Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB | De 17 a 23 de abril de 2012
42 ano
CAMPUS
edição
376
Estão
abertos os arquivos públicos
Cadê
as
bibliotecas?
A banca da Tia
Fran
SEXO NA COPA
Prostitutas planejam lucrar com o Mundial, e especialistas temem a exploração sexual de crianças e adolescentes
Opinião STJ, Polícia Federal, Câmara dos Deputados, Ceasa, TSE, não importa o lugar, só é preciso saber mesmo quantas vagas, quando é a prova e qual o salário. E, claro, quais matérias cobradas pelo edital. A rotina de concursos em Brasília é intensa. Ser concurseiro é a “profissão” do momento. Na verdade, de todos os momentos desde 1934. Por quê? Os motivos são vários e, claro, todos plausíveis. Afinal, quem não quer estabilidade, possibilidade de um trabalho digno, bons salários e um certo status? Não é fácil conquistar a vaga dos sonhos, todos sabem. De acordo com o levantamento da Pesquisa de Amostragem de Domicílios, o PNAD, realizado pelo IBGE, existem aproximadamente dez milhões de brasileiros tentando conseguir uma vaga no serviço público. Desses, três milhões fazem cursinhos preparatórios nos mais de 500 cursos espalhados pelo país. Saem ganhando também as editoras responsáveis pela publicação dos variados manu-
ais de “como passar em um concurso público”, nome até de sketch humorístico em Brasília. Os concurseiros ficam em frenesi a cada edital lançado. Estudam dia e noite. E na tentativa de burlar o sono e o cansaço naturais de toda essa maratona, tomam remédios para manter a concentração e seguir em frente. A Ritalina já caiu no gosto popular para esses casos. As pessoas lidam com altas concorrências, pressões de todos os lados e, ainda, mais recentemente, com falhas escabrosas das bancas examinadoras. Será possível ser todo esse esforço em nome de uma “vida mansa” no futuro? Acredito que não. Já é hora de mudar a visão sobre o funcionário do Estado. O serviço público não é a resposta para aqueles que procuram pouco trabalho. Tampouco, a estabilidade deve ser a causa da acomodação e da incompetência vistas corriqueiramente nos órgãos do poder. O Estado não precisa de funcionários assim.
Ombudskvinna* A edição 375 do Campus, última de 2011, representou melhora significativa dos trabalhos apresentados ao longo do semestre. Os textos amadureceram, acompanhados de imagens mais elaboradas e de uma diagramação bem resolvida. O difícil acesso aos gastos do Governo do DF é um excelente exemplo disso. Além da pauta interessante, o texto cativa de cara. Foram dados pesos adequados a todos os elementos: problemas e falhas, promessas e necessidade de que o Portal da Transparência, ferramenta de acompanhamento tão alardeada na campanha, efetivamente funcione. Outro ponto relevante é Notícia Fake: mais engraçado que a realidade. A repórter levantou discussões importantes: quais os limites desses textos de linguagem jornalística que não têm compromisso com a verdade? Até onde é brincadeira? Por que os leitores confundem? A popularidade desses portais e a rapidez com que histórias como a do bebê Facebookson se espalham e acabam, por fim, servindo de reflexão para a nossa profissão. Se o texto
por | NATHALE MARTINS
por | RAQUEL CASTELO
com roupagem de jornal vende e, ao mesmo tempo, parece não haver tanta gente interessada no “real”, estamos fazendo algo de errado? Estudante protagonista da aprendizagem trouxe uma informação bacana e que merece ser noticiada: o crescimento do ensino superior à distância, essencial para que muitos consigam espaços nas ainda não tão acessíveis universidades. E em O que será que existe depois da CEU?, o repórter soube fugir do comum para contextualizar a situação, inclusive revelando a inconstância do pagamento dos benefícios. Parabéns por dar voz a quem de fato vive a situação. O único equívoco da edição foi, de novo, perder a oportunidade de fazer o Na Fila mais interessante. O debate a respeito do tratamento do ex-presidente Lula contra um câncer na laringe ficou ainda mais pobre que nas redes sociais. *Feminino de ombudsman, termo sueco que significa “provedor de justiça”, a ombudskvinna discute a produção dos jornalistas a partir da perspectiva do leitor.
Memória Há 28 anos, o Campus descrevia na edição nº 65 a vida dos “michês” (garotos de programa) no Conjunto Nacional, na plataforma superior da Rodoviária e no Conic. Também chamados de bofes ou peixes, os michês, a maioria com idade entre 16 e 23 anos, cobravam entre 15 e 20 mil cruzeiros por duas horas de programa, o que hoje equivaleria a cinco ou sete reais. Os repórteres Adalberto Passos, Cid Furtado Filho e Ulisses Lacava percorreram as ruas da capital para traçar o perfil dos jovens que se vendiam nos Setores de Diversões Sul e Norte. Os produtos à venda eram os mais diversificados possíveis, em todos os modelos e para todos os gostos. “O que conta na verdade é o físico avantajado, pessoas pequenas não têm valor na praça. Eles fazem um programa barato ou não ganham nada”, contou um garçom que trabalhava na Rodoviária. Os catarinenses vindos a Brasília para servir nas Forças Armadas eram os michês de maior valor. Os garotos de programa de 1984 costumavam vir das cidades-satélites, a maioria se prostituía apenas para ganhar dinheiro extra e escondia o ofício da família.
2
CAMPUS | Brasília, de 17 de abril a 23 de abril de 2012
colunista fictício Brasília completa 52 anos. Como a filha mimada do resto do país, vai ganhar a tradicional festa com ares megalomaníacos. É claro, com as excelentes condições de transporte e a saúde pública que está um primor, a organização de eventos deveria mesmo ser prioridade do governo do DF. Pelo menos, a Secretaria de Cultura oferece a oportunidade de artistas locais se apresentarem no palco da celebração. O objetivo, segundo o edital divulgado, seria “otimizar a democratização e a publicidade das contratações artísticas”. A pressa era grande: foram dados mirrados cinco dias para reunir toneladas de documentos. O prazo depois foi prorrogado. Entre os absurdos desse instrumento de “democracia”, está o veto à inscrição de artistas solos ou grupos com menos de quatro integrantes. Teatro, apresentações de circo e cultura popular? Só para o público infantil. Dança e cinema sequer são mencionados. E até quem acredita que o Brasil é um Estado laico precisa engolir a seleção obrigatória de sete grupos de música gospel. A população merece receber os grandes artistas nacionais, sim, mas era de se esperar que o governo se empenhasse mais em promover os talentos locais. Longe de ganhar uma grande fatia do bolo, no aniversário da cidade o artista brasiliense só consegue alguns farelos.
Editora-chefe Nathale Martins Secretária de Redação Isabella Tonhá Diretora de Arte Carolina Pereira Projeto Gráfico Carolina Pereira, Ellen Rocha, Luisa Bravo, Mariana Capelo, Patrick Cassimiro e Thiago Lima Jornalista José Luiz Silva Professores Sergio de Sá e Solano Nascimento ISSN 2237-1850 Brasília/DF - Campus Darcy Ribeiro Faculdade de Comunicação - ICC Ala Norte CEP 70.910-900 Telefones (61) 3107.6498/6501 E-mail campus@unb.br Gráfica Palavra Comunicação Tiragem 4 mil exemplares ACESSE O CAMPUS ONLINE WWW.FAC.UNB.BR/CAMPUSONLINE
Transparência
Os preparativos para o livre acesso à informação Na contagem regressiva, o Brasil se prepara para ser uma democracia com mais transparência. A dúvida é saber se os órgãos públicos vão se adequar até maio, quando termina o prazo reportagem | ANA PAULA LISBOA diagramação | CAROLINA PEREIRA edição | MARINA DUTRA
N
IMPROVISO Nem todos os ministérios estão em situação tão confortável. Enid Rocha, coordenadora do GT no Ministério do Planejamento, considera o tempo de aplicação muito curto, garante que o prazo será cumprido, mas admite: “Algumas coisas serão improvisadas no início, só com anos dá para acertar tudo”. Magda Fernanda Medeiros, do GT no Ministério da Justiça, também se queixa. “O prazo não é suficiente para classificação das informações.” A Controladoria-Geral da União (CGU) vai julgar pedidos de informação negados por órgãos públicos e deve garantir a aplicação da nova lei no governo federal. De acordo com a diretora de Prevenção à Corrupção da CGU ,Vânia Vieira, os estados e municípios têm auto-
nomia e devem editar regulamentação específica para cumprir a lei. Georgete Medleg, pós-doutora em Arquivologia e professora da Faculdade de Ciência da Informação da UnB, observa que uma falha da lei é não haver órgão independente para julgar as negativas de acesso – o que acontece no México, por exemplo. “A CGU não dará conta dessa tarefa devido à grande quantidade de atribuições que lhe cabe”, opina. OS BENEFICIADOS Os profissionais de arquivologia e da imprensa estão no foco das mudanças da nova regulamentação. Georgete Medleg prevê mais contratações de arquivistas. Embora o Brasil possua 16 cursos de Arquivologia em universidades públicas, a professora acha pouco. “Serão necessários mais profissionais e investimentos futuros para lidar com a massa documental acumulada e com os documentos sigilosos, que permanecem nebulosos, mesmo com a nova lei.” “Para jornalistas, a Lei de Acesso à Informação é uma ferramenta para apurar reportagens”, destaca Fernando Oliveira Paulino, professor da Faculdade de Comunicação da UnB e coordenador do Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas. Apesar de instituições como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) oferecerem cursos para lidar com a nova legislação, Paulino contesta a ideia de que a lei é mais importante para repórteres do que para outras pessoas. “A lei é necessária não só para atuação dos jornalistas. É essencial que os cursos de ensino fundamental, médio e superior estimulem os alunos a usarem documentos públicos.” Autor do primeiro projeto de lei sobre o livre acesso à informação, o deputado federal Reginaldo Lopes (PTMG) reclama da falta de divulgação de documentos
públicos: “Tem arquivo da ditadura ainda secreto. Com a lei, não vai dar para esconder falcatruas com sigilo”. A lei aprovada não é a proposta original do deputado, mas uma semelhante do Poder Executivo. Segundo a diretora de Prevenção à Corrupção da CGU, Vânia Vieira, na cultura do segredo o acesso a informações do Estado é visto como favor feito ao cidadão. “A corrupção prospera no segredo. Com transparência, as pessoas monitoram decisões do governo e diminui a corrupção”, explica Vânia.
Os exemplos
Início da vigência e características de leis de acesso à informação que serviram de referência para o Brasil 1766
Suécia
1966
Primeiro país a fazer marco legal sobre acesso a informações
Estados Unidos
30% dos pedidos de acesso à informação vêm do setor privado
1985
Colômbia
Pioneira na América do Sul, tem prazo de sigilo de até 30 anos
2002
México
Referência mundial. A supervisão é feita por organização independente
2009
Chile
Virou lei de apelo popular e recebeu mais de 53 mil pedidos em menos de dois anos PAULINA DANIEL
o Anexo 2 da Câmara dos Deputados, dentro de uma sala do subsolo, uma série de prateleiras está recebendo milhares de pastas com documentos que há décadas não eram mexidos. A meia luz, funcionários da Casa separam e classificam o material a espera de uma demanda que deve aumentar no próximo mês. A partir de 18 de maio, qualquer pessoa poderá solicitar documentos públicos graças à lei 12.527 - ou Lei de Acesso à Informação. A norma de novembro do ano passado prevê, além da difusão de informações solicitadas, a ampla divulgação de documentos em portais na internet. Pela lei, cada pedido de acesso deve ser respondido em até 20 dias e o sigilo passa a ser exceção. Foram seis meses para adaptação e agora os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), estados, municípios e organizações que recebem recursos públicos já serão cobrados. A mudança está em capacitar agentes públicos, vencer oposições da cultura do sigilo e desenvolver um governo transparente. O dirigente máximo de cada órgão público deve escolher o responsável por um grupo de trabalho (GT) para aplicação da nova lei. Na Câmara dos Deputados, o Centro de Documentação e Informação (Cedi), com direção de Adolfo Furtado, cuida do assunto. Para o diretor, a Câmara já era avançada em transparência antes da legislação ao publicar no site diversos documentos. “Será fácil adequar a Casa”, afirma Furtado. Jair Cardoso coordena a aplicação da lei na Câmara Legislativa do Distrito Federal. “O prazo é suficiente apenas para começar, os aperfeiçoamentos devem vir depois”, diz. Cardoso também participa do GT do Governo do Distrito Federal (GDF), cuja primeira reunião aconteceu apenas na semana passada. Na Universidade de Brasília (UnB), as ações começaram no dia 5 de abril e o GT é coordenado pelo chefe de gabinete da reitoria, Davi Diniz. Segundo ele, o prazo de seis meses não é curto. “Não é preciso terminar tudo em maio, é um processo sem começo e fim”, afirma Diniz. “A UnB sempre está no alvo da mídia e já é totalmente transparente, por isso, solicitações de documentos não devem aumentar.” No Ministério da Agricultura, Gustavo Filho coordena o GT. “Tudo está conforme a norma, até maio só vamos aperfeiçoar”, diz.
No depósito da Câmara dos Deputados, pilhas e mais pilhas de arquivos se acumulam desorganizadas e sem classificação apropriada. Alguns, não acessados há muito tempo, são desafios para quando vigorar a Lei de Acesso à Informação
CAMPUS | Brasília, de 17 de abril a 23 de abril de 2012
3
Prostituição
Copa 2014: o sexo entra em campo Garotas de programa se preparam para os clientes endinheirados durante o próximo mundial, enquanto autoridades se preocupam com o aumento da exploração de crianças e adolescentes reportagem | PALOMA SUERTEGARAY E ISABELA MAIA diagramação | CAROLINA PEREIRA edição | FABIANE GUIMARÃES
A
lexandra* trabalha como garota de programa no Setor Hoteleiro Norte e pretende fazer um curso de inglês antes da Copa de 2014, com a qual planeja multiplicar seus ganhos. “Quando você pega um turista inexperiente, tem que aproveitar e cobrar mais”, explica a prostituta, que já sonha com programas de US$ 200. Ao mesmo tempo, dentro de uma sala do Ministério do Turismo, um grupo de gestores esboça uma norma para proibir estrangeiros que se hospedarem em quartos de solteiro no Mundial de migrar para acomodações com cama de casal, tentando com isso restringir o esperado aumento na exploração sexual de crianças e adolescentes. As duas expectativas são justificáveis por estudos. De um lado, levantamento feito pelo Ministério do Turismo (MTur) estima que 600 mil estrangeiros virão ao país para o Mundial. Com base em dados registrados durante a Copa realizada na África do Sul, em 2010, a estimativa é que cada turista gaste, em média, R$ 11,4 mil no Brasil. Calcula-se, ainda, que mais de um milhão de brasileiros viajarão às 12 cidades-sede do evento. Rio de Janeiro receberá o maior número de turistas, seguido de São Paulo e, no terceiro lugar, Brasília. Em outro levantamento, o Grupo de Pesquisa sobre
Violência, Exploração Sexual e Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes (Violes), da Universidade de Brasília (UnB), mapeou as denúncias apuradas pelo Disque 100 – serviço oferecido pela Secretaria dos Direitos Humanos – entre 2005 e 2010. O estudo revelou que as 12 cidades-sede da Copa representam 72% do total de denúncias recebidas no período. Fortaleza lidera o ranking com mais de mil ocorrências. Verônica* desconhece esses números, mas espera que os negócios melhorem com a Copa de 2014. Garota de programa há cinco anos, ela faz ponto na quadra 315 da Asa Norte e tem as melhores previsões para a próxima edição do megaevento, que será sediado no Brasil: atender turistas e ganhar em dólares. Ela sequer pretende mudar seu ponto para um lugar mais próximo dos turistas durante o torneio. “Não precisa, os taxistas se encarregam de levar os clientes para os pontos. O único problema é que eles ficam com uma parte do pagamento”, explica. Ela acha que a situação vai melhorar para todo mundo, não só para as prostitutas. “É a globalização”, comenta, enquanto aguarda por algum trabalho em um sábado à noite. Alexandra endossa o raciocínio. “Se aumenta o movimento na cidade, aumentam os chamados dos clientes”, conta. “Ainda mais que gringos gostam de brasileiras.” A relação entre a Copa e prostituição não passa despercebida pelos governos e virou preocupação em outros países que sediaram o evento. A Alemanha, anfitriã do
Mundial de 2006, regulamentou a profissão de prostituta quatro anos antes, já de olho na Copa. As profissionais do sexo passaram a ter direitos como férias remuneradas e auxílio-saúde. Em todas as 12 cidades-sede, houve construção de bordéis, suítes especiais e até drive-ins próximos aos locais de jogos para garantir segurança de clientes e prostitutas. Na África do Sul, onde foi realizada a Copa de 2010, a discussão tomou um rumo diferente. O fato de o país ter o maior número de portadores de HIV do mundo pesou para que as autoridades tomassem medidas mais rígidas que as dos alemães. A prostituição não foi descriminalizada e o governo empenhou-se em retirar as prostitutas das ruas. Segundo a fundação francesa Scelle, que realiza pesquisas mundiais sobre exploração sexual, mendigos e garotas de programa eram levados para “abrigos” distantes dos centros urbanos durante o evento. No Brasil, uma das principais preocupações é evitar o aumento nos casos de prostituição forçada, especialmente de crianças e adolescentes. O MTur coordena desde 2004 o projeto Turismo Sustentável e Infância (TSI), que combate a exploração de menores no setor turístico. Adelino Silva Neto, coordenador do programa, afirma que o MTur tenta desvincular a imagem do país do turismo sexual. “O Brasil foi vendido como um destino para essa prática com a ideia da mulata, do carnaval. O ministério trabalha para evitar que o país seja promovido através de roteiros sexuais”, explica Silva Neto.
MARIANA CAPELO
Lei para elas,
Garota de programa aguarda clientes na 315 Norte. Durante a passagem dos jogos da Copa por Brasília, prostitutas esperam ganhar, em dólares, o dobro do valor normalmente cobrado.
4
CAMPUS | Brasília, de 17 de abril a 23 de abril de 2012
sim ou não?
Durante o Mundial de 2006, ONGs estimaram que cerca de 40 mil garotas desembarcariam na Alemanha para serem prostituídas à força, temor que não foi concretizado, segundo relatório publicado pela Organização Internacional das Migrações (OIM) naquele ano. A OIM concluiu que a regulamentação do ofício e as campanhas preventivas ao tráfico de seres humanos foram essenciais para impedir o aumento de prostitutas nas ruas. Na África do Sul, também houve pressão de vários setores da sociedade para que a profissão deixasse de ser criminalizada. Os partidários argumentaram que a legalização permitiria distribuir camisinhas para as garotas de programa e promover ações de proteção contra a Aids. Apesar de não ser considerada crime, no Brasil a prostituição ainda não é oficializada como empre-
Montagem sobre a tela Mademoiselle D’avignon, de Picasso, por MARIANA CAPELO
Mediante campanhas publicitárias, seminários, sensibilização de trabalhadores do turismo (taxistas e empregados de hotéis, por exemplo) e projetos de inclusão social, o TSI tenta combater a exploração de menores e incentivar as denúncias de violência sexual através do Disque 100. “Vamos intensificar as ações do dia a dia, especialmente nas 12 cidades-sede da Copa. Não vamos admitir exploração sexual no país”, afirma o coordenador. A prioridade da questão dos menores foi levantada na pesquisa realizada pelo grupo Violes. Os estudos não só constataram que as cidades-sede da Copa concentram a maior parte da incidência de exploração sexual de crianças e adolescentes, como também chamaram atenção para outros problemas. Foi observado um aumento significativo no registro da exploração nas proximidades de canteiros de obras. Melhorias em rodovias, aeroportos, sistemas de saneamento e transporte urbano estão diretamente relacionadas com as demandas de infraestrutura para a Copa. Segundo a pesquisa, a migração de trabalhadores para esses locais resulta em um ambiente propício para o aumento da prostituição. No final do ano passado, o Violes promoveu uma série de oficinas e discussões a fim de evitar a exploração de menores durante o Mundial. Segundo a coordenadora do grupo, Maria Lúcia Leal, o objetivo foi que jovens vítimas participassem das atividades e contribuíssem para elaborar medidas contra a prostituição infantil. “As condições sociais dos brasileiros são desiguais, não há perspectiva de crescimento a curto prazo, as políticas são fracas e tudo isso favorece a exploração de menores”, argumenta Maria Lúcia. “Esse ciclo apenas pode ser rompido com a conscientização e para isso crianças e adolescentes precisam fazer parte na construção de seus próprios direitos.” Ao longo do ciclo de oficinas organizado pelo Violes, foi estruturada uma lista de propostas que serão apresentadas em conferências e congressos até a Copa. Entre essas ideias destacam-se articular redes sociais que divulguem o combate à exploração e promover campanhas em escolas. Também foi planejado realizar, até 2014, capacitações destinadas a jovens vítimas de exploração. A finalidade é formar uma rede interestadual que se ocupe de criar outros projetos contra a prostituição infantil.
O grande fluxo de turistas estrangeiros pressupõe aumento da prostituição nas cidades-sede durante a Copa do Mundo de 2014. Especialistas se preparam com medidas para conter a exploração sexual de crianças e adolescentes.
Cidades-sede do Mundial
de registros de exploração sexual x Total de crianças e adolescentes
1.175
*Nomes fictícios
484
ão? go. A professora Maria Lúcia Leal acredita que com a regulamentação as prostitutas poderiam se organizar melhor, garantir direitos trabalhistas essenciais e ajudar no combate à exploração infantil. “Além do fato de que qualquer ato sexual com menores de 14 anos é considerado estupro, trabalho infantil também é crime. Ao reconhecer a prostituta como um sujeito de direitos que realiza uma atividade laboral formalizada, é possível estender o debate para a questão da criança e o adolescente”, defende. Para Adelino Silva Neto, coordenador do Turismo Sustentável e Infância (TSI), legitimar a prostituição não teria esse lado positivo. “Se regulamentar, pode ter o efeito contrário. Até porque o emprego alcança o menor aprendiz. Com 15 anos, adolescentes poderiam ‘experimentar’ a profissão”, explica.
1.142 Mais da metade dos 5.565 municípios brasileiros apresentaram registro de exploração sexual de menores, entre 2005 e 2010. Ao todo, foram contabilizadas 27.644 denúncias, distribuídas em 2.930 localidades. Cinco cidades-sede da Copa de 2014 ocupam os primeiros lugares do ranking de número de registros. Brasília está no 11º posto, com 353 denúncias.
São Paulo
675
888
Fortaleza
Recife
Salvador
Rio de Janeiro
Número de denúncias registradas pelo Disque 100, de 2005 a 2010. Fonte: Matriz Intersetorial de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, do grupo Violes.
CAMPUS | Brasília, de 17 de abril a 23 de abril de 2012
5
Educação PAULINA DANIEL
Livros sonegados aos leitores Ambientes de leitura de escolas públicas da Ceilândia, do Paranoá e da Estrutural estão desativados ou funcionam de forma parcial por falta de funcionários e espaço físico reportagem | MAÍRA NUNES diagramação | ELLEN ROCHA edição | LAÍSA QUEIROZ
PAULINA DANIEL
uem entra no Centro de Ensino Médio (CEM) 04 da Ceilândia vê à esquerda duas portas com a indicação de que ali é a biblioteca. Dentro da sala, em vez de jovens fascinados com aventuras alegres e romances trágicos, há 10 mil livros fechados, acumulando pó. É o oposto do que ocorria há oito anos, quando a biblioteca atendia os três turnos e era aberta à comunidade e aos ex-alunos. “Vivia lotada”, recorda o diretor, da escola, Nilson Magalhães. “Em período de encerramento de bimestre, próximo às provas, fechávamos para a comunidade porque os alunos enchiam o local.” A exemplo do que ocorre em outras regiões administrativas, a biblioteca do CEM 04 não está fechada por falta de livros, espaço ou leitores, e sim pela ausência de um profissional que possa trabalhar lá. Em algumas instituições, o espaço para leitura só é aberto em determinado
Letícia Marques, aluna do segundo ano do CEM 04, acredita que a biblioteca aberta atrairia os alunos para passarem mais tempo na escola, principalmente fora do turno das aulas
6
turno, sem estar disponível para todos os alunos. Alice Francisca, professora de História do CEM 04, defende que a importância de disponibilizar o acervo aos estudantes extrapola a questão da pesquisa e é complemento ao conteúdo escolar. “Eles precisam desse espaço de leitura, que acolha e incentive o hábito”, argumenta. Pabline Cavalcante, aluna do segundo ano do CEM 04, chega a ler cinco livros de uma só vez. Na lista estão desde clássicos, como Dom Casmurro, até a saga Crepúsculo. Quando perguntada sobre a falta da biblioteca, Pabline explica que recorre à internet e à biblioteca da Escola Técnica da Ceilândia, que fica a cinco minutos a pé do colégio. Letícia Marques, aluna do terceiro ano, também faz parte do grupo de leitores assíduos do centro de ensino. Letícia afirma que lê cerca de três livros por mês. “Quando quero ler outro livro, compro ou peço para minha irmã pegar na escola dela, o Centro de Ensino Fundamental (CEF) 07”, conta. O CEM 04 da Ceilândia funciona nos três turnos. Segundo Magalhães, a escola precisaria de quatro profissionais que cumprissem 40 horas na semana para manter a biblioteca em atividade. “São necessários pelo menos dois profissionais por turno, pois as escolas adotam esquema de escala”, explica. PROFESSOR TRANSFERIDO Assim como o CEM 04 da Ceilândia possui biblioteca com bom espaço físico e excelente acervo, o CEF 28 da Ceilândia tem uma sala de leitura sem uso por motivo semelhante. O vice-diretor, José Antônio, conta que quando uma das professoras da escola apresentou atestado médico de síndrome do pânico, em setembro do ano passado, ela foi transferida para a sala de leitura. “No início deste ano, estava prevista sua volta à sala de aula, porém ela apresentou outro atestado para se afastar da escola e, desde então, o espaço de leitura está desativado”, afirma. Na Estrutural, a falta de profissionais também prejudica o acesso dos alunos aos livros. Na CEF 01, a oportunidade de utilizar a sala de leitura da escola é privilégio apenas dos estudantes que podem frequentá-la no turno da manhã. O colégio oferece o curso regular nos três turnos e à noite possui também o Ensino de Jovens e Adultos (EJA), mas conta com apenas um responsável
CAMPUS | Brasília, de 17 de abril a 23 de abril de 2012
A biblioteca do CEM 04, na Ceilândia, não funciona há oito anos por falta de funcionário capacitado
pela sala de leitura. Em pior situação, encontra-se a CEF 02 da Estrutural, que também funciona nos três turnos e oferece o EJA, mas nem ambiente para leitura existe. OUTROS FATORES A falta de pessoal não é o único problema enfrentado dentro das bibliotecas escolares do DF. Há dez anos, a necessidade de mais espaço físico fez com que a sala de leitura do CEF Maria do Rosário, da Ceilândia, virasse sala de aula. No CEF 01 do Paranoá, a sala de leitura funciona de forma esporádica. Assim como na grande maioria das escolas públicas do DF, o profissional responsável pela biblioteca é um professor realocado por algum problema de saúde. A supervisora pedagógica do CEF 01, Thaís Nascimento, acredita que o importante seria contar com alguém de conhecimento específico dentro das bibliotecas para realizar um trabalho especializado com os alunos. Segundo a gerente de Bibliotecas e Vídeos da Secretaria de Educação do DF, Sônia Maria Soares, o órgão passa por um momento de reestruturação. Nesse processo, a gerente diz que a secretaria quer fazer concurso público para bibliotecários atuarem nas Regionais de Ensino do DF e criar um curso de formação para os professores readaptados. “A expectativa é de que os readaptados percebam a importância do trabalho que exercerão dentro das bibliotecas, com benefícios para toda a escola e, como consequência, que passem a valorizar mais o próprio trabalho e a faltar menos”, explica Sônia Maria.
MARIANA CAPELO
PÁGINAS DE RESISTÊNCIA Iniciativas baseadas na criatividade e no improviso ajudam a estimular a leitura e a reduzir os efeitos da escassez de bibliotecas públicas Mesmo diante de um contexto de baixa valorização da leitura, evidenciado em escolas e bibliotecas públicas do DF, as iniciativas de aproximar pessoas e livros aparecem espalhadas pela cidade e, muitas vezes, apresentam-se de forma criativa. Já imaginou reunir crianças de sete a oito anos numa noite regada a pipoca, fogueira e muitas histórias? Mais estranho ainda seria cogitar essa farra dentro de uma biblioteca. Pois é exatamente o que ocorre na Biblioteca Demonstrativa de Brasília. Ativa há 42 anos, a biblioteca localizada na 506 Sul mostra que também existem iniciativas de incentivo à leitura. A Noite Encantada é um projeto-piloto desenvolvido sob a ótica de um ambiente de leitura atrativo e aconchegante, que abre espaço para o lazer. Maria Dirce, bibliotecária da instituição, explica que a biblioteca possui o nome de demonstrativa porque sua função é aplicar e avaliar projetos desenvolvidos para ambientes de leitura, com o propósito de demonstrar o seu funcionamento para pessoas de todo o Brasil interessadas em implantá-los. “Recebemos pessoas de toda parte, de Manaus, do Acre. O último veio de Tocantins”, conta. Entre os projetos desenvolvidos na Biblioteca Demonstrativa estão a Terça Literária, a gibiteca, o sarau de contação de histórias e o grupo de atualização da mulher. O diferencial dessas iniciativas que buscam conquistar jovens leitores está na abertura que possuem para a experimentação. O T-Bone, açougue localizado na 312 Norte, ficou conhecido tanto por promover shows e apresentações gratuitas, quanto por ter um acervo de três mil livros que podem ser emprestados de graça. De
acordo com o dono do açougue, Luiz Amorim, não é necessário comprar carnes para pegar os livros. Além do amor pela leitura, as duas iniciativas têm em comum a simpatia da comunidade brasiliense, que frequenta os estabelecimentos e colabora com doações. Segundo a bibliotecária Maria Dirce, a Biblioteca Demonstrativa recebe doação todos os dias. Lá acontece o trabalho de selecionar o que irá para o acervo e o que será reencaminhado para outras bibliotecas do DF. Sabrina Veras, estudante do 2º ano do Elefante Branco, prefere a Biblioteca Demonstrativa à biblioteca do colégio. Ela argumenta que sua preferência é pelo local mais silencioso e por mais opções de livros. Sabrina diz ter sido inserida na leitura por influência do pai e dos amigos: “Meu pai vendia livros, então lia o que ele trazia de novidade”. Vitor Delmondes, também estudante do 2º ano do Elefante Branco, frequenta a biblioteca quase todos os dias para estudar. “Qualquer barulho já me distrai e aqui na biblioteca as salas são silenciosas e consigo me concentrar”, afirma o rapaz, que lê de três a quatro livros por mês. Hoje, o acervo da Demonstrativa é de 120 mil livros. São 45 mil usuários que movimentam em média 4.500 livros por mês em empréstimos. Para a bibliotecária Maria Dirce, a leitura, quando se torna um hábito, enriquece a aprendizagem, aumenta o vocabulário e amplia horizontes. Segundo o último censo divulgado pelo IBGE, em 2010, o Brasil tem 14,1 milhões de analfabetos (9,7% da população). Mesmo entre os alfabetizados, o hábito da leitura não é difundido. Quem cultiva essa prática, depara-se com o alto preço dos livros.
Parte dos livros recolhidos pelo T-Bone são distribuídos em paradas de ônibus da capital e são acessíveis a qualquer pessoa que passe por ali
No CEM 04 da Ceilândia, aquele que fechou a biblioteca há oito anos, a professora de História, Alice Francisca, e a de Geografia, Waldimara Simões, bolaram um paliativo. No ano passado criaram um grupo de e-mail em que os participantes, entre professores e alunos, disponibilizam uma lista dos livros que possuem, depois emprestam o material uns aos outros. “É uma espécie de acervo comunitário”, conta Alice. MARIANA CAPELO
O açougue cultural T-Bone deixa alguns livros expostos no balcão. O restante do acervo fica nos fundos do estabelecimento
CAMPUS | Brasília, de 17 de abril a 23 de abril de 2012
7
1. PAULINA DANIEL
perfil: BANCA
2. PAULINA DANIEL
da COLINA reportagem | LAURA VERIDIANA diagramação | ELLEN ROCHA edição | LAÍSA QUEIROZ
A banca e a mulher da banca
T
odo mundo conhece a banca. E a mulher da banca. Francisca Carvalho, fortalezense de 49 anos, é dona de bancas de jornal há 29 e está há 23 trabalhando com a família na Colina, conjunto habitacional de professores e servidores da UnB. Aberta das 6h30 da manhã às 21h, a Banca da Colina já está tão inserida no cotidiano da comunidade que não dá mais pra imaginar uma sem a outra. Como é o único comércio do local, a Banca da Colina vende quase de tudo. De perfume e absorvente a açúcar e farinha de trigo. A água de coco é a melhor da cidade, segundo estudantes que vêm lá do Lago Norte se refrescar. O refrigerante de dois litros já acompanhou vários bolos de aniversário. A cervejinha salvava os moradores da Lei Seca (lei que proíbe a condução de veículos para quem ingere bebida alcoólica em quantidade superior a 0,2g/litro de sangue), que podiam beber no quintal de casa ao invés de pegar o carro e se arriscar em bares mais distantes. De cigarro, são R$ 5 mil em vendas por semana. Francisca não lembra o nome do comprador, mas lembra a marca do cigarro que ele fuma. Uma vez foi assaltada por um estudante que já havia passado pela banca. “Ele levou o dinheiro e ainda me pediu um cigarro. Quase dei o Marlboro que ele tinha comprado da última vez.” Com micro-ondas para esquentar a marmita dos estudantes que passam o dia na Universidade, banheiro, televisão, sombra, água fresca e vista pro Lago Paranoá, a
Banca da Colina é quase uma segunda casa para os moradores e um refúgio para alunos e professores que querem sair do concreto. Há alguns anos, o professor Lacê Medeiros Breyer, do Departamento de Botânica da UnB e morador da Colina, trouxe a mesa redonda de madeira. E 40 alunos. A “aula do Lacê” acontecia toda quarta à tarde e tinha gente de outros departamentos que vinha assistir. “A disciplina se chamava Botânica Econômica e era optativa. Na época, me deram uma sala horrorosa no subsolo, onde hoje é o chamado corredor da morte. Não havia condições de dar aula lá, muito menos de botânica. Tive um surto psicótico e fui procurar uma sombra. Achamos no pé de jaca da Colina.” A disciplina, que foi apelidada de Boteco pelo clima informal da aula, não é mais ofertada. Mas as mesas da banca ainda recebem orientação de mestrado, grupos de estudos, poetas procurando inspiração e os nada acadêmicos campeonatos de truco. Até palco de disputa eleitoral a banca já foi. Muitos dos candidatos à reitoria da UnB passaram por lá, em campanha. Segundo Francisca, com exceção do atual reitor, José Geraldo, os demais reitores eleitos anteriormente podem ter conquistado um par de votos nos simpáticos churrascos oferecidos a professores e servidores na Banca da Colina. O candidato trazia a carne. Francisca vendia a cervejinha. E todo mundo ficava feliz. Agora é que os moradores da Colina estão um tantinho menos felizes. Foi no mandato do reitor que não deu
“É um refúgio aos estudantes e professores que querem sair do concreto” 1. A frente da banca, que Francisca disputou com outras 25 pessoas quando a UnB abriu licitação para dois pontos de comércio na Colina 2. Francisca, a dona da banca, que se reveza em turnos com o marido e o filho. Quando sai de lá, vai direto pra academia. “Perguntam como eu aguento.” 3. Colina, conjunto de apartamentos funcionais para professores e servidores, idealizada pelo arquiteto João Figueiras Lima (o Lelé) e construída em 1962, dentro da área da própria Universidade
3. PAULINA DANIEL
8
churrasco que a UnB proibiu a venda da cervejinha na banca. As duas churrasqueiras estão lá, pra quem quiser usar, mas agora falta um incentivozinho para os tradicionais churrascos dos moradores no final de semana. Quem não liga nada são as crianças, responsáveis pelo segundo item mais vendido na banca. Depois do cigarro, vem o Baballoo, comprado ao som dos gritinhos de “Tia Fran” e no embalo da Sessão da Tarde, sempre passando na televisão da banca. Francisca diz que trabalhar em banca é ser um pouco de tudo: mãe, psicóloga, conselheira. Aprendeu que o mais importante é tratar todo mundo bem, que tem muito negócio fechando as portas por falta de simpatia. Francisca cresceu no comércio. Em Fortaleza, a mãe já teve mercearia, banca e boutique. Francisca passou a juventude fazendo contas e sempre tirava boas notas em matemática e na faculdade de medicina. Veio pra Brasília meio sem querer, ajudar familiares que passavam por problemas e acabou ficando, gostando. Os filhos se criaram no mesmo ambiente, entre revistas e de olho no caixa. Por causa do comércio, também já foi enganada, perdeu dinheiro e uma banca na 107 Norte. Batalhou muito pra chegar onde está e promete não sair. “Que é isto? Da minha banca eu vejo o Lago!”
CAMPUS | Brasília, de 17 de abril a 23 de abril de 2012