Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB | De 29 de maio a 4 de junho
ENCONTRO
A
de
TEUS
E
ARTE special
em Taguatinga
O ENTULHO DO NOROESTE Novo bairro de luxo de Brasília busca certificado ecológico, mas não cumpre normas de destinação dos resíduos das obras
42 ano
CAMPUS
edição
382
Procura-se
onça
fugitiva
Opinião Tudo começou no Canadá, com um policial: em uma palestra ministrada para estudantes universitárias de Toronto, em 2011, ele disse que as alunas deveriam evitar se vestir como “vadias” para não serem vítimas de estupro. Saias curtas, nem pensar. O policial não sabia, então, o impacto internacional que teriam suas palavras. Com o propósito de protestar pelo direito das mulheres de se vestir, andar e agir de forma livre, as canadenses organizaram a “Slutwalk” – em português, Marcha das Vadias – em maio do ano passado. As reivindicações das moças ecoaram dentro de outros países com cultura machista. Em junho de 2011, a Marcha das Vadias desfilava pelo centro de Brasília, com quase mil pessoas. Mulheres de todas as idades se reuniram para lutar pelo direito de exercerem sua sexualidade e suas liberdades sociais, sem serem vítimas de violências. Saias curtas, sim. Isso não justifica o estupro ou o preconceito. As mudanças defendidas, no entanto, ainda cami-
nham a passo lento. De acordo com Mapa da Violência contra a Mulher de 2012, divulgado pelo Ministério da Justiça, em um grupo de 87 países o Brasil ficou em 7º lugar em número de agressões contra as mulheres, com 4,4 homicídios para cada 100 mil habitantes. Outra pesquisa, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e publicada semana passada, apontou que os homens ganhavam, em média, 24,1% a mais que as mulheres. Em 2010, essa diferença subiu para 25%. São mais razões para legitimar a Marcha das Vadias, que se fortaleceu este ano e fez sucesso com a campanha de flyers na internet. Tomara que outras lutas se somem à marcha: a das mulheres negras, das transexuais, das pobres e ricas, das jovens e das mais experientes. Tomara que neste ano, homens e mais homens se somem ao protesto. Tomara que gente do mundo inteiro perceba que é uma causa que vai muito além do feminismo.
Ombudsman* Fazer jornalismo nem sempre se trata de dados e documentos. Algumas vezes, o repórter só precisa ir atrás do assunto que todos sempre quiseram saber, mas não sabiam a quem perguntar. O dilúvio começou na Arca de Noé faz esse papel ao contar a história de como as operações da Polícia Federal são nomeadas. Estudantes dizem não é um exemplo de como o Campus pode fazer diferente. A repórter se arrisca ao tratar de um tema tão polêmico e complexo como as cotas raciais e consegue dar voz às mais diferentes faces da questão, como nenhuma reportagem da mídia convencional conseguiu fazer. Afinal, o mundo não é uma folha de papel, onde um lado é a verdade e o outro, a mentira. Ainda assim, vale ressaltar que poderia ter sido feita uma visita ao Departamento de Estatística da UnB. Nesta edição, a coluna Fala, Rovérsio escorrega novamente. O espaço foi redefinido com a frase “colunista fictício criado para ironizar situações cotidianas”, o que fez com que o leitor esperasse por uma crítica bem-humorada, que não veio. Qual a diferença entre o Fala, Rovérsio e a coluna de opinião?
por | PALOMA SUERTEGARAY
colunista fictício criado para ironizar situações cotidianas O famoso rapper Emicida foi detido em Belo Horizonte há poucos dias, durante seu show. Dizem que antes de começar a música “Dedo na Ferida” – que fala sobre casos de desocupação –, Emicida mandou o público levantar o dedo do meio contra a polícia e os políticos, que não respeitam a população. Uso “dizem” porque o músico não assinou o Boletim de Ocorrência (BO) para confirmar as falas. O major Gilmar Luciano Santos, chefe da Sala de Imprensa da Polícia Militar de Minas Gerais, disse que incitar as pessoas a fazerem gestos obscenos é crime. Me pergunto qual será esse conceito de obscenidade. Certamente, frases como “você quer o meu c* ou você quer minha b*****”, populares nos bailes funk, são muito mais decentes que mostrar o dedo do meio. Ou será que gestos obscenos só são crimes dependendo de quem é o alvo? Me chamem de conservador por não ser um grande apreciador de Valesca Popozuda (e que a moça não leve para o lado pessoal). Pelo menos não sou eu quem tenta botar o Emicida atrás das grades por conta de um dedo polêmico, já que a bagunça corre solta desde que o É o Tchan ensinou a descer na boquinha da garrafa – ou muito antes disso. Posso ser moralista, mas penso ter mais moral que Gilmar para apontar o dedo (no caso, o indicador) na cara de alguém.
por | PEDRO AUGUSTO CORREIA
Em Não minta para ele, um tema interessante se perde pela forma como é conduzido pelo repórter. Uma pessoa não iniciada no assunto terminará a leitura sem entender qual o intuito do experimento realizado pelo pesquisador. O leitor terá dificuldades para chegar até o final de Os avós da ginga. Isso porque o Campus insiste em publicar reportagens que poderiam ser resolvidas em, no máximo, dois parágrafos. A consequência é um texto repetitivo que faz com que o interesse pela leitura se perca facilmente. A última página, entretanto, é um presente para o leitor. Com criatividade na escolha da personagem e sensibilidade na construção do texto, o repórter arrebatou, até mesmo, o mal -humorado ombudsman.
* Termo sueco que significa “provedor de justiça”, o ombudsman discute a produção dos jornalistas a partir da perspectiva do leitor
Memória “Por sua simplicidade, o sistema (de moradias ecológicas) permite adaptações e inovações adequando-se a diferentes situações geográficas e culturais.” Essa declaração estampou as páginas do Campus na 2ª quinzena de setembro de 1990. A frase foi dita pelo então presidente da Fundação de Desenvolvimento das Aplicações de Madeira no Brasil (DAM) para uma matéria do Campus sobre sustentabilidade na construção civil. Na época, Cristovam Buarque, que era reitor da Universidade de Brasília (UnB), assinou um acordo de cooperação para que toda
2
a tecnologia sustentável desenvolvida pelo DAM fosse repassada aos alunos de Arquitetura e Urbanismo. No centro do projeto, estava o trabalho com materiais locais, principalmente para alcançar orçamentos mais enxutos. No Distrito Federal, a madeira nativa associada à taipa viabilizou a criação de habitações sustentáveis e substituiu as técnicas e materiais industrializados, com maior custo e maior uso da construção civil.
Editora-chefe Paloma Suertegaray Secretária de Redação Nathale Martins Diretora de Arte Marina Dutra Projeto Gráfico Carolina Pereira, Ellen Rocha, Luisa Bravo, Mariana Capelo, Patrick Cassimiro e Thiago Lima Jornalista José Luiz Silva Professores Sergio de Sá e Solano Nascimento ISSN 2237-1850 Brasília/DF - Campus Darcy Ribeiro Faculdade de Comunicação - ICC Ala Norte CEP 70.910-900 Telefones 61 3107.6498/6501 E-mail campus@unb.br Gráfica Plano Piloto Tiragem 4 mil exemplares ACESSE O CAMPUS ONLINE WWW.FAC.UNB.BR/CAMPUSONLINE
CAMPUS | Brasília, de 29 de maio a 4 de junho de 2012
Comportamento
Os ateus saem do armário reportagem | FABIANE GUIMARÃES diagramação | CAROLINA PEREIRA edição| LAÍSA QUEIROZ
“V
ocê tem religião?” “Não.” “Mas acredita em Deus, né?” A professora de história Glória Silva está cansada de diálogos como esse, principalmente por receber olhares de espanto toda vez que revela não acreditar em nenhuma divindade. Por conta disso, há pouco mais de um ano ela reúne em sua casa em Vicente Pires um grupo de jovens adultos, com idade entre os 20 e 35 anos, que depois de encontrarem na internet um espaço de discussão livre e isento de preconceito decidiram se reunir pessoalmente. A última reunião ocorreu às 9h da manhã de um sábado frio, o dia 19 deste mês. Um café da manhã reforçado esperava por todos. “Este aqui é meu filho. Ele ainda não é ateu, mas está se convertendo”, brincava a anfitriã, apresentando um rapaz que espiava a movimentação de soslaio. Os convidados chegavam abraçando afetuosamente a professora. Naquela manhã, poucos apareceram. “É o horário”, lamentava Glória. Até a véspera, o evento criado no Facebook tinha a confirmação de 33 pessoas. Apenas 11 compareceram. Eram os ateus mais fiéis do grupo. Aquela era a sexta reunião e tinha por objetivo discutir, entre outras coisas, a respeito do futuro do grupo. “Não queremos criar uma religião. Só queremos conversar. Os ateus são minoria, por isso têm as ideias sufocadas. Aqui podemos expô-las sem ofender ninguém”, esclarece Douglas Barbosa (23), um dos organizadores. Conversar, aliás, é o que eles fazem. Discutem sobre política, economia e também religiões – a maioria já passou por alguma. Entre eles existe, inclusive, um ex-pastor. Antônio Sousa (42) esteve à frente de uma igreja evangélica de Goiânia por três anos, até começar a ter dúvidas. Com a voz mansa, de quem inspira respeito, todos param para escutálo. “Eu não me decidi ateu, eu me descobri”, confessa o ex-pastor, no círculo improvisado. “Somos uma minoria muito rejeitada. Os encontros são uma terapia.” Os jovens ateus pregam tolerância total. O grupo está aberto a qualquer pessoa que queira desabafar sobre as dificuldades de ser ateu em um país que, embora tenha um Estado laico, é predominantemente religioso. Segundo o último censo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), de 2002, apenas 6,7% da população se declara sem religião. Os ateus são um grupo ainda menor. Naquele sábado, os novatos eram dois adolescentes de 16 anos, estudantes do ensino médio. “Vocês estão confortáveis?”, perguntou em determinado momento a professora Glória Silva. Eles acenaram timidamente. Um deles, Bruno Gonçalvez, revela a gravidade do preconceito na escola pública em que estuda. “Já disseram que iam me matar, que eu estava virando um monstro. Nem levei a sério.”
ELLEN ROCHA
Encontros periódicos na casa de uma professora de Vicente Pires servem para discutir o ateísmo e diminuir a solidão de uma minoria discriminada O grupo de ateus de Brasília foi o segundo do país a extrapolar a esfera da internet, atrás apenas de Curitiba. Em fevereiro deste ano, aconteceu o primeiro encontro nacional, que reuniu cerca de duas mil pessoas de 22 unidades federativas. Para o diretor da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea), Daniel Sottomaior, a socialização é uma forma de estimular mais ateus a “saírem do armário”, mas não contribui muito para a causa do ponto de vista prático. “Esses encontros não geram resultados para o ativismo”, opina Sottomaior. O grupo de Brasília se deu conta disso e já começou um processo para formalizar a iniciativa. Agora, seus integrantes querem virar associação registrada em cartório. “O nosso principal objetivo é difundir e naturalizar o ateísmo”, explica Priscila Nascimento (22), organizadora e uma das três mulheres que compareceram ao encontro do sábado. “É nosso papel fazer com que outros ateus tenham coragem de se expor.” Nem todos os descrentes, no entanto, sentem a necessidade de se conhecer. É o caso de Sérgio Fernandes (20), estudante de Física, ateu desde a adolescência, que ouviu falar dos encontros, mas não apreciou a ideia. “Quem não acredita em nada, não tem o que discutir”, critica. “Qual o sentido de juntar pessoas para afirmar uma descrença?”. Para a professora Glória Silva, a resposta é bem simples: “Queremos mostrar que existimos e não somos monstros. Somos seres humanos, trabalhadores, cumprimos a lei e temos direitos. À medida que nos organizamos, podemos ter voz.”
Títulos científicos e livros sagrados fazem parte do acervo da pequena biblioteca direcionada para ateus que a professora Glória Silva organiza em sua casa
CONHECIMENTO Após acolher em sua casa os amigos ateus, a professora Glória Silva percebeu um traço em comum em todos eles: o gosto pela leitura. Surgiu então a ideia de organizar uma pequena biblioteca ateísta. Ela já conseguiu cerca de 100 livros, entre compras e doações. Autores como Carl Sagan, Stephen Hawking e Charles Darwin estão empilhados em uma sala improvisada. A biblioteca também tem – por que não? - três Bíblias: uma católica, outra evangélica e um exemplar mórmon. “Essa comprei para ajudar uma moça”, comenta a professora, mostrando a edição católica. “Tenho até Nostradamus. Agora quero o Alcorão.” Carlos Alcântara (31), um erudito professor de história que acompanha o grupo desde o primeiro encontro, contribuiu com vários exemplares de filósofos e antropólogos. Ele é capaz de recitar de cor títulos dos livros sagrados de quase todas as religiões ocidentais e orientais. “Já fui católico, evangélico e depois migrei para o budismo”, conta. “O ateísmo é uma concepção filosófica, um processo.” Amém! ELLEN ROCHA
Ceia pagã: o grupo de ateus se reúne com frequência e por isso todos viraram amigos. São jovens, estudiosos e gostam de discutir religiões.+
CAMPUS | Brasília, de 29 de maio a 4 de junho de 2012
3
O lixo do bairro
ecológic
reportagem | ISABELA MAIA E ISABELLA TONHÁ diagramação | MARINA DUTRA edição | MARIANA CAPELO
C
LAURA VERIDIANA
om as primeiras obras previstas para serem entregues ainda este ano, o novo setor Noroeste foi criado com a promessa de ser um bairro ecológico e busca o selo de sustentabilidade, que garantiria ao empreendimento reconhecimento internacional. No entanto, o novo bairro ainda não conseguiu gerenciar a alta produção de resíduos sólidos da construção, descumpre exigências de destinação de lixo e está longe de garantir os requisitos mínimos para ter o selo almejado. Levantamento feito pelo Campus com as 15 principais empresas de remoção de entulho indica que o Noroeste despeja no Aterro do Jóquei, também chamado de “lixão da Estrutural”, uma média diária de 400m³ de resíduos. Essa quantidade é suficiente para encher uma piscina olímpica em uma semana ou o prédio inteiro do Ministério do Meio Ambiente, que tem 10 andares, em seis meses. A licença para o início da instalação do Noroeste, da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), foi concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) em 2008, mediante cumprimento de vários aspectos de proteção ambiental, como adoção de sistemas de reutilização de água e economia de energia, recuperação de áreas desmatadas durante as obras e implantação de coleta seletiva do lixo produzido pelas empreiteiras. Dentro das exigências necessárias
O Aterro do Jóquei recebe, diariamente, cerca de 600 containeres de entulho da construção civil
4
Sustentabi
para que o Noroeste receba certificado de sustentabilidade, o controle dos resíduos sólidos gerados pelas obras é uma das primeiras preocupações. Segundo o Plano de Gestão Ambiental de Implantação (PGAI) do Setor Noroeste, divulgado pela Terracap em 2009, as construções do bairro devem providenciar o transporte de entulho e lixo em caçambas e carrocerias cobertas por lonas, priorizar a reutilização do entulho na própria obra ou através de reciclagem, separar os resíduos entre orgânicos e recicláveis, além de encaminhar os itens recicláveis (como papel, papelão, vidro e plástico) para locais apropriados. Apesar de a assessoria de Comunicação da Terracap afirmar que os materiais são separados e destinados para cooperativas localizadas no Aterro do Jóquei, a reportagem do Campus visitou as obras do setor Noroeste e constatou que algumas exigências não são cumpridas. O transporte do entulho em caçambas cobertas e a separação do material que pode ser reciclado dos resíduos da construção não são observados em todas as obras. Em alguns canteiros, o entulho é acondicionado em sacos plásticos, juntamente com papéis, garrafas plásticas e papelão. Segundo parecer técnico realizado por uma parceria do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) com o Ibama neste ano, a Terracap não tem cumprido sua obrigação de destinar a terra escavada dos terrenos para o Aterro do Jóquei. A resolução 307/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) classifica a terra resultante da escavação do terreno como resíduo sólido da construção civil. Portanto, o destino adequado seria ou o Aterro do Jóquei, ou outras obras, onde essa terra poderia ser reutilizada. O relatório afirma, porém, que os “solos provenientes” das escavações estariam sendo despejados em áreas circundantes ao Parque Nacional de Brasília e à Área de Proteção Ambiental do Planalto Central. Juliana Alves, bióloga do Parque Nacional, informou que até o momento o ICMBio aplicou três autos de infração à Terracap. “O desenvolvimento das obras sem a aprovação de áreas de bota-fora (locais onde devem ser colocados os resíduos das escavações) é uma situação que perdura. Até o momento, os responsáveis não foram penalizados. Enquanto isso, a sociedade não será poupada dos danos ao meio ambiente, decorrentes principalmente do impacto nos cursos d’água, como assoreamento do Lago Paranoá, Córrego Acampamento e Ribeirão Bananal”, explicou a bióloga por e-mail. Todos os dias, 7,5 mil toneladas de lixo são produzidas no Distrito Federal. Por determinação do Sistema de Limpeza Urbana (SLU) do DF, só existe um destino certo para todo esse lixo: o Aterro do Jóquei. A área de 196 hectares recebe, somente da construção civil do DF, 5 mil toneladas de resíduos diariamente, o que representa quase 70% de todo o lixo. “Esses resíduos nos preocupam, e chegamos a elabo-
CAMPUS | Brasília, de 29 de maio a 4 de junho de 2012
Apesar do Plano de Gestão Ambiental de Implantação do Noroest deve ser separado do lixo reciclável, nem todas as obras cumprem a rar uma cartilha para as empresas, mas ela não tem força de lei”, diz Marcontoni Montezuma, presidente da Comissão de Meio Ambiente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) do DF. Segundo o chefe da Assessoria de Planejamento e Projetos Especiais do SLU, Edmundo Gadelha, falta pouco para que o aterro da Estrutural deixe de comportar os resíduos da construção. “O espaço que é destinado para esse tipo de lixo no aterro está praticamente esgotado”, conta Gadelha. Para resolver o problema, o Governo do Distrito Federal deverá abrir licitação a partir do mês de julho para que oito Áreas de Transbordo e Triagem de Resíduos da Construção Civil (ATTR) sejam construídas. A triagem do lixo, que hoje não é feita pelas construtoras, será promovida em cada ATTR. O chefe de Planejamento explica que o material que pode ser reciclado, como plástico e papel, seguirá para o Aterro do Jóquei, onde ficará à disposição dos catadores. O que for considerado realmente entulho da construção civil, como concreto e alvenaria, poderá ficar na ATTR ou ser aproveitado no auxílio do aterro de lixo. Para a professora de Arquitetura da UnB Raquel Naves, que pesquisa o lixo da construção civil, a falta de um plano de gestão de resíduos sólidos das obras no DF faz com que parte desse lixo acabe indo para
ntabilidade
gico
Entulho produzido pelas obras do Noroeste deveria ter destinação sustentável, mas o setor não segue normas de gerenciamento de resíduos
LAURA VERIDIANA
do Noroeste determinar que o entulho das construções cumprem a exigência áreas clandestinas. “Existem resíduos da construção que são inertes, como o concreto, e podem afetar a estrutura de drenagem e saneamento básico. Já restos de tintas, solventes e óleos, por exemplo, são materiais que poluem o meio ambiente”, diz a pesquisadora.
tos e sustentáveis, já que a reutilização faz com que não seja necessária a exploração de um recurso da natureza, como acontece com a brita, material mais utilizado para esse tipo de pavimentação. A autora da pesquisa, Ivonne Alejandra Gutiérrez Góngora, conta que a motivação para a realização do estudo surgiu da necessidade de retirar dos ambientes a poluição visual que a grande quantidade das pilhas de entulho acaba gerando. Na Universidade de São Paulo (USP), o doutor em Arquitetura e Urbanismo Javier Pablos analisou em sua tese a possibilidade de reutilizar a areia residual das construções para produzir tijolos, que seriam usados novamente nas obras. Através da adição de argila e um tipo específico de cimento, os resíduos são estabilizados e transformados em um composto que pode virar tijolos maciços para serem utilizados em construções de alvenaria. Além disso, a pesquisa propõe um design diferente nos tijolos, que consegue reduzir a quanti-
dade de argamassa necessária para o assentamento. Já a tese de doutorado do pesquisador Paulo Lasso, também da USP, propôs que os resíduos fossem utilizados para corrigir a acidez dos solos arenosos, tipo de solo comum no Distrito Federal. A alta acidez desse terreno diminui a fertilidade, pois a quantidade de nutrientes é reduzida e a absorção de água também é comprometida. Para tornar o solo fértil novamente, é necessário fazer a correção da acidez. Segundo a pesquisa feita por Lasso, os resíduos de construção civil e demolição (RDC) podem ser moídos e transformados em RDC reciclado, e depois disso serem utilizados na melhoria de solos próprios para a jardinagem, plantio em vasos e preparação de covas de culturas permanentes.
Se fosse possível empilhar as caçambas que chegam diariamente do Noroeste ao Aterro do Jóquei, a pilha teria a altura de um prédio de 30 andares. Chegam aproximadamente 80 containers por dia.
NEM TODO ENTULHO É LIXO Os resíduos gerados pela construção civil são um problema constante no Brasil e estima-se que o setor seja responsável por mais de 50% de todo o lixo produzido no país. Em cidades com mais de 1 milhão de habitantes, esse número chega a 60%. Mas nem todo o lixo gerado pela construção precisa ter como destinação final o aterro. Pelo menos é o que propõem pesquisas realizadas em duas das maiores universidades brasileiras. Com suas capacidades próximas ao esgotamento em várias regiões do país, a utilização de aterros sanitários para resíduos da construção civil se mostra insuficiente e ineficaz para o controle de tanto lixo. De acordo com estudos desenvolvidos pelo Programa de Pós-Graduação em Geotecnia da Universidade de Brasília, o resto de materiais da construção civil é mais eficaz que a brita na cobertura de estradas não pavimentadas. Além disso, os resíduos são mais baraMARIANA CAPELO
CAMPUS | Brasília, de 29 de maio a 4 de junho de 2012
5
Meio-ambiente Paradeiro da suçuarana, vista próxima ao STJ em abril, continua um mistério. As reservas de cerrado do DF são possíveis destinos reportagem | MAÍRA NUNES diagramação | CAROLINA PEREIRA edição | LAÍSA QUEIROZ
O
segurança do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Pedro Bamberg monitorava as câmeras por volta do meio-dia de 17 de abril deste ano, quando foi informado de que havia um elemento suspeito rondando o estacionamento. Possuía médio porte e caminhava sobre quatro patas, pela parte de fora da cerca, próximo aos carros e a alguns funcionários. “As imagens mostravam um animal grande, bem maior que um gato”, lembra Bamberg. Entretanto, permanecia a dúvida sobre qual era o bicho. Acionado, o pessoal da Polícia Militar Ambiental (PMA) e do Zoológico de Brasília – que chegou depois de o animal se afastar, mas viu as imagens –, afirmou se tratar de uma suçuarana, também chamada de puma ou onça parda. Não foi o primeiro caso de aparecimento de onça na capital. Em janeiro, um filhote de suçuarana foi encontrado atrás de sacos de trigo, em uma fazenda a 40 km de Planaltina de Goiás. E há dois anos, uma onça invadiu uma residência no Lago Sul. O que deixou muitos brasilienses curiosos nesta visita de um felino ao STJ foi o fato de não o terem encontrado. Afinal, para onde a onça pode ter ido? Com o alerta, foi mobilizada uma equipe composta por 10 pessoas, entre veterinários, biólogos e tratadores do zoológico, além de viaturas da polícia, cachorros farejadores e até um helicóptero. O sargento Isac Marcio Longuinho e o cabo Klebio Veloso do Santos, da seção operacional da PMA, explicam que, quando a polícia é acionada para a captura de animais silvestres, primeiro é feita uma varredura baseada no cálculo de tempo e espaço por onde o animal pode ter caminhado desde o momento em que foi visto pela última vez.
Cadê a onça?
Logo começaram as buscas pelo animal, que devia estar escondido por perto. Apenas rastros foram encontrados, mas o acontecimento repercutiu na cidade. Durante a semana do episódio, as brincadeiras contaminaram o tribunal e o receio de uma nova visita podia ser percebido: o estacionamento onde a suçuarana foi vista ficou mais vazio que os outros três da instituição. Segundo o biólogo e diretor da curadoria de mamíferos do Zoológico de Brasília, Tiago Carpi, a probabilidade de a onça estar na cidade é quase nula. “Com a movimentação que os centros urbanos possuem, já teria havido relato.” Para Carpi, que integrou a equipe de busca à suçuarana, conforme o grupo ia atrás do felino, a onça se afastava. O biólogo afirma que o faro e a audição dos animais selvagens são muito melhores que os dos humanos. Existem espécies que conseguem farejar uma presa a 1 km de distância. “Ainda mais se ela usar desodorante e perfume”, brinca. “As pessoas que caçam esse tipo de animal procuram acuar o bicho em cima de uma árvore, mas em Brasília as árvores são baixas e os campos, muito abertos”, conta Carpi, explicando a dificuldade de captura.
A onça é um predador típico do cerrado e tem o hábito de caminhar grandes distâncias. Apesar de ter dado o ar de sua graça pelo STJ, o mais provável é que tenha utilizado o Lago Paranoá como acesso e esteja agora transitando entre as reservas pelos corredores ecológicos. Mais difícil é que queira encarar novamente o ambiente hostil da cidade grande.
O STJ localiza-se na L4 Sul. Uma hipótese levantada sobre onde estaria a onça é a reserva do Palácio do Jaburu, uma pequena área de cerrado de proteção militar. “A onça pode ter ido para lá e estar bem pertinho. Dois km para um bicho desses não é nada”, afirma o biólogo Tiago Carpi. A região ao redor do STJ também possui muitas construções. Ao conversar com um funcionário de obras, o biólogo atentou para o fato de que os canos largos da rede poderiam ter levado o animal até o Lago Paranoá. A partir de lá, a onça poderia ter seguido para uma das reservas ambientais do DF. Apesar de muito devastado pela ocupação urbana e por queimadas, o cerrado ainda possui grandes áreas de preservação permanente que garantem a sobrevivência de animais típicos da região, como a suçuarana.
A reserva do Jardim Botânico, um dos locais onde a onça pode ter procurado abrigo, tem ligação direta com o lago. Corresponde a 7% das áreas protegidas do DF e tem aproximadamente 4 mil hectares. Mas os passos do felino podem não ter seguido o caminho mais curto. A Reserva Ecológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 35 km ao sul do centro de Brasília, faz fronteira com o Jardim Botânico e possui área de 1,3 mil hectares. A Fazenda Água Limpa, da Universidade de Brasília, está situada a 28 km do campus da Asa Norte e possui 4,3 mil hectares, sendo quase a metade destinada à conservação e preservação. O Parque Nacional de Brasília, mais conhecido como Água Mineral, está localizado a noroeste do DF e possui área de 300 km². Sua preservação garante a qualidade das águas da barragem de Santa Maria e dos córregos Torto e Bananal, que desaguam também no Lago Paranoá. Já a Estação Ecológica de Águas Emendadas, com cerca de 10,5 mil hectares, corresponde a 17% das áreas protegidas do DF e localizase em Planaltina, a 50 km do Plano Piloto. Atrás do Parque Nacional, ergue-se uma região montanhosa de vegetação de cerrado. Carpi explica que essas áreas de topo de morros servem para a captação de água, que formam pequenos riachos nos vales, responsáveis por desenhar caminhos que funcionam como corredores ecológicos. São as vias utilizadas pelos animais para transitar de uma reserva a outra, sem passar pela cidade. O biólogo conta que participou de dois trabalhos de identificação desses corredores do DF. “Realmente a gente encontra vestígios de que animais passaram por ali.” O destino de todos os riachos formados nas reservas de cerrado do DF é o Lago Paranoá. ILUSTRAÇÕES: MARIANA CAPELO
6
CAMPUS | Brasília, de 29 de maio a 4 de junho de 2012
Inclusão reportagem | PAULINA DANIEL diagramação | LAÍS DO VALLE edição| MARIANA CAPELO
L
Celeiro de artistas especiais
uciana Fonseca (39) nasceu com paralisia cerebral, descoberta quando ela tinha quase um ano de idade. A mãe, Elcione Fonseca, cuidava dela em casa, pois os médicos diziam que não deveria ter muitas expectativas com a menina. Elcione não desistiu. Aos 3 anos de idade, Luciana começou a caminhar, aos 7 entrou no CEE1 Tag (Centro de Ensino Especial 1 de Taguatinga), onde permaneceu até os 37 anos. Lá, Luciana foi alfabetizada e se tornou pintora. Ela é um dos exemplos de artistas formados na instituição. Hoje, com 39 anos, tudo que desenha Luciana joga no quadro. Suas pinturas têm estilo livre, rústico, com bastante cor, e são inspiradas em temas mais leves, como família, ou polêmicos, como homossexualidade e racismo. Ela pinta e vende seus quadros em exposições e sob encomenda. Seu trabalho é divulgado em cidades como São Paulo e Salvador e até em Portugal, onde uma prima reside. Ela esteve no Brasil, se encantou com os quadros e os expôs em seu restaurante em Portugal. É com a ajuda da própria família que os trabalhos de Luciana são divulgados e reconhecidos. Segundo a mãe, que criou a filha para torná-la independente, as únicas dificuldades que Luciana enfrenta são o preconceito e as condições precárias que a sociedade tem de lidar com pessoas especiais. Luciana já trabalhou como gari, se casou e teve uma filha. O ex-marido, Márcio Glayton, é paraplégico. O casal se conheceu no CEE, onde Glayton aprendeu a tocar trombone e montou com colegas a banda Toque Especial. A banda deixou a escola, tornou-se bastante conhecida e hoje se apresenta em média três vezes por semana. Isabela Fonseca, filha de Luciana e Márcio, diz que tem orgulho da mãe. Tímida, se emociona ao falar dela. “Quando crescer, quero ajudá-la”. Luciana mora com o segundo marido, e Isabela vive com a avó materna, que tem sua guarda. Segundo o conselho tutelar, Luciana e Márcio são inca-
Nas salas de aula de uma escola de Taguatinga, alunos especiais são estimulados em oficinas criativas. A iniciativa já produziu pintores, músicos e sonhos
ELLEN ROCHA
Nas segundas, quartas e sextas, o professor Donizete tem um encontro com quase 15 alunos da banda
pazes de cuidar de um filho. Assim como Luciana, Marina, que ainda estuda no CEE 1, pretende trabalhar com pintura e se tornar uma grande profissional na área. Marina tem Síndrome de Down. Feliz da vida, conta que gosta de fazer muitas
PAULINA DANIEL
Luciana presenteia seus familiares com quadros e recebe encomendas de outras pessoas
CAMPUS | Brasília, de 29 de maio a 4 de junho de 2012
coisas na escola, como capoeira, natação e crochê. Ela também faz parte da banda da escola, “Eu adoro estar aqui,com as minhas tias (professoras)“, afirma Marina. O CEE Tag 1, fundado em 1973, atende mais de 200 pessoas, de crianças de 4 anos de idade a adultos cinquentões. Alunos com até 21 anos têm prioridade, e além disso a escola acolhe alunos com problemas como Deficiências Multiplas- DMU, Deficiência Intelectual – DI e Transtorno Global de Aprendizagem – TGD. Na escola, são oferecidas oficinas pedagógicas, nas quais os alunos têm oportunidade de participar do EJA (Educação de Jovens e Adultos), e oficinas profissionalizantes. A escola também adotou programas interdiciplinares, como oficina de argila, laboratório de informática, coral e banda, educação ambiental, dança, teatro e capoeira adaptada. Segundo Sidnéia da Costa Veloso, coordenadora pedagógica do CEE 1 Tag, a dificuldade que os professores têm é a de alfabetizar os alunos, pois os pais são ansiosos e querem logo ver os filhos lendo e escrevendo. Marcelo Donizete, professor da banda, dá aula na escola há mais de 15 anos. “Assim como na pintura, na banda e coral os alunos também pensam em seguir adiante, formarem bandas e até mesmo se tornarem profissionais”. Os alunos e o professor se apresentam em escolas públicas, na Universidade de Brasília e em orgãos públicos. A dificuldade que os alunos têm na fala, ou mesmo na coordenação motora, não atrapalha. “Trabalhar com alunos especiais sempre vai ser difícil, mas eu priorizo o interesse que o aluno tem por participar”, afirma Donizete. “Até quem tem dificuldade na fala se expressa melhor no coral.”
7
perfil:
Quadra reportagem | ANA PAULA LISBOA diagramação | CAROLINA PEREIRA edição| LAÍSA QUEIROZ
50
Cores e sombras no Gama
LAURA VERIDIANA
Rosana Paula de Carvalho, Daiana Chaves e sua filha Gabriela olham para área onde já aconteceram assassinatos e brigas de gangues.
A
os 77 anos, sentado na frente de casa, o pernambucano Antônio Nogueira, lavador de carros, observa quem passa na rua. “Quando cheguei aqui, em 1961, só tinha cerrado e um barraco”, descreve. Ele foi o segundo morador da invasão que originou a quadra 50, no setor Leste do Gama, uma área fora da delimitação da cidade, ocupada por gente sem-teto que ganhou inicialmente o nome de Vila do Itamaracá. O governo tentou tirar os invasores, que resistiram, e a quadra foi incorporada à cidade em 1971. Incorporada, mas não aceita. No passado, o lugar foi rejeitado pelo governo e pela população por ser invasão. Hoje continua renegado por causa da pobreza e da criminalidade. “O que dizem quando descobrem que vivo aqui é: ‘Deus que me livre de morar na 50!’”, conta a garçonete Daiana Chaves, de 30 anos. A fama de pior e mais violenta quadra do Gama não impede, porém, que muitos amem o lugar. “Aqui é bom demais, não saio por nada”, diz o pedreiro piauiense Valdeci Oliveira, de 55 anos, que se mudou para lá aos 15. “Se a gente gosta de morar aqui? Se fosse ruim eu já tinha avoado”, conta o sorridente aposentado Horácio Lima. Ele e a esposa, Rita Lima, vieram do Ceará tentar a vida no Gama há 40 anos. Os “maloqueiros” não incomodam. “Aqui tem um punhado, mas nos respeitam”, explica Rita. Os moradores conhecem o casal pelo nome porque, além de vizinhos, são clientes. No mesmo lote da casa, Lima (79 anos) e Rita (70 anos) fundaram o primeiro comércio da Quadra 50, a Mercearia Tia Rita. Uma das poucas opções de loja, já que, dos 453 lotes, apenas dez têm fins comerciais. O ritmo na quadra 50 se diferencia por horários: dias
8
alegres e noites violentas. O dia é colorido - as mulheres estendem roupas lavadas em varais nas calçadas, os vizinhos papeiam, e as crianças brincam com bolas, pipas e bicicletas. A fofoca acontece de porta em porta. A auxiliar de serviços gerais Rosana Paula de Carvalho, de 24 anos, já foi vítima dos boatos: “Quando tinha 13 anos, escreveram no muro que eu era sapatão por andar muito com amigas”. Os julgamentos costumam ser de tom conservador. Daiana Chaves, por exemplo, ganhou fama de mulher vulgar só por ter se divorciado. Como em cidade do interior do passado, as moças são “proibidas” de se apaixonar por gente de fora. Casos de assassinatos e brigas estão na memória dos habitantes. Segundo moradores, uma adolescente começou a namorar um rapaz de outra quadra e levou uma surra feia no começo deste ano. A quadra 50 funciona como uma comunidade fechada e novos moradores têm que ser aceitos. Ou eles pagam “pedágio” por causa de ameaças ou têm que ser próximos de alguém (um bandido) influente. A noite é sombria e barulhenta, especialmente nos fins de semana - há tráfico e uso de drogas, brigas de gangues e tiroteios, mesmo a poucos metros de um posto da Polícia Militar. A dona de casa Lucirene Pereira, de 40 anos, cresceu na quadra 50 e tem cinco filhos, dos quais três viraram usuários de crack. “Eles ficaram viciados em pedra, inclusive o caçula de 11 anos.” Lucirene avalia que não há exemplos positivos ali: as crianças têm contato com drogas muito cedo e entram no mundo do crime para bancar o vício.
LAURA VERIDIANA
Antônio Nogueira foi o segundo morador da invasão que originou a quadra 50. “Quando morrer, eu saio daqui”.
“Perigo tem em todo canto”, opina Giuvan Santos sobre a violência na 50. Daiana Chaves acha mais arriscado andar em outras quadras do Gama. “Aqui o pessoal me conhece, tenho proteção. Os bandidos protegem os moradores. A 50 não é violenta, é só não procurar confusão.” A maioria dos moradores não acha a quadra 50 perigosa, num claro sinal de que a população amenizou o conceito de insegurança – justamente o que é enfatizado como típico da área por quem mora em outras partes do Gama. Quem é de fora generaliza e só vê a noite, a violência. Quem é de dentro, muitas vezes só quer enxergar o dia, a boa convivência na vizinhança.
LAURA VERIDIANA
Tia Rita
“Nem os malandros da 50 são problema” CAMPUS | Brasília, de 29 de maio a 4 de junho de 2012