Purgatory, of lost objects and good marriages, protector of animals, maker of many miracles” and, for the case in hand, “companion in arms of the Portuguese army” {AGUIAR, 1952}.
It was after the Acclamation of 1640, during the Restoration Wars and consequent proliferation of bulwarks, constructed to defend Portugal’s vast empire, that Saint Anthony, among other saints, was invoked to protect the strongholds. They included the double gate system, the bulwarks, ravelins and cavaliers, the many walls and other buildings with military functions, such as the magazine, chapels and even a number of thoroughfares.
Santo António de Lisboa. Autor desconhecido, Séc. XIX (?). Pintura sobre papel e tecido, bordado a ouro. Museu Antoniano de Aljezur.
1. Também designadas como construções à moderna, quer sejam fortalezas, quer fortes.
[ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DO PATRIMÓNIO HISTÓRICO E ARQUEOLÓGICO DE ALJEZUR]
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Pratos, Fábrica Viúva Alfredo Oliveira. Coimbra, Séc. XX. Barro vermelho vidrado. Museu de Lisboa - Santo António. (MA.CER.0020, MA.CER.0017 e MA.CER.0023) [JOSÉ VIEIRA]
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Cascais, Santo António que acompanhou o Regimento de Infantaria de Cascais na guerra peninsular. Registo de azulejos colocado em alçado habitacional, Rua Regimento N.º 19 de Infantaria. [LUÍS CHAVES]
Sacramento, Uruguai, Santo António Militar (de Lagos, Portugal). Fábrica Sant’Anna pintado por Migu, Década de 1960. Painel de azulejos aplicado no exterior de uma residência em Colónia, c. 1980. [SOLANGE BERMÚDEZ]
If Saint Anthony was enlisted and participated in military events, his fig-
Mas se o Santo foi alistado e tomava parte em acontecimentos militares, a sua figuração era real, pois desta forma os soldados sentiam que também participava na linha de fogo e, como eles, sofria as agruras da vida e morte, sendo muitas vezes trespassado pela metralha opositora. Ainda hoje se comprovam as feridas do Santo na imagem que se encontra na Capela de Nossa Senhora da Saúde, em Setúbal, ou a martirizada imagem nas Portas de Santo António ou Portas da Vila, em Bragança, quando em 1762 lhe foram aplicados dois pregos na boca pelos espanhóis. O artista português Cyrilo Wolkmar Machado [1748-1823], em 1807, quando se encontrava no Mosteiro de Mafra como pintor régio, desenhou uma gravura onde a escultura de Santo António se mostra completamente chacinada pelos franceses, aquando da sua instalação no mosteiro como quartel-general. É uma imagem extremamente violenta pela brutalidade do martírio, que expressa o ódio dos invasores para com Santo António, protetor dos exércitos portugueses no campo de batalha.
uration was real, as this way the soldiers felt that he also partook in the line of fire and, like them, faced the hardships of life and death, often wounded by the opponent’s shrapnel. Even today, the wounds of Saint Anthony may be seen in the image displayed in the Capela de Nossa Senhora da Saúde, in Setúbal, or the martyred image on the Portas de Santo António or Portas da Vila, in Bragança, when two nails were driven into his mouth by the Spanish in 1762. In 1807, when Portuguese artist, Cyrilo Wolkmar Machado [1748-1823], was a royal painter at the Monastery of Mafra, he drew an image where the sculpture of Saint Anthony is seen to be completely massacred by the French, at the time of their occupation of the monastery, when they converted it into their headquarters. It is an extremely violent image, given the brutality of the martyrdom, expressing the hatred of the invaders towards Saint Anthony, the protector of Portuguese troops on the battlefield.
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Profanação dos templos. Cirilo Volkmar Machado. Desenho a tinta-da-china s/ papel e guache branco. Conjunto de 17 desenhos da Série das Invasões Francesas (1807-1809). [BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL (COTA D-94-P_17)]
To date, there are still four wooden sculptures of Military Saint Anthony
Até ao presente chegaram-nos quatro esculturas em madeira de Santo António Militar das seguintes Unidades: Regimento de Infantaria de Lagos4, Regimento de Infantaria de Tavira, Regimento de Infantaria N.º 19 de Cascais5, Museu Militar de Bragança, substituindo a que se colocou na Porta da Vila para evitar furtos {BORGES, 2017: 26}6. Há referência a outras imagens em território nacional, in situ, em portas, capelas e oratórios, como a das Portas de Santo António na fortaleza de Estremoz, em mármore, e do oratório do Quartel-General de Caminha, em granito. Das esculturas das Portas de Santo António em Almeida e Penamacor nada se sabe, pois as múltiplas ações de cerco, explosões, ocupação e derrube não deixaram registo do seu desaparecimento e substituição.
from the following Units: Infantry Regiment of Lagos, Infantry Regiment of Tavira, 19th Infantry Regiment of Cascais, Military Museum of Bragança, replacing that which was displayed on the Porta da Vila to avoid theft {BORGES, 2017: 26}. There are references to other images in Portugal, in situ, on doors, in chapels and oratories, such as the Portas de Santo António in the fortress of Estremoz, in marble, and the oratory of the military headquarters in Caminha, in granite. Nothing is known of the sculptures of the Portas de Santo António in Almeida and Penamacor, as the multiple sieges, explosions, occupations and defeat left no trace of their disappearance or replacement. As regards the fortress of Peniche, where Saint Anthony was patron of the 13th Infantry Regiment, there are references to his existence in the
Da fortaleza de Peniche, sendo patrono do Regimento de Infantaria N.º 13, há referências à sua existência na extinta capela de Santo António. Quando o Regimento foi transferido para Vila Real, a imagem ficou na fortaleza, encontrando-se atualmente na capela de Nossa Senhora da Conceição. Em Vila Real, na falta do seu patrono, os militares adotaram uma imagem do Santo que se encontrava em oratório próprio na rua da Corredoura, muito próximo de onde estavam aquartelados.
extinct chapel of Saint Anthony. When the Regiment was transferred to Vila Real, the image remained in the fortress, and may currently be found in the chapel of Our Lady of the Conception. In Vila Real, without their patron, the soldiers adopted an image of the Saint that was in an oratory in Rua da Corredoura, very close to where they were stationed.
4. Em depósito no Museu Municipal de Lagos. 5. Em depósito no Núcleo Museológico do Buçaco, na dependência do Museu Militar de Lisboa. 6. A escultura foi furtada cerca de 2005, sendo recuperada posteriormente. Para evitar mais furtos, a escultura original está em depósito no Museu Militar de Bragança, tendo sido colocada na Porta uma réplica, protegida por acrílico.
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MUSEU
Municipal de Lagos
Municipal Museum of Lagos
Santo António Militar, escultura em madeira, estofada e policromada, século XVII e respectivo altar de campanha, expostos no Museu Municipal de Lagos, proveniente do antigo Regimento de Infantaria desta cidade, que acompanhava os militares nas campanhas da restauração. Representado com o hábito franciscano e cordão com os três nós, símbolo dos votos de pobreza, obediência e castidade, segura no lado esquerdo o livro, símbolo de sabedoria, onde se senta o Menino Jesus. Resplendores em prata. Faixa encarnada de oficial britânico. Sobre esta escultura foi reproduzido um bilhete-postal pela Comissão Central 1.º de Dezembro de 1640, atualmente designada como Sociedade Histórica para a Independência de Portugal, com texto explicativo onde se referem diversas ações militares de Santo António. Dizeres:
Military Saint Anthony, a wooden upholstered and polychrome 17th century sculpture and respective campaign altar, exhibited in the Municipal Museum of Lagos, from the former Infantry Regiment of this city, which accompanied the soldiers in the restoration wars. Portrayed with the Franciscan habit and rope with three knots, symbolizing the vows of poverty, obedience and chastity, holding the book on his left, symbol of knowledge, on which the Child Jesus is seated. Silver halos. The red sash of a British officer. A postcard was made of this sculpture by the Comissão Central 1.º de Dezembro of 1640, currently renamed as the Historical Society for the Independence of Portugal, accompanied by a text in which a number of Saint Anthony’s military actions are mentioned: “By charter of 29 January, King Peter II ordered The Glorious Portuguese Patron, Saint Anthony, be declared a voluntary soldier of the 2nd Infantry Regiment of Lagos, to whose prestige
“Por alvará de 29 de Janeiro de 1668, Ordenou D. Pedro II que se declarasse com praça assente, como soldado voluntário no 2.º Regimento de Infantaria de Lagos o Glorioso Patrono Português, Santo António, a cujo prestígio entre os povos do Algarve era atribuído o entusiasmo, a constância e a fé patriótica, com que as tropas dessa província combateram heroicamente pela independência, durante o longo período das famosas Campanhas da Restauração. Em 1683 foi o mesmo glorioso Santo promovido a capitão para o mesmo Regimento. Há na cidade de Lagos a bonita igreja de Santo António, que pertence à Guarnição Militar e que foi erigida no ano de 1668. Nas longas Campanhas da Restauração, desde 1640 até 1668, os Regimentos de Lagos, bem como todas as tropas recrutadas no Algarve e em toda a região alentejana, apresentaram-se sempre briosamente combatendo com assinalado valor em prol da independência…”
among the people of the Algarve the enthusiasm, perserverance and patriotic faith with which the troops of this province heroically fought for independence, during the long period of the famous Restoration Campaigns were attributed. In 1683, the same glorious Saint was promoted to captain of the same Regiment. The fine church of Saint Anthony in the city of Lagos belongs to the Garrison and was built in the year 1668. During the long Restoration Campaigns, from 1640 to 1668, the Regiments of Lagos, in addition to all the troops recruited in the Algarve and in the entire Alentejo region, were always well presented and fought remarkably in the name of independence...”
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Restauração de Portugal, em 1.º de Dezembro de 1640. Séc. XX. Postal. [MUSEU DE LISBOA - SANTO ANTÓNIO (MA.PT 0254)]
Lagos, Santo António Militar, Regimento de Infantaria N.º 2. Museu Municipal de Lagos (MMJF.6601). [BRUNO MILHANO]
IGREJA
Matriz de Tavira
Parish Church of Tavira
Santo António Militar, escultura em madeira, estofada e policromada, século XVII, que se encontra na Igreja Matriz de Tavira, proveniente do antigo Regimento de Infantaria desta cidade. Representado com livro, símbolo da sabedoria, à esquerda, onde se senta o Menino Jesus tendo o globo na mão esquerda, e cruz na mão direita, cordão com três nós ao centro. Cruz e resplendores em prata. Faixa encarnada em tecido com duas borlas.
Military Saint Anthony, a wooden upholstered and polychrome 17th century sculpture, displayed in the Parish Church of Tavira, from the former Infantry Regiment of this city. Depicted with the book, symbol of knowledge, on the left, on which the Child Jesus is seated with the globe in his left hand, and the cross in his right hand, the rope with three knots in the centre. The cross and halos in silver. Red fabric sash with two tassels.
Tavira. Na página da esquerda: teto da Igreja Matriz. Na da direita: Santo António Militar, proveniente do antigo Regimento de Infantaria. [JOÃO NASCIMENTO RIBEIRO]
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