ONHB_Meneguello

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A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA EM CIÊNCIAS HUMANAS – UM CAMPO EM EXPANSÃO: O CASO DA 1ª OLIMPÍADA NACIONAL EM HISTÓRIA DO BRASIL (2009)

AUTORES

INSTITUIÇÃO

PALAVRAS-CHAVE

Meneguello, Cristina; Schiavinatto, Iara Lis;

Museu Exploratório de Ciências —

Divulgação científica em ciências humanas

Moura, Eliane; Neto, José Alves de Freitas

Universidade Estadual de Campinas

– Ensino de história – Divulgação e Ensino

(Unicamp)

Online à Distância – Primeira Olimpíada Nacional em História do Brasil

Profa. Dra. Cristina Meneguello Depto. de História e Museu Exploratório de

www.mc.unicamp.br

Ciências - Unicamp Profa. Dr. Iara Lis Schiavinatto Depto. de Multimeios – Unicamp Profa. Dra. Eliane Moura Depto. de História – Unicamp) Prof. Dr. José Alves de Freitas Neto Depto. de História – Unicamp Contato cmeneguello@gmail.com

APRESENTAÇÃO

RESULTADOS

Tradicionalmente, a divulgação científica atinge os campos das

Trabalho coletivo de construção do conhecimento

ciências da vida, exatas e tecnológicas e está associada a centros

A Olimpíada Nacional em História é realizada em equipe, composta por

e museus de ciências e de tecnologia. Já o campo das ciências

estudantes dos oitavo e nono anos e por estudantes do ensino médio.

humanas, ainda que fundamental para a formação intelectual e

Observamos na 1ª edição do evento a imensa motivação dos alunos

cognitiva e para a cultura científica entendida de forma mais ampla e

de todas as séries, sendo que para a grande final foram convocadas

global, é ainda tema pouco privilegiado e as iniciativas em termos de

várias equipes de oitava série que, mesmo ainda sem domínio de todos

acesso, divulgação e inclusão são poucas ou pouco conhecidas. De

os conteúdos abordados, buscaram a superação por meio do estudo,

que modos a divulgação científica pode estender-se a estes campos

desbancando, assim, muitas equipes do ensino médio. O caráter de

de competência – a história, a literatura, as ciências humanas em

colaboração e debate são incentivados pela atuação em grupo, assim

geral – que ficam muitas vezes relevados a “curiosidades menores” que

como o grau de competitividade individual é transmutado em um

adornam publicações científicas de cunho geral?

competição inclusiva.

Essas observações baseiam-se na experiência concreta e inédita da organização e execução da Primeira Olimpíada Nacional

Valorização da atuação do professor

em História do Brasil, que foi lançada via internet, em território

Como as atividades relacionam-se e ultrapassam os conteúdos

nacional, por meio do Museu Exploratório de Ciências da Unicamp,

escolares imediatos, ressalta-se a figura do professor como

como uma Olimpíada de Ciência em Âmbito Nacional apoiada

um “orientador de estudos”, como membro da equipe, atuando como

pelo CNPq. Iniciada em agosto de 2009, a Olimpíada Nacional em

seu tutor. Hábitos de estudo cotidiano são valorizados.

História do Brasil, que ainda está ocorrendo até as datas da Grande Final em 12 e 13 de dezembro de 2009, teve nessa primeira edição

Pontuação progressiva e participação inclusiva

mais de 16.000 participantes, entre estudantes e professores de

Cada fase realizada em um peso relativamente maior que a fase

história de todo o país. Toda a parte conceitual e metodológica da

anterior, assim como o grau de dificuldade das questões vai sendo

Olimpíada foi desenvolvida por equipe de profissionais em história.

ampliado. Assim, as equipes que atingem as fases finais de fato

Foram desenvolvidos uma plataforma e um sistema interativos que,

constroem progressivamente uma reflexão sobre a história nacional,

além de proporcionar a inclusão digital, possibilitaram atividades como

ao mesmo tempo em que não se desestimula as equipes com a

a utilização de um acervo digitalizado de documentos históricos, o

eliminação logo nas primeiras fases. A eliminação fixada em apenas

que leva os participantes a terem contato direto com o arcabouço

10% dos participantes da primeira para a segunda fase gerou efeito

metodológico do historiador. Atividades como a leitura e interpretação

positivo de auto-estima e interesse pelas atividades subseqüentes.

1

Página inicial da 5ª (e última) fase no site.

de documentos, a análise de materiais iconográficos (mapas, gravuras, mídia em geral) e a interpretação de documentos controversos sobre o

Utilização do ambiente virtual como divulgação científica

mesmo evento histórico foram algumas das atividades propostas.

O ambiente virtual traz a questão da inclusão digital e do alcance geo-

O exercício nas metodologias científicas específicas de um

gráfico. Lida com linguagens de domínio da faixa etária dos estudantes

historiador leva a um novo patamar de conhecimento de temas

e mostra-se acessível a atraente. Permite grande alcance e de grande

históricos e historiográficos e incide sobre o ensino e a divulgação

interatividade, e extrapola a duração do evento em si. O caráter de

da história do Brasil, ao mesmo tempo em que alerta para os padrões

trabalho coletivo e troca de experiência foi garantido por outras intera-

hierárquicos que associam a história nacional aos grandes ciclos

ções que também ocorrem online, por iniciativa do Museu Exploratório,

econômicos e levam à invisibilidade histórica de regiões nacionais no

organizador do evento (como o blog da Olimpíada ou comunidade

discurso histórico geral.

no Orkut) mas também pela iniciativa dos próprios participantes.

METODOLOGIA APLICADA

Criação de banco de dados online para estudos e consultas na área de história Todo o material utilizado (documentos, imagens, textos e artigos

Metodologicamente, a Olimpíada repousa em três pilares: 1) trabalho

acadêmicos na íntegra, sugestões de leituras e de sites) é tornado

coletivo e valorização do professor que atua cotidianamente com os

disponível imediatamente ao final de cada fase. Esse material, na

estudantes; 2) avaliação progressiva e ampliação do leque de temas

1ª Olimpíada, foi bastante elogiado pelos professores, que o podem

e respostas possíveis 3) divulgação científica embasada em utilização

utilizar em diferentes momentos, para preparar as suas aulas ou

de banco de dados.

mesmo para “refazer” as provas de cada fase, dessa vez “sem 2

compromisso”, com outras classes e interessados. Este material online 1

acaba por proporcionar um local de estudo de história do Brasil virtual,

O trabalho em equipe e com consulta permite questionar os moldes

e pode vir a ser constantemente aprimorado.

tradicionalmente competitivos dos eventos do tipo Olimpíada;

Página inicial da olimpíada, com trechos do blog à direita.

3

Exemplo de questão com documentos relacionados.

O caráter nacional da Olimpíada permitiu, ainda, que se

a velocidade da resposta não é tão importante quanto a capacidade

percebessem as clivagens entre o ensino e o conhecimento histórico

de leitura e reflexão, próprias às ciências humanas. Desde modo,

entre as diferentes regiões brasileiras.

ainda, criam-se hábitos de consulta e de estudo e a aquisição progressiva de conhecimento. A valorização do professor da escola como orientador da equipe é aspecto fundamental nesse processo.

BIBLIOGRAFIA

2

SITE OFICINAL DA PRIMEIRA OLIMPÍADA NACIONAL EM

O sistema de avaliação e pontuação da Olimpíada Nacional em História do Brasil utilizou o formato da múltipla escolha, com quatro alternativas (a,b,c,d) porém distribuído aos moldes de uma prova dissertativa (diferentes níveis de acerto, evitando o ardil das respostas

HISTÓRIA DO BRASIL: www.mc.unicamp.br ABREU, Martha & SOIHET, Rachel. Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. BONNER, Jeffrey P. “Museums in the Classroom and Classrooms

do tipo “sim ou não”). As alternativas contemplavam o erro e diferentes

in the Museum” Anthropology & Education Quarterly, Vol. 16,

níveis de acerto, que iam da leitura mais imediata (compreensão do

No. 4, Teaching Anthropology (Winter, 1985). Blackwell

enunciado), para uma informação histórica mais contextualizada

Publishing on behalf of the American Anthropological

trazida pela equipe (informações históricas), até a alternativa que

Association.

permitia, além dos passos anteriores (leitura e informação) uma certa extrapolação, ou a compreensão de conceitos e processos históricos. O elevado número de questões (56 questões e cinco tarefas), permite

CARRETERO, Mario. Construir e ensinar: as ciências sociais e a história. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. CASTRO, Lana Mara de & LIMA E FONSECA, Thais Nivea de.

a ampliação do leque dos temas abordados, deixa a margem de erro

Inaugurando a história e construindo a nação: discursos e

em torno de 3 pontos e elimina o efeito da casualidade. Questões de

imagens no ensino de história. Belo Horizonte: Autentica, 2001.

múltipla escolha e questões discursivas podem avaliar as mesmas características cognitivas, pela inclusão de um forte componente de leitura, atenção e interpretação para chegar à melhor resposta.

Na 5ª tarefa, os alunos tinham que analisar e pontuar textos de outras equipes.

5

EPSTEIN, Isaac. Divulgação cientifica: 96 verbetes. Campinas: Pontes, 2002. FORMWALT, Lee W. “Seven Rules for Effective History Teaching

Além disso, a capacidade dissertativa – produção e análise de texto –

or Bringing Life to the History Class” OAH Magazine of

foi avaliada na tarefa da fase 4 e a tarefa da fase 5 lidou com a

History, Vol. 17, No. 1, World War I .Organization of American

(geralmente negligenciada) habilidade de avaliação de textos.

Historians, October 2002. FREITAS NETO, José Alves. “A transversalidade e a renovação no

3.

ensino de história”. In: KARNAL, Leandro (org.) História na sala

O fato de a Olimpíada estar online e, conforme cada fase era

de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Ed. Contexto,

finalizada, tornar-se imediatamente acessível a qualquer interessado,

2003.

permite a criação e alimentação contínua de um banco de dados

4

1ª Olimpíada Nacional em História do Brasil

LAUNIUS, Roger D. “American Memory, Culture Wars, and the

com documentos históricos. Esse banco de dados age no campo da

Challenge of Presenting Science and Technology in a National

divulgação científica e na circulação de conhecimento por meio da

Museum.” The Public Historian, Vol. 29, No. 1. University of

ferramenta da internet.

California Press, Winter 2007. MASSARANI, Luisa, MOREIRA, Ildeu de Castro, BRITO, Fátima & CANDOTTI, Ennio. Ciência e publico: caminhos da divulgação científica no Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Ciência : UFRJ,2002. WEISS, Melanie Shell and KORNBLUH, Mark Lawrence. “H-Net: Humanities and Social Sciences OnLine”. The History Teacher, Vol. 31, No. 4. Society for History Education, August 1998.

6

Elementos do projeto de identidade visual da olimpíada.

Trecho de um documento.


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