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3. CAVOUQUEIROS, LASCADORES, PEDREIROS, MACAQUEIROS E CANTEIROS
from CIDADE-PEDREIRA
by caiorechuem
TRABALHO
1. conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim.
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2. ação ou modo de executar uma tarefa, de manejar um instrumento.
TÉCNICA
1. conjunto de procedimentos ligados a uma arte ou ciência.
2. jeito, perícia em qualquer ação ou movimento.
(Fonte: Dicionário Oxford)
A transformação de uma paisagem urbana a partir da exploração da rocha, também pode ser explorada baseando-se no conceito elaborado a partir da biologia e transferido para as relações entre sociedade e natureza por autores como Fischer-Kowalski e Weisz. O metabolismo social é estruturado na relação dos fluxos de energia e materiais através do trabalho. Sob óticas socias, ecológicas e físicas, o metabolismo social tem como objetivo, analisar determinado sistema produtivo e suas condições históricas.
Para a biologia, metabolismo se conforma como o conjunto de transformações num organismo vivo, pelas quais passam as substâncias que o constituem. Estas transformações resultam no crescimento, produção de energia, trabalho, eliminação de resíduos, transporte e reprodução. Portanto, aplicando a mesma lógica aos sistemas sociais, a reprodução da população humana, sua determinada produção econômica e processos de consumo, fazem-se necessários insumos que geram matéria e energia, chamados de “metabolismos socioeconômicos”.
O conceito apresentado é trabalhado pelo geógrafo Rogério Ribeiro de Oliveira, através de uma pesquisa de campo que teve início em 1999, buscando mapear nas montanhas do Rio de Janeiro, plataformas artificiais para fabricação de carvão vegetal, utilizadas no séc. XIX, principalmente por quilombolas ou ex-escravos, que encontraram em determinada atividade o seu meio de sustento.
De acordo com o autor, o crescimento da produção de carvão, impulsionada pela necessidade de energia, disponibilidade de recurso natural e contingente humano, abastecia diversas atividades urbanas, e dentre elas destaca-se a construção civil, principalmente o ofício da cantaria. Justamente neste ponto a pesquisa se faz pertinente a este trabalho, pois em todo o processo que tem a rocha como material de trabalho, é necessário afiar inúmeras vezes os instrumentos utilizados, sejam eles ponteiros, talhadeiras ou cinzéis. Tais ferramentas, não podiam ser afiadas a esmeril, para não perderem o fio. Portanto, devem ser levados a forja e trabalhadas na bigorna. Estas forjas, alimentadas a carvão se multiplicavam para suprir a necessidade da urbanização. (RIBEIRO DE OLIVEIRA E STINGEL FRAGA, 2016, p.37-40)
Além dos trabalhadores que lidavam com a extração de rocha, conhecidos como cavouqueiros, havia lascadores de fogo, responsável pela disposição de explosivos; pedreiros, especializados nos serviços de construções de pedras e cuja denominação é usada, até hoje, para designar profissionais envolvidos com edificações; macaqueiros (especialista no fabrico de macacos, sinônimo de paralelepípedos) e canteiros, profissionais capazes de produzir peças de cantaria (do latim canthus, aresta) para uso em pisos e adornos. Em outro nível social, estavam concessionários de mineração, construtores e comerciantes. (ALMEIDA, 2016, p.5)
Com o passar do tempo, as considerações estéticas e o desenvolvimento de tecnologias construtivas saíram do âmbito do talhe, característico das obras em cantaria, e passou a ficar limitado a revestimentos, onde cinzel é trocado pela serra. Todavia, as relações sociais intrínsecas a formação e manutenção de cidades, continuam a se balizar na exploração de uma classe trabalhadora1, que por sua vez, é excluída tanto do processo projetual e decisório, incluindo as narrativas historiográficas oficiais.
1 conceito mais amplo da categoria clássica de proletariado, definida por Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista de 1848. Abrange não só o proletariado, mas todas as camadas sociais que vivem da venda da sua força de trabalho.
Colagem produzida a partir de pinturas de Rugendas e Debret.
(Fonte: Imagem produzida pelo autor)
Carvoaria feita em área plana.
(Fonte: Fluxos de energia, matéria e trabalho na construção da paisagem do Rio de Janeiro do século XIX. Rio de Janeiro, 2016.)
Calçamento por three-manbeetle nas ruas do Rio de Janeiro.
(Fonte: Cantarias e pedreiras históricas do Rio de Janeiro: Instrumentos potenciais de divulgação das Ciências Geológicas. Rio de Janeiro, 2012.)
Exemplo de cinzéis planos; 1 e 6 – cinzel plano usado no mármore; 2 – usado no granito; 3 – usado no calcário; 4 - usado para cinzelar letras; 5 – usado para desbaste; 7 – usado para abrir canais
(Fonte: The art of stoneworking: a reference guide. Cambridge. Cambridge, 1993)
Diferentes formas de ponteiros e seu modo de utilização; 1 a 3 – ponteiros; 4 a 6 – três modos diferentes de aplicar a ferramenta no granito
(Fonte: The art of stoneworking: a reference guide. Cambridge. Cambridge, 1993)
Picareta de pedreira (1) e picareta de canteiro (2).
(Fonte: Outils et techniques spécifiques du travail de la pierre dans l´íconographie médiévale Outils et techniques spécifiques du travail de la pierre dans l´íconographie médiévale) Diferentes formas de cinzéis dentados
(Fonte: The art of stoneworking: a reference guide. Cambridge. Cambridge, 1993)
Exemplos de compassos (1-4) e nível de prumo (5).
(Fonte: The art of stoneworking: a reference guide. Cambridge. Cambridge, 1993)