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A “Melhor” Idade

*Leonardo Medeiros

Aquele que inventou que depois dos 60 começa a “melhor idade” deve ser um profissional de marketing de fábrica de fraldas geriátricas.

Convenhamos, de que adianta ser “sábio” se nenhum jovem desmiolado perde tempo te perguntando se vale a pena ou não encher a cara de cachaça, investir em pirâmides de bitcoins, ou contratar um coach (argh!)?.

A tal sabedoria fica sua, consigo mesmo. O velhote careca de barbas brancas saberia te aconselhar, mas as rugas subtraem credibilidade. Melhor acreditar num youtuber adolescente que tem opinião pra tudo.

A premiada série “Sex Education”, da Netflix, apresenta a metáfora perfeita: um adolescente virgem que ganha dinheiro vendendo aconselhamento sexual aos colegas. Se fosse um velho experiente, a série não teria a menor graça.

Quando me casei pela primeira vez meu pai me aconselhou: “não case”! Desobedeci ao conselho enfático dizendo juvenices do tipo: “você não acredita mais no amor”. Uma década depois, procurei meu pai, advogado, para cuidar da minha separação. Ele aconselhou: “não separe”. Não entendi nada. Ele franziu a testa como fazem os sábios e severamente declarou: “há dez anos eu disse pra você não

se casar”. Entendi, mas não havia tomado suficientes cascudos da vida para abandonar minha fé nas paixões desenfreadas. Precisei chegar aos 50 pra ficha cair.

O pior de tudo é que agora, aos 60, com cabeça boa e a sabedoria de não abraçar mais a certeza, o jogo começa a se aproximar do fim. Injusto isso. A vida é assim, injusta, feita de som e fúria.

Apelemos ao bardo, o grande poeta e desvendador da alma humana. Shakespeare criou esse personagem melancólico, que no auge dos questionamentos existenciais, séculos antes da psicanálise e do existencialismo, puxa uma faca e questiona a própria existência: “Ser ou não ser, esta é a questão. O

que é mais nobre? Sofrer na alma as flechadas do acaso, Ou lutar contra esse oceano de sofrimento, Impondo-lhe um fim? Morrer, dormir, nada mais. Com esse sono por ponto final aos males do coração e aos instintos da carne, optando por um pacífico desenlace. Morrer!

Mas aí surge a pergunta: nesse sono da morte, que sonhos podem vir fora da confusão da vida?

Isso nos obriga a refletir. Nos faz suportar essa vida de agruras. Pois quem suportaria as chicotadas e o escárnio do tempo, as injustiças do opressor, as afrontas dos orgulhosos, a tortura do amor desprezado, as demoras da lei, a insolência das autoridades e os pontapés que o bom trabalho recebe dos incompetentes?

O certo seria poder gozar da paz oferecida pela ponta deste punhal?

Quem suportaria esse fardo, achando melhor sofrer uma vida fatigante se não fosse pelo medo do que existe após a morte?

Esse país desconhecido de cujos campos nenhum viajante retornou, e que nos confunde a vontade e nos faz suportar os males que temos, em vez de fugir para o que não conhecemos.

Essa consciência nos faz a todos covardes

E as cores da decisão empalidecem diante da luz do pensamento. E E os grandes planos vistos desse ângulo, mudam de sentido e deixam de ser ação.”

Artrites, artroses e calvícies à parte, vale a pena continuar só pra ler de vez em quando maravilhas como essa. A salvação está na arte. No que nos faz verdadeiramente humanos.

*ator, escritor e vocalista de banda de rock

Referências

* Maurício Salemme Corrêa

A construção de um ser humano é feita desde a concepção até a formação de cada um, que uma vez iniciada, não acaba nunca. Sim, somos uma eterna evolução e que bom que é assim. Podemos aprender coisas novas, corrigir falhas que cometemos, olhar para traz, para o lado e para frente, sempre na busca de nos tornarmos melhores a cada dia.

Nesse caminho que às vezes é feliz e em outras nem tanto, vamos tendo como referências algumas pessoas muito próximas, outras nem tão íntimas e ainda podemos nos espelhar até em gente que nunca tivemos a oportunidade de conversar sequer uma palavra. Meu saudoso pai o Sr.Dedé, foi um deles e sinto ainda muita falta dele.

Vasculhando umas fotos antigas, encontrei essa que compartilho com vocês. Nela estão meu pai e o José Eduardo Catalano que dispensa maiores apresentações pela grandeza dos seus trabalhos como professor, advogado, apresentador, locutor e pessoa de uma educação e cultura ímpares. É ainda uma referência para mim.

A curiosidade da foto em questão, é que eles estavam apresentando algum evento juntos, dividindo o mesmo microfone, as mesmas emoções e fazendo com certeza algo de bom para Santa Cruz, como sempre fizeram.

O fato é que, meu pai era de um lado da política e o Catalano de outro e em uma época que só havia azul e vermelho... O mais legal é que, embora em lados opostos sempre houve um respeito mútuo entre eles, digo mais, uma admiração de um para com o outro e vice-versa.

As boas referências que temos que buscar na vida, podem estar em lados opostos, mas sempre no caminho do bem!!!

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