Campus 379

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Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB | De 8 a 14 de maio de 2012

BSB -

42 ano

CAMPUS

edição

379

ECOLOGIA SOZINHOS na

não,

Broad way PRÁTICA internautas

DOCES À VENDA

Comércio de balas e afins é saída para falta de ocupação formal. Ambulantes encontram nas ruas um público a ser cativado


Opinião Eram mais de dez da noite quando o jornalista e blogueiro Décio Sá deixou a redação de O Estado do Maranhão, jornal da família Sarney, a caminho de um bar na Avenida Litorânea, orla de São Luís. Décio fora se encontrar com um amigo para comer caranguejo. Naquela segunda-feira, dia 23 de abril, ele não voltou mais a casa. Assassinado com seis tiros por motoqueiro sequer preocupado em esconder o rosto, Sá deixa para trás a carreira de 17 anos no jornalismo político e o Blog do Décio, onde publicava sem pudor informações estratégicas sobre grupos de poder e agiotagem no Maranhão. Os indícios levam a assassínio planejado. Especula-se encomenda de pistoleiros por malogrados no blog, de vasta repercussão local. No interior do estado, ainda é comum a contratação de profissionais para matar. Imperatriz, a segunda cidade mais importante, tem fama de “Capital Nacional da Pistolagem”, onde só no ano passado oito pessoas morreram.

Além de Décio, mais dois jornalistas mortos em 2012 reforçam a recente queda brasileira de 41 posições no ranking de liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras. Sobressaltada, a Fenaj briga pelo projeto de lei que impõe à PF participar das apurações omissas ou ineficientes de crimes contra a categoria. Entrevistado pela IstoÉ, o presidente da Associação Brasileira de Imprensa atribuiu os crimes a impunidade e “militância da imprensa na defesa da ética na administração pública”. Em novembro de 2011, a edição 374 do Campus comentou o assassinato do cinegrafista da TV Bandeirantes Gelson Domingos, que morreu em operação do Bope na Favela de Antares, do Rio. Se na época a discussão era sobre os limites da cobertura jornalística, agora a questão recai ainda mais sobre a proteção da integridade e da identidade profissional. Até onde é válido assinar matéria e se expor caso a denúncia traga risco de morte? Décio escolheu mostrar a cara. Dá-la a tamanho tapa, não.

Ombudskvinna* O Campus mostrou que é possível dividir um jornal-laboratório em diversas editorias: educação, comportamento/saúde, cultura e esporte. Os alunos chegaram aos transexuais e aos moradores do Areal, minorias pouco e mal representadas. Na capa o destaque é a foto, que está num ótimo ângulo e é espontânea, diferente daquelas pousadas que estampam os jornais tradicionais. O tema da greve dos professores parece esgotado, mas o texto de opinião questiona um ponto esquecido: algum dia houve paralisação pelo bem dos alunos e pelas melhorias nas condições do ensino ou tudo se resume à carreira dos educadores? A memória resgata velhos problemas e dialoga com a Opinião e a matéria central. O propósito da coluna Fala, Rovérsio ficou mais claro, mas ainda não cativa. Insinuar que os “intelectuais desertaram da ideologia” aproxima-se da provocação barata. Em Dentro da invasão, fora da escola, a dedicada apuração resulta na variedade de personagens e pontos de vista. Só faltou

por | TIAGO AMATE

por | AMANDA MAIA

comparar os índices do DF com os do Brasil (é preciso provar que os números daqui são bons). A língua portuguesa merece um perfil pela história pouco conhecida. Os célebres escritores deram um charme ao texto e aqui é o lugar para ousar. Mas a adaptação de toda a matéria para o antigo português é um risco, já que, aos poucos, o leitor pode cansar dessa mistura ortográfica. Pacotes para “maraturistas” e Brasília estreia no circuito das webséries trazem fenômenos próximos e atuais e mostram como o jornalista antecipa tendências. Porém, na primeira, as vantagens de um pacote deveriam vir nos primeiros parágrafos e não no último. Aliás, editores e repórteres devem ficar atentos para o que se tornou um vício: iniciar as matérias com um texto narrativo descritivo. Um bom lead não começa, necessariamente, com uma historinha. *Feminino de ombudsman, termo sueco que significa “provedor de justiça”, a ombudskvinna discute a produção dos jornalistas a partir da perspectiva do leitor.

colunista fictício Se um dia completar 50 anos, quero comemorar em grande estilo. Chamar familiares, terceiros e bradar na cara dos desapontados: “Já vivi meio século!”. Enquanto a data não chega, vou bisbilhotando o comportamento dos conhecidos cujo cinquentenário bateu à porta. Ao que parece, as mulheres ainda têm dificuldade em festejar a velhice. Para ser sincero, nunca entendi o porquê do desalento. Uma delas, porém, quase me enganou. A UnB, senhora dois anos mais nova que Brasília, anunciou desde o ano passado o jubileu que se aproximava. “Poxa, enfim uma cinquentona esbanjando orgulho”, pensei com meus botões. Vergonha ela não teve. Mas e a grande festa, esperada por todos? Nunca vi comemoração mais claustrofóbica do que as duas realizadas no dia 21 de abril. Primeiro foi a do Conselho Universitário, no Auditório Dois Candangos, com menos de 200 lugares. À noite, no Teatro Nacional, apenas alguns felizardos levaram os 150 convites reservados à comunidade acadêmica. Matéria publicada pelo portal da Universidade afirmou que a “festa dos 50 anos da UnB é para todos”. Para todos, uma ova! Numa instituição com mais de 30 mil alunos, 4 mil professores e servidores, só podem ter camuflado a comemoração. Quem esperava por um furdunço no estimável Minhocão se decepcionou. A senhora dos 50 deixou a fama subir à cabeça; esqueceu que a família é grande.

Memória O Campus apresentava aos seus leitores, há 13 anos, “Você também é um performance!”. A reportagem de Cristiano Torres na 243ª edição, de dezembro de 1999, mostrou o Espetáculo Danação Malandra, sobre a questão da identidade nacional e da malandragem. O musical baseado nos sambas dos anos 30, 40 e 50 estreou em 1997, montado pelo grupo Transe (Núcleo Transdisciplinar de Estudo sobre a Performance). O Transe também realizou trabalhos sobre a condição da mulher no Brasil contemporâneo. Mulheres Brasílicas, espetáculo desenvolvido dentro do programa A Universidade de

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Brasília e os 500 anos do Brasil, trabalhou sob a perspectiva da religião e da sexualidade. Como elemento articulador desses dois panoramas, foi usado o louvor a São Gonçalo, santo dos problemas femininos, descoberto numa referência de Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre. O grupo participou de diversos eventos, inclusive do Congresso Internacional de Sociologia das Artes. Fez parcerias com a atriz, diretora e performática Rita Gusmão e com José Regino diretor de teatro. Treze anos depois, o Campus mostra como está o cenário do teatro musical em Brasília.

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Editor-chefe Tiago Amate Secretária de Redação Bárbara Romualdo Diretora de Arte Luisa Bravo Diretores de Fotografia Thiago Lima e Jessica Paula Projeto Gráfico Carolina Pereira, Ellen Rocha, Luisa Bravo, Mariana Capelo, Patrick Cassimiro e Thiago Lima Professores Sérgio de Sá e Solano Nascimento Jornalista José Luiz Silva ISSN 2237-1850 Brasília/DF – Campus Darcy Ribeiro Faculdade de Comunicação – ICC Ala Norte CEP 70.910-900 Telefones (61) 3107.6498/6501 E-mail campus@unb.br Gráfica Palavra Comunicação Tiragem 4 mil exemplares ACESSE O CAMPUS ONLINE WWW.FAC.UNB.BR/CAMPUSONLINE


Educação

Ecologia se aprende brincando Novos espaços em Brasília conscientizam crianças para o cuidado ambiental e incentivam o desenvolvimento integral de habilidades reportagem | DAPHNE DIAS diagramação | JANAÍNA MONTALVÃO edição | PAULO PIMENTA

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PEDRO PAULO SOUSA

ma manhã no parque pode ser muito mais que um momento dedicado à brincadeira”, explica o profissional de educação física Pedro Vinhal, um dos responsáveis no grupo 7Saberes pela instalação dos “ecoparques” de Brasília. O primeiro foi inaugurado em setembro de 2011 e está localizado no Parque Olhos D’Água. O mais novo começou a ser usado na segunda quinzena de abril na Escola Classe 210 Norte. Os espaços são construídos com materiais reaproveitados da natureza, têm baixo impacto ambiental e aproximam as crianças da Ecopedagogia, nome dado pelo professor da Universidade São Paulo (USP) Moacir Gadotti para a proposta de promoção da aprendizagem do sentido das coisas na vida cotidiana. A ideia é despertar nas crianças o cuidado com meio ambiente e estimular o desenvolvimento integral das habilidades da forma mais atrativa para elas: com brincadeiras. O enfoque na garotada se dá devido ao princípio de que quanto mais cedo se desenvolver a consciência ambiental, mais a sério ela será levada futuramente. Lêda Bhadra é mãe de três filhos e conta que desde cedo explica

para eles o que se pode fazer no cotidiano para contribuir com a redução no consumo de água, energia, embalagens, bem como descobrir o sentimento de pertencimento a este planeta. “Quanto mais cedo o cidadão tiver acesso à informação e puder vivenciar ações vinculadas à preservação do meio em que vive, mais cidadãos ecologicamente equilibrados a sociedade ganhará.” Para chamar atenção das crianças, um circuito com atividades, que reúne muro de escalada, ponte de equilíbrio e túneis, permite o contato com os recursos naturais. As estações são acompanhadas de placas explicativas que ensinam também aos pais os benefícios de cada brincadeira. “O ecoparque é um dos únicos motivos que tenho para tirar meu filho da frente do vídeo game”, conta a professora Vera dos Santos, mãe de Lucas, 6. “Além de sair da rotina, mostro a ele que existem outras formas de se divertir e ainda incentivo que ele se relacione com a natureza.” Mesmo aqueles que ainda não entendem a proposta por completo aprovam o projeto. “Que parque mais bonito!”, grita um aluno da Escola Classe 210 Norte ao ser apresentado à nova atmosfera. A professora de educação física Neusa Ribeiro explica que a escola leva os estudantes e reforça a ideia do espaço. “Além do contato com o ambiente, as crianças encontram novos desafios nas brincadeiras e desenvolvem a ajuda e integração entre os colegas”, argumenta. “Essas atividades podem ajudá-los a ser adultos melhores e mais seguros de si.” A proposta do desenvolvimento de competências motoras e psicológicas integrais foi pensada com base na combinação das atividades do circuito do parque. Ao entrar, a criança passa por uma “agrofloresta” e se depara com um túnel, onde, além de se forçar a raste-

(

A cama de gato é o brinquedo predileto das crianças. Nele, equilíbrio, noções de espaço e paciência são habilidades desenvolvidas

jar, terá que lidar com o escuro. Na torre de escalada, os pequenos precisam se esticar para alcançar os apoios e enfrentam o possível medo de altura. Ao chegar à cama de gato, brinquedo predileto das crianças, segundo Pedro Vinhal, busca-se o equilíbrio e a noção de espaço, além da paciência para completar o trajeto sem encostar em nada. “O caminho a ser traçado pela criança foi pensado para colocá-la em contato direto com o meio ambiente e trabalhar os movimentos completos”, conta o criador do parque. A coordenadora psicológica da escola Vivendo e Aprendendo, Sheylane Brandão, explica que o conhecimento gerado por meio do saber corporal permite que as crianças se lembrem com mais facilidade das experiências. A instituição usa a metodologia do ecoparque: fundamenta-se na ideia de desenvolver a consciência ecológica a partir do contato direto com o meio natural. “Aqui incentivamos as crianças a subir em árvores”, comenta. “Além de inseri-las no ambiente, usamos a experiência para lidar com emoções, como autoconfiança e controle do medo.”

FILOSOFIA HOLÍSTICA

Felipe Vinhal, do grupo 7Saberes, é um dos responsáveis pela instalação dos ecoparques em Brasília. Dois espaços já estão em funcionamento na cidade

O desenvolvimento integral das habilidades do ser humano faz parte da teoria educacional holística. Ela é o objeto de estudo do grupo fundador dos ecoparques, o coletivo 7Saberes, que existe desde 2010. Essa filosofia de educação estimula as pessoas a encontrar, por meio de conexões com a comunidade, significados e propósitos de vida. “Trata-se de uma proposta de educação que possibilita transformações profundas, principalmente na sociedade”, explica a psicóloga Sheylane Brandão. A filosofia holística também valoriza o processo de aprendizagem experimental, baseando-se nos valores individuais, na cooperação e nos recursos sustentáveis.

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Economia

Em uma cesta de guloseimas, o sustento de

Flexibilidade de horários e rendimento de até R$ 1,5 mil. Esta é a situação de muitos que encontraram sustento no mercado informal dos vendedores ambulantes TAYNARA PRATA

reportagem | MARIO CESAR diagramação | THIAGO LIMA edição | LUCAS ALVES

O

setor informal costuma expandir em épocas de desemprego e a taxa na capital do país tem crescido. De acordo com pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o desemprego registrado em março deste ano no Distrito Federal foi de 13,3%, com um total de 189 mil desempregados. Assim, várias pessoas recorrem à venda de doces, atividade informal, para adquirir o sustento. Aberta para qualquer nível de qualificação, exige um capital inicial ínfimo. Mercado informal Com algo em torno de R$ 30 já é possível começar as vendas de balas, chicletes e gomas no sistema público de transporte, em paradas de ônibus ou oferecendo pela cidade. São muitos os vendedores ambulantes do DF que afirmam ter buscado um emprego formal, mas que a baixa escolaridade e o salário os desmotivam a exercer uma profissão com carteira assinada. Claúdio Maia chegou a Brasília e logo começou como servente em obras. Hoje, ele conta que com a venda de doces consegue uma média de R$ 50 por dia, o suficiente para se manter onde mora, no Valparaíso. “Isso é temporário por não ter condição de qualificação”, afirma. Agora, aos 32 anos, mais de dois como vendedor ambulante em ônibus, desabafa: “Eu acho que quem ganha dinheiro nesse ramo são os atacadistas. Esses aí lucram bem”. O setor atacadista opera com um lucro de 30% e se beneficia da venda em larga escala para baleiros, varejistas e consumidores, enquanto o ambulante vende ao consumidor final, podendo obter mais de 100% de lucro no produto. Por exemplo, um salgadinho da marca Amendupã custa em média R$ 0,50, em promoção chega a atingir metade desse valor. O preço cobrado pelo ambulante é de R$ 1,50. Proprietário da empresa atacadista Luazinha, Welison Lima afirma que são pelo menos cinquenta vendedores que, diariamente, abastecem as cestas na loja. Na opinião dele, falta para estes trabalhadores a capacitação de empreendedor. “Eles podem ganhar até mais que o assalariado, mas como lidam com dinheiro vivo acabam por administrar mal o que ganham.” Para o empresário, o ambulante só se reabastece, e por não investir vive uma situação de estagnação. “Mas também conheci ambulantes quando crianças, que hoje têm família e conseguiram sair da informalidade”. Na distribuidora Luazinha, os produtos mais procurados pelos ambulantes são: chiclete cartelado Flicks, jujuba e amendoim. “Outros produtos são procurados nas promoções ou por temporada. Atualmente tenho vendido muito o Halls porque o preço está bom”, conta Welison.

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Desemprego Da mesmo forma que centenas de outros, Vandilson Francisco, 36 anos, começou na rua após desistir de procurar vagas de emprego. Trabalhava na construção civil e como pintor, até que percebeu a oportunidade de obter uma renda melhor na informalidade. Ele relata que chega a receber de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil por mês. Esse rendimento fica um pouco acima das últimas estimavas do Dieese para o trabalho autônomo, de R$ 1.293. Segundo Vandilson a carteira assinada não oferece mais vantagens. Após seis anos trabalhando com o comércio de doces, ele já se considera um profissional autônomo. “O doce vende fácil, o fluxo é grande no coletivo. É dinheiro circulando na mão, sem humilhação ou precisar cumprir horário”, diz ele. Considera que três tiras de amendoim, 15 Amendupã, uma caixa de Halls e 30 pacotes de goma de menta compõem o kit básico para iniciar o dia. Durante as vendas, que geralmente começam por volta das 10h da manhã, Vandilson vai pelo menos três vezes abastecer no atacado. “Você pega um ônibus cheio, em um dia bom e faz R$ 10. O doce entretém a viagem”, explica. No caso de Ademir Silva, 29 anos, que começou vendendo pipoca, o trabalho de ambulante é um “bico”, uma ocupação temporária por falta de opção. “Não estou feliz! Quero exercer uma profissão, sou experiente como garçom e jardineiro”, desabafa. Ademir reclama que muitas vezes tem de esperar um bom tempo até que um ônibus abra a porta para ele entrar. A orientação das empresas de transporte é que os motoristas impeçam os ambulantes de circular no coletivo. Alegam que isso seria prática de carona, o que é proibido. Mas, o condutor Osvaldino Santos diz que nos horários de pico chega a receber quatro vendedores. “Eu não vejo problema em abrir a porta para eles entrarem, desde que não incomodem e saiam depressa”, declara o motorista. PEDRO PAULO SOUZA

Alguns e

Na prática, a fiscaliz balhadores. Eles conta vendedores pelo coletiv ou motorista, porque e passaram três vendedo

O vendedor, que preferiu não se identificar, diz que precisa da renda extra para montar o próprio negócio em Águas Lindas

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Bombonzeiros fixos Além dos ambulant dade. A estratégia é ao com uma oferta mais d a gente não cansa, nem Marques, 60 anos, don ter o produto apreendi ir à Administração Reg sem pagar taxas. “O q bolsas”, afirma. No Plano Pil afixaram com suas barr bancadas repletas de pr tenham tantos inform próximos das paradas. pando o espaço de que


popular

e muitos

m

crescimento total

do setor de doces:

7%

tes, existem aqueles que optam por um ponto fixo na cios poucos formar uma clientela de passantes, começando diversificada de doces. “A vantagem é que com a barraca m pega sol e com o tempo passa a vender bem”, diz Vilma na de uma barraca em Taguatinga. No entanto, o risco de ido pela fiscalização aumenta. Vilma relata que já teve de gional para retirar mercadorias, porém conseguiu de volta que eles apreendem mesmo é produto falsificado, roupa,

loto, ao longo da via W3 Sul muitos vendedores se racas. Eles esticam lona para se proteger do sol e utilizam rodutos. Para a moradora Avelina Neves é um abuso que mais competindo com outros estabelecimentos regulares “Eu passo e vejo uma barraquinha em cada parada ocuem espera o ônibus”, reclama.

entre

2010 e 2011

CHOCOLATE

(carro chefe do deste avanço) em toneladas produzidas %

12,2 total de 650 mil

BALAS, CONFEITOS E GOMAS em toneladas produzidas total de 510 mil

escolhem um ponto fixo para cativar a clientela. Oportunidade para vender bebidas e demais alimentos

zação não chega a ser um grande obstáculo para esses traam que a maioria dos motoristas permite a circulação de vo. “E nem precisa sempre dar uma goma para o cobrador eles já ganharam. Às vezes subo em um ônibus em que já ores”, conta um ambulante que preferiu não se identificar.

TAYNARA PRATA

SEU PEDRO

%

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O outro

LADO

No outro extremo da economia estão as balas personalizadas. Em Brasília, A Brindart’s trabalha nesse segmento especializado que atende clientes exclusivos. No produto final ela é responsável pela embalagem, a pastilha é terceirizada com empresas de outros estados, porque a produção local é focada nas chamadas mentoladas, enquanto os clientes preferem as balas de sabor de frutas. A empresa chega a embalar 300 mil balas por mês. Entre os clientes estão o Banco do Brasil, Vivo, Petrobras e Claro. Segundo o proprietário, Sandro Arruda, o mercado conhece as vantagens do produto. “Uma bala personalizada custa de sete a dez centavos a unidade, sai em conta. Ela também ajuda no meio corporativo, na questão do hálito e ainda quebra o gelo de uma negociação”, explica.

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Pedro Moreira, o Seu Pedro, tem 54 anos e se considera realizado ao longo dos 24 anos no comércio de doces, mas havia sido moço e funcionário do Banco do Brasil antes de decidir se tornar vendedor. Um dia reconheceu que não estava satisfeito com a vida em agência e que era hora de uma virada na carreira rumo a algo novo. E sua obstinação era firme. Por isso não desanimou nos meses iniciais, em que esteve com um carrinho de doces em frente à igreja Santa Terezinha, no Cruzeiro. Durante os primeiros anos da bombonière, trabalhavam ele e a família, agora quatro funcionárias atendem na loja, que chega a ficar aberta até a meia-noite. O microempresário natural de Caratina, Ceará, conta orgulhoso que vende até doces internacionais: pastilhas coreanas, marshmallow japonês e chocolates importados. “Agora que eu construí meu quiosque e tenho minha própria empresa ficou muito melhor. Vendendo na rua sofre-se muito, é também corrigido e perseguido pela fiscalização”, diz Seu Pedro. Mesmo assim a regularização ainda não é definitiva. Há dois anos ele deu entrada na documentação e diz que declara sua loja nos impostos desde 1997. Na verdade, Seu Pedro infunde respeito e admiração na comunidade. Nestas mais de duas décadas vendendo doces, passaram por seu estabelecimento gerações de clientes. “Conheço fregueses desde pequenos, filhos de clientes vem agora comprar comigo.” A fama lhe rendeu o título de Personalidade do Cruzeiro, dedicado pela administração da cidade em 2011. Por situar-se próxima a uma escola, a Bomboniere do Pedro é bastante frequentada por crianças, como Eurípedes Pereira, de 9 anos. O menino se mudou para o Cruzeiro faz dois meses e já é cliente. “Eu moro aqui perto e venho duas vezes por semana. Gosto porque tem muito doce diferente, chiclete do Ben 10...”

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Cultura Cursos e workshops de teatro musical incentivam a capacitação de artistas que dançam, cantam e interpretam

PATRICK CASSIMIRO

reportagem | GABRIELA CORREA E THAMARA PEREIRA diagramação | DANIELA ABREU edição | MARCELA NÓBREGA

O

entra em cena

público brasiliense que gosta de teatro musical tem programação garantida para conferir adaptações de famosas obras. Espetáculos como Hair, The Wall e esquetes (pequenas cenas) de clássicos da Broadway passarão pelos palcos da cidade até o final de 2012. As montagens contribuem para a consolidação de uma nova geração de artistas brasilienses que pretendem participar das grandes produções do eixo Rio-São Paulo. As peças são resultados dos workshops de montagem acadêmica (não profissional) voltados para iniciação no teatro musical. A carreira não é fácil e exige do ator o domínio – ou a mínima noção – de interpretação, canto e dança (balé, jazz, sapateado). Fundada em 2007, a Escola de Teatro Musical de Brasília (ETMB) foi pioneira na integração do ensino das três áreas. A ideia era que os artistas pudessem se aperfeiçoar em teatro musical sem que fosse preciso fazer vários cursos diferentes. Michelle Fiúza, diretora musical e uma das fundadoras da escola, diz que as apresentações da ETMB são acadêmicas e esclarece a principal diferença entre um espetáculo profissional e um acadêmico: “Para fazer um espetáculo profissional é preciso ressarcir o elenco, pagar atores profissionais”. O objetivo é mostrar o trabalho desenvolvido com os alunos ao longo do semestre. Atualmente a escola tem 98 alunos e não concede bolsas, nem mesmo para homens, como é comum em escolas de dança. Louise Moura, caloura do curso de artes cênicas da Universidade de Brasília, entrou na turma básica da ETMB no início de 2011 e avançou para a turma preparatória no mesmo ano. A estudante afirma que percebe uma resistência ao teatro musical entre os atores. “No PATRICK CASSIMIRO

Luíza Lapa canta em seu último dia de ensaio da montagem acadêmica de Hair.

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Brasil essa área não é tão forte. As pessoas associam [o teatro musical] à falta de atuação. Acho que é por conhecer pouco a carreira”, diz. A ETMB teve atores como o garoto prodígio André Torquato que, com 18 anos, já trabalhou nas montagens nacionais de A noviça rebelde, Gipsy e Priscilla, rainha do deserto. De lá também saiu Danilo Timm, ator e preparador vocal do elenco de Xanadu, de Miguel Falabella. A diretora da Actus Produções, Élia Cavalcanti, também aposta na formação de artistas para musicais. Ela ministra oficinas para adaptar montagens há dois anos. Com o workshop, Élia esteve à frente das montagens acadêmicas de Hairspray e Rent. No início de 2012, a diretora organizou o workshop de montagem de Hair, o famoso musical da Broadway que fala da contracultura hippie da década de 1970. O elenco é constituído por 60 alunos que se dividem entre coro e solistas. Bruno Vaz de Mello, um dos solistas de Hair, é ator há oito anos e diz que a experiência de cantar em cena é desafiadora. Aos 23, Bruno ainda não sabe se vai seguir carreira, mas pretende estudar para isso. A atriz Luíza Lapa, 22, foi selecionada para Hair, mas terá que sair da peça porque foi chamada para o musical Um Sonho de Cowboy no Parque Beto Carrero World, em Santa Catarina. Pela falta de mercado, Luíza seguiu o caminho que a maioria dos atores de musicais sente a necessidade de fazer, e foi realizar testes fora de Brasília. Na contramão das montagens acadêmicas com foco em musicais famosos, o workshop The Wall será voltado para adaptação teatral da obra de Roger Waters e resultará na montagem A Ópera Rock Pink Floyd: The Wall. O produtor Stevan de Camargo Corrêa acredita que a iniciativa é inovadora pelo roteiro original, apesar de ser baseado em uma obra fonográfica e cinematográfica de sucesso. Por ser uma montagem acadêmica, qualquer pessoa pode participar das audições, que terão início neste mês. “Teremos audições para selecionar os mais aptos, mas nosso alvo não são apenas profissionais. O foco é descobrir novos talentos também”, afirma. O diretor da Cia. De Teatro Infantil Néia e Nando, Nando Villardo, acredita que a integração musical às peças será um diferencial para o teatro infantil da cidade. As músicas das peças infantis, que antes eram dubladas, a partir do segundo semestre serão cantadas ao vivo. “Foi um desejo dos próprios atores. Por isso providenciei um preparador vocal e microfones. Mas o nosso foco ainda é o ator que sabe cantar e não o contrário”, explica o diretor. ORIGENS Mesmo antes do atual boom de produções internacionais nos grandes polos culturais carioca e paulista, a capital federal já tinha quem movimentasse a cena dos musicais. Marconi Araújo é tido como um dos vanguardistas do teatro musical no Brasil, e em Brasília foi responsável pela preparação de cantores desde 1992. A partir de então, o

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O elenco passou por audições e atualmente é composto por mais de 60 alunos – com experiência em teatro musical ou não. O ator Bruno Vaz, um dos solistas, ensaia uma das canções de Hair

maestro e cantor fundou a Associação de Coro Feminino e Masculino de Brasília, com a qual realizou turnês pela América Latina e Europa. Junto ao maestro Vladimir Fiuza, Marconi foi responsável por inserir Brasília na embrionária cena de teatro musical no Brasil. “Marconi e Vladimir iniciaram o teatro musical em Brasília e motivaram muita gente. O legado que eles deixaram é muito grande”, declara Michelle Fiuza, filha de Vladimir. Os alunos das montagens acadêmicas pretendem seguir o mesmo caminho trilhado por atores como Saulo Vasconcelos e Sara Sarres, ambos protagonistas da versão brasileira de Os Miseráveis, Cats e O Fantasma da Ópera. Os dois atores fizeram parte da primeira leva de artistas musicais a sair de Brasília e integrar elencos de grandes produções brasileiras.

Investimento na arte Os cursos são todos pagos e a carreira, além de exigente, não é barata. Confira a média de investimento mensal do artista que precisa saber cantar dançar e atuar:

Canto R$ 270,00

}

Dança R$ 280,00

Teatro R$ 175,00

Workshops de teatro musical: média de R$ 260,00


Comportamento

Internet facilita o desafio de morar só Jovens que precisam se virar sozinhos contam truques de como sobreviver longe da comodidade da casa dos pais e como a web pode ajudar nisso reportagem | INGRIDY PEIXOTO diagramação | DANIELA ABREU edição | MARCELA NÓBREGA

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PEDRO PAULO SOUSA

acarrão instantâneo e comida congelada não precisam mais dominar o cardápio de quem mora longe dos pais. Páginas na internet oferecem dicas de sobrevivência para solteiros que vivem sozinhos, além de receitas fáceis e baratas. Isso não quer dizer que o miojo tenha desaparecido da mesa desses jovens. A estudante de Administração Tiê Porã revela que já usou até cafeteira para fazer o macarrão instantâneo. A falta de um fogão e de estômago para aguentar comer mais um misto quente a levaram ao improviso. A criatividade parece ser fundamental para jovens que moram sozinhos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Distrito Federal quase 100 mil pessoas moram sozinhas. Elas enfrentam desafios como os de Lamartine Oliveira, que está longe da família há oito anos. Ele saiu da casa da mãe em João Pessoa aos 17 para fazer faculdade no interior da Paraíba. Nos alojamentos, conta que “era um monte de homens que tinham acabado de sair de casa e não sabiam de nada. O jeito era fuçar na internet.” Assim Lamartine diz ter aprendido a cozinhar. “Hoje sou fascinado por fazer bolos recheados.” Atualmente, é aluno de doutorado de Ciências Florestais e divide um apartamento com quatro pessoas, sendo três mulheres. Ele é o único que cozinha. “Fazer comida ninguém encara”, revela. Mas nem sempre foi assim. A primeira receita que fez foi de feijão e precisou consultar a internet para acertar os passos. Ele não quis preocupar a mãe com a inexperiência. “A gente finge que sabe tudo e está se virando direitinho”, confessa. Entre o que encontrava em buscas no Google e dicas postadas numa comunidade no Orkut que ensinava a

“sobreviver” em repúblicas, ele aprendeu a se virar. Hoje, Lamartine sabe temperar carne e costuma fazer lasanhas, pizzas e saladas. Ainda usa a internet quando quer fazer algo diferente. “Na semana passada fizemos uma pastelada e procurei as receitas de recheio”, lembra.

ORÁCULO “Tudo que eu faço é com a internet”, confessa Tiê. Nascida em São Paulo e criada em Montes Claros (MG), terra dos pais, ela conta que a família se mudava muito. Quando tinha 12 anos, eles moravam em BraWsília. Em 2008 a mãe resolveu voltar para Minas Gerais, mas Tiê quis ficar. A jovem morou sozinha por quatro meses antes de ir para a Europa, onde visitou o irmão e diversos países. Ela achou aulas de idiomas, passagens e roteiros mais baratos e até formas diferentes de se hospedar, como o couchsurfing (programa em que é possível ser recebido na casa de um morador local sem custos, desde que o favor seja retribuído no futuro), online. Foi com auxílio da internet que Tiê pôde conhecer o Reino Unido, França, Portugal, Itália, Hungria, República Tcheca, Áustria, Alemanha e Croácia. “Tudo que preciso eu jogo no Google e sei que vai ter alguém que passou pela mesma situação e pode me ajudar”, a estudante conta. A cafeteira que fez miojo também já serviu para amenizar a sinusite de Tiê. Ela esquentou água na máquina e inalou o vapor, como recomendado em uma dica que encontrou. Carlos Neto mora sozinho em Águas Claras há um ano e meio, quando saiu de Vitória (ES) para trabalhar como DJ em uma boate de Brasília. Ele afirma que a vida é cheia de improvisos e pede ajuda ao Google sempre que tem uma dúvida. Já recorreu à rede inclusive para achar formas de manter o chão branco do apartamento limpo. No entanto, admite que a internet ainda não é o auxílio perfeito. “Eu preciso imaginar quanto é 200 ml de leite, porque não tenho copo medidor, e isso pode não dar certo”, ri. Ele diz que videoreceitas facilitam muito na hora de fazer um prato pela primeira vez. “Dá de saber qual o ponto da massa, por exemplo.” Especula que pode ser pela falta da presença de alguém para acompanhar que sua panqueca não tenha ficado com a consistência desejada. “Nada substitui a presença da mãe.” Ainda assim, banca o anfitrião e convida amigos para comer em sua Além de ter aprendido a cozinhar com a rede, Larmartine diz que busca ajuda sempre casa. Claro, sem esquecer dos riscos, que não sabe que produto utilizar para lavar algum tipo de roupa que busca minimizar sempre testando a receita antes.

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VANTAGENS NA WEB O ex-professor de novas tecnologias da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Centro de Educação à Distância da Universidade Anhanguera, José Moran, afirma que a relação familiar ainda é espaço para aprendizagem. Porém, agora há acesso a informações paralelas. “Os blogs são espaços em que a expertise sobre um conhecimento informal pode ser compartilhada”, explica. Antes era preciso ir a um lugar específico para aprender. A internet possibilita que se aprenda a qualquer hora e lugar e esta é a grande vantagem. A facilidade para se comunicar e compartilhar ideias com pessoas interessadas num determinado assunto propicia a criação de conteúdos. De olho nisso, a designer Gisele Souza criou o blog Receitas de minuto, que traz receitas práticas e econômicas. A ideia surgiu quando seu irmão mais novo foi morar sozinho para fazer faculdade no interior de São Paulo. “Ele nunca precisou fritar um ovo. Ensinei a ele como fazer arroz, temperar frango. Percebi que, assim como ele, muitas pessoas estão começando a se aventurar na cozinha e precisam de ajuda para dar esse passo inicial.” Almy Fróes já tinha blogs quando começou o Guia dos solteiros. Ele conta que a página surgiu quando ele, que mora sozinho, ficou um mês sem empregada. Uma amiga, também blogueira, passava por uma situação parecida e entrou no projeto. O blog concentra dicas preciosas para os solteiros. Entre elas, como dar uma festa sem que destruam sua casa, dicas para economizar nas despesas e até como preparar café. O site Morando sozinho, mantido por Vinícius de Oliveira e três colaboradores, tem o mesmo objetivo. A página também possui um fórum onde os leitores podem trocar histórias e dicas de faxina, culinária etc.

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perfil

BRENO Uma vida em quebra-cabeça SOARES

reportagem | MARIANA VIEIRA diagramação | THIAGO LIMA edição | PAULO PIMENTA

PEDRO PAULO SOUZA

“T

odo mundo é um gênio. Mas se você julgar um peixe pela sua habilidade de subir em árvores, ele viverá o resto de sua vida acreditando que é um idiota.” Breno entende bem o significado dessa frase. Durante os anos escolares, o garoto franzino, menor da turma, notava que havia assuntos que, não importava o quanto estudasse, não conseguia assimilar. Repetiu oito vezes em diferentes séries. Sentia-se culpado por não tirar boas notas em matemática, química e física e não corresponder às expectativas do pai, Magdo. Atribuía as dificuldades de aprendizado aos ataques de convulsão que teve durante a infância. Atribuía as dificuldades motoras ao problema de falta de oxigenação no cérebro que teve ao nascer. Sua baixa estatura e a aparência muito jovem para alguém de trinta anos eram entendidas como resultado de uma disfunção hormonal. Foi apenas no último Natal que Magdo resolveu falar abertamente sobre um diagnostico até então desconhecido para o filho: autismo. A frase que abre o texto é de Albert Einstein, cientista considerado um gênio para muitos, e autista com síndrome de Asperger* para estudiosos da neurologia: o extremo desenvolvimento em certas áreas em detrimento de outras. No caso de Breno, a despeito das dificuldades nas ciências exatas, a sapiência é aguçada para seus interesses: História – curso no qual se forma este ano, inglês (que fala fluentemente), além de cinema, vídeo game, histórias fantásticas e música. Na área de estudo, gosta principalmente de Egito Antigo, e em música, adora Rock. “Quando meu pai me falou que eu era autista, não dá nem pra dizer que fiquei chocado, eu só fiquei ‘meio assim’. Estranhei um pouco, fui pesquisar na internet e quando percebi que não era nenhum bicho de sete cabeças, fiquei mais aliviado”. A internet, aliás, é uma das melhores amigas de Breno. Ela e os livros. Um fã mais atento consegue notar a semelhança: a pele pálida, os cabelos pretos e displicentes, a cicatriz na testa e os óculos de aro. “Muita gente já perguntou se eu me achava parecido com o Harry Potter. Não sei, mas foi por causa dele que eu despertei para a leitura.” Breno começou a ler a saga do jovem bruxo aos 18 anos e desde então não parou mais. “Ele lê demais da conta”, solta Genilda, que trabalha com a família há quinze anos. “O Breno é muito dependente dos outros para fazer as coisas”, afirma. O movimento de girar a chave na fechadura é complexo. Genilda precisa estar em casa quando Breno chega dos eventuais passeios sozinho. Mas eles

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“Quando meu pai me falou que eu era autista, não dá nem pra dizer que fiquei chocado, eu só fiquei ‘meio assim’. Estranhei um pouco”

raramente acontecem. O rapaz tem tudo de que precisa no próprio quarto: o computador, os inúmeros livros, fotografias, bonecos de ação. “Só sinto muita falta do meu Playstation 2, que está quebrado”, lamenta. Mas não faz exigências ao pai. Não se esquece da promessa do cunhado: “Quando ele comprar um novo, vai me dar o antigo dele. Mal posso esperar” Os olhos de Thaís, irmã mais nova, chegam a ficar marejados toda vez que se fala da condição do irmão ou da perda da mãe, dez anos atrás, para o câncer. Para ela, existem duas certezas: Breno é feliz no mundinho dele. E a outra é que, quando o pai faltar, ela deverá assumir o lugar dele. Não que pareça pesado. Thaís, apesar da responsabilidade, é a irmã mais nova. Quando os dois eram crianças, ela queria, como é comum aos irmãos mais novos, fazer tudo que o irmão mais velho fazia. “Ele tinha aula de reforço de matemática, eu achava legal, queria também mas meus pais falavam que não precisava. Daí eu me escondia no armário do quarto dele para ouvir a aula, e ele fazia gracinha para ver se eu ria”, lembra. Magdo, mineiro, engenheiro elétrico e servidor público prestes a se aposentar, se orgulha das conquistas do filho, mas tem receios quanto ao futuro. “O Breno fala em casar, ter filhos, netos. Não acho que nada é impossível nessa vida, mas é difícil.” O pai é a pessoa mais próxima de Breno desde a morte da mãe. Mesmo assim, as pessoas na vida de Breno se revezam para não deixá-lo só e, como peças de um quebra-cabeça diário, vão encaixando paciência, afeto e inclusão na vida de uma pessoa única, como todas as outras.

Asperger A síndrome de Asperger é uma variação do autismo, que se manifesta com predominância no sexo masculino. As principais características são severo prejuízo social, repetição de padrões e comportamento e transtornos motores. Conhecida também como síndrome do gênio, pelo desenvolvimento acentuado de conhecimentos específicos, foi estudada pela primeira vez pelo psiquiatra e pediatra austríaco Hans Asperger (1906-1980).

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