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PONTO DE VISTA_360_ed214
Confissões em Livre Associação 2
*Leonardo Medeiros
A ilustre editora desta heróica publicação é condescendente com este modesto cronista. A exorbitância de adjetivos , a demora na entrega, o baixo nível ideológico. Tudo ela atura e ainda estimula. Na última edição, ciente das limitações do tamanho do texto a ser escrito, empolguei-me e escrevi uma vastíssima confissão, sumariamente cortado em dois pela criteriosa editora.
Agora segue a segunda parte (que não faz o menor sentido sem a primeira.) Provavelmente por causa desta infeliz introdução que agora redijo, haverá ainda uma terceira, para maior sofrimento do sentido.
Já que me estrepei mesmo e sou um roqueiro tosco, aproveito a boquinha para fazer um convite, ou melhor, uma convocação: No próximo dia 25, estarei em Santa Cruz com a banda Blockbusters, para cantar com vocês clássicos do Rock. Vai ser no Bar do CERSÃO e custa só 15 pratas. Toda a renda vai para a Vaquinha de Alimentos, também administrada pela heróica editora deste periódico.
Segue a continuação. Se você não entender nada, volte a edição anterior, ou reclame com a editora, que cortou sem dó o pobre textículo (diminutivo de texto):
Meus amigos ricos ganhavam dos pais um brinquedo que chamava “action man” que era uma versão masculina das bonecas das meninas. Um soldado barbado com cicatrizes de guerra, que trocava de uniforme para as mais variadas missões. Eu tinha uma inveja visceral deles, e não acreditava quando explodiam os bonecos importados a dólar com bombinhas de São João. Uma década depois, chegou no brasil o mesmo boneco, batizado de “Falcon”. Meu irmão caçula ganhou um.
O mundo não é justo.
Meu pai tinha um amigo magnata italiano que ía em casa uma vez por ano e levava para meu irmãozinho um presente vistoso.
Uma vez deu de presente para a criança que mal andava uma Ferrari a pedal, magnífica, de plástico vermelho, daquelas que você entrava e girava o volante.
O mundo não é justo.
Meus pais, talvez incomodados com a injustiça, faziam com que o malacafento do italiano me trouxesse presentinhos tipo peão, chaveiro, dominó. Eu queria mesmo era enfiar o peão no olho do maledeto.
Será que vem daí minha desconfiança contra os ricos? Rancor? Ressentimento? Sentimentos menores? Não ficarei prisioneiro de sentimentos baixos. Rico é bom, rico é pop.
Não tinha na TV um reality show das ricas? Era engraçado. Tinha uma loirona que tomava champagne o tempo todo e uma maluca que ria como o Coringa. Amo os ricos. Eles são engraçados, arrumam empregos bem pagos pra gente. Vivi enganado todas essas décadas, por causa do magnata italiano da Ferrari de plástico.
O dono do Twitter, aquele cara estranho (pra ser educado), é o sujeito mais rico do mundo. Sei lá. Entre os ricos tem os bacanas e tem os bananas. Entre os pobres também. O que tem de pobre chato por aí não tá no gibi. Aquela roda desafinada de pagode com cerveja barata. Argh! E eu achando que sabia das coisas, saíndo por aí dando lição de moral. Não sei nada. Sou preconceituoso. O mundo não se divide entre ricos e pobres, mas entre bacanas e bananas.
Vivendo e aprendendo.
Longe é onde você não quer ir...
* Maurício Salemme Corrêa
Essa é mais uma frase do meu querido e saudoso pai, Sr.Dedé.
Vou apenas, de forma muito cuidadosa, com muita parcimônia, corrigir a afirmação dele: Acontece que, às vezes, até queremos ir, a um casamento, uma comemoração, um evento, um momento de muita alegria, ou até de muita tristeza, queríamos muito, porém, às vezes não podemos, seja por compromissos anteriormente assumidos, ou até por falta de recursos, grana, condições mesmo... Mas, a frase dita muitas vezes por ele, tinha um sentimento concreto e muito objetivo, quanto ao que realmente você quer...
Por muitas vezes, até poderíamos ir, mas não era tão relevante, nem prazeroso, muito menos agradável e aí o “era longe”, nos auxilia e até de forma muito confortante, pelo menos para nós, nos fazem ter o sentimento de alívio... Poderia ser algo que estivesse acontecendo na nossa vizinhança, muito perto, quase ao lado...
Não recrimino quem age assim, afinal, já fiz isso algumas vezes e quanto mais o tempo passa, a idade avança, os amigos são cada vez mais seletos, a vontade fica ainda mais seletiva, e o ser feliz é muito, mas muito mais importante do que estar em um lugar em que não faz muito sentido estar, a frase do Sr. Dedé faz, cada vez mais sentido...
Longe, é onde você não quer ir... E não vou!!!