MANUAL EM DEFESA DA MULHER CRISTÃ . 2021
da mulher cristã
Em defesa
Pra Cristiane Mota
Idealizadora Pra. Cristiane Mota Revisão Pr. Vantuil Mota Tiago Papaterra Ivana Márcia Oliveira Monteiro Assessoria Jurídica Dr. Thiago Vinicius Papaterra OAB/BA 43.561 Fotografia Capa Marivaldo Fotos Direção Editorial Talitha Rendeiro Paranhos Mkt Editorial O Marketeiro Agency Produção Editora Átrio Contatos 71.9.8878.0842 emdefesadamulhercrista � emdefesadamulhercrista@gmail.com 1° Tiragem 1.000 exemplares
Sumário 4 - Biografia e Agradecimentos 5 - Apresentação da Igreja Congregação Missão Maranata 6 - Finalidade do projeto “Em Defesa da Mulher Cristã” 7 - Dados da violência contra as mulheres 8 - Lei Maria da Penha e sua finalidade 11 - Tipos de violência 14 - Como funciona o ciclo da violência e quais as dificuldades das mulheres cristãs romperem este ciclo? 17 - Por que as mulheres cristãs tem dificuldade em denunciar as agressões? 18 - O desafio da liderança evangélica no enfrentamento a violência doméstica e familiar.
7199195.1385 atrioeditora@gmail.com
19 - Ideologia cristã do perdão 20 - O protagonismo da mulher cristã 21 - Submissão bíblica 22 - O Machismo
BIOGRAFIA Cristiane Santos Sales Mota · Pastora da Igreja Congregação Missão Maranata; · Idealizadora do projeto missionário “Em Defesa da Mulher Cristã” · Colunista da Revista Mulher em Foco · Cursou Teologia na RC Academia da Mulher; · Bacharel em Direito; · Pós-graduanda em Ciências Criminais; cristianessmota Já ocupou o cargo de Diretora do Departamento de Prevenção e Enfrentamento à Violência contra Mulher, na Secretaria de Políticas para Mulheres em Lauro de Freitas-BA, e atuou no atendimento à mulher em situação de violência, assistidas pelo CRAM Lelia Gonzalez, também na cidade de Lauro de Freitas-BA.
AGRADECIMENTO Quero, primeiramente, agradecer ao meu Deus, por ter me proporcionado esta oportunidade, e ter me orientado a realizar este trabalho. Agradeço, também, à minha família: Meu esposo, Pastor Vantuil Mota, que sempre esteve ao meu lado com seu amor e dedicação; Às minhas filhas Glória e Hanani; Minha mãe Madalena e minha irmã Vanessa; Minha enteada Graziela Gouveia, Bruno Gouveia e Gabizinha, por sempre estarem ao meu lado; Aos irmãos da nossa Igreja Congregação Missão Maranata, pelas orações e apoio ao nosso trabalho: Minha gratidão a amiga Ivana Márcia Monteiro, cujos esforços e auxílios tornaram possíveis a concretização deste projeto; À Revista Mulher em Foco, na pessoa de Talitha Rendeiro Paranhos, pelo apoio na iniciativa deste manual; Quero, ainda, dedicar esse trabalho a todas as mulheres em situação de violência, e às igrejas, assim como pastoras e pastores, que de alguma forma vêm abraçando esta causa tão relevante em nossa sociedade, e em especial na comunidade evangélica. - Pra. Cristiane Mota
Igreja Congregação Missão Maranata
Pr. Vantuil e Pra. Cristiane Mota
A Igreja Congregação Missão Maranata é uma igreja missionária, apostólica, pentecostal e evangélica, fundada em 01/04/2011, pelo Pastor Vantuil Sales Mota e pela Pastora Cristiane Santos Sales Mota, que hoje conduz esse trabalho evangelístico em 03 congregações: Vilas do Atlântico, Ipiaú e Jequié. A missão da Igreja Maranata é ir por todo o mundo, pregando o evangelho a toda criatura e fazendo discípulos. Trata-se de uma igreja que cresce na graça e no conhecimento de Cristo Jesus, pregando o evangelho em todo o mundo sem descuidar da comunidade local.
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Projeto: EM DEFESA DA MUHER CRISTÃ
Em Defesa da Mulher Cristã é um projeto missionário, evangelístico e social, idealizado pela Pra. Cristiane Mota, da Igreja Congregação Missão Maranata, que nasceu a partir da análise do número expressivo de atendimentos e acolhimentos realizados a mulheres evangélicas que sofrem violência doméstica e familiar, especialmente, no âmbito de Lauro de Freitas-BA, sem desconsiderar, no entanto, as estatísticas de outros municípios e estados, dentro deste mesmo recorte.
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O objetivo é trabalhar com mulheres evangélicas, ajudando a romperem o ciclo da violência, prevenindo e alertando sobre relacionamento abusivo, por meio de cursos, palestras e eventos, utilizando, como base a genuína, a Palavra de Deus. Assim, a proposta é refletir sobre o papel da
mulher no Novo Testamento, e como estas foram consideradas importantes por Jesus em sua caminhada, e assim fortalecer seu estar no mundo como mulher compreendendo seu direito a uma vida sem violência. Este projeto não é uma causa exclusiva do exercício da advocacia, mas sim do exercício da cidadania. A defesa dos direitos das mulheres é promovida por uma rede de enfrentamento que pode ser composta de entidades governamentais e não governamentais, incluindo, também, as instituições religiosas. É um terreno em que qualquer pessoa pode atuar e cumprir com o seu dever, bastando, para tanto, o desejo e engajamento genuíno pela causa, pois os desafios são muitos.
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Dados da violência contra as mulheres Um recorte dos dados da violência contra mulheres cristãs em Lauro de Freitas e no Brasil A Teóloga Valéria Cristina Vilhena, em sua tese de mestrado, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, divulgou os resultados de uma pesquisa: “Uma análise da violência doméstica entre mulheres evangélicas”, onde 40% das mulheres atendidas na Casa de Sofia se consideram evangélicas. A Casa Sofia iniciou seus trabalhos comunitários em 1999, na região do Jardim Ângela, São Paulo–SP, e desde 2001, por meio de um convênio firmado com a Secretaria Municipal da Assistência e Desenvolvimento Social, atuando como Centro de Defesa e Convivência da Mulher;
Casa de Sofia
São Paulo
40%
Lélia González
Lauro de Freita/ BA
47%
PMBA
47%
CRAM Yolanda Pires
Camaçari/ BA
60%
Projeto Justiceiras
Brasil
51%
Ronda Maria da Penha
· No ano de 2017, no Centro de Referência Leila González, em Lauro de Freitas-BA, identificou que 47% das mulheres acolhidas consideraram-se evangélicas; · No ano de 2019, dados colhidos pela Ronda Maria da Penha (PMBA), apontam que 47% das mulheres atendidas no município de Lauro de Freitas consideraram-se evangélicas; · Dados colhidos em 2021 no CRAM Yolanda Pires, do Municipio de Camaçari, cerca de 60% das mulheres atendidas em situação de violência se declaram evangélicas; · Também dados publicado em 2021, pelo projeto Justiceiras idealizado pela Promotora de Justiça Dra. Gabriela Manssur, e um retrato da violência contra mulher no Brasil mostram que 51% de mulheres cristãs, sendo 24% católicas e 27% evangelicas; · O Mapa da Violência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostra que o número de mulheres assassinadas aumentou consideravelmente no Brasil. Entre 2003 e 2013, o número de mortes registradas cresceu de 3.937 para 4.762 novos
casos. Em 2016, uma mulher foi assassinada a cada duas horas no país; · Dados do Censo IBGE (2010), demonstram que 86,8% dos Brasileiros são cristãos, católicos 64,6% e evangélicos 22,2%; · O site Folha de São Paulo publicou, em 2019, que a cada 4 minutos uma mulher é agredida por um homem; · A cada ano, cerca de 1,3 milhão de mulheres são agredidas no Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), coletados até o ano de 2009; · Um estudo inédito do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) analisa essa estatística alarmante ao estimar o efeito da participação da mulher no mercado de trabalho sobre a violência doméstica; · Devemos considerar, ainda, a incidência do machismo no segmento evangélico, vez que 40% de mulheres que sofrem violência estão inseridas nesse contexto.
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Lei Maria da Penha e sua finalidade
Talvez você ou alguém que você conheça esteja em situação de violência, logo vale apena comentar um pouco sobre a Lei nº 11.340/2006. Quem foi Maria da Penha? Maria da Penha Maia Fernandes, uma brasileira natural do Ceará, sofreu duas tentativas de assassinato em 1983, por parte de seu marido. Como resultado, ela ficou paraplégica, necessitando de uma cadeira de rodas para se locomover, o que, no entanto, não a impediu de lutar pela condenação do seu agressor fora do Brasil, já que temia pela sua vida, diante do cenário de impunidade em nosso país. Após um longo período de luta e articulação com organizações internacionais, os quais cobraram providências do país. Quando a justiça, finalmente, foi feita, e seu agressor foi condenado, ela retornou ao Brasil, onde se tornou símbolo da luta no enfrentamento a violência contra as mulheres, e assim foi homenageada com a consagração do seu nome vinculado à Lei 11.340/2006, que ficou 08 conhecida como Lei Maria da Penha.
Trata-se, portanto, de um instrumento normativo, que tem por finalidade proporcionar mecanismos jurídicos para “coibir, prevenir e erradicar” a violência doméstica e familiar contra as mulheres, garantindo sua integridade física, psíquica, sexual, moral e patrimonial, a conhecida violência de gênero.
“
se tornou símbolo da luta no enfrentamento a violência contra as mulheres
”
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Em 2008, a Organização das Nações Unidas (ONU) considerou a Lei Maria da Penha como uma das três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência contra as mulheres. A quem a lei se aplica? A Lei Maria da Penha se aplica a pessoas que atentem contra a integridade física, psicológica, moral, patrimonial ou sexual de uma mulher considerando as seguintes dimensões espaciais: § Na unidade doméstica – Na casa onde convivem parente ou não, incluindo pessoas que frequentam esta casa ou vivem ali como agregadas; § Na família – Comunidade familiar formada por pessoas que são ou se consideram parentes por laços de sangue ou afinidade; § Nas relações íntimas de afeto – Comunidade familiar formada por pessoas que são ou se consideram parentes por laços de sangue ou afinidade.
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O que diz essa lei sobre garantir a guarda dos filhos e o patrimônio das mulheres? Ainda que tenha deixado o seu lar, a mulher que sofreu violência não perde a guarda dos seus filhos, tendo direito assegurado à pensão alimentícia assim como à justa partilha de bens (artigos 23, III, e 22, V, da Lei n. 11.340/2006). Quais as principais medidas de resguardo à mulher agredida após ela ter feito a denúncia? As mulheres em situação de violência doméstica têm direito a diversas medidas protetivas de urgência, inclusive, o afastamento do agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida. O agressor também pode ser proibido de: a) Aproximar-se da ofendida, dos seus familiares das testemunhas, hipótese na qual é fixado um limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
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b) Manter contato com a ofendida, com os seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) Frequentar determinados lugares, a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida. Nestes casos, inclusive, pode haver, ainda, restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores de idade e/ou ser deferida prestação de alimentos provisionais ou provisórios. Caso o agressor não cumpra as medidas protetivas de urgência,
poderá ter sua prisão decretada pelo juiz.
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tipos de violência Violência Física Violência Psicológica Violência Sexual Violência Moral Violência Patrimonial A Lei nº 11.340/2006 surgiu com o objetivo primordial de coibir a violência doméstica e familiar, violência esta que pode ser tipificada das seguintes formas: Violência Física Entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou à saúde corporal da mulher, tais quais: espancamento, beliscão, puxões de cabelo, empurrões, sufocamento/lesões com objetivo cortante ou perfurante, ferimentos causados por queimaduras ou arma de fogo, tortura. A violência física, além de crime, é um pecado. A Bíblia, no livro de Malaquias 2:16, revela que: “Eu odeio o divórcio", diz o Senhor, o Deus de Israel, e "o homem que se cobre de violência como se cobre de roupas", diz o Senhor dos Exércitos. Por isso tenham bom senso; não sejam infiéis.” Violência Psicológica É considerada qualquer conduta que cause danos emocionais ou diminuição da autoestima, ou, ainda, que prejudique ou perturbe o pleno desenvolvimento da mulher, tais como: ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento proibindo de estudar ou de falar com parentes, vigilância constante, perseguição constante, insultos, chantagens, limitação do direito de ir e vir, ridicularização, tirar a liberdade de crença, distorcer ou omitir fatos para deixar a mulher em dúvida sobre sua memória/sanidade.
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A Palavra de Deus é clara quando diz que o homem não deve subjugar a mulher e nem ser violento: “Maridos, amem suas mulheres e não as tratem com amargura.” Colossenses 3:19 Violência Sexual Trata-se de qualquer conduta do agressor que constranja a vítima a presenciar, a manter, ou participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força. O estupro pode, ainda, ser configurado a partir do momento que o homem obriga a mulher a realizar atos sexuais que cause desconforto ou repulsa, impede o uso de métodos contraceptivos e força a mulher a abortar, limitando ou anulando o exercício do direito sexual e reprodutivo da mulher. Também considera-se violência sexual quando, mesmo sendo casada, a mulher percebe que seu corpo foi violado, contra a sua vontade, enquanto estava dormindo; O que é conhecido como estupro matrimonial. A Bíblia nos ensina que: “Do mesmo modo vocês, maridos, sejam sábios no convívio com suas mulheres e tratem-nas com honra, como parte mais frágil e co-herdeiras do dom da graça da vida, de forma que não sejam interrompidas as suas orações.” 1Pedro 3:7 O marido deve honrar sua mulher em tudo,principalmente no matrimônio, inclusive na relação sexual para que suas orações não sejam impedidas. Violência Moral É considerada qualquer conduta que implique em ofensa moral, capaz de abalar o psicológico da vítima, tais como, calúnia, difamação ou injúrias. Acusar a mulher de traição, emitir juízos morais sobre a conduta, fazer críticas mentirosas, expor a sua vida íntima, desvalorizar a vítima sobre o modo de vestir. O fato é que à violência contra mulher vai de encontro a santidade de Deus, e, por isso, maridos que realizam tais práticas devem ser denunciados.
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Mulheres devem ser amadas. Pois, maltrataria o homem seu próprio corpo? A Bíblia nos diz que: “Da mesma forma, os maridos devem amar as suas mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida, como também Cristo faz com a igreja.” Efésios 5:28,29 Violência Patrimonial Entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição, parcial ou total, de seus objetos ou instrumentos de trabalho, ou, ainda, de documentos pessoais. Pode ser configurada, ainda, quando o agressor controla os gastos da vítima, e a oprime com palavras ofensivas, tais como: “Você não sabe administrar dinheiro” ou “Você gasta demais”, dentre outras expressões. Ocorre, também, quando a vítima não sabe quanto o agressor ganha, mas ele sabe quanto ela ganha; a vítima não sabe como o agressor realiza os seus gastos, mas ele controla os gastos dela. Na verdade, nesses casos, o agressor é quem decide arbitrariamente pela vítima em todas as questões financeiras. Veja o que a Bíblia nos diz: “Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração”. Mateus 6:21 “O homem bom, do seu bom tesouro, tira coisas boas, e o homem mau, do seu mau tesouro, tira coisas más.” Mateus 12:35 O homem bom sabe valorizar seus bens materiais e imateriais, sabe, também, que a família é o seu maior patrimônio, e jamais tiraria coisa má do seu bom tesouro, pois seu coração está nele. O homem bom não maltrataria sua mulher pois reconhece e valoriza seu tesouro.
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Como funciona o ciclo da violência e quais as dificuldades das mulheres cristãs romperem este ciclo? Segundo a norte-americana Lenore Walker, psicóloga que capitaneou os primeiros estudos sobre ociclodo abuso, não há um intervalo definido entre cada fase do ciclo.
DISTORSÃO DA PALAVRA
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O método é dividido em três etapas: aumento de tensão, ataque violento e a ‘Lua de Mel.
“_EU SOU O CABEÇA, E VOCÊ TEM QUE ME OBEDECER.”
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“_VAMOS A IGREJA.”
“_VOCÊ NÃO VAI PARA A IGREJA, ESTÁ TENDO UM CASO COM O PASTOR É?”
1º fase: A construção da tensão no relacionamento O comportamento do agressor: nessa fase podem ocorrer incidentes menores, como agressões verbais, crises de ciúmes, ameaças, proibições de ir à Igreja e aos cultos, e, em alguns casos, insinuações de que a mulher está tendo com caso com o pastor, dentre outras acusações de traições, tentando afastar a vítima de seus familiares; é também nesta fase que o agressor fala das roupas, destrói objetos da mulher, etc.
2º fase: Ataque Violento O comportamento do agressor: a segunda fase é marcada por agressões agudas, quando a tensão atinge seu ponto máximo e acontecem os ataques mais graves, culminando num ato ainda mais violento. É nesta fase que o agressor mantem a vítima em cárcere privado ou, até mesmo, comete o feminicídio. Quando os agressores também são evangélicos, os mesmos usam como respaldo as escrituras sagradas: agridem e abusam de suas companheiras por se acharem maiores e inferiorizam suas companheiras por serem evangélicas, e impõe a elas a submissão.
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Vale salientar que em meio à violência, o agressor ainda exige mais respeito, alegando que a palavra de Deus ensina que o divórcio é pecado, e faz a vítima acreditar que a culpa da violência é dela: “- Você está sendo usada pelo demônio eu sou um homem escolhido por Deus”. É importante ressaltar o que a palavra de Deus diz acerca disto: “Eu odeio o divórcio”, diz o Senhor, o Deus de Israel, e “o homem que se cobre de violência como se cobre de roupas”, diz o Senhor dos Exércitos. Por isso tenham bom senso; não sejam infiéis.” Malaquias 2:16
Portanto, de fato, seria bom se não houvesse separação, mas antes de tudo, “Deus odeia o homem violento”. Esta é a mensagem que deve ser pregada e, no entanto, é distorcida, fazendo parecer que a vítima é a culpada. O comportamento da mulher cristã: a vítima aqui sofre de uma tensão de violência psicológica severa e sente medo. Ela pode, no momento, 15
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tomar decisões de pedir ajuda, ou até mesmo querer se separar. Muitas vezes não denunciam o agressor pois tem em sua mente o divórcio como pecado e espiritualiza as agressões, acreditando que o marido está possuído por demônios, e, por esse motivo, é levado a cometer a violência contra ela. Ao invés de denunciar e tomar as medidas legais de segurança, ela recorre as orações e conselhos pastorais, acreditando que tudo que está passando é com a permissão de Deus. Quando o líder espiritual, aqui, no caso, o pastor ou pastora, tem uma instrução adequada, esta mulher vítima de violência será alcançada e romperá, mais cedo ou mais tarde, o ciclo da violência. Mas, infelizmente, algumas vítimas não recebem a motivação adequada e não conseguem sair da relação abusiva. Eis-me aqui, envia-me a mim. 3º fase: A lua-de-mel – arrependimento do agressor O comportamento do agressor: Terminado o período da violência física, o agressor demonstra remorso e medo de perder a companheira. Torna-se amável para conseguir a reconciliação. Caso seja evangélico, tenta convencer a vítima utilizando-se da ideologia do perdão, argumentando que tudo foi obra de satanás, e que Deus tem uma grande obra na vida do casal e, por isso, os dois devem vigiar e orar pelo casamento. O comportamento da mulher cristã: ela se sente confusa, mas acredita que Deus deu vitória no relacionamento, e o que passou só foi uma provação, que irá contar um lindo testemunho de restauração do seu lar acreditando que o marido é um homem de Deus.
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Seja qual for a fase, a vitima deve procurar ajuda imediatamente. E o Pastor ou Pastora que recebe-la, deve orientar o casal de que estam vivendo um ambiente de agressão, buscando romper o ciclo da violência.
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Por que as mulheres cristãs tem dificuldade em denunciar as agressões? Primeiramente, a mulher cristã não casou com um agressor e sim casou com um homem de Deus que a amava, mas independentemente de suas crenças, existem vários motivos para a mulher não romper com a violência: 1. Ela é ameaçada ou algum familiar caso termine o relacionamento; 2. Existe uma dependência econômica, muitas vezes decorrente da falta de qualificação profissional e escolaridade, que a leva a acreditar que não vai conseguir sustentar a si mesma e seus filhos; 3. Sente medo que seus filhos a julguem culpada pela separação e pela disputa da guarda, bem como de um possível boicote de pensões alimentícias; 4. Ela tem vergonha de como sua imagem será vista perante a comunidade evangélica, acreditando que pode ser julgada e/ou culpada, ou, ainda, que não teve fé suficiente na oração pela mudança do agressor, não tendo sido uma mulher sabia, que edifica o lar; 5. Não se sente apoiada pela família nem pela comunidade evangélica; 6. Sente vergonha e medo de procurar ajuda, pela sensação de fracasso e culpa na escolha do par amoroso. 7. As vezes o agressor é evangélico, ou, até mesmo é o próprio pastor, e a vítima acredita que tudo é permissão de Deus; que é uma provação; que o agressor é um homem de Deus e irá se arrepender de seus pecados. Ela tem esperança que o comportamento do parceiro mude, pois foi ensinada a agir assim.
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O desafio da liderança evangélica no enfrentamento a violência doméstica e familiar Quais as orientações que as mulheres cristãs que estão em situação de violência recebe de sua liderança religiosa? Como Pastora e conhecedora do meio evangélico sei que muitas dessas mulheres se sentem constrangidas a denunciarem seus supostos agressores, pois entendem que essa violência vivenciada por essas mulheres cristãs são culturalmente combatida pela orientação do poder da oração e jejum. E, as limitações de seus maridos são percebidos como investidas de satanás para destruir seu casamento. Além do mais, escutam coisas como; Perdoe ele; A mulher sábia edifica sua casa; Vamos orar para Deus mudar o quadro. Mulher seja submissa ao seu marido e outras distorções bíblicas machistas. É claro que cremos no poder da palavra de Deus, na conversão e mudança do caráter do homem pelo poder do Espírito Santo de Deus. No entanto, muitas são às vezes em que as Santas Escrituras são distorcidas para negligenciar a responsabilidade de denunciar as agressões sofridas por essas mulheres. A palavra de Deus é poderosa para transformar o ser humano, no entanto, a agressão deve ser enfrentada com responsabilidade. Em uma experiência singular de trabalhar atendendo mulheres vítimas de violência no município de Lauro de Freitas, pude perceber que de cada 10 mulheres atendidas, 8 eram evangélicas, e havia muita dificuldade em denunciar seus supostos agressores, onde poucas delas registram BO. Outra percepção alarmante, é que as mulheres evangélicas que se declaravam vítimas de violência doméstica e familiar, os seus agressores também eram evangélicos. Infelizmente ainda resiste uma cultura machista nas nossas igrejas, em que mulheres ocupam cargos de intercessoras, dirigentes de oração e zeladoria da igreja, ou seja o Diaconato da igreja, o que não deixa de ser um honroso, uma vez que é a Obra de Deus. Mas, poucas são as que ocupam o espaços de liderança na igreja. É bem verdade que esse cenário vem mudando, ainda lentamente. O fato é que à violência contra mulher vai de encontro à santidade de Deus, maridos que realizam tais práticas devem ser denunciados. Mulheres devem ser amadas. Pois, “Maltrataria o homem seu próprio corpo?” Que que o Espírito Santo de Deus dê sabedoria aos nossos Líderes para que os mesmos não façam vistas grossas a violência doméstica e familiar.
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“ Procura conhecer o estado das tuas ovelhas ; põe o teu coração sobre os teus rebanhos,” (Provérbios 27:23.)
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Ideologia cristã do perdão
A vergonha, o medo de expor o agressor, a dependência emocional e financeira são fatores que, na Comunidade Evangélica, agregam à ideologia do perdão, fazendo a mulher acreditar que denunciar é algo desnecessário já que o perdão deve acontecer sempre. O papel da igreja, assim como de qualquer grupo social, deve ser de proteção à vítima, e responsabilização do abusador/agressor no intuito de educar os homens. Assim, o papel da igreja é de suma importância. Além de discutir entre as mulheres o quão, através da Bíblia, a palavra de Deus é libertadora em relação à valorização da mulher (Eclesiastes 9:9).
Pra. Cristiane Mota Os dados sobre a violência contra a mulher não param de crescer nem de impressionar e, portanto, não saem da mídia. Repetidamente as organizações e casas de apoio a mulheres vítimas de violência apresentam informações significativas quanto à religiosidade das mulheres vitimadas pela violência em que estas se declaram evangélicas e os supostos agressores, muitas vezes, frequentarem a mesma igreja. Algumas vezes, recai sobre essa mulher a responsabilidade, por conta do medo de ser julgada pela comunidade evangélica, de não ser um exemplo de mulher de oração, de fé ou ainda um suposto escândalo no caso de uma denúncia. Indiretamente essa mulher sofre pressões emocionais, supervalorizando o que a comunidade evangélica irá pensar por estar denunciando seu companheiro ou algum familiar, sentindo-se culpada, como quem trai seu Pastor ou até mesmo o próprio Deus. Esses abalos emocionais são embasados na compreensão de que denunciar seu suposto agressor, que é o uso do seu direito de sair do ciclo da violência, pode ser entendido como falta de fé, oração, perdão e fraqueza espiritual.
Também se faz necessário debater o assunto da violência contra mulher no âmbito religioso, visto que ainda existe um tabu, e a negação desse assunto e também dessa realidade crescente, impossibilita o tratamento da situação na raiz do problema. A igreja, além do apoio espiritual dessa mulher, deve proporcionar ajuda emocional e meios dela conseguir emprego para sua subsistência que lhe permita uma proteção e autonomia financeira maior. A igreja talvez não tenha estrutura para acolher a vítima, mas precisa saber do funcionamento da rede de atendimento à mulher em situação de violência, para assim poder ligar e encaminhar a mesma. Tamar, Filha de Davi, moça formosa, foi violentada por seu irmão Amnom e ouviu do seu irmão Absalão: “CALA-TE MINHA IRMÃ, ELE É TEU IRMÃO.” 2 Samuel 13:20. É bem verdade que este silêncio solitário de Tamar foi vingado posteriormente de forma trágica, por seu irmão Absalão. Quantos Gritos estão sendo calados, diante dos nossos olhos, por causa da Ideologia Cristã do Perdão? Continuo crendo no perdão sem nunca deixar de crer na responsabilização. (Artigo publicado na revista Mulher em Foco, edição n° 5, Maio de 2020.)
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O protagonismo da mulher cristã
Pra. Cristiane Mota
Uma leitura bíblica, auxiliada pelo poder libertador do Espírito Santo, nos traz o padrão ideal da mulher formada por Deus, livre de todo estereótipo. Na Bíblia vemos exemplos de mulheres que atuaram de várias formas, tanto mulheres que foram mães que cuidaram de suas casas e que foram excelentes esposas, quanto mulheres líderes, como Débora, juíza, que governou o povo de Deus. O rei Josias, quando percebeu que reis anteriores cometeram atos de desobediência, enviou homens para “consultar o Senhor”. Estes poderiam ter procurado os profetas Jeremias ou Sofonias, mas foram até a profetisa Hulda, e esta mulher não titubeou, foi franca em sua resposta ao rei, e a punição seria certa, mas Deus ouviu a oração do humilde. A personalidade firme desta mulher fez com que Judá e
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Jerusalém abandonassem a idolatria e voltassem a adorar a Deus. O Novo Testamento destaca a presença feminina no Ministério de Jesus. No evangelho de Lucas capítulo 8:1-3. Essa realidade fica evidente, nos nomes de Maria Madalena, Joana, Suzana e em muitas outras anônimas, que serviam ao Senhor com seus bens, lhes dando suporte financeiro e material. Naquele tempo, o judaísmo restringia a participação das mulheres na vida pública, por exemplo, não podiam estudar e nem podiam ensinar, até conversar com outra mulher era considerado um ato vergonhoso (Jo 4.27). Mas Jesus conversou, ensinou, curou, libertou e valorizou as mulheres como homem algum jamais o fez. O evangelho de Lucas nos revela que as mulheres foram decisivas na implantação do Reino de Deus, encorajadas pelo Mestre, romperam preconceitos para cumprir seus chamados. Na Bíblia, encontramos a liberdade de vivermos como mulher de forma plena e livre de estereótipos. A Mulher deve ser acariciada e não espancada; elogiada e não humilhada; receber carinho ao invés de ser violada; ser protegida e não controlada ou furtada; Ser enaltecida e não desvalorizada. (Artigo publicado na revista Mulher em Foco, edição n° 3, Julho de 2020.)
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SUBMISSão Bíblica
Pra. Cristiane Mota
As igrejas quando forem ensinar às mulheres sobre a submissão tem que ser de forma bem responsável, pois a mulher muitas das vezes se submete a um homem opressor e violento, sendo escravizada, presa em regras num relacionamento tirânico, por amor a Cristo, juntamente com seus próprios filhos, achando que estão obedecendo a Deus. Bem, em primeiro lugar, nós mulheres e esposas não podemos ignorar esse texto onde Paulo exorta as mulheres a serem submissas ao marido. Mas se analisarmos desde o princípio da passagem, lá em Efésios 5:21, veremos que todas as pessoas são chamadas a se sujeitar umas às outras por temor a Cristo: maridos, esposas, filhos e pessoas solteiras. Cristo pagou o sacrifício maior para salvar e nós o amamos por isso. Amamos e nos sujeitamos porque Cristo nos amou primeiro.
Essa submissão ela só é bíblica quando eu entendo como a Igreja ama a Cristo e quando esse homem se alinha ao amor de Cristo pela igreja. Servir à mulher como Cristo serviu à Igreja, Efésios 5.25. Deus é a fonte de toda autoridade e submissão. Essa autoridade só existe pelo bem comum. Se ela não altera, se sua função não é para o bem comum, ela não é legítima, mas é autoritária e opressora. Deus nos criou para que as relações sejam funcionais e saudáveis e para promover o bem, pois a autoridade bíblica só é legítima quando promove o bem. Jesus falou aos gentios em Mateus 20:26 que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos. Quem quiser ser maior, seja servo de todos. Jesus lavou os pés dos seus discípulos pois toda autoridade bíblica é sinônimo de serviço. Ela é serva e sacrificial, se não é traduzida no sangrar e se é traduzida no mandar ela não é bíblica. A autoridade é a que sangra, pois o amor de Cristo pela igreja é sacrificial, ele morreu quando éramos pecadores. Tem que proteger, se não protege não enobrece. (Artigo publicado na revista Mulher em Foco, edição n° 7, outubro de 2020.)
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O machismo
Pra. Cristiane Mota
O machismo é uma ideia errônea de que os homens são superiores às mulheres ao passo que fundamenta o feminicídio e aumenta a violência doméstica, visto que tenta cristalizar ideias e atitudes que traduzem a inferioridade da mulher em relação ao homem. O machismo é um pecado que deve ser enfrentado com mais rigidez. Os discursos machistas perpetuam a violência contra mulher e as matam diariamente. O site Folha de São Paulo publicou em 2019 que a cada 4 minutos uma mulher era agredida por um homem. Da mesma forma, a cada ano, cerca de 1,3 milhão de mulheres são agredidas no Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) referente a 2009. Um estudo inédito do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) analisa essa estatística alarmante ao estimar o efeito da participação da mulher no mercado de trabalho sobre a violência doméstica.
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Devemos considerar ainda a incidência do machismo no nosso segmento evangélico quando apresenta a estatística de 40% de mulheres que sofrem violência domésticas. Em Genesis 1:27 Diz que: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Portanto a mulher é a imagem e semelhança de Deus. Deus ama a todos(as) e Jesus morreu por todos(as) nós - homens e mulheres. É bem verdade que encontramos na Bíblia relatos desfavoráveis no que diz respeito ao tratamento das mulheres, como por exemplo, o estupro de Tamar (2 Samuel 13). No entanto Jesus é a chave interpretativa e Ele nos ensinou como tratar as mulheres. Quando confrontamos o pecado do machismo com a maneira sublime que Jesus interagiu com as mulheres do seu tempo e da sua cultura, percebemos quão maravilhoso Ele é. Ele quebrou protocolos extra bíblicos que foram criados pelos líderes religiosos, sem desobedecer a Lei de Deus. Jesus conversava com mulheres e compartilhava a Palavra da Verdade com sua pureza e seus propósitos. Não é perda de tempo falar sobre o machismo e a consequência da violência doméstica, pois, faz parte do nosso papel como cristão o enfrentamento contínuo à esta opressão. O machismo como o fruto do pecado, a solução definitiva é Cristo e a Sua Palavra, pois ela pode oferecer redenção completa e devemos tratar o problema pelo viés bíblico. O combate a essa mazela faz parte da missão do cristão e deve ser pautada nos púlpitos. Sempre, Em Defesa da Mulher Cristã. (Artigo publicado na revista Mulher em Foco, edição n° 8, Dezembro de 2020.)
MANUAL . EM DEFESA DA MULHER CRISTÃ . 2021
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