A arte de traduzir a ciência
Junho 2012 Ano I - Volume I Boneco
Conhecimento científico é ‘socializável’?
Falta
SINTONIA
Cientistas do INPE falam sobre as dificuldades de dialogar com outros públicos RELACIONAMENTO COM A IMPRENSA, JARGÕES JORNALÍSTICOS, GUIA DE PERGUNTAS1 2012|JUNHO|VICEVERSA|
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ENSAIO FOTOGRÁFICO
A ciência humanizada [Antônio Scarpa] O jornalista e fotógrafo Antônio Scarpinetti registra neste ensaio o esforço pela busca do conhecimento, aquele baseado na prática sistemática e que está na fronteira. São retratadas atividades nas áreas da saúde, química, física, biologia, artes e cultura. Mas nunca isoladas. O ser humano está sempre presente, seja na firmeza das mãos talentosas ou na perspicácia dos olhos atentos. A humanização é uma constante no trabalho de Scarpinetti. Natural de Olímpia (SP), ele realiza a 20 anos trabalho iconográfico e de divulgação da cultura popular. Criou e coordenou por mais de 10 anos o Centro de Pesquisa e Documentação da Rede Anhanguera de Comunicação (Cedoc-RAC), em Campinas. De 1984 e 1991, foi pesquisador no Departamento de Documentação (Dedoc), da Editoria Abril, em São Paulo. Atualmente dedica-se ao trabalho de fotojornalismo científico na Assessoria de Comunicação e Imprensa (Ascom) da Unicamp. 2012|JUNHO|VICEVERSA|3
DIRETO DAREDAÇÃO Divulgar bem ciência, contribuindo para a disseminação do conhecimento produzido no Brasil, tem sido um grande desafio para a imprensa. Se, do lado dos cientistas, a importância de interagir com a sociedade ainda é um conceito muito novo, do lado dos jornalistas, ainda há muito a melhorar em termos do entendimento do universo da ciência – sua metodologia, sua linguagem, suas ressalvas, seu timing. Como estreitar esse relacionamento, com resultados que contentem (ou desagrade pouco) ambos os lados? Nas próximas páginas, você vai conhecer o “outro lado” da divulgação científica, ou seja, o que pensam os pesquisadores sobre as formas de diálogo com outros públicos? Qual o caminho de uma pesquisa científica, até a publicação do artigo? Que critérios considerar ao entrevistar uma fonte? Boa leitura!
EXPEDIENTE Julho de 2012 Trabalho de conclusão do curso de especialização em jornalismo científico Labjor/Unicamp Projeto gráfico e editoração Camila Delmondes Universidade Estadual de Campinas Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo Curso de Especialização em Jornalismo Científico Rua Seis de Agosto, 50 - Reitoria V, 3º piso - CEP:13.083-873 Campinas, SP, Brasil Fones: (19) 3521-2584 / 3521-2585 / 3521-2586 Fax: (19) 3521-2599
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Projeto editorial Ana Paula Soares Veiga Camila Delmondes Edição Ana Paula Soares Veiga Textos: Ana Paula Soares Camila Delmondes Jorge Behrens Silvio Pinto Anunciação Neto
Arquivo pessoal
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A CIÊNCIA HUMANIZADA Acompanhe a partir da página 2 até o final desta edição, o ensaio fotográfico de Antônio Scarpa
Antônio Scarpa
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VIDA DE REDAÇÃO Jornalista e cientista: eterno conflito “Cientistas e jornalistas no Brasil parecem não se entender facilmente” [Jorge Behrens]
ENTREVISTA
Os pesquisadores Paulo Roberto de Martini, José Carlos Neves Epiphanio e Clezio Marcos De Naradin, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) falam sobre o delicado relacionamento entre cientistas e jornalistas
DICAS
Artigo do físico, 18 MEMÓRIA Ennio Candotti, comemora os 30 anos da Revista Ciência Hoje LIGADO 10 critérios 26 FIQUE para comunicar ciência
...veja as dicas elaboradas pela Rede Ibero-americana de Monitoramento e Capacitação em Jornalismo Científico
Arquivo pessoal
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OPINIÃO
Socializar este conhecimento, produzido principalmente com recursos públicos, é papel de divulgadores, jornalistas e cientistas.
28 GUIA DE PERGUNTAS Recomendações propostas por Timothy Johnson (2005) para ajudar o público a compreender melhor a informação Ccientífica
A PASSO Do projeto 30 PASSO de pesquisa à publicação do
artigo ...saiba que a vida de um pesquisador não se restringe aos experimentos em laboratório ou coleta de campo, seja qual for a área da ciência na qual trabalhe
Conheça melhor 34 GLOSSÁRIO a terminologia científica
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ENTREVISTA
O Problema é o Jargão A
“arrogância” do cientista
inibe
o
jornalista? Falta SINTONIA? Cientista
não
sabe
explicar
?
Veja o que dizem três pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais sobre as dificuldades de dialogar com outros públicos
[Ana Paula Soares]
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“Você poderia explicar com uma linguagem bem simples, para que as pessoas que não têm familiaridade com a pesquisa possam entender?”. O pedido educado, quase uma súplica, surge frequentemente após as primeiras perguntas feitas pelo jornalista ao pesquisador, principalmente quando a matéria é para televisão. Se o cientista está habituado a falar com a imprensa, vai procurar ser didático e encontrar analogias que possam facilitar o entendimento. Se, ao contrário, raramente fala sobre sua pesquisa a público de não cientistas, demonstrará certa perplexidade, imaginando: “Mas eu estou sendo tão claro
ViceVersa - Qual a maior dificuldade que vocês enfrentam ao falar sobre suas áreas de atuação com a grande imprensa? Clezio Marcos De Nardin – A maioria dos cientistas tem dificuldade em explicar o seu trabalho. Se ele baixa muito o nível da linguagem, o jornalista pode se ofender e não dar à matéria o tratamento merecido. Se o nível fica muito elevado, o jornalista pode não entender, muito menos o público. O jornalista precisa “vender” a sua matéria e por isso procura dar a ela uma linguagem que muitas vezes o cientista considera sensacionalista. O cientista quer mostrar o fato real, até porque se sente comprometido com o seu nome junto à comunidade científica. José Carlos Neves Epiphanio - A maior dificuldade é a sintonia da linguagem, não na área de satélites, mas creio que de forma geral. O jornalista não se prepara razoavelmente para tratar do assunto específico do cientista e este não percebe que o jornalista não é um cientista, e o trata como se fosse. Daí, ocorre um descasamento de linguagem. O jornalista não consegue entender direito o que o cien-
e preciso!” Afinal, o que é que “pega” na relação cotidiana entre ciência e jornalismo? Três cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais entrevistados pela revista viceversa – todos bastante acessíveis e experientes no relacionamento com a imprensa – apresentaram suas opiniões. Veja o que dizem Paulo Roberto Martini (especialista em interpretação de imagens de satélites), José Carlos Neves Epiphanio (coordenador do Programa de Aplicações do Satélite Sino-brasileiro de Recursos Terrestres - CBERS e Clezio Marcos De Nardin (pesquisa as influências e os impactos do clima espacial no sistema terrestre).
tista está falando e, por conseguinte, fazer uma matéria bem feita, e o cientista se frustra porque o jornalista não entende sua linguagem e termina por não se sentir completamente representado na matéria. Quem perde é o leitor.
“Grande parte das pessoas de ciência tem um medo danado de se expor”
Paulo Roberto Martini - A maior dificuldade é o nosso jargão. Como normalmente as pessoas de ciência se envolvem com artigos científicos e leem pouco jornal, não sabem como colocar as ideias dentro de um veículo mais ágil e mais popular. Falha nossa. Outra coisa: grande parte das pessoas de ciência tem um medo danado de se expor. Algo do tipo: o que os outros pares vão pensar do que estou falando. A arrogância do cientista também provoca um pouco de inibição para o jornalista, que fica bem preocupado com o tipo de pergunta que vai colocar. Um bom resultado é quando o cara de ciência ajuda a conduzir com o jornalista o assunto em pauta. Os dois caminhando juntos dá sempre uma boa reportagem. ViceVersa - O jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, que foi ombudsman da Folha de S. Paulo, diz que jornalismo e ciência é um "casamento improvável". Você concorda com essa afirmação? São dois mundos diferentes e incompatíveis? Paulo Roberto Martini - Não posso concordar. Um dos maiores sucessos editorias, dotado de firme teor científico, foi escrito por um jornalis2012|JUNHO|VICEVERSA|7
Arquivo Pessoal
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Paulo Roberto Martini
Geólogo de formação, é especialista em interpretação de imagens de satélites de observação da Terra, área em que atua no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) há 38 anos. A facilidade de se relacionar com os meios de comunicação o levou a trilhar outros caminhos. De 2008 a 2009, Martini integrou o Conselho de Leitores do jornal ovale, diário que circula na região do Vale do Paraíba. Em 2012, estreou a coluna semanal Mundo Verde, no mesmo veículo.
ta. Trata-se do livro “Os Eleitos” (The Right Stuff, em inglês). Tom Wolfe, jornalista de profissão, fez pesquisa histórica e tratou de ciência e de tecnologia com rigor. Um livro para não esquecer. Agora mesmo estou lendo “Barren Land” escrito pelo jornalista de ciência Kevin Krajick e que trata da história de prospecção de diamantes nos Estados Unidos e Canadá. Um show de pesquisa histórica, literatura e jornalismo. Veja 8|VIVEVERSA|JUNHO|2012
José Carlos N. Ephiphanio Graduado em Engenharia Agronômica, especializou-se na área de aplicações de imagens de satélite, principalmente com foco na agricultura. No Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), coordena o Programa de Aplicações do CBERS (Satélite Sino-brasileiro de Recursos Terrestres).
Clezio Marcos de Nardin
os exemplos de jornalistas do Brasil que atuam na área de ciência. Temos até uma associação brasileira de jornalismo científico.
que se lutar para que haja compatibilidade de gênios, isto é, nem o cientista achar que o jornalista é cientista e nem o jornalista achar que o cientista é jornalista. É preciso que ambos tentem achar um meio termo que permita que a ciência seja levada ao público numa linguagem palatável e quiçá agradável. Como ocorre com qualquer relacionamento, ambos têm que abrir mão um pouco do seu pedestal e lem-
José Carlos Neves Epiphanio Concordo apenas parcialmente, haja vista o grande sucesso de certas colunas e revistas de ciência. Se fosse apenas divórcio, tais colunas e revistas não sobreviveriam. É possível, sim, um casamento. Mas tem
Graduado em Engenharia Elétrica, é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais na área de Geofísica Espacial. Suas pesquisas sobre Clima Espacial, particularmente a sua influência e interferência no clima do sistema terrestre têm despertado bastante interesse dos meios de comunicação.
brarem-se de que o maior pedestal deve ser reservado ao público. Clezio Marcos De Nardin – Não concordo. O homem e a mulher vivem em mundos improváveis, mas não incompatíveis. Um não vive sem o outro, apesar da dificuldade de um entender o outro. Tudo é uma questão de nos dispormos a mergulhar em uma outra cultura. Jornalistas e cientistas têm que mergulhar um na cultura do outro. Por exemplo, faltam jornalistas nos congressos científicos.
de um patamar muito baixo, ou seja, o cientista mal sabe o que é e como deve ser o tom da conversa para a geração de uma matéria de divulgação científica e, por outro lado, o jornalista mal sabe do assunto que vai discutir com o cientista. É claro que o resultado seria muito melhor se ambos tentassem entender melhor o que é de fato a divulgação científica ou a reportagem científica. Há meios de melhorar isso, mas depende de um esforço tanto nas faculdades de jornalismo junto aos jornalistas como uma ação do MCTI (Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação) junto aos pesquisadores.
ViceVersa - Você acha que existe, de maneira geral, despreparo do cientista para falar com o jornalista Paulo Roberto Martini - Certamente. e vice-versa? Como disse antes: um tem medo do outro e isso não dá muita liga. Sem Clezio Marcos De Nardin – No liga o prejudicado é o leitor, que caso dos cientistas, alguns não es- vira a página e vai ler outra coisa. tão preparados para falar com o público leigo, até pela formação ViceVersa- Qual a sua melhor expeque tiveram na universidade. O riência com a imprensa? E a pior? cientista foi treinado para ser muito rigoroso nas explicações. Então, Paulo Roberto Martini - Minha quando tem que falar para um pú- melhor experiência aconteceu em blico mais amplo, o cientista acaba 1977, com uma revista semanal que transferindo para o jornalista a res- continua sendo editada até hoje. ponsabilidade de dar um tratamen- O assunto era uma seca braba no to multidisciplinar, de contextualizar nordeste e como as imagens do saa sua pesquisa. O cientista precisa télite Landsat poderiam colaborar entender que o jornalista não é para amenizá-la. O diretor do INPE cientista. Além disso, o cientista pre- na época não se sentiu à vontade cisa se conscientizar de que não é para falar sobre o tema. Nosso um “deus” falando com um pobre chefe de divisão se sentiu incomplebeu. petente e eu peitei o assunto. Dei várias alternativas sobre o uso de José Carlos Neves Epiphanio - Sim, imagens e algumas delas aplicamos embora isso tenha melhorado ulti- com resultados auspiciosos para remamente. No Brasil, há uma defi- cuperar água subterrânea, já que ciência crônica de leitura desde a os rios e os açudes haviam sumidos. tenra idade - tanto por parte dos Foi muito bom. A pior foi com uma jornalistas como dos cientistas -, rádio de Porto Alegre, logo depois ressalvadas as exceções de praxe. daqueles escorregamentos e daCom uma certa falta de leitura, es- quelas inundações em Santa Catapecialmente de divulgação científi- rina. O entrevistador queria porque ca, parte-se em qualquer conversa queria que eu colocasse o chapéu
ENTREVISTA
nas autoridades públicas, quando nitidamente as causas tinham sido naturais, em primeiro lugar. Em segundo lugar, o uso inadequado das encostas por parte da elite que construíra sem a licença ambiental devida. A entrevista foi pesada, para dizer o mínimo, e vejo que o ouvinte perdeu muito porque acho que não consegui transmitir nada de útil de tão brabo que fiquei com a teimosia do repórter. Coisas da vida. José Carlos Neves Epiphanio - Na verdade, a maioria das minhas poucas experiências com a imprensa foi boa. Talvez a mais marcante tenha sido uma entrevista ao vivo numa rádio de grande audiência logo após o lançamento de um dos satélites CBERS (Satélite Sino-brasileiro de Recursos Terrestres). Na ocasião, o que deveria ser uma pequena entrevista sobre o lançamento acabou se estendendo bastante, pois conseguimos tornar o assunto interessante e os jornalistas foram se aprofundando nos temas. Eu consegui transformar o que seria um assunto meio áspero numa conversa desafiadora e inteligível e a matéria acabou ficando muito legal. Uma experiência - em princípio ruim, mas que deu tempo de arrumar - foi o caso de uma matéria escrita, fruto de uma entrevista por telefone, em que o jornalista conhecia muito pouco do assunto. Pedi a ele que me enviasse a matéria escrita para que eu desse uma olhada para ver se havia alguma falha técnica (jamais mexo no estilo do jornalista; sempre que me é permitido procuro apenas sanar deslizes técnicos). Fiquei estarrecido ao ver que logo no início da matéria se afirmava algo como "...nem todos os satélites são voltados à ASTROLOGIA..." ao invés de "...nem todos os satélites são volta2012|JUNHO|VICEVERSA|9
ENTREVISTA
dos à ASTRONOMIA...”. Felizmente, dade sobre as pesquisas que são “Um dos conseguimos corrigir a falha e a ma- realizadas com recursos públicos, ou maiores téria ficou boa. mesmo como contribuição à difusão do conhecimento para a sociedasucessos Clezio Marcos De Nardin – Não te- de? editorias, nho críticas à imprensa, os jornalistas sempre foram muito corretos comigo. José Carlos Neves Epiphanio dotado de firme Fazer escolhas, recortes, faz parte Acho que faz parte da atividade do jornalismo e eu entendo isso. Em do cientista - seja na universidade, teor científico, uma oportunidade, embora eu te- seja nos institutos - essa ação, obfoi escrito por nha gostado do resultado, não me viamente sempre que a situação o agradou a forma como foi feita a permitir. Coloco esta ressalva, porum jornalista” matéria. Era uma entrevista para a televisão e a repórter chegou muito “O resultado maior é um enorme desafio e deveria ser motivo da ocupação de uma “Há o caso de seria muito parte do tempo do cientista.
os holofotes gerarem cócegas e o cientista pode se ver falando de temas alheios à sua área de conhecimento, com repercussões imprevisíveis, e em geral nefastas”
apressada impaciente para gravar. Registrou o meu depoimento e foi embora, tudo muito rápido. Eu sei da pressão que existe na produção de uma reportagem, principalmente de TV, mas me senti usado. ViceVersa - O cientista, muitas vezes envolvido com o seu trabalho, por falta de tempo, deixa de atender a pedidos de entrevistas. Você acha importante dar um retorno à socie10|VIVEVERSA|JUNHO|2012
melhor se ambos tentassem entender melhor o que é de fato a divulgação científica ou a reportagem científica”
que às vezes ocorre de o jornalista achar que o cientista tem que se posicionar e responder a todas as questões; às vezes pode ocorrer de o cientista ser impedido de dar uma ou outra informação, pois o assunto pode estar fora da sua alçada. Às vezes, é a uma instância superior que o jornalista deveria recorrer. Outras vezes pode ocorrer de o assunto não ser do leque do conhecimento do cientista etc. Por outro lado, há também o caso de os holofotes gerarem cócegas e o cientista pode se ver falando de temas alheios à sua área de conhecimento, com repercussões imprevisíveis, e em geral nefastas. Porém, acho que a oportunidade de poder apresentar a ação científica a um público
Clezio Marcos De Nardin – Sou funcionário público e, por isso, dar retorno à sociedade é minha obrigação. Agora, a difusão do conhecimento é uma questão de foro íntimo. Eu atendo a imprensa, sempre que possível, mas não é obrigação do cientista atender a todos os jornalistas. O retorno à sociedade pode ser feito de outras formas. Eu publico artigos, oriento alunos de pós-graduação. Esse é um tipo de retorno. Paulo Roberto Martini – Bom, acho que tudo começa por aí. Se não fizermos isto então estamos ferrados. A responsabilidade social do cientista é muito maior do que a do cidadão comum, porque ele tem conhecimento agregado, e agregado seguidamente pelo recurso público. Então é nosso dever devotar nosso conhecimento ao bem público. Não apenas difundir conhecimento, mas meter a mão na massa e atuar. Outra coisa: tem muito cientista que fala: “não gosto de política nem de político”. Wrong! Nós somos políticos e praticamos política todo o tempo. Eventualmente não política partidária. Mesmo assim estamos no páreo, tucanos ou petistas.
Socializar o conhecimento científfico O mundo está de olho na Ciência e Tecnologia (C&T) nacional. A opinião pública internacional tem visto crescer o número de artigos científicos publicados por pesquisadores brasileiros: o país já ocupa a 13ª posição em ranking elaborado pela empresa Thompson Reuters, e está a frente de Holanda, Rússia, Suécia, Israel e Suíça. O propósito de combinar ciência de ponta com uma missão social tem atraído os olhares internacionais: um dos periódicos científicos de maiores impactos no mundo dedicou, pela primeira vez, seis páginas à ciência tupiniquim. A edição 330 da Revista Science, publicada no final de 2010, destacou o esforço dos pesquisadores Miguel Nicolelis e Sidarta Ribeiro na criação do Instituto Internacional de Neurociências no município de Macaíba, em Natal (RN), uma das regiões pobres do Brasil, com renda per capita de R$ 324,00 e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,665 (IBGE, 2004). No panorama que traçou da ciência nacional, o periódico ressaltou a liderança brasileira em C&T na América Latina e o fator de que a globalização dos mercados tem contribuido para o crescimento da pesquisa nacional, a primeira do mundo em publicações relacionadas a açúcar, café e suco de laranja. As contradições de um país em pleno desenvolvimento e com cientistas de calibre para liderar grupos de pesquisas em todo o mundo também saltam aos holofotes internacionais. Do outro lado da balança estão 14 milhões de analfabetos funcionais e um investimento tímido em C&T, que somente em 2009 chegou a 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Kuppermann (1994) alerta para a existência de forte correlação entre a fração do PIB investido em Ciência e Tecnologia por um país e seu desenvolvimento geral. Por isso, ele sugere que as nações emergentes, como o Brasil, devem lutar para investir uma proporção maior de seu PIB em C&T. A produção científica e tecnológica é elemento importante para a geração de riqueza, competitividade e soberaria de uma nação, ao passo que, o conhecimento sobre ela é fundamental para munir a sociedade de capacidade crítica e representatividade,- atributos imprescindíveis à (in) formação cidadã.
OPINIÃO
[Silvio Anunciação]
Grande parte dos temas atuais e de interesse público tem raízes no conhecimento científico. É o caso das recentes discussões sobre as reservas de petróleo encontradas na camada pré-sal do litoral brasileiro e das propostas de alterações no código florestal, ambas com grande impacto sobre o futuro do país. Socializar este conhecimento, produzido principalmente com recursos públicos, é papel de divulgadores, jornalistas e cientistas. Cabe aos profissionais da divulgação científica, - área cujo crescimento foi expressivo no país nos últimos 15 anos, - traduzir e, principalmente, interpretar a produção dos cientistas, quase sempre envolta de assuntos áridos e complexos para uma linguagem menos codificada. A socialização do conhecimento científico é essencial não somente para que população possa desfrutar plenamente dos benefícios proporcionados pela ciência e tecnologia mas, principalmente, para que ela seja capaz de interpretar, avaliar, legitimar ou reprovar as propostas e decisões dos cientistas. É antiga e ultrapassada a visão de uma ciência racional e puramente neutra, isenta de interesses econômicos, militares e ideológicos (ZILLES, 2004). Os transgênicos são essenciais para a resolução da falta de alimento no mundo? Eles podem provocar males a saúde que desconhecemos neste momento? O incentivo a pesquisas nesta área são realmente importantes? Quais os impactos ambientais provocados pelo incentivo à biotecnologia agrícola? Uma série de outras pesquisas científicas suscitam questões como estas, diretamente ligadas aos limites e consequências da intervenção dos cientistas na natureza. Embora sujeita a conflitos, a Ciência é capaz de uma mudança tranformadora da sociedade. Fenômeno complexo, multidimensinal e com efeitos em todos os aspectos da vida, ela é um dos poucos caminhos pelos quais uma nação poderá se tornar mais rica e soberana, - sob todos os ângulos. Para isso, seus atores devem se pautar pela ética e responsabilidade, apoiados, por sua vez, em uma sociedade cada vez mais consciente cientificamente. 2012|JUNHO|VICEVERSA|11
A ci锚ncia humanizada por Ant么nio Scarpa 12|VIVEVERSA|JUNHO|2012
ENSAIO FOTOGRテ:ICO
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Divulgação
VIDA DE REDAÇÃO Jornalista e cientista: eterno conflito [Jorge Behrens] 14|VIVEVERSA|JUNHO|2012
Cientistas e jornalistas no Brasil parecem não se entender facilmente. Se, por um lado, falta aos jornalistas brasileiros que tratam dos temas de ciência uma boa compreensão dos processos de produção e comunicação próprios dos cientistas, por outro, os cientistas também não compreendem a prática jornalística.
A jornalista Sabine Righetti, da Folha de S. Paulo, argumenta que, diferentemente do que ocorre em importantes universidades e centros de pesquisas dos Estados Unidos e Europa, os pesquisadores brasileiros não são treinados para interagir com a imprensa, que é o canal de comunicação da academia com a sociedade. “O cientista brasileiro precisa de treinamento para isso. Ele ainda não é cobrado sobre sua interação com a sociedade, mas já há um movimento ocorrendo neste sentido”, comenta, referindo-se à inserção recente de uma aba no currículo Lattes do CNPq dedicada à divulgação científica (palestras, eventos, feiras de ciência, entrevistas, museus de ciência, etc.) por parte dos pesquisadores brasileiros. Para a jornalista da Folha, o cientista brasileiro, em geral, ainda é pouco acessível à imprensa em razão da própria prática profissional, que privilegia a competência e a comunicação com os pares, mas não com a sociedade. “O financiamento de pesquisa no Brasil é praticamente todo feito com recursos públicos, cabendo aos pesquisadores submeter seus projetos às agências oficiais de fomento para que tenham seu mérito avaliado por seus pares. Grandes universi-
VIDA DE REDAÇÃO dades americanas, por sua vez, dispõem de fundos patrocinados pela iniciativa privada e o cientista precisa divulgar seu trabalho, falar da relevância de sua pesquisa para a sociedade. Aqui no Brasil poucos pesquisadores fazem isso e quando fazem, são até mesmo criticados por querer aparecer”, explica. “Algumas vezes o cientista que me concedeu uma entrevista sobre sua pesquisa não concorda com a abordagem que faço no texto. Há artigos cuja originalidade está no método novo utilizado, mas a ênfase nos resultados é mais interessante para o leitor. Nem sempre o autor entende isso e mal-entendidos acabam acontecendo”. Outro atrito entre cientistas e jornalistas pode ocorrer quando matérias são produzidas confrontando cientistas que divergem sobre um assunto, ou quando se solicita a opinião de um cientista sobre os resultados de uma pesquisa de outro da mesma área. “Geralmente os pesquisadores repudiam essa prática, apesar de ser uma forma de checagem da fonte ou de debate sobre um tema controverso. Há aqueles que pedem para revisar o texto das matérias e, quando o fazem, até retiram comentários dos colegas”, revela. A discussão sobre a autoria na divulgação científica também é um tema controverso. A publicação do fato científico é de autoria do pesquisador. Contudo, a reprodução desse fato tem a significação que o jornalista é capaz de lhe dar. A produção científica continua nas mãos do cientista, mas o autor do texto de divulgação torna-se o jornalista.
Arquivo Pessoal
A jornalista Sabine Righetti, da Folha de S. Paulo
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VIDA DE REDAÇÃO
n, n ma top-dow w ig d o ra d a p p o é ar ientífica ma to cientistas lev s ivulgação c o d a a e d b o a p c O paradig m delo o ca top-doe. Nesse mo tualmente n paradigma
das a iedad ez o e às mais debati arente. Talv stas e a soc c ti s n e é õ ie c st le e e tecnologia e u l tr à q a n , u s e o q ã o ç a ã a d ç c a e u ic Uma da d a un uis oàe a partir ante na com vés da pesq amplo acess vivenciado m a l h n ia ti c ainda domin rdade desvelada atra o so ã n e te ve quentemen rbanos ond sociedades a u s se s o a n io o lic o c e b d ú m e n p a – m u o e o q a em ológic lmente bível ncionado b o salto tecn je e especia o, é inconce ra o ã a ç h p a e ic m d n a s u wn tenha fu v m ia ra o da”, d c ábua raspa da se prepa ulo XX. Entretanto, nos s meios de “t o in a rs te e n e iv e s d lm ia s ra íd o m oa séc a lite metade do t e têm acess ssão latina que signific da segunda o conectadas à Interne re s” (exp e o que estã “tabulas rasa s acham qu s le . a e e k o s, c as pessoas m a o Lo c re e tituá s d s indivíduo e sobre a a m algumas m branco”) E in e b s. l a e re S p o a d ta p n a e is e acreditar no u ad s pesq bam se res”, com tido de “folh ificam algun esquisa aca om seus pa st c p ju r a r, la su e fa d e tem o sen re n m b e te falar so nte pod o vai en entrevista e “O leitor nã tão complexo que some a m u r a d nto a s ando é e entendime ra o solicitado d d e n d a a u q id , c estão estud e a u p oas fo ar a ca s cientistas q para as pess or, ão subestim s n te n ja a de de algun se v le a c re fi lh tí n ou . blico, ou me ú ulgação cie bordagem p iv a d u il c a se fá d esquivando ra e o a fi d r olhe p tos são nde desa os os assun o divulgado d e Talvez o gra to u q m e je n o ar h te e Obviamen ssível domin o a, propõe-s p rm é fo o . ã a n ia ss c do público. is e D a, po de ciên acadêmicos. alguma form re aquilo que não nos é pelos temas e s d s te o n ig re dos círculos e le if esta d interesses teligível sob os cientistas, a ciência. R m in o o m o c a ã sm s ç lg e o u a m lic iv rm b s, d ú o fo p as e as que s de in e, somos tod ples, objetiv tas e cientist mos carente m lis si so a , s rn a Na verdad to n jo rm a s rt o fo o r e p procura nto cab ecimento e, e conhecime esforço intelectual não ss e todo o conh ir z u d a a de refa de tr ouco de falt p familiar. A ta m u a ri se alho? ta: não bre seu trab so r la uma pergun fa a st de o cienti inovadoras
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VIDA DE REDAÇÃO
Qualificação Aos jornalistas e cientistas que pretendem trabalhar com divulgação científica, Sabine destaca a importância do exercício constante de aprimoramento da comunicação de ciência para a sociedade, que deve despertar o interesse e a curiosidade das pessoas, porém manter-se fidedigna aos fatos científicos. “O jornalista que quer se especializar em divulgação de ciência deve entender como ela funciona, seus métodos, como é financiada; ter o mínimo entendimento dos termos usados em uma dada área da ciência também é fundamental para entendê-la. Não quero dizer que ele deva estudar Biologia, ou Física, mas ter uma
“O cientista brasileiro ainda não é cobrado sobre sua interação com a sociedade” compreensão mais profunda sobre essas áreas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o jornalista se especializa em escrever sobre Biologia, Física, Química, etc., enquanto no Brasil ele é mais generalista”. Quanto ao cientista, o conhecimento da prática jornalística também é necessário. Saber comunicar ciência para o público não é tão simples e o jornalismo tem sua linguagem, seus métodos de seleção e articulação de temas, que vão ao encontro das expectativas dos leitores. Conhecer o comportamento dos diferentes públicos, a relevância de determinados temas de
“Há artigos cuja originalidade está no método novo utilizado, mas a ênfase nos resultados é mais interessante para o leitor”
ciência para esses públicos, como a ciência e a tecnologia influem na sociedade são fundamentais para um novo paradigma bottom-up de divulgação científica. Em outras palavras, o cientista deve entender a sociedade e se comunicar com ela de forma mais efetiva – e criativa!
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30 ANOS
Leia artigo de Ennio Candotti, físico, vice-presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), publicado na edição de 26 de junho de 2012 pelo Jornal da Ciência, sobre os 30 anos da revista Ciência Hoje, pioneira na divulgação científica no Brasil. Ciência Hoje mais trinta a Gilberto Velho in memoriam
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MEMÓRIA
Independência política e dependência financeira, histórias de 82 Passados trinta anos a memória voa e, quando não trai, lembra. Escolhi, entre tantos, alguns pontos que, por sua atualidade, me parece vale a pena registrar. Quem sabe ajudem a pensar o presente, que politicamente me parece um tanto turvo. Uma das questões mais delicadas que enfrentamos, na CH e na SBPC em 1982, foi a das relações políticas entre editores e financiadores: ao financiar um projeto de divulgação os órgãos públicos de fomento deveriam se envolver com a política editorial, indicar diretores, cobrar lealdades? Vivíamos os últimos anos da ditadura (sem saber que seriam os últimos) e o embate público sobre os rumos das liberdades democráticas e da liberdade de opinião empolgava e recomendava cautela nos movimentos. Em 82 as bombas do Rio Sul ainda não haviam estourado no colo dos coronéis. A divulgação dos dados de interesse público como, por exemplo, a dimensão das reservas minerais de Carajás, os desastres da Transamazônica ou os números da poluição em Cubatão estavam, silenciados, na ordem do dia (ver por exemplo debates e documentos da Reunião Anual de 1983
realizada em Belém). Eram os primeiros passos de uma batalha que duraria trinta anos: a do direito de acesso à informação de dados e informações de interesse individuais ou coletivos, o Habeas Data da Constituição de 88, regulamentado nestas últimas semanas! O poder constituído não via com simpatia a SBPC publicar uma revista empenhada em divulgar fatos da ciência e da sociedade e informações que poderiam alimentar o debate público sobre políticas do Governo: Lynaldo Cavalcanti, então presidente do CNPq, corajosamente 'comprou' o nosso projeto e concordou com o princípio que o CNPq não deveria se envolver nas responsabilidades editoriais da CH. A Finep presidida por Gerson Ferreira filho, poucos meses depois o acompanhou na decisão. Curiosidade: entre os nossos assinantes encontraríamos, poucos meses depois do lançamento, o General Golberí do Couto e Silva, influente Ministro da Casa Civil da Presidência. Passados trinta anos ainda hoje encontramos dirigentes de agências financiadoras, em Brasília ou nos estados, que ficam indignados quando ações de Governo são criticadas em órgãos financiados por suas agências... 2012|JUNHO|VICEVERSA|19
As três dimensões do projeto CH CH deveria ser ao mesmo tempo: i. um canal de expressão da pressão da comunidade junto ao governo: lembro de alguns temas como a estabilidade e volume dos financiamentos do CNPq e Finep, mais bolsas (estávamos em menos de 10 000), criar laboratórios associados (precursores dos INTs) e também ampliar a participação das sociedades científicas nas políticas de fomento etc. ii. Promover a articulação da comunidade científica e formar um grupo de pressão capaz de atuar em Brasília, no Conselho do CNPq, nos estados para criar as Faps (já em 82), nas universidades, institucionalizar a pesquisa científica, defender
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a qualificação do ensino superior e consolidar construção da pós-graduação. iii. Por outro lado deveríamos também informar, promover a educação e popularizar a ciência e o conhecimento, sua função social. Explicar a todos os valores próprios da pesquisa científica, contribuir para a criação de museus, centros de ciências e páginas de ciência na imprensa diária e programas de TV. Um primeiro passo seria familiarizar os pesquisadores com a arte de escrever, divulgar, criar canais diretos entre "produtores e consumidores". O pesquisador deveria assim assinar o artigo em que conta o que ele faz e explica seu significado.
MEMÓRIA
Organizar a comunidade científica em torno de quais princípios? Direitos humanos, direito de reunião e expressão, direitos à educação, à diversidade cultural, direito à informação e à livre circulação do conhecimento, dos programas de proteção da biodiversidade e equilíbrio ecológico do meio ambiente (princípios incluídos mais tarde na Constituição de 88), os interesses coletivos na questão das patentes dos medicamentos, dos direitos reprodutivos da mulher e dos direitos das minorias e das culturas tradicionais. Além desses pontos outra questão de princípios estava (e
ainda está) presente: a construção de um país e de uma sociedade mais justa e com menos diferenças no desenvolvimento social e econômico regional, preservando obviamente as diferenças históricas e culturais. O próprio significado e legitimidade da pesquisa básica, nas áreas exatas, biológicas e humanas, ainda hoje é questionado e deve ser defendido, explicado etc. Tanto neste como nos outros princípios estamos longe de ter alcançado plenas garantias de prática e respeito.
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Interdisciplinaridade e o papel das ciências humanas Um terceiro ponto, que está relacionado com o anterior é a participação das ciências humanas e sociais, na CH e no movimento de popularização da ciência e de mobilização da comunidade científica. A SBPC, que já contava com a presença de cientistas sociais em suas diretorias, desde os anos sessenta, incluiu as ciências humanas em suas Reuniões Anuais no início de 1970. A Academia Brasileira de Ciências as incorporou em meados de 1990. Em janeiro último participei em Bhubaneswar, no estado de Orissa, do encontro das Sociedades Cientificas Indianas e percebi que elas ainda hoje excluem as ciências sociais, a história, a antropologia e a economia (excepcionalmente este ano convidaram o economista A.Sen, para uma conferência). A Academia de Ciências Argentina ainda as exclui. Lembro disso para mostrar que, abrigar ciências humanas e sociais, exatas e naturais sob um mesmo 'guarda chuvas' não é fato trivial. Entre nós, na SBPC na Ciência e Cultura na CH e na CHC e obviamente no Jornal da Ciência esta política multidisciplinar sempre orientou os editores e foi muito bem sucedida, contribuiu para desprovincializar as ciências exatas, abriu o horizonte dos debates e diversificou os pontos de vista com que se observa a natureza e a sociedade. Permitiu que os juízos de valor ganhassem dimensões mais consistentes, orientando "cum grano salis" opiniões, ações e publicações. 22|VIVEVERSA|JUNHO|2012
Mas, ainda estamos no começo desta caminhada, há muito chão a percorrer para que as chamadas ciências humanas ganhem um lugar estável - e o papel que lhes cabe - no panorama da política de C&T (vejam-se p.e. as discussões nos últimos dez anos em torno do fomento das ciências sociais através dos fundos setoriais ou nos mais recentes programas de apoio à inovação)
O novo cenário internacional e o papel das ciências humanas O quadro da política e da economia mundial nestes últimos anos merece também particular atenção. Dificilmente a política de C&T será nos países centrais e no mundo todo a mesma de antes de 2008. O financiamento da pesquisa sofreu forte abalo e ainda não voltou aos níveis e prioridades anteriores. Cabe perguntar se voltará. Há também outro fator que devemos levar em consideração: centenas de milhões de homens e mulheres (lembrem dos "Damnés de la Terre" do F. Fanon), nas últimas décadas ultrapassaram a linha de pobreza e ingressaram em um mundo que busca na educação e no conhecimento garantir seus direitos de igualdade, oportunidades e cidadania. Isso vale no Brasil, na Índia, na China, no Médio Oriente, na África e em outros países. Entender as novas tensões e conexões entre o secular e religioso na política e nas relações sociais e econômicas, na ciência e na cultura, exigirá a colaboração das ciências humanas e políticas.
MEMÓRIA Elas devem nos ajudar a explicar o que está acontecendo. E, importante, contribuir para mostrar que as soluções dos atuais conflitos não são únicas e raramente encontram resposta apenas em programas tecno-científicos. Mais uma razão, portanto, para estreitar os laços de cooperação que a interdisciplinaridade, construída ao longo dos anos, nos oferece. A omissão destes temas nas pautas das conferências internacionais dedicadas à política científica (que muitas vezes as exclui), ou à conservação do meio ambiente, revela uma certa alienação de seus mentores em geral da "comunidade das exatas e naturais". Esta miopia poderá conduzir ao isolamento político dos "exatos", o que seria grave neste momento de acirradas tensões sociais.
A divulgação científica para milhões A inclusão de centenas de milhões de novos cidadãos, escolares e leitores de ciência coloca novos desafios às instituições científicas. Não apenas para a pesquisa científica em saúde, energia, na produção de alimentos e comunicações. Mas, também para a própria divulgação e popularização da ciência. A pressão pelo respeito aos direitos humanos fundamentais, participação e conhecimento, tenderá a crescer. A demanda por tecnologias sociais, adequadas a responder aos desafios práticos dos milhões emergentes, questões por vezes elementares (mas de grande valor) como, por exemplo, a inexistência de um teste simples 2012|JUNHO|VICEVERSA|23
para saber se a água que bebemos é potável, ou questões menos elementares como encontrar uma vacina contra a malária. Por outro lado há muito a explicar sobre o valor da ciência na sociedade e no Congresso Nacional. A recente discussão sobre o Código Florestal mostrou que os Congressistas (e seus doutos assessores) preferem adaptar a natureza às leis do que as leis à natureza. O imbróglio do Código se deve em grande parte ao fato de não ter sido levada em consideração uma advertência levantada pela SBPC, que este código deveria respeitar antes de mais nada a diversidade dos biomas e os diferentes tipos de florestas existentes em nosso extenso território. Preferiram elaborar um código único e mandaram a natureza se ajustar a ele. Deu no que deu. Falhamos em nossa missão de esclarecer congressistas, assessores e principalmente a sociedade. As nossas explicações foram insuficientes, os nossos meios de divulgação se revelaram tímidos frente aos desafios da batalha política.
Papel da CH e da SBPC. As Faps de 92 e hoje Lembrei destes pontos ao contar a vocês momentos decisivos das discussões que nos ocupavam - e também a SBPC - nos tempos em que CH foi criada. A opção editorial foi, em 82, por uma revista severa em seus parâmetros científicos e de boa qualidade gráfica, em cores e bom papel. Pensou-se em um tabloide, mais barato, em papel jornal, de maior circulação, mas, ponderou-se que sua realiza24|VIVEVERSA|JUNHO|2012
ção seria para nós mais complexa: editorialmente e tecnicamente. Preferiu-se a primeira opção. Precisávamos de um laboratório onde aprender a escrever, reunir informações, expressar opinião, tomar partido... exercitar o "avanti adagio". Um laboratório político de divulgação científica escrita principalmente por cientistas. Um tabloide exigiria também uma maior presença da SBPC e da CH nos diferentes estados. Esta era uma meta ainda longínqua. Um passo nesta direção seria dado, dez anos depois, com a criação de sucursais de CH e secretarias regionais da SBPC e das fundações de apoio à pesquisa nos estados. O movimento da SBPC e da CH dos anos 80 foi importante, precedeu e preparou a inclusão na Constituição de 88 do Artigo 218 (de C&T e Faps) e logo depois a própria criação das Faps nos estados. Hoje a presença da SBPC no território nacional é muito maior, mas ainda assim perdemos a batalha do Código Florestal...
Os bastidores de CH Vamos falar um pouco dos bastidores CH, da cozinha de ontem e de hoje. Em trinta anos estilos, editores, designers, jornalistas administradores se sucederam, mas curiosamente muitos deles ocuparam seus postos por longos períodos de tempo. É significativo o número dos colaboradores que tem mais de vinte anos de trabalhos contínuos na CH. Muitos deles estão nesta sala, hoje: Maria Elisa, Lindalva, Alicia, Maria Inês, Claudia, Carlos Henrique, Baltar, Marli, Alicia, Delson, Irani, Tito,
Adalgisa, Theresa, Roberto Carvalho (não está aqui mas continua colaborando de Curitiba), Elisa Sinkuevicz, Yedda, Miriam Cavalcanti, Menandro, Bianca, Walter e Luiza, Carla e Shirley que foram e voltaram. Monserrat que está aqui, foi editor de CH, cuidou do JC durante mais de vinte e cinco anos! Creio que esta é a melhor demonstração de um projeto perseverante que empolgou e ainda empolga. Devo confessar que nem eu, e creio nem Darci, Roberto, Alberto ou Otavio imaginávamos, em 82, que duraria tanto e muito menos que seriamos chamados de 'fundadores'. Espero que a jovem guarda que hoje está buscando nos arquivos a pré-história da CH devolva aos muitos protagonistas daqueles primeiros passos este grave denominativo. Lembro (após consultar os infalíveis cadernos de 82) que participaram das reuniões que prepararam o projeto CH: além de nós, também Gilberto Velho, Pedro Malan, Rui Cerqueira, Antonio Olinto, J.Murilo Carvalho, Alzira Abreu, Angelo Machado, Reinaldo Guimarães, Luiz Castro Martins, Henrique Lins de Barros, Yonne Leite, José Monserrat, Carlos e Regina Morel, Argemiro Ferreira, Claudius Ceccon, Luiz Davidovich, Moisés Nussenzweig, Sergio Ferreira, Marcelo Barcinski, Jorge Guimarães, Sergio Flacsman, George Duque Estrada, Jenny Rachle, Leonel Katz, Joaquim Falcão, Telmo Araujo e Alvaro Abreu. Roberto Lent no primeiro semestre se encontrava no exterior. Logo depois lá por 85 encontro nos cadernos o registro de Cilene na sucursal de Pernambuco e Luca em 86 como correspondente em Brasília. É bom lembrar que a criação da CH teve fortes repercussões
em SP, na sede da SBPC. É um capítulo desta história que também devemos reconstruir: Carolina Bori, José Albertino Rodrigues, José Reis, e sobretudo Alberto Carvalho da Silva e C. Pavan tiveram grande influência nas negociações que precederam o lançamento da CH.
Episódios de 92. A advertência de J. Murilo Quero enfim relembrar um episódio importante na vida de CH. O menciono porque creio que se as coisas tivessem caminhado de forma um pouco diferente, não estaríamos aqui comemorando os trinta anos. Em 1991 lançamos CHC mensal, até então um encarte bimestral, nas últimas horas de uma tempestade que havia desestabilizado as finanças de CH. Alguns números da época (n.70,71) levaram o carimbo "ameaçada de extinção". Goldemberg no MEC comprou duzentas mil assinaturas de CHC para todas as escolas. CH e CHC foram salvas. Ocorre que em julho de 92 a SBPC e a CH alinharam-se com o movimento de indignação nacional que levaria ao afastamento de Collor da presidência. A nossa primeira, breve e incisiva, manifestação de adesão ao movimento data de fins de junho (vale aqui registrar que o texto foi redigido por Gilberto Velho e revisado antes de sua divulgação por Carolina Bori). Na Reunião Anual de 1992, que se iniciou poucos dias depois a questão ainda estava fervendo. Exceto Ulisses Guimarães e Severo Gomes senador, que vieram manifestar sua solidariedade até a
USP onde se realizava a RA, além deles apenas a Erundina prefeita de SP, Marilena Chauí Secretária de Cultura e Eduardo Suplicy já senador (eles participaram da abertura no Municipal). Os demais políticos alguns sócios e próximos à SBPC nos evitaram. Helio Jaguaribe, ministro da C&T, determinou a Lyndolpho de Carvalho Dias, presidente do CNPq, que cortasse os recursos da SBPC para a realização da RA. Lindolpho sabiamente respondeu que já haviam sido repassados... Ao finalizar a RA as manifestações dos estudantes e o sensível quadro político de Brasília, indicavam que a crise estava se ampliando com grande velocidade. Contei isso porque hoje, refletindo sobre as advertências de José Murilo e de Wanderley Guilherme dos Santos, que na época consideravam um equivoco político promover a desestabilização do Governo, dou-lhes razão. Talvez os anos me tenham tornado mais cauteloso. Ou talvez por observar que, passados vinte anos, as fontes dos desmandos que tanto nos indignavam continuam a 'operar' impunemente. A indignação é sempre necessária, mas não suficiente para mudar os rumos da história. O risco para a SBPC e para CH alinhar-se com o movimento de indignação nacional, naquele momento, foi muito alto. Poderíamos não estar aqui comemorando os trinta anos.
da máscara que ordena a uma Sociedade Cientifica, divulgar fatos ou opiniões baseadas em "ciência" apenas. Seria um equivoco maior. Fazemos política em ciência por dever cívico e necessidade, não por opção. Direitos humanos e instituições científicas para se consolidarem em nosso país ainda precisam de muito apoio e compreensão da sociedade. Vejam por exemplo a discussão corrente sobre os fundos setoriais, as novas fontes de financiamento da pesquisa científica e o fomento à inovação e as "tecnologias sociais". Creio enfim que vivemos um momento de intensas tensões políticas e econômicas - e, insisto, com dimensões internacionais pouco familiares à comunidade científica. É um momento em que, a meu ver, CH e a SBPC deveriam reavaliar suas distâncias editoriais e políticas, - tenho a impressão que andam excessivamente afastadas - aproximar-se, repensar as dimensões nacionais, científicas e sociais, do projeto que as une. Em homenagem aos jovens de menos de trinta anos.
Política em ciência: máscara ou remo Nem por isso creio eu que deva-se optar sempre por políticas cautelosas, refugiando-se por trás 2012|JUNHO|VICEVERSA|25
10 FIQUE LIGADO
critérios para comunicar ciência
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DICAS
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Inclua nos trabalhos informação que ajude o público a adotar medidas para melhorar a sua qualidade de vida.
Veja as dicas elaboradas pela Rede Ibero-americana de Monitoramento e Capacitação em Jornalismo Científico, formada por instituições de dez países, dentre eles a Fundação Oswaldo Cruz, que coordena a iniciativa. A rede tem como objetivo apoiar, disseminar e incrementar a qualidade do jornalismo científico nos países ibero-americanos, de modo a contribuir para a consolidação de um diálogo mais harmonioso da relação entre ciência e sociedade na região. O texto foi publicado no livro Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana, em 2010, sob coordenação de Luisa Massarani.
Confirme tudo e tenha cuidado com as fontes que se aventuram a opinar sobre assuntos fora de sua esfera de competência. Jamais afirme nada se não existem provas concludentes a respeito.
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É melhor indagar sobre processos em vez de produtos, lidar com ideias tanto como com os fatos.
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A informação, incluindo a institucional, deve ser noticiosa.
Não fale em linguagem de pesquisador.
Os títulos devem ser atrativos, mas não devem prometer o que a mensagem do O tratamento deve ser cuida- texto não vai cumprir. E, obviamendoso. Que a informação mos- te, não devem ser a única atração tre um otimismo prudente ou do texto. um pessimismo esperançoso, como disse Manuel Calvo Hernando Use os recursos do dese(1971). nho para manter o interesse pelo texto. Os boA informação deve ser pro- xes, as chamadas e os intertextos funda, transcendente e hu- curtos permitem explicar o contexto mana. A linguagem, simples e (datas, nomes de pesquisadores, precisa. Devemos estimular a capa- pontos-chave) para que o texto não cidade de reflexão do público. se perca.
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Não esqueça que o usuário da informação está te interrompendo a cada dez linhas para perguntar “por que”, “para que”, “como isso me afeta”, “para que me interessa”. Se a pergunta tácita não é respondida, ele abandonará o texto e perderemos a oportunidade de comunicar. 2012|JUNHO|VICEVERSA|27
DICAS
Guia de
PERGUNTAS
antes de publicar um estudo científico Recomendações propostas por Timothy Johnson (2005) para ajudar o público a compreender melhor a informação:
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É suficientemente bom para justificar a atenção pública?
O público pode avaliar devidamente os resultados com a informação que apresentamos? Evitou-se fazer uma avaliação simplista (bom/mau)?
Apresentou-se o quadro geral, não só informações pontuais que podem dar uma ideia equivocada?
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Está claro a quem se aplicam os resultados e quais são as vantagens e desvantagens?
Foram divulgadas as fontes de financiamento do estudo e o mesmo foi revisado por pares? Houve consulta a outros cientistas de prestígio e verificou-se a confiabilidade da fonte primária? Examinou-se o estudo integralmente (não só o resumo e as fontes secundárias)?
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DICAS
Do projeto de pesquisa à publicação do ARTIGO [Jorge Behrens]
A
vida de um pesquisador não se restringe aos experimentos em laboratório ou coleta de campo, seja qual for a área da ciência na qual trabalhe. Mais do que apenas pesquisar, a qualidade de seu trabalho e sua produtividade são avaliadas por suas publicações, o que inclusive lhe possibilita a obtenção de mais verbas para pesquisa e progressão na carreira.
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Cientistas americanos coletam amostras de águas profundas através de um buraco no gelo do Ártico 2012|JUNHO|VICEVERSA|29
A publicação de um artigo é o último passo no processo de produção científica, porém depende do projeto de pesquisa delineado e que produziu os resultados divulgados. E o processo começa com uma boa revisão bibliográfica sobre o assunto que deseja pesquisar.
A revisão tem por objetivo primário verificar o estado da arte, ou seja, o que já se encontra conhecido, concluído e publicado sobre o assunto. Neste processo também se identificam as técnicas e métodos utilizados e as oportunidades de pesquisa em áreas não exploradas por outros pesquisadores. Assim, evita-se repetir o que já foi feito – o que prejudicaria a originalidade da pesquisa –, desenvolvem-se indutivamente novas hipóteses e se abrem oportunidades de inovação através da utilização de novos métodos de coleta e análise de dados, procurando sempre ir além do que já se conhece. Pode-se afirmar que, a partir de uma revisão bem feita reforçam-se ideias e também as justificativas do projeto.
O delineamento do trabalho experimental segue a revisão bibliográfica. É quando o pesquisador define os objetivos do trabalho - gerais e específicos-, seleciona métodos, equipamentos e demais materiais para obter os dados experimentais, define o orçamento necessário para a execução do projeto – recursos financeiros e humanos, quais sejam, bolsas para estagiários, mestrandos, doutorandos, contratação de prestadores de serviços, despesas com a vinda de pesquisadores colaboradores, etc. Há casos de pesquisas com humanos que demandam a submissão do projeto à análise por um comitê de ética, o que pode restringir os experimentos ou mesmo obrigar o pesquisador a rever seu protocolo experimental.
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delineamento
DICAS
Sumáriobreve resumo da proposta Introduçãocontextualização do tema da pesquisa, sucinta e objetivamente
Justificativasrelevância da pesquisa Objetivoso que se espera obter Material e métodos: métodos e recursos necessários
Cronograma de execução Recursos financeiros Referências bibliográficas O projeto é enviado a agências de fomento como CNPq, Capes, Fapesp e Finep, mediante abertura de editais ou quando há fluxos contínuos de envio para a obtenção do financiamento do trabalho. Tão logo obtenha recursos, o pesquisador inicia seu trabalho. É comum que os pesquisadores antecipem o periódico no qual desejam publicar sua pesquisa e essa escolha se dá, sobretudo, pelo impacto da revista. Uma revista com alto fator de impacto (FI) proporciona maior visibilidade do trabalho do pesquisador e, consequentemente, possibilita maior reconhecimento de seu trabalho. Entretanto os periódicos de alto FI exigem qualidade, originalidade e relevância da pesquisa, o que nem sempre se obtém e certamente dificulta a publicação final. Daí a importância de um delineamento experimental robusto e também da colaboração de outros pesquisadores, principalmente quando se trata de pesquisa de ponta. Pelo exposto, o trabalho de um pesquisador depende de seu marketing pessoal. Ser bem sucedido depende de saber “vender o peixe” para conseguir recursos para a pesquisa, ter uma boa rede de relacionamentos, ser criativo e saber se comunicar não apenas com seus pares, mas também com a sociedade. E isso lhe será cada vez mais exigido.
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Pesquisa Introdução
Agradecimento
Capa
Amostra
objetivos
Capítulo
Citação
Ciência
Teoria Conhecimento método paráfrase tese
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mineral, ar, etc.). Quando todos os elementos de uma população são utilizados, tem-se um censo.
Análise É o trabalho de ava-
liação dos dados amostrais coletados. Sem ela não há relatório de pesquisa.
GLOSSÁRIO Terminologia
Científica
Anexo (ou Apêndice) - É uma parte opcional de um texto científico. Nele deve constar o material que contribui para melhor esclarecer esse texto e que não é necessário ao corpo do mesmo.
Capa Serve para proteger o
trabalho e dela deve constar o nome do autor, o título do trabalho e a instituição onde a pesquisa foi realizada.
Capítulo É uma das partes da
divisão de um livro, uma tese ou um relatório de pesquisa. Lembrando que o primeiro capítulo será a Introdução e o último as Conclusões do autor.
Ciência É um conjunto organi-
zado de conhecimentos relativos a um determinado objeto conquistados através de métodos próprios de coleta de informação.
Citação É quando se transcreve Agradecimento É a mani-
ou se referencia o que outro autor escreveu.
festação de gratidão do autor da pesquisa às pessoas, empresas e/ ou instituições que colaboraram no seu trabalho. Deve ter a característica de ser curto e objetivo.
Coleta de Dados É a fase
Amostra É uma parcela repre-
trabalho onde o autor se coloca com liberdade científica, avaliando os resultados obtidos, propondo soluções e aplicações práticas.
sentativa da população (ou universo) pesquisada. Por população, entende-se pessoas ou coisas (por exemplo, produtos, água, material de origem vegetal, animal ou
da pesquisa em que se reúnem dados através de técnicas específicas.
Conclusão É a parte final do
Conhecimento
Científico É o conhecimento
racional, sistemático, exato e verificável da realidade. Sua origem está nos procedimentos de verificação baseados na metodologia científica. Podemos então dizer que o conhecimento científico: - "É racional e objetivo. - Atém-se aos fatos. - Transcende aos fatos. - É analítico. - Requer exatidão e clareza. - É comunicável. - É verificável. - Depende de investigação metódica. - Busca e aplica leis. - É explicativo. - Pode fazer predições. - É aberto. - É útil" (Galliano, 1979).
Conhecimento Empírico (ou conhecimento vulgar) É o conhecimento obtido ao acaso, após inúmeras tentativas, ou seja, o conhecimento adquirido através de ações não planejadas, observações.
Conhecimento Filosófico É fruto do raciocínio e da reflexão humana. É o conhecimento especulativo sobre fenômenos, gerando conceitos subjetivos. Busca dar sentido aos fenômenos gerais do universo, ultrapassando os limites formais da ciência.
Conhecimento Teológico Conhecimento
revelado pela fé divina ou crença religiosa. Não pode, por sua origem, ser confirmado ou negado. Depende da formação moral e das crenças de cada indivíduo. 2012|JUNHO|VICEVERSA|33
Corpo do Texto É o desen-
volvimento do tema pesquisado, dividido em partes, capítulos ou itens, excluindo-se a introdução e a conclusão.
Dedicatória Parte opcional
que abre um livro, uma dissertação ou uma tese homenageando afetivamente algum indivíduo, grupos de pessoas ou outras instâncias.
Índice (ou Índice Remissivo) É uma lista
Material Permanente É a
que pode ser de assuntos, de nomes de pessoas citadas, com a indicação da(s) página(s) no texto onde aparecem. Alguns autores referem-se a índice como o mesmo que sumário.
descrição de todo capital necessário para aquisição de materiais que têm duração contínua. São aqueles materiais que se deterioram com mais dificuldade como automóveis, equipamentos ,mobiliário, computadores etc.
Indução "Processo mental por
Material de Consumo
intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente Dedução Conclusão baseada constatados, infere-se uma verdade em algumas proposições ou resulta- geral ou universal, não contida dos de experiências. nas partes examinadas" (Lakatos, Marconi, 1991) Dissertação É um trabalho de pesquisa, com aprofundamento Instrumento de superior a uma monografia, para Pesquisa Material utilizado obtenção do grau de Mestre, pelo pesquisador para coletar por exigência do Parecer 977/65 dados para a pesquisa. do então Conselho Federal de Educação. Introdução É o primeiro capítulo de um trabalho científico, Entrevista É um instrumento onde o pesquisador irá apresentar, de pesquisa utilizado na fase de em linhas gerais, o que o leitor coleta de dados. encontrará no corpo do texto. Por Experimento Situação provo- isso, apesar do nome Introdução, é a última parte a ser escrita pelo cada com o objetivo de observar a reação de determinado fenôme- autor. no. Justificativa É a parte mais importante de um projeto de Fichamento São as anotapesquisa já que é nela que se ções de coletas de dados regisformularão todas as intenções do tradas em fichas para posterior autor com o trabalho. A justificativa consulta. em um projeto de pesquisa deve convencer o leitor de que o trabaFolha de Rosto É a folha lho de pesquisa é importante, ou seguinte a capa e deve conter as seja, o tema escolhido e a hipótese mesmas informações contidas na levantada são relevantes para o Capa e as informações essenciais campo da ciência e, se pertinente, da origem do trabalho. para a sociedade. Deve-se tomar o cuidado na elaboração da justiHipótese É a suposição de ficativa de não se tentar justificar uma resposta para uma questão a hipótese levantada,isto é, tentar formulada sobre o tema da pesresponder ou concluir o que vai ser quisa. A hipótese pode ser aceita buscado no trabalho de pesquisa. ou rejeitada a partir da análise estatística dos dados coletados. 34|VIVEVERSA|JUNHO|2012
É a descrição de todo capital necessário para aquisição de materiais que têm duração limitada. São aqueles materiais que se deterioram como vidraria, reagentes, papelaria e material de limpeza.
Método A palavra método
deriva do grego e quer dizer caminho. Método, então, é a ordenação de um conjunto de etapas a serem cumpridas em um experimento para coletar os dados de interesse.
Monografia É o escrito de
autoria individual sobre um tema bem determinado e limitado, que venha contribuir com relevância à ciência.
Objetivos A definição dos ob-
jetivos determina o que o pesquisador quer atingir com a realização do trabalho de pesquisa. Objetivo é sinônimo de meta, fim. Os objetivos podem ser separados em objetivos gerais e específicos.
Paráfrase É a citação de um texto, escrito por um outro autor, sem alterar as ideias originais.
Patente
É o documento de proteção de uma invenção, modelo de utilidade, desenho industrial e da marca. Quando o pedido de patente é apresentado ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial
(Inpi), órgão competente brasileiro, ele se chama depósito. O Inpi leva cerca de três anos e meio para certificar-se do caráter de originalidade do pedido depositado, para então emitir a carta de patente.
Pesquisa É a ação metódica
para se buscar uma resposta; busca; investigação.
Premissas São proposições lógicas que vão servir de base para uma conclusão.
Recursos Financeiros É a descrição minuciosa de todo o dinheiro necessário para a realização da pesquisa. Costuma ser dividido em Material Permanente, de Consumo e Pessoal.
Resenha É uma descrição mi-
nuciosa de um livro, de um capítulo de um livro ou de parte deste livro, de um artigo, de uma apostila ou qualquer outro documento.
Revisão de Literatura É a
cial inicial de uma pesquisa. É a dúvida inicial que lança o pesquisador ao seu trabalho de pesquisa.
localização e obtenção de documentos (teses, dissertações, artigos, informes, reportagens, relatórios, etc.) que substanciará o tema do trabalho de pesquisa.
Propriedade industrial
Técnica É a forma mais segura
Problema É o marco referen-
Segundo a Lei 9.279/96, em vigor, é a proteção dos direitos à propriedade de industrial efetuando-se mediante concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade, de registros de desenho industrial e de marca.
Propriedade intelectual
É o conceito mais amplo: soma os direitos relativos às obras literárias, artísticas e científicas, às invenções em todos os domínios da atividade humana, às descobertas científicas, aos desenhos e modelos industriais, às marcas industriais, comerciais, às interpretações e às execuções dos artistas, aos fonogramas e às emissões de radiodifusão, à proteção contra a concorrência desleal e todos os outros direitos inerentes à atividade intelectual nos domínios industrial, científico, literário e artístico. No Brasil não são patenteáveis o todo ou parte dos seres vivos, nem a biodiversidade, reconhecida como propriedade coletiva.
propriedade intelectual
Problema Recursos
Indução
resenha
e ágil para se cumprir algum tipo de atividade, utilizando-se de um instrumental apropriado.
Teoria "É um conjunto de princí-
pios e definições que servem para dar organização lógica a aspectos selecionados da realidade empírica. As proposições de uma teoria são consideradas leis se já foram suficientemente comprovadas e hipóteses se constituem ainda problema de investigação" (Goldenberg, 1998).
Tese É um trabalho semelhan-
te à dissertação, distinguindo-se, porém, pela efetiva contribuição na solução de problemas, e para o avanço científico na área em que o tema for tratado.
Tópico É a subdivisão do assunto ou do tema.
Universo É o conjunto de
fenômenos a serem trabalhados, definido como critério global da pesquisa.
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Expressões latinas utilizadas em pesquisa Apud Significa “citado por”. Nas citações é utilizada para informar que o que foi transcrito de uma obra de um determinado autor na verdade pertence a um outro. Ex.: (Napoleão apud Loi) ou seja, Napoleão “citado por” Loi.
et al. (et alli) Significa “e
outros”. Utilizado quando a obra foi executada por muitos autores. Ex.: Uma obra escrita por Helena Schirm, Maria Cecília Rubinger de Ottoni e Rosana Velloso Montanari referencias-se: SCHIRM et al. (ano da publicação).
mesmo que possa parecer estranho ou esteja reconhecidamente escrita com erros de linguagem.
Ipsis verbis Significa “pelas
mesmas palavras”, “textualmente”. Utiliza-se da mesma forma que ipsis litteris ou sic.
opus citatum ou op.cit. Significa “obra citada”
passim Significa “aqui e ali”. É
utilizada quando a citação se repete em mais de um trecho da obra.
Sic Significa “assim”. Utiliza-se da mesma forma que ipsis litteris ou ipsis verbis.
Supra Significa “acima”, referindo-se a nota imediatamente anterior.
ibid ou ibdem Significa “na mesma obra”.
idem ou id Significa “igual a anterior”.
In Significa “em”. Ex: LEFÈVRE, F. (2007). “Lógica sanitária e lógica do senso comum: por um diálogo com tecnologia”. In: LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, A.M.C.; IGNARRA, R.M. O conhecimento de intersecção: uma nova proposta para as relações entre academia e sociedade. São Paulo: FSP/ USP:IPDSC.p.17-23.
ipsis litteris Significa “pelas
mesmas letras”, “literalmente”. Utiliza-se para expressar que o texto foi transcrito com fidelidade, 36|VIVEVERSA|JUNHO|2012
FONTES BRASIL (1965). Parecer no. 977/65 – Definição dos Curso de Pós-graduação. Brasília, DF: D.O.U, 03/12/1965. BRASIL (1965). Lei no. 9.279/96 – Lei de Propriedade Industrial. Brasília, DF: D.O.U, 14/05/1996. GALLIANO, A.G. (1979).O Método científico: teoria e prática. São Paulo: Atlas. 200p. GOLDENBERG, M. (1998). .A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. 2.ed. Rio de Janeiro: Record, 1998. LAKATOS, E.M.; MARCONI, M.A. (1991). Fundamentos da metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1991.