Campus nº 453, ano 51

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FELIPE SOUSA ALVES aponta a relação da facul dade de comunicação da UnB com o projeto SOS Ribeirão

E mais

Comunicação sustentável

Coluna de crítica de mídia Crônica - A tal da ansiedade Tirinha - positivossauro

Campus Mulheres na CPI da Covid diaspora009 Solidão devora Combate à desinformação MARCELLA RODRIGUES relata a união suprapartidária de senadoras em busca deGIULIArepresentatividadeSOARES indica a importância da atuação de profissionais de comunicação durante a pandemia LUIZ OLIVEIRA conta a história da brasiliense Lia Maria e sua marca de roupas ANDREIA MORAIS e LAYLLAH GUEDES mostram o efeito do distanciamento social na saúde física e mental de pessoas com mais de 60 anos NOVEmBRO_2021 Nº 453, aNO 51

“ “ “ “

to de senadores e senadoras na CPI da Pandemia: “Quando aumentamos o tom de voz para defender nosso direito de par ticipar dos debates fomos taxadas como ‘nervosas’ e ‘histéri cas’ enquanto, no mesmo dia, dois parlamentares se xingaram e ninguém pediu calma”. Por isso, além de servir como estra tégia para ampliar a participação das mulheres no Senado, ao se posicionar, a Bancada Feminina está agindo na desconstru ção de práticas machistas na Casa.

A Bancada Feminina e a demonstração de preparo e do mínio do que é tratado na comissão realmente proporcionou mais espaço para as senadoras. Para que essa estratégia seja efetiva a longo prazo, elas defenderam mudanças na legisla ção que incentivem cada vez mais a participação das mulheres na política. A análise da rotina da comissão expôs quanto o machismo ainda é um grande obstáculo no Senado e em ou tras instituições políticas. Nesse sentido, todas as entrevistadas concordaram que a Bancada Feminina é um avanço e que as mulheres não podem se calar.

Com temas importantes em pauta, essa edição do Campus é reflexo da dedicação da equipe.

ANDREIA

MORAISMARCELLA

Maria Antônia Perdigão, que tem “A Representação Política Negra: o estudo sobre a visibilidade das parlamentares negras do Congresso Nacional nos jornais da grande mídia” como seu tema de mestrado na Universidade de Brasília (UnB), disse que a composição da CPI da Covid-19 serviu como exemplo da naturalização da sub-representação feminina. “A ausência de mulheres entre as escolhas para compor esta Comissão de Inquérito, no meu ponto de vista, diz muito sobre a invisi bilidade da mulher nos espaços de poder e decisão”. Maria também falou que a articulação da bancada para impedir a exclusão das senadoras reforça a importância de ter um grupo unido e articulado, mas é importante destacar que a luta para ter direito de fala não pode ser normalizada ou romantizada.

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação

Excluídas da comissão, senadoras fazem união suprapartidária para vencer a baixa representatividade das mulheres no Senado e conquistar voz na investigação

MARCELLA RODRIGUES

pautas e no formato do jornal. A nos sa inspiração se baseia em trabalhos de sucesso, como a revista Piauí. Adotamos um estilo de reportagens mais longas que priorizam os personagens e as histórias. Inclusive neste quesito não decepciona mos. Reportamos assuntos pertinentes para o nosso momento. Na política, a bancada feminina da CPI da Covid 19; Na saúde, o olhar para a solidão dos idosos em tempo de pandemia; No com portamento, a moda e corpo manifesto de Lia Maria, responsável pela diaspo ra009; Dedicamos também uma editoria apenas para a pandemia, a reportagem reflete o trabalho dos jornalistas na linha de frente contra a doença; Em cidades, a questão ambiental do cerrado é refletida por meio da ONG SOS Ribeirão So

Tait é autora do livro “As Mulheres na Luta Política”, que apresenta a luta de mulheres contra a Ditadura Militar.

FELIPE SOUSA ALVES

Carta ao Leitor

Professora Márcia Marques Repórteres Andreia Morais, Giulia Soares, Felipe Sousa Alves, cellaOliveiraGuedes,LaylahLuizeMarRodrigues

LUIZ OLIVEIRA

para Tebet, e justificou que “às vezes, no calor do combate, somos agressivos in conscientemente”.TaniaFatimaCalvi Tait, professora, doutora em engenharia de produção e pós-doutora em história das mulhe res, disse que o maior obstáculo para a participação das mulheres na política é o machismo. A profissional tratou de dois momentos que evidenciam como comportamentos machistas estão enrai zados na sociedade: no primeiro, quan do a mulher se lança candidata, ela vai conviver muitas vezes com falta de apoio familiar, quádrupla jornada (trabalho, casa, filhos e campanha eleitoral), falta de recursos e de prestígio por parte dos partidos políticos. No segundo, se elei ta, a mulher deve lidar com novas situa ções que ocorrem no exercício do cargo eletivo, como piadas sexistas, agressões verbais e até físicas por parte de colegas.

Na reunião de 11 de agosto, a senado ra Eliziane Gama (Cidadania-MA), que presidia a sessão, indeferiu um pedido do senador Heinze (PP-RS). Logo, o se nador elevou seu tom de voz, começou uma discussão e desobedeceu a decisão da senadora. “Foram frequentes esses comportamentos. É desrespeito, tenta tiva de nos silenciar. Somos taxadas de nervosas quando somos assertivas”, co mentou Eliziane sobre o ocorrido.

Para a senadora Leila Barros (Cidadania-DF), Procuradora Especial da Mulher do Senado Federal e primeira mulher eleita senadora no Distrito Federal, o ambiente político é, predominantemente, masculino, o que dificulta a atuação das mulheres no Senado. É difícil que mulheres sejam indicadas às cadeiras de titulares, que têm um número de vagas limitado e que deve ser preenchido pelos líderes partidários. Segundo um levantamento realizado pela Folha de S. Paulo em julho de 2021, as mulheres participaram de apenas 22 das 68 CPIs instaladas desde 1946. Esse número não é nem metade das comissões realizadas desde a entrada das mulheres no Senado, em 1979, com Eunice Michiles (Arena-AM) como a primeira senadora do Brasil.

Diagramação Marina Dalton Ilustração de capa Ana PinheiroLaura Impressão Ainda em licitação Tiragem 1500

Em 27 de abril, o senador Flávio Bol sonaro (Patriota-RJ) disse: “Acho que as mulheres já foram mais respeitadas e mais indignadas, não é? Estão fora da CPI, não fazem nem questão de estar nela e se conformam em acompanhar os trabalhos a distância”. Já em 21 de setembro, o depoente Wagner Rosá rio, ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), chamou a senadora Simone Tebet de “descontrolada” após ela criticar posicionamentos do ministro. O comentário gerou muito alvoroço e a sessão acabou sendo suspensa pelo pre sidente da comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM). Logo, a CPI colocou Wagner Rosário na condição de inves tigado. No twitter, o ministro disse que gostaria de reforçar seu pedido de des culpas, já que havia o feito pessoalmente

Ao descobrir que ocuparia o cargo de editor-chefe do jor nal Campus, não havia refle tido que seria a minha responsabilidade escrever a carta do editor. Até porque não me considero bem nessa função, pois acredito que toda a equipe con tribuiu igualmente para o resultado desta edição. Ao todo, começamos com ape nas 6 alunos matriculados, no entanto, ao decorrer do semestre, foi necessário buscar ajuda. A demanda de produzir um jornal remotamente, com um núme ro reduzido de integrantes, foi um desa fio. Tiveram momentos em que todos não acreditavam ser possível, mas conse guimos. Com a supervisão da professora Márcia Marques, tivemos a liberdade de criar e fugir da caixinha na produção de

que em dado momento, durante o semestre, eu duvidei que conseguiríamos entregar esta edição do Campus. No entanto, a equipe, mesmo que pequena, se uniu e o resultado é um trabalho competente apesar das dificuldades.

A ausência das mulheres nas CPIs se deve justamente à baixa participação feminina na política, como apontou a senadora Leila Barros. A parlamentar também apontou como o machismo in fluencia o julgamento do comportamen

CAMPUS, NOVEMBRO DE 2021 POLÍTICA

Simone Tebet explicou que a escolha dos membros de uma CPI é feita pelo critério da proporcionalidade partidária. Assim, os líderes indicam membros de seus partidos ou blocos para integrarem as comissões. A falta de representatividade feminina na comissão chamou atenção logo no início das atividades pelas manifestações machistas, que não impediram que a estratégia de participação fosse concretizada. “Não temos assento, mas ninguém calou a nossa voz”, acrescentou.

CAMPUS, NOVEMBRO DE 2021

Tivemos dificuldades, principalmente nas fotos, em razão da pandemia, no en tanto, entregamos o possível. Que ness es tempos é o melhor a se fazer. Não podia deixar de agradecer às queridas alunas Marina Dalton, nossa diagrama dora, que chegou no segundo tempo, mas foi a craque do jogo, e Anna Laura, responsável pela arte de capa. Convido a todes a conhecer o nosso trabalho. Boa leitura.

ExpedienteCAMPUS da Universidade de Brasília (UnB)

Estou muito feliz em fazer parte dos mais de 50 anos de história do Jornal Campus! E essa edição foi ainda mais especial por acontecer de maneira totalmente remota. Espero que a leitura seja tão entusiasmante quanto foi participar da edição.

Já se passaram 40 anos desde a entrada das mulheres no Senado Federal, no entanto, a passagem do tempo não descomplicou as coisas. Com 11 membros titulares e sete suplentes, as senadoras não tiveram direito à vagas na CPI da Covid. No entanto, a Bancada Feminina se organizou e preparou uma estratégia para garantir a participação das mulheres naCompostacomissão. por 12 senadoras, a bancada pode ser apresentada como um dos maiores símbolos de união das mulheres no Congresso, além de ser considerada fundamental para garantir a representatividade nas CPIs, colegiados do Congresso Nacional, comissões temporárias, permanentes e frentes parlamentares. Contudo, o número de mulheres ainda é bem menor do que o de homens. “A baixa presença nas comissões nada mais é do que o reflexo da baixa representatividade das mulheres no Legislativo Federal. Somos apenas 15% do Congresso”, disse a senadora Simone Tebet (MDB-MS), advogada e primeira líder da Bancada Feminina no Senado. Como as mulheres não estão entre os membros da CPI da Covid, elas não podem votar ou deliberar, mas podem fazer sugestões de requerimentos e de convocações que são endossadas por parlamentares aliados.

A estratégia da Bancada Feminina na CPI da Covid

O Jornal Campus é histórico, e fazer parte dessa edição é muito especial para todos nós!

LAYLLAH GUEDES

Elaborar um jornal inteiro de forma remota foi um desafio enorme, no entanto, o trabalho em equipe deu leveza ao processo e o resultado só poderia ser um jornal incrível e cheio de personagens cativantes.Confesso

bradinho. Além das habituais matérias, o Campus abriu espaço para a crítica da mídia do SOS Imprensa, uma crônica sobre ansiedade nos dias atuais e tir inhas sagazes da nossa ilustradora. Por fim, orgulho em ter feito parte da edição feita à mãos do nosso jornal laboratório.

Wagner Rosário, ministro da CGu, discute com senadoresna CPI após chamar Simone de “descon trolada”. Foto de Leopoldo Silva pela gência Senado

RODRIGUES

MARINA DALTON

Machismo é pauta na CPI

A partir de temas do presente conseguimos preparar uma edição que também avalia o nosso futuro. Pautas muito relevantes e fontes excelentes, essa edição é bem especial.

GIULIA SOARES

Comecei e estou terminando minha vida acadêmica escrevendo pro Campus. Muito mudou, mas o desejo de publicar um jornal de qualidade continua. Espero que gostem.

CAMPUS, NOVEMBRO DE 2021

Possui bacharelado em artes plásticas na UnB e, também pela instituição, é espe cialista em culturas negras do Atlântico e mestre em gestão de políticas públicas em gênero e raça.

Indo contra a máxima que pessoas com tamanhos maiores não podem usar esse tipo de vestimenta.

Lia explica que a marca é muito mais que um negócio e tem o objetivo de co locar em destaque uma cosmovisão afri cana que exalte o protagonismo negro por meio do resgate da ancestralidade e, com isso, se crie o fortalecimento da autoestima desses corpos. A produção

ao EnegreSer, coletivo an tirracista consolidado no início dos anos 2000 pelo debate relacionado à imple mentação de cotas na UnB, Lia define como crucial o seu envolvimento com a causa para ser quem é hoje. “Era uma diversidade tão grande de pessoas, pois tinha gente de economia, letras, direi to… Todo mundo sempre se ajudando e apoiando. Vários referenciais que desco bri vieram de lá”, lembra.

começou tímida: no início, a designer produziu entre 30 e 40 peças e as vendia em feiras culturais pelo Distrito Federal. O conceito de diáspora, o nome da marca, está relacionado ao deslocamen to - forçado ou não de um povo pelo mundo. Quando se fala do contexto afri cano, se relaciona a imigração forçada de homens e mulheres do continente africano para outros cantos do planeta. Estima-se que, aqui no Brasil, mais de 4 milhões de pessoas foram traficadas, dei xando para trás a liberdade e as próprias identidades.Eéjustamente nesse campo que a marca de Lia Maria quer tocar, recons truindo o que foi apagado durante o pro cesso de violência que os corpos afro -diaspóricos brasileiros vivenciaram. “A diapora009 é muito religare ancestral”, afirma.Portanto, a apropriação da política e militância está no sangue da marca. Para a artista, cada tecido é um livro que pode contar uma história e cada encontro en tre os consumidores vai além de uma mera troca comercial. A partir dos de senhos de Lia, os tecidos se tornam ves tidos, saias, camisas, calças e moletons que podem ser usados por homens e mulheres, sem distinção de gênero, indo do elegante ao street.

O processo para confecção das peças é colaborativo. As costureiras são de di versos ateliês do DF, como Itapoã, Cei lândia e Asa Norte. Fica a cargo da esti lista escolher e cortar os tecidos, além de montar araras, divulgar, administrar as

LUIZ OLIVEIRA CAMPUS, NOVEMBRO DE 2021 A MINHA INFÂNCIA FOI BOA PARTE VIVIDA NOS PAÍSES AFRICANOS, ENTÃO, PARA MIM, ERA NATURAL VESTIR COLORIDO, EUREFLETISSEMMEUMERCADOENCONTRARDIFICULDADEGOSTEI,SOBREPOSIÇÃO.ESTAMPADO,SEMPREMASTINHADEROUPASNOQUEERAMDOTAMANHOEQUEQUEMERA” A DIASPORA009 TEM SIDO O MEU CORAÇÃO E A POSSIBILIDADE DE PARTILHAR O RESGATE À ANCESTRALIDADE NEGRA” “

A designer chegou a pesar 150 quilos e por causa da dificuldade de encontrar roupas bonitas que servissem na nu meração do corpo gordo, ela começou a confeccionar as próprias peças utili zando tecidos africanos bem coloridos.

redes sociais e realizar outras tarefas que o empreendedorismo exige. Para conse guir dar conta de tantas demandas, Lia tem se especializado em cursos ofere cidos para empreendedores do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).Oimportante movimento de que Lia fez parte foi a oportunidade, em con junto com outras lideranças negras da moda, de se reunir com a então editora -chefe da Vogue Brasil, Daniela Falcão. A conversa se deu sobre o processo de reivindicação do espaço destinado a esse grupo na maior revista de moda do país. “Mais do que chamar pessoas e criar um conselho consultivo, é necessário que se contrate pessoas negras. Pague pelo nosso trabalho. É um capital cultural e intelectual que deve ser remunerado”, reforça.Aolongo desses anos, a diaspora009 teve 21 coleções de moda e diversos edi toriais. As roupas são desenvolvidas para todos, desde que respeitem o significa do que o manto possui. Nomes como o da poeta Cristiane Sobral, a filósofa Djamila Ribeiro e a cantora Luedji Luna já tiverem em seus corpos alguma peça desenvolvida pela estilista. De acordo com a Lia Maria, a ideia inicial era criar uma marca de moda, no entanto, enxerga hoje o trabalho que desenvolve como uma egrégora. “É um aquilombamento de várias histórias. A diaspora009 tem sido o meu coração e a possibilidade de partilhar o resgate à ancestralidade negra”, finaliza.

A artista conta que sempre era elogia da pelas roupas e acessórios que usava. “Percebi que as pessoas amavam os ob jetos da minha casa e o meu guarda-rou pa, por isso decidi compartilhar. Enxer gavam em mim uma referência, algo que as movia a experimentar o novo”.

Foto: Arquivo pessoal

Lia

Após um período estudando ciências econômicas na Universidade de Hava na, em Cuba, Lia Maria voltou ao Dis trito Federal para cursar artes plásticas na Universidade de Brasília (UnB). Foi a partir dessa entrada na faculdade que a consciência política e social da artista se Associadaformou.

pessoalFoto:Arquivopessoal

Lia Maria, criadora da marca de roupas e acessórios, adotou o mundo como sua casa, principalmente o continente africano com o qual estabeleceu uma conexão que futuramente iria se tornar o seu principal trabalho

COMPORTAMENTO

Foto: Arquivo

Foto: Arquivo pessoal

Os pais da fundadora trabalharam a vida toda para o Ministério das Relações Exteriores, e a família morou em países, como Cuba, Alemanha, Togo, Senegal, Costa do Marfim e por aí vai. A expe riência de viver no continente africano foi decisiva na construção de sua iden tidade e a ajudou a criar uma vivência cultural rica: “A minha infância foi boa parte vivida nos países da africa, então, para mim, era natural vestir colorido, es tampado, sobreposição. Sempre gostei desse tipo de peça, mas tinha dificulda de de encontrar roupas no mercado que eram do meu tamanho e que refletissem quem eu era”, conta.

Além de designer e gestora da dias pora009, Lia Maria é diretora de arte, ativista política, capoeirista e, em suas próprias palavras, “mulher negra de fé”.

Mas, afinal de contas, o que é a dias pora009? A marca de roupas e aces sórios existe oficialmente desde 2017, mas teve sua concepção em 2010. Após passar por experiências no mercado de trabalho, Lia decidiu que seria a chefe de si mesma. “Resolvi fazer o que todo mundo dizia que eu fazia bem: roupa”. Então, a partir do conceito de que moda é discurso e o corpo é manifesto, a desig ner se lançou no mercado.

Maria se define como um corpo negro do mundo. Funda dora da marca de roupas e aces sórios diaspora009, escrita dessa manei ra, em letras minúsculas e sem acento, ela vive desde pequena a experiência de estar em diversos continentes, apesar de ter nascido no Distrito Federal.

ACOMPORTAMENTObrasiliense

A moda e o corpo negro como um manifesto da diaspora009

Créditos da imagem: Layllah Guedes

É inegável que a pandemia do novo coronavírus trouxe mudanças conside ráveis na rotina das pessoas do mundo inteiro, principalmente para a população

acabou.Maria do Socorro, na mesma linha de José Faustino, desen volveu algumas atividades durante a quarentena: comprou um teclado para aprender a tocar hinos religiosos, voltou a pintar telas, uma atividade que sempre gostou muito e havia deixado de lado por ter contraído alergia das tintas utilizadas, agora, entretanto, ela mudou as técnicas de pintura e tem se dedicado mais à atividade. Além disso, também passou a confeccionar artesanatos com garrafas de vidro e, para não perder tanto o ritmo que tinha antes, procurou fazer exercícios físicos on-line.

Seu José Faustino, de 82 anos, gosta de tocar sax pra se distrair e diminuir a angústia imposta pela pandemia.

Foto: Isabela Castilho

pessoal.dapelalogiadoutorandaeempública,mestresaúdeenvelhecimentopúblicaespecialistapsicóloga,emsaúdeeemedapessoaidosa,emsaúdecomênfasegestãodesistemasserviçosdesaúdeeempsicoclínicaeculturaUnB.Créditosimagem:arquivo

Maria Cristina Hoff mann é

De acordo com a pesquisadora, o sentimento de solidão pode se manifestar de formas diferentes de acordo com cada um. Algumas pessoas se sentem só quando estão realmente sozinhas e outras, diferentemente, ficam solitárias até quando estão na convivência de outras pessoas. Para os idosos, essa so lidão que os aflige, estando acompanhados ou não, já era um problema antes mesmo da pandemia do novo coronavírus.

Dona Socorro afirma que, quando começa a pintar, esquece tudo que se passa à sua volta e pode, inclusive, passar horas imersa na atividade. Créditos da imagem: Layllah Guedes

Achegada da pandemia e, con sequentemente, a necessida de de isolamento social fez com que idosos, que tinham uma vida autônoma e independente, passassem a necessitar da ajuda de filhos e netos para realizar atividades que antes faziam sozinhos, como, por exemplo, ir ao su permercado ou pagar contas. A medida, embora necessária para preservar a vida e a saúde de pessoas com mais de 60 anos, teve um efeito colateral: a distância da família e dos amigos e a privação de suas atividades habituais geraram impac tos negativos sobre a saúde física e men tal dessa parte da população.

ANDREIA MORAIS E LAYLLAH GUEDES

na saúde física e mental da pessoa idosa. Para Hoffmann, o isolamento e a solidão podem agravar quadros de depressão e de ansiedade que podem refletir, também, no agravamento de outros problemas de saúde, como aumento da pressão arte rial, insônia, diminuição da capacidade cognitiva, entre outros. De acordo com Allan Tavares, psicólogo e especialista em Hipnoterapia Ericksoniana e Programação Neurolinguística, a experiência da pandemia mexeu com várias bases psicoló gicas e sociais dos indivíduos. “Foram mecanismos de enfren tamento plurais, pois despertou, além do medo e da sensação de incapacidade, aspectos de personalidade que a agitação do dia-a-diaTavaresescondia”.lembraque, nesse período, teve acesso a muitas pessoas com crises de ansiedade, dificuldades para dormir, di ficuldades sexuais e agressividade aumentada. E tudo isso, se gundo o profissional, foi elucidado pela vivência da pandemia. “O que nos leva a pensar na importância do autocuidado e do autoconhecimento para podermos ter ferramentas de enfren tamento para determinadas situações”, afirma.

Tanto os psicólogos Hoffman quanto Tavares indicam manter a mente ativa para não se deixar abater em momentos de isolamento. Entretanto, é importante lembrar que, caso seja necessário, o Sis tema Único de Saúde (SUS) dispõe da Rede de Atenção Psicossocial, com ser viços de acompanhamento à saúde men tal. Além disso, há também as Práticas Integrativas e Complementares (PICS), que são tratamentos que utilizam recur sos terapêuticos baseados em conheci mentos tradicionais, voltados para pre venir diversas doenças como depressão e

hipertensão.Parateracesso ao SUS, o idoso pode procurar equipes da Atenção Básica ou Primária. Essa é a principal porta de en trada e o centro articulador do acesso dos usuários ao Sistema Único de Saú de. As equipes realizam uma avaliação multidimensional para verificar as neces sidades que o indivíduo precisa e iden tificar quais aspectos da vida dos idosos precisam ser melhor investigados e quais deverão compor seu plano de cuidado. Após essa fase, eles podem ser enca minhados para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), para outras espe cialidades ou podem permanecer sendo acompanhados pelas equipes primárias.

CAMPUS, NOVEMBRO DE 2021SAÚDE CAMPUS, NOVEMBRO DE 2021 DEVORASOLIDÃOComoodistanciamentosocial,aindaquenecessárioàprevençãodadoença,afetouasaúdefísicaementaldepessoascommaisde60anos

A psicóloga, pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em Saúde Pública e em Envelhecimento, Maria Cristina Hoffmann sinaliza que, antes de se falar em efeitos da quarentena, é importante diferenciar a solidão do isola mento. Para a especialista, a solidão está mais relacionada a aspectos subjetivos e o isolamento ao distanciamento físico. Mas tanto um quanto o outro podem interferir

A dona de casa Divinair dos Santos, de 68 anos, conhecida como dona Divinéia, encontra-se em um período de depressão após contrair Covid e ficar 20 dias interna da na UTI. “Sei que deveria estar grata por ter sobrevivido, mas me sinto triste quase todos os dias”, lamenta. Antes da pandemia, dona Divinéia acordava cedo todos os dias, auxiliava o filho caçula a se arrumar para o trabalho, lia a Bíblia e ia tomar um cafezinho com uma de suas vizinhas. Aos finais de semana, a dona de casa recebia toda a família para um almoço e aos domingos ia para a igreja batista que frequenta no setor P Norte em Ceilândia (DF). No local, gostava das músicas, das pregações do pastor e, além disso, encontrava com os irmãos da igreja.

idosa. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelaram que a letalidade da doença para pessoas de 60 a 69 anos é de 3,6%. Esse número sobe para 8% em pessoas com idade entre 70 a 79. Já para idosos acima de 80 anos, o risco cresce para 14,8%. Por fazerem parte do grupo de risco, os idosos precisaram, mais que qualquer outro grupo, cumprir o isolamento social.

O aposentado José Faustino, de 82 anos, também enfrentou a solidão por precisar ficar longe da família. Pouco antes de iniciar o isolamento social, o idoso reencontrou uma filha que não via há 30 anos e estava reconstruindo uma relação afetiva.

Em complemento, Hoffmann lembra que “mesmo em tem pos de pandemia devemos buscar alternativas para mantermos o contato. Não precisa ser um contato físico, pode ser virtual, utilizando a tecnologia, o telefone seja para uma ligação por vídeo ou não. Para os que não dispõem dessas tecnologias, penso que podem combinar encontros em espaços abertos e com distanciamento, por exemplo num parque. Para aqueles que apresentam limitações para sua circulação, é possível bus car ajuda de vizinhos e ou cuidadores”, orienta.

A pandemia, no entanto, afastou os dois fisicamente mais uma vez. Para passar o tempo e lidar melhor com situações como essa, Seu José passou a participar de cultos on-line da igreja Congregação Cristã no Brasil, a qual frequenta há 60 anos.

Não são poucas as experiências de pessoas que, desprovidas da sua vida e rotina, desenvolveram sintomas psicológicos, como ansiedade, falta de sono e depressão.

Fazer passeios no parque foi uma forma que Dona Divinéia e o esposo Irson encontraram para fugir um pouco da monotonia do isolamento. Créditos da imagem: Isabela Castilho

Conforme uma pesquisa de 2017, realizada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – São Paulo (SBGG -SP), em parceria com a Bayer, o maior medo do idoso bra sileiro é a solidão. Durante o isolamento, momento em que a família precisou ficar ainda mais distante e por um longo período de tempo, esse sentimento pode ter gerado algumas consequências.Hoffmannafirma que a solidão pode trazer complicações à saúde, especialmente em idosos. “Quando falamos de pesso as idosas, precisamos ter especial atenção, pois muitos idosos podem ter mais dificuldades de manter o convívio social, seja pela perda de parentes e amigos próximos ou por apresenta rem limitações na sua funcionalidade, o que pode dificultar a saída de casa e a realização de atividades no seu dia-a-dia”, observa.Paradiminuir o vazio causado pelo sentimento de solidão e lidar melhor com as perdas, Allan Tavares afirma que a “con vivência com outras pessoas estimula a fala, estimula a troca de experiências e sentimentos e pode gerar mais sentimento de acolhimento. Esse sentimento de acolhimento é a base para a diminuição do desamparo e da tristeza”. Assim, o psicólo go recomenda que os idosos busquem conversar com pessoas de sua confiança, sendo elas um familiar, um amigo ou um profissional de saúde. É preciso expor os medos, angústias e necessidades para que, dessa forma, seja possível pensar em alternativas que proporcionem uma melhor qualidade de vida.

A perda de amigos e familiares é um outro fator que pode interferir na saúde mental dos idosos. Hoje, no Brasil, são mais de 600 mil pessoas que perderam a vida em decorrência da Covid-19 e, em comum, parte dessas vítimas tinham mais de 60 anos. Dona Divinéia perdeu amigos e conhecidos du rante o período mais crítico da crise do COVID 19 no Brasil.

Um levantamento realizado pelo Programa de Atenção ao Idoso (PAI) do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE) indicou um aumento de 15,38% dos níveis de ansiedade em idosos durante o período de isolamento social.

Além disso, o idoso também passou a se dedicar com mais afinco a uma antiga paixão: o saxofone. Ele passa a maior parte do dia tocando hinos da igreja no sax, instrumento que apren deu a tocar quando passou a participar dos cultos, além de ler bastante a Bíblia. Pela manhã, gosta de fazer uma caminhada em frente a casa onde mora. De acordo com José Faustino, isso tira um pouco do tédio do dia-a-dia e o faz esquecer - pelo menos por um instante de tempo - que a pandemia ainda não

sozinha. Agora, ela precisa da ajuda de familiares para executar atividades que, antes, possuía autonomia para fazer.

“Perdi amigos para essa doença e ter ficado internada me fez pensar que também era o meu fim”, relata a dona de casa. A aposentada Maria do Socorro também vivenciou momentos de luto e angústia: seu neto, de 24 anos, ficou internado em decorrência da Covid e necessitou de oxigênio suplementar para conseguir respirar. Ele se recuperou, mas a colega de igre ja, a prima e uma grande amiga da idosa não tiveram a mesma sorte e, hoje, compõem a estimativa de mortes por Covid-19. Perdas como a de Dona Divinéia e de Dona Socorro desper tam a tristeza, o medo e a solidão. Estudantes do programa de pós-graduação em enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBA) fizeram uma pes quisa com residentes de casas geriátricas que estavam em luto pela perda de amigos e revelaram que a morte de uma pes soa com quem se tem laço afetivo pode ser uma experiência marcante e, por vezes, assustadora para o idoso. Segundo os pesquisadores, os sentimentos manifestados pelos idosos e identificados no processo de análise foram: sensação de vazio; falta do amigo, das conversas, das atividades que faziam jun tos, das visitas que compartilhavam; saudade; estarrecimento; tristeza; ansiedade; raiva; lembrança; e, por fim, solidão. Esta, de acordo com trabalhos científicos publicados em 2010 pelo psicólogo John Cacioppo, diretor do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago (EUA), aumen ta em 14% o risco de morte prematura de quem chegou à terceira idade.

Outra pesquisa, desta vez realizada pelo Departamento de Saúde Coletiva da Uni versidade Estadual de Campinas, constatou que 40,4%, dos mais de 45 mil brasilei ros pesquisados, se sentiram frequentemente tristes ou deprimidos no período de quarentena. Embora esses sentimentos fossem observados, em sua maior parte, em adultos jovens, 27,5% dos idosos entrevistados também desenvolveram problemas associados à saúde mental.

Manter-se ativa e ocupada tem ameniza do as crises de ansiedade.

SAÚDE

A aposentada Maria do Socorro, de 76 anos, é um desses casos. Antes do ad vento da pandemia, ela tinha uma vida ativa, pois mantinha uma rotina de exer cícios físicos ao menos três vezes por se mana, encontrava-se com os irmãos da igreja da qual faz parte e realizava ativi dades de assistência social. Além disso, ela também costumava utilizar transpor te público para ir a consultas médicas, ao banco ou apenas para sair um pouco

A dependência provocou em Maria do Socorro uma sensação de impotên cia e de descontrole da própria vida. Dona Socorro afirma que desenvolveu, durante esse período, um quadro de an siedade e passou, inclusive, a tomar re médios para dormir. “Eu fazia atividades no Sesc três vezes por semana, saía com um grupo da igreja para visitar hospitais, podia pegar ônibus para resolver minhas coisas. Do nada tudo parou”, contou. No início, a idosa pensava que a situa ção de isolamento seria passageira, que na outra semana tudo ia voltar ao nor mal, mas, segundo ela, essa normalidade nunca chegava. O que gerou cada vez mais ansiedade e estresse por depender das pessoas. “Quando vi, já estava com diagnóstico de ansiedade e tomando cal mantes para dormir”, relata.

Para Hoffman, lidar com perdas não é uma tarefa fácil, es pecialmente, em tempos nos quais vivemos uma série de res trições e quando, na maioria dos casos, não se pode despedir dos entes queridos falecidos. “O luto precisa ser vivenciado no seu tempo e cada pessoa tem uma forma de vivenciar o luto”. Para a pesquisadora, o tempo é o principal fator para nos ajudar a encarar as perdas, pois, desta forma, vamos dando a oportunidade de transformar nossos sentimentos de tristeza, de indignação, em lembranças associadas à pessoa falecida. Além disso, a psicóloga reafirma a importância de se buscar por serviços especializados, tais como “um acompanhamento com psicólogo, ou a participação em grupos de conversa, de apoio, onde possam falar sobre essa perda, sobre as suas rela ções, sobre as estratégias possíveis para enfrentar esse momen to difícil e para que possam entender que o luto precisa ser vivenciado, que faz parte da nossa vida”, recomenda.

Comunicação e sustentável

Nascida de uma mobilização local em 2011, um abaixo-as sinado com mais de seis mil assinaturas pressiona a CAESB a parar despejos às margens do ribeirão. Em 2010, Raimundo, mestre em Planejamento e Gestão Ambiental pela Universi dade Católica de Brasília (UCB), concluiu pesquisa dos danos causados pela ocupação irregular na região desde 1980, que fragiliza as águas e a biodiversidade local. Em 2011, um estudo de pós-graduação de Saúde Coletiva da UnB corroborou o es tado impróprio das águas. Em 2019, um estudo de engenharia ambiental da UnB, encontrou traços de fósforo que o enqua dram no pior nível de contaminação pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Raimundo propôs como solu ção a fiscalização e recuperação das áreas atingidas e começou um projeto para sensibilizar a população sobre o problema. Raimundo é morador da região há mais de 50 anos e pos sui uma história afetiva com o ribeirão. Anos atrás, tomava banho e bebia nas águas limpas. Para colocar seu plano em prática, encontrou outros com memórias similares. “Pessoas que usufruíram de um ribeirão limpo, que tinham uma histó ria com ele. Foi isso que facilitou a retórica que a gente tem e que já dura 11 anos”, disse. Mobilizando vários segmentos da população, de escolas e igrejas a comerciantes e transeuntes. A conscientização foi feita por meio do blog de um colaborador do SOS, o jornalista Tarcísio Pádua. A página foi o principal espaço de divulgação do movimento até 2013.

você tenha mais de vinte anos, provavelmente se lem brará da cobertura intensa da imprensa do fatídico assassinato de Eloá Pimental, por seu ex-namorado Lindermberg Fernandes, há quase quin ze anos. Lembro-me com clareza dos jornais noticiando, ao vivo, o fim do sequestro e a consequente morte da jo vem, depois de uma atuação questioná vel da polícia e irresponsável da mídia. Estranhamente, pessoas sem qualquer relação com sua família esforçavam-se para acompanhar o sepultamento, como se aquela situação representasse o final de uma novela que público pudesse acompanhar fora das telas da televisão.

CAMPUS, NOVEMBRO DE 2021 CRÍTICA DE MÍDIACAMPUS, NOVEMBRO DE 2021CIDADE

Com a abertura da disciplina (em 2/2019), o estudante Stê nio Júnior, elaborou o design de uma nova logo para a ONG. Ana Cláudia Mascarenhas como TCC, criou uma revista onli ne @distrito.cerrado sobre a ONG e a situação do ribeirão. In

PinheiroLauraAnaCrédito:

Com isso, consciente ou inconscien temente, o leitor questiona-se o porquê dessa mulher ter aceitado uma carona ou marcado um encontro pela internet. Os olhares se voltam para elas, enquanto o verdadeiro culpado é esquecido.

A Agência Patrícia Galvão, organiza ção de referência no campo do direito das mulheres, sugere que a imprensa siga alguns passos ao cobrir casos de feminicídio, contribuindo para o com bate à violência de gênero. Empregar a expressão ou o tipo penal “feminicídio” é uma estratégia importante para dife renciar os assassinatos de mulheres de outros crimes, assim como ressaltar as características ligadas à desigualdade de gênero, a fim de transformá-las.

gressou também Mariana Lopes, substi tuta na FAC, ela vinha acompanhando o trabalho de Dione, e tornou-se assis tente do projeto, orientando alguns dos TCCs. No total quatro projetos finais de uma única ação de comunicação, in cluindo esta matéria.

Outra tática é divulgar canais de de núncia e serviços de apoio a mulheres vítimas de violência doméstica; além de trabalhar com pautas necessárias e estar atento a títulos e imagens. Dois jornais da região trabalharam na produção de reportagens especiais com essas temáti cas. O Correio Braziliense criou o Elas no Alvo, que entrevista mulheres sobre viventes de tentativas de feminicídio; e o Metrópoles, no Elas por Elas, reconta casos de feminicídio e oferece palestras sobre o tema em escolas do DF.

O resultado foi um grupo de trabalho (GT) formado por 12 órgãos do governo, com a participação da comunidade, entre eles alunos de escolas públicas convidados pelo movimento. Dessa discussão surgiu o relatório, validado pela Câmara Le gislativa em 2013, em uma audiência pública em Sobradinho. O relatório com a proposta de revitalização do ribeirão foi en tregue à Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamen to Básico do Distrito Federal (Adasa). Algumas das ações em 2014 foram para frente, mas com o início do governo Rollem berg as atividades cessaram.

Giullia diz que o momento mais im portante foi a oficina no Espaço Cola borativo Amaguia, em 20 de Outubro de 2019. Diagnosticou que o SOS, era composto em maioria por homens aci ma dos 40 anos, reforçando o desejo da ONG de trazer mais jovens. Em seguida, em discussão conjunta sobre conceitos de Comunicação, formou as ideias que informaram o plano dali em diante. A oficina também contou com uma intro dução ao instagram. Muitos dos mem bros, não familiares com a plataforma, expressaram animação. Se tornando uma das ferramentas que foram integra das mais facilmente e rapidamente na ONG.Também foi apresentada ali a nova logo proposta por Stênio. O processo foi acompanhado pela turma que fez sugestões. O objetivo da logo era de se comunicar com o público mais jovem e passar sentimento de urgência sobre a situação das águas do ribeirão. Outro fator foi a aplicabilidade da logo em di ferentes meios, do online ao impresso, explica Stênio.

Neyrilene já havia criado um blog para a ONG, que foi ofi cialmente inaugurado em 29 de Novembro de 2019, durante celebração da reabertura da Casa do Ribeirão. O evento que encerrou as atividades da disciplina também marcou o lança mento da revista online da aluna Ana Cláudia. Em fevereiro de 2020, Neyrilene fez encaminhamentos para o blog, incluin do a rotina de publicações. Em um encontro na UnB em 2 de março, com membros do SOS foi discutido propostas, como novas abas e os próximos passos de transição do blog para o SOS: capacitação.

Experiente em projetos de comunicação e sustentabilidade, Dione diz que o essencial é que os processos comunicacionais sejam sustentáveis. Os projetos tendem a durar até dois anos de elaboração de rotinas, criação de um plano comunicacio nal, mídias sociais e capacitação dos grupos envolvidos. “A gente dá subsídio para que o grupo, projeto, ONG ou coletivo possa manter ações de comunicação de forma sustentável sem depender do assessoramento da FAC, dos meus alunos e das minhas equipes”, explica Dione.

É preciso quebrar estereótipos que di minuem nossa força e inteligência. Pia das sobre o corpo feminino ou sobre as capacidades da mulher não são engraça das, são um desserviço, um desrespeito.

Caso

Comunicação Sustentável

a cobrar, também, uma pos tura mais ética e responsável da impren sa na cobertura de situações graves como casos de agressão doméstica, estupro e feminicídio, em vista da sua influência, que pode modificar ou reforçar cons truções sociais que contribuem para tais violências.Empesquisas sobre essa temática, confirmei a ideia primordial para dis cutir crítica da mídia: como escrevemos importa. Isso inclui as palavras que utili zamos em nosso texto, as denominações que damos aos personagens de uma no tícia, a ordem das frases, a conjugação dos verbos… tudo isso importa. E nada é por acaso, já que podemos reprodu zir, muitas vezes até inconscientemente, traços de nossos preconceitos, crenças e pressupostos em nossa linguagem, como bem destacou a escritora Chimamanda Ngozi Adichie, em Para Educar Crian ças Feministas.

As denominações utilizadas para se re ferir a violência sexual também são, mui tas vezes, problemáticas. A vítima não “se negou a praticar sexo”, não “recusou investidas sexuais”, ela evitou uma ten tativa de estupro. Da mesma forma que “sexo sem consentimento” nada mais é do que estupro! Notamos, portanto, que essas expressões são usadas para disfar çar a violência e relativizar a culpa do acusado.Omesmo ocorre quando ressalta-se que o assassino cometeu o crime por que “perdeu a cabeça”, “estava trans tornado”, “estava bêbado” ou teve um “ataque de ciúmes”. Tais sentenças não podem ser usadas para justificar tama nha violência. Mulheres são assassinadas por homens que acreditam terem domí nio sobre suas vidas e, quando isso não é possível, concluem que elas merecem serNãopunidas.tãodistante disso, está a roman tização do feminicídio, que acontece quando a imprensa deseja dar destaque a testemunhos que ressaltam o quanto o assassino era um bom pai, trabalhador, “cidadão de bem”, ou mesmo quando afirma-se que a violência aconteceu “de

Cachoeira forquilha imprópria para banho no Ribeirão Sobradinho, localizada no Condomínio Mansões Entre Lagos. Foto cedida por Neyrilene Costa

LETÍCIA EXTENSIONISTAMOUHAMAD,DOSOS IMPRENSA

Em 1/2020, com quatro novos alunos, a turma foi dividida em pares responsáveis por ministrar durante outubro à no vembro oficinas de capacitação em texto, fotografia, áudio e ví deo. Oferecendo fundamentos básicos em apresentações que duraram em torno de 2h30m. Essas foram oficinas remotas devido a pandemia do Covid-19.

A professora convidou a aluna Giullia Vênus como encarre gada de elaborar o plano de comunicação. Giullia já tinha inte resse em questões ambientais, sua ideia inicial para o trabalho de conclusão de curso (TCC) era um estudo sobre comunica ção e reciclagem. Dione também convidou a aluna Neyrilene Raquel para criar um blog para como seu TCC, formando o núcleo inicial do projeto para o SOS Ribeirão.

uma hora para outra”. Sabemos que para chegar ao assassinato, muito prova velmente havia um ciclo de violência por trás, ou seja, esses crimes não ocorrem “do nada”.

Essas mudanças não são “mimimi”, não são um desejo de “lacrar” nas redes so ciais. São um grito de socorro perante as liberdades que nos são retiradas todos os dias, na rua, no trabalho e em casa. São um ato de justiça por Eloá e por todas as vidas interrompidas, por todos os corpos violados. As mulheres são capazes de fazer essa mudança. Juntas.

FELIPE SOUSA ALVES

Por isso, por mais que princípios como imparcialidade e objetividade se jam esperados de textos jornalísticos, é importantíssimo estar atento a forma como a notícia foi escrita, a maneira como homens e mulheres foram repre sentados. Lembre-se: a leitura crítica e aprofundada liberta de julgamentos que fazem vítimas todos os dias.

Reabertura da Casa do Ribeirão

Em 2019, o SOS Ribeirão Sobradinho retomou dis cussões com a administração regional para ocupar a Casa do Ribeirão, criada em 2012. O movimento ambiental perdeu o espaço de encontros em 2014, quando o governo Rollemberg não renovou a concessão. Os ambienta listas José Leitão e o presidente Raimundo Barbosa contacta ram Dione Moura, pesquisadora de comunicação na área am biental, para revitalizar o projeto e divulgar as ações da ONG. Resultando no projeto de extensão e disciplina Tópicos Espe ciais em Comunicação para Sustentabilidade, na Faculdade de Comunicação (FAC) da UnB, com 11 alunos envolvidos em um período de dois semestres.

Não sejamos omissos

Alguns tropeços comuns cometidos pela imprensa ao tratar de casos de fe minicídio estão relacionados às repre sentações das vítimas, que têm o seu comportamento destacado, reforçando a culpabilização dessas mulheres em detrimento da ação do assassino. Por exemplo, ao apresentarem ao leitor títu los como “Mulher é morta após aceitar carona” ou “Mulher é morta após mar car encontro por aplicativo”, os jornais estabelecem uma relação de causa e con sequência, na qual o comportamento da vítima aparentemente foi responsável pelo seu assassinato.

A ONG

Segundo levantamento do Datafolha, feito em 2021, uma em cada quatromulheres sofreu algum tipo de violência durante a pandemia no Brasil.

Resultado do sensacionalismo? Certa mente, mas não apenas. Em 2008, a Lei Maria da Penha havia sido aprovada há somente dois anos, e a naturalização da violência contra a mulher era bem mais evidente, de forma que o machismo atin gia com força as inúmeras instituições da sociedade — a família, a justiça e a mídia. De lá para cá, tivemos algumas con quistas importantes no que tange à pro teção das mulheres, como a aprovação da Lei do Feminicídio, em 2015; a carac terização da importunação sexual femi nina como crime, em 2018; e a criação da lei para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher, em 2021. Debates sobre questões de gênero se intensificaram nos lares, na escola e naPassou-seinternet.

Oficinas de capacitação

Mais do que tornar-se um agente críti co na leitura dessas notícias, é necessário travarmos uma luta diária no combate ao machismo, catalisador dessas violências. E essa luta começa na educação e na criação, nas discussões sobre relaciona mentos abusivos, mas também nos míni mos detalhes, na desconstrução da figura da mulher como o ser pertencente ao lar ou a funções ligadas apenas à educação e ao cuidado, além de acabarmos com a ideia de que para ocupar lideranças é necessário “agir como um homem”.

Com o encerramento de mais de um ano e meio de ativi dades, os alunos da FAC/UnB passaram o blog em definitivo para a ONG. Giovanna Lira, recente adição a organização, se tornou assim responsável pelas publicações do blog em diante. O conteúdo do blog continua sendo informado pelos mem bros SOS, que divulgam suas chamadas de publicações no Instagram, sua rede social mais ativa.

Mão na massa

O Ribeirão Sobradinho ocupa bacias como a do São Bartolomeu. Inserido em áreas de proteção ambiental. Na classe três, já com características da classe quatro estabelecido pelo Conama. Imagem Google earth

O que nós, jornalistas podemos fazer frente a isso?

Como alunos da faculdade de comunicação da Universidade de Brasília revigoraram uma ONG

Raimundo vê resultados positivos. Houve um aumento de jovens interagindo e participando do movimento. Mesmo du rante a pandemia, o SOS Ribeirão Sobradinho tem consegui do manter atividades remotas e algumas atividades em pessoa, como plantios às margens do ribeirão. Além disso, a organiza ção continua seu trabalho de educação ambiental. Raimundo afirma que o projeto de comunicação colocou o SOS no radar de outros estudantes e pesquisadores da UnB interessados em participar e aprender sobre o projeto.

março de 2020, quando o primeiro caso de covid-19 foi identificado no Brasil, ma térias sobre o número de infectados, a quantidade de mortos, o desenrolar da produção de uma vacina eficaz e, poste riormente, informações mais concretas sobre os imunizantes foram veiculadas nas TVs, rádios, jornais e portais de no tícias. Diante de uma cobertura inédita para esta geração, os jornalistas brasilei ros também lutam contra a epidemia de desinformação.Noinícioda pandemia, a comunida de científica internacional não sabia com precisão como o SARS-CoV-2 se espa lha, muito menos se existia uma cura ou remédio eficaz para tratar a doença. O pouco conhecimento sobre a doença criou um ambiente fértil para a propa gação de notícias falsas. Boatos como os de que “água morna e alho matam o vírus” e “ingerir álcool puro cura covid” foram amplamente compartilhados nas redes sociais, o que contribuiu para uma onda de desinformação no país. Em uma pandemia, a falta de informação pode ser fatal.

“Na vacinação, tive um retorno muito positivo. Muitas pessoas vieram me falar ‘consegui vacinar porque peguei uma in formação sua’. Isso paga muito do nosso trabalho”, declara Brunno.

Somado a isso, existe o fato de que o presidente Bolsonaro não adotou as medidas sanitárias propostas por autoridades de saúde, como o uso de máscaras e o distanciamento social. No Planalto, os jornalistas ficam de plantão ao lado de um espaço

no Unido. Os dados foram colhidos em 13 de outubro de 2021 pelo consórcio de veículos de imprensa. Os brasileiros, que já têm uma ampla cultura de vaci nação, se envolveram nessa cobertura.

Além disso, as notícias falsas propa gadas pelo próprio presidente da Re pública, Jair Bolsonaro, também con tribuíram para o agravamento da crise sanitária no país. O chefe do Executivo

Os resultados do trabalho árduo

rádioapresentadorMelo,daCBN.Foto:LuísFernandoXavier Basilia dejornalistaRodrigues,eanalistapolíticadaCNN.Foto:MarceloAndrade Isadora independente.jornalistaRupp,Foto:CarlosSalles Murilo Fagundes, repórter do portal de política Poder360. Foto: Ségio Lima Diony TVrepórterSilva,daGazeta.Foto:FabrícioChrist “ “ Crédito:MarinaDalton

Além disso, os jornalistas que continuaram com a cobertura nas ruas também estavam expostos a outro perigo: os ataques verbais, e até físicos, dos apoiadores do presidente da Repú blica, impulsionados por falas do próprio Bolsonaro. O rela tório “Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil”, lançado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), revela que em 2020 os casos de agressão aos profis sionais de imprensa dobraram em relação ao ano anterior. Ao todo, foram registradas 428 ocorrências, o que representa um aumento de cerca de 106% em comparação ao ano de 2019.

Na linha de frente do combate à desinformação

Desde

Como resultado, o Brasil é o país latino-americano onde mais morreram jornalistas em decorrência da covid-19. Fo ram, até setembro de 2021, 280 óbitos, de acordo com o que foi divulgado pela ONG Press Emblem Campaign (PEC). No mundo, o país ficou atrás apenas da Índia. Esses números são baseados em informações divulgadas por veículos de impren sa, federações nacionais de jornalistas e pela rede de corres pondentes regionais mantida pela organização.

dedicado aos apoiadores do presidente, que frequentemente contava com aglomerações. “Nós acabamos expostos a esses grupos, já que é nosso dever acompanhar a par e passo a agen da do governo”, disse Murilo.

Brunno

Os profissionais que continuaram nas ruas foram uma das categorias mais expostas ao vírus. O repórter do portal de po lítica Poder360, Murilo Fagundes, afirma que, durante um pe ríodo, a equipe no comitê de imprensa no Palácio do Planalto ficou reduzida, mas, já neste ano, os profissionais voltaram a acompanhar a rotina do Executivo presencialmente. “A gente não pode dizer com certeza, mas, pelos relatos que escuto, muitos jornalistas suspeitam de terem sido infectados no Palá cio do Planalto ou arredores, como Palácio da Alvorada, em portarias e reuniões por Brasília”, destaca.

jornalística ESSA É A PRIMEIRA COBERTURA DE PANDEMIA DE TODO MUNDO” EM MARÇO DE2020, FALÁVAMOS DE UMA COISA QUE AINDA CONHECIACOMEÇANDO,ESTAVAMASNOFINALDOANOPRATICAMENTETODOMUNDOALGUÉMQUEFICOUEMESTADOGRAVEOUFALECEU”

CAMPUS, NOVEMBRO DE 2021 PANDEMIA

Durante a pandemia, os profissionais a comunicação se desdobraram para manter a qualidade do trabalho e lutar contra notícias falsas

Além disso, depois de meses em uma verdadeira “cober tura de guerra” as consequências sanitárias da pandemia co meçaram a afetar a saúde mental dos profissionais. Brunno Melo, da CBN, afirma que informar o número de mortes, por exemplo, era desgastante, porque no meio daquela esta tística às vezes estava alguém conhecido. O jornalista diz que lidar com perdas a todo instante tem um impacto psicológico muito grande. “Em março de 2020 falávamos de uma coisa que ainda estava começando, mas no final do ano praticamen te todo mundo conhecia alguém que ficou em estado grave ou faleceu”, revela.

CAMPUS, NOVEMBRO DE 2021PANDEMIA

tratou a doença como uma “gripezinha”, que poderia ser tra tada, e até prevenida, com remédios sem eficácia comprovada contra o vírus, como Ivermectina, Azitromicina e Cloroquina, o “kit covid”. Além disso, Bolsonaro se opôs aos métodos de enfrentamento da pandemia, como isolamento social, uso de máscaras e a vacinação, se tornando a principal figura política brasileira a incentivar o negacionismo.

GIULIA SOARES

A exposição ao vírus e aos ataques à imprensa

Por outro lado, Brunno revela que as recompensas do can sativo trabalho vem por meio do engajamento com o público. A atividade jornalística rendeu resultados: 70,29% da popu lação brasileira já recebeu a primeira dose da vacina contra covid-19, superando potências como Estados Unidos e Rei

Em março de 2021, o repórter Diony Silva, da TV Gazeta (afiliada da TV Globo), foi interrompido, enquanto estava ao vivo no jornal local, por dois homens em uma motocicleta, que mandaram a equipe desligar as câmeras e ir embora. Um dos homens chegou a apontar uma arma para o repórter. “As ame aças têm sido frequentes, mas essa, com uma arma apontada para a minha cabeça, superou todas as outras. Ali, eu senti que era uma ameaça real e uma situação muito complicada, ainda mais por estar ao vivo”, declarou Diony, em entrevista para a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Porém, em meio a um contexto inédito, os jornalistas apon tam que no início era difícil saber no que acreditar. “Ninguém sabia muito bem o que estava fazendo. Você não vai encon trar uma pessoa que diga: eu tenho experiência na cobertura de pandemia, essa é minha segunda. Não. Essa é a primeira cobertura de pandemia de todo mundo”, afirma Basilia. Para driblar essa dificuldade, os principais aliados para a produção das notícias foram os cientistas e médicos.

A jornalista independente, Isadora Rupp, indicou que a saída era buscar fontes muito qualificadas e traduzir essas in formações. “Isso é algo já normal do jornalismo de sempre, buscar fontes confiáveis e deixar o texto de uma forma com preensível, sempre respeitando o trabalho dos cientistas”, destaca Isadora, que colaborou com veículos como Nexo e Estadão durante a pandemia, escrevendo conteúdos para edi torias como saúde e política. A profissional também afirma que investiu em cursos de jornalismo científico que auxiliaram a abordar melhor dados e informações de ciência em um texto jornalístico.

Em uma esfera diferente, os profissionais da imprensa que trabalharam isolados em suas casas também tiveram que lidar com problemas que afetaram a saúde mental. Uma pesqui sa realizada pelo Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, com 70 repórteres que estavam em home office, aponta que é significativo o número de jornalistas que não estão lidando bem psicologicamente com o isolamento social e a pandemia. Muitos deles relatam o abuso do uso de álcool e a dificuldade de conciliar o trabalho com as tarefas domésticas.

A responsabilidade

De acordo com estudo do Laboratório de Mídia, Discurso e Análise de Redes Sociais (Midiars) da Universidade Fede ral de Pelotas (UFPEL), as disputas políticas em torno da co vid-19 no país alimentam uma cadeia de desinformação cujo efeito tende a ser a redução na adesão da população a medidas de prevenção contra a doença. Isso porque informações dis torcidas ou falsas têm muito mais alcance quando propagadas porOautoridades.estudoafirma que esse ecossistema de desinformação, com notícias falsas que circulam pelas redes sociais e mencio nadas por autoridades, acaba alienando as pessoas, fazendo-as acreditar em algo que não é real ou duvidar de fatos compro vados cientificamente. “Isso exigiu da imprensa ainda mais trabalho, porque geralmente a gente tem como fonte as infor mações oficiais, que nessa pandemia nem sempre eram con fiáveis”, afirma o apresentador da rádio CBN, Brunno Melo.

No final, o que todos os jornalistas en trevistados para esta reportagem têm em comum é o amor pela profissão. Mes mo com os ataques sofridos, as muitas horas trabalhadas, a baixa remuneração e o cansaço mental e físico que muitos apresentam, eles confessam que ser jor nalista tem os seus méritos. A coragem e o profissionalismo demonstrado pelos entrevistados são características admirá veis, que demonstram que ser jornalista requer, além de técnica e sensibilidade, muita paixão. E, mesmo em meio a uma cobertura tão estressante e cansativa, eles não perderam isso.

Em um decreto presidencial publicado no início da quaren tena, a imprensa foi considerada como serviço essencial no en frentamento à pandemia de covid-19. Prestando um trabalho relevante e de alta qualidade, os jornalistas se viram na linha de frente da batalha. Para dar andamento às atividades, que se mostraram ainda mais necessárias, os profissionais de comu nicação tiveram que se adaptar à uma nova rotina, inclusive transformando suas casas em redação de jornal.

A falta de informações confiáveis por parte de órgãos ofi ciais resultou em uma iniciativa inédita: a criação do consórcio dos veículos de imprensa, que reúne jornalistas do G1, O Glo bo, Extra, Estadão, Folha e UOL, com o objetivo de divulgar dados sobre a pandemia, como taxas de vacinação, número de casos e óbitos. Brunno ressalta que o consórcio mostra a importância das informações que os profissionais precisam traduzir e repassar ao público. “O papel que os jornalistas desempenham é primordial para o enfrentamento da pande mia”, declara Brunno.

O jornalismo possui a capacidade de influenciar as opiniões e ações do público. O trabalho que os profissionais de impren sa exercem durante a pandemia de covid-19 ajudou a salvar vidas. “É como se você estivesse dentro de uma casa pegando fogo: cada pessoa corre para um lado, para uma porta dife rente. Tem porta que está fechada, tem porta que dá acesso para o caminho errado para você sair daquela confusão. E nós somos os jornalistas, os condutores da informação, tentando apontar para as pessoas qual é a porta correta, qual a melhor saída”, exemplifica Basilia Rodrigues, jornalista e analista de política da CNN.

TIRINHA

Caramba! Acho que chegamos ao úl timo parágrafo. Você chegou até aqui! Não sei se gostou, mas eu não vou ficar pensando nisso. Ok? Bem que podia fa lar… Feedback. Retorno em português. Vamos acabar com os estrangeirismos, né? Ah, já lembrei de outro assunto. Você tem tempo? Não? Tudo bem! Podemos falar mais outro dia. Não avi sa com muita antecedência para eu não ficar muito ansiosa. Mas se você não avi sar, eu posso ter outro compromisso na hora e… Calma, Natália! Vou aproveitar que parei de procrastinar e fazer todas aquelas coisas que faltam. Eu podia ir aos poucos… Será que estou ansiosa?

tíferas, disse: “ -Deixe os pensamentos passarem…” Aí vieram outros. De vez em quando, eu ainda tento praticar, gos to da vibe meditativa.

Várias palavras aparecem na folha em branco sobre o dia a dia com aquela que não vou falar mais o nome e que todo mundo tem. Eu tô tagarelando! Falan do, falando, falando. Rápido, rápido, rápido. Não sei se você conseguiria me acompanhar se eu estivesse do seu lado, porque meus dedos estão doendo de tanto que eu acho que tenho que escre ver, escrever, escrever! Consegui te dei xar sem fôlego? Às vezes, eu fico.

CAMPUS, NOVEMBRO DE 2021

ACRÔNICAtal da ansiedade

e penso nisso o dia todo. Não é por falta de ideias. Elas passam a cada segundo pela cabeça numa velocidade incrivel mente alta que, em vez disso, poderiam ser meus dedos apertando as teclas do computador para escrever. Eu já não es crevo tanto à mão. Enfim… Vou falar so bre a doença crônica que atinge o século XXI ou o milênio todo passado, talvez até o homem pré-histórico quando nada saía do jeito que esperava. Será que era por isso que ele hibernava? Ops, me perdi. Acho que sempre existiu a ansie dade, mas aprendi a culpá-la faz pouco tempo. E, o que parecia bobagem - para gerações passadas-, ficou sério. Motivo de debates, razão para estudo, direito de se Recorriausentar.à terapia para tratar dessa tal. Como resposta, recebi: “todos têm esse mal!” “-Doutora, mas eu vim aqui pra ter minha cura imediata! Queria que você resolvesse, assim, num passe de mágica”. Ela riu da minha cara. Eu estava falando sério. Me foi (sim, licença poética, deixei a ênclise pra lá) indicada a meditação. Ommm... Inspira, expira. “-Por que será que a banana nanica é grande?”. Uma voz, ao fundo das minhas reflexões fru

NATÁLIA FECHINE

de pesquisar. Agora… Concentra! Te nho que escrever!

PinheiroLauraAnaIlustradora

Fui fotografar - antes da pandemia, claro -, mas a página que criei não tinha os seguidores que imaginei: um milhão. Acho que minha expectativa foi muito alta, acabei desanimando... São 700 ago ra, mas não um milhão. O que é um mi lhão? Será que na minha casa cabe um milhão de pessoas? Não. Onde caberia um milhão de pessoas? Ops, me perdi. De novo. Veio a pandemia e digo que o motivo da página estar parada é porque não tem shows (só você sabe a verdade, caro leitor. Segredo nosso.). Faço qua dros também. Já tenho tantos que não há mais parede em casa para colocar. Pelo menos agora posso me chamar de artista. É um título legal. Semana passa da, a terapeuta disse: - “tente escrever”. E eu tinha que escrever. Uma crônica, sabe?! Sentei na cadeira, um copo de água gelada, luz boa, vento no rosto. “-Nossa, um barulho lá fora. O que é?” Concentra, Natália. Respiro fundo. Ommm. Sabia que o Ommm é tipo o “Amém” do hinduísmo? É usado antes e depois das meditações. Pois é! Acabei

Procrastino

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