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Dia Mundial do Doente
Somos todos frágeis e vulneráveis. Contudo, vivemos num mundo onde há cada vez menos tempo e lugar para abraçar a fragilidade e vulnerabilidade humana.
O ritmo alucinante que consome as nossas vidas, as dificuldades económicas e sociais sentidas pelas famílias, a cultura da indiferença e do descarte, a sobrelotação de doentes e a escassez de profissionais nas instituições de saúde têm contribuído para a desumanização progressiva doscuidados prestados aos nossos doentes.
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Perante a degradação das condições de trabalho, os profissionais de saúde encontram-se desanimados, fisicamente exaustos e emocionalmente esgotados. As dificuldades na área da saúde são bem conhecidas e sentidas por todos. Mas este não é um tempo para desanimar, desistir ou resignar. A exigência deste tempo que vivemos interpela-nos a fazer uma reflexão profunda sobre o verdadeiro sentido da vida, desafia-nos a olhar mais além, para lá dos limites do nosso quotidiano e das nossas vidas, porque estamos e estaremos, cada vez mais, todos nas mãos uns dos outros.
Este é o tempo de sonhar, focar no essencial e construir uma nova sociedade capaz de cuidar de cada pessoa humana e salvaguardar o bem comum. Este é o tempo de reaprender que o amor é o único caminho que nos leva à esperança, essa esperança que abre horizontes de transcendência e nos dá coragem para assumir a vida como um dom e entregá-la por inteiro ao serviço da humanidade.
Felizmente as nossas instituições de saúde estão repletas de profissionais que se entregam de corpo e alma a cuidar da vida humana – uma missão exigente que toca o sagrado, pois cada vida é única, irrepetível e tem uma dignidade absolutamente inquestionável.
A humanização dos cuidados de saúde deve ser assumida como uma prioridade, com a excelência técnico-científica a caminhar em paralelo com a excelência do humanismo no cuidar. O doente é muito mais do que a sua doença, para cuidar com humanismo é preciso um olhar integral sobre a pessoa humana, que para além da sua corporalidade, é dotada de sentimentos, emoções, necessidades espirituais e sociais.
Para humanizar os cuidados de saúde precisamos de uma verdadeira revolução da ternura, aquele amor que se faz próximo e concreto, um caminho que permite a abertura da inteligência e o acolhimento do coração.
Para cuidar com humanismo, o que realmente importa?
- Um olhar atento e profundo, daqueles que geram encontro e são fonte de vida.
- Escutar com o ouvido do coração, numa atitude de acolhimento e respeito pela singularidade de cada pessoa.
- Reconhecer o poder transformador do toque, para voltar a abraçar, segurar a mão, beijar e acariciar sem medo.
- Fazer renascer a esperança e ajudar a encontrar um sentido para a vida de cada pessoa marcada pelo sofrimento e pela doença.
- Despertar a consciência para a dor do outro, deixarmo-nos ferir interiormente para nos tornarmos participantes na vida concreta das pessoas, isto é, cuidar com compaixão.
A experiência de cuidar de cada pessoa doente é sempre intensa, não tratamos apenas números, cuidamos de pessoas com rosto, com história e com família como nós.
No sofrimento e fragilidade de cada doente, tocamos a nossa própria fragilidade, confrontamos evencemos os nossos demónios, descemos ao mais profundo que há em nós.
O cuidado é, sem dúvida, a grande experiência humanizadora onde aprendemos o verdadeiro significado da vida e cumprimos plenamente a nossa missão.
Este é o grande desafio dos nossos dias: amar e cuidar rostos concretos, colocando a pessoa no centro e agindo em favor do bem comum. Porque o segredo da vida é amar. E o segredo do amor é cuidar.