ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeira-RJ | Cristina P. Corrêa | UNIEVANGELICA

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TC

cadernos de

Orla Urbana ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

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issuu.com/cadernostc

Cadernos de TC 2020-2 Expediente

Direção do Curso de Arquitetura e Urbanismo Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Corpo Editorial Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Simone Buiati, M. arq. Coordenação de TCC Rodrigo Santana Alves, M. arq. Orientadores de TCC Maíra Teixeira Pereira, Dr. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Detalhamento de Maquete Madalena Bezerra de Souza, E. arq. Seminário de Tecnologia Jorge Villavisencio Ordóñez, M. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Seminário de Teoria e Crítica Pedro Henrique Máximo, M. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Expressão Gráfica Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Simone Buiate Brandão, M. arq. Secretária do Curso Edima Campos Ribeiro de Oliveira (62)3310-6754


Apresentação Este volume faz parte da coleção da revista Cadernos de TC. Uma experiência recente que traz, neste semestre 2020/1, uma versão mais amadurecida dos experimentos nos Ateliês de Projeto Integrado de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo (I, II e III) e demais disciplinas, que acontecem nos últimos três semestres do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Anápolis (UniEVANGÉLICA). Neste volume, como uma síntese que é, encontram-se experiências pedagógicas que ocorrem, no mínimo, em duas instâncias, sendo a primeira, aquela que faz parte da própria estrutura dos Ateliês, objetivando estabelecer uma metodologia clara de projetação, tanto nas mais variadas escalas do urbano, quanto do edifício; e a segunda, que visa estabelecer uma interdisciplinaridade clara com disciplinas que ocorrem ao longo dos três semestres. Os procedimentos metodológicos procuraram evidenciar, por meio do processo, sete elementos vinculados às respostas dadas às demandas da cidade contemporânea: LUGAR, FORMA, PROGRAMA, CIRCULAÇÃO, ESTRUTURA, MATÉRIA e ESPAÇO. No processo, rico em discussões teóricas e projetuais, trabalhou-se tais elementos como layers, o que possibilitou, para cada projeto, um aprimoramento e compreensão do ato de projetar. Para atingir tal objetivo, dois recursos contemporâneos de projeto foram exaustivamente trabalhados. O diagrama gráfico como síntese da proposta projetual e proposição dos elementos acima citados, e a maquete diagramática, cuja ênfase permitiu a averiguação das intenções de projeto, a fim de atribuir sentido, tanto ao processo, quanto ao produto final.

A preocupação com a cidade ou rede de cidades, em primeiro plano, reorientou as estratégias projetuais. Tal postura parte de uma compreensão de que a apreensão das escalas e sua problematização constante estabelece o projeto de arquitetura e urbanismo como uma manifestação concreta da crítica às realidades encontradas. Já a segunda instância, diz respeito à interdisciplinaridade do Ateliê Projeto Integrado de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo com as disciplinas que contribuíram para que estes resultados fossem alcançados. Como este Ateliê faz parte do tronco estruturante do curso de projeto, a equipe do Ateliê orientou toda a articulação e relações com outras quatro disciplinas que deram suporte às discussões: Seminários de Teoria e Crítica, Seminários de Tecnologia, Expressão Gráfica e Detalhamento de Maquete. Por fim e além do mais, como síntese, este volume representa um trabalho conjunto de todos os professores do curso de Arquitetura e Urbanismo, que contribuíram ao longo da formação destes alunos, aqui apresentados em seus projetos de TC. Esta revista, que também é uma maneira de representação e apresentação contemporânea de projetos, intitulada Cadernos de TC, visa, por meio da exposição de partes importantes do processo, pô-lo em discussão para aprimoramento e enriquecimento do método proposto e dos alunos que serão por vocês avaliados.

Maíra Teixeira Pereira, Dr. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq.



ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia-RJ Ao analisar a atual situação dos espaços públicos presentes nas cidades brasileiras, surge o questionando acerca dos espaços que desejamos para o futuro. Como seriam os locais ideais para a troca de informações e prática de atividades ? A orla da cidade de São Pedro da Aldeia no interior do estado do Rio de Janeiro é formada por um conjunto de elementos que formam a identidade da cidade, a recuperação da sua margem e das vivências irão reforçar o caráter público e coletivo desse espaço. Assim, com a requalificação da orla, questões sociais e ambientais serão tratadas, prevendo além de impulsionar o turismo, economia, lazer e esportes, traçar também diretrizes para resolver questões de infraestrutura pública e valorização de edifícios históricos.

Cristina Pires Corrêa

Orientadora: Maíra Teixeira Pereira cristinapires.arq@gmail.com


Às Margens Requalificação da orla da cidade de São Pedro da Aldeia, no estado do Rio de Janeiro.

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Cristina Pires Corrêa


Segundo Peixoto (2009), a requalificação urbana é um conceito atualmente recorrente utilizado em operações urbanísticas, arquitetônicas e de intervenção no espaço público. Um conjunto de intervenções em centros históricos ou zonas desprezadas pelo processo de urbanização. Partindo de um contexto e vivência no local, foi concebido o projeto de requalificação da orla do centro da cidade de São Pedro da Aldeia, localizada na Região dos Lagos a 150km da capital carioca, mais precisamente às margens da Laguna de Araruama. O local está presente na rota de turistas para veraneio desde a década de 60, com a chegada da rodovia e construção da ponte “Rio-Niterói”, oferencendo programas ao ar livre, principalmente os esportes náuticos e de areia, além das cosntruções históricos e culturais erguidos durante o período de colonização. O local apresenta certa complexidade se tratando de uma paisagem já consolidade no ambiente urbano, ocupada e constantemente em uso. Porém, na contramão, nos deparamos com problemas relacionados à falta de infraestrutura e necessidade de aplicação de novas atividades e equipamentos, com o intuito de oferecer o melhor

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para a população que usufrui diariamente desse espaço. A orla é formada por um conjunto de elementos que formam a identidade da cidade, a recuperação da sua margem e das vivências irão reforçar o caráter público e coletivo desse espaço. A proposta reconhece a água, as vias e os edifícios como um conjunto que compõe o ambiene público, onde exercem função primordial para a vida em sociedade, concretizada por um projeto que considera a via como um conector físico entre o meio urbano e o natural. Além disso, a preservação de áreas verdes, requalificação das calçadas, aumento das áreas permeáveis, inserção de equipamentos, o tratamento correto da água e a conexão dos pedestres com o ambiente são ações que estimulam a vivência na cidade e proporcionam melhor qualidade de vida. Sendo assim, com a requalificação da orla, questões sociais e ambientais serão tratadas, prevendo além de impulsionar o turismo, economia, lazer e esportes, traçar também diretrizes para resolver questões de infraestrutura pública e valorização de edifícios históricos.

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Relações históricas, espaço e lazer


Água relações de conflito ao longo da história e criação da “imagem”

LEGENDAS: [f.01] Rio Tietê,São Paulo. Fonte: https://www.cidadeecultura.com/hidrografia-sao-paulo/. [f.02] Poluição na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro. Fonte: Jornal O Dia. https://www.diariodocentrodomundo.com.br/falta-vontad-politca-para-despoluir-a-baia-d a-guanabara-diz-um-do s-principais-biologos-dobrasil/.

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A presença da água sempre foi um elemento importante no desenvolvimento das civilizações e classificada como indispensável à sobrevivência do homem, pois seu abastacimento pode ser utilizado para consumo, higiene, atividades agrícolas e artesanais. As primeiras cidades foram formadas nas costas marítimas e margens de rios, como as que se formaram na Mesopotâmia: os Sumérios, Babilônios, Hititas, Assírios e Caldeus são alguns dos exemplos de civilizações. Os cursos d’água se tornaram uma importante fonte de alimento para o homem através da pesca e fornecimento de água para a agricultura, assim como posteriormente fortaleceu a economia e proporcionou a circulação de pessoas e mercadorias, criando uma relação de dependência cada vez mais próxima com o homem. Ou seja, além de questões de sobrevivência, também era utilizada como forma de defesa, proteção e poder. A água passou a ser vista como um bem para utilização voltada para fins econômicos e não apenas um bem natural para sobrevivência. Além do aspecto econômico, a água também é considerada um elemento de composição da paisagem e marco no território, conforme Gorski (2008). De Oliveira (1999) afirma que a paisagem é o resultado de um conjunto de processos naturais e das intervenções do homem, ligada a percepção da escala humana. Ou seja, é a concretização de ações humanas e de processos naturais em um espaço. Santos (1982), define a paisagem como uma continuidade visível de tempos acumulados, formada por um conjunto de objetos geográficos sobre uma configuração espacial. São formas presentes, contínuas da forma passada, que podem ou não permanecer. Esses objetos ganham vida a partir de um processo social e se tornam concretos em formas e corpos quando são incorporados por meio das funções.

Para que se entenda a paisagem de um determinado local, suas constantes transformações fazem parte desse processo, sendo naturais ou moldadas pelo próprio homem, relacionada principalmente ao aspecto cultural. Apesar da relação histórica do homem com a água, uma série de problemas foram surgindo como consequência da falta de bom senso e planejamento por parte do homem sobre o meio natural no processo de crescimento das cidades e das indústrias. Houve a desvalorização da paisagem natural, seguida de intensa poluição pelo despejo de esgoto, ocupações irregulares, canalizações de rios e consequentemente as enchentes [f.01]. Segundo Spirn (1995), essas ações tornam os córregos, rios e cursos d’água desvalorizados e menos relevantes frente ao processo de urbanização, fazendo com que esses bens naturais e marcos na paisagem desapareçam. Gorski (2008) afirma que as cidades permaneceram concentradas e debruçadas sobre os rios por quase três séculos, cujas várzeas foram sendo constantemente modificadas com o processo de urbanização intenso das cidades. As cidades brasileiras possuem uma relação muito estreita com os cursos d’água, pois em sua grande maioria a água atua como elemento marcante e na construção da paisagem do lugar. Apesar da sua importância, as paisagens se apresentam cada vez mais degradadas e decadentes, poluídas, com seus leitos invadidos por construções irregulares ou grandes depósitos de lixo e esgoto doméstico a céu aberto [f.02] e de forma irresponsál encontramos uma população dando as costas para algo tão grave. Esse processo caminha junto ao processo de urbanização das cidades, que ocorre de forma desenfreada e sem o planejamento e fiscalização necessária.

As paisagens são, portanto, paisagens culturais, pois são apropriadas e transformadas pela ação do homem e possuem diferentes significados para aqueles que a fizeram, a alteraram, a mantiveram e a visitaram. (COSGROVE, 1998, p.10)

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[f.01]

[f.02]

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Lazer Urbano espaços públicos e o poder de conectar pessoas às cidades

LEGENDAS: [f.03] Atual orla de São Pedro da Aldeia. Fonte: acervo pessoal. 2019.

Os espaços públicos são capazes de expressar a identidadde do lugar e são considerados “respiros”. Manifestam as trocas e relações humanas, a diversidade de usos, as atividades e a vocação de cada lugar, assim como as contradições da sociedade. As áreas públicas criam os laços de comunidade entre bairro e cidade, proporcionam o encontro de pessoas e estimulam ações por parte de moradores e visitantes. Podemos relacionar a presença dos espaços públicos à valores democráticos de uma sociedade, expressando a cultura do lugar, sua estrutura, sua hierarquia social e maneira como esses espaços são utilizados [f.03]. Quanto mais diversificados e vivos os espaços de uma cidade, mais ricos se tornam pois são capazes de oferecer benefícios para a saúde física e mental do usuário, pois as pessoas se sentem bem e tendem a ser mais ativas e consequentemente os espaços mais atrativos. Podemos definir esses espaços como locais: públicos, abertos, livres e principalmente democráticos. Um bom espaço é aquele que reflete a essência do lugar e estimula a convivência entre pessoas, criando permanência por ser convidativo e livre. A falta de atividades e usos causam impactos negativos na apropriação do espaço e acabam transformando-o em locais de passagem e não permanência. A existência de espaços públicos de qualidade e apropriáveis, com maior vitalidade urbana, vai conferir um aumento da percepção de segurança e de democratização desses espaços, afirma Lara Cccia, especialista em Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil Cidades Sustentáveis. O lazer está diretamente ligado aos espaços públicos, exercendo caráter humano dentro das cidades: o de criar vida, pois são praticadas as emoções particulares e

coletivas, troca de ideologias e fomento a cultura. Além disso, possui uma relação considerável com a política e a economia da cidade. É necessário redescobrir e recriar formas de lazer referentes a cultura do povo, não só traçar como objetivo a qualidade de vida da população e o uso das cidades por pessoas, mas também a democratização dos espaços, ampliando e criando o encontro de pessoas com diferentes culturas, criando uma sociedade mais justa e democrática e menos solitária, afirma Portuguez (2001). Além de espaços mais desmocráticos, um ambiente bem estruturado e preservado garante uma boa atividade econômica e geração de capital para a cidade, pois o desenvolvimento aliado ao planejamento urbano reflete total riqueza para o lugar. Damiani (2002) enfatiza que em tempos e espaços industrializados, o lazer está diretamente ligado as práticas sociais, reproduzidos pela sociedade existente habitando aquele espaço, assim como as empresas e o Estado. Afirma que o tempo para o turismo é importante e o uso dado ao espaço preenche o significado de lazer, dentro do consumo do turismo. Entendemos que as formas podem ser sólidas, mas a sociedade é dinâmica, como a paisagem, o turismo e todos os seus processos. O mesmo espaço e seus componentes podem permanecer os mesmos por muito tempo, mas seus espaços e usos podem se transformar a todo momento, conforme as pessoas vão utilizando e dando vida para esse local. A organização que estuda espaços públicos chamada “Project for Public Spaces (PPS)”, lista alguns conceitos para se criar um espaço público ideal, com atratores para que pessoas passem por lá e criem permanência.

Espaços podem ser revitalizados e revividos, a partir do momento que novas atividades são impostas a eles.

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[f.03]

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Aproximando Ă escala da cidade


Região dos Lagos o destino turístico no interior do estado do Rio de Janeiro

Laguna de Araruama

[f.04] Imagem de satélite da Região dos Lagos e Laguna de Araruama. Fonte: Google Earth.

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Oceano Atlântico

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[f.04]

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Aproximações

rotas que dão acesso à região paradisíaca dos cariocas

145 KM

SÃO GONÇALO PONTE RIO-NITERÓI

NITERÓI

RIO DE JANEIRO

Região dos Lagos

laguna

BRA

RJ

[f.05]

[f.05] Esquema de localização do macro ao micro, indicando o Brasil, estado do Rio de Janeiro e a Região dos Lagos. [f.06] Mapa das principais rodovias que dão acesso a Região dos Lagos. [f.07] Aproximação na cidade de São Pedro da Aldeia e sua localização.Fontes: autorais.

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[f.06]

BÚZIOS IGUABA GRANDE

SÃO PEDRO DA ALDEIA

ARARUAMA CABO FRIO

SAQUAREMA

ARRAIAL DO CABO

RJ - 124 VIA LAGOS RJ -106 ROD. AMARAL PEIXOTO RJ - 140 RJ - 102 SÃO PEDRO DA ALDEIA

ORLA

RJ-124 Via Lagos

RJ-140 RJ-106

CENTRO

trecho intervenção

LAGUNA DE ARARUAMA

[f.07]

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A laguna perspectiva econômica e de lazer

[f.08] Ruínas da antiga empresa Álcalis, em Arraial do Cabo. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=L2MnOFSjLIc, 2017. [f.09] Orla da laguna na cidade de São Pedro da Aldeia. Fonte: acervo pessoal. 2019.

Pesca

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A Região dos Lagos, também conhecida como Região da Costa do Sol, é uma região localizada no interior do estado do Rio de Janeiro. Possui uma área de 2.004,003 km² e sua população atual é de 538.650 habitantes (IBGE, 2017). Localizada a leste da capital do Rio de Janeiro, está dividida em 7 municípios, sendo eles: Saquarema, Araruama, Iguaba, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Arraial do Cabo e Búzios, todas reconhecidas fortemente pelo turismo em altas temporadas. É considerada uma das mais belas regiões do litoral fluminense, marcada pelas águas claras, turismo e pela indústria do sal. O projeto desenvolvido encontra-se às margens da Laguna de Araruama, uma massa de água hipersalina localizada na Região. Atualmente é considerada a maior massa de água hipersalina em estado permanente do mundo. O termo “laguna” é utilizado devido à sua conexão com o mar através de um canal, além de ser salgada, diferenciando-a de uma lagoa. Sua margem delimita 6 cidades da Região, sendo elas: Saquarema, Araruama, Iguaba, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio e Arraial do Cabo. É conhecida por sua grande dimensão e recursos oferecidos, pois já serviu como fonte de renda para toda a região com a pesca e extração de sal. Antes da formação da cidade, o entorno da laguna era habitado por povos indígenas da região e era fonte de sobrevivência para o povo, com a caça de animais nativos e principalmente a pesca. Durante o período de colonização do Brasil, a Laguna teve grande importância pois as embarcações portuguesas navegavam por suas águas com carregamento de pau-brasil extraídos das matas locais.

Extração de sal

No período da crise do sal que ocorreu em Portugal, as salinas da laguna serviram como fonte de sal para os portugueses, pois naquele tempo o sal era a única forma de conservar os alimentos. Por volta da década de 50, houve a chegada da Companhia Nacional de Álcalis com sede na cidade de Arraial do Cabo, empresa exploradora do calcário presente na Laguna de Araruama. Esse calcário era utilizado na produção de barrilha, um material usado na produção de vidro e detergente, por exemplo. Essa exploração movimentou a economia regional e oferta de emprego das cidades, no período do Estado Novo. Porém, em 2006 a empresa declarou falência e sua estrutura foi completamente abandonada [f.08], deixando como consequência a escassez de conchas calcárias na laguna, desequilibrando completamente o ecossistema da mesma. Nesse mesmo período, as águas da laguna passou a ser vista como perspectiva econômica e de lazer, tornando-se destino turístico para esportes náuticos e por banhistas [f.09]. Essa movimentação foi impulsionada pela facilidade no acesso à Região após a criação da rodovia, conectando mais facilmente a capital do estado do Rio à Região dos Lagos e suas cidades. Atualmente a laguna passa por um desequilíbrio ecológico gravíssimo, pois além da escassez do calcário, vem sendo alvo de despejo incorreto de esgoto doméstico sem tratamento, realizado pelas empresas locais. Um total descaso que compromete questões ambientais e socioeconômicas.

Extração de calcário

Turismo

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[f.08]

[f.09]

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A história pelas ruas São Pedro da Aldeia: de aldeia à cidade turística A cidade se destaca pelas belezas naturais e por ser a cidade conservadora da história. Já recebeu visitantes ilustres como a da Princesa Isabel, no século XIX. É possível encontrar patrimônios culturais, como a Casa da Flor e a Igreja Matriz, ambas tombadas pelo Patrimônio Histórico. Também sedia museus de grande importância, como o único Museu da Aviação Naval do Brasil. Sua orla, centro histórico, áreas de preservação de Mata Atlântica, museus, festividades, entre outros atrativos, fazem de São Pedro da Aldeia um dos principais destinos turísticos da Região dos Lagos.

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1617

1840

1892

Criação da Aldeia

Influência europeia

Emancipação

Fundada a Aldeia de São Pedro, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Após a colonização, necessitavam de uma aldeia com soberania portuguesa no território brasileiro. Cerca de 500 índios foram trazidos do Espírito Santo pelos jesuítas para criação da aldeia. Após o desembarque dos padres e índios nas terras, ergueram a Igreja Matriz, símbolo da cidade.

Os brancos fundaram a Irmandade do Santíssimo Sacramento. Os recém chegados, voltados para a cultura europeia, decidiram substituir a simples igreja dos índios por um templo mais voltado aos “padrões do século”, ergueram então a nova Igreja de São Pedro. A Princesa Isabel e o Conde D’Eu estiveram de passagem pela Aldeia e se tornaram membros da Irmandade do Santíssimo Sacramento.

Antes pertencente à cidade de Cabo Frio, a Aldeia se emancipou e foi elevada à condição de município independente. Recebeu o atual nome, em homenagem ao padroeiro da aldeia: São Pedro da Aldeia. São Pedro era pescador e possuía um barco em sociedade com seu irmão, ambos trabalhavam no Mar da Galiléia.

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1940 Chegada da RJ-106 Inaugurada a Rodovia Amaral Peixoto, também conhecida como RJ 106, Construída na época pelo presidente Washington Luiz, onde “governar era construir estradas”. Permitia o acesso rápido a Região dos Lagos e escoamento do fluxo derivado da capital do Rio de Janeiro.

1970 Ponte “Rio-Niterói” Início das obras da Ponte Presidente Costa e Silva e da Rodovia Via Lagos, RJ-124. Surgiu o fenômeno da “nova moradia”. Segundo Assis (2003), muitas pessoas passaram a buscar maneiras de amenizar a vida agitada da capital e foram beneficiadas com o acesso rápido à região e adotaram a Laguna de Araruama como opção de veraneio.

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2000 Transformação Valorização do espaço em virtude do turismo e a produção salineira se manteve em queda. Salinas foram desativadas e transformadas em loteamentos. O turismo proporcionou uma transformação no território e ecossistema, devido ao crescimento acelerado da cidade.

Imagens utilizadas na cronologia fonte: Google imagens.

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O lugar sugere o tema a orla do centro da cidade como objeto de intervenção

[f.10] Imagem aérea da orla do centro de São Pedro da Aldeia. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=YuzGMR2paYk, 2016.

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[f.10]

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Proposta

LEGENDAS: [f.11] Atual calçadão da orla do centro da cidade. Fonte: acervo pessoal, 2019.

O objeto estudado encontra-se na cidade de São Pedro, mais precisamente às margens da laguna de Araruama [f.11], também conhecida como orla do centro ou “praia do centro”. O local está presente na rota de turistas para veraneio desde a década de 60, com a chegada da rodovia e construção da ponte “Rio-Niterói”, oferencendo programas ao ar livre, principalmente os esportes náuticos e de areia, praias, patrimônios históricos e culturais. Atualmente os turistas chegam a dobrar a população fixa em épocas de clima quente e em feriados prolongados. As tradicionais atividades salineira e pesqueira foram substituídas pela atividade turística e a especulação imobiliária (MELO, 2011). A laguna passou a ser vista de uma nova perspectiva econômica: a do lazer e da prática de esportes (TEIXEIRA, 2006). Esse novo uso dos recursos começou a ser observado a partir da década de 1960, quando o acesso se tornou mais fácil em razão de melhorias nas rodovias. A orla do centro é considerada a porta de entrada da cidade de São Pedro e seu principal cartão postal, por sua paisagem marcante e clima agradável. É o principal ponto de encontro para muitas pessoas, sejam moradores ou turistas em alta temporada e muito propícia para prática de atividades esportivas. Sendo assim, trata-se

de um espaço inserido no tecido urbano e consolidado. Surge a proposta de requalificação da orla central com a inteção de oferecer para a população um espaço de qualidade, levantando questões sociais, econômicas e ambientais. Ao imergir no tema e história da cidade, o principal objetivo se torna a união da memória, lugar e usuário. A intervenção surge a partir do estudo das problemáticas presentes na área, principalmente em relação à infraestrutura, com instalações precárias, seja na iluminação, equipamentos e mobiliários. A Praça Hermógenes Freire da Costa, conhecida popularmente como “Praça do centro”, está localizada ao fim da orla e também será objeto de estudo e intervenção. Toda sua estrutura será reformulada, de uma forma que atenda melhor à demanda de moradores e turistas, que usufruem muito do espaço no veraneio. Novos usos e atividades serão impostos ao local, assim como um novo traçado completamente único. O trecho da orla possui aproximadamente 2km de extensão e a praça aproximadamente 9.000m², o desafio é a reestruturação do espaço de forma que não mude sua identidade e a rotina dos usuários, pois um espaço completamente reformulado sem levar em consideração o usuário, perde completamente seu significado.

Criar um programa de necessidades, um bom espaço e priorizar o usuário, garante total vitalidade e identidade ao lugar.

1. MEMÓRIA

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2. LUGAR

3. USUÁRIO

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[f.11]

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Identificação Base Aérea Naval

Rodovia Amaral Peixoto RJ-106

+ fluxo

RJ-140

Polícia Rodoviária Federal

Colégio Militar Almirante C. Ribeiro

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Imagens utilizadas fonte: Google imagens.

Helicóptero para visitação da Marinha

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Vila dos Oficiais da Marinha do Brasil Terminal Rodoviário

Antiga Estação Ferroviária

RJ-140

+ fluxo

Centro

Av. São Pedro

Centro Cultural Casa dos Azulejos Igrejas Matriz e de São Pedro

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Diagnóstico Geral PROBLEMAS MOBILIDADE

INFRAESTRUTURA

ATIVIDADES

ARBORIZAÇÃO

USO DO SOLO

ÁGUA

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POTENCIALIDADES

- Segregação das áreas pela própria via de acesso; - Áreas pouco caminháveis; - Ausência de ciclovia e calçadão incompleto; - Falta de articuladores como passarelas e faixas conectando o pedestre à orla;

- Caixa viária larga, com capacidade para criação de ciclovia e canteiros verdes; - Proximidade com o Terminal Rodoviário; - Via estruturadora, conectando diferentes cidades da região; - Transporte público presente em todo o trecho;

- Despejo de esgoto doméstico em alguns trechos da laguna; - Descarte inadequado de lixo no perímetro da orla; - Iluminação pública apenas na escala dos edifícios e veículos; - Pavimentação precária;

- Bairros com água, luz, esgoto e pavimentação; - Iluminação pública e sinalização em todo o trecho;

- Equipamentos em desuso; - Estrutura precária de edifícios e áreas com grande potencial; - Os edifícios localizados no trecho da orla e Praça Hermógenes Freire são de baixa qualidade;

- Os eixos comerciais são estruturados, fomentando o turismo e economia local; - Presença de equipamentos públicos;

- Ausência de estrutura paisagística nos trechos com potencial para caminhada; - Novos loteamentos descaracterizando a paisagem natural; - Arborização precária em áreas de permanência na orla e praça;

- Pequenos “oásis” arborizados ao longo da orla, muito pontuais; - APPS; - Áreas verdes recuperáveis;

- Edifícios histórico com potencialidade em estado de abandono e degradação; - Loteamentos vazios pelo perímetro; - Maior presença de residências em áreas com potencial comercial;

- Grande diversidade; - Uso misto entre residências, comércios e edifícios públicos e históricos; - Lotes com potencial para adensamento e criação de hospedagem;

- Poluição da laguna por despejo de esgoto doméstico; - Escoamento precário de águas pluviais;

- Paisagem natural fortalecendo a identidade local; - Cartão postal da cidade; - Exploração de atividades náuticas;

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DIRETRIZES

SOLUÇÕES

- Garantir a circulação organizada e hierárquica de todos os modais: ônibus, pedestre e ciclistas; - Criar percursos caminháveis que priorizem o pedestre; - Integrar os atratores e bairro à área de intervenção, com novos acessos e percusos;

- Criar pontos de travessia como faixas de pedestre e pavimentação diferenciada, priorizando a circulação de pedestre; - Criar ciclovia para ciclistas e praticantes de corrida e caminhada;

- Complementar a infraestrutura existente, melhorando a qualidade da mesma; - Permitir um melhor aproveitamento; - Criar pavimentação de melhor qualidade; - Implantar iluminação na escala do pedestre;

- Trocar o asfalto em todo o trecho por um asfalto com maior qualidade, pois os alagamentos e erosões são constantes devido ao clima; - Adequar as bocas de lobo e implantar jardins de chuva; - Alargamento do calçadão com pavimento de concreto permeável, seguindo manutenção adequada; - Trocar os postes por metálicos e de diferentes escalas com luminância adequada;

- Melhorias urbanas para fomentar o investimento público em novos equipamentos urbanos; - Integrar a população na economia local; - Criar nova centralidade econômica;

- Tornar o local como incentivo para artistas e artesãos locais, criando empregos e promovendo a cultura - Fomentar a economia com visitações de turistas no veraneio e feriados; - Tornar o lugar interessante para pessoas visitarem;

- Restaurar áreas verdes degradadas; - Implantar arborização no trecho da orla, com diferentes espécies e dimensões; - Criar sombreamento em áreas de relaxamento e práticas esportivas;

- Implantar árvores mais densas no calçadão para garantir o conforto dos usuários, - Criar espaços para vegetação proporcionando convívio; - Utilizar espécies regionais da Mata Atlântica que resistem adequadamente ao clima;

- Oferecer equipamentos dignos para a população; - Fomentar o crescimento de áreas com potencial comercial; - Promover o uso de edficíos em situação de abandono, criando novos atratores;

- Revitalizar edifícios históricos abandonados, com reformas; - Criar hotéis de pequeno porte e pousadas, para receber os turistas que frequentam a região; - Fachadas ativas, incentivando o comércio e turismo local;

- Melhorar a Estação de Tratamento de Esgoto (E.T.E.); - Projetar trajetos de pedestre sobre a água, criando um circuito hídrico sobre decks; - Fortalecer os esportes aquáticos da região

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- Regularizar e fiscalizar o tratamento de esgoto das residências, assim como o despejo ilegal de esgoto na laguna realizado pela empresa responsável;

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Processos 1. MEMÓRIA Conexão entre zona revitalizada e centro histórico, criando um percurso caminhável que fortaleça a história e visibilidade do lugar.

Unir atratores existentes como: escola, rodoviária, praças e lojas. Facilitar circulação e oferecer atividades, fortalecendo o espaço como um todo.

2. LUGAR

Criar eixos capazes de unir a cidade à orla, gerando permeabilidade entre cidade e meio natural, guiando o pedestre.

3. USUÁRIO Criar um percurso dominado pela fluidez e sinuosidade, despertando sensações ao usuário e percepções da paisagem. 31

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O PROJETO EM CAMADAS

4.

ATRATORES programa de atividades distrubuídos ao longo da orla, como, marina, decks, áreas de contemplação, quiosques, palco, etc.

3.

PAISAGISMO implantação de arborização para melhor conforto térmico e aspecto visual.

2.

PERCURSOS criação de caminhos alternativos, como ciclovia e decks flutuantes de madeira.

1.

CALÇADÃO alargamento da faixa de areia e trecho de circulação da orla.

PARA QUEM INTERVIR ?

1.

3.

MORADORES - Frequentam a orla diariamente e praticam atividades ao ar livre; - Inclui crianças, jovens, adultos e principalmente idosos (moradores locais há anos).

TURISTAS - Visitam a cidade em alta temporada e feriados prolongados; - Recebe cerca de 100 mil turistas em feriados (dados carnaval 2019, IBGE).

ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

2.

4.

COMERCIANTES - Fomenta o comércio local devido a proximidade com o centro da cidade; - Os turistas contribuem e impulsionam a economia da cidade.

ARTISTAS LOCAIS - Oportunidade de fomentar a cultura e artesanato local, com a criação da nova Feira localizada na praça ao fim da orla.

32


03


Entre curvas e paisagens


Implantação Proposta

2

1

05

15

35

50

Cristina Pires Corrêa


3

4

ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

36


Área 1

CONTEMPLAÇÃO

Ora sobre a água, ora sobre o solo. Com esse dinamismo iniciamos o percurso pela orla da cidade de São Pedro. A via em estudo é um trecho da rodovia RJ-140 de intenso fluxo e presente na rota de milhares de turistas e cariocas, durante o veraneio e feriados prolongados, que têm a Região dos Lagos e as cidades que a compõem como destino para descanso e atividades. O objetivo é tornar o trecho da orla e rodovia mais fluido e humano, em meio a idas e vindas entre a capital e a Região tornando o local mais visível, atraente, dinâmico e leve, além de proporcionar novas experiências aos moradores e visitantes, sejam de passagem ou estadia na cidade. O trecho 1 trata-se do primeiro contato com a cidade, ou seja, a porta de entrada para os que chegam da capital carioca. Nesse primeiro momento nos deparamos com o Colégio Militar de nível fundamental, a Vila Militar, a Base aérea, o helicóptero militar para visitação e a Polícia Rodoviária Federal. A partir dessa análise de usos e fluxos, a ideia é conectar o público desses locais - estudantes, moradores e turistas - ao calçadão, ou seja, criar uma espécie de extensão até a orla onde as pessoas possam circular por esse local e usufruir das áreas de permanência, com sombreamento e mobiliários adequados. Essa conexão com o espaço e novas experiências poderão ser sentidas com a criação do calçadão, passeios sobre decks, ciclovia, áreas verdes, mobiliários e equipamentos de diferentes usos e serviços, além da pavimentação que causará sensações no percurso. Ou seja, o objetivo é unir as pré-existências às novas propostas de intervenção, criando um ambiente unificado.

37

CORTE A

-Pavimentação:

Asfalto

Piso intertravado Pedra permeável Portuguesa

Concreto

-Trajeto alternativo:

Concreto pigmentado

Madeira Ipê

Pintura dinâmica

Grama St. Agostinho

Coqueiro Jerivá

Pau-Ferro

Cica

Quaresmeirinha

Laurotino

-Vegetação:

Oiti

Cristina Pires Corrêa


PRÉ EX - Trecho RJ 140 - Acesso à orla e Centro da cidade

PRÉ EX - Colégio Militar - Helicóptero Militar para visitação

A

p1

05

15

PRÉ EX - Posto Polícia Rod. Federal - Trecho 50km/h

PRÉ EX - Entrada Vila dos Oficiais e Base aérea da Marinha

p2

50

- Ciclovia - Calçadão PROP

- Deck contemplação PROP

- Mobiliários - Espaço interativo (escola e vila)

ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

PROP

- Trajeto alternativo - Deck flutuante PROP

medidas em metros

- Atracadouro barcos e velas PROP

38


PERSPECTIVA 1 p1

39

Cristina Pires Corrêa


PERSPECTIVA 2 p2

ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

40


Área 2

ENCONTROS

Trata-se de um trecho com equipamentos de grande importância para a cidade: - a praça Professora Helena, localizada em frente à uma escola no interior do bairro; - o Terminal Rodoviário, onde uma grande quantidade de turistas ou moradores que trabalham em outras cidades embarcam e desembarcam diariamente, criando um grande fluxo de pedestre e ônibus pela orla. A partir disso, a intenção é unir o fluxo da praça à orla, com redução de velocidade os mesmos 50km/h no trecho da Polícia Rodoviária Federal no perímetro anterior - e pavimentação diferenciada guiando o pedestre à beira da laguna para usufruir do novo espaço. Frente ao Terminal Urbano foram pensados espaços em que as pessoas pudessem relaxar e aguardar os amigos ou familiares, com a criação de mobiliários e áreas sombreadas, além dos quiosques para alimentação e suas tendas para descanso. Tornando assim, um local de apoio, deixando o pedestre mais à vontade para circulação e principalmente permanência. Além disso, a existência de “quadras” de areia para práticas esportivas como vôlei de praia ou futvôlei irão proporcionar entretenimento e lazer, seja para os praticantes ou para pessoas de passagem pelo local. Todo o percurso da orla será sombreado por vegetação de grande, médio e pequeno porte da Mata Atlântica, todos pertencentes ao bioma e nativos do estado do Rio de Janeiro.

-Pavimentação:

Asfalto

Piso intertravado Pedra permeável Portuguesa

Concreto

-Trajeto alternativo:

Concreto pigmentado

Madeira Ipê

-Vegetação:

Grama St. Agostinho

Coqueiro Jerivá

Pau-Ferro

Cica

Quaresmeirinha

Laurotino

Oiti

CORTE B 41

Cristina Pires Corrêa


PRÉ EX - Vila dos Oficiais da Marinha do Brasil

PRÉ EX - Praça Prof. Helena - Bairro predominantemente residencial

PRÉ EX - Terminal Rodoviário intermunicipal

B p3 05

15

p4

50

- Ciclovia - calçadão PROP

- Vegetação diversificada PROP

- Conexão praça/orla PROP

- Deck contemplação - Mobiliários PROP

- Quiosques alimentação PROP

- Esporte - Lazer PROP

medidas em metros ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

42


PERSPECTIVA 3 p3

43

Cristina Pires Corrêa


PERSPECTIVA 4 p4

ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

44


Área 3

ATIVIDADES

Chegamos ao trecho 3, a Praça Hérmogenes Freire surge como um dos ícones e principais pontos de encontro da cidade, cohecida comumente como “Praça do Centro”. A praça passará por um processo de transformação, adotando a mesma linguagem criada ao longo da orla. Além da pavimentação variada, oferecerá espaços gramados e arborizados, garantindo o conforto térmico aos visitantes, principalmente pela alta temperatura local. Concentrará um número maior de atividades para crianças e adultos, praticantes de esportes ou para quem busca apenas lazer e passeio. Com uma galeria shopping e academia privada localizadas à sua frente, também contará com um fluxo variado de pessoas constantemente. As seguintes atividades serão oferecidas: quadras de esporte na areia, palco coberto para pequenos eventos, píer flutuante para contemplação sobre a água, pista de skate, parque infantil, áreas de permanência. Além disso, um novo edifício será implantado no local, substituindo o centro de artesanato existente, porém com nova estrutura e materialidade. O edifício curvo conversará com a nova praça, trazendo leveza e sinuosidade. É composto por uma laje cogumelo curva, erguida por grandes pilares de sessão circular de concreto, revestido por peles de vidro e cobogós, transmitindo o conceito de transparência e principalmente leveza. Em seu interior, paredes em alvenaria criam boxes para vendedores de artesanato, banheiros públicos masculino e feminino adaptados, sala de segurança e sala administrativa. Os canteiros centrais revitalizados e arborizados guiarão o pedestre a outras partes da cidade, como o centro.

-Pavimentação:

Asfalto

Piso intertravado Pedra permeável Portuguesa

Concreto

-Trajeto alternativo:

Concreto pigmentado

Madeira Ipê

-Vegetação:

Grama St. Agostinho

Coqueiro Jerivá

Pau-Ferro

Oiti

Cica

Quaresmeirinha

Laurotino

Espelho d’água

CORTE C 45

Cristina Pires Corrêa


PRÉ EX - Praça H. Freire - Revitalização proposta

p5 0 5

15

p6

50

- Trajeto - Píer flutuante alternativo visitação PROP PROP

- Mini palco eventos PROP

- Pista skate - Pq. Infantil PROP

C

PRÉ EX - Galeria shopping - Academia privada

PRÉ EX - Zona comercial Lojas, mercados, etc

p7

- Novo centro de Artesanato - Adm e BH púb. PROP

- Revitalização canteiro central PROP

medidas em metros ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

46


PERSPECTIVA 5 p5

47

Cristina Pires Corrêa


PERSPECTIVA 6 p6

ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

48


CENTRO DE ARTESANATO EXISTENTE

[f.12] Atual Centro de Artesanato, localizado na Praça Hermógenes Freire. Fonte: acervo pessoal, 2019.

[f.12]

CENTRO DE ARTESANATO PROPOSTO

49

PERSPECTIVA 7 p7

Cristina Pires Corrêa


DIAGRAMA ESTRUTURA PROPOSTA

Laje cogumelo intercalada estrutura curva Pilares internos em concreto sessão circular diâm. 50cm

Estrutura superior em pele de vidro com aberturas para iluminação e ventilação natural Divisórias internas em alvenaria e drywall

Estrutura inferior em pele de cobogó

DIAGRAMA PROGRAMA 60cm

acesso primário acesso secundário 9m

25m

38m

ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

lojas/boxes wc masculino wc feminino administrativo

50


Área 4

TRADIÇÃO

Chegamos ao Centro da cidade e Praça Agenor Santos, na qual concentra os edifícios ícones da cidade: a Igreja Matriz e Igreja de São Pedro. A igreja Matriz foi erguida no período de colonização da aldeia de São Pedro, com o trabalho árduo de índios locais e jesuítas trazidos pelos navios portgueses. A Igreja de São Pedro foi erguida posteriormente, no período em que a cidade se emancipou e adotou influências europeias. A praça manterá sua estrutura mas passará por um pequeno processo, adotando a mesma linguagem de todo o projeto. O atual parque infantil presente também será alvo de mudanças, oferecendo espaços e mobiliários de qualidade para os visitantes. Os edifícios históricos pelo trajeto passarão por um processo de restauro, recuperando sua estrutura original atualmente encontrada em estado de decadência e abandono [f.00] e contarão a história da cidade ao percorrer a avenida principal com destino às igrejas, trazendo assim, as características históricas e marcantes da cidade. Além disso, algumas áreas serão pavimentadas com pedra portuguesa, pois são marcantes e presentes em vários trechos da cidade, fazendo referência ao seu período de colonização.

LEGENDAS: [f.13] Edifícios históricos em estado de abandono. Fonte: acervo pessoal, 2019. [f.14] Fachada Centro Culural Casa dos Azulejos, no centro da cidade. Fonte: acervo pessoal, 2019. [f.15] Praça do Canhão, canteiro central. Fonte: acervo pessoal, 2019. [f.16] Edifício histórico degradado localizado no centro da cidade. Fonte: acervo pessoal, 2019.

51

-Pavimentação:

Asfalto

Piso intertravado Pedra permeável Portuguesa

Concreto

-Trajeto alternativo:

Areia de praia

Pintura dinâmica

-Vegetação:

Grama St. Agostinho

Coqueiro Jerivá

Pau-Ferro

Oiti

Cica

Quaresmeirinha

Laurotino

Espelho d’água

3

[f.13]

Cristina Pires Corrêa


PRÉ EX - Praça do Canhão canteiro central

1

PRÉ EX - Centro - Edifícios históricos

PRÉ EX - Praça - Pq. Infantil - Igreja São Pedro

PRÉ EX - Patrimônio Igreja Matriz

2

3

5 4 6

0 5

15

50

- Restauro Centro Cultural Casa dos Azulejos PROP

[f.14]

- Restauro edifícios históricos PROP

1

[f.15]

ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

- Revitalização da Praça - Mobiliários - Alimentação

- Estacionamento central PROP

PROP

2

3

[f.16]

52


4

5

[f.17]

[f.18] [f.17] Igreja de São Pedro e Igreja Matriz, localizadas na Praça Agenor Santos no centro da cidade. Fonte: acervo pessoal, 2020.

53

Cristina Pires Corrêa


6

[f.19] [f.18] Calçada Praça Agenor Santos. Fonte: acervo pessoal, 2020. [f.19] Igreja Matriz. Fonte: acervo pessoal, 2020.

ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

54


Estruturas - QUIOSQUE

Fio de aço para sustentação Cobertura em madeira ipê formato curvo Mastro central (referência à embarcações) madeira ipê Laje e estrutura para caixa d’água 500L em alvenaria, acabamento concreto aparente

Divisórias internas em alvenaria acabamento concreto aparente Painel vazado em cobogó

DIAGRAMA

Preparos Depósito Wc masculino Wc feminino 5m

PERSPECTIVA

4m

ÁREA TOTAL 20,0 m²

PROGRAMA

- PALCO EVENTOS

Cobertura em lona branca

Estrutura curva metálica treliçada

DIAGRAMA

55

PERSPECTIVA

Cristina Pires Corrêa


- PÍER CONCRETO

- DECK MADEIRA Guarda-corpo h=90cm madeira ipê

Guarda-corpo h=90cm Concreto aparente Laje protendida moldada in loco cimento CP-IV

Ripado alternado madeira ipê

Grelha apoio madeira ipê tratamente impermeabilizante

Vigas pré-moldadas seção 40x50cm concreto armado cimento CP-IV

Viga estrutural madeira ipê tratamento impermeabilizante

Bloco de coroamento seção 60x70cm concreto armado cimento CP-IV

Estaca circular Ø40cm concreto armado cimento CP-IV concretagem submersa cravados 4m prof. no leito

Estacas circulares Ø40cm concreto armado concretagem submersa tratamento anti-corrosão

água leito DIAGRAMA

CORTE

água leito

CORTE

DIAGRAMA

- CALÇADÃO

- ZONAS DE AGRESSIVIDADE (NBR 6118/2014) Pavimentação permeável blocos intertravados concreto

ZONAS

GRAU

respingos da maré

muito forte

variação da maré

forte

nível 2 água nível 1 água submersa

Talude de gaião tipo colchão Aterro areia da laguna

CORTE

nível água

fraca 56


Tecnologias

Mobiliário Urbano areia trazida pelas tubulações para o alargamento da faixa

Draga tipo sucção tubulação

jazida de areia localizada no leito da laguna a distância dependerá de estudos de viabilidade

- ILUMINAÇÃO SUBTERRÂNEA

3m

3m

- SISTEMA DE DRAGAGEM

- DRENAGEM

leito da via

- Mobiliário O relação da arquitetura e do urbanismo considera todas as características físicas e espaciais, para que os mobiliários desenvolvidos complete a totalidade do desenho geral. Os traçados gerais no projeto, influenciam no desenho dos mobiliários presentes no espaço, se adequando a estética, conforto e necessidade do local. Os elementos de configuração como forma, cor, textura, foram escolhidos de acordo com a harmonia, estética e funcionalidade. A versatilidade do uso possibilida a interação entre público, local e paisagem. Segundo Freitas, “o mobiliário urbano contribui para a estética e para a funcionalidade dos espaços, da mesma forma que promove a segurança e o conforto dos usuários” (FREITAS, 2008, p.153). Para Montenegro, “o mobiliário urbano compõe o ambiente no qual está inserido e faz parte do desenho urbano das cidades, interagindo com os seus usuários e com o contexto sócio-cultural e ambiental” (MONTENEGRO, 2005, p.29). - Iluminação Com a requalificação da orla e criação do calçadão, fará com que a iluminação transforme o espaço no período noturno. A iluminação pública em led levará vitalidade para o espaço e seus usuários.

caixa manutenção

0,4m

0,5m

2m 0,5m BANCO LINEAR madeira ipê

ESTAÇÃO DECK madeira ipê

3m

3m

0,5m 0,9m

0,4m 0,5m BANCO CIRCULAR madeira ipê e estrutura metalon cor preta

BANCO CURVE acrílico laranja e estrutura metalon cor preta

0,9m 0,9m 0,5m 1m

2m

2m

1m

CADEIRA CURVE madeira ipê e estrutura metalon cor preta

estrutura concreto

BANCO CURVE acrílico laranja e estrutura metalon cor preta 1m

1m

eletroduto

0,4m 8m

área proteção

0,8m 0,7m

4m

tubo de concreto manilha

- SUSTENTABILIDADE 0,6m LIXEIRA MAD madeira ipê e estrutura metalon cor preta

O2

CO2

1m

1m

LIXEIRA RECICLAVÉL metal cromado e colorido

0,3m 1,6m 1,6m 0,5m 3m

insolação

57

ventos

águas pluviais Cristina Pires Corrêa

8m

1,5m BICICLETÁRIO CURVE metal cromado e cor preta

ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

1,5m BICICLETÁRIO CURVE metal cromado e cor preta


1,2m

1,2m

0,8m 0,5m

0,4m 0,5m

BANCO PUFF concreto, acabamento em pintura colorida

BANCO PUFF concreto, acabamento em pintura colorida

0,6m 2m

0,8m

2,5m PLAY CIRCLE concreto, acabamento em pintura colorida

PLAY CIRCLE concreto, acabamento em pintura colorida 0,6m

3m

0,5m 2m 0,4m 4m

0,5m

2m PLAYGROUND madeira e plástico colorido

2m

5m PLAYGROUND concreto, acabamento em pintura colorida

3m 3m

3m

3m 1m

2m

2m

3m

2m

2m

2m

0,6m PLAYGROUND madeira e acabamento em pintura colorida

PLAYGROUND madeira e acabamento em pintura colorida

0,9m

0,9m

3m

2m 7m

10m PISTA SKATE concreto e acabamento em graffiti guarda-corpo metálico

7m 5m PISTA SKATE concreto e acabamento em graffiti guarda-corpo metálico

58


Processo Volumétrico - MAQUETE FÍSICA Maquete 01 confeccionada para estudo da topografia e entendimento do entorno imediado, proporcionando melhor visualização topografia, gabarito e traçado local. Maquete 02 confeccionada a partir de um trecho da área de intervenção projetual, ampliando e aprofundando a visão global de arquitetura e urbanismo por meio do estudo da forma e do volume, compreendendo o processso de urbanização e desenvolvendo o senso crítico. As maquetes foram desenvolvidas com materiais que transmitissem a linguagem do projeto, com leveza e harmonia, além da sua função principal de entendimento do volume projetual.

MAQUETE 01 - ENTORNO - ESCALA 1:3000

MAQUETE 02 - APROXIMAÇÃO- ESCALA 1:500 59

Cristina Pires Corrêa


MAQUETE 02 - APROXIMAÇÃO- ESCALA 1:500

MAQUETE 02 - APROXIMAÇÃO- ESCALA 1:500 ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

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ReferĂŞncias

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Cristina Pires CorrĂŞa


GORSKI, Maria Cecília. Rios e Cidades: Ruptura e Reconciliação. 2008. 236 p. Dissertação (Obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2008. CULLEN, Gordon. Paisagem Urbana. Tradução: Isabel Correira e Carlos de Macedo. Lisboa: edições 70, 1971. (coleção arquitetura e urbanismo). DEL RIO, V. Introdução ao Desenho Urbano no Processo de Planejamento. São Paulo: Pini, 1990. VARGAS, H. C.; CASTILHO, A. H. (2015). Intervenções em Centros Urbanos: Objetivos, Estratégias e Resultados. 3rd edição. Barueri, SP: Editora Manole. MELO, E.S.O. Gênese da Urbanização Turística em Cabo Frio (1950-1978). In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPUR. 14, 2011. 20p. Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro, 2011. TEIXEIRA, V.M.L. A cidade e a lagoa: memória e identidade urbana em Araruama. 2006. 140 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2006. HANSSEN, G. Cabo Frio: dos Tamoios a Álcalis. Rio de Janeiro: Ed. Achiamé, 1988. 239 p. SILVA, M.G. Questão ambiental e desenvolvimento sustentável: um desafio ético político ao serviço social. São Paulo: Cortez, 2010. 256 p.

ÀS MARGENS: Requalificação da orla de São Pedro da Aldeia - RJ

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