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Conforto ambiental
2.3.1 Conforto ambiental
A construção de edificações ao longo da história sempre contou com uma certa sensibilidade intuitiva em relação ao meio e ao clima local. Buscava-se alterar as condições no interior das construções para atingir um maior conforto, dentro dos limites de recursos e técnicas disponíveis, trabalhando em conjunto com as forças da natureza, nunca contra elas. Hoje em dia, podemos resgatar esse entendimento da resposta das edificações ao seu entorno, reduzindo consideravelmente a necessidade de consumo energético (HEYWOOD, 2015).
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Após a II Guerra Mundial, quando se tinha combustível barato e em abundância, ocorreu um grande avanço nas técnicas construtivas. Várias das atribuições que eram dos arquitetos, passaram a ser esquecidas em virtude da tecnologia que a engenharia ia adquirindo. A questão ambiental da arquitetura que se preocupa com o conforto térmico, a iluminação natural e a interação entre o prédio e o entorno foram passadas, e constantemente desconsideradas, aos engenheiros térmicos e elétricos (CORBELLA, 2003).
Isso provocou um significativo aumento de consumo energético, que não era preocupante na época por ter custo baixo e por ainda não existir uma consciência geral do impacto ambiental que isso causava. Entretanto, a primeira crise de energia nos anos setenta, produzida pelo aumento do preço do petróleo, desencadeou a preocupação em incorporar a energia solar aos edifícios para poupar o consumo convencional (CORBELLA, 2003).
A partir daí, foi renascendo uma tendência de se preocupar com a integração das construções ao seu entorno e seu impacto no planeta, buscando se adequar melhor ao clima para conseguir condições de conforto ambiental, que desencadeou o conceito de Arquitetura Bioclimática.
Em linhas gerais, a arquitetura sustentável é uma continuidade da arquitetura bioclimática, sendo mais abrangente por considerar a integração do edifício à totalidade do meio ambiente e o seu entorno. Ela busca a qualidade de vida dentro e fora do ambiente construído, consumindo a menor quantidade de energia possível e causando menor impacto ambiental (AVEZUM, 2007).
Atualmente, as edificações são as responsáveis por quase metade de toda a emissão de gás carbônico (CO2) na atmosfera pelo homem, devido ao grande consumo de energia derivada de combustíveis fósseis, que utilizamos para resfriar, aquecer e iluminar o interior das construções. Considerando que a maior parte desse consumo ocorre durante a vida útil dos prédios, os projetistas são um dos responsáveis por buscar a sua redução (HEYWOOD, 2015).
Quando falamos em estabelecimentos de saúde, devemos nos preocupar ainda mais com a questão dos recursos naturais, já que são ambientes onde o principal objetivo é o cuidado com a saúde humana. A iluminação e a ventilação natural são essenciais, como visto anteriormente, para a humanização do edifício, levando ao conforto visual e térmico e às condições de higiene.
Entretanto, devido à alta complexidade dessa tipologia, essas questões muitas vezes são deixadas de lado, optando-se pelo uso de luz artificial e ar-condicionado, por exemplo, resultando no alto consumo energético em um ambiente desconfortável (LUKIANTCHUKI, 2008).
Por desconfortável entende-se o estado de uma pessoa que presencia um acontecimento ou fenômeno com algum tipo de incômodo e preocupação. Assim, se uma pessoa está em neutralidade em relação a um espaço físico, diz-se que este é um ambiente confortável (CORBELLA, 2003).
O corpo humano dissipa para o meio o calor produzido em seu interior, buscando um fluxo de perda de calor adequado para
manter-se em sua temperatura ideal, próxima de 36°C, na qual a pessoa se sente em conforto térmico. Quando esse fluxo aumenta ou diminui demasiadamente, e a resposta do organismo não consegue solucionar o problema, a pessoa passa a sentir calor ou frio, ou seja, ela deixa de estar em conforto térmico. Permanecer nesse desconforto por certo tempo causa extremo incômodo, podendo até fazer a pessoa adoecer (CORBELLA, 2003). Assim, estar em conforto térmico promove o bemestar, e está relacionado com os aspectos climáticos: temperatura, umidade, movimento do ar, radiação solar, e aspectos pessoais como o tipo de atividade e vestuário das pessoas.
A arquitetura bioclimática promove o conforto ambiental adaptando-se ao clima local, minimizando o consumo de energia convencional com a mínima produção de poluição. Segundo Corbella (2003), as estratégias de projeto para conforto ambiental em clima tropical úmido, onde a temperatura média geralmente é alta, são: controlar os ganhos de calor, dissipar a energia térmica do interior do edifício, remover o excesso de umidade, promover o uso da iluminação natural e controlar o ruído.
Para o controle dos ganhos de calor, evitando consequentemente aumento da temperatura do ar no interior do edifício, deve-se minimizar a energia solar que entra pelas aberturas e que são absorvidas pelas superfícies externas. Para isso, é preciso que se estude a distribuição espacial dos ambientes em relação à implantação no terreno, observando sua orientação geográfica. É necessário dificultar a chegada do sol às superfícies que envolvem o edifício, podendo inclusive utilizar nelas isolantes térmicos (CORBELLA, 2003).
Promover a ventilação natural é o principal meio de se conseguir dissipar o calor do interior da construção e garantir a remoção de umidade em excesso. Além disso, a permeabilidade do edifício deve permitir a renovação do ar quando a temperatura externa for menor que a interna, e quando os usuários estiverem ocupando o ambiente. A ventilação noturna pode ser combinada também com a inércia térmica
dos materiais, dependendo da escolha dos elementos construtivos (CORBELLA, 2003).
O posicionamento das aberturas deve ser estudado para melhor aproveitamento dos ventos dominantes locais. O uso de elementos vazados, como blocos perfurados e cobogós, é muito interessante por contribuírem no controle de radiação solar ao mesmo tempo que permitem o movimento do ar (HEYWOOD, 2015). O céu tropical oferece muita luz, assim, não são necessárias aberturas gigantescas ou grandes áreas envidraçadas, como são precisas em climas mais frios com céu menos luminoso. Aqui, o conforto visual pode ser conseguido com pequenas aberturas protegidas da luz solar direta, por meio de brises, por exemplo (CORBELLA, 2003).
As aberturas também devem ser posicionadas de forma a promover a iluminação natural suficiente para as atividades que serão realizadas no espaço, sem permitir a entrada direta da radiação solar, impedindo assim o ofuscamento visual e o ganho térmico indesejado.
A atenção à cor dos ambientes internos é importante para uma distribuição uniforme da luz no espaço, assim como um bom projeto das partes móveis das esquadrias, permitindo o controle da entrada de iluminação. Ainda, é preciso ter conhecimento sobre propriedades térmicas e lumínicas dos materiais transparentes escolhidos e proteger com elementos externos ou vegetação as paredes das fachadas leste e oeste, principalmente (CORBELLA, 2003).
O estudo sobre o desempenho térmico dos materiais de construção é importante para a escolha no projeto, pois assim podese prever a resposta de um edifício às variações climáticas externas (HEYWOOD, 2015). Pode-se escolher materiais leves ou pesados dependendo da variação térmica diária local. Para variações diárias menores que 5°C, as paredes que não recebem sol e as internas podem ser feitas de material leve, que conduz melhor o calor. Para as paredes externas e internas em variações de 10°C ou mais, os materiais pesados
são os recomendados (CORBELLA, 2003).
As paredes que separam ambientes ocupados de ambientes não habitados e sem sol, como garagens, depósitos e ambientes encostados na terra, podem ser construídas com materiais que conduzem bem o calor, dissipando assim o calor para esses espaços (CORBELLA, 2003).
Por fim, o controle de ruído pode ser obtido distribuindo elementos que sirvam de barreira para o som indesejado, tanto de origem interna do edifício, quanto externa vinda do seu entorno. O posicionamento de vegetação pode contribuir para abafar o ruído vindo da rua, por exemplo (HEYWOOD, 2015). As áreas verdes, no geral, também oferecem conforto térmico e visual nos espaços livres urbanos. As árvores trazem o sombreamento, protegendo os espaços de permanência da luz solar direta, aumentam a qualidade do ar e favorecem um microclima confortável (HEYWOOD, 2015).