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Uma vida com e para os livros

Nuno Medeiros

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consumir um livro é hoje, em grande medida, consumir capítulos de livros

sociólogo setubalense Nuno Medeiros, professor e investigador na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tem uma vida pessoal e profissional ligada ao livro e sente uma “honra grande” por ter sido agraciado com o Prémio de História Alberto Sampaio 2022. “O prémio significa obviamente o reconhecimento do meu trabalho, significa também uma honra grande e a possibilidade de projetar a discussão e o conhecimento público sobre os temas que são objeto do trabalho que foi premiado, incluindo a temática mais geral onde este trabalho se insere”, afirma. O trabalho “Edição para o Grande Consumo em Portugal: Um século de Romano Torres (1885/86-1990)” valeu a Nuno Miguel Ribeiro de Medeiros, 49 anos, um prémio que, com responsabilidade científica da Academia de Ciências de Lisboa, distingue a “investigação histórica inovadora e aprofundada sobre um tema de relevância económica, social e cultural”. Filho dos fundadores da livraria Culsete, Fátima e Manuel Medeiros, viveu sempre entre livros. “Os meus pais foram livreiros a vida toda, a minha mãe também tinha uma carreira ligada à docência e à investigação, sempre ligada ao mundo da livraria, e ambos sempre ligados ao mundo do livro por outros processos, como grandes leitores”. Os livros eram “uma conversa permanente” em casa e, como os irmãos, ajudou os pais “em atividades menores” na Culsete, mas “formadoras no âmbito da livraria e das atividades da livraria”, acabando por “desenvolver uma propensão para este tema” e especializar-se no mundo do livro, da cultura impressa, da livraria e da edição. Nuno Medeiros diz ter “algum cuidado” com “um discurso crepuscular, de fim ou de pré-fim anunciado do livro”, não subscrevendo as visões “catastrofistas”. Admite que hoje o livro enfrenta novas “dificuldades e desafios”, mas alerta que o seu mundo é “diverso, declinado”, havendo “várias formas” de existir e ser consumido, “em função de vários pressupostos, interesses e estratégias”. Afirma que “consumir um livro é hoje, em grande medida, consumir capítulos de livros, por exemplo, nos âmbitos profissional ou académico”, e pode ser “consumir segmentos do livro que façam parte de outro tipo de ofertas audiovisuais, mas em que aquele segmento do texto tornado livro faz parte integrante”. Recorda que, além de escrito e impresso, num mundo digital o livro pode ter “forma de impressão desmaterializada”, além de também existir o audiolivro. “O livro sempre foi algo de multiforme e, portanto, sempre teve diversos tipos de presença ou de ausência na vida das pessoas”. O professor e investigador reconhece que o livro enfrenta “a concorrência de outros meios de comunicação e meios de transmissão de informação ou formas de fruição do lazer mais apelativos”, porque, pela sua densidade e formato, “marca uma exigência intelectual de concentração que às vezes é menos interessante para uma chegada mais rápida ao objeto da comunicação”. Mas nota que o número de editoras e projetos relacionados com o livro “vão-se multiplicando”, o que permite “colocar a dúvida sobre até que ponto se pode dizer que o livro está morto”, ao mesmo tempo “também há cada vez mais um conjunto de pessoas a dedicar-se ao seu estudo”. Por isso, afasta-se do “discurso ancestral” sobre as ameaças ao livro. “Não sendo desligado da realidade, é um discurso que olha para o copo meio vazio. E isso muitas vezes por parte de quem se dedicou aos livros a vida toda e só o terá logrado porque alguém há de comprar e ler. Não tenho nem um discurso otimista, nem catastrofista, acho que as coisas são complexas e multifatoriais”.

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