Campus nº 449, ano 49

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BRASÍLIA, JUNHO 2019

Tribos em rede Indígenas usam plataformas digitais para difundir cultura

C AMPUS

NÚMERO 449, ANO 49


CAMPUS, ABRIL 2019 CAMPUS, JUNHO DE 2019

CARTA AO LEITOR

EXPEDIENTE

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debate envolvendo a interação de povos indígenas com a tecnologia é um tema recorrente em nossa sociedade. Na segunda edição de 2019 do Campus, a reportagem de capa, Indígenas conectados, apresenta conteúdos midiáticos produzidos pelos próprios indígenas em diversas plataformas como rádiosweb, redes sociais e Youtube. Na UnB, tecnologia também é assunto, por meio da invenção do primeiro Drone-gandula do Brasil.

Mais uma vez, as mulheres ganham posição de destaque no Campus. Em Mulheres do Vale, moradoras do Vale do Amanhecer unem suas profissões ao misticismo religioso presente na região. No esporte, atletas brasilienses são destaque no cenário de uma nova modalidade olímpica. O universo do comércio de marmitas na Universidade de Brasília é detalhado em Cotidiano das marmitas. Na torre de TV, a gastronomia se junta a apresentações musicais, festas e exposições.

OMBUDSKVINNA*

Thallita Alves

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PROFESSORES Sérgio de Sá Solano Nascimento JORNALISTA José Luiz Silva EDITOR CHEFE Luiz Philippe Tassy EDITORES Juliana Soares Sarah Paes REPORTAGEM Jamile Vasconcelos João Romariz Lorena Costa Thais Umbelino Úrsula Barbosa Rodrigues Vinícius Veloso

*A “provedora de justiça”, profissional que discute a produção dos jornalistas pela perspectiva do leitor.

om uma temática forte e cada vez mais relevante, a edição 448 do Campus acertou em cheio com a capa e o título Mulheres também choram relacionando o gênero musical choro à desigualdade de gênero que afasta e machuca diversas mulheres, seja no âmbito profissional ou acadêmico. É importante destacar a memória da edição de novembro de 1980 que evidencia o cuidado do Campus com as pautas sobre igualdade e a participação mais plural no mercado de trabalho. Educação, saúde, igualdade de gênero e sustentabilidade são os assuntos centrais do jornal com a novidade da matéria Automação nos ares, que traz um olhar atento à tecnologia e segurança. Outro assunto relevante na edição é o acompanhamento de decisões legislativas que impactam na questão ambiental e propõem novos hábitos de vida e novos modelos de negócio. Automação nos ares é um tema novo, aborda um assunto pouco explicado ao mesmo tempo em que desperta o debate sobre a relação humana com as tecnologias, a importância, o papel e os limites da automação tecnológica. É uma matéria bem construída, com as principais fontes sobre o assunto e valeria ser descrita com mais detalhes visuais, por exemplo, a visualização cronológica das evoluções da automação nos ares. A matéria central Espaço aberto para mulheres é bem composta e descrita, a contextualização

CAMPUS Jornal-laboratório Departamento de Jornalismo (JOR) Faculdade de Comunicação (FAC) Universidade de Brasília (UnB)

feita com os dois boxes de informação torna o conteúdo mais rico. As imagens utilizadas são bem representativas e identificam a atuação das musicistas em Brasília. A reportagem dialoga com o público e desperta o interesse por conhecer de perto a música e as aulas de choro. Português para todos retrata um olhar mais próximo e cuidadoso com os outros, tem muita relevância ao tratar de educação e apoio humanitário para pessoas que chegaram ao Brasil em busca de abrigo. A reportagem coloca em destaque o valor da educação para emancipação e dignidade dos imigrantes. Tem um começo bem descritivo que leva o leitor à ação, e aos poucos vai perdendo a intensidade nas descrições, o que não elimina a qualidade da produção, mas tira um pouco do envolvimento inicial com a matéria. Em Educação como terapia percebemos ações valiosas entre saúde e educação. A integração entre essas duas necessidades humanas tem grande valor-notícia, mas a matéria apresenta falhas no processo de revisão e alguns deslizes quanto à digitação. Alternativa sustentável é uma pauta bastante factual, destaca um movimento de reeducação quanto ao uso de canudos e uma nova vertente de negócio para a comercialização de canudos reutilizáveis. Tem uma boa apuração, com diversidade de fontes, retrata as novas posturas das empresas para se adaptarem à lei, mas poderia buscar também a atuação de outros comerciantes nas cidades-satélites.

DIAGRAMAÇÃO Victor Farias IMPRESSÃO Gráfica Coronário TIRAGEM 3.000 CONTATO nascimento@unb.br Esquecemos de creditar a Ombudskvinna da edição 448 do Campus. A coluna é de autoria de Thallita Alves.

CAPA

FOTO: Sarah Paes

MEMÓRIA

N

o início da década de 1990, o Campus contou a história da burocracia envolvendo a Universidade de Brasília e uma possível parceria com a administração do Parque Xingu. À época, a intenção era uma proposta com ampliação das áreas de conhecimento e estudos para as duas instituições. Com proximidade física e ideológica, a UnB se pronunciou como interessada. Entretanto, o Xingu afirmou não ter recebido nenhuma proposta oficial sobre o intercâmbio universitário para estudo de áreas humanas e biológicoas nas terras do parque indígena. Em tom crítico, a edição noticiou que os principais entraves foram a falta de comunicação entre a Coordenação de Intercâmbios e Programas Internacionais (CIP) e administração Xingu, os desentendimentos entre membros da Funai e pesquisadores universitários e a falta de captação de recursos - financeiros, técnicos e humanos. Nesta edição do Campus, os indígenas aparecem com autonomia na criação e produção de mídias e divulgação de sua cultura.

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Economia

Cotidiano das marmitas Na UnB, vendedores de refeições chamam atenção pela quantidade, variedade e número de compradores ÚRSULA BARBOSA RODRIGUES

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entre os ICCs Centro e Sul, desde o final de ão no mínimo sete os locais em que do mesmo vendedor. “Acho que é confiável fevereiro. O negócio do primo também disé possível encontrar vendedores de se a pessoa tá no campus todo dia vendentribui quentinhas em obras. marmitas pelo Campus Darcy Ribeiro do e tem uma consistência de cardápio e O vendedor Adelson Viegas, funcionário da Universidade de Brasília (UnB). Pessoas organização”, diz. da rede Tudibom, recebe R$ 50 por dia. A que transitam pela Universidade todos os cozinha funciona em Sobradinho e os vendias, como o estudante do curso de CiênCOMIDA CASEIRA? dedores distribuem as marmitas no ICC. cias Contábeis Kevin dos Santos, percebeEntre as opções de cardápio, os marmiteiViegas diz que a patroa emprega mais cinram o crescimento desse tipo de comércio ros oferecem estrogonofe, filé à parmegiaco pessoas. “A gente ajuda os alunos com informal. “Do ano passado pra cá notei que na, churrasco, comida vegana e até sushi. a quantidade diversificada de comidas. aumentou bastante a oferta. As marmitas Para chamar a clientela, vendedores distriVocê pode ver, aqui no Ceubinho hoje tem são uma opção de variedade para quem albuem um cartão fidelidade, que premia o mais de 10 pessoas vendendo e distribuinmoça todos os dias na Universidade”, obserconsumidor assíduo com uma refeição grádo marmita. Então é uma variedade muito va o estudante. tis. Aline Menezes começou a vender margrande de comida a um preço justo”, ressalComerciantes que alugam espaços na mitas veganas no Ceubinho este semestre. ta Viegas. UnB, entretanto, se sentem prejudicados Ex-aluna da UnB, ela revela faturar até R$ 3 Lauriete Pereira é proprietária da marca com a concorrência. As entradas dos princimil por mês. Menezes é dona, cozinheira e Sabor de Brasília há sete anos. Ela lucra enpais prédios da UnB recebem cada vez mais vendedora do empreendimento. tre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil por semana, valor as quentinhas prontas para serem vendidas. “Eu trabalhava e perdi o emprego. Era total depois de pagar os 10 funcionários O ponto mais movimentado fica na entrada gerente de loja há nove anos e saí sem ree as despesas do empreendimento. A sua conhecida como Ceubinho, entre as partes ceber nada da empresa”, explica Lucineide marmita pode ser encontrada nas saídas sul Norte e Centro do Instituto Central de CiênFerreira Rodrigues. Desde o início de 2018, e norte do ICC e na FT. “A cozinha industrial cias (ICC), o Minhocão. No local, em uma sea microempreendedora vende sua “marmiestá aberta em Sobradinho, gunda-feira na hora do almoço, Crédito: Sarah Paes nós funcionamos também no foram contabilizados pelo CamiFood e distribuímos marmitas pus 15 vendedores diferentes. em outros lugares”, diz Pereira. Como medida para competir Os comerciantes encaram com o novo mercado, proprieo RU como um concorrente. tários do Caloria Certa, Frangão Lucas de Sena, um dos donos e Faculdade do Lanche, lanchoda rede que vende refeições netes fixas do campus, abriram na Faculdade de Tecnologia tendas que servem refeição por (FT), acompanha a publicação menor valor. Segundo Felipe Jasemanal do cardápio do RU ber, dono do Caloria Certa, os copara que os cozinheiros que merciantes, que pagam R$ 4 mil ele emprega possam fazer uma de aluguel, perderam público comida diferente: “Se o RU serconsumidor para os vendedores ve frango assado, eu não vou de marmitas. “É uma concorrênfazer frango assado”, explica. cia desleal, todo mundo está Sena possui mais de cinco isocomendo lá. Para quem vem de pores distribuídos pela UnB. fora é muito bom, só está aqui na Segundo dados da admiépoca boa. A gente é diferente, nistração do RU, depois do autem que se sustentar como comento de R$ 2,50 para R$ 5,20, merciante e tem que enfrentar em 2018, os pedidos de isenférias, greve, o que vier pela fren- Lucineide Ferreira Rodrigues vende as marmitas que prepara em casa com a ajuda do filho João Paulo ção por renda aumentaram em te”, relata Jaber, locador de um 10%. Além disso, o número total de refeiespaço no Amarelinho Norte, outro dentro ta de casa” na saída do Ceubinho, com a ajuções do RU no campus Darcy Ribeiro dimido Ceubinho e dono de um ponto de venda da de seus dois filhos. Rodrigues diz que o nuiu. No comparativo do mês de abril entre de churrasquinho. aumento da concorrência não a fez perder os anos 2018 e 2019, foram vendidas 22.421 Os preços das marmitas variam entre R$ clientela porque desde o início conquistou refeições a menos que no ano anterior. 5 e R$ 12. Trabalhadores autônomos cocompradores fiéis. Cristiane Costa, diretora do RU, explica meçaram seus negócios por causa da crise. Refeições caseiras como as de Lucineide que o restaurante trabalha com oferta e Uartro Barbosa da Silva resolveu trabalhar se dividem com as de profissionais expedemanda, de modo que a perda de clientes na UnB, acompanhado da mulher, na pririentes no ramo. Muitos dos marmiteiros para o comércio externo não afeta diretameira quinzena de março. A família traz fazem parte de uma rede maior de comérmente o cotidiano do refeitório. Ela afirma seu isopor do Sol Nascente, na Ceilândia, cio, ou seja, por trás daquele vendedor, que ser importante que haja mais universitáe monta a estrutura perto dos pavilhões. A atende o público e distribui as marmitas, rios subsidiados pelo auxílio estudantil. De marmita deles custa R$ 5, mais barata que o existe o dono do empreendimento que acordo com Cristiane, houve redução dos valor do Restaurante Universitário (RU), que investe e contrata funcionários para opesubsídios de recursos próprios da UnB, mas atualmente é de R$ 5,20. rarem o negócio na cozinha, muitas vezes aumento no valor pago pelo Programa NaQuando não traz a comida de casa, a esindustrial, e na rua, estabelecendo até redes cional de Alimentação Escolar (Pnae). “Isso tudante Ingrid Lima Ferrari costuma comde distribuição. Formada em Direito, Daiane quer dizer que a gente está atendendo prar uma marmita no valor de R$ 10. “Eu Cristine Silva, conhecida como Mineirinha, quem realmente precisa, que são os estuacho que o custo-benefício do RU não vale aceitou o convite para trabalhar com o pridantes com renda per capita de até 1,5 saláa pena”, afirma a aluna. O estudante Fredemo porque estava desempregada. Mineiririos mínimos”, explica. C rico Beskow compra as quentinhas sempre nha vende marmitas na saída do Udefinho,

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Sociedade

Mulheres do Vale Trabalhadoras compartilham religião e luta contra estigmas machistas LORENA COSTA

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ulher que foge do padrão patriarcal, a mecânica Kleine A missão do grupo é voltada aos trabalhos de assistência social Vitória Fagundes, 34 anos, transformou sua vida numa àqueles que chegam ao Vale. “Buscamos fornecer o necessário suporte material ao atendimento espiritual, oferecendo alojamissão espiritual com o objetivo de amparar os desamento, alimentação e até o atendimento médico”, explica. Ela fortunados. Em busca por autoconhecimento, desde 2014 ela hoje se dedica a transmitir os ensinamentos de Tia Neiva com riintegra a “Doutrina do Amanhecer”, sistema religioso a que se queza de detalhes. “Ela dizia que as pessoas costumam não gosrefere como “ciência do espírito”. “Conheci a filosofia de Tia Neitar de ‘macumbeiros’ nem de mulheres independentes. Neiva era va aos 15 anos, por meio da minha avó, que era médium. Assim ousada, guerreira, uma líder natural. É nisso que as jovens se inscomo a Tia Neiva, a minha avó era uma mulher independente piram quando chegam aqui. As mulheres do Vale do Amanhecer que criou a mim e a meus irmãos sozinha logo após a nossa são naturalmente rainhas. Os homens, apenas consortes”, brinca. mãe ter morrido depois de dar à luz. Suas atitudes ecoavam feJanaína Peres da Silva, 38 anos, é eletricista. Aprendeu a prominismo e religiosidade e é nela em que me espelho”, expõe. fissão por meio de livros e manuais que encontrava na biblioteca A mecânica é apenas uma entre os cerca de 40 mil habitantes, da cidade de Porangatu (GO). Ela perdeu os segundo dados de 2014 da Secretaria pais quando tinha 17 anos e precisou se Crédito: Lorena Costa de Estado e Desenvolvimento Urbavirar para sustentar os outros três irmãos. no e Habitação (SEDUH), que ocupam Janaína chegou ao Vale em 2003 à procura o Vale do Amanhecer, localizado em de auxílio material e espiritual. “Tia Neiva Planaltina (DF), a 50 km de Brasília. É era uma mulher talentosa e independenno tocante à independência feminina te. Ela fundou o Vale e dedicou sua vida à que a história dela se entrelaça com a ajuda ao próximo. Tento ser como ela em da frentista Maria dos Anjos, 51 anos. tudo que faço na vida. Minha profissão é Criada em meio a uma cultura mameu orgulho e a desempenho muito bem.” chista, no interior da Bahia, Maria relata ter sofrido agressões físicas. COSTUMES Após inúmeros episódios de abuso, O Vale do Amanhecer abriga um comela decidiu fugir. “Conheci a doutrina plexo construído em espaço aberto, chaquando vim para Brasília com meus mado Solar dos Médiuns, composto pela dois filhos pequenos. Fui recebida Estrela Candente, a Pirâmide e o Lago de por um grupo de mulheres que se Yemanjá. Além dos espaços religiosos, a chamavam Samaritanas. Elas me encidade conta com três escolas, posto de sinaram tudo sobre a vida material e saúde, restaurantes, padarias, supermerespiritual. Hoje sou uma delas”, diz. cados e uma livraria especializada em traFundado por Neiva Chaves Zelaya, balhos religiosos e espiritualistas. uma mulher semianalfabeta e norA doutrina prega um sincretismo comdestina, o sistema de fé chamado plexo com elementos do cristianismo, do “Doutrina do Amanhecer” nasceu no xamanismo, do espiritismo, das religiões Planalto Central no final da década afro-brasileiras, da crença em discos voade 1960, com fundamentos místicos, dores e das antigas crenças egípcias. Dois filosóficos e científicos. A doutrina tipos de pessoas frequentam o Vale do se expandiu por diversas regiões do Amanhecer: médiuns e visitantes (tampaís e em sete países do mundo com bém chamados de pacientes). Os mécerca de setecentos templos. diuns são divididos em dois grupos básiViúva aos 21 anos e com quatro cos: aparás (médiuns de incorporação) e filhos para criar, Neiva trabalhou doutrinadores (médiuns que ensinam e como fotógrafa, costureira, agriculelevam os espíritos). tora e, por fim, aprendeu a dirigir e Os médiuns usam vestes especiais com se tornou a primeira motorista procores brilhantes. A sorridente artesã MarVestes coloridas são usadas por médiuns, como Marluce Souza fissional do Brasil. Tia Neiva morreu luce Souza, 44, está na doutrina há 10 anos e caminha pelas proximidades do templo no dia 15 de novembro de 1985 em contando que, apesar de seu uniforme fazer decorrência de um enfisema pulmonar. ela se sentir uma princesa, as indumentárias estão longe de ser Para Jairo Zelaya, trino regente do Vale e neto de Tia Neiva, a meras fantasias. “Essas roupas sempre despertam a curiosidade religião ensina que homens e mulheres são complementares, das pessoas que desconhecem a nossa doutrina, mas cada uma mas que as mulheres dominam em quase todos os espaços: delas tem um significado, uma grande importância”, afirma. “Os homens são ligados à matéria. Por isso, eles lidam com As indumentárias dos médiuns do amanhecer são coloridas as organizações gerais do templo. Já as mulheres são o pore cheias de símbolos. O estilo de cada uma depende da falantal para o mundo espiritual. Incontáveis trabalhos daqui do ge, do nível hierárquico e do tipo de mediunidade do adepto. templo não podem ser realizados se não houver uma mulher As cores também correspondem a vibrações energéticas, o que presente. Existem 22 falanges, que são grupos com missões colabora nos diversos trabalhos espirituais realizados no Vale. humanitárias e espirituais e, deles, apenas dois são dedicados Apesar dos ensinamentos de Tia Neiva serem contrários à exclusivamente aos homens”. vaidade, Marluce não abre mão de estar sempre bela quando Segundo Jairo, entre três e quatro mil pessoas visitam o Vale vai trabalhar espiritualmente. “Tive muitos relacionamentos do Amanhecer todas as semanas em busca de ajuda para seus abusivos e convivi com muitas pessoas tóxicas quando era mais problemas espirituais ou pessoais. “Alguns dias aparecem mais nova. Acabei tendo vergonha da minha aparência, mesmo não pessoas, outros dias bem menos. “Não temos dados oficiais, tendo nada de errado comigo. Quando estou com essas roupas, mas por observação, a maior parte dos visitantes também são de mulheres”. sou uma mulher muito mais confiante e feliz, e isso melhora Yone Turial de Almeida, 92, é a líder da falange Tupinambá. meu desempenho na religião e na vida”, explica. C

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Mídia

Indígenas conectados Rádioweb, YouTube e Facebook são alternativas para divulgação de suas lutas, direitos e culturas THAÍS UMBELINO Crédito: Sarah Paes

Cinegrafista indígena registra passeata no Acampamento Terra Livre de 2019

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nternet, um aparelho eletrônico e dez comunicadores indígenas de etnias diferentes conectados em chamada de vídeo. Assim começa a reunião na redação on-line Mídia Índia para discutir os assuntos que serão abordados na semana seguinte. A iniciativa tem um diferencial: os próprios indígenas escrevem e divulgam notícias sobre sua cultura e costumes. Mergulhando na rede digital é possível encontrar outras plataformas produzidas exclusivamente por indígenas como a radioweb Yandê e o canal do youtuber Cristian Wariu. As iniciativas refletem a luta pelos direitos, o fortalecimento e a divulgação da cultura indígena. A Mídia Índia é uma iniciativa voluntária idealizada pelo jornalista Erisvan Bone e por outros jovens indígenas do povo guajajara, do estado do Maranhão. O grupo começou a fazer registros curiosos a partir de uma capacitação pelo projeto Coisa de Índio, que oferece formação em comunicação audiovisual para jovens indígenas. Com as oficinas de texto, fotografia, vídeo e zine eles produziram diversos materiais com seus pontos de vistas pessoais sobre a cultura guajajara. Os produtos finais foram apresentados no Acampamento Terra Livre de 2017, e a partir daí Bone decidiu alcançar um público maior por meio das redes sociais. “Vi a necessidade de dar um retorno para a minha comunidade”, diz. No ar desde 2017, pelo Instagram e Facebook, a cobertura é realizada a partir de um planejamento semanal. Por um grupo no Telegram, serviço de mensagens instantâneas, os participantes enviam as pautas apuradas e decidem quando e por qual plataforma os textos, vídeos e fotos serão publicados. Ao todo, as redes sociais

do veículo somam 48.347 seguidores. Sem calcular a quantidade exata, Erisvan diz que o público é variado: o número de seguidores indígenas é quase igual ao de ativistas e artistas que acompanham as páginas. Maykon Krikati (foto de capa), estudante de Ciências Biológicas na Universidade Federal de Goiás (UFG) é um colaborador do canal. Ele compartilha com a Mídia Índia fotos cotidianas de sua cultura em uma pasta no Google Drive. “Comprei minha câmera parcelada em dez vezes e comecei a praticar fotografia”, conta. No país, 896 mil pessoas se declaram indígenas, segundo o último Censo realizado pelo IBGE (2010). De acordo com a pesquisa, foram identificadas 305 etnias e reconhecidas 274 línguas. Dos indígenas com cinco anos ou mais, 76,9% falavam português. A região Norte concentra o maior número de indígenas, e o menor está na região Sul. Do total de indígenas no país, 503 mil vivem na zona rural. O antropólogo e especialista em política pública para direitos indígenas Eduardo Barnes acredita que desde Mário Juruna – deputado federal xavante que foi eleito em 1982 e usava um gravador para registrar o que era combinado no Congresso – os indígenas começaram a buscar estratégias de comunicação para fazer registros, se manifestar e se expressar. Barnes acredita que a internet é importante para os povos indígenas. “Hoje em dia eu posso ter acesso a canto, danças e mídias de todos esses povos.” As coberturas realizadas pela Mídia Índia são levadas para povos que não têm acesso à internet. “Levamos um datashow e um telão e mostramos para essas comunidades o que produzimos”, diz Erisvan Bone. “A ideia é contar a história como ela seria contada pela aldeia.”

VÍDEOS DIDÁTICOS Essa foi a proposta do youtuber Cristian Wariu, natural de Campinápolis (MT) e xavante de ascendência guarani. Ele tem mais de 16 mil inscritos no seu canal. “Quero trazer para a internet parte da cultura indígena contemporânea.” Em seu apartamento, o youtuber produz vídeos em que fala de maneira didática e simples em frente a sua câmera sobre o que é ser indígena no século XXI. Trata de temas como indígenas na universidade e salários para indígenas. Com cortes secos e música ao fundo, Wariu abusa do design gráfico e de imagens – muitas vezes registradas por ele – das aldeias. “Hoje a tecnologia, principalmente a da informação, não está tirando a nossa cultura como muitas pessoas acreditam. Pelo contrário, ela vem sendo uma grande ferramenta, para que nós, indígenas, possamos mostrar nossa realidade, que antes era totalmente omitida do Brasil, para compartilharmos o nosso lado da história”, explica. Estudante de Comunicação Organizacional na Universidade de Brasília (UnB), Wariu atua na área de comunicação da Federação dos Povos Indígenas do Mato Grosso, para a qual já produziu vídeos das 43 comunidades do estado. Ele percebe que os povos indígenas se sentem mais confortáveis e seguros quando veem um indígena atrás da câmera. “Às vezes, para conseguir a melhor foto, os fotógrafos não-indígenas não respeitam certos limites”, comenta. ETNOMÍDIA A Rádio Yandê foi criada em 2013 por três indígenas: Anápuáka Tupinambá, formado em Gestão em Marketing, a jornalista Renata Tupinambá e o publicitário Denílson Baniwa. Na programação online 24 horas por dia, há músicas, entrevistas, poesia, depoimentos, mensagens e debates. Com sede no Rio de Janeiro, a Yandê surgiu, de acordo com Anápuáka, pela necessidade da representação midiática dos povos indígenas. A Rádio Yandê é a primeira rádio online brasileira que trabalha com o conceito de comunicação chamado etnomídia indígena. “A gente não é mídia alternativa, a gente não é comunitária, somos mídia representativa dos povos indígenas”, diz Anápuáka. A programação da radioweb é construída colaborativamente. Os conteúdos, enviados por qualquer indígena ou não-indígena, vão para o site após passar por uma avaliação de qualidade e autoria. O material chega via redes sociais, email e sistema de transferências. Boa parte já vem montada ou pré-montada, e a equipe da radioweb faz os ajustes e coloca o formato de narrativa. Anápuáka diz que a Yandê já chega a 80 países, dois milhões de ouvintes e recebe colaboração de outras regiões do mundo. C

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Tecnologia

Drone-gandula O mecanismo tem como função buscar bolas durante partidas de vôlei de praia do Circuito Brasileiro Open JAMILE VASCONCELOS

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drone é uma das tecnologias que mais vêm chamando atenção nos últimos anos. Similar a um brinquedo robótico orientado por controle remoto, o dispositivo atrai interesse por suas funcionalidades extras. A mais conhecida é quando ele possui uma câmera acoplada em sua estrutura, podendo ser utilizado para gravação de imagens e vídeos. Entretanto, não é apenas para a fotografia e para o audiovisual que o objeto pode apresentar utilidades. Nos últimos quatro meses, o estudante de Engenharia Mecatrônica da UnB Alex Paschoaletto vem realizando um projeto inusitado: a construção de um drone-gandula. O projeto, que consiste na impressão 3D de uma garra a ser acoplada a um drone, foi desenvolvido em função de um trabalho da Mecajun, empresa júnior do curso, onde Alex trabalha como diretor de Desenvolvimento de Negócios. A ideia do projeto veio do fotógrafo Ronaldo Silva, administrador da empresa de fotografia e marketing publicitário Cerrado Imagem, que atualmente trabalha em parceria com o Banco do Brasil para dar nova identidade visual ao Circuito Brasileiro Open, competição de vôlei de praia da qual o banco é patrocinador oficial. A entrega da bola por meio da garra durante a partida está entre as inovações propostas pela empresa para o próximo campeonato. Com esse objetivo, Ronaldo foi à Mecajun para solicitar um braço robótico que pudesse ser acoplado a um drone com o intuito de fazê-lo buscar as bolas de vôlei que voam para longe durante o jogo. “As partidas de vôlei, com a presença da garra, ficam muito mais atrativas e dinâmicas. Essa inovação desperta muita curiosidade, tornando-se um diferencial que contagia todo público, independentemente da idade”, diz Ronaldo, destacando o sucesso obtido com os primeiros protótipos. Em eventos esportivos oficiais, a única vez em que algo parecido ocorreu foi em 2017 na final da Taça de Portugal, em Lisboa. O jogo de futebol, que decidia o campeonato entre os times Benfica e Vitória de Guimarães, contou com um homem que sobrevoou o estádio, apenas uma vez durante a partida, em cima de um grande drone, buscando a bola quando esta saiu do campo. A finalidade era fazer propaganda de um dos patrocinadores, uma empresa que produz hoverboards, drones que podem ser conduzidos de forma semelhante a um skate aéreo. A ideia para o Campeonato de Vôlei de Praia, no entanto, se diferencia da iniciativa portuguesa por o drone ser menor e coletar a bola sozinho. Em relação à escolha de uma empresa júnior da UnB para a realização da garra, Ronaldo está satisfeito. “Acredito e valorizo novos talentos, o que constatei no desenvolvimento do projeto”, diz. “Acho que o

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mercado tecnológico na área de robótica em Brasília precisa muito de investimento.” Apesar de a estrutura da garra já estar completa, Alex diz que ainda falta finalizar alguns testes de estabilidade e resistência dos componentes elétricos. A expectativa é que a garra já esteja totalmente mecanizada para a Etapa de Brasília, prevista para agosto de 2019. TRIDIMENSIONAL A garra foi fabricada por impressão 3D. Por meio de um software, elabora-se um modelo, que poderá ser impresso em máquinas especiais. As impressoras 3D não esculpem e nem despejam o material em uma fôrma, mas sim trabalham depositando camadas de material, geralmente plástico, até formar o objeto desejado. A opção pelo plástico é mais comum devido ao preço, mas também é possível utilizar outros materiais, como vidro ou concreto. Existem dois tipos principais de impressoras 3D: a cartesiana e a delta. A cartesiana possui uma superfície plana, por onde o objeto surgirá, e duas hastes que se movimentam nos eixos x e y, responsáveis por liberar os filamentos de plástico e imprimir o objeto desejado. A delta é similar, mas, ao invés de duas, possui três hastes que se movimentam nos eixos x, y e z. Dessa forma, apenas projetos maiores são elaborados na delta, enquanto os mais simples são facilmente impressos pela cartesiana. A vantagem de a garra ser feita por impressão 3D é a personalização e a agilidade de se fazer eventuais correções. Uma garra convencional de drone não costuma ter tamanho suficiente para carregar uma bola de vôlei, além de ser difícil encontrar no mercado garras cuja finalidade não seja portar uma câmera fotográfica. Além

Alex Paschoaletto, criador do drone-gandula, na sede da Mecajun

disso, uma garra impressa permite maior facilidade de correção durante o projeto. Se uma peça não sair como o esperado, basta imprimir novamente. Além dessas vantagens, o professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Germano Penello acrescenta a redução de gastos e de estoque dentro dos laboratórios. “Não há necessidade de armazenar peças iguais quando é possível imprimir qualquer tipo de estrutura com facilidade”, diz. As desvantagens desse tipo de impressão, no entanto, são a baixa resistência das peças, que podem sofrer com descolamento nas camadas, a difícil replicabilidade e a necessidade de cuidados específicos para manutenção das impressoras. 3D NA UNB Além da garra, Alex Paschoaletto já desenvolveu inúmeros projetos nas impressoras 3D da Universidade de Brasília, como um trilho de cortina automatizado, um capacete do Homem de Ferro em tamanho real, peças para carros, chassis de robôs e um gerador de 16V para trabalho final da disciplina Conversão Eletromecânica de Energia. O estudante acredita que as impressoras presentes na Universidade contribuem para a produção de projetos interessantes, mas que há uma certa limitação. “Depende de os professores permitirem o acesso dos alunos aos equipamentos”, diz. A UnB possui apenas dois locais em que as impressoras 3D são abertas aos alunos. Uma delas está na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), no Laboratório de Fabricação Digital e Customização em Massa, e duas na Faculdade de Tecnologia (FT), no Laboratório Aberto de Brasília (LAB). Para utilizá-las, é necessário entrar em uma fila de espera, uma vez que são poucas impressoras frente à quantidade de projetos que as demandam. C Crédito: Jamile Vasconcelos


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Esporte

Da rua para a olimpíada Conheça o BaskeTeamDF: o primeiro time feminino de basquete 3x3 da capital federal JOÃO ROMARIZ

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ueimada, golzinho e bete são brincadeiras praticadas por crianças e adolescentes nas ruas. Um outro divertimento conquistou seu espaço profissional e tornou-se esporte de gente grande. Na Olimpíada de Tóquio 2020, o Basquete 3x3, ou basquete de rua, estará presente no calendário olímpico. A ascensão da modalidade atingiu duas amigas de Brasília, que decidiram montar o BaskeTeamDF. Há cinco meses, o time foi criado por Ana Luiza Neres, 19, e Débora Freitas, 37, a partir de uma conversa sobre o esporte. As duas amigas viram no torneio feminino da Associação Nacional de Basquete 3x3 (ANB) uma oportunidade de representar o DF no cenário nacional. ‘‘Queremos expor a força do basquete feminino na capital do país. Criamos o time para mostrar que em Brasília o esporte também é bem jogado’’, diz Ana ao lembrar o processo de montagem da equipe. Os treinamentos acontecem três vezes por semana no Clube da Assejus, no Setor de Clubes Sul. Com apenas duas atletas, os exercícios não rendem tanto, pois não existem “adversárias” do outro lado. A saída recente de uma atleta preocupou as duas que permaneceram. Sem uma terceira jogadora elas não podem competir. O ideal são quatro jogadoras, sendo três titulares e uma reserva. A dificuldade de encontrar a terceira integrante acontece muito pela rigorosa pré-seleção feita pelas parceiras. ‘‘Na nossa opinião, toda quadra de basquete é um santuário. Estamos buscando uma jogadora. Já temos uma pessoa em mente, estamos conversando e vendo se ela se encaixa’’, explica Ana. ‘‘Não pode ser uma brincadeira. Somos um destaque no Brasil. Se dou o meu máximo no trabalho, tenho que dar o máximo na quadra. Se a pessoa está desanimada e sem foco por qualquer motivo, ela já não serve para o nosso time’’, sintetiza Débora. Além de mostrar a qualidade do esporte em Brasília, Débora Freitas, moradora de Santa Maria e servidora pública, deu início ao time com a intenção de deixá-lo como herança para sua filha, Laura Hannah, de 13 anos. “Ainda jogaremos juntas, depois deixarei as quadras e ela será a responsável pela continuidade desta equipe. Já treina conosco, está engajada. Se dedica muito ao esporte, com certeza será melhor que eu”, acredita a servidora. Hannah ainda não tem idade para disputar os campeonatos profissionais. No entanto, está sempre presente nos treinamentos para auxiliar com jogadas ensaiadas. ‘‘Com nove anos comecei a jogar de brincadeira com a minha mãe. Desde então não deixei de gostar do basquete’’, conta a adolescente. Apesar de o esporte ser dominado por pessoas altas, o BaskeTeamDF não tem a altura como ponto forte. Débora Freitas mede 1,70m, e Ana Luiza tem apenas 1,60m. “Muita gente pensa que a altura é algo primordial, mas o basquete não é só isso. No nosso caso, a técnica e a habilidade compensam”, conta Débora. MACHISMO Perder o fim de semana de descanso ou um cinema nas noites de terça e quinta para treinar e competir é o menor dos empecilhos. A falta de patrocínio e o preconceito com as equipes femininas no DF são os maiores problemas da equipe. “O patrocínio, as viagens, o machismo. Tudo no início é mais difícil, mas é uma fase. Quando conseguirmos construir uma trajetória, parcerias e tivermos resultados, tudo ficará para trás. Se agora, que não temos nada, estamos bem, imagina quando estivermos estruturadas”, projeta Ana Luiza. “Se houvesse mais atletas, isso ajudaria na preparação”, explica Débora. Apesar das dificuldades, a força de vontade, o suor deixado em quadra e o gosto pelo esporte fazem com que elas cheguem preparadas para as etapas do torneio nacional. O campeonato brasileiro adulto feminino de 3x3 conta com 11 equipes que participam de torneios mensais na cidade de São Paulo até o fim de 2019.

As brasilienses são as únicas atletas de fora da capital paulista e estão na terceira colocação. Jogadoras da Seleção Brasileira, que vivem apenas do esporte, também estão presentes no maior campeonato nacional da modalidade. Nas três primeiras etapas, o BaskeTeamDF somou 145 pontos. Atrás apenas do Corinthians (310), capitaneado por Júlia Carvalho, atleta titular da Seleção Brasileira de 3x3, e do SP Hunters (240), time da ex-jogadora de basquete convencional Alessandra Santos. “A diferença da gente para as atletas de São Paulo se dá pela cultura de jogar e viver o basquete. No início foi complicado, elas respiram e vivenciam o esporte 24 horas por dia. Nós treinamos muito, mas trabalhamos e estudamos também. Temos outras tarefas”, explica Débora. As brasilienses são admiradas por adversárias. ‘‘Minha relação com as meninas de Brasília é ótima, sempre que as vejo trocamos ideias bacanas. Elas são inspiradoras, pela luta que fazem para estarem presentes aqui (em São Paulo) nos torneios’’, conta Júlia Carvalho. SÓ DEZ MINUTOS Diferente do basquete convencional, no 3x3 os dois times disputam a partida em metade da quadra com apenas uma tabela. O jogo dura dez minutos em período único. Quem anotar 21 pontos primeiro vence. Caso não cheguem aos 21, vence quem tiver mais pontos ao fim dos dez minutos. Se o placar terminar empatado, há uma prorrogação até uma equipe anotar os dois primeiros pontos. As pontuações em quadra também são diferentes. O que em um jogo normal é uma bola de três pontos, no 3x3 vale dois. E a cesta de dois pontos do usual, no 3x3 vale um. O tempo de ataque, assim como a quadra, cai pela metade. Cada time possui 12 segundos para executar suas jogadas antes do estouro do cronômetro. O 3x3 ou basquete de rua foi incluído nos Jogos Asiáticos de 2007, em Macau, na China. Os testes deram certo, as regras foram adaptadas e um novo jeito de ver a quadra de basquete surgiu. A Federação Internacional de Basquete (Fiba) e o Comitê Olímpico Internacional (COI) iniciaram as tratativas para o reconhecimento mundial do esporte. O primeiro torneio de grande relevância da modalidade foram os Jogos Olímpicos da Juventude, em 2010, em Singapura. Sete anos depois, o COI anunciou a inclusão da modalidade basquete 3x3 entre as que estarão no programa olímpico dos jogos de Tóquio 2020. No Brasil, a ANB3x3 é a maior organizadora dos campeonatos. Três campeonatos oficiais da organização são classificatórios para as etapas do 3x3 World Tour, o mundial do esporte. C Contato BaskeTeamDF: Instagram @basketeamdf. Crédito: Reprodução/Instagram

Débora Freitas, Ana Luiza e Laura Hannah treinam três vezes por semana na Assejus

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CAMPUS, JUNHO ABRIL 2019 CAMPUS, DE 2019

Cidade

Encontro marcado Praça da Torre se destaca como um importante ponto de manifestação cultural VINÍCIUS VELOSO Crédito: Vinícius Veloso

A banda Dona Gracinha é uma das atrações que podem ser encontradas na Torre de TV

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m dos pontos turísticos mais visitados na capital federal, a Torre de TV desenvolveu movimentos artísticos e culturais na praça existente no local. O ambiente multiplicou atrações para os frequentadores com exposição de veículos, apresentações musicais, espaço para as crianças e opções variadas de alimentação. Durante todo o ano, a praça da Torre recebe uma programação especial que costuma agitar o local. Conhecido como Torre sobre Rodas, o evento das noites de terça-feira reúne amantes de motos e conta com uma apresentação musical de rock ou blues no palco. A diversidade de motos impressiona, com estilos comuns, utilizados no dia a dia, esportivos, com modelos arrojados e customizados, com modificações no padrão. Em média, 100 motoqueiros frequentam o local, com a presença maciça de membros dos moto clubes do DF e Entorno. Fábio Jesus saiu diretamente do trabalho para prestigiar o evento. “Aqui o clima é muito agradável. Eu vim com a minha moto, sozinho, e estou observando. É bem legal, pois se consegue unir todas as tribos e ainda tem a presença de um DJ para animar a noite. É uma verdadeira diversão”, disse. Nas quintas-feiras à noite, uma oficina de percussão, cantos e ritmos do coletivo Comboio Percussivo ocorre na praça. Com as lojas fechadas e o lugar escuro e quase deserto, cerca de 20 pessoas se reúnem para aprender um pouco sobre as técnicas musicais. Nos fins de semana, a praça ganha mais cor e a área da alimentação é um dos pontos fortes. Com uma diversidade gastronômica que vai de acarajé e refrigerante até

Motoqueiros se reúnem no espaço da Torre de TV, no centro da capital

chopp artesanal e churrasco, os visitantes podem aproveitar gastando menos de R$ 10. Além das tradicionais lojas de ponto fixo da praça, que contam com mesas e bancos em um local coberto, foodtrucks e kombis também se espalham como opções adicionais. E existem, ainda, os mais preparados, que levam a própria bebida e comida para consumir no local com os amigos. Leandro Honório, um dos vendedores que se instala no local, chega com a sua kombi à noite e estaciona distante das lojas fixas. Com pastéis fritos na hora, água de coco e açaí, o comerciante busca satisfazer a clientela. “Os eventos por aqui são muito bons. Todas as vezes que viemos aqui, tivemos muitos clientes e vendemos bastante. Dá pra dizer que temos lucro. Esperamos continuar marcando presença e aumentando o rendimento”, contou o comerciante. A experiência de curtir as tardes e noites com shows e exposições que remetem ao estilo cultural do Distrito Federal é gratuita. O palco aberto para a apresentação de qualquer artista durante toda a tarde, sem remuneração, funciona como um ponto de incentivo e revelação de novos talentos. É o caso da banda Dona Gracinha, que tem um público cativo na Torre e conseguiu recursos para lançar o primeiro CD. Mesmo assim, chama a atenção o fato de os artistas preferirem se apresentar no meio do público do que no palco. Tiago Vieira, o vocalista do grupo de forró, explica que a escolha de não usar o palco é por conta da interação com o público. Enquanto as pessoas se alimentam, a banda toca as músicas do repertório. “De tarde, geralmente o sol está muito forte e as pessoas ficam sentadas na sombra. Então, tocamos

aqui porque o público pede e fica mais fácil de passar o chapéu para pegar dinheiro.” Para quem gosta de carros tradicionais, a exposição do Clube do Fusca, no segundo fim de semana do mês, é uma opção a se pensar. Com carros bem cuidados e estilizados em padrões diferentes, o modelo da Volkswagen chama a atenção de crianças e adultos que passam pelo local. Públicos de várias idades costumam frequentar a praça da Torre, principalmente quando o samba (aos sábados, no quarto fim de semana do mês) e o choro (aos sábados, no segundo fim de semana do mês) são as atrações principais, começando à tarde e terminando à noite. Os eventos contam com uma roda aberta para a participação de qualquer pessoa e sempre promovem ações de doações para instituições sociais. Jorge Ericsson, que sempre está presente na roda de samba, acompanha o projeto e fica feliz com a oportunidade de reunir as pessoas em torno de um objetivo. “A intenção desse samba é primeiramente social, buscando ajudar as instituições de caridade. Mas também tem a parte de curtir com alegria ao lado dos amigos e familiares”, explica. O tradicional baile de charme que ocorre aos domingos, no quarto fim de semana do mês, relembra os sucessos dos anos 1980 e 1990. Chama a atenção que, com roupas que lembram as do movimento hip hop e passos coreografados acompanhados pela marcação do ritmo com palmas, as pessoas dançam lado a lado acompanhando o DJ. Feiras literárias buscam promover escritores iniciantes e despertar o interesse pela leitura, com a presença de autores e espaço para trocas e vendas de livros. O evento ocupa o primeiro fim de semana do mês no cronograma planejado pela Torre. C

VÁ À TORRE

Terças-feiras, a partir das 19h — Torre sobre Rodas. Quintas-feiras, a partir das 19h30 — Oficina de percussão do Comboio Percussivo. Primeiro fim de semana — Feira Literária com apresentações, oficinas e venda de livros a partir das 10h. Segundo fim de semana — Palco aberto aos sábados, a partir das 12h. Chorinho aos domingos, a partir das 14h. Terceiro fim de semana — Projeto Polvo de amor aos sábados, a partir das 10h. Torre das tribos aos domingos, a partir das 14h. Quarto fim de semana — Samba social aos sábados, a partir das 14h. Baile Charme aos domingos, a partir das 14h. 8


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