NQ
Revista de Niquelândia
Produzida por alunos da disciplina de Técnicas de Jornalismo, do curso de Jornalismo da Universidade de Brasília.
Turismo
Conheça os prós e contras do cenário ecológico
Cultura
1ª Festa Literária atrai público de todas as idades
Economia
Saiba mais sobre o minério que deu nome à cidade
EDITORIA
AL
P
egamos a estrada levando na bagagem toda a nossa inexperiência como equipe de reportagem em direção a uma cidade que cogitávamos ser interessante. É fato que nunca saberíamos que Niquelândia é o que é à distância, por chamadas de vídeo, telefonemas ou imagens de satélite. Em quatro dias de trabalho, entendemos que é preciso estar presente para escrever melhor sobre qualquer assunto e que viver a experiência é algo tão válido quanto necessário. Constatamos que há algo de mágico na expectativa de chegar ao lugar que foi tema de nossas pautas e futuras investigações. Passamos horas olhando pela janela, ouvindo músicas, assistindo a filmes e jogando cartas no intuito de antecipar o instante em que veríamos a fachada do hotel – nosso lar temporário que também foi redação com reuniões de pauta abertas ao público. Quando finalmente chegamos, nos vimos imersos num completo desconhecido que aos poucos foi tomando contornos mais sólidos. No processo de apuração, nos apaixonamos pela cidade, pela profissão e por cada detalhe
que compôs essa experiência que, hoje, dá origem à NQ. Não foi a arquitetura, as lendas nem as belezas da Serra da Mesa que mais nos encantaram. As pessoas que vivem em Niquelândia quem nos revelaram o que a cidade tem de melhor: a hospitalidade. Ainda que o desespero nos visitasse a cada dia, na hora de cobrir pautas, fazer entrevistas, solicitar documentos e conseguir informações significativas, ele não nos impediu de ouvir histórias incríveis e retribuir sorrisos que, para nós, fizeram toda a diferença. A revista desse semestre olha para Niquelândia, mas enxerga muito além do níquel. Registramos os aspectos políticos, econômicos, sociais, históricos e turísticos, bem como os desafios que serão enfrentados pela cidade num futuro próximo. Através de reportagens, fotografias e de muito trabalho, expusemos nosso olhar sobre a cidade. Ele revisita o passado, está atento ao presente e é projetado no futuro. Desejamos, inclusive, que esse futuro seja promissor a todos: a nós e à cidade que nos recebeu tão bem.
Editoras-chefe Anna Caroline Magalhães e Rafaella Panceri
CIDADE 06 Em busca do ouro 07 Traíras, descaso com a história brasileira e suas ruínas 09 Inclusão social, uma luta necessária 1 1 Saneamento não tão básico assim 1 3 De aterro à lixão a céu a berto 1 5 Comunicação: dedicar&desenvolver 1 8 Alvo fácil 23 Imperador de Niquelândia
POLÍTICA 34 O governo & a cidade 36 Se7e perguntas ao prefeito
SAÚDE E
EDUCAÇÃO 63 65 67 70
É melhor não ser urgente... Programa social traz mudanças A palavra é reestruturação Sucateamento e descaso na Biblioteca Municipal
ECONOMIA 26 28 29 31 32
Do ouro ao níquel Nem só de mineração vive Niquelândia Comércio que é referência na região Oportunidades enriquecedoras para pequenas empresas Agora é a vez delas
CULTURA 40 Literatura para todos 43 Nomes de peso marcaram presença e deram o tom da Fliníquel 46 A Sinfonia que não toca só Beethoven 49 Aprendendo a ser palhaço 51 Cultura e religião numa dança só 53 Delicie-se em Niquelândia 55 Fé e folia 57 Cultura teatral em construção 59 Livro também é coisa de criança
TURISMO 72 75 77 80
Lago Serra da Mesa: um convite aos amantes da pesca. Lendas que pairam sobre as águas de Niquelândia O turismo que ainda dá os primeiros passos Fé que move multidões
CI DA DE
Em busca do ouro
A
Lenir Santos, moradora da rua
Reportagem Ana Carolina Bardini Fotografia Isis Aisha
direita, hoje trabalha em uma loja de presentes da cidade.
cidade de Niquelândia foi fundada em 1735 por Manuel Rodrigues Tomar e Antônio de Sousa Bastos, dois bandeirantes que estavam em busca de ouro. Ao chegaram ao rio Traíras encontraram grande quantidade do mineral e se assentaram em suas margens. Quanto maior a quantidade de ouro que era encontrada maior era o número de pessoas que vinham para a região. E logo surgiu uma pequena cidade perto da área de extração chamada São José de Tocantins; São José devido a provável data de criação da cidade, 19 de março, dia do Santo, e Tocantins por causa do nome do morro que contorna a região. Somente após a descoberta de níquel, em 1938, a cidade passou a ser chamada Niquelândia. Durante cem anos a existência de Niquelândia se limitou a apenas uma rua: a Direita, chamada assim justamente por ser a mais adequada forma de urbanização da época. As casas eram construídas uma ao lado da outra e ocupavam uma comprida faixa que levava até o Rio
Bacalhau, também usado na exploração de minérios. Segundo relatos de moradores antigos da cidade, quando ocorria uma enxurrada as pepitas de ouro desciam do rio Bacalhau e escorriam pelas ruas tamanha era a abundância de ouro. Após a Rua Direita, a cidade cresceu ao redor da Igreja Matriz e conta hoje com cerca de 44 mil habitantes. As construções mais antigas ainda são encontradas na primeira rua da cidade, mas cada vez mais as casas são modificadas para dar lugar a prédios cada vez mais modernos. É o passado e presente em um mesmo lugar. Dona Leny Rocha nasceu e foi criada na cidade e até hoje mora na Rua Direita. Para ela a extração dos minérios foi a principal causa do crescimento populacional da cidade. Ela também lamenta a falta de preservação das casas da Rua Direita. “As casas antigas passam de pai para filho e depende da consciência de cada morador para preservar a história, já que a rua não é tombada”, comenta. NQ 06
Traíras, descaso com a história brasileira e suas ruínas Após a utilização de recursos
naturais, o povoado, que já foi
um importante centro urbano,
passa por despovoamento e falta de amparo com sua história
Casa em que, segundo algumas histórias, Dom Pedro ficou hospedado NQ 07
F
Reportagem Isis Aisha Fotografia Ana Carolina Bardini
undado em 1735, Traíras, povoado localizado a 10 quilômetros de Niquelândia, foi, durante um século, um dos centros urbanos mais importantes da capitania do Goiás. Por ser abundante em ouro, chamou a atenção dos bandeirantes Manoel Rodrigues Tomar e Antônio Souza Bastos. A cidade, que chegou a ser sede do atual Município de Niquelândia com 6,4 mil habitantes, sendo 2,7 mil escravos, hoje tem 70 famílias e cerca de 200 moradores. Há quem acredite que Dom Pedro II passou uma noite na cidade com sua comitiva, o que a tornaria capital sim-
Ruínas da antiga
bólica do Brasil por dois dias - na época, onde o Monarca dormia era a capital do País. Após a exploração do ouro, a cidade foi abandonada. Restam apenas algumas casas antigas, quatro comércios locais e ruínas da história. Não houve tombamento ou incentivo à preservação do local. Os escombros da última igreja de Traíras estão entre quatro casas e inacessíveis a menos que entremos em propriedade privada. A casa onde Dom Pedro II teria dormido hoje é a associação dos moradores do povoado. Da casa da câmara e cadeia pública, que se encontram no centro de uma praça, apenas resta um paredão de pedras. A cadeia foi incendiada por um dos presos e grande parte da construção foi perdida, junto com livros e documentos históricos. No povoado já houve cartório, três grandes igrejas, casa de fundição de ouro, minas de micas, escola. Hoje não há mais e as crianças do povoado saem de segunda a sexta rumo às escolas de Niquelândia. São cerca de 40 alunos em um ônibus escolar. Dos moradores, 17 ainda vivem do garimpo. Como as proximidades do povoado já foram muito exploradas, os
garimpeiros viajam a procura de ouro enquanto filhos e mulheres esperam em casa. Muitos moradores saem do povoado em busca de novas condições de vida e trabalho. A maioria migra para Niquelândia, Goiânia ou Brasília. Apesar de tudo, Francisco João Pereira, conhecido como Chiquinho do Traíras, continua no povoado. “Não mudei no tempo de novo, depois de ‘vei’ não vou mudar, não. Aqui é um lugar tão sossegado”, afirma. Chiquinho é um dos moradores mais antigos do povoado, dono de um dos comércios locais. A bisavó do comerciante, que morreu aos 105 anos, contava que sua avó era portuguesa e chegou à cidade com ‘a turma dos bandeirantes’. Chiquinho continuou, mas sua família não. A ex-mulher mudou-se para Niquelândia e os filhos foram para outras cidades. “O povo nasce aqui, aí o lugar é atrasado, cresce e vai embora”, conta Chiquinho. Em algumas épocas do ano a família o visita: “Quando sai eu sinto assim, abatido. A casa enche de gente, né? É neto, bisneto, aí enche a casa de gente... outros amigos meus. Aí quando sai eu fico sozinho, mas a vida é essa”. NQ 08
prisão de Traíras
A
Inclusão social, um
Reportagem Luana Pereira
luta pela conquista da independência e autonomia para pessoas com deficiência é dura e negligenciada. O debate acerca da inclusão social de pessoas portadoras de necessidades especiais é necessário. Diante da ineficiência do Estado, é importante valorizar as organizações que lutam contra a rejeição, a discriminação e a precariedade de políticas públicas. Essa consciência, que já está cristalizada em grandes centros urbanos, alcança também algumas cidades do interior brasileiro, como Niquelândia, onde a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), organização social sem fins lucrativos, tem atuação expressiva. A sede da associação de Niquelândia foi fundada em 1991 e conta com 59 funcionários, sendo eles educadores, psicopedagogos e fisioterapeutas. Com um trabalho íntegro, a associação possui 388 pessoas cadastradas de todas as idades para receber apoio, orientação e prestação de serviços para a melhoria da qualidade de vida dos membros e de suas famílias. Conta também com 188 pessoas com deficiência matriculadas na escola da organização. Para a presidente da Associação, Porfira Moreira de Paiva Queiroz, uma das conquistas estruturais da organização são as vans que buscam os alunos em casa e o centro de informática. Entre as dificuldades enfrentadas estão a falta de recursos financeiros e a luta por uma sede própria. Contudo, a presidente se orgulha do trabalho feito pela associação na cidade e afirma que se os alunos estão felizes ela está feliz também. “O objetivo maior da APAE é proporcionar alegria para eles”, afirma Porfira. A presidente da sede não é a única satisfeita com o trabalho realizado. Érika Spíndola, fisioterapeuta da NQ 09
De acordo com o Censo IB milhões de pessoas com d a 14,5% da população
16,7%
auditiva deficiência
8,3%
mental deficiência
22,1%
motora
deficiência
ma luta necessária
BGE 2000, o Brasil tem 24,5 deficiência, o que equivale do País. Desse número:
%
a
a
48,1% visual deficiência
4,1%
física deficiência
APAE, conta que é gratificante trabalhar em uma organização de assistência social. A fisioterapeuta se encanta por lidar diretamente com quem precisa e por ver histórias de recuperações marcantes. Um exemplo contado por Spíndola foi o de um aluno cadeirante que conseguiu andar depois de receber tratamento na associação. Outra história inspiradora que ocorreu na APAE de Niquelândia foi o caso do Geraldo Gonçalves dos Santos, conhecido na cidade como Geraldinho do Perfume por colecionar vidros vazios de perfume. O senhor de 60 anos apresenta deficiência intelectual e múltipla e, por conta da assistência recebida pela APAE, virou locutor de uma rádio local. Emocionado, agradece à associação pelas conquistas adquiridas: além do emprego que o tornou famoso na cidade, conseguiu aprender a ler e a fazer artesanato. “A melhor coisa que fiz na minha vida foi ter entrado na APAE”, conta Geraldinho. A primeira APAE surgiu em 1954, no Rio de Janeiro. Caracteriza-se por promover a atenção integral à pessoa com deficiência, prioritariamente aquela com deficiência intelectual e múltipla. O Movimento Apaeano é uma grande rede, constituída por pais, amigos, pessoas com deficiência, voluntários, profissionais e instituições parceiras - públicas e privadas - para a promoção e defesa dos direitos de cidadania da pessoa com deficiência e a sua inclusão social. Atualmente, a APAE é o maior movimento social do Brasil e do mundo na sua área de atuação. Congrega a Federação Nacional das Apaes (Fenapaes), 23 Federações das Apaes nos Estados e mais de duas mil Apaes distribuídas em todo o País, que propiciam atenção integral a cerca de 250 mil pessoas com deficiência. NQ 10
Saneamento não tão básico assim
População niquelandense ainda despeja esgoto sanitário nos canais hídricos
E
Reportagem Thaís Ellen Rodrigues Fotografia Paula Évelyn
m Niquelândia, o acesso às redes de esgoto ainda é precário. Segundo Carlos Rodrigues de Brito, gerente da Saneamento de Goiás (Saneago), empresa que fornece os serviços de água e esgoto da região, cerca de 28% das casas são atendidas. As pessoas que não possuem acesso à rede de esgoto utilizam os pequenos canais hídricos para o escoamento dos dejetos. Situado próximo ao centro da cidade, o córrego Bacalhau recebe grande parte dos esgotos sanitários e é a principal via de descarga para a parcela da população que não possui serviço de redes. O taxista e morador da cidade Afonso Luiz Vieira (50) relata: “O saneamento começou de uns três anos para cá. Só no centro tem um pouco de
Carlos
Rodrigues
de Brito, gerente da Saneago, diz que falta não só educação ambiental para a população, mas também
investi-
mentos no sistema de saneamento por parte do governo
rede de esgoto, o resto é fossa ou depósito direto nos córregos. Lá em casa, por exemplo, é direto no córrego”. Segundo os moradores de Niquelândia, a ampliação das redes parou há cerca de
NQ 11
um ano e nada foi feito desde então. Na avaliação deles, o prefeito Luiz Teixeira é lento nas mudanças, mas melhorou bastante em relação ao antigo governo. O atual prefeito prevê que, até 2016, 90% das famílias niquelandenses serão beneficiadas com redes de coleta e tratamento adequado aos dejetos sanitários. Segundo ele, hoje a cidade conta com uma estação de tratamento instalada. Neste mês de novembro, em parceria com o estado, a prefeitura licita a contratação de outra empresa para a construção de mais redes.
Uma alternativa ao déficit sanitário é a utilização de fossas sépticas. No entanto, segundo a gerência da Saneago, a maioria é feita de maneira irregular. A empresa não disponibiliza meios alternativos de captação de dejetos, como as fossas construídas com tambores de PVC. Carlos Brito desconhece, também, qualquer investimento governamental em cursos de capacitação e de fomento ao saneamento alternativo. Para ele, a população não possui conhecimento suficiente para a construção de fossas nos parâmetros legais.
A maior parte do esgoto da cidade desemboca no rio; há, inclusive, repartições públicas que não possuem sistema adequado de saneamento
NQ 12
De aterro
Reportagem Laio Seixas Fotografia José Eduardo Vieira
O
Aterro sanitário de Niquelândia teve vida útil de apenas oito meses e hoje é um lixão
aterro sanitário de Niquelândia, construído em 2010 pela empresa Votorantim Metais como reparo ambiental pela extração de ferro níquel, hoje serve como lixão. De acordo com a Secretária Municipal do Meio Ambiente, Geane Cristine Silva, cerca de 28 mil pessoas habitam a zona urbana da cidade e geram no total pouco mais de 20 toneladas de resíduos por dia. Em setembro de 2013, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) publicou em sua página na internet uma notícia sobre a operação irregular do aterro sanitário de Niquelândia que se transformou em um lixão a céu aberto. O ex-prefeito Ronan Rosa Batista e o ex-Secretário Municipal do Meio Ambiente Denis Soares foram acionados por improbidade administrativa e denunciados criminalmente pela promotora de Justiça Oriane Graciane de Souza. No final de 2011, uma vistoria realizada no aterro constatou disposição irregular de resíduos sólidos. O aterro só funcionou durante oito meses antes de se tornar o lixão, em vez dos quatro anos previstos de uso. Até hoje, não houve medidas concretas para resolver a situação. Geane Silva estima que sejam necessários seis me-
ses para que o local volte a receber o lixo de forma adequada e funcione novamente como um aterro. De acordo com o atual prefeito Luiz Teixeira, não houve licenciamento para a operação do aterro sanitário na gestão anterior, o que deve ser feito em breve para recuperar o local. Isso acarretará prejuízos, pois o 1,2 milhão de reais investido pela mineradora na construção do aterro foi desperdiçado. A prefeitura deve desembolsar mais um milhão de reais para cumprir o Termo de Ajuste de Conduta assinado junto ao MP-GO para a solução do caso. Entre os principais problemas provocados pelo lixão estão os resíduos espalhados pelas propriedades vizinhas, canais hídricos contaminados por chorume, vetores de doenças, fumaça proveniente da queima do lixo e gases inflamáveis decorrentes da morte e decomposição de animais. Durante a semana, mais de 20 catadores procuram no meio do lixo materiais para vender para a reciclagem, objetos que possam ser reutilizados e restos de comida. Ruimar Vieira Diniz e sua companheira, Eva Gonçalves de Souza, trabalham no local catando todo tipo de material, entre latinhas de alumínio, alimentos e roupas.
NQ 13
à lixão a céu aberto
Urubus se aglomeram em busca do lixo recém-chegado
Ruimar trabalha no local há pouco mais de dois anos e Eva há quase dez. Ela afirma que a área sempre serviu como depósito de lixo e que toda a sua família trabalhou lá, inclusive seus quatro filhos mais velhos, hoje já casados. Atualmente, Eva e Ruimar vivem com outros quatro filhos que não trabalham no local. “Aqui trabalham mais de vinte pessoas todo dia, só não criança”, conta Eva. Quando perguntados sobre o que seria deles sem o lixão, Ruimar responde: “Eu acho que se o prefeito falar assim: “vou fechar”, ele tinha que vir aqui e assinar a carteira de todo mundo!”.
A principal maneira de coleta dos resíduos sólidos de Niquelândia é por transporte terrestre. O município conta com dois caminhões compactadores da prefeitura que fazem a coleta na zona urbana e em mais nove distritos vizinhos. Entretanto, não existem associações de coleta seletiva ligadas à prefeitura, atualmente. Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, o governo local elabora, junto ao plano de gerenciamento de resíduos do município, uma cooperativa de catadores, mas não deu previsão de início para esse procedimento.
Comunicação:
N
dedicar&desenvolver
Reportagem Maria Letícia de Melo Fotografia Laio Seixas
iquelândia possui grande área rural e é cercada por povoados. O rádio é o meio de comunicação mais difundido na cidade. Apesar das dificuldades de transmissão de sinal, devido à localização do município entre as serras, ele é o principal meio para alcançar a parcela da população que não vive na área urbana. Além disso, leva aos moradores da cidade as notícias locais, que têm pouco espaço nos grandes veículos goianos.
A cidade possui emissoras de rádio antigas e consolidadas: fundada em 1985 pelo então prefeito Sebastião da Silva, a Rádio Mantiqueira foi a primeira de Niquelândia. Com seis locutores, conta também com a participação do jornalista da rede Globo Alexandre Garcia, comentarista político, que envia boletim diário das notícias do país. Única com frequência AM na cidade, a Mantiqueira possui apenas dezessete horas de programação, devido aos custos de manutenção para este tipo de retransmissora. Márcio Rocha, filho do fundador, dirige a rádio desde 1994 e afirma que a Mantiqueira será convertida para a frequência FM a partir de 2015, o que trará melhorias para a transmissão do sinal. Completando dezesseis anos em dezembro deste ano, a Rádio FM é uma das seis emissoras do estado de Goiás integrantes do grupo Paulo Chagas de Comunicação. É dirigida pelo radialista Joster Alves e conta com seis locutores, maioria vindos de fora do município.
“Acho desafiador trabalhar em Niquelândia, pois há uma demanda muito grande por informação por parte da população” NQ 15
rural. A música sertaneja é indispensável e líder de audiência. Além disso, as rádios contam com programas de caráter social, nos quais é aberto espaço para que a população deixe críticas ou denúncias, como os quadros “Bronca do Povo” da Rádio Mantiqueira e “Voz do povo” da Rádio FM. Em 2013, foi criada a rádio comunitária Serra da Mesa, por Eduardo Moreira, também proprietário do primeiro provedor de internet de Niquelândia, a Niqturbo. Além das rádios, a cidade conta com escritórios de três jornais impressos que circulam em Niquelândia, mas não são produzidos na cidade e cujo conteúdo abrange
Márcio Rocha, dono da Rádio Mantiqueira, conta sobre a história da emissora
Com sinal que atinge todo o norte goiano, os povoados e a área rural em torno de Niquelândia têm acesso à transmissão 24 horas por dia. Segundo integrantes da equipe, devido à dificuldade de comunicação direta com os moradores de povoados do entorno, eles chegam a receber pedidos de músicas em cartas. A programação de todas as emissoras de rádio abrange segmentos de entretenimento com a transmissão de músicas, programas jornalísticos e esportivos, além espaço vendido à produções independentes, em sua maioria ligadas às instituições religiosas da cidade. A audiência é grande, principalmente no período da manhã. O público que mais consome este meio de comunicação são as donas de casa, as pessoas em veículos e os moradores da região
Euclides Oliveira, jornalista residente em Niquelândia, trabalha como repórter para o jornal Diário do Norte NQ 16
“Acho desafiador trabalhar em Niquelândia, pois há uma demanda muito grande por informação por parte da população”, afirma Euclides. Ele ressalta a falta de interesse dos grandes jornais da capital em abordar fatos locais da cidade, enfatizando a importância de um veículo regional para suprir essa carência. O Correio Popular foi criado em 2007 pela jornalista Sybelle Angela, que atua como Superintendente de Comunicação da prefeitura da cidade, seguindo o sonho do seu pai. “A equipe é pequena mas consegue, com muita força de vontade e dedicação, abranger a maioria dos municípios da Região Norte”, afirma Sybelle. O veículo tem periodicidade quinzenal e é distribuído gratuitamente, mas não chega à zona rural. Com 42 mil habitantes e algumas empresas do ramo já consolidadas na cidade, Niquelândia não possui Secretaria de Comunicação. Os assuntos da área estão sob a responsabilidade de Sybelle, que reside em Uruaçu.
Clayton Santana comanda a Rádio FM de Niquelândia e fala sobre a rádio
também os municípios próximos. O Jornal Diário do Norte, criado em junho de 2000 pelo empresário Rui de Sabóia, é o de maior circulação na cidade e um dos maiores da região: atende a 80 municípios do estado de Goiás. A publicação é semanal e distribuída na região urbana. Euclides Oliveira é o único jornalista formado residente na cidade. Ele estudou em Piracicaba (São Paulo) e é repórter-chefe do Diário do Norte em Niquelândia desde 2006. Euclides não possui uma equipe: com gravador e câmera, acompanha o cotidiano de nove cidades da região e é responsável por todas as etapas de produção das notícias, da apuração das pautas, fotografia, até a interação com o leitor nas redes sociais do jornal.
“As rádios contam com programas de caráter social, nos quais é aberto espaço para que a população deixe críticas ou denúncias” NQ 17
Alvo fácil Crianças e adolescentes passam por situação de vulnerabilidade mesmo após a CPI da pedofilia
O
Reportagem Isis Aisha e Rafaella Panceri Fotografia Isis Aisha
CPI da Pedofilia e seus resultados
crime de exploração sexual de crianças e adolescentes ainda ocorre nos arredores de Niquelândia, apesar da CPI da Pedofilia realizada em 2007. O Conselho Tutelar não recebe denúncias formais desde 2009, mas moradores da cidade apontam o distrito de Vila Taveira como um dos maiores pólos de exploração sexual de meninas na região. Localizada a 45 km de Niquelândia, a Vila Taveira é conhecida como “Faz Tudo”. Pollyana Costa, enfermeira, trabalhou no Posto de Saúde Vila Taveira e relata uma cena observada com frequência no trecho de deslocamento entre o bairro onde vive e o povoado. “Ficava uma mulher com um caderninho na mão, esperando a hora e o local em que o caminhão ia passar. Ela anotava o tipo de menina que o caminhoneiro queria e ia buscar”, afirma a enfermeira. Pollyana conta que os pais permitiam, mesmo cientes da exploração sexual, a saída das garotas de casa na companhia dessa mulher, que depois as trazia de volta.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pedofilia do Senado investigou 23 pessoas em Niquelândia. Dentre elas, o ex-prefeito do município, Ronan Rosa Batista e sua filha Dátila Batista, o ex-diretor do presídio de Niquelândia, Leandro Alves da Silva, um vereador, dois secretários municipais, dois assessores do prefeito, comerciantes e empresários locais. O caso foi descoberto no dia 24 de abril de 2007, quando, segundo os relatórios da CPI, uma garota foi levada pela Polícia Militar, que fazia uma ronda nos espaços públicos da cidade, ao Conselho Tutelar e relatou o ocorrido. Tratava-se de exploração sexual de duas garotas, uma de 14 e outra de 15 anos, que vinham do município de Itapuranga (Goiás). Em maio de 2007, o Ministério Público do Goiás prestou uma denúncia ao Poder Judiciário, e a investigação teve início. A primeira medida do processo foi a prisão temporária de 18 dos investigados. De acordo com os relatórios do Senado, das 23 pessoas acusadas, 18 tiveram algum contato sexual com as meninas, com ou sem pagamentos ou presentes. Outras cinco pessoas foram investigados pela CPI. Dentre eles está a filha do ex-prefeito, Dátila Batista, por corrupção de menores ao manter um relacionamento amoroso com a garota de 14
“Ela anotava o tipo de menina que o caminhoneiro queria e ia buscar”
NQ 19
Resposta ao relato de exploração sexual no povoado Faz Tudo
anos; o radialista Gilmar Alves da Silva, que teria emprestado sua casa para um encontro entre a jovem de 15 anos e o ex-prefeito Ronan Batista; e a comerciante Marta Alves Vieira, acusada de “agenciar” as meninas e cobrar dos denunciados o preço previamente combinado. O Tribunal de Justiça, após recurso, confirmou a sentença de quatro acusados. O chefe de gabinete da prefeitura, José Geraldo Gavazza Pedroni, o secretário de agricultura Rusley Olegário Dias, e o Secretário da Indústria e Comércio, Glauco Almeida Soares foram condenados a mais de 5 anos de prisão. Já Anderson Rocha, motorista da prefeitura, teve uma redução de 6 meses na pena por confessar espontaneamente o crime. Segundo o art. 244-A do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), não é necessário o uso da violência para a ação ser caracterizada como um crime. A interpretação para o ex-prefeito, Ronan Batista, deu-se de forma diferente. Por não haver comprovação de relação sexual mediante a violência, o caso foi arquivado pela Procuradoria-Geral de Justiça. Após a audiência pública realizada no dia 12 de maio de 2008, parte da população se mobilizou e gerou um pedido de impeachment contra o prefeito. Porém, o pedido não gerou frutos já que Ronan Batista não saiu do poder e foi reeleito no mesmo ano até 2012.
Neide Melo e Silva, presidente do Conselho Tutelar de Niquelândia, acredita na possibilidade da ocorrência de exploração sexual de menores em Faz Tudo e em outras áreas próximas à cidade. Destaca também a vulnerabilidade das crianças que vivem nesses locais. Apesar disso, Neide não confirma o episódio relatado por Pollyana Costa, porque o Conselho ainda não recebeu uma denúncia formal acerca do caso e, sem essa denúncia, o órgão não pode agir. O último documento oficial do Conselho Tutelar de Niquelândia é datado de 2009 e versa sobre os atendimentos realizados naquele ano. Há 28 casos de abuso sexual documentados, 12 ocorrências de internação psiquiátrica de adolescentes e 240 denúncias de maus tratos, mas nada sobre exploração sexual. “As pessoas têm medo de denunciar”, relata Neide Melo e Silva, mas atesta que as denúncias aumentaram com a popularização do Disque 100 no município. O serviço de utilidade pública da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) recebe demandas relativas a violações de Direitos Humanos, em especial as que atingem populações com vulnerabilidade acrescida. NQ 20
O lar dos meni-
“A pobreza e a exclusão
nos abriga hoje 5 crianças. Eles vão
social são apontadas como
à escola e têm uma vida quase comum,
vetores do fenômeno da
porém, não podem sair sem autori-
exploração sexual de
zação e só podem receber visitas de
meninos e meninas.”
14h às 16h
Não há informações sobre a exploração de meninas na zona urbana A equipe de reportagem conversou com três prostitutas que vivem nas imediações do Terminal Rodoviário de Niquelândia. A área é conhecida pelos moradores da cidade por abrigar bares, casas de prostituição e tráfico de drogas. A idade média dessas mulheres é de 40 anos e muitas delas têm mais de dois filhos. Joana* (41) alega que as casas são fiscalizadas pela polícia com frequência, o que torna impossível que menores de idade trabalhem lá. Larissa* e Raquel* confirmam essa declaração e dizem não conhecer nenhuma menor de idade que esteja envolvida com a prostituição na área urbana. “É mais fácil de achar lá pros lados de Muquém. Vocês já foram lá?”, perguntou Raquel.
Fachada do conselho tutelar de Niquelândia-GO
NQ 21
Vulnerabilidade atinge pais e filhos Para a presidente do Conselho Tutelar, a vulnerabilidade não é característica exclusiva das crianças de Faz Tudo ou da cidade de Niquelândia. Os pais e mães também vivem em contexto social desfavorecido e, em geral, são usuários de drogas ou prostitutas. Mateus* (12) é um entre vários garotos que vivem em meio a essa realidade. Mora hoje no Lar das Crianças de Niquelândia, local para onde são encaminhadas as crianças abandonadas ou que não estão sob a guarda dos familiares. Mateus tem quatro irmãs e não as conhece. Segundo Melo e Silva, a avó das meninas tentou vender uma delas e foi denunciada à polícia. De acordo com pesquisas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) a pobreza e a exclusão social são apontadas como vetores do fenômeno da exploração sexual de meninos e meninas. Demonstram também que, além das desigualdades socioeconômicas, aspectos culturais que envolvem questões de gênero e etnia são determinantes para a ocorrência desse tipo de violação de direitos. O fenômeno é complexo e de difícil enfrentamento por estar inserido num contexto histórico e social que facilita sua existência.
Quatro das cinco crianças que moram no lar dos meninos
NQ 22
O Imperador de Niquelândia
C
Reportagem Anna Caroline Magalhães Fotografia Pedro Gabriel
om um andar manso e aparência tranquila, Paulo Helder, conhecido como Paulinho, chega à janela para ver quem toca a campainha. A casa amarela no centro da cidade fica ao lado da imobiliária que ele criou junto aos irmãos há oito anos. Traz não só uma vista espetacular como também a história de sua família que se entrelaça, o tempo inteiro, com a da cidade. De pai mineiro e mãe niquelandense, Paulinho cresceu em Niquelândia e morou por um tempo em Goiânia e Brasília. Até hoje tenta passar um tempo nas duas cidades já que, atualmente, Niquelândia não oferece muitas opções de lazer que o agrade. Paulinho quer livrarias, museus e exposições enquanto Niquelândia oferece pesca, shows sertanejos e atividades que geralmente
envolvem lagos ou cachoeiras. Paulinho mora em Niquelândia principalmente por causa da mãe que tem mal de Alzheimer. Mesmo sendo o quinto de sete irmãos, tomou para ele a responsabilidade de cuidar dela. Largou outros planos e viagens, que é apaixonado em fazer, para se dedicar aos cuidados. Todos os dias às 16h é impossível encontrá-lo, pois o horário é marcado para o banho de sua mãe. A cidade, por outro lado, ganha muito com sua presença. Além de participações assíduas na igreja e nos projetos que a envolvem, participa de grupos que auxiliam na recuperação de usuários de drogas; ajuda o sindicato rural a criar diagnóstico participativo das comunidades rurais; dá palestras em escolas sobre os mais diversos temas;
concede entrevistas à rádio; organiza o projeto para fundar a Academia de Letras de Niquelândia e, além de tudo, é o imperador da festa do Divino Espírito Santo de 2015, uma das mais tradicionais de toda região. Sua importância na cidade é antiga. Quando tinha 18 anos foi o vereador e passou cinco anos e onze meses no cargo. O mandato foi prolongado devido uma emenda parlamentar que aconteceu na época, a qual ele descreve como “essas coisas que só acontecem no Brasil e ninguém entende direito”. Após isso, foi interventor em Nova Glória e nunca mais parou. Embora afirme de pé junto que abandonou a política, Paulinho, hoje aos 51 anos, a toma como referência juntamente com a vontade de continuar ajudando a cidade.
O interesse pela política surgiu ainda menino quando lia para a avó, que tinha catarata, as notícias de política da região. Seu pai foi presidente do PSDB na cidade, o que impulsionou por muito tempo a curiosidade de Paulinho pela área. Curiosidade essa que não demorou em ser sanada, já que ainda adolescente começou fazer militância e participar de assuntos políticos até se tornar vereador, momento em que pensou em desistir para voltar a estudar. O pai de Paulinho não o deixou renunciar, para a alegria da cidade que o tem até hoje como referência. Porém, assim que o mandato acabou foi para Goiânia estudar Direito. Posteriormente ele voltou a se envolver como interventor, além de filiado ao PSDB como o pai. Migrou para o Partido Verde, embora afirme que para o país o PSDB seja melhor, justificou que para a parte regional, o PV foi a melhor escolha. Ao ser questionado sobre como foi a juventude, suspira com pesar e se embola ao tentar explicar a pureza perdida que
a idade trazia e que Paulinho nunca teve, por ter se envolvido cedo com a política. Por outro lado, agradece ao pai por todos os ensinamentos sobre a importância de ser honesto e se orgulha ao mostrar que nunca teve envolvimento com falcatruas. Hoje, se considera um libertário militante. Diz que se arrepende um pouco de ter se envolvido tão cedo com algo tão sujo. Atualmente não está em nenhum projeto político, mas não deixa de ter participações informais e nem de ler a respeito. Paulinho é apaixonado por livros, principalmente quando se trata de seu assunto preferido. Ele afirma com convicção, que não quer mais se envolver diretamente com a política. Por outro lado, a família e a população duvidam e torcem pelo contrário. É difícil prever quem tem razão. A fala tranquila de Paulinho passa a impressão de quem nunca gritou na vida, porém adquire um tom mais sério quando fala sobre o pai. Falecido há quinze anos devido a dois AVC, ele
afirma que foi a maior perda que teve, embora tenha lidado bem com toda situação. Foi o filho responsável por administrar todos os bens e cuidar da mãe. Cumpre até hoje tudo isso sem pestanejar e até mesmo com um tom de orgulho. Representar o pai é, talvez, uma das grandes alegrias que ele possui. Driblando as paixões literárias, políticas e culturais de Paulinho, casamento não é uma opção em sua vida. A irmã mais próxima diz que não se recorda de nenhum namoro que ele já teve e Paulinho não entra em detalhes sobre o assunto. Segundo ele, a liberdade é o maior desejo que pode ter e que, embora já tenha tido vontade de ter filhos, prefere a sensação de ser livre. Paulinho é o intelectual de Niquelândia e leva nas costas a dualidade que existe entre a vontade de liberdade e a esperança de ver a cidade crescer. Quando questionado se quer sair de lá algum dia, ele hesita e a cidade inteira comemora só pela chance dele ficar.
ECO NOMIA
Do ouro ao níquel Reportagem Judith Aragão Fotografia Rafaella Panceri A história da cidade remonta à exploração de ouro no córrego Traíras, durante o reinado de Dom João II. Contudo, o
metal que mais contribuiu para o desenvolvimento econômico do município foi o minério de níquel, descoberto no
início do século XX. Fundada em 1735, São José dos Tocantins existia em função da atividade aurífera, mas se redescobriu economicamente com a descoberta do níquel, o que contribuiu para que o vilarejo se tornasse cidade. Isso aconteceu em 1904, quando o geólogo brasileiro Freimund Heinrich Brockes encontrou amostras generosas do mineral na região. Depois da descoberta, a vila cresceu rapidamente em população e riqueza. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi constatado que a região possuía a maior jazida de níquel do mundo. A partir daí, a cidade passou a se chamar Niquelândia. Em 1957, o grupo Votorantim comprou a Companhia Níquel de Tocantins para participar da exploração do metal. Mas foi só na década de 1980 que a exploração em larga escala ganhou ritmo. Em 1982, outra empresa de grande porte se instalou na região: A CODEMIN - Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais, ligada ao Grupo Anglo American, a maior em-
presa de mineração do mundo. Elas têm impacto na economia local por demandarem serviços diretamente ligados à atividade extrativista mineral e também por gerarem renda que fomenta o comércio, além de serem responsáveis por 30% dos empregos formais do município. “Quando cheguei em Niquelândia em 1983, havia na cidade cerca de 12 mil habitantes. Desses, 5 mil eram funcionários da Codemin e da Votorantim. Antes, a cidade não tinha a mínima estrutura. O padrão era não ter energia elétrica”, lembra Paulo André, professor de Processamentos Minerais da Universida-de Estadual de Goiás. A falta de mão de obra especializada também foi um problema no início. “Vieram funcionários de Minas Gerais, São Paulo e de outros municípios goianos para trabalhar nas empresas. Inicialmente, eles moravam próximos ao local de trabalho. Aos poucos, esse quadro foi mudando” lembra Paulo André, e até brinca: “Como veio muito rapaz solteiro, muitos se casaram e ficaram por aqui”. Com a crise internacional de 2008, a economia do município teve NQ 26
uma redução em seu dinamismo. Isso porque a Votorantim e a Anglo American tem boa parte de suas receitas dependentes do mercado externo.“ A crise foi forte, impactante. Aconteceram algumas demissões, mas o maior impacto foi no projeto que estava se desenvolvendo e foi parado. Foram quase 500 mil reais investidos em projetos que foram parados. Inflacionou tudo”, conta Paulo André. Ronan Batista (PTB), prefeito na época da crise, lamen-
As propriedades do minério
O níquel é utilizado principalmente para produzir aço inoxidável. Ele melhora a resistência do material e sua capacidade de resistir a ataques químicos e à corrosão natural, pois é um metal com elevado ponto de fusão: 1453°C. Ele está presente em produtos médicos e odontológicos, equipamentos eletrônicos, baterias e utensílios domésticos. 80% de sua produção é para a siderurgia e os 20% restantes são destinados à fabricação de outros tipos de aços e artefatos.
tou a situação econômica de Niquelândia devido à crise em entrevista ao jornal Diário do Norte. “Em 2008, a tonelada do níquel valia US$ 45 mil e caiu para US$ 17 mil. Isso significa queda de receita”, explicou. Em 2014, a cidade ainda sofre com as conseqüências: “ Com a Europa em crise não temos como resolver a falta de recursos. Não há nenhuma empresa chegando. Pelo contrário, há empresas saindo. Tudo isso reflete diretamente na administração meta da prefeitura”, enfatizou. mensal Outra preocupação é o iní- era de 23 toneladas. Estamos cio da escassez do minério de abaixo dela, com 19”, comenníquel. Quando uma mina é ta. Segundo Ademir Duarte implantada, já é possível ava- de Padua, gerente de procesliar seu tempo de vida útil. De sos Alto da Anglo American, acordo com o professor Pau- a empresa já transferiu o foco lo André, a Votorantim ainda da atividade para outro mutem cerca de 30 anos de extra- nicípio: “Nós temos uma ção do minério, mas ele reco- mina em Niquelândia, nas nhece que a empresa tem di- proximidades da usina, que minuído sua produção: “Nossa ainda oferece o minério que dê
Você sabia?
para a gente trabalhar por mais alguns anos, mas no momento nós transportamos o minério de Barro Alto”, comenta. Depois que o minério exaurir, a cidade vai contar com o tratamento do níquel proveniente de outras usinas e com a ajuda do comércio e do turismo para continuar arrecadando lucros e garantir o desenvolvimento da cidade.
As reservas de minério de níquel em Goiás são da ordem de aproximadamente 300 milhões de toneladas, a um teor médio de 1,48% de níquel metálico. Correspondem a 74% das reservas brasileiras, das quais 37% se encontram em Niquelândia. A produção e o valor da comercialização de níquel constituem um dos pilares do desenvolvimento da indústria extrativista mineral no Estado de Goiás e importante elo da cadeia produtiva brasileira do níquel e da siderurgia nacional.
NQ 27
Nem só de mineração
Reportagem/Fotografia Paula Évelyn
vive Niquelândia
A
pesar de ser responsável pela produção de 37% do níquel brasileiro, Niquelândia conta com outro setor que movimenta sua economia: a agropecuária. De acordo com Eduardo Salgado, secretário de agricultura do município, “o município tem 45 mil hectares para plantio. Disso aí, 30 mil são só para soja”. Segundo dados do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a soja participa em 68,99% da economia municipal. Os dados também indicam a participação da pecuária na economia do município, que chegou a quase 14% em 2011. Outro setor em destaque na economia local é o das cooperativas e associações, presentes em Niquelândia desde 1992. Exemplo disso é a Associação de Mulheres do Rio Vermelho (AMURV) e a Associação de Produtores do Criminoso. Com o apoio do governo e da iniciativa privada, elas conseguiram passar do status associações para cooperativas, produzindo para obter lucro. A AMURV participa do abastecimento de feiras e mercados locais e a Associação dos Produtores do Criminoso fornece alimentos para a merenda das escolas da região. Apesar disso, a economia do município ainda não conta com participação substancial das associações. Segundo o se-
cretário de agricultura, Eduardo Salgado, faltou conhecimento e apoio financeiro no passado. Por isso a morosidade no desenvolvimento das organizações. “Elas ainda não contribuem substancialmente para a economia de Niquelândia, mas pra quem faz parte dos projetos, fazem toda a diferença”, diz o secretário. O governo municipal tem políticas para fomento econômico e social dos pequenos produtores. Um dos progra-
mas é o PRODULEITE, que oferece assistência técnica para quem produz leite em pequena escala. Outro projeto é o Tanque Cheio, Renda Certa, que prevê incentivo para piscicultura. O programa contempla dois tipos de trabalhadores: os que pescam em pequenas propriedades por meio do sistema de tanque escavado e os que pescam no Lago Serra da Mesa, que teve áreas licitadas pelo Ministério da Pesca para produtores baixa renda.
Programas como o PRODULEITE servem de incentivo à criação de gado, uma atividade de pequenos produtores e grandes latifundiários.
NQ 28
O setor de alimentos é variado. São encontrados muitos estabelecimetos de venda de frutas, carnes e alimentos industrializados.
O comércio abrange diversos setores, desde serviços básicos como fornecimento de medicamentos e alimentos, até brinquedos, eletrodomésticos, e lojas de roupas.
A atividade pesqueira é expressiva graças à abundância de águas fluviais na região. Isso permitiu que lojas de material de pesca ganhassem espaço na cidade.
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referência Comércio que é na região Reportagem José Eduardo Vieira Fotografia Joana Albuquerque
n
iquelândia se desenvolveu a partir das grandes mineradoras que contribuíram para o surgimento de empregos na região. Outro crescimento local expressivo foi o comércio, que com a ajuda de uma economia fortalecida, deu a oportunidade aos moradores para aumentar o poder de consumo e elevar o padrão da vida da população, além é claro, de fornecer empregos. De acordo com Paulo Roberto Brandão, secretário de comércio e indústria, a prefeitura conseguiu aumentar a verba e atualmente emprega cerca de mil funcionários. Outra característica que aumentou com o desenvolvimento econômico do município foi o comércio local que se tornou referência na região com um público-consumidor mais enriquecido. Composto por grandes lojas de móveis e franquias e pequenas vendas familiares, a cidade NQ 30
se diversificou e evoluiu.Um exemplo é o caso da Líder Móveis: detentora do maior lote comercial e da maior estrutura física e logística da cidade, a loja de móveis e eletrodomésticos se tornou o principal fornecedor dos moradores das zonas urbana e rural não só de Niquelândia, mas de todo o oeste goiano. O dono, Carlos Roberto Oliveira, admitiu não ter interesse em abrir outras lojas fora da cidade, uma vez que a concorrência é fraca e o lucro é alto o suficiente para manterse na cidade. Para ele, o sucesso do negócio é o relacionamento com os consumidores. Prova disso é a concessão de crediários para parcelados baseados na confiança do pagamento. O comércio de Niquelândia é um dos pontos que ajudou a cidade a aumentar a circulação monetária e a fortalecer o poder aquisitivo de seus habitantes, que continua crescendo e gerando empregos.
Oportunidades para pequenas empresas Reportagem Yasmim Perna Fotografia Luana Pereira O curso sobre Gestão de Pessoas promovido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do SEBRAE, entidade privada sem fins lucrativos, aconteceu do dia 27 de outubro a 1º de novembro. O evento reuniu um grupo de pequenos empresários e fornecedores da região. Segundo Amadeu, consultor ministrante do curso, a atividade foi patrocinada pelas mineradoras da região quais¿ para qualificar seus fornecedores. A maior parte dos alunos são empresários, contando também com alguns funcionários. Para os irmãos Antônio e Antônia de Amadeu, a oportu-
nidade foi enriquecedora. Ambos são funcionários de uma empresa do ramo de metalúrgica, a Metalúrgica WM, e ganharam a vaga no curso. Antônia trabalha na seção de Recursos Humanos da empresa e diz gostar bastante da oportunidade de fazer o curso pois vê aplicabilidade no seu serviço. Amadeu Lettieri explica que os cursos do SEBRAE não funcionam no estilo de aulas expositivas e a partir de uma dinâmica os alunos são divididos em grupos que representam diferentes departamentos. Todos precisaram pensar juntos, em uma situação lúdica, sobre como a empresa imagética poderia
NQ 31
apresentar resultados melhores. A maioria dos alunos está iniciando seus aprendizados em gestão. Muitos possuem empresas em que dominam a parte operacional, mas precisaram recorrer ao SEBRAE para aprimorar a gerência de seus negócios. A proposta do SEBRAE é estimular o empreendedorismo no país, promovendo sustentabilidade e competitividade dos pequenos negócios. Amadeu Lettieri afirma que incentivar o empreendedorismo é uma forma de investimento no país e afirma “A gente sabe que hoje mais de 50% dos empregos gerados no país são pelas micro e pequenas empresas”.
"No começo, éramos 30, hoje, 23. Muitos maridos não deixaram as esposas ficarem na AMURV. Mas mesmo com essa dificuldade, nós vencemos". Elza Gonçalves, presidenta da AMURV.
Agora é a vez delas
Reportagem/Fotografia Paula Évelyn
A Fábrica de Doces da AMURV – Associação de Mulheres do Rio Vermelho foi inaugurada no dia 1º de novembro deste ano. O evento contou com a presença das 23 associadas, além de autoridades municipais e representantes do SEBRAE – Serviço de Atendimento às Micro e Pequenas Empresas, da EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), do Instituto Redes e da Votorantim Metais. A AMURV foi criada em 2011 com o objetivo de promover a agricultura familiar no município, além de estimular a capacidade empreendedora feminina. Esse sistema de cooperativas não é novo em Niquelândia. Há cerca de 20 anos, várias associações tentam se firmar para participar de modo significativo na economia local. Entretanto, a AMURV é uma das poucas organizações que deram certo, mesmo sendo relativamente nova se comparada a outras instituições. Ainda que exista um plano de agricultura familiar para abastecimento local coordenado pela prefeitura do município, o projeto das Mulheres do Rio Vermelho só
foi possível graças aos incentivos do governo federal e da iniciativa privada, que forneceram toda a infraestrutura necessária para a realização do evento. A sócia Zilda Luíza contou que um dos entraves encontrados para a consolidação da AMURV foi a burocracia. Segundo ela, demorou um ano para que o INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – regularizasse o terreno em que elas estão assentadas. Mesmo após a obtenção da posse do local, houve dificuldade para escoar a produção. Assim, por mais que o Instituto Redes, responsável pelo estímulo à produção de associações como a AMURV, as auxiliasse no aumento da produtividade, era difícil levar os produtos ao mercado. Sem transporte próprio, a saída era pagar frete, o que encarecia consideravelmente as mercadorias. A AMURV conseguiu seu caminhão em NQ 32
parceria com a Votorantim somente em janeiro deste ano. A contribuição dessa empresa não se restringe ao transporte. Desde que a Votorantim se tornou parceira das Mulheres do Rio Vermelho, já financiou vários equipamentos, como uma retroescavadeira para o plantio de soja, além de todo maquinário da Fábrica de Doces. A AMURV é responsável pelo abastecimento de três supermercados locais e seus produtos são vendidos in natura - ou seja, sem uso de produtos químicos. Com a estrutura adequada, elas lançam a linha de produtos Sabores da Fazenda durante o evento e produzem doces a partir daquilo que elas mesmas plantam. Elza Gonçalves de Oliveira, presidenta da associação, discursou: “Ninguém acreditava nas mulheres. Mas nós provamos para eles que não éramos só fogo de palha”.
POLÍ TICA
O governo
& a cidade
Entenda relevantes fatores do cenário político de Niquelândia e avaliação dos moradores sobre a atual administração Reportagem Felipe Vasconcelos Fotografia Lucas Ponte
N
ão é possível falar de política em Niquelândia sem citar a família Rocha. “Toda eleição eles fazem um Vereador”, diz uma funcionária da Câmara ao explicar a presença da família na política da cidade. Niquelândia elege 13 vereadores a cada quatro anos, e nesta legislatura possui uma Câmara mista, com 10 partidos distintos. Três vereadores foram eleitos pelo mesmo palanque do Prefeito Luiz Teixeira Chaves (PMDB), inclusive um membro da família Rocha, o vereador Reginaldo (PMDB). Para ele, todos os vereadores se unem num bom diálo-
go com o Executivo quando o objetivo principal é beneficiar a cidade, apesar das diferenças partidárias. As sessões plenárias da Câmara Municipal ocorrem em sessões ordinárias na primeira semana do mês. Para Maxwell Soares, Executor Administrativo da Câmara Municipal, as sessões servem como car-
Reginaldo Rocha (PMDB), atual vereador de Niquelândia.
NQ 34
tão de ponto dos vereadores. Elas são um dos únicos momentos em que estão todos juntos discutindo melhorias para a cidade. Maxwell Soares afirma que a maioria dos projetos é de iniciativa do Executivo. Como não há uma oposição forte atualmente, eles são votados com facilidade e não sofrem atrasos.
Leny Rocha, ex-vereadora, critica a situação atual afirmando que falta discussão dos projetos: “O que um aprova, todos aprovam”. Na gestão atual, a chance de debates nas sessões legislativas são ainda menores, pois segundo a ex-vereadora, o prefeito Luiz Teixeira elabora muito bem as propostas antes de entrarem em votação para evitar contradições. A boa integração entre Prefeitura e Câmara Municipal não garante aprovação plena da população à administração atual. Moradores da cidade apontam problemas, como o pouco alcance
Turismo
Melhor avaliação
da infraestrutura de saneamento e o descuido com o lazer, que resulta em poucas opções de entretenimento na cidade. A população também avaliou a qualidade dos serviços de educação, saúde e segurança. O serviço mais bem avaliado foi o de segurança pública e, por outro lado, a saúde foi o que obteve pior avaliação. O turismo foi o setor que recebeu mais críticas, muitas em relação à sinalização e à dificuldade de acesso. A gestão atual foi considerada boa por 26% dos entrevistados e metade deles a
avaliou como ruim ou péssima. Ninguém considerou a administração excelente ou ótima. Em comparação à gestão anterior, com opções de resposta muito melhor, melhor, mesmo nível, pior e muito pior, 15% afirmaram que a atual gestão é pior ou muito pior e 22% melhor ou muito melhor. Questionados sobre o nível de corrupção na administração atual, 45% avaliaram como alto e 11% como muito baixo. É a opinião de quem vota versus a opinião de quem recebe votos, essa é a dicotomia do sufrágio universal.
O que um aprova, todos aprovam.
“
”
Segurança pública Pior avaliação
Saúde
Maior número Maior número de críticas de críticas NQ 35
Leny Rocha, ex-vereadora da cidade.
Se7e Perguntas ao Prefeito Reportagem Lucas Ponte Fotografia Lucas Roumillac
Luis Teixeira começou a estudar em Niquelândia aos 13 anos de idade. Foi auxiliar de pedreiro, ajudante de escritório, escrivão de Polícia e delegado licenciado da Polícia Civil. Hoje, faz carreira na Política - já foi vice-prefeito, deputado estadual e agora é prefeito pela terceira vez. NQ 36
REP: Como começou a cidade? Existem curiosidades sobre a história da cidade? A cidade começou na época do ciclo do ouro, com os bandeirantes que vieram para a região. D Pedro II também esteve aqui, ele dormiu um dia aqui na cidade, naquela época onde o imperador pernoitava virava se capital do Império. Consta então na história do Estado de Goiás que Niquelândia foi capital por um dia. O ouro naquela época era muito abundante e atraiu muitos europeus que se espalharam pela região nas comitivas dos bandeirantes. Até 30 anos atrás muitas famílias que viviam da mineração de subsistência. REP: O que aconteceu com o povoado de Traíras? Traíras tem uma história muito bonita e o tempo não vai perdoar, nem a mim, nem aos meus antecessores pelo descaso que tivemos pelo povoado durante esse tempo todo. O patrimônio histórico era de uma valia enorme, como a igreja dos escravos, porém, a sua reconstrução exige muitos recursos. Resta então desenvolver ações de conscientização para a população preservar as ruínas.
“
Traíras tem uma história muito bonita e o tempo não vai perdoar, nem a mim, nem aos meus antecessores pelo descaso que tivemos pelo povoado.
”
REP: Como surgiu a ideia e a iniciativa de trazer uma Festa Literária para a cidade? E quais as suas Expectativas?
de Pirenopólis da época que foi lançada a Festa Literária de Pirenopólis, a Flipiri. Ela foi lá e gostou. Quando nós fomos eleitos aqui, ela me motivou. Em 2014 foi feito o contato com este ex-secretário da Cultura e elaboramos o projeto, captamos recursos e hoje estamos conseguindo realizar a primeira Festa. Nossa meta é realizar a segunda no ano que vem a terceira no ano de 2016, trabalhar forte para que esse evento se consolide e fique no calendário de eventos do município e as administrações seguintes não tenham como interromper. REP: Como será o impacto do evento na população? Vejo que o impacto vai ser gradativo, a primeira não vai ser tão impactante, a segunda vai ser maior, e assim por diante. O impacto maior vai ser a motivação as crianças a lerem mais e a estudarem mais. Imagino a alegria das crianças nas escolas ao receberem a visita de escritores de livros infantis. Tem também o lado financeiro, onde será atraída a vinda de mais turistas. REP: Tendo em vista que produtos derivados da mineração não são renováveis, como a cidade se prepara tendo em vista um possível fim dessa produção? Hoje a atividade principal do município em termos econômicos é a mineração, com a Votorantin que explora o ferro níquel da Anglo American.
A minha filha é muito amiga do Secretário de Cultura NQ 37
A reserva de níquel na cidade é muito grande, estima-se de que essa atividade vai se perdurar por muitos anos. Outras atividades que estamos buscando para o município é o plantio de Guariroba, o Polo Florestal Sustentável com seringueiras e o ano que vem teremos o plantio maracujá. Além do incentivo ao turismo, como o Lago Azul que ninguém até hoje conseguiu chegar ao seu fundo REP: Quais os seus objetivos para a melhora do turismo em geral (urbano e ecológico) na cidade? Já existem empresas que atuam nesse setor oferecendo serviços? Nós realizamos projetos em parceria com o SEBRAE. Este ano devemos reiniciar a construção do Centro de Atendimento ao Turista e colocar no mercado brasileiro o primeiro produto turístico da cidade: o Lago Serra da Mesa. Estamos priorizando o CAT, após sua construção vamos sinalizar a cidade. Nós precisamos de tempo para desenvolver essas ações. Quando assumimos em janeiro, as pessoas que vinham para o Lago não entravam na cidade, e assim perdiamos muito. REP: Há um planejamento para outras formas de geração de renda? Incentivos a pequenos produtores? Hoje há muita dificuldade para os empresários virem para Niquelândia, por causa da localização geográfica. Mas o governador de Goiás
está asfaltando rodovias para integrar o norte e nordeste goiano e assim possibilitar a instalação de outras atividades. Em termos de tributação, temos incentivos fiscaism como a isenção de ISSQN (Imposto Sobre Serviço de Qualquer natureza), apoio na estrutura básica para implantação da produção: terraplanagem, movimentação de terras e aberturas de estrada. Temos ainda o Produleite, em que a Prefeitura disponibiliza um técnico exclusivo à disposição dos produtores. REP: Nas eleições quem foram os candidatos que o Senhor apoiou? E a sua relação com a Câmara Municipal? Dos treze vereadores eleitos apenas quatro foram do nosso palanque, mesmo assim temos uma sintonia muito boa. Apoiei Marconi Perillo (PSDB) para o governo do Estado. Apoiei o Deputado Federal Pedro Chaves (PMDB) também reeleito. Apoiei o Vilmar Rocha (PSD) para o Senado, e para deputado estadual Suely Novaes (PT) e o Erivaldo Piqui (PSL) daqui da cidade que não foram eleitos. Niquelândia conta com quatro deputados federais: a Magda Mofato (PR), Pedro Chaves (PMDB), Jovair Arantes (PTB), Flavia Moraes (PDT), e quatro estaduais Zé Antonio (PTB), José Vitti (PSDB), Claudio Meirelles (PR) e Henrique Arantes (PTB). Agora espero a retribuição deles me ajudando a trazer coisas importantes para a comunidade.
NQ 38
“
Imagino a alegria das crianças nas escolas ao receberem a visita de escritores de livros infantis.
”
CULTURA
Literatura para todos Reportagem Mayna Ruggiero Fotografia Ludimila Mamedes
Valorização da leitura e cultura popular foram destaque na 1ª Festa Literária de Niquelândia
E
ntre os dias 30 de
ao Fundo de Arte e Cultu-
“Um dos objetivos da FLINÍ-
outubro e 1º de no-
ra (FAC), em parceria com o
QUEL é conseguir tornar
vembro aconteceu a
SEBRAE, a Votorantim Me-
Niquelândia uma cidade lei-
1ª Festa Literária de Nique-
tais e a prefeitura da Cidade.
tora”, diz Luciana Ferreira de
lândia
com
A ideia de realizar a festa veio
Souza, secretária de cultura
o tema Literatura e Cultu-
do atual prefeito da cidade,
do município. Na noite do
ra Popular. A cidade contou
Luiz Teixeira Chaves, junto a
dia 30, aconteceu a abertu-
com a presença de escritores,
Iris Borges, curadora da Casa
ra oficial da Festa, com uma
ilustradores e diversas atra-
dos Autores de Brasília.
aula-show ministrada por
(FLINÍQUEL)
ções artísticas.
Ela se inspirou na FLIPIRI,
Flávio Sombra. Já no final da
A FLINÍQUEL é resulta-
Festa Literária de Pirenó-
noite, Juraildes da Cruz, can-
do de um projeto enviado
polis, hoje em sua 6ª edição.
tor e compositor tocantinen-
NQ 40
tocantinense, levou ao público o forró de raiz.
tou um seminário em parceria com Iris Bor-
A feira atraiu pessoas de todas as idades.
ges sobre a importância da leitura e, para
Para a aposentada Leny Rocha (70), a festa
ele, “ninguém está morrendo de vontade de
“pode acrescentar, e muito, nessa parte da
ler um livro”.
cultura”. Já para José Eduardo Gomes (10), a
O projeto de Maurício, Mala de Leitura, co-
leitura não é um de seus hobbies e escrever
meçou em 1980 financiado pelo Fundo das
um livro pode levar tempo demais.
Nações Unidas para a Infância (Unicef), e foi
O evento contou com palestras, apresenta-
implementado nas escolas de aldeias indíge-
ções artísticas escolares, espetáculos circen-
nas, zonas rurais e sertanejas da região da Ilha
ses, oficinas, seminários e stands. Maurício
do Bananal, em Minas Gerais.
Leite, criador da Mala de Leitura, apresen-
Acostumado a trabalhar com crianças,
Maurício Leite saiu de sua zona de conforto
uma mesa de autógrafos dos escritores e uma
e apresentou seminários para os professores
homenagem à Congada de Santa Efigênia.
da cidade afim de incentivá-los a experimen-
No palco, o grupo Patubatê, que transforma
tar as possibilidades que o livro proporcio-
materiais recicláveis em música, finalizou a
na. “Sou igual João Gilberto, samba de uma
noite. A FLINÍQUEL movimentou a popu-
nota só. Eu só trabalho com livro e leitura. A
lação da cidade durante os três dias de festa.
criança eu tenho certeza que vai gostar, eu te-
Para a professora Marcela Gomes (39), “rece-
nho certeza que não vai esquecer, mas quem
ber esses autores é algo que nunca aconteceu
continua?”, questionou.
aqui” e a expectativa é que a festa tenha ou-
A cerimônia de encerramento contou com
tras edições.
Nomes de peso marcaram presença e deram o tom da Fliníquel Convidados elogiaram a organização da Festa e o envolvimento da comunidade
O artista Fábio Sombra foi um dos convidados
Reportagem Givovanna Maria Fotografia Ludimila Mamedes
O
sucesso da 1ª Festa Literária de
samente de Efigênia. Ele elogiou a estrutura
Niquelândia, a FLINÍQUEL , se
da Feira e o envolvimento da comunidade.
deu, em grande parte, por conta
Vera Lúcia Dias, professora de música, e
dos convidados que participaram dos três
Lucília Garcez, doutora em Letras, enfatiza-
dias de evento. Foram escritores, educadores,
ram a importância do incentivo dos profes-
professores e um ilustrador. Através de pales-
sores à leitura dentro e fora da sala de aula.
tras, mesas de debate e oficinas, eles entreti-
Em entrevista, Lucília Garcez disse que a
veram as pessoas que foram prestigiar a Feira.
comunidade estava totalmente sensibiliza-
Um carioca tocando viola? Essa é a pergun-
da com o evento e que isso fez toda a dife-
ta de muitos que assistiram à aula-show com
rença: “não adianta tentar incluir as pes-
Fábio Sombra, na quinta-feira, primeiro dia
soas se o interesse já não estiver plantado”.
de festa. Ao longo do show, descobrimos que
Iris Borges, curadora do evento, ressal-
Fábio é um escritor que encontrou a literatu-
ta a participação da família no desenvolvi-
ra de cordel aos dez anos, quando o pai o le-
mento literário das crianças. As mesas de
vou à Feira de São Cristóvão, no Rio de Janei-
debate foram a oportunidade do público
ro, onde reside até hoje. Desde então, carrega
se envolver nas discussões. Elas contaram
três paixões em sua vida e as concilia em suas
com a participação do escritor Alexandre
obras: literatura, música e ilustração. Em sua
Lobão, Liduína Bartholo e Maribel Barre-
apresentação, cantou parte de um de seus li-
to, que discutiram a tecnologia como pos-
vros junto com sua viola, que batizou carinho-
sibilitadora
NQ 44
do
conhecimento
inclusivo.
Um ilustrador pra lá de simpático
O último dia de FLINÍQUEL contou com o ilustrador e escritor pernambucano Jô Oliveira, que encantou todas as crianças com sua simpatia na oficina de desenho. O evento aconteceu dentro de uma sala de aula. O clima era animado enquanto Jô mostrava as formas do desenho e as professoras entregavam vários lápis coloridos. O ilustrador impulsionou os participantes dizendo que, como qualquer arte, a ilustração é mais que talento, é sobretudo persistência e treino. Jô Oliveira, além de convidado, foi também o criador da identidade visual do evento. Explica que usou como inspiração as manifestações culturais da cidade. Entre elas, havia o único grupo folclórico do Brasil a usar um cocar feito de penas de ema, que acabou dando origem ao personagem principal da logo. “O sol foi para representar o calor da cidade e também porque é um símbolo de alegria”, conta. O ilustrador afirmou que a inclusão das escolas foi essencial para o sucesso da Feira. Lucília Garcez disse ter ficado surpresa com a pertinência das perguntas feitas pelas crianças: “os livros dos escritores foram distribuídos previamente e isso permitiu um feedback muito interessante. Os professores e a prefeitura estão de parabéns”. NQ 45
A Sinfonia que não toca só Beethoven Apresentação dos alunos da Sinfonia do Cerrado.
H
á 13 anos, um grupo de pessoas que trabalhavam no Centro Cultural de Nique-
lândia procurava patrocínio para uma iniciativa desafiadora: criar um projeto que incentivasse crianças e adoles-
Reportagem Victória Cristina Costa Fotografia Camila Castro
centes a tocarem música erudita e de graça. Com a ajuda da Anglo American e da prefeitura municipal, foi possível a criação do Sinfonia do Cerrado, que está com previsão de mudança para uma nova sede em 2015. NQ 46
Segundo a diretora Márcia Alves, o projeto está tendo cada vez mais reconhecimento.
Márcia Alves, atual diretora
anos vê no projeto a principal
precisou tirar “de ouvido”
do projeto, conta que o Sin-
razão da escolha de seu curso:
uma segunda, indicada pelos
fonia do Cerrado é formado
“Assim que entrei no Sinfonia
avaliadores no momento da
por mais de 400 alunos com
e virei monitor, tive o foco de
prova.
idade entre 9 e 17 anos. To-
ser músico. De 0 a 10, eu diria
Todos os ensaios e apresen-
dos recebem material, uni-
que a influência do projeto
tações são acompanhados por
forme e lanche de graça, além
foi 10.“
Levi Teixeira, atual maestro
de terem os instrumentos à
A escola é como uma es-
do Sinfonia do Cerrado. Para
disposição durante as aulas.
pecialização para os interes-
ele, o maior desafio é tornar
Atualmente, todos os pro-
sados em aprender e revela
as crianças interessadas. As-
fessores são ex-alunos que
prodígios. Com apenas 10
sim, os alunos aprendem a
decidiram passar o conheci-
anos, Tarcísio Braz passou
tocar músicas de artistas va-
mento adiante. Luann Carlos
em primeiro lugar na prova
riados, desde os mais clássi-
é um deles. Cursando o 7º
para se tornar monitor. Além
cos até os contemporâneos,
período de Educação Musi-
de tocar uma música previa-
como Toquinho, Legião Ur-
cal na UFG, o jovem de 21
mente escolhida, o menino
bana e Black Eyed Peas.
NQ 47
Estudantes do grupo têm aulas de violão, cavaquinho e canto.
Patubatê Mais uma das atrações da FLINÍQUEL foi o grupo de percursionistas do Patubatê. Eles ministraram uma Oficina de Construção de Instrumentos Musicais no dia 11 de novembro. “É legal porque pessoas de várias idades vêm para saber como se constrói e como se tocam os instrumentos, como fazemos nosso trabalho”, disse Fred Magalhães, idealizador do projeto. Com pirotecnia, luzes e instrumentos musicais inusitados, o Patubatê foi aplaudido de pé. O grupo já viajou em turnê por mais de 20 países e dá aulas de percussão em Brasília.
Show de Catira Os Soberanos, Os Considerados e As Catireiras do Divino apresentaram um show de sons produzidos com as mãos e os pés, instrumentos característicos da catira. Os três grupos unânimes ao falar sobre a importância da dança em Niquelândia. “Nós nascemos dançando catira. É algo que já faz parte da cultura daqui”, diz Lucilene Silva, Catireira do Divino. NQ 48
Aprendendo a ser palhaço Grupo teatral espalha arte circense pelo estado de Goiás
N
Reportagem Camila Castro Fotografia Mayna Ruggiero e Ludimila Mamedes
o público, os pu-
Eckert, já que o pai do diretor
los e aplausos das
do grupo, Antônio Eckert,
crianças confirma-
era circense. O projeto teve
vam a admiração percebida
início em 1997 e sobrevive
nos olhos atentos dos adul-
de contratações e apoios de
tos. Na 1ª Festa Literária de
entidades como prefeituras,
Niquelândia, o grupo teatral
faculdades, igrejas e empre-
Limpando o Olho encantou a
sas, além de colaborações de
cidade com seu Show da Ale-
membros. A equipe é forma-
gria. O espetáculo circense
da por 15 integrantes fixos, 4
contou com 12 performan-
contratados e 6 colaborado-
ces, incluindo trapézios, ma-
res diretos.
labares e acrobacias.
Apesar de ter sede em Uru-
O grupo é também uma
açu, o Limpando o Olho atua
escola de circo itinerante. A
em todo o estado de Goiás e
ideia surgiu com a família
também em outros estados, NQ 49
mas com menor frequência.
mos só na distância do espe-
Um ano após sua formação,
táculo, tem de haver a inte-
o grupo realizou um gran-
ração também”. Portanto, no
de projeto em parceria com
dia seguinte à apresentação
a prefeitura de Niquelândia,
do Show da Alegria, o grupo
oferecendo oficinas gratuitas
proporcionou às crianças da
para crianças de segunda à
Festa Literária de Niquelân-
sábado, durante aproximada-
dia uma tarde de atividades
mente dois anos.
circenses.
Joab Pablio, que na época
Alisson Almeida, integran-
tinha 11 anos, participou das
te do grupo e sobrinho do
oficinas. No entanto, seu con-
diretor, é exemplo da impor-
tato com o circo não acabou
tância das oficinas na vida
com o término do projeto:
das crianças. Ao participar de
Joab mudou-se para Uruaçu
um projeto social semelhante
com o grupo e hoje, após 14
a elas quando tinha 11 anos
anos, é palhaço e malabarista
de idade, teve sua curiosida-
da trupe. “Enquanto eu esti-
de despertada pela arte cir-
ver vivo pretendo trabalhar
cense e hoje, aos 20, estuda
com arte circense”, afirma.
na Escola Nacional do Circo,
O trabalho com oficinas é
no Rio de Janeiro, que é reco-
algo do qual Antônio Eckert
nhecida internacionalmente.
diz não abrir mão: “Não fica-
NQ 50
Cultura e religião numa dança só Congada de Santa Efigênia é a homenageada da 1ª Festa Literária de Niquelândia
N
Reportagem Camila Castro
o centro de Niquelândia, a Igreja er-
uso de penachos na cabeça simbolizam ín-
guida por africanos há cerca de 200
dios Avá-Canoeiro que viveram na região.
anos para Santa Efigênia, uma das
Mais que um grupo religioso, a Congada
poucas santas negras do catolicismo, remete a
considera-se uma irmandade. Seus membros
aspectos de uma cultura escravista e religiosa,
– chamados congos – geralmente a integram
assim como a tradicional Congada da cidade.
por tradição familiar ou promessa feita à San-
Apesar de ter como padroeira Santa Efigê-
ta Efigênia, como é o caso de Valdivino Fer-
nia, a Congada de Niquelândia também ho-
nandes Pimentel: “Com 3 anos de idade, ainda
menageia Nossa Senhora do Carmo através de
engatinhando, peguei uma garrafa de quero-
procissões que mesclam música, teatro e dan-
sene e a bebi. Minha mãe me entregou nas
ça. No vestuário, roupas brancas representam
mãos da Santa e disse que, se eu não morres-
a influência da cultura africana, enquanto o
se, seria Congo”. Valdivino, hoje com 54 anos,
NQ 51
é presidente da Congada de Niquelândia.
bro. Ao fim da apresentação dos congos,
A integrante Creuzelina Oliveira Leite ex-
foi entregue um certificado ao presiden-
plica que para participar das procissões é
te Valdivino. “Não existe na face da Ter-
necessário apenas depositar uma taxa de 10
ra um Congo bonito que o nosso”, afirma.
reais para cobrir despesas relacionadas à ir-
Maria Aparecida Pereira, que participa da
mandade. Não há limites para a idade, e Yas-
irmandade como ajudante, se emocionou ao
min Pereira Fernandes, que dança desde os
assistir os filhos João Paulo de 15 anos e João
2 anos nos braços de sua mãe, é prova disso.
Vitor de 12 anos durante a homenagem. “Apre-
Apesar de seu reconhecimento, a primeira
sentei-os à igreja com um ano de idade e não fiz
homenagem feita à Congada de Santa Efi-
promessa imaginando que, se eles quisessem,
gênia foi na 1ª Festa Literária de Niquelân-
seguiriam por vontade própria. E é o que fa-
dia, no final de Outubro e início de novem-
zem: são apaixonados pelo Congo”, comenta.
NQ 52
Delicie-se na cidade
Comida caseira e doces artesanais são algumas das opções. Estabelecimentos investem em preços justos para atrair clientes.
N
iquelândia tem um serviço de culinária variado. As sorveterias fazem sucesso entre os moradores,
por conta do calor que faz na cidade. Para a hora do almoço, há várias opções de restaurante self-service. Mas, para quem prefere
Reportagem Natália Ribeiro Fotografia Ludimila Mamedes
comer grandes quantidades de comida, uma boa pedida é o serviço de comida a vontade. Um diferencial da cidade é o sistema de recheio dos pastéis. Segundo moradores da região, faz parte do cotidiano deles pedir NQ 53
um pastel com um recheio fixo e acrescentar
cializou-se em peixes e, quando voltou para o
outros ingredientes de acordo com o gos-
Brasil decidiu abrir um restaurante. O retor-
to pessoal. Os adicionais não têm custo. A
no financeiro foi bem maior que o esperado.
1ª Festa Literária da cidade, que ocorreu do
Os frequentadores do lugar têm perfil varia-
dia 30 de outubro deste ano ao dia 1º de no-
do: famílias, casais e funcionários do governo.
vembro, contou com uma barraca de pastéis
Outro estabelecimento bem conhecido em
à la goianos. O cliente pôde escolher entre
Niquelândia é a Casa da Pizza. João Ferrei-
presunto e queijo e carne moída e adicionar
ra e Cíntia Imperatriz compraram o restau-
maionese, milho, ervilha, mostarda e catchup.
rante há sete anos. No início, passaram por
A confeitaria Doce Sabor, localizada na
algumas dificuldades financeiras, mas com o
Avenida Anhanguera, investe em salga-
tempo a pizzaria ficou mais conhecida e co-
dos e bolos de festa. Mas não só os ani-
meçou a dar mais lucro. Os preços, compa-
versariantes
estabele-
rados com o padrão da cidade, são um pouco
cimento. De acordo com a funcionária
acima da média, mas, quem frequenta o lu-
Amanda Ribeiro, muitos moradores frequen-
gar garante que vale a pena pagar um pouco
tam o local diariamente para fazerem um lanche.
mais. O local é ideal para ter um encontro
O restaurante Raja Gaúcha, localizado na
a dois ou para comemorar um aniversário.
Avenida Brasil, número 130, é um dos mais
Unindo gastronomia e diversão noturna, o
famosos da cidade. Durante o dia, funciona
lugar ideal é o Tilapas. Criado há dez meses,
com o sistema self-service, e, à noite, o servi-
o bar investe em petiscos e música ao vivo.
ço é à la carte, com destaque para as pizzas e
O nome do bar veio do apelido “Tilapinhas”,
os peixes. O proprietário do estabelecimento,
do proprietário Josinaldo Borges. As bebi-
Romildo Ribeiro Neto, tomou gosto pela gas-
das são servidas até as 2h da manhã nos fins
tronomia quando morou em Portugal. Espe-
de semana e, nos dias úteis, até meia noite.
que
procuram
o
NQ 54
Fé e
Folia
N
Na pequena cidade do norte goiano, religião, música e cultura andam de mãos dadas
Reportagem Ana Carolina Fonseca Fotografia Ivanilda França
iquelândia é uma
povoado histórico localizado
ornamentado. O trajeto vai
cidade de tradições
a 50 quilômetros de da cida-
da Igreja São José (Niquelân-
seculares: suas fes-
de. No século XVIII, quando
dia) até a Paróquia Nossa Se-
tas típicas envolvem a cidade
a principal atividade econô-
nhora da Abadia (Muquém),
toda e muito planejamento.
mica de Goiás se baseava na
onde é realizada uma missa
A Festa de Santa Efigênia,
mineração, foi um quilombo.
campal. A caminhada termi-
mais conhecida como Con-
Hoje, é residência de um dos
na de manhã, quando é rea-
gada de Niquelândia, é uma
maiores santuários religiosos
lizada a missa de chegada da
das características marcantes
do Brasil, com capacidade
santa. Os romeiros acampam
da cidade. Outra delas, a Ro-
para 28 mil pessoas.
em torno do santuário por
maria de Muquém, está en-
A celebração da Nossa Se-
tre as maiores peregrinações
nhora da Abadia de Mu-
A festa do Divino Espírito
religiosas do país. Neste ano,
quém completou 266 anos e
Santo também é uma tradi-
contou com mais de 300 mil
começa sempre no dia 5 de
ção secular em Niquelândia,
fiéis e atraiu romeiros de to-
agosto. A procissão caminha
mas não há registros precisos
das as regiões.
acompanhando a imagem da
das origens da celebração,
santa, carregada em andor
que se encerra no domin-
São Tomé de Muquém é um
NQ 55
dez dias.
go de Pentecostes. A cidade
participantes, bem como os
nho feito antes. Eles passam
é dividida em cinco – cada
niquelandenses, vestem-se de
de casa em casa, cantando e
região é uma folia, com seus
vermelho, e a cidade toda é
pedindo “esmola”. Todas as
próprios alferes da folia e dos
decorada na mesma cor.
doações são revertidas para
mastros. Os títulos são par-
No dia seguinte ao levanta-
a igreja e para a manutenção
te importante da tradição:
mento dos mastros, que ficam
da festa. Além disso, eles pro-
há também um imperador e
expostos ao lado da Igreja São
curam por residências para
uma imperatriz, o mordomo
José, começa a Alvorada da
oferecer almoço e jantar. A
da novena, o juiz da alvorada
Folia. Os foliões “giram” pela
celebração dura nove dias e
e o juiz da procissão. Ao final
cidade em trajetória planeja-
é seguida pela realização da
de cada festa, são sorteados
da com cuidado, já que é proi-
novena. Neste ano, contou
os festeiros da próxima. Os
bido voltar ou cruzar o cami-
com mais de 300 festeiros.
Imagem de Nossa Senhora da Abadia de Muquém.
Cultura teatral em construção
O
Pau-
apresentações e formaturas. Luciana Ferreira
lo Rocha, conhecido como Ci-
de Souza, secretária municipal de cultura, tem
ne-teatro,
em
projetos para introduzir a cultura teatral na ci-
2009. Apesar de ser o maior espaço coberto
dade por meio da revitalização do Cine-teatro.
para eventos de Niquelândia, com capaci-
Segundo Luciana, a intenção de incentivar
dade para 314 pessoas sentadas, o espaço
essa cultura na cidade é para que, futuramente,
é pouco utilizado para eventos culturais.
seja formado um grupo teatral em Niquelân-
Até 2013, um cinema funcionava no lo-
dia que participe da mostra de Teatro Nacional
cal, que hoje, recebe eventos como palestras,
de Porangatu (TeNpo). O evento almeja traba-
Centro
de
Convenções
foi
inaugurado
NQ 57
lhar com os municípios vizinhos, mas não há
H2O, de Brasília, peças e espetáculos serão
muito interesse das regiões próximas. Logo,
levados à cidade. Grande parte dos ingressos
os participantes são grupos de outros estados.
para o primeiro espetáculo da companhia,
Há muito teatro religioso na cidade, vol-
que acontecerá no Cine-teatro nos dis 8 e 9
tado principalmente para eventos den-
de novembro, já foram vendidos. Em 2015, a
tro das igrejas católicas e evangélicas. Já
companhia oferecerá uma oficina de seis me-
existe um público interessado e envolvi-
ses para a montagem de espetáculos voltados
do no teatro. Falta apenas um grupo tea-
para adultos e crianças. A tentativa de revitali-
tral próprio do município, como havia na
zação trás boas expectativas, pois os morado-
gestão anterior, do prefeito Luís Teixeira.
res estão animados com as apresentações te-
Em parceria com a Companhia Teatral
atrais que serão produzidas em Niquelândia.
Reportagem Tatiana Vaz Fotografia Paula Pontes Público a espera do início de uma palestra da Fliníquel sobre literatura nacional.
Livro também é coisa de criança
S
Reportagem Ludimila Mamedes Fotografia Yasmim Perna
ergio Neto estava paralisado em frente ao estande de li-
vros. Boquiaberto e com as mãos sobre as bochechas, os olhos do pequeno de 4 anos de idade não paravam de brilhar. “Meu Deus! Olha esse tanto de livro, mãe!”. Perdido em meio àquele novo universo, ele não sabia por qual li-
Acima, Sérgio Neto, o matador de dragões. Abaixo, livros pendurados para quem quiser ler.
vro começar sua aventura, mas logo decidiu: “Esse é o mais legal porque tem dragão, e quando eu crescer eu quero ser um matador de dragões!” A 1ª Festa Literária de Niquelândia (FLINÍQUEL) começou antes para a criançada. A partir de 29 de outubro, a organização da feira já havia começado a comprar livros do acervo dos autores que participariam do evento. Estes foram entregues aos alunos do 4º e 5º anos de algumas escolas da cidade e da zona rural. Até o início do evento, cada aluno leu um livro. Eles pintaram, escreveram textos e fizeram outras intervenções artísticas para representar a obra que tinham lido. “Você está no interior do Brasil, a centenas de quilômetros NQ 59
de uma capital, mas existe aqui um trabalho perceptível de incentivo à educação”, diz Tino Freitas, autor de Cadê o juízo do menino. O escritor de Brasília, que teve seis dos seus livros apresentados em três escolas, destacou que o que tornou sua visita à Niquelândia tão singular foi o trabalho de troca. Os autores ofereceram o que tinham de Tino Freitas, autor de Cadê o juízo do menino?
melhor, suas histórias e suas vivências, e os alunos deram a eles sua experiência como leitores insaciáveis.
A FLINÍQUEL Mirim colocou as crianças como protagonistas de um evento com grandes nomes da literatura infantil.
“Em
Niquelândia
eu me senti mais do que em casa, me senti abraçado por um público leitor que eu, sinceramente, não esperava ser tão bom”, finalizou Tino Livros expostos deixam Greyciele (9) e Loyane (10) fascinadas. NQ 60
Freitas.
Incentivo à tradição local “Desce da escada, gente! ainda não é a vez de vocês!”, disse a professora, tentando conter a ansiedade das crianças ao subirem no palco. Sempre muito agitados, os alunos dos colégios Kerygma, Joaquim Tavares, Francisco Santiago, Bartolomeu Bueno, e São José não conseguiam conter a empolgação ao mostrar para seus pais, irmãos e todos presentes o que tinham aprendido na escola nos últimos dias. Além das homenagens aos autores convidados, festividades tradicionais da cidade, como a Congada, também foram celebradas pelas crianças na 1ª FLINIQUEL. Os alunos do 4º ano do Colégio JK foram responsáveis por homenagear a catira, dança apresentada durante a Festa do Divino Espírito Santo. “Catira se dança batendo, batendo palma na mão”, disse Luís Fernando (10), que junto com sua colega Gabrielly Marques Torres (10), nunca tinham ouvido falar da tradição. Célia Otávio Resende de Oliveira, coordenadora pedagógica do colégio EMEI, enfatiza a necessidade de educar as crianças desde pequenas acerca da importância das manifestações culturais da região. Ela finaliza: “O resgate dessa cultura com essas apresentações é fazer com que essas crianças continuem a tradição”. Jardim I do colégio EMEI se prepaprando para apresentação de Catira.
Jardim II do colégio EMEI na homenagem à Congada.
SAÚDE E EDUCAÇÃO
É melhor não ser urgente...
O atendimento médico funciona na cidade, mas em caso de urgência os moradores ficam na mão Reportagem: Julia Rangel Fotografia: Isabelle Marie
Hospital “Ainda não tá bom, mas já tá bem melhor” é a frase mais utilizada pelos moradores de Niquelândia para definir a situação da saúde no município. O Hospital e Maternidade Municipal Santa Efigênia, localizado no centro da cidade, conta hoje com atendimento médico 24 horas. É pouco movimentado e oferece uma atenção de nível secundário, atendendo aos principais problemas de saúde, com o uso de recursos tecnológicos. Os principais motivos de os moradores irem ao hospital municipal são parto, tratamentos de leishmaniose e hanseníase.
Postos de Atendimento
Em Niquelândia há Unidades Estratégias da Família que funcionam como um atendimento básico, com o objetivo de desafogar o hospital e trazer atendimento mais próximo para os cidadãos. A cada mês, os postos de saúde têm o que chamam de hiperdia, que são consultas especializadas como ginecologista e cardiologista; o pedido por essas consultas é passado à secretaria de saúde de acordo com a demanda.
Apesar de os postos de atendimento à saúde serem bastante recentes, eles estão sendo refoirmados, pois não têm espaço e estrutura suficientes para atender e já estão defasados em relação às regras de atendimento do Ministério da Saúde. A Unidade Estratégia da Família do Jardim Atlântico II está em reforma desde o ano passado e, inicialmente, tinha uma previsão de entrega de um mês. Temporariamente, para continuar atendendo a população do bairro, o posto foi transferido para um prédio numa garagem da prefeitura no Jardim Atlântico III. Essa unidade improvisada “quebra o galho, mas não é o ideal, porque não tem estruturaboa e atendimento odontológico”, de acordo com Derzinho, vigia noturno do local. O que é feito para ajudar também pode atrapalhar. É o caso de Silvanete, que tem uma filha de um ano e seis meses e mora no Jardim Atlântico III, mas trabalha na Vila Mutirão. Por não ser moradora da Vila, Silvanete não pode ser atendida no posto de saúde próximo ao seu trabalho, o que complica muito na hora de sua filha tomar vacinas ou ter um acompanhamento pediátrico.
NQ 63
Posto de saúde do jardim atlântico
Prédio da garagem da prefeitura é utilizado como posto provisório no Jardim Atlântico
Fila na recepção do posto de saúde do centro
Os postos de saúde, à exceção da unidade do Centro, funcionam somente de segunda a sexta-feira em horário comercial. Quando não há atendimento ou quando o caso é urgente, os pacientes se dirigem diretamente ao hospital.
Previsões de melhoria
Há três médicos cubanos em Niquelândia, dois deles trabalham no posto de saúde central. O terceiro, Yohandres, é o único médico do posto de saúde do Muquém, situado a 45 quilômetros da cidade, na zona rural. O posto do Muquém atende 3.600 pessoas e, assim como nas outras unidades no entorno de Niquelândia, se houver alguma urgência, “tem que andar uns 45 km de estrada de terra, e se for muito urgente, aí não tem como...”, afirma Gabriel Martins, professor de uma escola da zona rural. Segundo o secretário de saúde de Niquelândia, Rafael Caetano, que assumiu o cargo em julho desse ano, estão sendo construídos uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e um hospital regional de urgência no município de Uruaçu, a 95 km. Dessa maneira, outra atenção secundária e uma atenção terciária estarão mais próximas e acessíveis. Hoje em dia, quando há um paciente em estado grave, uma ambulância tem que levá-lo até Goiânia, a 300 km, onde ele aguarda atendimento.
Atenção primária ou básica: atua como um filtro inicial e ordena a demanda por serviços de maior complexidade. Atenção secundária ou de média complexidade: serviços especializados em nível ambulatorial e hospitalar, com densidade tecnológica intermediária.
Fim de semana pouco movimentado no hospital Santa Efigênia
Atenção terciária ou de alta complexidade: serviços ambulatoriais e hospitalares especializados de alta complexidade; é organizada em Pólos Macrorregionais.
Programa social traz mudanças
R
Reportagem: Beatriz Queiroz Fotografia: Anna Magalhães/Paula Évelyn
ua simples, paredes brancas e um portão cinza. A entrada leva direto à sala na qual a secretária Andrísia Galvão atende todos os que chegam. Andrísia é formadia em Engenharia de Minerais, mas sonhava em fazer jornalismo. “Aqui não tem muitas opções de curso e eu não podia ir para Goiânia estudar”. No fundo, o barulho de palmas, risadas e música chama atenção. Tudo isso é apenas a primeira percepção do programa
O PAES leva paz, amor e educação social para crianças da Vila Mutirão e arredores
que visa trazer Paz, Amor e Educação Social (PAES) para crianças e adolescentes das comunidades carentes de Niquelândia. O PAES atende anualmente 80 crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos que frequentem regularmente a escola e oferece algo diferente da realidade à qual estão acostumados. Financiado pela Anglo American, multinacional que atua na área de mineração na cidade, e apoiado pela prefeitura, o projeto NQ 65
oferece seis oficinas aos alunos: artes, capoeira, dança, informática, leitura e música. As aulas são ministradas por professores que moram na cidade ou em cidades próximas, como Uruaçu. “Aqui é uma estratégia, na verdade, eles têm problemas diferenciados. Já sofrem dia e noite na casa deles. Você não pode desvalorizar”, relata a professora de dança, Olinda Gomes. Muitos alunos que participam do projeto voltam como monitores. Aryelle
Silva tem 15 anos e é uma dos quatro monitores que trabalham no PAES. Ela conta que voltou ao projeto porque queria continuar e não tinha mais idade. Além isso, também podia participar das aulas. “É a mesma coisa de ser aluno, só preciso fazer algumas coisinhas a mais”.
O projeto é para os difíceis
As crianças atendidas pelo projeto vivem realidades complicadas. Muitos têm pais separados, presos, traficantes e/ou usuários de drogas e alguns alunos são órfãos. A coordenadora Pedagógica, Solange Fernandes, relata que eles têm muitos obstáculos durante o processo. O acompanhamento das crianças revela problemas financeiros, de relacionamento familiar e exploração sexual. “Existem pais que chegam para a gente e dizem: meu filho está aqui porque ele quer, porque se fosse por mim ele não estaria. A gente vê isso como desculpa, porque quando a gente está chegando perto do problema, eles (os pais) desistem, porque sabem que nós vamos fazer alguma coisa por essas crianças que estão sendo abusadas”, conta Solange. A coordenadora também conta que muitos alunos tiveram grandes problemas de adaptação no início. Um exemplo é Carlos. O menino de oito anos tem 11 irmãos e é órfão. Ele era arredio e não conversava ou permitia que as pessoas se aproximassem dele, mas foi um dos alunos que mudou muito. O irmão mais novo de Carlos, que hoje se encontra no Conselho Tutelar, também fez parte do projeto. Ele é um dos casos que mostra que o PAES muda as crianças. Expulso de todas as escolas de Niquelândia, o menino não dava trabalho à coordenadora nem aos professores. Contudo, o cuidado que ele recebia dentro do projeto não foi refletido em suas atitudes em outros ambientes. Mas a maior parte dos casos é de sucesso, dentro e fora do PAES. Arielly relata que mudou muito depois de fazer parte do projeto e passou a ver a importância de ser educada e falar bem. “Hoje eu sou muito diferente. Quando cheguei, eu só sabia brigar, xingar, não respeitava ninguém”, conta a monitora. NQ 66
Alunos da classe mais nova do Instituto Paulo Rocha
Os monitores, tímidos, contam a alegria que é participar do projeto
Profissionais responsáveis por todo o Instituto
Crianças do projeto treinam para a apresentação de Natal
Maria Silvestre, Secretária de Educação, diz que houve aumento da acessibilidade nos últimos anos.
A palavra é reestruturação
os professores tiveram de se desdobrar em 60 horas semanais para ensinar em um ano o que deveria ser ensinado em dois. O IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – não sofreu redução durante o período e o 5º ano de Niquelândia tem resultados que superam, desde 2007, as metas estabelecidas pelo Ministério da Educação (MEC). O 9º ano, contudo, que obtém 3.5 desde 2005, não atinge a meta desde 2009. Uma das medidas tomadas para reverter isso é a destinação de recursos para a capacitação dos professores da rede municipal. Hoje, por conta dos investimentos, praticamente todos os professores da rede são pós-graduados e já há uma perspectiva de incentivo ao mestrado. Vale ressaltar, no entanto, que mesmo após as greves dos professores e a troca da gestão, os professores do primeiro ensino fundamental ainda têm salário abaixo do piso nacional. Um professor com carga de 40 horas semanais deveria receber R$1.697,00. Em Niquelândia, eles recebem R$1.430,00.
Reportagem: Paula Évelyn/Neila Almeida Fotografia: Beatriz Queiroz/Thaís Ellen
Acessibilidade
A educação básica de Niquelândia passa por um período de reestruturação. Na gestão anterior da prefeitura (2011-2012), houve diversos entraves na educação. Dentre eles estão as greves do transporte escolar e dos professores. Quando a nova gestão
Antes impedidos de chegar à escola pela precariedade do transporte, os alunos da zona rural tinham dificuldades para estudar. Agora, segundo a Secretária Silvestre, o transporte chega a todas as crianças que estudam na rede municipal, seja na área urbana ou na área rural.
assumiu, houve reformulação no método de ensino, além de uma concentração de esforços para evitar que novas greves ocorressem. Segundo a Secretária de Educação, Maria Silvestre, os alunos da escola pública perderam o ano letivo em 2011. Por isso, em 2012 NQ 67
Ela disse, ainda, que o número de escolas na zona rural já é maior do que na zona urbana. Outro grupo de alunos que enfrentava dificuldades para se manter na escola é o dos alunos portadores de deficiência. Embora não exista um centro especializado em atendê-los, a Secretaria tenta adequar a estrutura das escolas à realidade deles. A maioria das escolas foi reformada para atender os deficientes físicos. Foram construídas rampas e barras de apoio e há equipes de psicólogos para ajudar no desenvolvimento dos alunos que têm alguma patologia.
Entrevista com Ana Maria Pinheiro, Coordenadora Pedagógica da Secretaria de Educação
NQ: Em que consiste o Escola e Família?
Ana Maria: Nós tentamos trazer a família para a escola e promover o melhor desenvolvimento escolar dos alunos por meio de parcerias. Vamos às escolas e realizamos atividades que vão desde a educação sexual até questões ambientais. Durante o período, os pais são convidados a participar.
Escola e família
NQ: Quem são os parceiros de vocês?
Outro setor de atenção para a Secretaria é a família. De acordo com Silvestre, a situação em que as escolas se encontravam anteriormente afastaram os pais da vida escolar dos filhos. Na tentativa de sanar o problema, a Secretaria preparou uma equipe para implementar o programa “Escola e Família: Uma Parceria de Sucesso”. A Coordenadora Pedagógica da Secretaria de Educação, Ana Maria Pinheiro, explica o funcionamento do projeto.
Ana Maria: A ONG Reprolatina que cuida da educação sexual, psicólogos para trabalhar o bullying, além da Secretaria do Meio Ambiente que oferece palestras sobre destinação dos resíduos sólidos. NQ: Qual o saldo desse projeto?
Panorama do ensino superior
Ana Maria: Percebemos que o objetivo está sendo alcançado. Agora, os pais participam ativamente da vida escolar das crianças e, inclusive, não se sentem mais intimidados a procurar a Secretaria de Educação quando necessário. A questão negativa é que nossa equipe é pequena e não há como fixar um grupo para se responsabilizar pelo projeto, o que dificulta a frequência do evento.
Em 2005, o campus da Universidade Estadual do Goiás – UEG – em Niquelândia foi reformulado. Antes, a universidade funcionava apenas como polo da UEG de Uruaçu e a mudança foi possível graças à parceria com a prefeitura. Durante a implantação do campus, foi solicitada a abertura de 200 vagas. Fato incoNQ 68
mum, já que, normalmente, as universidades não pedem mais do que 30, porém a demanda era grande, especialmente pelo fato de o campus da UEG ser o único a ofertar cursos presenciais na cidade. Os cursos existentes são Tecnologia em Gestão de Turismo e Tecnologia em Mineração, sendo que este último é o mais concorrido, já que prepara os estudantes para trabalhar em mineradoras. Inclusive, muitos professores do curso de Tecnologia em Mineração trabalham nessas empresas. O curso de turismo, por sua vez, é definido pela diretora do campus, Artemes Souza Lima Rocha, como um erro. “Apesar de o município ser turístico, não existe demanda de trabalho na área”. A diretora acrescentou, ainda, que pediu para substituir o curso de turismo por administração, além de trazer curso de pedagogia à distância. Porém, a disponibilidade desses cursos deve ser apenas em 2015.
Ensino técnico O PRONATEC, Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, é importante para a educação em Niquelândia. O programa foi criado pelo Governo Federal, em 2011, com o objetivo de ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica. Em Niquelândia, o curso técnico mais concorrido é o de segurança do trabalho, já que a oferta de emprego no setor cresce bastante. Entretanto, Reneval Vaz Pires, 60 anos, funcionário da Secretaria de Cultura, acredita que é a “a falta de investimento em cursos superiores que fazem os jovens buscarem cursos técnicos”. Questionado sobre o assunto, o prefeito, Luiz Teixeira (PMDB), diz que o que falta para melhorar o ensino técnico e superior de Niquelândia é a liberação de mais recursos.
Diretora do Campus da UEG relata que o curso de turismo não foi uma boa escolha e diz que futuramente haverá a substituição desse pelo curso de administração.
NQ 69
Sucateamento e descaso na biblioteca municipal
A
Reportagem: Tatiana Vaz Fotografia: Paula Pontes
Biblioteca Municipal de Niquelândia, inaugurada em 1976, hoje se encontra em estado crítico. Localizada em uma rua pouco movimentada e ao lado de um terreno baldio, a casa que funciona como sede tem rachaduras e paredes quebradas. Por dentro, é pequena e não tem espaço suficiente para abrigar um grande acervo. Maria Silvestre, Secretária Municipal de Educação, tem como meta a mudança de sede para o centro da cidade em um estabelecimento maior. O acervo é antigo e depende de doações, mas já há perspectiva de compra de novos livros: este ano saiu uma
A situação atual é herança das gestões anteriores, segundo a Secretaria Municipal de Educação lei municipal que direciona uma verba para a compra de material. A primeira sede foi no centro da cidade, mas já mudou várias vezes por questões administrativas e de aluguel. Quando ocorrer a compra do novo acervo, a biblioteca precisará de um novo espaço, pois o atual é pequeno. A secretaria já tem em vista dois locais na avenida principal da cidade. Na nova sede, será montado um laboratório de informática, com 12 computadores. Os aparelhos eram destinados ao centro de informática da cidade e foram guardados em um depósito, após a desativação do centro, pela falta NQ 70
de interesse da população. Mesmo com o acesso à internet, vários alunos ainda visitam a biblioteca diariamente para a realização de trabalhos escolares, em quantidade menor do que no passado, quando a biblioteca foi inaugurada. A Primeira Festa Literária de Niquelândia foi um incentivo para despertar o interesse pela leitura na comunidade (leia mais na página 40). Não há dificuldades para a implementação desses projetos, faltava apenas motivação. A meta para a inauguração da nova biblioteca é até 19 de março, aniversário da cidade, sendo uma forma de presentear Niquelândia.
TU RIS MO
Lago Serra da Mesa: um convite aos amantes da pesca
A
no local da pescaria para preservar do estoque pesqueiro e a recuper da fauna aquática. O tucunaré azul, típico do Lago de Serra da Mesa, está entre os peixes que fazem parte da lista de espécies proibidas para captura e transporte. Segundo Ariana Aparecida Renovato da Silva, secretária de Turismo de Niquelândia, com a Cota
É o principal atrativo para visitantes
Zero houve um aumento da fiscalização sobre a pes-
Esportes começam ganhar espaço.
ao tucunaré azul, que é o “tesouro da cidade”. Os
interessados no turismo ecológico.
pesca esportiva no Lago da Serra da Mesa se tornou uma alternativa à pesca predatória desde que a “Cota Zero para
pescaria” foi instaurada pelo Estado de Goiás. A Cota Zero surgiu a partir da Lei 17.985/2013, regulada por três anos, a partir do dia 3 de abril de 2013, pela Instrução Normativa nº0002/2013. Ela proíbe o transporte de pescado em todos os rios sob controle estatal durante o prazo de três anos. A Lei e a Instrução Normativa não impedem o ato da pesca, que pode ser feito como atividade esportiva, além de os peixes poderem ser consumido
ca predatória na região, principalmente em relação
investimentos no ramo do turismo somente começaram a crescer, de fato, no último ano, com a organização do Primeiro Torneio de Pesca Esportiva em Niquelândia, em 26 de outubro de 2013. O evento atraiu pessoas de vários estados, inclusive de outros países, como o Japão. Vista do Lago de Serra da Mesa ainda abaixo de seu volume normal devido à falta de chuvas. A foto foi tirada na pousada Estância Corujinha que se localiza a 36km de Niquelândia Fotografia: Alana Martinez
Sobre o Lago
O Lago da Serra da Mesa
é artificial, abriga a usina hidrelétrica da Serra da Mesa e é o quinto maior do Brasil.
Ele se situa a cerca de 65 km de Niquelândia e os últimos 35 km são de estrada de terra bem conservada.
Por ser formado de água
alcalina, o lago dificulta a
Além da Pesca, o Lago Serra da Mesa tem espaço para esportes diversos, como o Stan Up. Fotografia: Secretária do Turismo
A Cota Zero não foi bem vista pelos comerciantes da
proliferação de moscas e
região, pois alegam que a regulamentação não é produtiva
ambiente ideal para a prati-
não ser identificado afirma que essa lei afasta os turistas
reos e aquáticos.
as vendas já caíram pela metade. Ele citou ainda erros na
res perceberam um poten-
curso Hídricos (Semarh) e do Batalhão Ambiental da Polí-
pousadas e campings a bei-
do peixe do mesmo jeito. Eles só multam os turistas”, diz.
ram atrair visitantes interes-
soas de fora e não foi destinado aos pescadores da cidade,
pesca. Atualmente, os pre-
Anual de Pesca do Estado de Goiás, arrais (documento que
das variam entre R$150,00 e
mosquitos, tornando-se um
para o comércio de pescaria. Um comerciante que preferiu
ca de esportes esportes aé-
gerando déficits para as lojas especializadas em pesca, onde
Em razão disso, investido-
fiscalização da Secretária Estadual de Meio Ambiente e Re-
cial para a construção de
cia Militar. “Os predadores continuam pescando e venden-
ra do lago e assim consegui-
O comerciante também alega que o torneio atraiu pes-
sados, principalmente, na
que não puderam participar já que não tinham a Licença
ços das diárias nas pousa-
inclui noções de navegabilidade e exames psicofísicos) e embarcação registrada. Segundo ele, falta incentivo para
Reportagem:
R$ 450,00 reais.
que a própria população, e não só os turistas, esteja apta
Alana
para participar dos torneios organizados pela cidade.
Martinez
NQ 73
A Cheia e a Seca
Indispensável para proteger
a pele do rosto e os olhos dos raios
Reportagem: Loyane Alves O período da seca vai de agosto a dezembro, que é quando começam as chuvas de verão. A cheia só começa em março. Em época de grande estiagem, como observado desde agosto até o final de outubro, há diminuição do nível da barragem. No período de 2007 a 2014 o nível do lago diminuiu 50%, segundo dados da ONS (Operadora Nacional de Sistema Elétrico). Isso afeta a população que depende do turismo e das reservas naturais: donos de pousadas, de restaurantes. Láiza Euzébio, dona da Pousada Serra Negra, diz haver uma relação direta entre a diminuição do nível do Lago e a queda na procura dos turistas, mas esperançosa: “Espero que com a chuvas aumente o volume da água e o número de turistas”, diz.
Profundidade
cores claras, para fugir das altas temperaturas. Temperatura má-
xima na região chega atingir 36º graus, na primavera.
No barco você deve se manter
calçado para evitar pisar em iscas.
Sempre use os de solado claro que absorve menos o calor do sol transmitido para os pés.
Outro item de extrema importância, o sol causa danos na
pele,como queimaduras, e o protetor solar é a melhor forma de evita-
Dados recolhidos da
Secretaria de Turismo:
solares. Dê preferência aos de
-las. Abuse sem moderação, principalmente em crianças.
180
Máxima:
Metros
Média:
Metros
horas sob o sol e aos turistas que op-
Máxima:
Kilometros
sária para a proteção contra os raios
de Ilhas:
em Média
Profundidade Largura
Quantidade
Aos pescadores que passam
50
tam pelos passeios de barco, é neces-
10
150
UV do sol. A luz intensa do sol pode causar danos permanentes à visão. NQ 74
Fotografia: Secretária de Turismo
Lendas que pairam sobre as águas de Niquelândia Nem somente de belezas e mistérios vive o Lago Azul, ele também possuí problemas que tornam o acesso dificultoso.
Reportagem: Raphaele Caixeta Fotografia: Ana Gabriela Braz
S
ituado a 42 quilômetros de Nique-
A falta de segurança pode tornar a visita ao lago
lândia, o Lago Azul é conhecido pela
um sonho distante. Segundo Ariana Apareci-
água azul e cristalina. Para quem não
da Renovato da Silva, Secretária de Turismo do
conhece a região mergulhar parece bastante con-
município, mergulhar sem o apoio do corpo de
vidativo, no entanto, o local guarda mistérios
bombeiros e os equipamentos de segurança ade-
e perigos que tornaram-se enredo de lendas.
quados não é aconselhável.
NQ 75
Alguns acreditam que o Lago Azul tenha
a forma de um funil ao contrário, que se alarga e não tem fundo. De acordo com informações da prefeitura, estudos foram feitos no local e nunca se alcançou o fundo do lago. Com tamanho mistério, surgem as lendas, como a de que o lago não tem peixe e nada fica sobre sua superfície por muito tempo, sendo sugado para baixo.
A Secretária de Turismo afirma que a re-
gião do Lago Azul não possui mais investimentos pelo fato da propriedade ser particular e, sendo assim, tais melhorias, como a construção de um espaço para apreciação do lago pelos visitantes, devem partir do dono (que não se encontrava em Niquelândia no período em que esta reportagem estava sendo feita). Entretanto, ela acrescenta que existe diálogo entre prefeitura e proprietário, a fim de torná-lo mais acessível ao turista.
A sua esquerda, imagem de perto do Lago Azul. A sua direita, Cuité encontrado na propriedade onde se localiza a Lagoa Encantada. Cuités são frutos cuja casca pode ser utilizada como vasilhas e cuias de chimarrão. As sementes podem ser consumidas depois de cozidas, possuindo elevado conteúdo proteico. NQ 76
“
Com tamanho mistério, surgem as lendas, como a de que o lago não tem peixe e nada fica sobre sua superfície por muito tempo, sendo sugado para baixo.
”
O turismo que ainda dá os
primeiros passos
Problemas dificultam a chegada de visitantes nos diversos
N
atrativos ecológicos da cidade. Reportagem: Ana Gabriela Braz
iquelândia é conhecida por suas ri-
hidrelétrica e propicia a pratica de esportes aé-
quezas minerais, no entanto, muitos
reos e aquáticos. Além disso, há na região la-
desconhecem os recursos naturais
gos e lagoas que se destacam pela beleza e pelos
que a cidade oferece, como a Gruta da Lapa ou a
mistérios de suas lendas, campings, ruínas, pa-
cachoeira de São Bento. O município é cortado
redões rochosos e flora abundante. Entretanto,
por serras, o que facilita a formação de grutas e
o turismo ainda é uma atividade sem tradição, e
cachoeiras; e cercado por um lago artificial que
como disse Ariana Aparecida Renovato da Sil-
não somente é o quinto maior do país, como
va, Secretária de Turismo do município, “é uma
também fornece energia através da barragem
palavra nova”.
Os paredões ficam na região do Mosquito, 21km da área urbana de Niquelândia Fotografia: Yohanne Auana
Cachoeira São Bento situada a cerca de 45km de Niquelândia Fotografia: Secretária de Turismo
Secretária de Turismo de Niquelândia, Ariana Aparecida Renovato Da Silva. Ela está no cargo desde de 2013. Fotografia: Loyane Alves.
ços, os preços àsa vezes passam a ser abusivos. Desta forma, a visita aos pontos ecoturísticos é restrita àqueles que conhecem a região e aos novos visitantes o passeio pode se tornar um desafio frustrante.
Auxílio ao Turista Segundo a secretária de turismo, há um projeto em andamento para a criação do CAT (Cen-
Comparada a cidades como Pirenópolis, Cal-
tro de Atendimento ao Turista), que terá como
das Novas, Alto Paraíso e Cristalina, que atra-
função principal o amparo aos visitantes. Há
em um perfil de turista parecido, Niquelândia
ainda o Circuito Serra da Mesa, uma propos-
ainda está bem atrás. A falta de infra-estrutura
ta para melhor divulgar as atrações turísticas
e investimentos públicos é o principal proble-
das redondezas através de cartazes e folhetos.
ma que impede a ampliação do ramo. Investi-
É uma iniciativa em parceria com o SEBRAE e
mentos privados são praticamente inexistentes
duas outras cidades cercadas pelo Lago Serra da
e, devido à concorrência inexpressiva e à au-
Mesa - Uruaçu e Minaçu - que pretende atrair
sência de legislação que regulamente os servi-
os interessados pela pesca e outros curiosos.
Para ir mais adiante na Gruta da Lapa, é necessário cilindros de ar e água, pois o ar se torna rarefeito. Fotografia: Raphaele Caixeta
Para chegar a Cachoeira Serra da Negra é necessário um barco, por cerca de 40 minutos do Lago Serra da Mesa. Fotografia: Secretária de Turismo
Estrada
preço por pessoa é menor. Por último, resta a opção
A falta de sinalização é um transtorno que prejudica
de utilizar um carro próprio.
principalmente os turistas de primeira viagem, e sem
Niquelândia é conhecida por ser a cidade do
guia, as dificuldades triplicam. As placas informam
níquel, mas com os investimentos de que neces-
sobre as rodovias principais, GO-535, GO-532 e GO-
sita, pode transformar seu potencial turístico em
237, porém a maior parte do caminho que leva às gru-
realidade no estado de Goiás. Através da ativi-
tas, cachoeiras e lagos é por estrada de terra, nas quais
dade pesqueira, do Lago Azul, da cachoeira de
não se encontram indicações dos caminhos.
São Bento e da gruta da Lapa, a paisagem do cer-
Transporte
rado atrai admiradores. É o que acredita Ariana
Chegar até os locais turísticos é bastante problemá-
Renovato, que planeja continuar incentivando
tico. Niquelândia possui locadoras de carro e empre-
comerciantes locais a investir no turismo nique-
sas que fazem transporte especializado, mas ambas as
landense, bem como conversar com as crianças
opções pesam no bolso. Alugar um carro na cidade
nas escolas a respeito do que a cidade oferece e
pode custar cerca de 93% mais caro do que alugar um
do quanto ela tem para crescer com outras rique-
automóvel com as mesmas especificações em Brasília.
zas além do minério. Uma coisa é certa: com a
As transportadoras especializadas não são muito di-
otimização da estrutura turística, a cidade atrairá
ferentes. A vantagem é que o veículo comporta mais
os apaixonados por aventuras, águas correntes e
passageiros que um carro de passeio. Desta forma, o
cenários espetaculares.
O por do Sol no fundo da vista da Lagoa Serra da Mesa é um evento imperdível. Fotografia: Secretaria de Turismo
Os paredões que cercam parte do Lago Serra da Mesa, Niquelândia. Fotografia: Secretária de Turismo
FÉ
que
Igreja de Santa Efigênia Fotografia Maria Leticia
N
move mu ltidõe s
O turismo religioso chega a atrair
Igreja Matriz de São José Fotografia: Maria Leticia
mais de 100 mil fiéis, todos os anos. Reportagem: Luana Pereira
ão só de belezas naturais vive Niquelândia.
A Igreja de São José, conhecida como Igreja Matriz,
São as comemorações religiosas que atra-
é a mais antiga e foi construída em 1735. Ela é a sede
em o maior número de visitantes ao mu-
das comemorações da festa do Divino Espírito San-
nicípio. Todos os anos, devotos do país inteiro viajam
to. A Igreja de Santa Efigênia foi construída por es-
até lá para participar de celebrações católicas, como a
cravos na metade do século XVII, para ser o centro
Romaria de Nossa Senhora d’Abadia, a segunda maior
de suas manifestações religiosas. Nessa época, eles não
do estado de Goiás, e a Festa do Divino Espírito Santo.
podiam frequentar as mesmas igrejas que os brancos.
Segundo Reneval Vaz Pires (60), morador de Nique-
Nessa igreja é celebrada anualmente, nos dias 25 e 26
lândia há 30 anos e servidor do Centro Cultural Sena-
de julho, a festa de Santa Efigênia.
dor José Ermínio de Morais, o que mais atrai turistas à cidade são as comemorações religiosas.
Durante a festividade, os devotos da santa se vestem a caráter e participam de um ritual chamado de “Ca-
Elas não necessitam de divulgação, mas da fé das
pina do Largo”. Eles retiram todo o mato que fica ao
pessoas. As festas reúnem multidões: em 2014 cer-
lado da igreja, que até a data não poderia ser removido.
ca de 150 mil católicos visitaram o município para a
Durante a capina, os congos da Congada de Santa Efi-
Romaria. Além de serem parte integrante da ativida-
gênia, grupo musical símbolo da cultura local, cantam
de religiosa na cidade, as igrejas de Niquelândia fazem
músicas de origem africana enquanto os fiéis carregam
parte da história do município.
os ramos e capins para pagarem suas promessas. NQ 80
coluna SOCIAL Niquelândia em uma palavra
Fotógrafa: Camila Castro
Nercina Ferreira Alves
Carinho
“Nasci e criei meus filhos aqui. Tenho muito amor e orgulho da cidade.”
Fotógrafa: Joana Albuquerque
Eli Francisco
Acolhedora
“As pessoas que visitam Niquelândia são sempre muito bem recebidas.”
Fotógrafa: Letícia Melo
Suely Rodrigues
Mudança
“Na mudança, a gente tem esperança de que vem coisas novas.”
Fotógrafa: Anna Caroline Magalhães
Damião
Tranquila “Acho tranquila. Passei minha vida inteira aqui, e não sou nada nervoso.”
Fotógrafa: Rafaella Panceri
Meirielly Gomes
Acolhedora
“É acolhedora porque recebe gente de todo o país e faz isso muito bem.”
Fotógrafo: José Eduardo Vieira
Francisco Felicidade
“Felicidade define Niquelândia porque aqui todos são amigos.”
Fotógrafa: Paula Évelyn
Ângela Cristina Alves
Confortável
“As pessoas são amigáveis e eu co-nheço todo mundo. Não viveria em outro lugar.”
Fotógrafo: Lucas Roumillac
Jober Carlos da Silva
Promissora
“É uma cidade promissora, está sendo muito visada.”
Fotógrafa: Alana Martinez
Oliveira “Coisa boa demais”
“Há 10 anos vim pra cá a passeio e nunca mais quis sair.”
Fotógrafo: Lucas Ponte
Luiz Teixeira Chaves Acolhedora
“Ela está e sempre estará de portas abertas e com um largo sorriso no rosto para receber visitantes, turistas e quem sabe até novos estudantes de jornalismo.”
Fotógrafa: Ana Carolina Bardini
Luci Gostosa
“Foi aqui que eu consegui minha casa própria e onde eu consegui criar meus filhos e netos.”
Fotógrafa: Yasmim Perna
Júnio Ferreira Acolhedora
“Todos os turistas são bem acolhidos pelos niquelandenses.”
Fotógrafo: Pedro Gabriel
Divino Riqueza
“A cidade é próspera.”
Fotógrafa: Ludimila Mamedes
Nicole País-natal
“Niquelândia é meu país-natal. Meu país, minha cidade, dá no mesmo.”
Fotógrafo: Laio Seixas
Junielson Santos Furtado Incompleta
Falta muita coisa em educação e saúde. Eu mesmo vou pra Anápolis ano que vem pra estudar.
Fotógrafa: Neila Almeida
Rosangela Lar
“Nasci aqui, cresci aqui e quero morrer aqui.”
Fotógrafa: Judith Aragão
Ricardo Rocha Maravilhosa
“É um lugar maravilhoso de se viver. Mas o turismo precisa de atenção. O Cine Teatro, por exemplo, está depredado e fechado há muito tempo.”
Fotógrafa: Isis Aisha
Reneval Pires Acolhedora
“Há 30 anos vim de Anápolis, fui bem recebido e continuo aqui até hoje.”
Fotógrafa: Raphaele Caixeta
Seu Miranda Acolhedora
Vim para cá muito pequeno, fui embora, voltei mais velho e todas as vezes me senti muito acolhido.
Fotógrafa: Mayna Ruggiero
Weseslau “Amor de vida”
“Eu amo essa cidade. A coisa mais linda do mundo chama Niquelândia.”
Fotógrafa: Tatiana Vaz
Maria Gorethe Rodrigues Oportunidades
“Por causa do empreendedorismo.”
Fotógrafa: Paula Pontes
Delma Andrade Rica
“É rica em beleza natural, rica em oportunidades, rica por causa dos minérios achados aqui.”
Fotógrafa: Ana Gabriela Braz
Géssica Araújo Buraco
“Eu acho que a cidade é um buraco e ainda tem muitos buracos sem asfalto.”
Fotógrafa: Thaís Ellen
Carlos Vasconcelos Xavier Pacata
“Em Niquelândia existe hospitalidade, a violência é muito pouca e as pessoas nos recebem com amor.”
Fotógrafa: Ana Carolina Fonseca
Rogério da Mota Oportunidade
“Aqui pude desenvolver o lado profissional em Comunicação Visual.”
EXPEDIENTE Orientador de Reportagens David Renault Orientadora de Fotografias Susana Dobal iretores de Arte Ana Carolina Fonseca Beatriz Queiroz Camila Castro Lucas Ponte Tatiana Vaz Victoria Cristina Costa Editores Ana Carolina Fonseca Ana Gabriela Braz Isis Aisha Judith Aragão Lucas Ponte Ludimila Mamedes Yasmim Perna Editoras-chefes Anna Magalhães Rafaella Panceri Foto da capa Neila Almeida
Repórteres e Fotógrafos Alana Martinez Ana Carolina Bardini Ana Carolina Fonseca Ana Gabriela Braz Anna Magalhães Barbara Lima Beatriz Queiroz Camila Castro Felipe Mendes Geovanna Maria Isabelle Marie Isis Aisha Joana Albuquerque José Eduardo Vieira Judith Aragão Júlia Rangel Laio Seixas Loyane Alves Luana Pereira Lucas Ponte Lucas Roumillac Ludimila Mamedes Maria Letícia Melo Mayna Ruggiero Natália Ribeiro Neila Almeida Paula Évelyn Paula Pontes Pedro Gabriel Rafaella Panceri Raphaele Caixeta Tatiana Vaz Thaís Ellen Victoria Cristina Costa Yasmim Perna Yohanne Auana
NQ